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338 : a a 8 g z z a 2 A greve dos ferrovidrios Mais uma greve de proporgées expressivas ocorreu na Bahia a de 1930, a dos ferrovidrios em 1927. Comegou em Aracaju, capital d estado de Sergipe, a 9 de maio desse ano. No mesmo dia, estendeu-se: Salvador, Alagoinhas ¢ Senhor do Bonfim, sob o comando do Comii Geral de Greve, uma forma de organizagao sindical criada nas greves d 1919 em Sao Paulo ¢ Rio de Janeiro, Foi incorporada, pela prime’ vez, a uma greve na Bahia e em Sergipe e dirigiu as paralisagées d: estradas de ferro na Bahia, exigindo aumento de 20% em todos o salrios e 0 afastamento imediato de funciondrios franceses que ai ocupavam chefias na Viagao Leste Brasileiro. A greve manteve-se até que os administradores da Leste Brasileiro assinaram um acordo com ¢ Comité Geral de Greve. Aceitaram todas as reivindicagées apresenta- das, mas nao pagaram o aumento de saldrios exigido. DUAS CAMPANHAS DE RUY NA BAHIA Ruy Barbosa esteve na Bahia duas vezes em 1919. A primeira, em margo, para a campanha pela presidéncia da Reptblica, na condigio de candidato de oposig&o & candidatura de Epitacio Pessoa. A segunda, em novembro e dezembro (estendeu-se até aos primeiros dias de janeir de 1920), para apoiar ¢ defender a candidatura do politico e juiz federa Paulo Fontes ao governo do estado da Bahia. As duas campanhas se identificaram nas exposigdes que pronunciou em defesa dos principio liberais democraticos, mas a de novembro a dezembro se diferenciou da anterior por causa das circunstdncias sob as quais se desenvolveu dos seus objetivos politicos baianos. CAMPANHA PELA PRESIDENCIA Em oposigéo 4 candidatura de Epitacio Pessoa, no decurso do de margo, Ruy Barbosa agitou todo o pafs com uma campanha politic considerada por trés dos seus bidgrafos — Lufs Viana Filho, Américo Jacobina Lacombe e Jodo Mangabeira — mais expressiva e de maior re percussio que a Civilista de 1910. Inaugurou-a no Rio de Janeiro ¢ a continuou em Sao Paulo, Minas Gerais e Bahia. Tema permanente em sua pregagio politica, repetiu a exigéncia de revisio da Constituigio de 1891. Mais importante que isso foi o seu pioneirismo ao introduzir a questo social nas conferéncias e discursos que pronunciou. Disse: “Estou com a democracia social”. E definiu: “A minha democracia social é a que preconiza 0 cardeal Mercier, falando aos operarios de Malines, essa democracia ampla, serena, leal e, numa pala- vra, crist. ... Aplaudo no socialismo o que ele tem de sao, de benévolo, de confraternal, de pacificador ...”. Com igual pioneirismo defendeu a ado- Gao de leis “a cuja sombra o capital nao tenha meios para abusar do traba- lho”, garantias de satide e habitag&o para os operarios, salério minimo. para todos os trabalhadores e protecao para a mulher que trabalha. Avinda de Ruy Barbosa 4 Bahia motivou concorridas manifestagdes, a despeito do temor de que se repetissem as violéncias policiais cometi- das dias antes no comicio em que Simées Filho e Medeiros Neto foram baleados. Ao seu desembarque, compareceram milhares de pessoas, ho- mens, mulheres ¢ até criangas. Desde cedo ocuparam o cais do porto da cidade do Salvador, onde se acumularam numa espera demorada, visto que 0 navio que o trazia do Rio de Janeiro, aguardado para o amanhecer, 86 ancorou a noite. Para superar o aperto da multidao, maos de amigos o algaram acima dos que 0 cercavam € 0 levaram até 0 carro que 0 conduziu para a Cidade Alta. “Jamais se vira juibilo popular tao intenso”, escreve, a propésito, Luis Viana Filho. E assim sucedeu em todas as suas atuagées em ptblico na cidade: a conferéncia no Teatro Politeama ¢ as palestras na Faculdade de Medicina e na Associagio Operéria. Ficou mais alguns dias na Bahia para conhecer 0 resultado da eleigao, que Ihe foi desfavordvel, como ele e todos os seus correligiondrios e ami- gos jé esperavam. Derrotado, Ruy Barbosa somou, no entanto, 120.139 votos, votacao que surpreendeu a ordem dominante e nao deixou de ser um recado da Nago. Venceu na capital de Sio Paulo e em 32 cidades paulistas. Venceu em Juiz de Fora (Minas Gerais), Manaus (capital do Amazonas), Caxias (histérica cidade do Maranhio), Teresina (Piauf) ¢ até na capital do escondido Mato Grosso, Cuiab4. Referindo-se 4 Bahia, no 339 Hisroia Da BAHIA 340 Luts Henrique Dias TAVARES seu Manifesto a0 Povo Brasileiro (19 de junho de 1919), Ruy Barbosa péde proclamar: “O governo baiano perdeu a eleigio na capital. ... Per= deu nos seus maiores nticleos de riqueza mercantil, agricola, pastoril, mineral e industrial. ... Perdeu nos grandes centros de civilizagao do inte- rior. ... Perdeu na soma total das cidades do recéncavo. ... Perdeu, ainda, no total dos seus grandes municipios sertanejos: Barra, Barreiras, Caetité, Mundo Novo, Lengéis e Sao Jodo do Paraguagu”. Campanha contra J. J. Seabra As liderangas anti-seabristas desejaram que Ruy Barbosa voltasse Bahia e participasse da campanha contra a eleigao de J. J. Seabra para 0 governo do estado, Pediram a sua presenga. Chegou alguns dias depois de completar 70 anos de idade e receber consagradoras homenagens na capi= tal do pais, Rio de Janeiro. Estava idoso, fragile doente, mas no vigor de sua vontade e disposig&o, conforme demonstrou ao chegar na cidade de Salvador e participar da Convengao do dia 20 de novembro, onde apoiow a escolha do juiz federal Paulo Martins Fontes para candidato ao governe do estado da Bahia. Desse dia em diante, Ruy Barbosa realizou um programa de via conferéncias pelo interior do estado que cobriu todo o més de dezem- bro. Comegou pela cidade de Alagoinhas (3 de dezembro), importa entroncamento ferrovidrio e centro comercial de larga regio, conti ando depois para Senhor do Bonfim, com parada em Serrinha, ond discursou e depois esteve presente em concorrido banquete. Ao ch em Senhor do Bonfim, jovens bonfinenses, mogas ¢ rapazes, puxaram © carro que 0 leyou para o prédio da Camara Municipal, em cujo salio fe larga conferéncia. Com a sua presenca, seguiu-se um baile. Ao ama cer do dia seguinte, 0 acordaram com uma alvorada que 0 comove conforme registrou em carta para a esposa. 1 De volta para Salvador, retomou o programa que se impés di do-se de navio para a cidade de Nazaré das Farinhas. Ali pronuncio nova conferéncia no salao da Camara Municipal (19 de dezembro). Tan bém de navio viajou para as cidades de Santo Amaro da Purificaga Cachoeira. Em ambas fez conferéncias. Na véspera do Natal, outra, es Feira de Santana (ele as escrevia de madrugada, apés um dia de ativida- des). De volta a cidade do Salvaclor, assistiu as eleigdes ¢ ajuizou e cele- brow a vit6ria de Paulo Fontes no manifesto de 1° de janeiro, todavia logo contestado pela situagao seabrista, que possufa outro resultado elei- toral, exatamente o da vitéria de J. J. Seabra. Até essa data vai a participagao de Ruy Barbosa na campanha contra a eleigio de Seabra. Mas hé outra histéria nessa histéria. £0 enlace de politicos anti-seabristas com os chefes do coronelismo baiano visando construir um fato capaz de levar a intervengao federal na Bahia. A REVOLTA SERTANEJA Em mais uma seqiiéncia de repetidos confrontos e violéncias nas Sucess6es governamentais na Bahia, também a succssio de Antonio Moniz produziu conflitos graves ¢ sangrentos, principalmente depois que a candidatura do ex-governador J. J. Seabra tornou-se oficial. Nes- ta, porém, ocorreu um fato aparentemente novo: politicos anti-seabristas tomaram a iniciativa de oferecer armas e munigées a coronéis da Chapada Diamantina e da regiao sanfranciscana rompidos com Seabra e 0 gover- nador Ant6nio Moniz. Sem que exista documentagao conclusiva sobre negociacdes € acor~ dos ultimados entre alguns politicos anti-seabristas ¢ os coronéis Horécio de Matos, Franklin Lins de Albuquerque e outros, supde-se que eles existiram e tiveram o objetivo de incentivar e ampliar os conflitos j4 existentes entre esses coronéis € os coronéis apoiados por Seabra e An- tonio Moniz. Na opiniao da historiadora Consuelo Novais Sampaio, “a oposi¢ao confiava que as rebelides entre coronéis ... seriam elemento fundamental para conduzi-la ao poder”. Ou seja, com a oferta de armas © munig6es, esperavam contribuir para que se instalasse no interior da Bahia uma das situagdes que autorizavam a intervengio federal nos ter- mos do Artigo 6° da Constituigo de 1891. Sabiam da conhecida animo- sidade do presidente Epitécio Pessoa para com Seabra ¢ também a inclufram nos célculos para uma intervengio federal que trouxesse como resultado a anulagio da considerada inevitavel eleigio do ex-governador. 341 Historia Da Bara g o 5 2 a & 4 & = 3 2 Ficou documentado que em dias de outubro de 1919 (Ruy Barbo- sa ainda nao voltara A Bahia) ocorreram encontros na cidade do Salva- dor entre os coronéis Manuel Alcintara de Carvalho e Jodo Arcanjo Ribeiro e Iideres da oposigio a Seabra. Ao regressarem para os seus municipios (Lengéis ¢ Brotas de Macattbas), levaram correspondéncia do deputado federal Pedro Lago e do jornalista Ernesto Simées Filho para o coronel Horacio de Matos. Nela estaria uma carta de Pedro Lago: e Simées Filho com o seguinte texto: Ao regressarem para af os nossos amigos Srs. Coronéis Manuel Aleéntara Carvalho e Jodo Arcanjo, que tGo grata satisfagéo nos deixaram de sua cont véncia, queremos mais uma vez significar a V. Excia. a nossa simpatia pela causa. Ao mesmo tempo eles se incumbirdo, de nossa parte, de transmitir a Excia, 0 desejo sincero que temos de contar doravante, com a preciosa colabo io de V, Excia. na campanha politica que, sob a chefia do glorioso Conselhei Ruy Barbosa, vamos iniciar em derredor da sucessio governamental. Até agora nada documenta ligagdo de Ruy Barbosa com essa man bra. E todavia fato que Horacio de Matos e seus aliados se movimenta- ram para organizar “uma revolta do sertio contra a opressao seabris ao tempo em que se desdobrava a campanha do grande brasileiro eleigio de Paulo Fontes. Desde logo os jornais de oposigao a Seabra destacaram que 0 “co- mandante” Hordcio de Matos encontrava-se 4 frente de uma “Jegiao salvadora que pretende regenerar os costumes politicos de sua terra” Teria a adesio dos coronéis Anfiléfio Castelo Branco (Casa Nova), Franklin Lins de Albuquerque (Pilao Arcado), Francisco Bonifacio Mariani (cidade da Barra), Joao Duque (Carinhanha), Francisco Leob: (Rio Preto) e Marcionilio de Sousa (Maracés). Este teria procurado Ruy Barbosa na cidade de Nazaré das Farinhas quando o doutrinador libs jd retornara para o Rio de Janeiro. A. 29 de dezembro realizou-se a eleigio para governador. Nos pri meiros dias de janeiro o governo de Antonio Moniz divulgou a vit6ri cleitoral de Seabra. O jornal A Tarde a contestou ¢ proclamou a eleicao de Paulo Fontes. No mesmo dia ocorreram varias manifestagées violentas nas Tuas centrais da cidade do Salvador, sendo as mais graves na praca do Comiércio, na Cidade Baixa, e no Terreiro de Jesus. Em um local e outro, soldados da Policia Militar, policiais civis e manifestantes fizeram disparos que causaram mortos e feridos em ntimero até hoje desconhecido. Jornais da oposicao divulgaram um telegrama que Horécio de Ma- tos teria enviado ao governador Antonio Moniz: “O sertio ira A Capital vingar 0 sangue dos seus irmaos ¢ pelejar ao lado da causa defendida pelo Conselheiro Ruy Barbosa”. Outro telegrama de Horicio de Matos teria sido enviado a Ruy Barbosa, que se encontrava no Rio de Janeiro: “No momento em que o povo sertanejo marcha para a Capital, obede- cendo as determinagdes impostas pelo sentido de sua liberdade, nés vos saudamos, excelentissimo senhor, porque sois a Fé que nos leva & salvagio, e Deus € nosso guia”. Os mesmos jornais divulgaram que “todo o sertio baiano est4 com armas nas maos”. Em letras destacadas, A Tarde e O Imparcial noticiaram que Hordcio de Matos marchava para invadir a capital do estado da Bahia “A frente de 3.000 homens”, Ao tempo em que publicavam o que seria um telegrama de Hordcio de Matos ao presidente da Republica, solicitando “o auxflio benéfico ... de uma f6rmula que o momento esté a exigir”, também informavam a ocupagéo da cidade de Lengéis pelos horacistas, 0 cerco de Campestre ¢ lutas sangrentas em Guarani, Remé- dios ¢ Estiva. No auge das noticias ¢ manchetes alarmistas, 0 governa~ dor Anténio Moniz enviou ao presidente Epitécio Pessoa um pedido formal de intervengio federal na Bahia. Foi decretada a 23 de fevereiro (Decreto n° 14.077). Nao era, no entanto, a intervengio que a oposigio anti-seabrista desejava. Ao invo- car o Inciso 3 do Artigo 6° da Constituigio Federal, o presidente Epitécio Pessoa estabeleceu que a intervengio seria “para o restabelecimento da ordem e da trangiiilidade”. O interventor nomeado, o préprio coman- dante da 5* RM, general Alberto Cardoso de Aguiar, recebeu instrugdes do Ministério da Guerra limitando as suas atribuigdes, de modo que nao as exercesse contra a administragio do estado. Nada de “anular 0 pleito e ordenar nova eleigio”. Ao contrério, todas as garantias da forga federal para o governo Anténio Moniz-Seabra. 343 Historia pA Barta as as Luts Henrique Dias Tavares No dia 2 de margo desembarcaram no porto de Salvador os primeiros: contingentes militares vindos do Rio de Janeiro nos navios Iris e Ruy Barbosa, no total 1.284 soldados ¢ 212 armas, metralhadoras e ca~ nhées. O decreto da intervengio ¢ o desembarque de tropa fede significaram o reconhecimento da eleigéo de Seabra, Na seqiiéncia ds margo de 1920. O Convénio de Lengéis ministro da Guerra, o civil Jodo Pandié Caldgeras, o general Alberto so de Aguiar transmitiu a Hordcio de Matos garantias para 0 cessar-f deposigio das armas. No exercicio do governo, Seabra declarou que “ concesses” ¢ concordaria com a entrega da politica e da administragio de municipios conquistados aos “chefes revoltosos”. Negociado um acordo p telegrama, porque Horicio de Matos recusara 0 convite para via capita acertos prosseguiram com a ida de um representante direto do inte a Leng6is. O escolhido para essa missio foi o capitio-do-exército Fel César Sampaio. O que afinal acordaram esté nos documentos conhecidos denominagdes de Conrénio de Lengéis, Convénio de Sdo Francisco e Convén de Castro Alves. O mais expressivo dos trés 6 0 Convénio de Lengéis, assi do naquela cidade no dia 23 de maio de 1920. Tem nove clausulas: Primeira: Absoluta isengdo de responsabilidades civis ¢ criminais, por atos pratic pelos rerokuciondrios desta zona ou fatos decorrentes dos mesmos. Segunda: Para provimento dos cargos de nomeagaio nos municipios. revoluciond _governo ouvind os seguintes chefs politicos: em Lengsis, 0 coronel Manuel Aled de Carvalho; em Brotas de Macatibas, 0 major Jodo Archanjo Ribeiro; em Wagaes major Jodo de Sousa; em Remédios, 0 coronel Leonfdio Ambrésio de Abreu Guarani, 0 coronel José de Sousa Guedes; em Macatibas, 0 coronel Francisco Borg de Figueiredo Filho; em Brejinho, 0 coronel Francisco Teixeira; cabendo aos diretér politicos a indicagio dos nomes pana os cargos eletvos. Terceira: O Govemo promoverd, por todos os meios ao seu aleance, a supressio municfpio de Barra do Mendes sua incorporago ao municipio de Brotas de Macatibas. Quarta: Retirada absoluta de Manuel Fabricio da politica do municfpio de Campestre, fazendo-se, depois, a reunido dos habitantes do mesmo municipio para escolha dos seus representantes. Quinta: Nos municipios de Itaberaba, Orobé e Capivaras fazer-se-d uma po- Iitica de aproveitamento dos melhores homens, sem distingéo de parcialidade politica. Sexta: O Governo envidard todos os meios para tornar efetiva a permanéncia de autoridades judicidrias nas sedes das comarcas e termos. Sétima: Nas préximas eleigées estaduais, o partido situacionista recomendard para as cadeiras 4 Assembléia um Senador ¢ um Deputado indicados pelos chefes politicos constantes da cldusula segunda Oitava: Ficard debaixo das garantias e do patrocinio do Senhor General-co- mandante da Quinta Regido Militar 0 cumprimento de todas as cléusulas apresentadas. ‘Nona: Confiantes nas garantias de completa justiga e equicade, oferecidas pelo Senhor General Alberto Cardoso de Aguiar, Comandante da Quinta Regido Militar, 0 Coronel Hordcio de Matos e seus amigos dos municipios citados, em sendo aceitas as cldusulas déste acérdo, prestardo pleno apoio ao futuro Gover- nador da Bahia, reconhecido e proclamado pelo Poder politico competente. A aceitagio dessas clusulas pelo governo federal, seguida da assina- tura do documento que as continha, como se fossem impostas por um exército estrangeiro vitorioso, pode transmitir hoje a impressio da exis- téncia de um poder auténomo que em verdade os coronéis nao possufam. E fato que tinham poder, e nao pequeno, mas nao isolado e sim geminado aum sistema socioecondmico em que os grandes proprietarios de terras ocupavam posigao dominante e 0 sistema polftico-eleitoral republicano fancionava como legitimador dos interesses de grupos sociais que englo- bavam famflias, compadres, amigos, aliados e agregados. Mandonismo lo- cal para assegurar mao-de-obra submissa e relagdes de trabalho em que s6 raramente havia pagamento de saldrio e as formas primdrias da terga, da meagio e do dia de trabalho gratuito se mantinham e cresciam. As eleigdes funcionavam como instrumento de afirmativa do coronelismo no conjunto de forgas que sustentavam o Estado brasileiro republicano definido na Constituigao de 1891. Entende-se, portanto, 345 s eS 2 a s E a 346 Lots Henrique Dias Tavares que os coronéis precisavam de vitérias eleitorais a cada quatro anos para assegurar o mando nos seus municipios, com o delegado de policia eo soldados da PM ajudando-os a “manter a ordem”, com 0 apoio do juiz, do promotor, dos coletores federal e estadual de impostos, do padre de Igreja Catdlica e da professora nomeada. Para a normalidade do siste- ma, 0 governador, os senadores e os deputados federais e estaduais pre- cisavam estar igualmente atentos para garantir ao coronel o amplo ci de favores e trocas em que entravam nepotismo, clientelismo, corryy impunidade e violéncia. O episédio denominado “revolta sertancja” é bastante expressivo dé atuacio do sistema. ‘Também dele participava a divisio das oligarquias domi nantes em grupos e facgdes. Nio é de estranhar que na composigio final da “reyolta” fosse 0 coronel Horacio de Matos nomeado pelo governador J. J. Seabra delegado regional de policia em regio tio vasta que se estendia da Chapada Diamantina ao vale do rio Sao Francisco. E que Seabra tenha des- tituido-um senador estadual (0 ex-chefe de Lengdis, César $4) para substi tuilo pelo novo chefe, Hordcio de Matos. SEGUNDO GOVERNO DE J. J. SEABRA No seu segundo governo (1920-1924), J. J. Seabra continuow a re forma urbana da cidade do Salvador. Concluiu o trecho da avenida nica que vai da Barra ao Cristo e concentrou obras para a construgio de porto. Também assinou novos acordos para definir os limites do estado d Bahia. Outza iniciativa do seu governo foi a privatizagio dos servigos d transporte fluvial e maritimo pertencentes ao estado. Mas demonstro maior disposigéo para a politica federal. Confirmada a candidatura do presidente do estado de Minas Gerais Artur Bernardes, a presidéncia da Reptiblica (1922), Seabra candidatou sea sero seu vice, pretensao vetada pelo presidente Epitacio Pessoa. Seab se compés com Nilo Peganha € formou com 0 politico fluminense ¢ & presidente da Repéblica a chapa Reagio Republicana: Nilo Pecanha par presidente e J. J. Seabra para vice-presidente. Foi vitoriosa na Bahia, ma derrotada no pais, conforme previsao do inevitavel.

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