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O I NV ESTI DOR GLOBAL

Invista no Exterior de Forma Prática e Rápida

Nelson Huoya

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Sumário
1 ENRIQUECIM ENTO ...................................................................................................................................... 4
2 POR QUE DIVERSIFICAR?........................................................................................................................... 8
3 POR QUE INVESTIR NO EXTERIOR? ...................................................................................................... 14
4 RENDA FIXA ................................................................................................................................................. 19
5 RENDA VARIÁVEL ...................................................................................................................................... 25
6 AÇÕES............................................................................................................................................................ 30
7 ANALISANDO AÇÕES................................................................................................................................ 34
8 REITs............................................................................................................................................................... 39
9 ANALISANDO REITS................................................................................................................................... 47
10 DRS................................................................................................................................................................ 54
11 ETF ................................................................................................................................................................ 60
12 IM ÓVEIS...................................................................................................................................................... 70
13 RESERVA DE VALOR ................................................................................................................................ 75
14 ABRINDO CONTA EM CORRETORA ESTRANGEIRA ....................................................................... 76
15 M ÉTODOS DE TRANSFERÊNCIA ........................................................................................................... 82
16 IM POSTO DE RENDA ............................................................................................................................... 85
17 RECOM ENDAÇÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 93

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O I NV ESTI DOR GLOBAL
Nelson Huoya M endonça

Esse livro tem o objetivo de instruir os leitores para os diferentes tipos de investimentos, suas
vantagens e desvantagens, assim como a descrição das características específicas de cada um. Cada
pessoa deve ponderar e analisar, adequando a sua realidade para então fazer suas próprias escolhas. Não
há certo ou errado, muito menos melhor ou pior, e sim aquilo que melhor se adapta aos critérios e
objetivos pretendidos. Investir, seja no que for, deve lhe deixar o mais confortável possível, caso isso não
esteja ocorrendo recomendo repensar nas suas escolhas. Recomenda-se a utilização de bom senso para
melhor entendimento de algumas explanações e em tomadas de decisões.
As análises a seguir são realizados baseadas na minha experiência, conhecimento e opinião, portanto
estas estão suscetíveis a erros e divergências. Sendo de cada leitor a INTEIRA e TOTAL responsabilidade
das atitudes tomadas posteriormente.

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1 ENRIQUECIMENTO
Antes de abordar qualquer tipo de investimento, é necessário o entendimento de algumas premissas
básicas e desmistificar falsas verdades sobre o enriquecimento, tornando de fato eficiente o processo de
alocar capital em ativos financeiros.

Taxa não Ganha de Tempo e nem de Apor te


A primeira e principal questão básica sobre enriquecimento é que os fatores principais no acúmulo de
capital são o tempo e o tamanho do aporte e não taxa.
Basta olhar a fórmula dos juros compostos para calcular o valor corrigido em qualquer ativo
financeiro. Na fórmula vemos que o montante final é resultado da multiplicação do valor aplicado pela
soma de 1 mais a taxa de juros elevada ao tempo da aplicação. Portanto o tempo é fator principal da
fórmula e o fator que mais irá influenciar o resultado do montante final por ser exponencial.

M = C. (1+i) n

M = M ontante Final
C = Capital Aplicado
i= taxa de juros
n= tempo da aplicação

O segundo fator mais importante é o aporte mensal. A taxa além de mais difícil de aumentar, pois é
necessário sorte e/ou habilidade nos investimentos, também vai elevar os riscos do portfólio.
Não importa quanto ganha, mas sim quanto consegue economizar. Para melhor visualizar esta
questão, vamos criar uma situação hipotética de dois investidores que recebem o mesmo salário.

Ex. 1: Salário: R$ 10.000,00


Gasto: R$ 5.000,00
Aporte M ensal: R$ 5.000,00
Taxa de Retorno com Investimentos: 10% ao ano
Resultado em 10 anos e 25 anos: R$ 999.319,00/ R$6.166.624,00

Ex. 2: Salário: R$ 10.000,00


Gasto: R$ 8.000,00
Aporte M ensal: R$ 2.000,00
Taxa de Retorno com Investimentos: 15% ao ano

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Resultado em 10 anos e 25 anos: 493.170,00 reais/ 4.638.357,00 reais

No primeiro exemplo temos uma pessoa que recebe 10 mil reais mensais e devido seu controle de
gastos possui um aporte mensal de 5 mil reais. Essa pessoa investe de forma imediata assim que recebe
seu salário, mas não possui a sorte e/ou a habilidade extraordinário de escolher momento exato de entrar
nos ativos e com isso consegue uma taxa de retorno de 10% ao ano.
O segundo é um investidor que apesar de ter o mesmo salário gasta mais, principalmente com
assessor, cursos e relatório sobre investimentos, permitindo um aporte bem menor de 2 mil reais. Graças
à sorte, suas ferramentas de investimentos e/ou uma habilidade acima da média, este investidor
consegue uma taxa de retorno 50% maior que o primeiro.
Considerando estes resultados como constantes e por um período de 25 anos, por mais que o
investidor do exemplo 2 tenha tido uma taxa de retorno bem maior que o investidor do exemplo 1, este
último teria um montante acumulado bem maior e com uma diferença expressiva.
Portanto é muito mais produtivo focar na sua profissão para ganhar cada vez mais e assim aumentar
seu aporte e deixar o tempo exercer sua função do que ficar atrás de taxas maiores que na maior parte
das vezes não vão acontecer.

Investimento Não é Trabalho


Com exceção daqueles que possuem alguma função associada diretamente ao mercado de capitais
como assessor, agente autônomo de corretora, gestor de fundos etc., o processo de investir parte do
dinheiro em diferentes ativos não se caracteriza como trabalho. Portanto, se começa a gastar mais tempo
com investimento do que com sua verdadeira profissão provavelmente terá problemas.
O foco deve estar no trabalho e com sua remuneração possa fazer investimentos. Se o investidor
utiliza muito do seu tempo com investimentos fica sem tempo hábil para usar no que de fato produz
dinheiro que é o trabalho.
M uitos utilizam demasiadamente o tempo acompanhando seus investimentos, olhando cotações
diariamente, procurando investimentos que supostamente possuem retornos maiores, etc. Poderiam
utilizar esse mesmo tempo para se especializar e evoluir na sua carreira levando a ganhar mais dinheiro
e, portanto, aumentar seus aportes que é o que realmente vai produzir riqueza.
Essa falta de discernimento que leva a confundir investimento com trabalho, normalmente está
associada à ignorância de não conseguir ver que o tempo e o aporte produzirão efeitos muito maiores no
enriquecimento do que a taxa. Além do mais, a falta de diversificação adequada do portfólio traz menos
conforto quanto aos investimentos acabando por levar a mais giro e menos patrimônio.

Pr ocesso de Longo Pr azo


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Os processos de enriquecimento e consequentemente de investimento são lentos e muitas vezes
tediosos.
Diferente do que a mídia e os “ especialistas” tentam passar, seja por ignorância ou até mesmo má-fé,
ninguém vai ficar rico rapidamente escolhendo a hora exata de entrar em um investimento. Essa utopia
vai de encontro a qualquer estudo com o mínimo de seriedade, mas ainda assim é o carro-chefe de várias
instituições financeiras, criando investidores torcedores que utilizam a bolsa de valores para fazer suas
apostas. Ao perderem o capital investido tendem a espalhar a mensagem do mercado de capitais como
um cassino.
O que estes investidores não percebem, é que o erro está na forma com que eles utilizam a ferramenta
e não a ferramenta em si. Investimentos devem ser utilizados principalmente para proteção. Como
vamos ver no próximo capítulo, gerar remuneração demanda mais do tempo e do aporte do que
propriamente da taxa de retorno.
Os que possuem paciência, bem como conhecimento no que estão investindo são muito mais
recompensados, como estudos de dados do passado demonstram. Obviamente haverá períodos de
queda, principalmente se tratando de renda variável, com diminuição do patrimônio, mas o investidor
tem de focar nos resultados do longo prazo.
Na imagem abaixo, temos um exemplo prático da “ arte de olhar a floresta e não só as árvores” . Em
um histórico com quase 40 anos de dados da evolução da cotação da Nike observamos um ótimo
desempenho do papel, contudo em vários momentos neste período houve quedas, algumas bem
expressivas. Justamente nesses períodos é que todo o mercado tende a falar sobre as quedas ao invés de
educar sobre os benefícios do longo prazo, até mesmo porque pessimismo e sensacionalismo vendem
mais do que o equilíbrio e educação.

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2 POR QUE DIVERSIFICAR?
O célebre ditado “ Não ponha todos os ovos na mesma cesta” representa bem o conceito do processo
de diversificação. A frase passa a mensagem que separando os ovos em diferentes cestas, o risco que cada
uma vai representar sobre o total de ovos se torna menor. Essa mesma estratégia serve para os
investimentos e nessa analogia os ovos seriam todo seu capital e a cesta os diferentes tipos de
investimentos e diferentes ativos de inúmeros segmentos.
A diversificação é a forma mais eficaz de proteger seu patrimônio dos riscos inerentes que TODOS os
investimentos possuem e por isso é considerado um dos parâmetros mais importantes quando se monta
uma carteira de ativos financeiros. Todos os investimentos possuem riscos. Cabe ao investidor avaliar as
características de cada ativo e ponderar se atende seus critérios ao ponto de colocar parte de seu capital
naquele investimento.
Além disso, a diversificação, devido ao menor risco de cada investimento em relação ao patrimônio
todo, permite um menor acompanhamento dos investimentos e faz com que as escolhas sobre seus
investimentos tenham pesos bem menores, favorecendo assim a questão emocional nas decisões.
Se um investidor possui 100% do seu dinheiro em um único ativo, qualquer decisão referente àquele
investimento será cercada de pouca confiança e firmeza pois todo o dinheiro que aquele indivíduo
juntou durante sua vida está alocado em um único ativo. Admitir que errou, por exemplo, demandará
muita coragem. O investidor terá de saber todos os detalhes daquele ativo pois todo seu dinheiro está em
jogo. E o pior é que todo esse estudo não irá mudar em nada o risco, que continuará sendo enorme.
Por outro lado, o investidor com seu capital diversificado, em que nenhum ativo representa mais de
2% do seu patrimônio (a exceção aqui seriam imóveis, se ele possuir), tomará qualquer decisão com um
peso emocional muito menor e como apenas uma pequena parte do seu dinheiro está alocado em cada
ativo não precisa de um acompanhamento tão próximo.

Patr imônio Não Se Gir a


A diversificação também é essencial para evitar um comportamento destrutivo comum por grande
parte dos investidores. Trata-se da procura do “ melhor investimento do ano” . Esse comportamento
intrínseco nos investidores, divulgado pela mídia geral e recomendado pelos ditos “ especialistas” é
extremamente prejudicial pois não permite que o tempo, principal componente dos juros compostos,
possa agir além de gerar muitos custos e impostos nas mudanças de ativos. Inúmeros estudos, como
podemos verificar abaixo, mostram o quanto perde aquele que fica fora do mercado a maior parte do
tempo à espera do momento e ativo certo para colocar todo o seu dinheiro. Em contrapartida, aquele
que investe religiosamente de acordo com o recebimento dos rendimentos do seu trabalho e sem

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grandes mudanças no seu portfólio de ativos, permite que o tempo aja conforme esperado trazendo
retornos expressivos no longo prazo.

Esse estudo, realizado pelo J.P.M organ Asset M anagement, utilizando dados de 1995 até 2014,
demonstra que quanto mais dias fora do mercado maior o risco de perder os dias com os maiores
retornos levando a piores resultados ao longo prazo.
Em outro estudo muito parecido, porém com uma amostra de dados maior que considera 44 anos, o
resultado é o mesmo. Aqueles que ficaram no mercado sem qualquer movimentação foram mais
beneficiados que os investidores que venderam ou trocaram suas ações por qualquer motivo e
principalmente em relação àqueles que ficaram líquidos à espera do momento certo de entrar no
mercado.

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Por fim, citamos a análise feita pelo banco e corretora Charles Schwab sobre a mesma questão. Na
análise são criadas cinco situações hipotéticas de perfis diferentes de investidores. O primeiro representa
o investidor que possui o timing perfeito no que diz respeito a acertar a hora de comprar ações. Devido à
sua habilidade ou sorte, ele teria comprado em todas as mínimas anuais de 1993 até 2012 com seu aporte
anual de 2 mil dólares tendo acumulado aproximadamente 87 mil dólares.
O segundo aplicou seu aporte anual assim que recebeu, independente das cotações tendo acumulado
82 mil dólares no mesmo período. O terceiro investidor dividiu seu aporte anual em valores iguais e
investiu cada parte no início de cada mês, ou seja, fica com boa parte do seu capital fora do mercado por
um tempo. O resultado dessa simulação seria o montante de 79 mil dólares.
As duas últimas situações seriam do investidor que comprou as ações apenas no valor mais alto do
ano e aquele investidor que simplesmente resolveu ficar fora do mercado que resultaram nos valores de
72 e 61 mil dólares respectivamente.
Apesar do melhor resultado ser do primeiro caso, trata-se de uma situação praticamente impossível
de se repetir no mundo real no longo prazo, mas ainda assim a diferença para o segundo perfil, uma
situação totalmente viável e fácil de realizar, é bem pequena. E assim como nos outros estudos citados,
aquele que ficou fora do mercado foi o que teve menor retorno.

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Invista em Valor
Uma palavra que o leitor vai ver com frequência nos próximos capítulos é “ valor” . Diferente da
conotação de valor monetário utilizado na compra de algum ativo normalmente associado a essa
palavra, aqui “ valor” sempre será utilizado com o fim de falar sobre a qualidade de um ativo.
Para definir o valor de um investimento pode-se considerar indicadores financeiros como lucro
líquido, receita, dívida, fluxo de caixa livre nas ações. Também pode ser necessário analisar questões
subjetivas como localização de um imóvel ou até mesmo risco no caso de renda fixa e acima de tudo,
valendo para todos os tipos de investimentos, o conforto do investidor em relação ao ativo.
Como valor envolve questões não só do ativo que está sendo negociado, mas também do indivíduo
que está comprando, o valor definido para cada ativo vai variar de investidor para investidor. Um
investimento pode atender aos critérios de um indivíduo e, portanto, ter valor para ele. O mesmo ativo,
entretanto, pode não atender aos critérios e não ter valor para outras pessoas.
Valor é o principal atributo que o investidor deve procurar na hora de investir e diversificar seu
capital. Procurar todo ano a melhor rentabilidade, só fará perder dinheiro com corretagens e Imposto de
Renda, girando o patrimônio.
Ao distribuir seu capital em vários investimentos com valor, seu dinheiro fica mais protegido.
Colocando em vários investimentos sem bons fundamentos, seu dinheiro corre risco alto, assim como de
quem não diversifica. Ou seja, diversificação é distribuição do patrimônio em investimentos com alto
valor e não simplesmente sair comprando qualquer coisa só para diversificar.
Não devemos nos prender apenas em diversificar em diferentes tipos de investimentos, mas também
diversificar dentro da mesma categoria de investimentos (Ex.: Em ações possuir várias empresas,
diversificar em vários fundos imobiliários, diversificar em vários REITs etc.).

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Para aqueles que pensam que a diversificação sobre os investimentos diminui a taxa de retorno,
baseado em academicismos que nada tem a ver com a realidade de quem acumula patrimônio para
longo prazo, volto a lembrar que investimento e diversificação tem o objetivo principal de proteger seu
patrimônio, o que vai te fazer ganhar dinheiro será seu trabalho. Além disso, uma premissa do mercado
é que quanto maior o possível retorno maior o risco e, portanto, maior diversificação pode sim trazer um
retorno maior.

Você Vai Er rar


O ser humano naturalmente erra e com investimentos não seria diferente. Por mais que se faça uma
análise minuciosa na escolha de um ativo, não há como evitar o risco dele se tornar ruim ou fazer uma
escolha errada. Para aqueles que fizeram seu portfólio bem diversificado, esta questão não chega a ser
uma preocupação, pois cada ativo representará apenas uma pequena parte do capital total do investidor
e, portanto, menos riscos. Além disso as empresas boas trarão retornos expressivos fazendo com que os
acertos prevaleçam sobre seus erros.
De qualquer forma, em caso de piora dos fundamentos de um ativo, é recomendável que o investidor
tenha critérios de saída e então, assim como entrou no investimento, vai saindo aos poucos e colocando
esse dinheiro em outros ativos permanecendo sempre em valor. Os critérios de saída devem ser bem
rigorosos e executados com calma e em partes, pois o prejuízo ao patrimônio de sair de ativos de valor é
maior do que o de demorar a sair de ativos que perderam valor.
A proteção adquirida com uma boa diversificação permite que o conforto do investidor, um dos
principais objetivos do investimento, não seja alterado mesmo que algum ativo perca seu valor.

Mas Warr en Buffet Não Diversifica!


Apesar de citado muitas vezes como um defensor da pouca diversificação devido a algumas frases
ditas e mal compreendidas pelo público, Warren Buffet é um grande exemplo de um investidor que está
sempre diversificado em empresas que possuem bons fundamentos e possuem valor. Basta ver seu
portfólio.

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Outros exemplos que o oráculo de Omaha oferece a todos é de permanecer nas empresas o máximo
de tempo possível e a coragem de sair das empresas, considerando apenas o valor e não as cotações em
suas tomadas de decisões.
M esmo com várias lições que podemos aprender com Warren Buffet e com muitos outros grandes
investidores, temos que ter discernimento da diferença de perfil em relação a eles. Esse livro é
direcionado a pequenos investidores que possuem como atividade principal seu trabalho e procuram por
conteúdos sobre investimentos, em especial no exterior, para alocar as suas remunerações. Já estes
grandes investidores, além de possuir patrimônios imensamente maiores, analisar, adquirir e participar
ativamente das decisões das empresas, investimentos é o trabalho deles, de modo que podemos aprender
muito com eles, mas nunca tentar imitá-los.

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3 POR QUE INVESTIR NO EXTERIOR?
Com o avanço da globalização, todos os tipos de barreiras existentes entres os países foram
ultrapassados, seja parcial ou totalmente. E com os investimentos não está sendo diferente. Hoje, investir
em outros países se tornou muito mais fácil e prático, necessitando apenas de um simples acesso à
internet.
O consumo dos brasileiros está associado a produtos e serviços atrelados a moedas estrangeiras,
principalmente nas classes média e alta. Podemos citar roupas de marcas como Ralph Lauren, Tommy
Hilfiger, Abercrombie, artigos esportivos de empresas como Nike e Adidas, celulares da Apple e
Samsung, além de gastos diretamente no exterior com viagens para outros países.
Esse mesmo comportamento não se repete na alocação de capital em ativos financeiros. O brasileiro
tem muito pouco acesso a ativos financeiros no exterior e quando tem é para investimentos cheio de
intermediários e pegadinhas que além de caros são pouco eficazes.
A intenção não é mostrar que o mercado financeiro no exterior é melhor ou pior que do Brasil, até
porque não tem como chegar a qualquer conclusão sobre isso, mas sim trazer as vantagens de alocar
parte do capital em outro país e aumentar sua diversificação e por consequência diminuir o risco global
do seu patrimônio e, por que não, aumentar a segurança da sua família passando a possuir ativos no
exterior.

Maior es Mer cados


O mercado financeiro brasileiro é atrasado nas possibilidades de investimento no exterior e
representa um pedaço muito pequeno do mercado financeiro global. Investir no exterior significa a
possibilidade de diversificar em mercados e produtos de proporções muito maiores e mais evoluídos.
Para se ter uma noção dessa disparidade, segundos dados de 2015 do Banco M undial, na
BM &FBovespa (atualmente única bolsa de valores brasileira) estavam listadas cerca de 360 empresas
com um volume anual de aproximadamente 500 bilhões de dólares em ações, estando ranqueada como a
18° maior bolsa do mundo em relação ao volume negociado.
A bolsa brasileira fica bem atrás de mercados de outros países emergentes como Índia e China, porém
estes últimos possuem populações e/ou produto interno brutos maiores. O surpreendente é ficar atrás de
países de tamanho bem menores tanto em população quanto PIB como por exemplo Coreia do Sul,
Espanha, Austrália, Suíça e Holanda.
Nos Estados Unidos, a meca do mercado financeiro mundial, só na NYSE são mais de 2400 empresas
de capital aberto com 17,4 trilhões de dólares em ações movimentados anualmente. Se somarmos com a
NASDAQ, chegamos a mais de 5 mil empresas listadas e 30 trilhões de dólares em ações movimentados
anualmente.

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Empr esas Globais
Não é apenas o número de empresas que impressiona, mas também o tamanho de boa parte delas. São
empresas multinacionais, muitas vezes com suas receitas diversificadas em todo mundo, com produtos
conhecidos e algumas vezes com valores de mercado superiores à soma de todas as empresas da bolsa de
valores brasileira. Empresas como Apple, Johnson and Johnson, M icrosoft, Amazon, Google, Alibaba,
Nestle, P&G, Netflix, Disney, Shell e HSBC são alguns exemplos das inúmeras possibilidades de
investimento quando se fala no mercado de capitais no exterior.
Essa grande diferença de tamanho do mercado também é verificada com os REITs, empresas que
atuam no mercado imobiliário. Enquanto no Brasil temos fundos imobiliários que podem chegar a

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poucas dezenas de imóveis, no mercado americano é comum encontrar REITs que investem em
centenas, até milhares de imóveis, especializados em inúmeros setores, muito deles sem possibilidade de
investimento no Brasil. Alguns desses REITS possuem valor de mercado tão expressivo que chegam a
fazer parte do índice composto pelas 500 maiores empresas cotadas na NYSE e NASDAQ, o Standard &
Poor’s 500(S&P 500).

Maior Possibilidade Ativos


As possibilidades de ativos a se investir no exterior são inúmeras, incluindo renda fixa, renda variável
e também imóveis.
O investidor que abre conta em uma corretora em outro país, notadamente nos Estados Unidos, passa
a ter acesso a várias ações de empresas dos mais variados segmentos e países. REITS com foco em
diferentes áreas de interesse, que normalmente não são ofertados aqui através da bolsa, como
residencial, infraestrutura e casas de repouso. ETFs dos mais variados tipos e composições como de
renda fixa, ações, REITs, commodities, moeda, ETFs de ETFs. Por fim há a possibilidade de adquirir
imóveis em outros países.
É possível atender todos os tipos de investidores e permite elevar e ampliar o nível de diversificação
dos portfólios, trazendo uma segurança e conforto ainda maior com seus investimentos.

Risco Br asil
Por fim, mas não menos importante, investir no exterior leva a outro nível de diversificação, tanto em
relação ao país quanto a sua moeda.
A história complicada do Brasil em termos de instabilidade econômica e política, é um exemplo de
problemas que um país pode passar, principalmente os chamados em desenvolvimento. Obviamente a
situação atual não é a primeira e provavelmente não será a última. As incertezas que a volatilidade
econômica e política do país trazem ao investidor evidenciam uma necessidade de diversificação no
exterior ainda maior em prol de maior conforto e segurança relativa ao seu patrimônio.
Nos últimos 40 anos houve inúmeras situações políticas econômicas que favoreceram a instabilidade
que é sentida no Brasil. A primeira e talvez mais importante trata-se de um problema crônico que ainda
não foi tratado, a inflação. Desde a década de 70 que a inflação vinha se acelerando, e nas décadas
seguintes o brasileiro foi surpreendido por um ambiente de hiperinflação.
Foram necessárias cerca de 5 mudanças de moedas e inúmeros conjuntos de medidas econômicas
para mitigar a situação que se encontra hoje muito melhor do que antes, porém longe do ideal. E o
estrago já tinha sido feito, o real vale muito menos do que valia quando foi criado em 1994, fazendo com
que o poder aquisitivo dos brasileiros tenha caído na mesma proporção.
A pouca utilização no mundo e tempo curto de existência da moeda brasileira demonstra ainda mais
fraqueza. M oedas como o iene, dólar e euros somados correspondem a 80% do câmbio financeiro
atualmente do mundo, criando uma demanda e consequentemente uma força superior a essas moedas.

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No ambiente político, a instabilidade também esteve presente, talvez como causa e/ou consequência
das mudanças econômicas. Para resumir brevemente houve regime militar, redemocratização, nova
Constituição de 1988, confisco da poupança e impeachments. Tudo isso leva a enorme instabilidade
política e econômica que reflete no patrimônio do indivíduo. Diversificar no exterior mitiga esse efeito
sobre o patrimônio e aumenta a segurança financeira do investidor.

Outr o Nível de Diver sificação


Pode-se resumir a procura por investimento no exterior a uma palavra: diversificação. Com parte do
dinheiro em outro país, o investidor está alcançando outro nível de diversificação, se protegendo dos
riscos inerentes ao seu país que englobam a moeda, o sistema político e a economia, além de ter acesso a
muito mais opções de mercados e ativos.
Entender as condições às quais todos os brasileiros estão sujeitos e querer mitigar os riscos é o
primeiro e mais importante passo para iniciar o processo de se tornar um investidor global.
Depois de compreender todas as possibilidades e vantagens que o investimento no exterior pode
trazer, a pergunta que fica é: Por que não investir no exterior?

Investimentos no Exter ior


Assim como no Brasil, os principais investimentos no exterior podem ser divididos em três tipos:
Renda Fixa, Renda Variável e Imóveis. Essa classificação é feita de acordo com as características e
peculiaridades de cada investimento.
Na renda fixa o investidor tem conhecimento prévio do retorno bem como a data de vencimento dos
ativos adquiridos. O conhecimento exato do valor da remuneração que o investimento irá gerar pode
não ser claro, principalmente quando utilizar algum índice como referência, mas as regras que irão
definir esse retorno são estabelecidas e definidas no momento da aplicação. Bonds, Notes, M oney
M arket e Saving Accounts são os principais exemplos de ativos de Renda Fixa no exterior. Diferente do
que muita gente pensa, os títulos de dívidas sofrem oscilações sobre os seus valores diariamente e em
caso de finalizar a operação antes do vencimento pode até gerar prejuízo. Contudo se o investidor
esperar até a data predefinida de vencimento, irá receber exatamente o retorno determinado no
momento da aplicação.
Renda Variável tem características opostas às citadas para a Renda Fixa, ou seja, não há remuneração
predeterminada, muito menos uma data na qual o retorno será concretizado. Ações, ETFs, DRs são os
principais investimentos de Renda Variável utilizados para ampliar a diversificação do investidor no
exterior.
Por fim, mas não menos importante, os imóveis. O investimento possui características básicas iguais
aos ativos de renda variável já que ao adquirir um imóvel o investidor não tem estabelecido um retorno
depois de um determinado tempo. Contudo por se tratar de um ativo cujo valor inicial é muito maior
que qualquer outro, ter algumas características diferenciadas e análise própria, é adequado separar numa
categoria de distinta.

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As diferentes categorias de investimentos não possuem uma hierarquia de qualidade, muito menos
alguma obrigatoriedade que todos os investidores tenham ativos de todos os diferentes tipos. A decisão
de escolher quais os investimentos assim como a porcentagem que cada um vai representar no seu
portfólio vai depender dos critérios de cada investidor. É necessário adequar as preferências e objetivos
com os diferentes tipos de ativos para alcançar uma carteira bem diversificada e consequentemente um
risco menor.

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4 RENDA FIXA
Quando governos, empresas ou outras entidades precisam arrecadar dinheiro para financiar novos
projetos, manter operações em andamento ou refinanciar dívidas existentes, eles podem emitir títulos
diretamente para os investidores em vez de obter empréstimos de um banco.
Existem diversos produtos de renda fixa no mercado global, porém todos são baseados no mesmo
princípio, o empréstimo de dinheiro para alguma instituição em troca de um retorno preestabelecido em
uma data pré-determinada. Os principais produtos financeiros de renda fixa conhecidos mundialmente
são os títulos de dívidas como Bonds, Notes e M oney M arket ou então Savings Account.

Títulos de Dívida
Os Títulos de dívidas constituem um ativo financeiro no qual o investidor se torna credor da dívida
com intuito de receber o valor que emprestou de volta mais juros. Esse processo ocorre comumente
através de pagamento de juros periódicos e devolução do valor principal no dia do vencimento. Contudo
também tem ativos sem cupons (zero-coupon), que correspondem a títulos vendidos com um desconto
e o valor integral sendo pago na data de vencimento.
Os títulos podem ser classificados de acordo com diferentes emissores. Um título de uma empresa
privada é denominado como Corporate Bonds. Se for emitido por órgãos públicos locais, são M unicipal
Securities. Ativos vinculados ao governo federal são denominados de Sovereign Debt Bonds.
A presença ou ausência de garantias também é uma forma de classificação de títulos de dívida. Para os
ativos que possuem garantia (Secured) a empresa define antes de lançar os títulos no mercado algum
ativo, como propriedade ou equipamento, que será utilizada em caso de falência da empresa para pagar
os seus credores, mesmo que de forma parcial. Nos que não possuem garantias (Unsecured) o investidor
do título tem apenas a promessa do retorno não havendo nenhuma garantia específica determinada para
reembolsar os credores. Lembrando que mesmo os detentores de ativos não garantidos têm uma
reivindicação sobre os ativos do emissor inadimplente, mas somente depois que os investidores cujos
títulos são hierarquicamente mais altos sejam pagos primeiro.
Outra forma de distinção pode ser de acordo com o tempo de vencimento do investimento. Os títulos
com prazos de vencimentos acima de 10 anos são denominados como Bonds. Títulos com prazos de 1 a
10 anos são os Notes. Ativos de vencimentos menores que 1 ano são os M oney M arket. As obrigações
com vencimentos maiores de 10 anos consistem na maior parte do mercado de renda fixa internacional.
Alguns títulos, em especial os Bonds, podem possuir características peculiares. As principais
especificidades extras de um título de dívida podem ser a possibilidade de conversão em ações da
empresa como no caso de Convertible Bonds, a presença de fundos (sinking funds) onde são
depositados os valores do pagamento dos juros e os valores a serem desembolsados no vencimento,
possibilidade de resgate dos títulos antes do vencimento (Callable Bonds), direito de forçar o emissor
recomprar o título em datas específicas antes do vencimento em valor determinado na emissão (Puttable

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Bonds) e associação da remuneração do título com receita de um projeto específico ou os ganhos de uma
empresa (Revenue Bonds e Income Bonds).

Municial Secur ities


M unicipal Securities, também conhecidos como “ munis” , são títulos de dívidas emitidos por
entidades públicas de níveis locais como governo estadual, municipal ou de condados. O objetivo desse
financiamento é conseguir fundos para arcar com gastos para construção de rodovias, pontes, escolas e
qualquer outro projeto que seja destinado para o bem público.
Esse tipo de ativo acaba chamando muita atenção dos investidores por possuir nos Estados Unidos
isenção de impostos em nível federal e da maioria dos impostos estaduais e municipais. Além disso é
considerado um título de baixo risco.
Os principais tipos de M unicipal Securities são os General Obligations que são respaldados pelo poder
de crédito e tributação que a entidade governamental emissora tem sobre a população de sua jurisdição e
os Revenue Bonds que como explicado no tópico acima tem os juros do título associados aos ganhos de
um projeto específico como ruas ou pontes pedagiadas ou um estádio local. Como os detentores de
Revenue Bonds só podem contar com a receita do projeto específico, esse tipo de ativo tem um risco
maior do que os títulos GO e consequentemente é pago uma taxa de juros mais alta.
A maioria dos títulos municipais é vendida em valores mínimos de U$ 5.000 e possuem vencimentos
que variam de prazos entre 2 a 5 ano até prazos muito longos como 30 anos.

Money Mar ket Secur ities


M oney M arket além de títulos mais curtos são investimentos de alta liquidez, baixo risco e
consequentemente pouca rentabilidade. Esses títulos são lançados no mercado como um meio para
empréstimos e financiamentos de curto prazo, normalmente um mês, três meses ou seis meses. Os tipos
de M oney M arket mais conhecidos são os Treasury Bills ou T-Bill , que são obrigações de dívidas de curto
prazos apoiados por governos, Commercial Papers emitidos por grandes corporações para o
financiamento de estoques, contas a receber e passivos de curto prazo ou os Certificates of Deposit (CD)
que são depósitos com o banco durante um determinado período.
Os ativos de M oney M arket são obrigações sem pagamento de juros antes do vencimento. A
remuneração do investidor desse tipo de investimento ocorre devido a diferença entre o preço de
compra e o preço pago no vencimento (valor de face). Os títulos, que possuem valor face normalmente
de 100 dólares, são vendidos na emissão com desconto e recomprados no vencimento pelo valor cheio.

Risco x Retor no
O rendimento de cada título de dívida varia de acordo com a avaliação de risco de crédito. Utilizando
análises de condições políticas, econômicas e financeiras; empresas internacionais de avaliação de risco
de crédito dão notas que informam ao mercado os principais riscos associados nos investimentos de
ativos de renda fixa emitidos por instituições públicos e privados.

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As três principais agências independentes de avaliação de crédito, M oody’s, Standard & Poor’s e
Fitch, possuem denominações parecidas para identificar suas diferentes classificações. Utilizando as
letras A,B, C e D, letras minúsculas e números 1,2 e 3 no caso da M oody’s ou sinais de positivo e
negativo para S&P e Fitch, são criados uma série de notas que denotam diferentes graus de risco.

Tabela com cada nota das três principais agências


de classificação de crédito e seus si gnificados.
Fonte: LearnBonds

Nas duas classificações mais abrangentes, os títulos de renda fixa podem ser classificados em
Investment Grade Bonds ou High Yield Bonds, também conhecido como Junk Bonds. Emissores de
ativos atrelados a dívidas que são avaliados com notas BBB-/Baa3 ou superiores demostram uma alta
capacidade de honrar com seus empréstimos trazendo um risco muito menor aqueles que vão investir
em seus títulos. Os ativos de renda fixa dessas empresas e instituições públicas pagarão retornos menores
e ainda assim terão uma grande demanda devido uma maior segurança.
As instituições piores avaliadas precisarão prometer retornos bem superiores para fazer com que os
investidores se interessem a ser credor daquela dívida, pois este está ciente da existência de um maior
risco do não cumprimento das obrigações financeiras por parte das instituições.

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Taxa Básica de Jur os

Outro fator que influencia os rendimentos dos títulos da dívida de um país, em especial aqueles
emitidos por organizações públicas, é a taxa básica de juros. A maior parte dos títulos emitidos no
exterior possuem uma taxa fixa de retorno, como o nosso Tesouro Prefixado, e qualquer oscilação ou
promessa de mudança na taxa básica de juros do país, o mercado tende a alterar os valores de face destes
títulos.
A taxa básica de juros e valor face de um título de renda fixa possuem uma relação inversa. Quando
um título desses é emitido, suas taxas não são mais alteradas até o vencimento, portanto se ao longo da
vida desse ativo outros títulos forem emitidos com taxas maiores, o mercado só vai aceitar adquirir o
título emitido anteriormente por um valor de face menor. Caso sejam lançados títulos com taxas
menores, o título anterior será sobrevalorizado pelo mercado e seu valor de face subirá. Dessa forma, o
mercado sempre tentará precificar a atratividade daquele título de dívida.
Entretanto, nem todo título terá a mesma volatilidade devido às mudanças nas taxas básicas de juros
dos países. Os ativos que possuem vencimento em curto prazo acabam sentindo muito menos o efeito
dessas alterações pois a precificação utilizará como base o pouco tempo que a diferença de taxa de juros
vai afetá-lo. Já títulos de renda fixa de longo prazo serão muito mais afetados por mudanças nas taxas de
juros, visto que essa diferença de rentabilidade será aplicada em relação a todos os anos restantes até o
vencimento. Devido a essa maior volatilidade e consequentemente maior risco, quanto mais longo o
prazo, maior o retorno de um título de dívida do mesmo emissor. Essa relação muda apenas quando há
uma tendência forte de no futuro as taxas de juros caírem, normalmente associado a precificação de um
piora econômica, e assim os títulos de dívida de longo prazo acabam pagando retornos menores do que
os de curto prazo.

Estr atégia da Escada


Uma estratégia comumente utilizada no mercado global, em se tratando especificamente de títulos de
dívida, é a estratégia da escada. Esse método tem como intuito minimizar riscos associados aos ativos de
renda fixa e sua vulnerabilidade com as mudanças nas taxas básicas de juros dos países das instituições
emissoras.
De forma resumida, a estratégia de escada consiste em uma carteira de títulos de dívida com
vencimentos consecutivos. A ideia é ter títulos vencendo em anos diferentes um atrás do outro e
utilizando os juros e valores aplicados recebidos na compra de outros títulos de vencimentos posteriores
e assim manter a estratégia constante.

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Utilizando a estratégia da escada, o investidor irá adquirir títulos de dívida de forma constante e com
diferentes taxas de retornos. Deste modo, as oscilações das taxas básicas de juros dos países das
instituições emissoras irão afetar menos o capital direcionado ao investimento em renda fixa.
Vale salientar que a estratégia só será eficiente caso os títulos forem segurados até seus respectivos
vencimentos recebendo a taxa de juros anteriormente predeterminada. O método também não exime o
investidor de diversificar em títulos de outros emissores bem como outros ativos financeiros.

Como Compr ar Ativos de Renda Fixa


Esses ativos são negociados diretamente com as instituições ou pelo mercado secundário. No último
caso, o mais comum é através do mercado Over-The-Counter (OTC), conhecido no Brasil como
M ercado de Balcão, onde são realizadas negociações fora da parte principal da bolsa de valores. Apesar
de no mercado OTC haver uma infinidade de títulos de dívida emitidos, as transações possuem menos
transparência e regulamentação menos rigorosa do que com ações e também uma liquidez muito menor.
Para não residentes o acesso ao mercado OTC e, consequentemente, aos ativos de renda fixa de forma
direta é mais complicado. Para esse público é necessário a utilização de plataformas de instituições
financeiras maiores, sejam bancos ou corretoras. Outro fator que dificulta a aquisição desses ativos
diretamente é o valor mínimo necessário que varia normalmente entre um a dez mil dólares.

Saving Accounts
Por fim existe também a possibilidade de investir em Saving Accounts que são contas remuneradas
que se assemelham às nossas Cadernetas de Poupança. A rentabilidade recebida por nesse investimento
varia de acordo com o banco e principalmente o país. Países com taxas de juros básicas menores
costumam ter Saving Accounts menos rentáveis, pois se trata de uma forma de incentivar que esse

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dinheiro seja injetado na economia e não guardado. A utilização de Saving Accounts pode ser
interessante como uma forma de reserva na moeda local, principalmente para aqueles que viajam muito
para tal país.

Utilização de Renda Fixa


Com as vantagens de ser previsível e possuir baixo risco, caso se opte por títulos de dívida de países e
empresas com alta probabilidade de pagar seus credores, os ativos de renda fixa se adequam para perfis
mais conservadores e principalmente para montantes destinados a objetivos de curto e médio prazo. As
desvantagens seriam os ganhos limitados e o investimento em algo não produtivo, uma dívida. Pode-se
afirmar também que no longo prazo a proteção contra a perda de poder de compra do dinheiro pela
inflação é menor quando se investe na renda fixa.

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5 RENDA VARI ÁVEL
A renda variável proporciona aos seus investidores taxa de retorno dinâmica e determinada pelas
forças do mercado. Esses ativos, diferente da renda fixa, não possuem nem rentabilidade definida nem
prazo.
Dos diferentes produtos de renda variável encontrados no mercado global, pode-se destacar as ações,
REITs, DRs e ETFs, por se tratar de investimentos de grande liquidez e por possuírem características
adequadas para investimentos de longo prazo.
Porém, antes de entrar nos aspectos específicos de cada ativo, os aspirantes a investidores de renda
variável devem ter em mente algumas características:

Qualidade em pr imeir o lugar


O objetivo de investir no mercado de renda variável, especialmente em ações e REITs, é possuir
participação em empresas que sejam competentes ao ponto de ser um ativo seguro com baixo risco de
perder o capital alocado e eficiente para que possa crescer e, consequentemente, trazer bons retornos aos
seus acionistas. Essas duas situações só serão concretizadas caso a empresa entregue bons resultados
financeiros e é isso que o investidor deve analisar ao comprar um ativo e acompanhar enquanto se
mantém sócio.
No mercado de capitais uma afirmação se torna cada vez mais verdadeira: “ Empresa boa tende a
continuar boa, empresa ruim tende a continuar ruim” . Obviamente há exceções, contudo não há motivo
de ficar indo atrás de exceções e correr riscos bem maiores, se a regra é mais fácil de seguir e mais segura.
Volume negociado, cotação, volatilidade, análise técnica, notícias, recomendações e afins são critérios
comprovadamente ineficientes para o investidor acompanhar e, principalmente, se basear na hora de
montar um portfólio de renda variável. Pelo contrário, a utilização desses critérios é o que de fato faz a
maioria das pessoas perderem dinheiro no mercado de capitais, com exceção dos analistas, economistas
e outros intermediários que lucram com a alteração constante do portfólio de seus clientes e as taxas que
eles pagam para isso. O que se deve observar tão e somente são as qualidades da empresa no que tange a
seus fundamentos, e como ela lucra e se mantém equilibrada. Isso se observa nos balanços das empresas.

Pr oventos ( dividendos e etc.) não são br indes


É comum ouvir na mídia ou até mesmo dentro do mercado inúmeras recomendações de empresas
baseadas nos valores pagos através de proventos. Contudo, o que estas pessoas acabam não explicando,

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seja por ignorância ou talvez má fé, é como de fato o pagamento de dividendos funciona e,
principalmente, sua indiferença no retorno aos acionistas.
Qualquer evento de distribuição patrimonial, seja de dividendos, bonificações ou desdobramento terá
seus valores descontados do preço da ação e, portanto, o capital do investidor antes e depois do evento
será o mesmo.

Ex.:
O investidor possui 100 ações da Empresa A que valem 10 reais cada, 0 que equivale a 1000 reais em
participação na Empresa A.
Se a empresa pagar 1 real de dividendos, o investidor vai receber 100 reais (100 X 1), contudo, a
cotação da ação será descontada na mesma proporção do valor do dividendo.
O investidor, portanto, ficará com 100 ações valendo 9 reais cada e 100 reais em dinheiro. Ou seja,
exatamente os mesmos 1000 reais (900 em ações e 100 em dinheiro) de antes do evento.
Caso o investidor, como muitos fazem, gaste este dinheiro e não reaplique, ele terá diminuído a sua
participação na empresa em 100 reais, da mesma forma que tivesse apenas vendido suas ações.

Obs.: Não é necessário reaplicar na mesma empresa que distribuiu dividendos e isso pode ser
complicado especialmente no início que os montantes são pequenos. M as é fundamental que os
proventos na fase de formação do patrimônio sejam reaplicados em algum ativo financeiro com valor do
portfólio do investidor.

A razão para o ajuste se deve ao fato do valor pago em dividendos não pertencer mais à empresa e sim
aos acionistas. Portanto houve uma saída de capital da empresa e essa movimentação deve ser refletida
no valor de mercado da empresa, que no caso de empresas de capital aberto é representado pelos preços
das ações multiplicado pelo número de ações. Para que o valor de mercado reflita essa saída de capital da
empresa, é necessário o ajuste proporcional no preço das ações.
A não compreensão desse processo é extremamente prejudicial aos investidores, pois além de
incentivar a procura por empresas que pagam altos valores de proventos., o que não implica
necessariamente em empresa boas, acabam esquecendo inúmeras empresas com retorno expressivo ao
acionista que simplesmente não pagam dividendos. E isso é muito mais verdade no exterior,
especialmente nos EUA, onde os impostos sobre dividendos são maiores. É bem mais comum lá
empresas que não pagam dividendos do que aqui.
Qualidade e dividendos não possuem necessariamente correlação direta. Empresas como OI e
Eletrobrás, que já foram difundidas como empresas boas devido à alta distribuição de proventos,
entregaram retornos pífios ao longo dos anos. Já empresas como a Waters e Biogen, que nunca pagaram
um dividendo sequer, conseguiram multiplicar o capital dos investidores em centenas de vezes.

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Retorno total histórico em diversos prazos. O valor já considera qualquer evento de distr ibuição patrimonial como dividendos, bonificações e desdobramento.
Fonte: Bastter.com

A pior situação é daqueles que gastam os dividendos, antes de chegar a tranquilidade financeira, pois
estes estão simplesmente torrando boa parte de seus investimentos e minando a maior porção do
possível retorno que a empresa poderia trazer para ele, como mostra a imagem abaixo.

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Evolução do índice das 500 maiores empresas dos Estados Unidos considerando o reinvestimento dos dividendos (linha superior) e sem considerá-los (linha inferior) de 1988 até 2013. Fonte: SeekingAlpha

O pagamento de proventos também não deve ser recriminado ou condenado, pois ele não é bom e
nem ruim, apenas indiferente. O retorno que uma empresa entrega aos seus acionistas depende
exclusivamente da qualidade dos seus resultados financeiros. Com o dinheiro que sobra, a empresa pode
distribuir parte em forma de proventos ou pegar todo esse capital e investir na melhoria das operações,
recompra de ações e/ou na aquisição de outras companhias.
Recompra de ações diminuem o número de ativos em circulação aumentando a porcentagem que
cada acionista possui da empresa. I nvestimento nas próprias operações incluem melhorias na linha de
produção ou no serviço prestado e expansão de suas atividades tornando a empresa mais eficiente de
modo a trazer melhores resultados. Por fim, mas não menos importante, tem a aquisição de outras
companhias que permite que a empresa amplie sua força no mercado atuante ou diversifique suas
operações atingindo outros segmentos.
Portanto, qualquer uma das escolhas de utilização do capital irá remunerar os acionistas. O mais
importante não é fim que a empresa vai dar para o dinheiro gerado, mas sim a capacidade da empresa
em gerar capital. É importante também compreender que dividendos e outros proventos devem ser
reaplicados no patrimônio até atingir a tranquilidade financeira.

Esqueça Notícias

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Diferente do que muitos analistas tentam mostrar para os investidores, com intuito de vender seus
relatórios, o mercado de capitais não liga para notícias e nem para política. A qualidade financeira das
empresas que compõem os mercados é o que de fato vai guiar os retornos dos investidores no longo
prazo.

Retorno de um dólar aplicado em ativo indexado as 500 maiores empresas dos Estados Unidos de 1926 até 2014 em relação
aos presidentes e seus respect ivos partidos. Democratas (azul ou mais claro) e republicanos (vermel ho ou mais escuro).
Crédito: Jonathan Duong

Os profissionais que acompanham o mercado, que vivem normalmente de taxas pagas pelos
investidores, tentam criar motivos dos mais distintos para tentar associar o resultado do mercado às
notícias. Por esse motivo são tão comuns os erros de projeções e recomendações. Cotação do dólar,
ponto de mudança de tendência, preço alvo de alguma ação, performance devido a algum presidente,
etc. Nenhum analista consegue acertar frequentemente esses valores e momentos, a não ser
eventualmente por um simples fato do acaso. É algo até óbvio, pois se de fato esses profissionais
conseguissem ditar o mercado ou prevê-lo, os mesmos já estariam milionários e não precisariam vender
seus relatórios e cursos afirmando que podem ajudar o investidor amador a enriquecer de forma fácil e
rápida.

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6 AÇÕES
De acordo com alguns estudos realizados no EUA, as ações foram os ativos com o maior retorno
dentre todos os investimentos nos últimos 200 anos. Um dos mais famosos gráficos para evidenciar isso
é do livro Stocks for the Long Run, traduzido para português como Investindo em Ações no Longo
Prazo, do Jeremy Siegel.
No gráfico, o autor compara o retorno anual e total, descontado a inflação de um dólar investido em
diferentes investimentos em 1802 até 2002. Os ativos utilizados no estudo incluem ações de empresas
americanas, títulos públicos do governo americano de longo (Bonds) e curto prazo (Bills), ouro e a
moeda americana. Nos cálculos do estudo, além de considerar a inflação, também há o ajuste de
qualquer remuneração que os ativos possam ter gerado.

Apesar de impressionante, os resultados não são surpreendentes para aqueles que entendem as
características de cada ativo utilizado no estudo. Diferente de todos outros investimentos, as ações, que
são na verdade pedaços de empresas, são os únicos ativos que possuem a capacidade de crescer e evoluir
e, consequentemente, trazer retornos ilimitados aos seus acionistas.
A prosperidade das empresas ocorre através dos lucros que são acumulados e utilizados em novas
aquisições e investimentos nas operações, tornando a empresa cada vez maior e com resultados cada vez

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mais expressivos. Características impossíveis de ocorrer ao apenas emprestar um valor em troca de juros
ou muito menos ao adquirir quaisquer commodity.
É importante salientar que os resultados no passado não são garantia de ganhos futuros, mas mesmo
não sendo possível prever como será o desempenho das ações no futuro, este estudo é uma
demonstração do potencial das ações como investimento. Importante salientar também que os retornos
expressivos das ações só ocorrem se formos sócios de empresas boas que produzem capital de forma
eficiente. Não é necessário ter empresas espetaculares (é excelente se ocorrer, mas não é imperativo),
mas o ideal é que a sua carteira seja composta por empresas com bons fundamentos.

Adaptação é o Segr edo


Com base em dados da Standard & Poor’s Capital IQ nas principais bolsas dos Estados Unidos,
NYSE,NASDAQ e Amex), existem cerca de 500 empresas centenárias. M arcas icônicas como Coca-cola
(1886), Procter & Gamble (1837), Colgate-Palmolive (1806), Johnson & Johnson (1886), American
Express (1850), Wells Fargo (1852), Pepsico (1898) e Ford M otor (1903) são alguns poucos exemplos de
empresas que fazem parte dessa lista.
Uma empresa muito antiga e atualmente uma das empresas mais valiosas do mundo, com mais de
350 bilhões de dólares de valor mercado, é a J.P. M organ Chase. Foi o segundo banco comercial da
cidade de Nova York, surgindo em 1799 como um empreendimento para implantar água na cidade de
Nova York, tendo a autorização para operar como um banco depois que o projeto de distribuição de
água fosse concluído. Através de dezenas de fusões, tornou-se o J.P. M organ e um dos principais
investidores no setor ferroviário no início do século 19, o que permitiu expandir seus negócios e
resultados financeiros se consolidando como umas das empresas mais importantes dos Estados Unidos.
A Consolidated Edison Company (NYSE:ED) se destaca nesse tema por possuir o recorde da ação
listada na NYSE há mais tempo. Fundada como New York Gas Light e responsável por instalar linhas de
gás natural na baixa M anhattan substituindo as lâmpadas de óleo de baleia, a Consolidated Edison
Company abriu capital na Bolsa de Nova York em 1824 onde continua até hoje. Atualmente a empresa
fornece eletricidade para mais de três milhões de clientes em Nova York e Westchester County e gás para
mais de um milhão.
Contudo é o Bank of New York M ellon Corporation (NYSE:BK) a empresa que detém a posição de
empresa mais antiga entre as de capital aberto nas principais bolsas dos Estados Unidos. A empresa é
resultado da fusão realizada em 2007 entre M ellon Financial Corporation e Bank of New York, sendo
que o último com data de fundação de 1794. Considerado um dos bancos mais antigos do EUA e do
M undo, o BK se destaca também por ser a maior empresa de serviços bancários e de ativos de custódia
do mundo, com US $ 1,9 trilhão em ativos sob gestão e US $ 33,3 trilhões em ativos sob custódia.
Fora do mercado norte americano podemos citar o Bank of M ontreal (NYSE: BM O) e o Lloyd’s
(NYSE: LYG) como exemplos de empresas centenárias internacionais. Considerado um dos cinco
maiores bancos do Canadá além de um dos mais antigos fundado em 1819, o BM O possui a mais longa
sequência de pagamento de dividendos de qualquer empresa do Canadá e umas das mais extensas do

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mundo. A sua distribuição de dividendos iniciou em 1827 e até hoje não houve interrupção, resultado de
consistência nos resultados financeiros ao longo de sua história.
Já o Lloyd’s é muito mais conhecido por sua extensa história bem como seu importante papel no
mercado financeiro global do que propriamente por seus resultados financeiros. Em 1688 a Casa de Café
de Edward Lloyd se tornou o local para comprar seguros marítimos, iniciando assim a história do
Lloyd’s que mais de 300 anos depois viria a se tornar a segunda instituição financeira mais valiosa da
Inglaterra e uma das principais seguradoras de todo mundo.
Estes exemplos de empresas em operações durante tanto tempo mostra o quão importante é a gestão
da empresa, sua saúde financeira e principalmente a forma de lidar com a constante evolução do
mercado global, pois se em 5 anos muitas coisas mudam imagine em 50, 100 ou 300. Por mais que
tenham vários exemplos, sabemos que as empresas centenárias no mundo afora são exceções e não
regra. Portanto não se pode e nem se deve esperar ausências de mudanças e de atitudes ao longo dos
anos das empresas que investimos, uma vez que para se manter com lucrativas a adaptação é um
processo obrigatório.

Common x Preferr ed
Assim como no mercado brasileiro, existe no mercado estrangeiro a diferenciação das ações,
principalmente em relação aos direitos de votos e sua representatividade na empresa. Os tipos principais
de ações são denominados de Common e Preferred.
A primeira é a forma que a maioria das ações no mercado estrangeiro são emitidas e representam a
posse de uma porcentagem da empresa e consequentemente parte dos seus lucros. Os investidores,
normalmente, também possuem direitos de voto em decisões nas assembleias assim como a escolha dos
membros do conselho. Se equivalem as nossas Ordinárias ou ONs.
O nome preferencial é devido ao fato que este tipo de ação possui preferência ao receber os
dividendos pagos pela empresa, bem como prioridade sobre as ações ordinárias em situações de falência
da empresa e liquidação da massa falida para ressarcimento dos acionistas.
As ações preferenciais representam algum grau de propriedade da empresa, mas, com raras exceções,
sem direitos a votos. Os dividendos acordados com os compradores das ações preferências podem ser
fixos ou baseados em taxas de títulos públicos, porém o primeiro caso é o mais comum no mercado.
Possibilidade de conversão em ações ordinárias, acumulação de dividendos de anos anteriores não
pagos, participação nos lucros remanescentes e possibilidade de recompra por parte da empresa são
algumas características específicas que podem ser adicionadas as ações preferenciais quando estas são
emitidas. Além dessas condições não serem exclusivas, e, portanto, uma ação preferencial pode ter uma
ou mais destas, cada uma delas afetará o ativo trazendo maior segurança e menores retornos ou maiores
riscos e uma possibilidade de maior rendimento.
Devido a todas as suas características, em especial seu caráter de ganho limitado e ausência
participação na decisão das empresas, as ações preferenciais são vistas muito mais próximas de um ativo
de renda fixa do que ações ordinárias. Isso demonstra que o ativo não é adequado para aqueles que

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querem se tornar sócios de boas empresas. Diferente do mercado brasileiro, no mercado do exterior o
acesso às ações preferências é bem mais restrito sem contar sua liquidez reduzida tornando-as ainda
menos interessantes.

Dual Class Shar es


Além da distinção entre ações ordinárias e preferenciais, em algumas empresas pode haver a
separação de ações ordinárias que se diferenciam pela quantidade de votos por ações, o que pode
também refletir no preço da ação.
Esse mecanismo é utilizado normalmente para que um determinado grupo de pessoas permaneçam
com a maior parte dos votos nas decisões das empresas, sendo normalmente utilizado por companhias
gerenciadas pelos seus fundadores. Berkshire Hathaway, Brown Forman, Alphabet, Constellations
Brands, Facebook e Comcast são alguns dos exemplos de empresas que possuem esta estrutura acionária.
As empresas que utilizam desse artifício podem possuir todos os tipos de ações ordinárias negociados na
bolsa, ou podem ter as ações que permite o controle da empresa fora do mercado sendo negociadas
apenas as com menores quantidade de votos.
Apesar de alguns estudos, nunca foi comprovado qualquer relação dessa estrutura com a qualidade da
empresa para se tornar sócio. A garantia de controle por um pequeno grupo de pessoas pode dificultar
ou até mesmo impossibilitar o afastamento dos controladores mesmo que suas decisões possam vir a
prejudicar os resultados da empresa e por isso alguns investidores podem não se sentir confortáveis ao
investir em empresas nessa situação. Em contrapartida, o mecanismo de Dual Class Shares permite que
aqueles que normalmente foram os responsáveis por tornar a empresa o que ela é, não sofram tentativas
de interferências externas sobre a sua administração que até no momento vem sendo bem-sucedida.

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7 ANALISANDO AÇÕES
As empresas de capital aberto são obrigadas a divulgar trimestralmente seus balanços com todas as
informações operacionais e financeiras do período, permitindo assim a análise por parte dos seus
acionistas. Porém, antes de olhar os números dos balanços é necessário entender a empresa na qual o
investidor irá colocar parte de seu patrimônio.
O conhecimento sobre uma empresa deve vir de análises fundamentalistas a respeito dos produtos
e/ou serviços prestados, o segmento na qual a companhia faz parte, bem como possíveis exposições
geográficas e/ou dependência de algum cliente. Não há a necessidade de nenhum investidor se tornar
especialista na área ou nos produtos da empresa para poder investir nela, mas sim, entender como a
empresa ganha dinheiro e quais são suas vantagens e desvantagens competitivas.

Car acter ísticas do Setor


Bolsas do nível da NYSE e NASDAQ possuem empresas de inúmeros setores e segmentos, em uma
variedade muito maior da encontrada no mercado brasileiro. Esses setores possuem características
particulares de grande importância na análise das empresas. Nenhuma empresa ou segmento deve ser
visto pelo investidor como necessária ou obrigatória. Pelo contrário, o investidor deve sempre buscar
empresas com resultados financeiros adequados, independente de segmento.
Por exemplo, empresas de seguro têm como produtos facilidades financeiras, não precisando de lojas
e nem de muito escritórios, ou seja, o patrimônio não será grande, às vezes menor que sua receita.
Empresas de commodities não possuem controle do preço dos seus produtos, sendo, portanto,
classificadas como cíclicas devido à maior influência da volatilidade da macroeconomia, e necessitando
de uma melhor administração para se manter saudável. Já o setor de construção civil, apesar de não ter
oscilações no preço dos seus produtos de forma tão expressiva, também tem muita dependência da
situação econômica em virtude da demanda pelos seus produtos e serviços.
Companhias que trabalham com alto giro de produtos (ex. alimentícios, farmacêuticos, etc.)
normalmente ganham pouco por produto, mas muito na quantidade de vendas, tornando a margem da
empresa pequena. A margem pequena pode tornar o investimento em uma empresa de mais risco.
Porém se a empresa for bem administrada pode gerar grandes retornos aos acionistas no longo prazo.
Em contrapartida, há empresas, em especial do segmento de vestuário, que conseguem agregar muito
mais valor e cobrar muito mais caro pelos produtos ao colocar sua marca em uma roupa.
O setor de tecnologia é caracterizado por empresas com despesas pequenas, lucros e fluxo de caixa
livre expressivos, porém a concorrência e competitividade são grandes. Empresas do setor bélico estão
sujeitas a uma regulamentação mais rígida além de possuir como maior cliente o departamento de defesa
do seu país que traz uma receita recorrente, porém um risco maior. No setor de biotecnologia, tem as
questões dos vencimentos das patentes das drogas vendidas.

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Em resumo, o acionista deve ter uma noção do produto e/ou serviço que as empresas as quais ele é
sócio fornece, ficando ciente dos possíveis riscos que as mesmas correm.

Gover nança
Analisar a governança de uma empresa é tentar compreender quais são os objetivos dos executivos e
se esses objetivos estão sendo executados. A governança é um parâmetro mais subjetivo, pois não há
nenhum indicador que evidencie se há uma governança boa ou ruim. Ainda assim, o investidor
consegue identificar comportamentos que podem não atender seus critérios.
Como a empresa é administrada, tratamento dado aos acionistas minoritários, demora para
responder indagações de acionistas, alavancagem (aumento de dívida) e aquisições questionáveis são
alguns exemplos de indícios que devem ser observados pelos investidores e que podem sinalizar uma
piora na governança.
Cada investidor deve determinar seus próprios critérios de analisar a governança de uma empresa,
mas deve tomar cuidado para não extrapolar e começar a acompanhar de forma intensa o dia-dia da
empresa muitas vezes se preocupando com coisas irrelevantes e para piorar deixando seu trabalho, a
fonte da renda utilizada nos investimentos, de lado.
O acompanhamento a fundo das operações das empresas é papel dos seus diretores e executivos, o
acionista só precisa acompanhar os resultados operacionais e financeiros da mesma. Se a empresa não
vem entregando bons resultados, o investidor não deve gastar seu tempo e esforço tentando mudar a
situação, mas sim se afastar da empresa e investir em outra empresa que tenha resultados adequados.
Não é obrigatório aqui que venda as ações da empresa, pois sua análise pode estar errada e a empresa
voltar a crescer futuramente, mas ao menos reavaliar sua participação no portfólio e eventualmente
parar de comprar. Ações servem para possibilitar o investimento em empresas boas e o objetivo é que as
mesmas trabalhem pelos acionistas gerando bons retornos no longo prazo de forma passiva e não para
que os acionistas fiquem palpitando em tudo e desperdiçando o seu tempo.

Infor mações dos Balanços


Depois de entender de fato como a empresa gera dinheiro, o investidor deve verificar se a empresa
consegue refletir suas vantagens competitivas em bons resultados financeiros. Para isso é preciso analisar
os balanços. Essas informações são encontradas nos documentos do tipo press releases, 10-Q e 10-K,
encontrados nos sites de relações com investidores de todas as empresas de capital aberto. O site
Bastter.com fornece aos seus assinantes, informações financeiras compiladas de aproximadamente 5 mil
empresas do mercado americano na Área de Investimentos no Exterior.
Para uma análise mais eficiente, o ideal é que se faça a pesquisa anualmente, evitando correlações
equivocadas de curto prazo. A análise de uma empresa engloba o estudo de vários parâmetros. Através
de dados isolados somente, não se têm respostas adequadas da qualidade das empresas para o acionista.

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Assim como explicado para governança, os critérios utilizados na análise financeira de uma empresa
devem ser determinados por cada investidor. Alguns podem querer utilizar mais dados, já outros menos,
mas o importante é que independente dos indicadores utilizados o acionista esteja analisando a
capacidade de gerar dinheiro de forma eficiente da empresa e consequentemente trazer bons retornos
aos seus acionistas.
Principais indicadores financeiros para identificar empresas de valor:

Receita (Revenue): A receita é o parâmetro mais básico de qualquer empresa, pois indica o
faturamento. Essa informação permite uma análise da demanda do mercado pelo produto ou serviço
fornecido. Para o crescimento de uma empresa é de extrema importância o aumento de vendas ao longo
do tempo. A receita consegue demonstrar se a empresa está conseguindo vender mais e/ou vender mais
caro.

Lucro Líquido (Net I ncome) / Lucro Líquido por Ação (Earnings Per Share) : O primeiro e um dos
mais importantes parâmetros a se considerar ao analisar uma empresa. O lucro deve ser consistente e de
preferência crescente ao longo do tempo.
Por melhor que sejam os outros parâmetros presentes nos balanços de uma empresa, se os lucros não
forem consistentes, deve-se desconsiderá-la para o portfólio de um investidor que busca ser sócio de
boas empresas. Ao escolher empresas sem lucros consistentes estará indo contra todas as probabilidades
de ter seu dinheiro rentabilizado de forma expressiva ao longo do tempo.
Diferente do mercado de ações brasileiro, programas de recompra de ações e consequentemente o
cancelamento delas, são muito utilizados como uma das formas de potencializar o retorno das empresas
aos seus acionistas, evitando assim que os mesmos paguem impostos sobre dividendos.
Diante desse cenário no exterior e notadamente nos EUA, em vez de utilizar o lucro líquido como
parâmetro para mensurar a eficiência da empresa em trazer retornos aos seus donos, o ideal é considerar
o Lucro por Ação (EPS). Essa informação permite identificar situações de menos ações no mercado e,
portanto, maior retorno ao acionista mesmo com a estabilidade ou queda do lucro líquido. Da mesma
forma se a empresa emitiu mais ações diluindo os acionistas e trazendo menos retorno, mesmo com a
estabilidade ou aumento do lucro líquido, o retorno aos acionistas pode ser menor.
Nos documentos divulgados pelas empresas, normalmente são divulgados tanto o EPS básico quanto
o diluído. O EPS básico considera em sua conta apenas as ações ordinárias enquanto o EPS diluído leva
em conta todos os títulos conversíveis (ações preferenciais, dívidas conversíveis, opções de compra no
mercado e para empregados e garantias). O segundo dado permite uma visão mais fidedigna de qual é o
valor real de retorno do lucro líquido para cada acionista.

I nformações Operacionais (Operating I ncome/I ncome Before Taxes/EBI TDA) : Também é


extremamente importante a análise dos parâmetros operacionais. Esses dados fornecem uma perspectiva
da eficiência da empresa para produzir e a estratégia de preço nas vendas ao mercado, permitindo a
comparação entre empresas do mesmo setor. Os principais dados a serem analisados são Operating
Income, Pre-Tax Income e EBITDA.

36
Operating I ncome, em português lucro operacional, é o lucro bruto menos a soma das despesas
operacionais, amortizações e depreciações. Operating Income dividido pela receita (revenue) leva a
margem operacional que mede a proporção das receitas de uma empresa que sobra após pagar os custos
de produção (Salários, matérias-primas, etc.). Ou seja, a margem operacional nos informa quanto à
empresa ganha para cada dólar de vendas (antes de juros e impostos).
Como o nome já diz Income Before Taxes é o lucro líquido antes dos impostos. Essa informação se
diferencia do Operating Income pelo acréscimo da soma dos valores de despesas de juros (interest
expenses) e outras receitas/despesas (other income/expense). Este parâmetro permite estimar o
resultado das operações sem os impostos assim como a influência das despesas de juros e outras
receitas/despesas sobre o ganho operacional.
O último dado operacional a se analisar é o EBITDA, em português Lucros Antes de Juros, Impostos,
Depreciações e Amortizações. Informa propriamente o quanto a empresa gera de caixa das suas
atividades operacionais. O EBITDA é o dado operacional mais completo devido aos descontos de todos
os dados não operacionais, porém devido à mesma razão este se torna o dado mais complexo também. O
tratamento das amortizações e depreciações por ser feito utilizando diversos métodos, os quais têm
diferentes pontos positivos e negativos. Assim como o OI, podemos dividir o EBITDA pela receita,
chegando ao valor da margem EBITDA, que é justamente a informação da margem operacional “ crua” ,
devido a não inclusão de quaisquer informações não operacionais.

Fluxo de Caixa Livre (Free Cash Flow): Consiste de quanto dinheiro resta no caixa das empresas ao
final de um certo período, resultado do que entra pelos ganhos menos o que sai devido a qualquer tipo
de gasto. Sua fórmula é Fluxo de Caixa por Atividades Operacionais – CAPEX (Capital Expenditure).
Resumindo seria o quanto entra de dinheiro nas atividades operacionais da empresa menos o que ela
gasta para manter sua atividade operacional. Essa informação é de extrema importância para ter noção
da saúde financeira e principalmente à capacidade de gerar dinheiro da empresa.
Para entender melhor esse parâmetro é necessário compreender a diferença entre regime de
competência e regime de caixa. Quando uma empresa vende um lote de seus produtos ao seu cliente de
forma parcelada, de acordo com a contabilidade vigente para as empresas de capital aberto, o valor total
dessa venda será adicionado em informações como receita, lucro e patrimônio (regime de competência).
Porém no regime de caixa o registro ocorrerá somente conforme as parcelas são pagas.
Empresas com números de FCL negativos ao longo de vários anos demonstram necessidade de altos
investimentos muitas vezes utilizando dinheiro de terceiros e, portanto, trabalhando alavancada,
consequentemente aumentando o risco para o acionista. É comum encontrar empresas novas com FCL
negativos, pois estas estão tentando se estabelecer no mercado e para isso muitas vezes têm de investir
mais do que produzem e trazer mais dinheiros de terceiros. Estas necessitam de um acompanhamento
mais de perto por parte dos seus acionistas, observando como esse capital está sendo utilizado e se os
objetivos da empresa estão sendo alcançados.

37
Informações da Dívida (Net Debt, Debt/Equity, Net Debt/EBITDA): Diferente de pessoas físicas,
onde dívidas são sempre ruins, utilizar dinheiro de terceiros por empresas é algo que deve ser analisado
com muita naturalidade, principalmente em situações em que o objetivo é alavancar o crescimento. De
qualquer forma o endividamento torna necessário acompanhar mais de perto para saber se estes
empréstimos estão sendo positivos no sentido de a empresa alcançar seus objetivos de crescimento e,
além disso, principalmente, saber se essas dívidas não estão começando a pesar e levando ao
desequilíbrio.
Para este tipo de análise existem diferentes indicadores. Primeiramente, olhamos a dívida líquida (Net
Debt) que é o total de dívidas que a empresa possui menos seu caixa. Neste parâmetro estão incluídas
dívidas tanto de curto prazo quanto de longo prazo. O aumento da dívida líquida pode significar que a
empresa continua precisando de dinheiro de terceiros para manter seus planos e até mesmo suas
operações. Essa informação não pode ser analisada isoladamente, mas seu aumento já é uma evidência
que a empresa está gerando menos dinheiro do que precisa para pagar suas contas e/ou crescimento. A
diminuição, por outro lado, pode significar que a empresa está utilizando cada vez mais seu próprio
dinheiro para pagar suas contas e/ou crescimento. Quando o caixa é maior que a dívida se diz que a
dívida líquida é negativa e pode-se considerar que a empresa virtualmente não têm dívida.
Outro indicador que pode ser observado para mensurar a dívida de uma empresa é
Dívida/Patrimônio Líquido (Debt/Equity), pois uma forma de uma empresa pagar suas dívidas é com
seu patrimônio. Contudo, o ideal é que a empresa não utilize essa forma para honrar suas dívidas, pois
caso isso ocorra com frequência, haverá queda do patrimônio em prol do pagamento das dívidas. De
qualquer forma é bom observar essa informação, pois se um dia a empresa precisar terá como utilizar
desse artifício. Assim como outros dados, D/E vai variar de acordo com setores sendo uma informação
de maior eficácia em comparação de empresas do mesmo segmento. Empresas com receitas mais
previsíveis permitem uma alavancagem maior, diferente das outras que precisam controlar melhor esse
índice para situações de piora nas suas receitas. As empresas que não precisam de um patrimônio
expressivo para funcionar terão o D/E distorcido para cima.
De todos os indicadores, o mais importante a se analisar em relação a dívidas é a Dívida
Líquida/EBITDA (Net Debt/EBITDA). Uma empresa precisa gerar caixa para pagar suas dívidas e essa
caixa é gerado principalmente através das atividades operacionais, que é justamente a informação dada
pelo EBITDA. Resumidamente, Dívida Líquida/EBITDA nos informa em quanto anos a empresa
consegue pagar suas dívidas, considerando o numerador e denominador. Comumente, utiliza-se valores
acima de 4 como sinal de alerta, porém esse indicador pode variar de acordo com o setor da empresa.

38
8 REITs

Criado em 1960 pelo Congresso Americano com o intuito de tornar mais acessível o investimento no
mercado imobiliário, o REIT , ou Real Estate Investiment Trust , é uma empresa que possui ou financia
imóveis que geram renda. Os REITs permitem que qualquer pessoa invista em portfólios de imóveis de
grande escala da mesma forma que estas fazem com outros setores, ou seja, através da compra de ações
no mercado financeiro.
É importante salientar que o REIT não é visto como um ativo diferente, sendo considerado uma ação,
e, portanto, seguem as mesmas regras de órgãos regulatórios e divulgação de resultados financeiros que é
aplicado às outras empresas de capital aberto. Dessa forma os REITs são obrigados a divulgar seus
resultados trimestrais e anuais através de releases, assim como realizar webcast. Porém devido ao fato
destes terem como o foco o investimento no mercado imobiliário é adequado separá-los em uma
categoria especial de ativos.

Benefício Fiscal
Os REITs se diferenciam das outras empresas de capital de aberto também devido à sua própria
legislação que as isenta da tributação de pessoa jurídica, havendo apenas a cobrança de impostos quando
os lucros são repassados aos seus acionistas. Para que uma empresa seja qualificada como REIT no EUA
precisa:

• Investir pelo menos 75% de seu patr imônio em imóveis ger ador es de r enda;
• Obter pelo menos 75% de seu lucro br uto proveniente de aluguéis de imóveis,
jur os de financiamento imobiliár ios ou venda de imóveis;
• Pagar no mínimo de 90% de seu lucro tr ibutável em for ma de dividendos par a
seus acionistas anualmente;
• Ser uma instituição tributável como cor por ação;
• Ser administr ado por um conselho de administração ou administr ador es;
• Possuir no mínimo de 100 acionistas;
• Possuir não mais que 50% de suas ações em mãos de 5 ou menos acionistas.

Esses parâmetros são muito parecidos com os REITs em outros países, principalmente porque os
REITs americanos serviram como referência para outros que surgiram posteriormente, podendo se
diferençar, entretanto por alguns critérios.

39
No caso dos FIIs no Brasil, por exemplo, a distribuição mínima do lucro tem que ser de 95%. Contudo
estes não podem se alavancar, praticamente impossibilitando o crescimento ao longo do tempo. Essas
diferenças não fazem um investimento ser melhor do que outro, apenas diferentes. De modo geral, as
regras para os REITs são basicamente as mesmas ao redor do mundo e com o pagamento mínimo em
dividendos variando de 85% a 95% dos lucros tributáveis dessas empresas.

Equity REIT x Mortage REIT X Hybr id REITs


De acordo com a fonte da receita, os REITS podem ser divididos em três tipos, Equity REITs, M ortage
REITS e Hybrid REITs, este último como o nome mesmo diz são Reits que possuem características dos
dois outros REITs.

Equity Reits: Possuem e gerenciam imóveis geradores de renda. Ao longo do tempo, foram se
tornando empresas imobiliárias operacionais. Participam de uma ampla gama de atividades do setor,
desde o desenvolvimento de imóveis até o gerenciamento dos seus aluguéis, assim como a manutenção
desses imóveis e inquilinos. De modo geral, Equity Reits geram renda através da cobrança de aluguel
e/ou da venda dos imóveis da sua carteira. Assemelham-se ao tipo de FIIs conhecido como “ de tijolos” .

40
M ortage Reits: M ortage Reits produzem sua renda através de empréstimos diretos para proprietários
e operadores imobiliários ou créditos indiretos através de aquisição de empréstimos ou títulos lastreados
em hipotecas. Os M Rs hoje em dia fornecem créditos hipotecários apenas para imóveis existentes. Além
disso, é comum que os Reits utilizem de investimentos imobiliários securitizados, assim como técnicas
de coberturas dinâmicas e outras estratégias de derivativos para gerenciar a sua taxa de juros e risco de
crédito. Em resumo, M ortage Reits investem em hipotecas ou títulos hipotecários vinculados a imóveis
comerciais e/ou residenciais. No Brasil esses REITs são classificados como de “ papel” .

Mer cado de REITs


Os números dos REITs no mercado americano são impressionantes. De acordo com informações de
fevereiro de 2018, são 191 ativos listados na bolsa de Nova York (NYSE) que juntos somam a
capitalização no mercado de 928.4 bilhões de dólares, além dos mais de 1000 REITs encontrados fora da
bolsa de valores. Destas empresas, cerca de 30 estão entre as 500 maiores empresas de capital aberto dos
Estados Unidos, representadas pelo índice S&P 500.

Fonte: NAREI T

Dos ativos listados em bolsa, 10% são do tipo M ortage Reit e 90% Equity Reit . Estes últimos possuem e
gerenciam uma grande variedade de tipos de propriedades: centros comerciais, centros de saúde,
apartamentos, armazéns, edifícios de escritórios, hotéis, timberlands e outros, contudo a maioria se
especializa em apenas um tipo de propriedade. Além da distinção por setor, a diversificação geográfica
nos Reits é outro fator predominante. Há portfólios com imóveis por todo os EUA e às vezes até imóveis
em outros países, assim como REITs com portfólios focados em algumas poucas regiões do país.
Podemos encontrar vários grandes REITs também com propriedades na Europa e Ásia.

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REITs x FIIs
Apesar de possuírem a mesma origem, os REITs e os FIIs são ativos com características diferentes.
Como citado no início desse capítulo, o REIT é uma empresa em que seus donos são acionistas, já os FIIs
são fundos com cotistas como donos.
Em um fundo imobiliário, vários investidores se juntam para comprar imóveis e contratar um
administrador para cuidar deles. Em um REIT vários investidores aportam capital em uma empresa que
investe em imóveis. Nos FIIs as decisões de compra e venda de imóveis e outras questões importantes
operacionais devem passar por assembleias para que sejam aprovadas ou rejeitadas por seu cotistas. Nos
REITs os diretores da empresa possuem total autonomia nas questões operacionais, necessitando de
convocar assembleia apenas em situações de aquisições de outras empresas ou eventos que possam diluir
os acionistas.
O endividamento, emissões recorrentes de novas ações e consequentemente crescimento são
características associadas ao mercado de REITs e não presentes no mercado brasileiro de Fundo de
Investimento Imobiliário.
Outra diferença para o mercado de fundos imobiliários brasileiros é o de pagamento de dividendos
em menor frequência. Poucos REITs nos EUA pagam rendimentos mensais, sendo o mais comum o
pagamento trimestral, assim como ocorre com muitas empresas que possuem ações nas Bolsas dos EUA.

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Ainda assim, os REITs no EUA costumam pagar mais rendimentos do que as outras ações, como
evidenciado nos dados abaixo ( Fonte: NAREIT ):

Dívidas, par a que te quer o?


Uma das dúvidas mais comuns quando o investidor começa a estudar os REITs, é sobre o tamanho
das dívidas, o que muitas vezes traz insegurança quanto aos ativos. Esse comportamento é ainda mais
comum para aqueles que estão acostumados a investir e/ou estudar em ações no exterior e lidar,
normalmente, com empresas com pouca ou nenhuma dívida.
O que esses investidores ainda não compreenderam é que para a grande maioria dos REITs, as dívidas
são catalisadores de crescimento extremamente importantes. Juntamente com a emissão de novas ações,
utilizar dinheiro de terceiros é a única forma que esse tipo de empresa tem de expandir seu portfólio de
ativos, já que a maior parte dos valores gerados dos aluguéis são distribuídos como dividendos.
Nesse aspecto específico os REITs trabalham como bancos. Os bancos utilizam os montantes
acumulados dos depósitos de seus clientes como sua principal ferramenta geradora de renda ao
emprestar dinheiro a empresas e outros clientes cobrando juros. No caso do REITs, eles pegam dinheiro
de terceiros e compram novos imóveis, que, consequentemente, irão gerar maiores receitas que serão
utilizadas nos pagamentos dos juros das dívidas, bem como nos proventos distribuídos.
Foi justamente utilizando esse tipo de estratégia que a grande maioria dos REITs conseguiu crescer de
forma expressiva ao longo de sua existência, chegando a alcançar portfólios com alguns milhares de
imóveis. Esse é caso do Realty Income Corp. que tinha pouco mais de 630 imóveis em 1992 e 26 anos
depois conta com quase 5700 ativos.

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Fonte: Realty Income Corp. I nvestor Relations Website

Ainda assim, independente de ser uma estratégia comumente utilizada e que trouxe ótimos retornos
para boa parte dos REITs, dívidas sempre trazem um risco maior para qualquer negócio e o investidor
deve estar ciente disso. M as no caso dos REITs, esse risco, quando bem gerenciado, tem papel
fundamental na empresa.

Impacto das Taxas de Jur os nos REITs


A estratégia de utilizar capital de terceiros como forma de impulsionar as operações da empresa,
acaba sendo viável apenas em países com taxas básicas de juros extremamente baixas, como nos Estados
Unidos, por exemplo. Em muitos países, os custos das dívidas inviabilizam esse tipo de ferramenta e o
adequado é que a empresa simplesmente não tenha dívidas.
Contudo, mesmo em países desenvolvidos o valor da taxa básica de juros não é algo fixo e sim
flutuante. Os aumentos ou decréscimos realizados pelo Banco de Central de cada país tem forte impacto
em suas economias e, consequentemente, nos investimentos.
Se há um investimento que sente bastante essas oscilações, é o REIT . O aumento da taxa básica de
juros faz com que as dívidas dessas empresas se tornem mais custosas e seu crescimento mais
complicado. Pode-se assumir, com certa segurança, que os aumentos das taxas de juros provavelmente
levarão a declínios nos preços de REIT.
A boa notícia é que essa correlação ocorre apenas em relação às cotações no curto prazo, ou seja, algo
que o investidor não especulativo não deve se preocupar. No longo prazo, apesar dessa suscetibilidade,
os REITs em geral possuem um ótimo resultado, chegando a entregar retorno melhor que o índice S& P
500.

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Fonte: Bloomberg. Dados de 31/ 12/ 1992 a 29/ 07/ 2016

Cr ise “Imobiliár ia” Amer icana de 2008


É comum ao falar sobre ativos que investem no mercado imobiliário americano e global, investidores
remeterem à situação que ocorreu em 2008-2009 conhecida comumente como a crise imobiliária
americana.
O que muitos investidores não sabem é que esta crise não foi de fato imobiliária, mas sim de crédito
imobiliário. De forma simples e superficial, a crise de subprime, como é conhecida no mercado
financeiro, foi uma crise financeira motivada pela concessão de empréstimos hipotecários de alto risco e
que ao estourar arrastou vários bancos para uma situação de insolvência, repercutindo fortemente sobre
as bolsas de valores de todo mundo.
Diferente do que foi dito na época, os imóveis ou as empresas que investiram em imóveis, como por
exemplos os REITs, apesar de terem seus preços afetados, não tiveram seus fundamentos tão
prejudicados.
A imagem abaixo demonstra o histórico de ocupação do National Retail Properties, um dos maiores
REITs do segmento de varejo e do mercado. Nesse histórico é possível ver que houve uma queda pouco
expressiva durante a época do subprime. Esse comportamento não foi exclusivo para esse ativo ou até
mesmo nesse segmento. As pessoas, as lojas de conveniência, os hospitais e muitas outras instituições
continuaram alugando e ocupando seus imóveis.

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Outra questão interessante é o risco associado aos M ortgage REITs, já que estes ativos foram os que
mais sofreram com essa crise. Por trabalharem diretamente com dívidas hipotecárias, são estas
organizações, junto com os bancos, que assumem os riscos de não pagamentos das dívidas, bem como o
risco da oscilação da taxa básica de juros.
Devido a estas características e à necessidade de uma análise muito mais complexa, os M ortgage REITs
são ativos não aconselháveis para investidores iniciantes ou para aqueles que não querem este tipo de
riscos associados ao seu portfólio.

46
9 ANALISANDO REI TS

Assim como com as ações, o primeiro passo ao analisar um REIT é se informar sobre as características
principais de cada empresa. O primeiro e talvez mais importante item são as características de cada
setor.

Car acter ísticas do Setor


Escr itór io ( Office)
São REITs que possuem e gerenciam escritórios e lajes corporativas assim como o aluguel dessas
propriedades aos seus inquilinos. Alguns optam por concentrar em tipos específicos de mercado como,
por exemplo, distritos comerciais ou áreas suburbanas. Além disso, também podem focar em classes
específicas de inquilinos tais como agências governamentais ou empresas de biotecnologia. Esse setor
possui como uma de suas características a assinatura de contratos de curto a médio prazo, contudo com
um amplo leque de possibilidades de inquilinos. Correspondem a cerca de 9% dos Equity Reits listados
na Bolsa de Nova York.

Exemplos:
Boston Properties (NYSE: BXP)
SL Green Realty (NYSE: SLG)
Empire State Realty Trust (NYSE: ESRT)

I ndustr ial
Com sua renda proveniente do aluguel de instalações industriais como fábricas, centros de
distribuição e galpões de armazenamento, REITs industriais se caracterizam também pela utilização de
contratos de longo prazo. Boa parte de seus imóveis são alugados na modalidade built-to-suit, na qual a
propriedade é adaptada de acordo com as exigências do inquilino, colaborando para a permanência por
mais tempo do inquilino. Os REITs desse setor correspondem a 3% dos Equity Reits listados da NYSE.

Exemplos:
Prologis (NYSE: PLD)
STAG Industrial (NYSE: STAG)

Var ejo ( Retail )


Possuem em seus portfólios shopping centers, shoppings locais e lojas de rua, que representam 22%
dos Equity Reits listados da NYSE. Dependem muito das localizações dos seus imóveis, pois o comércio,

47
em geral, precisa de um bom tempo para criar uma clientela cativa levando os inquilinos a querer
permanecer naquelas propriedades. Em algumas propriedades se utiliza o sistema de aluguel Net Lease,
no qual além do aluguel, o inquilino é responsabilizado pelo pagamento de despesas operacionais do
imóvel como impostos, serviços públicos e manutenção, que em outros tipos de REITs são pagas pelo
proprietário, no caso o próprio REIT . É possível em algumas propriedades que o pagamento do aluguel
seja parte fixa e parte baseada nas receitas do inquilino.

Exemplos:
Realty Income Corporation (NYSE: O)
National Retail Properties (NYSE: NNN)
Kimco Realty (NYSE: KIM )
Simon Property Group (NYSE: SPG)

Hospedagem ( Lodging)
Com portfólios caracterizados pela presença de hotéis e resorts de diferentes classes, níveis de serviço
e comodidade, têm como intuito atender uma ampla gama de clientes, de negócios e lazer. Esse setor é
caracterizado normalmente por altos custos de manutenção assim como uma grande sazonalidade na
sua ocupação, contudo baixo risco de alta vacância. Corresponde a 6% dos Equity Reits na NYSE.

Exemplos:
M GM M irage (NYSE: M GM )
Apple Hospitality (NYSE: APLE)
Chatham Lodging (NYSE: CLDT)

Residencial
São responsáveis por 12% dos Equity REITs americanos presentes na bolsa de valores de Nova York.
Incluem empresas especializadas em edifícios de apartamentos, moradias estudantis, casas pré-
fabricadas e casas uni familiares. Alguns possuem imóveis em diversos estados americanos ou até países,
enquanto outros optam por se concentrar em um certo mercado demográfico. Os portfólios se
diferenciam também pela classe social do público-alvo.

Exemplos:
Essex Property Trust (NYSE: ESS)
United Dominion Realty Trust (NYSE: UDR)
American Campus Communities (NYSE: ACC)

Timber lands
São REITs que possuem e gerenciam propriedades especializadas na produção de madeira. Esses
ativos podem focar na área da construção civil e/ou produtos de celulose. Seus terrenos também podem

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ser utilizados para obter renda extra com a venda de licenças para caça esportiva e royalties de produção
de óleo de gás. Correspondem apenas a 3% dos REITs de capital aberto na NYSE.

Exemplo:
Weyerhaeuser (NYSE: WY)

Saúde ( Health Car e)


Possuem em seus portfólios diversas propriedades relacionadas a cuidados de saúde, como, por
exemplo, casas de repouso e cuidados para idosos, hospitais, edifícios de consultórios médicos e centros
de saúde. Devido às características especiais destes imóveis, principalmente no caso de hospitais,
mudanças de inquilinos não são comuns. A exposição e dependência de programas de saúde
governamentais como M edicaid e/ou M edicare é uma preocupação para aqueles que venham a investir
nesse setor. Propriedades deste tipo representam 10%, sendo um dos tipos de REITs mais encontrados
entre os listados na bolsa de valores de Nova York.

Exemplos:
Omega Healthcare (NYSE: OHI)
HCP (NYSE: HCP)
Welltower (NYSE: WELL)
Ventas (NYSE: VTR)

Ar mazéns ( Self-Stor age)


REITs focados em gerenciar e alugar armazens tanto para pessoas físicas quanto empresas. Este tipo
de propriedade é muito comum, principalmente, em países como EUA no qual há uma cultura forte de
acumulação tanto de objetos pessoais quanto de material empresarial. Esses imóveis se caracterizam por
um baixo custo de desenvolvimento e manutenção e correspondem a 6% dos REITs listados na NYSE.

Exemplos:
Public Storage (NYSE: PSA)
CubeSmart(NYSE: CUBE)
Extra Space Storage (NYSE: EXR)

I nfr aestr utur a


Possuem em seus portfólios imóveis que têm por objetivo fornecer infraestrutura para a operação de
empresas de diversas áreas. Os tipos de propriedades de infraestrutura mais comuns são os de data
centers e antenas de comunicação. Com o aumento da demanda por espaço para colocar os grandes
computadores responsáveis pelos servidores de diversas empresas, esse tipo de REITs tem tido um
expressivo aumento em sua procura. Contudo, a mesma tecnologia que faz com que esses REITs sejam
alugados pode prejudicá-los. O avanço da tecnologia permite computadores cada vez menores com o

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mesmo desempenho operacional, podendo no futuro, desfavorecer os resultados desses ativos. Há
também nesta categoria, REITs de fibra ótica, gasodutos e oleodutos.

Exemplos:
Equinix (NASDAQ: EQIX)
Digital Realty (NYSE: DLR)
American Tower Corporation (NYSE: AM T)
Crown Castle International (NYSE: CCI)

Diver sificados
Como o nome já diz, são REITs que possuem em suas carteiras, imóveis de dois ou mais setores
distintos. Representa 12% dos Equity REITs listados na bolsa de Nova York.

Exemplos:
Vornado Realty Trust (NYSE: VNO)
W. P. Carey (NYSE: WPC)

Especializados
Não se enquadram em nenhum outro tipo citado anteriormente. Os imóveis assim como os
inquilinos desses REITs são bem específicos, como, por exemplo, empresas especializadas em alugar
outdoors, fibra ótica, salas de cinema, postos de gasolinas, residências universitárias, casas de correção e
presídios entre outros.

Exemplos:
Farmland Partners (NYSE: FPI)
EPR Properties (NYSE: EPR)
Lamar Advertising (NYSE: LAM R)
Getty Realty (NYSE: GTY)
Corecivic (NYSE: CXW)

Localização
Como qualquer investimento imobiliário, um dos critérios mais importantes a se analisar é a
localização dos imóveis. Esse parâmetro facilitará ou não a locação dos imóveis, assim como influenciará
bastante na definição do valor por m².
Contudo por se tratar de portfólios com centenas até milhares de imóveis o foco do investidor não
deve ser analisar separadamente a localização de cada ativo que pertence à empresa, mas sim as regiões
nas quais a empresa possui mais exposição.
A análise desse indicador mede o quão diversificado o REIT é, bem como a situação econômica, em
especial a imobiliária, das cidades e países nos quais os imóveis se encontram.

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Qualidade dos I móveis
A qualidade dos imóveis servirá tanto para atrair quanto manter os inquilinos além de evidenciar qual
a classe social que a empresa foca. Os imóveis podem ser desde voltados a trabalhadores de classe média
ou empresas de pequeno porte até imóveis de luxo para grandes empresas ou para a população com
maior poder aquisitivo.
Assim como em relação à localização, a análise da qualidade dos imóveis deve ser feita em relação a
todo o portfólio e não cada ativo individualmente. Dessa forma, o investidor consegue entender qual o
objetivo e especialidade do REIT e os seus riscos associados.

Taxa de Ocupação
A taxa de ocupação demonstra a quantidade de imóveis ocupados do portfólio do Real Estate
Investement Trust, servindo como evidência da qualidade do gerenciamento do REIT bem como da
demanda pelos imóveis do mesmo.
Além da procura pelos imóveis, o setor do qual a empresa faz parte pode influenciar a taxa de
vacância. REITs de shopping centers, escritórios e self-storages possuem imóveis com contratos curtos o
que leva a uma rotatividade maior e, portanto, uma taxa de ocupação menor. REITs dos setores de
logística, infraestrutura e saúde possuem taxas de ocupação maiores pois seus inquilinos se mudam
menos.
Contudo, independente do setor é comum encontrar REITs com taxas de ocupações acima de 90%, e
alguns apresentando até impressionantes 98% mesmo com portfólio composto por alguns milhares de
imóveis. Esses valores demonstram a capacidade e potencial do mercado imobiliário global, em especial
o americano.

Diver sificação de I nquilinos


M anter uma empresa aberta por muito tempo não é uma tarefa fácil. E por essa razão que a
diversificação de inquilinos é tão importante. Quanto mais diversificado a quantidade e tipos de
inquilinos, mais difícil haver uma grande saída e consequentemente um aumento grande de vacância em
um pequeno espaço de tempo.
Alguns REITs podem ter uma exposição maior ou até total a um único inquilino, como aqueles que
alugam seus imóveis para o governo americano. Essas empresas, apesar de terem a vantagem de ter com
inquilino relevante, apresentam risco maior já que uma mudança política pode vir a desocupar inúmeros
imóveis.
Outro segmento em que a diversificação de inquilinos é essencial é o de varejo. Com o aumento das
vendas online e expansão de companhias como Amazon, várias empresas varejistas vêm sofrendo
financeiramente, com algumas fechando as portas. Consequentemente, os REITs que estão mais
expostos a estas empresas são os ativos que mais vem sofrendo, enquanto que aqueles bem diversificados
pouco sentem dessa mudança.

I nfor mações dos Balanços

51
Os REITs também divulgam balanços trimestrais informando todos os dados financeiros e
operacionais da empresa durante o período. O ideal é que se analise correlacionado informações anuais
de no mínimo 5 anos. Além disso, a análise engloba o estudo de vários parâmetros juntos. Estudo de
dados isolados não oferecem respostas adequadas da qualidade do REIT. Dentre todas as informações,
destacam-se:

Funds From Operation (FFO) - Adjusted Funds From Operation (AFFO):


FFO está para os REITs assim como Lucro Líquido está para ações. Informa o fluxo de caixa
operacional gerado. É calculado adicionando as amortizações e depreciações ao lucro e subtraindo do
resultado os ganhos com vendas. Esses dados distorcem os resultados de empresas que trabalham com
alugueis de imóveis e, portanto, se utiliza o FFO para uma análise operacional mais eficiente.
Além do FFO, as empresas também informam o AFFO que é a soma do FFO com o aumento dos
aluguéis diminuído do CAPEX (investimento) e valores da manutenção de rotina. O AFFO é um valor
mais preciso na estimativa do potencial de ganho do REIT.
Tanto o FFO quanto o AFFO são informações não oficiais (non GAAP). Contudo, isto não torna esses
dados menos eficientes. Para ter uma análise mais precisa o ideal é dividir estes valores brutos pelo
número de ações. Diferente de outras empresas, os REITs são obrigados a distribuir quase todo seu fluxo
de caixa. Portanto há necessidade de emitir novas ações ou fazer dívidas (alavancar), caso o Reit queira
investir em crescimento. No primeiro caso, o resultado é a diluição dos acionistas anteriores à emissão e
para que não sejam prejudicados, o FFO per share e AFFO per share com essas emissões devem se
manter ou melhorar em relação aos dados dos anos anteriores.
Como mostrado na figura abaixo é evidente o aumento dos resultados operacionais dos REITs,
mostrando que apesar de serem empresas que pagam mais proventos também são empresas que crescem
ao longo do tempo.

52
I nformações da Dívida (Debt/Equity, FFO/Debt, Net Debt/Ebitda) : Devido à distribuição de quase
todo dinheiro gerado por um REIT, estes precisam de outra fonte de dinheiro para bancar seus
investimentos e crescimento. Para isso há duas possibilidades: emissão de novas ações e/ou pegar
dinheiro emprestado de terceiros. Para que o acionista não seja pego de surpresa pelo desequilíbrio de
dívidas, é indicado um acompanhamento mais de perto.
Para começar, deve-se olhar o gearing do REIT que é análise da alavancagem da empresa dividindo o
total de dívidas (Debt) pelo patrimônio (Equity), já que há a possibilidade, apesar de não adequada, de
pagar dívidas com os próprios ativos. Já o FFO/DEBT demonstra a relação entre a geração de caixa dos
imóveis do REIT em relação à sua dívida total. E por fim, mas não menos importante o Net Debt/Ebitda
que analisa se o dinheiro gerado operacionalmente é suficiente para pagar as dívidas em alguns anos,
sendo considerada tranquilo um resultado abaixo de 5. Dependendo do segmento pode-se aceitar
relações ainda maiores.

53
10 DRS
Depositary Receipts-DRs são certificados de depósito, emitidos e negociados, com lastro em valores
mobiliários de emissão de companhias estrangeiras.
Esses certificados de depósitos permitem o investimento em ações estrangeiras e diversificação maior
da carteira de investimentos, sem precisar abrir conta em uma corretora no país onde a ação é
negociada, transferir recursos para o exterior e toda burocracia ligada a isso.
Lembrando que, independente do país de origem do ativo, deve ser sempre considerada a
lucratividade e capacidade de gerar retorno aos acionistas da empresa. Caso a empresa não atenda estes
critérios não será um bom investimento. Diversificar apenas por diversificar não é uma atitude
adequada.

ADR

O primeiro ADR foi introduzido por J.P. M organ em 1927 para o revendedor britânico Selfridges no
New York Curb Exchange, o precursor da American Stock Exchange. Estes ativos foram criados para
que empresas estrangeiras possam participar das grandes Bolsas dos Estados Unidos. Os ADRs podem
ser classificados em três níveis:

Nível 1 – É o mais básico, em que as empresas estrangeiras não têm qualificações ou não desejam ser
listadas em bolsa. ADRs Nível 1 são encontrados no mercado de balcão e têm os requisitos mais flexíveis
da Securities and Exchange Commission (SEC).
Nível 2 – São listadas em bolsa ou cotadas na Nasdaq. ADRs Nível 2 têm mais exigências da SEC, e
também um maior volume de trade.
Nível 3 – É o mais prestigiado dos três tipos. A empresa lança uma emissão de oferta pública na bolsa.
ADRs Nível 3 são capazes de levantar capital e ganhar visibilidade substancial nos mercados financeiros
dos EUA.

M uitos ADRs possuem uma proporção maior que 1 por ação no país de origem, devido aos valores
pequenos destas ações quando convertidos em dólar. Os bancos depositários compilam várias ações da
mesma empresa em um único ADR, normalmente com valores entre US$ 10 e US$ 100. Devido à grande
procura pelas empresas que querem abrir capital no mercado americano, o mais comum é que as ADRs
sejam nível patrocinadas III, ou seja, abertura de capital simultânea em bolsas de países diferentes.
Com ADRs é possível investir em ações de inúmeros países do mundo sem a necessidade da abertura
de mais uma conta em corretora e sem operações de câmbio e envio de dinheiro para outro país. ADRs

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possuem inúmeras possibilidade de investimentos dos mais diferentes segmentos e países. São 246 ADRs
na New York Stock Exchange, 126 na NASDAQ e quase 2200 no OTC (mercado de balcão).
No mercado exterior, a liquidez para esse tipo de ativo é mais do que suficiente para se tornar sócio
pois são as bolsas com maiores volumes do mundo. Para se ter uma noção apenas, as ADRs da VALE na
bolsa de Nova Iorque movimentam cerca de 25 milhões de ativos diariamente, o que corresponde um
volume diário superior aos das ações da empresa movimentadas no Brasil.

Fonte: BNY Mellon

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Claro que a possibilidade da compra direta das ações de empresas fora dos Estados Unidos é
totalmente viável. Existem corretoras grandes americanas que permitem acessar várias bolsas além do
NYSE e NASDAQ ou então pode-se abrir conta em corretoras na Europa e/ou Ásia para acessar os
respectivos mercados. M as as ADRs permitem aos investidores, principalmente àqueles que estão
começando, uma maior diversificação e ampliação da carteira de ações no exterior sem a necessidade de
qualquer trabalho a mais.

Alguns exemplos de ADRs e seus respectivos países:


SK Telecom (Korea), SAP (Alemanha), Baidu (China), AB InBev(Bélgica), Canon(Japão), Diageo
(Reino Unido), Unilever (Reino Unido), Grupo Televisa (M éxico), Novartis (Suíça), Ryanair (Irlanda),
Statoil (Noruega), Taiwan Semiconductor M anufacturing (Taiwan), Tata M otors(India), Telecom Italia
(Itália), Santander (Espanha), Total (França), Bhp Billiton (Austrália), Banco do Chile (Chile), ING
(Holanda), Deutsche Bank (Alemanha), Alibaba (China), Philips (Holanda)

Estr utur a Acionár ia das Empresas Chinesas


Que a China é o país que mais vem se desenvolvendo e crescendo nos últimos anos, não é novidade
para ninguém. O país é a nação com o maior crescimento econômico dos últimos 25 anos no mundo,
com a média do crescimento do PIB em torno de 10% ao ano. Com inúmeros investimentos em diversos
setores, a China conseguiu se tornar a segunda maior economia do mundo, ficando atrás apenas dos
Estados Unidos.

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Todo essa evolução e crescimento vem se refletindo no mercado de capitais do país e
consequentemente nas empresas chinesas de capital aberto. O que era uma nação conhecida apenas pela
sua produção agrícola atualmente possui inúmeras empresas entre as mais valiosas do mundo e domina
segmentos promissores, sobretudo associados à tecnologia.
Contudo, apesar de toda essa mudança econômica, o governo chinês manteve, pelo menos de forma
parcial, seu comportamento controlador e pouco democrático. Um exemplo dessa forma de governo é a
lei que proíbe o investimento de estrangeiros em empresas chinesas em certos setores de negócios
considerados estratégicos. Indústrias como telecomunicações, e-commerce e jogos online que incluem
empresas gigantescas como China M obile (NYSE:CHL), Alibaba (NYSE:BABA) e NetEase
(NASDAQ:NTES), respectivamente, são alguns exemplos de setores com essa restrição.
Ainda assim, as empresas chinesas queriam ter acesso a bolsas de valores de outros países, em especial
dos Estados Unidos. Portanto com o objetivo de contornar as restrições do governo chinês ao
investimento estrangeiro, foi criado a estrutura acionária denominada de VIE ( variable interest entity).
A estrutura VIE consiste em uma holding estrangeira, que normalmente é uma companhia nas Ilhas
Cayman, uma empresa de propriedade integral da China ( wholly foreign owned enterprise ou WFOE) e
uma empresa chinesa de operação doméstica de propriedade exclusiva de cidadãos chineses. Os
fundadores, investidores estrangeiros e outros acionistas detêm ações da holding Cayman, que por sua
vez detém 100% de participação no WFOE. A empresa operadora é uma empresa doméstica puramente
chinesa que é licenciada para operar na indústria restrita na China e que é controlada pela WFOE por
meio de uma série de acordos contratuais firmados entre as partes.
Apesar de na prática esse modelo estar funcionando sem qualquer problema, existem algumas
preocupações sobre sua aplicação. A legislação chinesa não aborda diretamente a estrutura da VIE, no
entanto, ela claramente estabelece que o tribunal pode declarar um contrato nulo “ quando uma forma
legal é usada para ocultar um propósito ilegal” . Dessa forma se o tribunal considerar a estrutura como
uma forma de ocultar ilegalmente o investimento estrangeiro em negócios restritos, o contrato passa a
não ter qualquer validade. A China Securities Regulatory Commission (CSRC) divulgou um relatório em
2011 expressando suas preocupações sobre o uso de VIE, mas não se pronunciou desde então sobre essa
estrutura. Outras agências reguladoras da China, incluindo o M inistério do Comércio e o Banco Central,
também questionaram a viabilidade da estrutura da VIE em declarações públicas.
Os dados mostram que mais da metade das ADRs chinesas listadas na NYSE ou NASDAQ estão
usando a estrutura do VIE e embora muitos advogados na China acreditem que o risco do governo
chinês reprimir a estrutura do VIE seja muito baixo, os investidores destas empresas precisam entender
que seu investimento é muito sensível às mudanças legais e políticas chinesas. Inclusive as próprias
empresas que possuem esse modelo de estrutura enfatizam em seus documentos que existem incertezas
substanciais em relação à interpretação e aplicação das leis e regulamentos atuais sobre o assunto.

BDR

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Os Depositary Receipts não são ativos exclusivos dos Estados Unidos, eles podem ser encontrados em
diversos países, inclusive no Brasil.
Os BDRs são separados em dois tipos, BDR Patrocinado e Não Patrocinado:

BDR Patr ocinado

BDR Nível I : São dispensados do registro de companhia na CVM . São negociados apenas em
mercados de balcão não organizado ou em segmentos específicos de BDRs nível I em mercados de
balcão organizado ou bolsa de valores. Devem divulgar, no Brasil, todas as informações que a companhia
emissora está obrigada a divulgar em seu país de origem, além de: (i) fatos relevantes e comunicações ao
mercado; (ii) aviso de disponibilização das demonstrações financeiras no país de origem; (iii) editais de
convocação de assembleias; (iv) avisos aos acionistas; (v) deliberações das assembleias de acionistas e das
reuniões do conselho de administração, ou de órgãos societários com funções equivalentes, de acordo
com a legislação vigente no país de origem; e (vi) demonstrações financeiras da companhia, sem
necessidade de conversão em reais ou de conciliação com as normas contábeis em vigor no Brasil. Além
disso, os BDRs patrocinados nível I só podem ser adquiridos no Brasil por instituições financeiras,
fundos de investimento, administradores de carteira e consultores de valores mobiliários autorizados
pela CVM , em relação aos seus próprios recursos, entidades fechadas de previdência complementar,
empregados da empresa patrocinadora ou de outra empresa integrante do mesmo grupo econômico e
pessoas físicas ou jurídicas com investimentos financeiros superiores a R$ 1.000.000,00 (um milhão de
reais).

BDR Níveis I I e I I I : É exigido o registro da companhia emissora na CVM e são negociados em


mercados de balcão organizado ou na bolsa de valores. A diferença entre eles é que o BDR patrocinado
nível III, diferente do nível II, é registrado na hipótese de distribuição pública simultânea no exterior e
no Brasil.
O emissor estrangeiro que patrocine programa de certificados de depósito de ações – BDR Nível II ou
Nível III deve obter o registro na categoria A, conforme as regras da instrução CVM nº 480, de 07 de
dezembro de 2009, que dispõe sobre o registro de valores mobiliários admitidos à negociação nos
mercados regulamentados. Além disso, a mesma norma estabelece algumas regras especiais para os
emissores de ações que lastreiam BDRs, conforme disposto no anexo 32-I da norma. Entre elas, o artigo
primeiro do anexo determina que somente ações emitidas por emissor estrangeiro podem ser lastro de
certificados de depósito de ações – BDR.
Além disso, define que os emissores que tenham sede no Brasil ou cujos ativos localizados no Brasil
correspondam a 50% (cinquenta por cento) ou mais daqueles constantes das demonstrações financeiras
individuais, separadas ou consolidadas, prevalecendo a que melhor representar a essência econômica
dos negócios para fins dessa classificação. Entretanto, os emissores registrados na CVM como

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estrangeiros antes de 31 de dezembro de 2009 ficaram dispensados da comprovação desse
enquadramento para fins de registro de oferta pública de distribuição de BDR e programas de BDR.

BDR Não Patr ocinado

A regulamentação prevê ainda a existência do BDR não patrocinado, que é o programa instituído por
uma ou mais instituições depositárias emissoras de certificado, sem um acordo com a companhia
emissora dos valores mobiliários objeto do certificado de depósito, somente admitindo negociação nos
moldes do BDR Patrocinado Nível I.

BDRs, Vale a Pena Investir ?


Apesar do mercado de DRs no Brasil ser regulamentado e ter regras muito próximas da dos Estados
Unidos, este peca pela falta de interesse dos investidores e das empresas. São ativos com pouca liquidez,
muitas vezes ficando dias sem negociação. As possibilidades são poucas também, tendo na Bovespa cerca
de 100 ativos desse tipo, em comparação a mais de 5000 empresas disponíveis investindo diretamente no
mercado norte americano. Por fim, mas não menos importante, a maior parte são ativos sem
participações nas empresas emissoras, pois a maior parte dos BDRs são não patrocinados.
Todas essas características do mercado e a facilidade de abrir conta em corretora no exterior e investir
em outros países diretamente, fazem com que os BDRs não sejam adequados para os investidores que
pretendem diversificar parte de seu capital internacionalmente.

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11 ETF
Exchange Traded Fund são fundos de investimentos negociados em bolsa de valores podendo ser
constituído de diversos e diferentes ativos (ações, REITs, títulos de renda fixa, commodities, opções,
moedas, contratos de swap. Etc.). Os ETFs foram criados no Canadá em 1990, mas foi nos Estados
Unidos, a partir de 1993, que esse tipo de investimento começou a ganhar notoriedade e hoje representa
mais de 3,2 trilhões em ativos no mundo todo, sendo 80% somente nos EUA.

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Fonte: Statista. Dados de 17 de novembro de 2018

Correspondendo atualmente a cerca de um terço de todo volume das bolsas americanas, os ETFs vêm
crescendo bastante ao longo dos anos conquistando investidores pelo seu baixo custo inicial e de
manutenção, assim como pela praticidade e possibilidade de exposição e diversificação a diferentes
setores, mercados, países e moedas, etc. E assim como os DRs, sem a necessidade de abrir uma conta em
cada país ou envio de dinheiro para estes.

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A compra de cotas dos ETFs ocorre no mercado secundário, ou seja, compra e venda de ou para outro
investidor, sendo a oferta inicial voltada apenas para grandes instituições.
Em relação aos proventos pagos pelas empresas e/ou títulos os quais o ETF investe, estes podem ser
distribuídos como ocorre com as ações compradas diretamente ou então serem reinvestidos pelo próprio
fundo comprando mais ativos, aumentando assim o patrimônio e consequentemente o valor das cotas.
Isso varia de ETF para ETF.

Ar bitr agem
Diferente dos fundos fechados tradicionais ( M utual Funds), ETFs podem ter emissão ou
cancelamento de cotas de acordo com a demanda. Esse processo, possível apenas para Participantes
Autorizados (PAs), que normalmente são grandes corretoras ou negociantes que possuem acordos com
a distribuidora do ETF, ocorre como uma forma de arbitragem em relação à valorização ou
desvalorização dos ativos que o ETF investe.
Diariamente, o administrador do ETF publica uma lista chamada “ Cesta de Criação” ( Creation
Basket ), com a discriminação de todos os ativos que compõem o ETF e suas respectivas participações. A
emissão de cotas do ETF ocorre com um PA comprando ou tirando do seu portfólio uma composição de
ativos que representem a “ Cesta de Criação” do ETF, e entregando para o administrador do ETF. Em
troca, o PA recebe cotas do ETF. No caso do cancelamento, o PA entrega cotas do ETF para o
administrador e recebe os ativos correspondentes. A cesta de ações que o PA recebe em troca das cotas
do ETF é chama de “ Cesta de resgate” (Redemption Basket). Essas transações são realizadas em bloco
envolvendo pelo menos 50.000 cotas do ETF. Todas essas negociações entre PAs e administradores de

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ETFs envolvendo as Cestas de Criação e Resgate são realizadas ao final do dia, mas os PAs podem cotar
os spreads de compra e venda e fazer trades durante o dia, já que eles sabem a composição da Cesta de
Resgate que será necessária no final do dia.
Ou seja, em situações nas quais o preço das cotas do ETF estiver sendo negociado acima dos preços de
seus ativos, vale a pena para grandes investidores fazerem este tipo de arbitragem, trocando suas cotas de
ETFs pelos ativos e ficando com a diferença para eles. Se o preço das cotas do ETF estiverem mais
baratas que os ativos em si, torna-se mais vantajoso para estas grandes corretoras e negociantes comprar
os ETF ao invés dos ativos diretamente. Apesar da não participação dos pequenos investidores nestes
processos, os mesmos são beneficiados, pois quanto mais recorrente esta arbitragem em um ETF, menor
será a diferença dos preços dos ativos e das cotas do fundo, além de melhorar a sua liquidez e
consequentemente diminuir o spread entre compra e venda da cota do ETF.

Tipos de ETFs
As possibildades de investimentos em ETF são inúmeras, permitindo ao investidor acesso a diferentes
tipos de ativos e setores assim como outros países e moedas.

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Ações
Representando 78% do mercado de ETFs norte americanos, os fundos baseados em ações (incluem os
de REITs também) variam desde os que seguem índices com ações de todo mundo com uma divisão
diferenciada para cada empresa até os compostos por algumas poucas ações de um setor específico com
a mesma proporção para cada empresa em relação ao patrimônio total. Essas características dependem
apenas da forma de seleção e porcentagem que cada uma vai representar no fundo, ambas definidas
pelos regulamentos de cada ETF.
As principais formas de seleção de empresas são pelo valor de mercado, crescimento, setor e
continentes e/ou países. Essas formas não são excludentes e o comum é que se utilize pelo menos dois,

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ou seja, você pode ter um ETF definido pelo valor de mercado e restrito a empresas de algum setor de
algum país, assim como outras diversas combinações.
Pelo valor de mercado, talvez a forma de seleção mais comum em ETFs de ações, as empresas são
escolhidas pela cotação vezes a quantidade de ações. Há ETFs com as N maiores empresas (Blue Chips),
ou com as empresas de porte médio (M idCaps) ou mesmo com as pequenas (SmallCaps).
Quando a seleção é pelo crescimento, são utilizados parâmetros de análise fundamentalista como P/L,
P/VP, PEG entre outros tentando identificar tanto empresas sobreavaliadas que possuem grande
expectativa de crescimento futuro, como empresas subavaliadas.
Por setor, a seleção é pelos possíveis setores assim como suas subcategorias como indústria e área de
atuação.
Outra forma de seleção é pela distribuição geográfica nas quais as empresas estão inseridas, sendo os
critérios mais utilizados os países ou continentes assim como o nível de desenvolvimento deles. Nesse
caso, os ETFs mais comuns são os das empresas mais representativas de um país ou de um continente,
ou então de um conjunto de países emergentes ou desenvolvidos.
Após determinar os critérios de seleção das empresas que constituirão o ETF, o administrador precisa
escolher a forma de distribuição, ou seja, a porcentagem de cada ativo na carteira do fundo. As opções
são: pelo valor de mercado (mais comum), no qual as empresas terão sua representatividade de forma
proporcional ao seu tamanho no mercado, consequentemente favorecendo as maiores empresas. Com
pesos iguais, no qual todo ativo terá a mesma abrangência no fundo, sem nenhuma distinção. E por
fórmulas próprias, onde o administrador determina a metodologia que será utilizada na distribuição,
podendo ser baseada em parâmetros de análise fundamentalista, dividendos, volatilidade, análise gráfica
entre outros.

Exemplos:
SPDR S&P 500 ETF (NASDAQ: SPY)
iShares Core S&P 500 ETF (NYSE: IVV)
Vanguard Total Stock M arket ETF (NYSE: VTI)
Vanguard S&P 500 (NYSE: VOO)

Renda Fixa
Basicamente o mercado de ETFs de renda fixa se resume a fundos de Bonds constituídos pelos
diversos títulos públicos ou privados de diferentes países assim como as empresas ou governos pelos
quais estes foram emitidos.
Os principais critérios de seleção dos títulos são: Volume e Liquidez, Risco de Crédito, Vencimentos e
País. Além destes, a gestão ativa que a maioria dos fundos de renda fixa possuem influenciam na decisão
de quais são melhores títulos a serem incorporados no ETF, além de também determinar a porcentagem
de cada ativo. Assim como nos ETFs de ações, os parâmetros não são excludentes podendo ser utilizado
dois ou vários para determinar como será a seleção dos títulos.

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Vale salientar que diferente do recomendado no investimento direto em títulos, nos ETFs de renda
fixa os gestores normalmente não levam os títulos até seus vencimentos, vendendo e comprando
baseados nas taxas e valores no mercado. Logo, o investidor de ETFs de Renda Fixa não tem garantia e
nem prazo de quem investe diretamente nos títulos dos recebimentos dos cupons assim como o valor
total do dinheiro investido no seu vencimento, tornando o investimento mais similar à renda variável.
Contudo, por se tratar de uma cesta de títulos de renda fixa, estes ETFs acabam, normalmente,
entregando resultados constantes e baixo risco.

Exemplos:
iShares Barclays TIPS Bond Fund (NYSEArca: TIP)
iShares iBoxx $ Investment Grade Corporate Bond (NYSEArca: LQD)
Vanguard Total Bond M arket ETF (NYSEArca: BND)
iShares Barclays Aggregate Bond Fund (NYSEArca: AGG)
iShares iBoxx $ High Yield Corporate Bond (NYSEArca: HYG)
Para investidores não residentes, o acesso direto a investimento de renda fixa em outros países é
muito mais complicado, e às vezes custoso, do que na compra de ações. Na compra de títulos públicos
ou privados é necessário um valor mínimo inicial alto além de contas em grandes bancos e/ou
corretoras. Com cerca de 260 ativos e 17% do market share do mercado de ETFs e composto por
aproximadamente 519 bilhões de dólares em ativos, os ETFs de renda fixa podem ser uma possibilidade
de exposição no mercado de títulos de dívida de forma mais simples e com menor investimento inicial.
As possibilidades de investimento são bem grandes podendo investir em títulos públicos ou privados,
de países emergentes ou países desenvolvidos, com títulos de curto, médio ou longo prazo, títulos de
baixos riscos retornos ou alto risco e retornos.
O ideal para o investidor amador é considerar apenas os ETFs de renda fixa de gestão passiva pois são
os únicos com características adequadas para investidores de longo prazo já que os critérios de seleção de
ativos são pré-definidos e as taxas de administração baixas.

Outr os
Além dos ETFs de Ações e Renda Fixa e suas variações, citados anteriormente, é possível ainda
encontrar no mercado ETF de commodities, de moedas e ETFs de ETFs, que possibilitam o acesso a
diferentes mercados, muitas vezes não possíveis para o investidor individual. Existem até ETFs que
possibilitam apostar na queda dos índices das bolsas americanas ou ETFs alavancados que usam
derivativos e dívidas para amplificar os retornos e riscos sobre um índice subjacente.
Apesar da disponibilidade e fácil acesso, estes ativos não são adequados para imensa maioria dos
investidores, em especial aos adeptos da estratégia de Buy and Hold e que miram retorno no longo prazo.

ETFs x Stocks Picking

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Um dos grandes debates no mercado financeiro, em especial no mercado de capitais do exterior, é
qual estratégia seria mais adequada: comprar uma cesta de ativos de uma vez só através dos ETFs ou
escolher as empresas separadamente e montar seu próprio portfólio de ativos ( stock picking).
Esse debate se intensificou quando Warren Buffet deu a entender que era mais eficiente para os
acionistas iniciantes aportar apenas em ETFs baseados no índice S& P 500. O Oráculo de Omaha chegou
a apostar e ganhou 1 milhão de dólares de gestores de ETFs de gestão ativa, pois estes tiveram retornos
menores do que o índice em um período de 10 anos.
Essa situação serviu para evidenciar que os ETFs de gestão ativa têm se mostrado ao longo dos anos
um péssimo investimento, pois os administradores acabam sempre girando o patrimônio além de cobrar
caro por esse (des)serviço e prejudicando assim o retorno dos cotistas. Porém, não implica que a
utilização de ETFs de ações de gestão passiva deva ser a melhor escolha.
Uma premissa comum utilizada pelos favoráveis à compra de ETFs de ações é que o índice S& P 500
possui características muito favoráveis aos investidores de Buy and Hold e devido sua diversificação e
praticidade estes não teriam necessidade, portanto de escolher empresas individuais.
De fato, se compararmos com o índice o qual estamos acostumados, o IBOVESPA, estas premissas
são verdadeiras. O índice Standard & Poor’s 500 engloba as 500 empresas mais importantes do mercado
de capitais americano, a maioria saudáveis financeiramente e com boas perspectivas futuras. Já o
IBOVESPA é composto de 60 empresas brasileiras, muitas com resultados financeiros no mínimo
questionáveis em se tratando de um possível investimento.
Em relação à concentração de empresas no índice, mais uma vez o S&P 500 se destaca, porém não
tanto quanto algumas pessoas pensam. Enquanto no I BOV as 4 empresas com os maiores pesos (ITUB,
BBDC, PETR e VALE) representam cerca de 40% do índice, no S& P 500 Apple, M icrosoft, Facebook e
Google correspondem a aproximadamente 12%. Já as dez empresas com os maiores pesos representam
20% do índice. Outra questão importante a salientar é que devido à grande quantidade de empresas,
aquelas com bons fundamentos que podem estar nos critérios de muitos investidores representam muito
pouco no índice. Por exemplo Ross Stores (0.11%), Nike (0.31%), Hormel Foods (0.03%) dentre muitas
outras empresas com boas perspectivas.

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Fonte: S&P Capital I Q

Apesar de uma economia muito mais estabilizada que a do Brasil, o índice das maiores empresas de
capital aberto no EUA já foi alterado diversas vezes. Para se ter uma ideia, de 1963 até 2014 houve 1186
substituições no índice, uma média anual de 23. Em 1976, ano com mais alterações, houve 60.
O principal motivo dessas mudanças são fusões e aquisições, o que não é necessariamente ruim para
os investidores, podendo resultar até na potencialização dos retornos. Contudo o segundo motivo dessas
mudanças é não atender mais o mínimo de valor de mercado requerido para estar no índice (6.1b U$).
Esse motivo é prejudicial aos investidores, em especial aos cotistas de ETFs, pois mesmo com ciência do
motivo dessa queda de valor de mercado não poderá tomar atitude alguma a não ser esperar que o ativo
seja substituído no índice. Podemos estar falando, por exemplo, de olhar empresas que valiam 30, 50, 80,
120 bilhões de dólares perderem seus fundamentos e o valor de mercado diminuir para menos 6.1b U$
(vide Yahoo, Kodak, Blackberry etc).
Todas essas mudanças de ativos no índice ao longo dos anos assim como mudanças de pesos das
mesmas significam alterações nos cestos de ativos do ETF e consequentemente custos maiores para o
fundo.
Portanto, esse grande debate de stock picking vs ETFs se resume na opção de fazer suas próprias
escolhas e consequente possíveis erros, porém sempre tendo uma possibilidade maior e mais rápida de
rever seus conceitos, tentando corrigir mais rápido suas decisões, como zerar uma posição em uma
empresa que ficou ruim ou até mesmo aumentar sua posição em empresa que se mostra cada vez
melhor. Ou ainda, adquirir sem necessidade alguma de estudo, seleção e acompanhamento uma cesta de

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ativos que incluem todas empresas excelentes, boas, médias e ruins que passarão ao longo dos anos no
índice de S& P 500 com os pesos pré-determinados.

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12 IMÓVEIS
Diferente do que a maioria das pessoas pensa, a compra de um imóvel no exterior é muito mais fácil e
prática, apesar de um pouco burocrático, do que se pensa. Em algumas situações, o negócio pode ser
realizado totalmente pela internet, apesar de não recomendado pela não possibilidade de análise e
vistoria pessoalmente.
As negociações podem ser feitas, dependendo do país, diretamente com os proprietários ou
corretores, ou utilizando serviços de empresas especializadas em vendas de imóveis no exterior para
brasileiros. Essas empresas possuem escritório em território brasileiro assim como atendimento em
português.
Para o investimento em imóveis, a análise deve ser parecida com a dos REITs, utilizando como
critérios principalmente localização e qualidade do imóvel. Porém, devido ao grande valor investido
deve-se ser mais criterioso fazendo uma análise minuciosa. Recomenda-se a contratação de advogados
especializados para avaliar a situação jurídica do imóvel e questões burocráticas de cada país que podem
mudar ao longo do tempo.

Estados Unidos
No caso do EUA, qualquer estrangeiro pode comprar um imóvel, desde que tenha um visto, mesmo
que de turista, e um passaporte válido. Outros documentos solicitados são comprovantes de renda e
residência (ambos brasileiros). O processo de aquisição se resume à confirmação da disponibilidade do
valor necessário para a compra, à elaboração de uma minuta contratual posteriormente à realização do
contrato e o envio do dinheiro para os Estados Unidos. Veja que nem a conta em um banco americano é
necessária.
Apesar de não recomendado, devido ao alto risco da variação cambial para aqueles que possuem a
maior parte de sua renda em uma moeda diferente da utilizada na operação, há ainda a possibilidade de
compra do imóvel através de financiamentos. No caso são dois tipos de financiamentos possíveis,
Conventional e Adjustable Rate M ortage (ADM ). Em ambos é necessário dar a entrada de 30% do valor
do imóvel e os 70% restantes são financiados com 5% de juros fixos anuais em até 30 anos, no caso do
Conventional, e com juros fixos durantes os primeiros 5 anos e ajustáveis no restante do período, no
caso do ADM . Além dos documentos citados, para o financiamento são necessárias três cartas: Carta de
uma empresa de contabilidade descrevendo a receita do comprador nos últimos anos assim como a
previsão de receita do ano atual e duas cartas de bancos brasileiros: uma que demonstre um bom
relacionamento entre a instituição e o cliente e outra com um histórico de crédito que o cliente tenha
pago em dia, como um carro ou outro bem de valor.
Nosso imposto de IPTU se compara ao imposto predial do EUA, o Property Tax, que gira em torno de
1,6% do valor do imóvel, variando de acordo com o estado no qual a propriedade está localizada. Além

70
desse custo, caso a propriedade faça parte de algum condomínio, as taxas cobradas por estes são
proporcionais ao que é oferecido, como academia, piscina etc.·.

Inglater r a
Não há nenhum empecilho para que estrangeiros comprem imóveis na Inglaterra, contudo as
negociações obrigatoriamente devem ser feitas por meio de advogados. O advogado é responsável por
verificar a procedência do dinheiro do próprio cliente, sendo ele responsabilizado caso a origem não seja
segura. Esse processo se dá pelo fornecimento de documentos de renda pelo cliente para o advogado.
Outro papel realizado pelo advogado é de intermediário do envio do dinheiro para efetivação do
pagamento. O dinheiro deve ser enviado para o advogado e posteriormente este encaminha para a outra
parte. Por fim, mas não menos importante, cabe também ao advogado inspecionar o imóvel com intuito
de verificar seu histórico, além de apontar possíveis ônus futuros, como questões de planejamento
urbano que possam a vir afetar o valor do bem. Os documentos necessários para a compra são o
passaporte, assim como comprovantes de renda e endereço além da abertura de uma conta em um banco
da Inglaterra. Não há necessidade de visto para entrada de brasileiros e estes podem permanecer por até
6 meses, para turismo ou estudos.
Na Inglaterra há duas formas de aquisição de imóveis: o mais comum é o freehold, que se trata de uma
compra convencional, no qual o comprador passa a possuir a todos os direitos sobre o imóvel e pode
fazer o pagamento à vista ou de forma parcelada.
A segunda forma, assim como no EUA, é o financiamento, porém estes não podem ultrapassar o valor
de 80% do valor do imóvel e 1/3 terço da renda do comprador, além de serem limitados a prazos de
duração de 30 anos ou até o comprador possuir 70 anos de idade. Relembrando sempre o risco cambial
de um financiamento em moeda estrangeira.
Os custos envolvidos na negociação e aquisição dos imóveis, além do preço da propriedade, são:
Advogado (1000-2000 libras), custo de registro (0,1% do valor do imóvel), imposto de transmissão do
imóvel (1% a 4% do valor do imóvel), empresa de consultoria que intermedia a venda (1,5% do valor do
imóvel), chatered surveyour, responsável pela inspeção técnica do imóvel (600-1500 libras). Em relação
ao último, o vendedor é obrigado a fazer um seguro para cobrir eventuais problemas que não puderam
ser identificados no relatório de inspeção. No caso do IPTU inglês, varia de acordo com o município e
são proporcionais ao valor da propriedade. De qualquer forma as taxas são muito menores do que as
cobradas no Brasil.

Fr ança
Assim como nos outros países citados anteriormente, não há restrição na compra de imóveis na
França por estrangeiros e, como na Inglaterra, não há necessidade de visto para a entrada de brasileiros
no país.
O primeiro passo do registro legal da aquisição de propriedade na França é o acordo formal entre o
vendedor e o comprador, que é chamado de Sous-Ao ver Prive (se é intermediado pelo agente de

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propriedade real francesa) ou Compromis de Vente (se for feito por um notário). Esse acordo deve ser
assinado por ambas as partes, sendo de responsabilidade do comprador o depósito, de pelo menos de
10% do valor do imóvel que serão depositados em uma conta bancária específica de um notário e assim
continuarão até o pagamento do restante ou o cancelamento da compra. O comprador tem o prazo legal
de 7 dias para desistir da compra e ter o reembolso integral do depósito inicial. Se a recusa da compra for
feita após essa data, o contrato é rescindido e o comprador perde o depósito realizado, a não ser que a
causa da recusa atenda a alguma condição contratual que dê o direito ao reembolso total.
O notário, ou em francês notaire, tem o papel semelhante ao advogado no processo da Inglaterra. A
intermediação do pagamento, fiscalização da qualidade do imóvel, do seu histórico, além da verificação
de documentos e de ônus futuros em função de futuras melhorias públicas na região onde o imóvel está
localizado. Esse funcionário não age no interesse de qualquer das partes na operação, ele representa os
interesses do governo francês e tem como sua tarefa principal assegurar que a transação seja realizada
em conformidade com todas as normas legais e sendo escolhido livremente pelo comprador.
O segundo passo do registro legal para comprar uma propriedade na França, é a assinatura do
vendedor e comprador do Acordo Final ( Acte de Vente) na presença do notário. O imóvel é transferido
para o novo dono, que deve arcar com o restante dos custos que somam, normalmente, cerca de 7,5% do
valor do imóvel. Nesses custos estão incluídos a taxa do notário, imposto sobre a transferência além do
imposto do registro da propriedade. Há também imposto anual como nosso IPTU, que como aqui vai
variar de acordo com a região.
Na França também não há nenhuma restrição para estrangeiros conseguirem financiamentos com os
bancos, contudo as instituições bancárias são mais rigorosas que nos outros países na aprovação do
crédito, resultando em mais solicitações de comprovantes de renda, históricos de crédito e de
relacionamentos do comprador com seu banco.

Por tugal
Outro país muito procurado por brasileiros com intuito de investir em imóveis é Portugal, devido ao
idioma semelhante e em muitos casos a dupla nacionalidade portuguesa que muitos brasileiros possuem.
Para a compra de imóvel em terras portuguesas é necessário ter uma inscrição na Administração
Fiscal, para que com isso se possa obter o Número de Identificação Fiscal. Além destes documentos, é
necessário ter em mãos a Certidão do Registro Predial, também conhecida como Certidão de Teor, que
confirma e legitima o proprietário e comprador. Já para saber qual a situação fiscal do imóvel interessado
deve-se solicitar no Serviço de Finanças o documento de nome Caderneta Predial. Outros documentos
também são necessários como a Licença de Utilização, que serve para atestar para que serve o imóvel
alvo da compra e pode ser obtido na prefeitura da cidade do imóvel e a Ficha Técnica de Habitação que é
exigida para descrever as características técnicas e funcionais do imóvel e que também pode ser
solicitada na prefeitura. Esses documentos não podem ser solicitados diretamente por não residentes,
sendo necessário, portanto um representante fiscal que deve ser cidadão português e ter residência
permanente em Portugal. É recomendado à utilização de advogados especializados na área para atuar
como representante fiscal.
72
Em Portugal, as instituições bancárias não possuem uma linha de crédito para financiamento de
imóveis destinada a estrangeiros, contudo com a dupla nacionalidade ou um fiador português os
possíveis compradores podem utilizar da linha normal oferecida para os portugueses. Nesse caso, o
financiamento do imóvel pode chegar até 80% do imóvel.
Além dos custos com um possível financiamento, o comprador deve arcar com custos na aquisição,
na escritura e nos registros que normalmente não passam de mil euros. A contribuição autárquica, o
IPTU deles, varia entre 0,7% a 1,3% do valor do imóvel e assim como no Brasil este imposto é cobrado
anualmente.
Na compra de imóveis de 500 mil euros ou mais à vista, ou de mais de 350 mil euros em imóveis de
mais de 30 anos ou em regiões de reabilitação urbana, é possível solicitar a autorização de residência
temporária, a qual permite a moradia ou livre circulação no espaço europeu. Para ter direito a essa
autorização é necessária uma estadia mínima de 7 dias anuais em Portugal. Após um período de 6 anos
com essa autorização, é possível solicitar a cidadania portuguesa.

Ur uguai
O governo uruguaio também não tem nenhuma restrição quanto à compra de imóveis por
estrangeiros. Porém, assim como na Inglaterra, todas as transações imobiliárias são executadas por um
advogado especializado na área, denominado no Uruguai de escribano, tendo o comprador o direito de
escolha deste. O papel do escribano é ser responsável pela escrituração do imóvel, pelas informações dos
registros públicos, pela averiguação de possíveis pendências judiciais do bem, além do registro do
contrato.
O pagamento das compras dos imóveis no Uruguai pode ser feito à vista ou parcelado, contudo,
diferente dos países citados anteriormente, o parcelamento para estrangeiros só é possível através de
construtoras, pois as instituições bancárias não oferecem esse serviço. As construtoras exigem uma
entrada de 10% do valor da propriedade e cobram geralmente cerca de 5,5% de juros fixos anuais. Vale
salientar que todo pagamento, tanto à vista quanto parcelado, tem seu valor convertido em dólar, ou
seja, são compras na verdade na moeda americana com o risco cambial inerente a ela.
Os impostos prediais no Uruguai são cobrados anualmente e com valores que variam entre 2% a 3%
do valor da propriedade.

Imóveis têm r isco


É comum no Brasil financiar imóveis sem condições reais de arcar com esse processo, porém com a
“ brilhante” ideia de alugá-lo e com o dinheiro do aluguel pagar as prestações. Além de ruim
financeiramente, este tipo de estratégia carrega um risco muito grande, já que não há nenhuma garantia
de que quando ou se o imóvel será alocado. Além de raramente o valor do aluguel ser suficiente para
pagar as prestações.

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Ao transferir essa situação para outro país, o investidor praticamente estaria participando de uma
“ roleta russa” financeira. As oscilações da moeda estrangeira juntamente com a incerteza da locação do
imóvel trazem riscos ilimitados.
Um exemplo prático dessa situação ocorreu com alguns brasileiros que resolveram comprar imóveis
nos Estados Unidos, especialmente em Orlando, nos anos seguintes a crise de 2008-2009 achando se
tratar uma grande oportunidade. A bomba estourou nas mãos de muitos quando o dólar, que na época
da compra estava próximo de 2 reais, passou a valer mais de 4 reais fazendo com que muitos não
conseguissem mais pagar os financiamentos e perdessem os imóveis.

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13 RESERVA DE VALOR
A reserva de valor é um capital direcionado na conversão de moedas estrangeiras ou ouro, para se
resguardar em caso de situações de grandes crises no Brasil que podem levar à moeda nacional perder
totalmente seu valor. Assim como a reserva de emergência, o fundamental para esse capital é liquidez e
não sua rentabilidade, que por sinal segundo estudos, tem sido péssima no longo prazo. Diante dessas
condições e facilidade de compra e logística, o dólar e o euro (muito menos que primeiro) são as formas
mais adequadas para fazer uma reserva de valor. A reserva de valor também pode ser utilizada para
viagens internacionais tendo de ser repostas posteriormente, porém não necessariamente com a mesma
urgência da reserva de emergência.

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14 ABRINDO CONTA EM CORRETORA
ESTRANGEIRA
Para que se tenha a possibilidade de investir nos ativos citados até aqui, com exceção dos BDR e ETFs
brasileiros dolarizados, é obrigatória a abertura de conta em corretora estrangeira. Esse processo é bem
simples, se assemelhando ao processo de abertura em corretoras brasileiras.
Antes de entrarmos no assunto de documentação e processo de abertura, é necessário abordar sobre
como escolher uma corretora. Deve-se procurar por empresas que possibilitam a criação de contas para
não residentes. Apesar de aumentar nos últimos anos o número de corretoras que oferecem esse serviço,
algumas grandes ainda não aceitam esse tipo de clientela limitando assim o nosso leque de opções. Após
esse filtro, deve-se checar as corretoras restantes nos órgãos reguladores e outras instituições que
protegem em caso de fraude ou quebra das mesmas.

Segur ança
No caso das corretoras americanas, os principais órgãos a serem verificados são FINRA e SIPC. A
FINRA ou Financial Industry Regulatory Authority é uma corporação não governamental que atua como
uma organização auto reguladora das corretoras membros e mercados cambiais, com a função de
certificar que a indústria de valores mobiliários dos Estados Unidos opera de forma justa e honesta. A
FINRA supervisiona cerca de 4250 corretoras, 162.155 filias e mais de 629 mil representantes de valores
mobiliários registrados. Para verificar se uma corretora faz parte da FINRA é só pesquisar pelo seu nome
no site brokercheck.finra.org. Já o SIPC ( Securities Investor Protection Corporation ) é um fundo
projetado para proteger os clientes de corretoras em casos de perda devido à falência e/ou fraude, se
assemelhando ao nosso FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Assim como FGC, o SIPC é suportado
pelas contribuições dos próprios membros, no caso as corretoras, e é supervisionado pela SEC ( Securities
and Exchange Commision ). No próprio site da SIPC, http://www.sipc.org/list-of-members, é possível
encontrar todas as corretoras que fazem parte desse grupo. As garantias são de até 500 mil dólares,
incluindo a proteção de até 250 mil dólares em dinheiro, por conta. Caso alcance o valor limite em
investimentos pode-se criar uma nova conta se beneficiando do novo limite. Vale lembrar que não há a
necessidade de se morar ou ser cidadão dos Estados Unidos para se beneficiar deste seguro. O
tratamento é o mesmo para qualquer nacionalidade que possua conta em uma corretora membro da
SIPC.

Ativos For necidos


Após realizada essa filtragem inicial, tanto em relação à possibilidade de criar uma conta para não
residente quanto a segurança da corretora, o investidor deve se questionar em relação a quais são os
tipos de ativos que pretende colocar seu dinheiro. Diferente do mercado brasileiro, as corretoras de fora

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variam bastante seus leques de investimentos e possibilidades, além dos países dos quais se pode
comprar ativos. Essas características influenciarão tanto em relação a valores mínimos de depósitos
iniciais quanto aos custos de corretagem. Há corretoras novas e relativamente pequenas, nas quais não
há necessidade de depósitos iniciais e sem taxas de manutenção (entende-se como nossa custódia) e
taxas de corretagens bem baixas, porém com a possibilidade de investir apenas em ações dos Estados
Unidos e de empresas com valores de mercado maiores que 1b de dólares. E há corretoras que exigem
um investimento inicial de 10 mil dólares, cobram corretagens mais caras, muitas vezes taxas de
manutenção, contudo com diversos ativos, tanto de renda variável quanto renda fixa de inúmeros países,
disponíveis para se investir. Outra característica que diferencia grandes corretoras das pequenas, é que
algumas destas maiores e mais consolidadas são instituições bancárias também, com isso a conta na qual
irá se depositar estará em seu nome, diferente das que seu dinheiro fica em uma conta bancária em nome
da corretora e vinculada à conta do cliente. Essa diferenciação ocorre também no Brasil, sendo que em
algumas corretoras você envia dinheiro para uma conta própria e em outras se faz um depósito em nome
da corretora. Algumas pessoas podem se sentir mais seguras em ter a conta em seu nome e acreditam
que assim haja maior facilidade em retirar o dinheiro da corretora, porém na prática a segurança é
basicamente a mesma devido à regulamentação e proteção da FINRA e SIPC. As retiradas vão depender
de corretora para corretora o que faz pouca diferença para o investidor de longo prazo que só usufruirá
desse dinheiro quando tiver um patrimônio bem formado. M as a depender do perfil de cada investidor
essa condição pode ser considerada na escolha da corretora pois se certas características o deixam mais
tranquilo, isso também é importante nos investimentos.

Documentos
Concluídas todas as etapas de análise e escolha da corretora é chegada a hora de iniciar o processo de
abertura da conta. Atualmente os processos são bem rápidos e práticos e em várias corretoras de forma
totalmente online. Para abrir um conta, o investidor deve ir no site da corretora escolhida, preencher um
formulário online com suas informações pessoais e em seguida será solicitado por e-mail ou no próprio
site os seguintes documentos (podendo variar de corretora para corretora, assim como país):
Passaporte e visto americano (Algumas corretoras pedem ao invés do passaporte pedir a carteira de
motorista brasileira ou identidade);
Comprovante de Residência Brasileiro;
Declaração de Imposto de Renda do Último Ano (Nem todas corretoras exigem esse documento);
Formulário W-8BEN preenchido (Apenas para corretoras americanas, sendo que algumas destas
preenchem para você).

W-8BEN
O formulário W-8BEN identifica um investidor não residente nos Estados Unidos. Utilizado também
como registro para justificar casos de cooperação de outros países, como o existente entre Brasil – EUA,
evitando que o imposto pago lá seja cobrado aqui também. Seu preenchimento, como mostrado na

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imagem abaixo é bem simples, sendo obrigatório apenas os campos 1, 2, 3, 4 e 7 para todos sem
identificação na receita americana e que não irão solicitar a utilização de um acordo de impostos
diferente do existente entre seu país com os EUA. Nesses campos serão informados o Nome Completo,
País, Tipo de Investidor (Individual), Endereço Completo e CPF, respectivamente, além de assinar e
datar o documento.

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Registro de Ativos
Uma diferença no mercado exterior é a forma de custódia dos ativos. No Brasil os ativos são
custodiados através da CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia), hoje pertencente a
BM &FBovespa, em nome dos investidores. A organização dos ativos do mercado financeiro brasileiro é
bem centralizada, nos outros países o comum é que esse papel seja feito por diferentes bancos, num
sistema descentralizado. No caso de quebra da corretora, os ativos continuam nos bancos. Já em
situações de quebra de um banco, o comum é que outra instituição bancária assuma a custódia dos
ativos. Caso o investidor seja lesado, é acionado o SIPC para indenizá-lo.
Outra característica distinta do mercado americano e do exterior em geral em relação ao nosso é a
forma de registro dos ativos em que há três formas diferentes:

Physical Certificate — O ativo comprado por uma corretora ou diretamente da empresa é registrado
no livro do emissor em nome da pessoa física que adquiriu aquele bem e o mesmo recebe uma cópia
impressa do certificado de posse da ação ou título, representando a sua propriedade.
“Street Name” Registration — O ativo é registrado no livro do emissor em nome da corretora e a
mesma mantém o bem pelo proprietário de forma indireta, registrando os verdadeiros donos das ações
e/ou títulos em seus livros de registro. O comprador do ativo não receberá cópias do certificado de posse
e a corretora intermediará situações de pagamentos de proventos podendo até haver atrasos em alguns
casos.
“Direct” Registration — O ativo é registrado em nome do acionista sem a necessidade de certificado
físicos de posse e a corretora guarda estes bens de forma escritural em seus livros.

Cada forma de registro tem suas vantagens e desvantagens. No caso do certificado físico, o acionista
está ligado diretamente à empresa da qual adquiriu ações, permitindo assim um contato mais próximo
dela, com envio diretos de comunicados e resultados. Além disso, o certificado físico facilita na utilização
desses bens como garantia em um empréstimo. Porém toda vez que for necessário vender o ativo será
necessário o envio para a corretora ou agente de custódia tornando o processo mais demorado, menos
prático e até mesmo mais custoso, principalmente em caso de perda do certificado, em que o acionista
tem de pagar por uma segunda via. E por fim, toda mudança de endereço deverá ser comunicada à
empresa para continuar recebendo as correspondências.
O registro do tipo “ Street Name” é o padrão do mercado, sendo este modelo escolhido pela maioria
das corretoras de forma automática a não ser que hajam instruções específicas por parte do acionista.
Apesar de não permitir um contato direto entre a empresa e o acionista, torna o processo de compra e
venda de ações muito mais prático, ainda mais em um mercado descentralizado como visto no exterior,
com diversos bancos custodiando ações de diferentes empresas adquiridas por milhares de corretoras
diferentes, além de facilitar a utilização dos ativos para operar alavancado na corretora. Não recomendo,
entretanto, a alavancagem, principalmente se tratando de operações que serão realizadas em moedas
estrangeiras

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A forma “ Direct Registration” seria justamente um meio termo entre os outros dois modelos citados,
pois a mesma permite um contato mais próximo e direto entre o acionista e a empresa. O processo nas
operações com esses ativos é mais prático e rápido em relação ao “ Physical Certificate” , porém mais
complicado do que o registro “ Street Name” . As ações ficam registradas diretamente nos livros das
empresas no nome dos acionistas, contudo para que se possa vender será necessário solicitar a
transferência para o nome da corretora ou agente de custódia, tornando, portanto, o processo bem mais
lento e às vezes mais custoso também.
Esses diferentes tipos de registro não alteram a propriedade sobre os bens adquiridos bem como os
direitos sobre eles, apenas influenciam na forma que os ativos podem e vão ser negociados.

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15 MÉTODOS DE TRANSFERÊNCIA
Após a abertura de uma conta em corretora no exterior será necessário o envio de recursos para que
sejam realizados os aportes. Os métodos de transferência vão variar de acordo com as formas aceitas pela
corretora.
As principais formas de envio, assim como recebimento, são:.

Tr ansfer ência Bancár ia Internacional/ Swift ( Inter national


Wir e Tr ansfer ) :
A mais comum, além de muitas vezes ser a mais barata a depender do valor enviado. Basta informar
os dados de quem vai receber no exterior assim como o código do banco para onde os recursos serão
enviados e também o motivo do envio. O motivo serve para que a operadora (banco/corretora de
câmbio) registre a transferência e informe ao Banco Central, pois toda e qualquer transferência
internacional é registrada lá e por isso só podem ser realizadas por agentes autorizados pela autarquia
federal.
Essa forma de envio pode ser realizada tanto através de bancos quanto através de corretoras de
câmbio. Os bancos além de cobrarem taxas maiores, em média 150 reais por operação além do IOF
(pode variar entre 0,38 e 1,1% a depender da natureza) e spread do câmbio, não estão habituados a fazer
transferências internacionais para investimentos em corretoras estrangeiras. Complica ainda mais
quando a transferência é para a conta da corretora e não diretamente dos clientes, o que é muito comum,
e acaba sendo uma transferência internacional pessoa física para pessoa jurídica. Essa situação está fora
dos padrões dos bancos que muitas vezes acabam não conseguindo realizar a transferência ou
dificultando bastante como, por exemplo, solicitar documentos que só serão adquiridos após a compra
das ações. Essa situação normalmente não ocorre ao utilizar corretoras de câmbio que estão mais
acostumadas com o processo. Normalmente cobram cerca de 60 reais por operação, IOF e o spread do
câmbio, além de realizarem com facilidade este tipo de operação e, a depender da corretora, tudo online.
O processo de envio se resume à solicitação da transferência, na qual serão informados os valores e a
moeda que será convertida e transferida, e as informações do receptor. Após a solicitação a corretora de
câmbio entrará em contato solicitando documentos necessários para efetuação sendo uma identificação
com foto e comprovante da finalidade da transferência. Este último documento deve ser solicitado para a
corretora de investimentos no exterior e a mesma providenciará um documento informando a existência
de sua conta e informações na instituição que servirão para provar a finalidade da transferência.
Atualmente quando confirmado o pagamento da transferência, que é por transferência bancária, demora
normalmente menos de 48 horas úteis para que os créditos sejam adicionados na conta da corretora
estrangeira.

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Após realizado o processo da primeira transferência, as informações e documentos ficam gravados na
corretora de câmbio, não necessitando, portanto, a repetição de todas etapas nos próximos envios, se
limitando apenas à solicitação de envio e informação da finalidade.
Dependendo do banco receptor pode haver cobrança de recebimento, porém muitas corretoras
estrangeiras isentam esses valores por parte de seus bancos para não prejudicarem seus clientes ou
quando há taxas, são bem pequenas. No caso de retirada, os bancos brasileiros vão cobrar as mesmas
taxas de envio. De qualquer forma, é importante que o investidor que decidiu ter parte de seu capital no
exterior evite ao máximo trazer de volta, a não ser em situações emergenciais. Quando o patrimônio já
for grande que dê tranquilidade financeira, o ideal pode ser abrir uma conta em uma instituição bancária
no país onde estão os recursos e fazer transferências locais, posteriormente utilizando esse dinheiro
através de saques ou compras com cartões daquela instituição bancária.
O fato de ter uma taxa fixa para transferências inviabiliza o envio de pequenas quantidades, sendo,
portanto necessário, a depender da condição do investidor, juntar alguns aportes para então fazer uma
transferência.

Tr ansfer wise:
Tranferwise é um sistema de envio de dinheiro para o exterior de baixo custo, pois na prática evita
que o dinheiro saia do país, evitando assim a taxação por IOF. O sistema utiliza contas locais dos dois
países envolvidos na transferência e através de envio locais faz com que o dinheiro chegue ao
destinatário.
Apenas um exemplo simples para compreensão, porque a operação verdadeira é muito maior: João
está no Brasil e quer enviar dinheiro para sua filha no EUA. Já Fernando que está no EUA precisa enviar
dinheiro para sua noiva no Brasil. Dessa forma o Transferwise pega o dinheiro de João e encaminha para
a noiva de Fernando no Brasil e a filha de João vai receber o dinheiro de Fernando no EUA.
O único problema dessa forma de transferência é que diferente de alguns países no exterior como os
EUA, no Brasil não é permitido envio de pessoa física para pessoa jurídica em outro país,
impossibilitando o envio direto para as contas de corretoras. Nesses casos pode valer a pena ter uma
conta particular em uma instituição bancária no exterior que servirá para intermediar a transferência
internacional. Dessa forma enviaria do Brasil para a conta particular no exterior e posteriormente faria
uma nova transferência, ambas utilizando a Transferwise, para a conta no exterior. Já aqueles que
possuem conta em corretoras que também são instituições bancárias, terão provavelmente contas em
seus nomes permitindo assim a transferência direta pelo Transferwise.

SafetyPay/ Paypal:
Algumas corretoras também aceitam transferências através de sistemas de pagamentos onlines como
SafetyPay e PayPal. Também há incidência de IOF (6,38%), spread e taxa da corretora. A taxa da
corretora é de normalmente 2,3% para SafetyPay, com valor mínimo de 3 dólares e máximo de 50
dólares. O PayPal cobra uma taxa de recebimento de 3,6%.

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Car tões de Crédito:
Apesar de sua praticidade, trata-se de uma das formas mais onerosas de envio de recursos para o
exterior, pois além do IOF (6,38%) se o cartão for brasileiro, há spreads muito maiores que o praticado
pelo mercado. As corretoras estrangeiras ainda cobram uma porcentagem pela operação de quase 4% se
utilizado cartões emitidos no Brasil.

Bitcoin:
Bitcoin é uma criptomoeda e um sistema de pagamento online baseado em protocolo de código
aberto que é independente de qualquer autoridade central. Ou seja, trata-se de uma moeda virtual
totalmente descentralizada de um país ou órgão regulador. Dessa forma, ao utilizar esse meio de envio o
único custo presente é a corretagem das corretoras de bitcoins e o spread entre a compra e venda que
devido a baixa liquidez no Brasil, ainda é relativamente alto.
Nenhuma corretora aceita esse tipo de transferência atualmente, sendo necessário o envio entre
corretoras de bitcoins de diferentes países para depois encaminhar o capital para a corretora no exterior.

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16 IMPOSTO DE RENDA
As informações postadas sobre esse assunto representam interpretações de normas e definições
tributárias definidas pela Receita Federal Brasileira nesse momento e que podem mudar no futuro. Além
disso, serão tratadas as informações direcionadas para as condições da maioria dos investidores no
exterior. Situações específicas não serão discutidas e estes investidores em condições especiais devem
consultar advogados especializados. Basicamente todas as situações e informações de como proceder
podem ser encontradas no material de pergunta e respostas para pessoa física da receita federal.
Como toda questão legal, podem haver ambiguidades e consequentemente percepções diferentes de
cada leitor. Caso o investidor não se sinta seguro, é recomendado procurar a orientação de um
profissional tributarista especializado. De qualquer forma, o mais importante é que tudo seja declarado
da forma mais transparente possível. M esmo que haja algum erro, resultará apenas na necessidade de
esclarecimento e posteriormente sua retificação. A punição só ocorrerá se persistir no erro. Isso vale para
investimento e ganhos no exterior ou no Brasil.
Neste tópico será discutida a questão do pagamento de imposto de renda e declaração no Brasil,
considerando, portanto, o investimento em países nos quais não é preciso declarar também o capital
investido, como os Estados Unidos. Caso seja feito investimentos diretamente em países que possuem
declaração também, cabe ao investidor pesquisar e identificar as necessidades tributárias de cada país, já
que há diversos sistemas de declaração variando de país para país.

Ilegalidade
Diferente da associação errada que muitos brasileiros fazem de investimento no exterior com
ilegalidade, devido aos maus exemplos dados por algumas pessoas, principalmente
políticos, possuir parte de seu capital em outro país está totalmente dentro da lei. A única exigência é que
se faça a declaração dos bens e se pague os impostos devidos dos rendimentos e operações de seu capital
e ativos no exterior, assim como deve ser feito com os investimentos aqui no Brasil.
A Receita Federal juntamente com o Banco Central possui diversas normas e instruções para o capital
brasileiro no exterior, permitindo assim o envio, bem como a utilização deste dinheiro para inúmeros
fins, incluindo investimentos, desde que seja feito seguindo as legislações vigentes.
Uma interpretação totalmente equivocada e muito comum é que a necessidade de declarar os ativos
no exterior e recolher os possíveis impostos sobre os ganhos e rendimentos dos mesmos está relacionada
com a repatriação desse capital. Seguir essa interpretação é escolher o caminho da ilegalidade. O
residente do Brasil que possua capital no exterior deve declarar seus ativos na Declaração Anual Imposto
de Renda Pessoa Física e recolher os impostos sempre que necessário, independente do país onde os
ativos estão, bem como a intenção ou não de trazer o dinheiro de volta para o Brasil.

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Acor do de Recipr ocidades
A primeira informação que se deve ter ao investir em outro país, é saber se há acordo ou
reciprocidade e, portanto, se os impostos pagos com rendimentos ou ganho de capital pagos no país
onde o capital está investido poderão ser descontados dos impostos devidos à receita brasileira evitando
a bitributação. Existem quatro situações: Países que o Brasil não tem reciprocidade que o investidor não
precisa comprovar, países que o Brasil tem reciprocidade que o investidor precisa comprovar, países
com acordo e países sem acordo. Na primeira situação encontra-se apenas três países, Estados Unidos da
América, Reino Unido e Alemanha. Na terceira situação encontra-se, atualmente, todos os países da
tabela abaixo:

Quando investir nos países com reciprocidade que não os da tabela,a reciprocidade deve ser
comprovada pelo contribuinte, através de cópia da lei publicada no órgão da imprensa oficial do país de
origem do rendimento, traduzida por tradutor juramentado e autenticada pela representação
diplomática do Brasil naquele país, ou mediante declaração desse órgão atestando a reciprocidade de
tratamento tributário.
Por fim, estão os países sem acordo com o Brasil. Nestes casos os rendimentos submetem-se
as disposições da legislação tributária brasileira vigente, não podendo ser compensado o valor do
imposto porventura pago no país de origem, ou seja, ocorre a bitributação.
Outra informação importante é que o fator gerador do imposto tanto para os rendimentos e
dividendos quanto para ganho de capital é independente da repatriação ou não dos recursos, ou seja,
teve ganho de capital ou recebeu proventos em outro país resultantes de ativos no exterior, deve-se
declarar e pagar os impostos devidos.

Imposto sobr e Rendimentos e Dividendos


A tributação sobre os dividendos ou rendimentos pagos por ações, REITs, ADRs, ETFs e aluguéis de
imóveis no exterior é calculada com o uso do carnê-leão, que utiliza a tabela progressiva do imposto de

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renda vigente no mês do efetivo recebimento dos recursos. Um processo similar é feito para aqueles que
possuem imóveis alugados no Brasil e precisam declarar essa renda. Caso haja valores a serem pagos,
estes devem ser recolhidos até o último dia útil do mês seguinte ao recebimento, com o código 0190. O
programa Carnê-Leão pode ser baixado no site da Receita Federal.
Para calcular o valor devido de impostos sobre os dividendos e/ou rendimentos, o investidor deve
abrir o programa do Carnê-Leão, fazer um novo registro colocando nome e o CPF. Em “ Origem dos
Recebimentos” a opção “ Outros” será marcada. Dando prosseguimento ao processo, o investidor clicará
em “ Demonstrativo de Apuração” e visualiza os meses do ano assim como várias opções de
rendimentos. Para os investimentos no exterior, as abas a serem preenchidas são “ Exterior” e “ Impostos
Pago no Exterior a Compensar” . Em “ Exterior” será informado o valor bruto de dividendos e/ou
rendimentos recebidos naquele mês.
Esse valor deve ser informado em reais, usando-se o valor de compra do dólar americano do último
dia útil da primeira quinzena do mês anterior informado pelo Banco Central do Brasil. No caso de
rendimentos em outra moeda estrangeira, estes devem ser convertidos primeiramente para dólares dos
Estados Unidos, pelo seu valor fixado pela autoridade monetária do país de origem e depois convertido
em reais, seguindo o processo descrito acima.
Já em “ Imposto Pago no Exterior a Compensar” , como o nome já fala, deve-se informar os impostos
recolhidos no país de origem. Assim como com os rendimentos informados em “ Exterior” , os impostos
pagos devem ser informados em reais e convertidos através do mesmo padrão.
Caso o imposto pago no exterior seja maior que o imposto relativo ao Carnê-Leão no mês do
pagamento, situação comum para os investidores com ações no EUA onde os dividendos são taxados em
30%, a diferença pode ser compensada nos meses subsequentes até dezembro no ano-calendário e na
Declaração de Ajuste Anual desde que haja acordos, tratados ou convenções internacionais firmados
pelo Brasil ou reciprocidade de tratamento.

Imposto sobr e Ganho de Capital


A alienação de bens ou direitos e liquidação ou resgate de aplicações financeiras, inclusive depósito
remunerado, adquiridos, a qualquer título, em moeda estrangeira, bem como a alienação de moedas
estrangeiras e moedas virtuais mantida em espécie, de propriedade de pessoa física, estão sujeitos a
apuração de ganho de capital e consequentemente à tributação definitiva.
A alíquota para ganhos de capital no exterior de até 5 milhões de reais é de 15%. Acima desse valor é
aplicado uma alíquota progressiva, como mostrado na imagem abaixo:

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Operações no exterior que totalizam valores menores que 35 mil reais no mês e que tenham gerado
ganho de capital, são isentas de recolhimento de imposto, pois são considerados ganhos de capital
decorrentes de alienação de bens de pequeno valor.
Juros recebidos de contas remuneradas, cupons e juros intermediários de renda fixa e ganhos com
operações com moeda estrangeira em espécie não se aplica a isenção de alienação de bens de pequeno
valor. Para vendas de moedas estrangeiras em espécie a isenção é para um total de alienações, no ano-
calendário, igual ou inferior a 5 mil dólares dos Estados Unidos. E moedas virtuais não são consideradas
moedas e sim bens, e operações de até 35 mil reais mesmo com lucro são isentos de impostos.
O ganho de capital pode se enquadrar em três situações distintas: Resultante de Bens ou direitos
adquiridos e aplicações financeiras realizadas com rendimentos auferidos originariamente em reais,
resultante de bens ou direitos adquiridos e aplicações financeiras realizadas com rendimentos auferidos
originariamente em moeda estrangeira e resultante de bens ou direitos adquiridos e aplicações
financeiras realizadas com rendimentos auferidos originariamente parte em reais, parte em moeda
estrangeira. Como o nome já descreve a diferenciação das situações ocorre devido à moeda origem do
rendimento utilizado para se investir no exterior, que não só resultará em situações distintas para
declaração e recolhimento do imposto como também a forma de cálculo do ganho de capital.
Na hipótese de bens e direitos adquiridos e aplicações financeiras realizadas em moeda estrangeira
com rendimentos auferidos originariamente em reais, o ganho de capital corresponde à diferença
positiva, em reais, entre o valor de alienação, liquidação ou resgate e o custo de aquisição do ou direito
ou o valor original da aplicação financeira. O valor de alienação, liquidação ou resgate, quando expresso
em moeda estrangeira, deve ser convertido em dólares dos Estados Unidos da América e, em seguida,
em moeda nacional pela cotação do dólar fixada, para compra, pelo Banco Central do Brasil, para data
do recebimento. Já o custo de aquisição segue o mesmo processo, contudo é convertido para reais pela
cotação fixada para venda da data de pagamento. A conversão de moeda estrangeira para dólares
americanos, em qualquer uma das três situações, é feito pela cotação fixada pela autoridade monetária

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do país emissor da moeda, para data do pagamento, na aquisição, e para data de recebimento, na
liquidação, alienação ou resgate. Ou seja, para esses casos onde os investimentos se originaram em reais,
primeiro se converte os valores de liquidação, alienação ou resgate e de aquisição para reais de acordo
com a cotação para compra e para venda respectivamente, em seguida se calcula o lucro da operação
para então pagar 15% sobre o valor do ganho do capital, caso a operação ultrapasse o montante de 35 mil
reais.
Para bens e direitos adquiridos e aplicações financeiras realizadas em moeda estrangeira com
rendimentos auferidos originariamente em moeda estrangeira, o ganho de capital corresponde à
diferença positiva, em dólares dos Estados Unidos da América, entre o valor de alienação, aquisição ou
resgate e custo de aquisição do bem ou direito ou o valor original da aplicação, convertida em moeda
nacional mediante a utilização da cotação do dólar americano fixada, para compra, pelo Banco Central
do Brasil, para data do recebimento. Em resumo, para ganhos de capital com investimentos auferidos
originariamente em moeda estrangeira, deve-se primeiro calcular o lucro da operação em dólares e
posteriormente converte esse valor para reais utilizando a cotação de compra para o dia do recebimento
e por fim apurar-se 15% sobre esse valor para efetuar o pagamento caso a operação ultrapasse o limite de
35 mil reais de isenção.
No caso de bens e direitos adquiridos e aplicações financeiras realizadas em moeda estrangeira sejam
resultantes de rendimentos auferidos originariamente parte em reais e parte moeda estrangeira, serão
utilizados, de forma proporcional, os dois processos descritos acima para o cálculo do ganho de capital
gerado na operação. Divide-se em duas aplicações, uma para o montante utilizado de rendimentos
auferidos em reais seguindo o processo descrito para este tipo de ganho de capital e outra para valores
utilizados de rendimentos auferidos em moeda estrangeira obedecendo sua forma de cálculo de ganho
de capital.
A apuração dos ganhos de capital de operações que excedam o limite de isenção deve ser feita através
do programa da Receita Federal destinado para esse propósito, o GCAP (Programa Ganhos de Capital).
Assim como definido para o imposto sobre dividendos e rendimentos, a data limite do preenchimento
do programa com as informações de possíveis ganhos de capital é o último dia útil do mês subsequente à
operação da venda, depois desse prazo o investidor será passível de multa. Além disso, em operações
realizadas a prestações o ganho de capital deve ser apurado para cada parcela seguindo a mesma forma
de cálculo que as operações a vista ou a prazo, sendo esta forma definida apenas pela origem do
rendimento utilizado no investimento liquidado ou resgatado. Outra informação importante que o
investidor deve estar ciente é que possíveis prejuízos com operações no exterior não são compensáveis

Declar ação Anual de Imposto de Renda Pessoa Física


Assim como é feito com os investimentos no Brasil, é necessário anualmente declarar todos os ativos
que possua no exterior, assim como seus rendimentos. A posse dos ativos deve ser declarada em Bens e
Direitos. Para isso basta entrar no item de Declaração de Bens e Direitos no programa da Receita da
Declaração Anual de Imposto de Renda Pessoa Física e selecionar “ Novo” . Terão 5 locais para seu

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preenchimento, Código, Localização, Discriminação, Situação no Último Dia do Ano Anterior e
Situação no Último Dia do Ano Vigente da Declaração.
No “ Código” será informado o tipo do ativo o qual está sendo declarado. Os mais utilizados pelos
investidores no exterior são:

Apartamento ou Casa - Código 11 ou Código 12, respectivamente.


Ações (inclui o REITs) - Código 31;
ETFs - Código 74
Aplicação em Renda Fixa - Código 45;
Depósito Bancário em Conta-Corrente no Exterior (bancos ou corretoras) - Código 62;
Dinheiro em Espécie M oeda Estrangeira - Código 64.

Na “ Localização” será informado o país onde estão alocados os investimentos informados. Para ativos
nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, utiliza-se os códigos 249, 628 e 023, respectivamente.
Para outros países, verificar o código no programa da Receita.
O campo “ Discriminação” tem como objetivo detalhar os ativos que estão sendo declarados, assim
como os seus valores de aplicação. A Receita não informa um modelo exato de como deve ser essa
descrição nem para ativos no Brasil ou no exterior, cabendo, portanto, cada investidor determinar como
deve ser feito, tentando ser o mais transparente possível. Abaixo segue sugestões de modelos de
preenchimento para a descrição dos diferentes tipos de ativos:

Ações/ETFs - Informar a bolsa, o ticker da empresa ou ETF, quantidade, corretora pelo qual foi
comprada, valor aplicado nesse ativo na moeda estrangeira, o montante de rendimentos auferidos
originariamente em reais e/ou moedas estrangeiras utilizadas na aquisição. Em casos de mais de uma
aplicação somar os valores de aplicações;
Aplicações Financeiras - Deve ser informado o valor da aplicação financeira na moeda estrangeira, o
tipo da aplicação, a instituição financeira e o montante de rendimentos auferidos em reais e/ou moedas
estrangeiras utilizados na aquisição;
Depósito Bancário em Conta-Corrente no Exterior (bancos ou corretoras) - Informar o valor em
moeda estrangeira, a instituição bancária e a conta;
I móveis - Descrever o endereço, a data da compra, o valor pago em moeda estrangeira, o nome do
vendedor e o montante de rendimentos auferidos em reais e/ou moedas estrangeiras;
M oeda Estrangeira em Espécie - São descritos a quantidade em posse de moeda estrangeira.

Nos campos “ Situação” , para ações, ETFs, imóveis, aplicações e moeda estrangeira em espécie, serão
informados os valores de aquisição dos bens e direitos adquiridos. Esses valores deverão ser convertidos
para reais pela cotação do dólar para venda informado pelo Banco Central do Brasil. Caso adquirido em
outra moeda estrangeira, deve ser primeiro converter para dólares dos Estados Unidos da América pelo
valor fixado pela autoridade monetária do país emissor da moeda e posteriormente converter para reais
seguindo o processo descrito acima. Para contas depósitos não remunerados no exterior, ou seja, em

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conta corrente os valores informados no campo situação é igual ao seu saldo existente no último dia do
ano anterior e do ano da declaração. Diferente dos outros investimentos, a conversão para reais será feita
pela cotação de compra fixada pelo Banco Central do Brasil e também divulgado no link citado. O
possível acréscimo patrimonial decorrente da variação cambial desses saldos é isento de impostos,
porém devem ser declarados em “ Rendimentos Isentos e Não Tributáveis” como “ Outros” .
No caso de ADR/BDR não há uma diretriz exata como declarar, porém, baseado no ti po de
investimento entende-se que se pode usar o código de Ações-31 ou então Outros-99. O preenchimento
da descrição seguirá o modelo apresentado para ações com a adição da informação que se trata de um
recibo depositário brasileiro ou americano. Como os outros investimentos, na localização será
informado o país onde se encontra o capital investido, ou seja, para BDR será Brasil e ADR Estados
Unidos da América. E por fim, o preenchimento do campo Situação será também igual ao de ações,
descrito logo acima. Lembrando que como o BDR é um investimento brasileiro, será operado em reais
não precisando, portanto, nenhum tipo de conversão de moedas.
A posse de Bitcoins e qualquer outra moeda virtual também deve ser declarada. A receita informa que
este tipo de ativo, apesar de não ser considerado moeda, deve ser informado também na Ficha de Bens e
Direitos, porém com o código Outros-99. Na descrição informa-se o tipo de moeda virtual assim como a
quantidade em posse. O campo Situação será preenchido com o valor de aquisição do ativo, sendo este
alterado apenas caso haja com novas operações. A receita chama atenção ao fato de as moedas virtuais
não terem cotações oficiais já que não possuem órgão responsável pelo controle das suas emissões. Com
isso é necessário que o investidor guarde um documento que comprove suas operações e seus valores de
aquisição e/ou vendas para fins tributários.
Os rendimentos e proventos dos ativos serão declarados no item “ Rendimentos Tributáveis de Pessoa
Física/Exterior” na aba “ Outras Informações” . Basicamente pode-se preencher todos proventos e
rendimentos recebidos do ano numa única vez na época do preenchimento da declaração anual ou fazer
o acompanhamento mensal com o programa do carnê leão. A primeira opção só será possível caso o
investidor esteja posicionado em países com acordo de reciprocidade e que os impostos taxados na
distribuição dos rendimentos e proventos sejam igual ou superior aos cobrados pelo governo brasileiro
(ex. Estados Unidos da América) e ativos que são taxados na sua distribuição (ex. Ações), não
necessitando assim pagamento mensais da diferença de taxações. Independentemente da forma
escolhida o processo de cálculo é o mesmo e será explicado no tópico mais abaixo.
Os ganhos de capital, explicados com maior detalhamento em tópico anterior, ocasionados por
alienação de bens e direitos no exterior devem ser declarados em “ Rendimentos Isentos e Não
Tributáveis” caso se encaixem em vendas de bens de pequeno valor sem a necessidade de taxação ou em
“ Rendimentos Sujeitos à Tributação Exclusiva/Definitiva” para as operações com lucro que não se
caracterizem com a situação anterior.
Saldo em conta correntes e demais aplicações financeiras, cujo valor unitário não exceda a 140 reais,
bens móveis cujo valor unitário não ultrapasse 5 mil reais, conjunto de ações, negociadas em bolsa ou
não, bem como ouro, ativo financeiro, cujo o valor de constituição ou de aquisição seja inferior a mil
reais e/ou são dispensados de declarar.

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Basicamente esse é o processo Declaração Anual de I mposto de Renda Pessoa Física para a maioria
dos pequenos investidores com ativos no exterior, que por sinal é bem parecido de como é feito com os
investimentos situados no Brasil. Contudo para aqueles que possuem ativos no exterior que totalizam
montante igual ou superior a 100 mil dólares no último dia de cada ano é obrigatório também o
preenchimento da Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE). Ela é feita na internet no site do
Banco Central e deve ser entregue, geralmente, até o início de abril informando em valores da moeda
estrangeira cada investimento em posse no exterior. Caso o valor em investimentos no exterior seja de
igual ou superior a 100 milhões de dólares, essa declaração deve ser feita trimestralmente.

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17 RECOMENDAÇÕES E CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Antes de se pensar em investir no exterior é altamente recomendado que se aprenda o inglês ou o
idioma do país o qual se pretende investir. Apesar de hoje em dia as corretoras estrangeiras estarem se
esforçando para ampliar seus clientes, principalmente em países emergentes, e em algumas vezes isso
inclui o atendimento em português, todas as informações sobre as empresas como, por exemplo, seus
resultados de balanços, estarão em inglês tornando praticamente impossível investir de forma consciente
no exterior sem saber o idioma do país o qual enviará seu capital.
Como em todo novo investimento é importante que o investimento seja feito de forma lenta e
gradativa. Invista devagar e vá aportando aos poucos sem pressa e muito menos ansiedade. M esmo com
todas as facilidades encontradas hoje em dia para iniciar e acompanhar os investimentos no exterior, o
investidor tem que ter em mente que seu capital estará alocado em outro país estando sujeito a fatores
externos e que devido à distância o tempo de reação e resposta será mais lento se comparado aos ativos
presentes no Brasil.
Não existe certo ou errado, muito menos o melhor investimento. Cada pessoa deve ponderar as
vantagens e desvantagens em relação ao seu perfil e então escolher os tipos de ativos que pretende
possuir. Os diferentes tipos de ativos não são excludentes, portanto pode-se optar por investir em apenas
um tipo de investimento no exterior, vários ou até mesmo não investir em nenhum.
O intuito do investimento no exterior é justamente uma possibilidade maior de diversificação e acesso
a maiores mercados e empresas de um patamar acima das encontradas no mercado brasileiro além da
proteção do risco cambial. Para isso obviamente que haverão custos, impostos, aprendizado, além de ter
de se acostumar a outros mercados, países e culturas. M as nada disso torna esse processo pior, muito
menos inviável. Esses obstáculos não são diferentes dos passados por todos quando começaram seus
investimentos em ações, FIIs, renda fixa ou imóveis no Brasil. E em todo processo o investidor estará
suscetível a erros que caso ocorram deverão ser levados como aprendizado.
O material teve como objetivo apresentar as principais formas de se investir no exterior assim como
as características individuais de cada tipo de ativo, para que cada investidor entenda e posteriormente
reflita quais melhores se encaixam nos seus critérios pessoais.
Os mercados no exterior, em especial o norte-americano, apresenta uma gama bem grande de
empresas com seus nomes e produtos conhecidos e adquiridos mundo afora. Além de muito mais tempo
de existência e com isso mais informações, permitindo, portanto, encontrar empresas seculares com
décadas de lucros consistentes e crescentes. Ou seja, mais opções para diversificar o patrimônio em
valor.
Como dito no início do material, houve muitos avanços com relação a possibilidade de se investir no
exterior tornando muito mais fácil e prático para ao pequeno investidor. Dependendo hoje em dia
apenas de uma vontade de aprender e então iniciar os investimentos mundo afora.

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