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m
apresentação de
JACQUES BERLIOZ Terramar
Colecção PEQUENA HISTÓRIA
• Segredos de Alcova Laure Adler
Terramar
Este livro resulta de uma recolha de artigos inicialmente
publicados pela revista L'Histoire e posteriormente
editados, sob a forma de livro, pelas Éditions du Seuil. A
apresentação de Jacques Berlioz foi expressamente
escrita para este livro.
FICHA TÉCNICA
© Société d'Editions Scientifiques,
1994 Titulo original: Moines et
Religieux au Moyen Âge Edição
original: Éditions du Seuil, Paris,
1994 Tradução: Teresa Pére:
Ilustração da capa: pormenor de um fresco (A Verificação
dos Estigmas),
de Giotto, na igreja de Santa Cru:,
em Florença Fotocomposição e fotolitagem:
b&f Gráficos Impressão e acabamento: Rolo &
Filhos - Artes Gráficas, Lda. Depósito legal:
96873/96 ISBN: 972-710-127-5
Todos os direitos desta edição
reservados poT TERRAMAR- Editores,
Distribuidores e Livreiros, Lda. Av.
S. BENTO E A REVOLUÇÃO DOS MOSTEIROS 17
1. FUNDAÇÕES E
RENOVAMENTOS
APRESENTAÇÃO 9
Um êxito progressivo
ROBERT D'ARBRISSEL E A SALVAÇÃO DAS MULHERES 39
Orientação
bibliográfica 1. Textos
e documentos:
* La Règle de Saint Benoît, editada e comentada por
A. de Vogiié e J. Neufville, 6 vols, de texto e 1 vol. de
introdução, Paris-Lyon, Le Cerf, "Sources chrétiennes",
t. 181-186 bis, 1964-1972. Trata-se de uma edição
cientifica, munida de imponente aparato critico. Na
mesma colecção, o Pe. A. de Vogiié publicou La Règle
du Maître (Paris, 3 vols., 1964-1965, 1.105-107) e
empreendeu a edição dos Diálogos de S. Gregório
Magno.
beneficio eclesiástico. Robert seguiu por algum tempo
estudos medíocres para adquirir o pouco que deve
saber um sacerdote do campo. Por morte do seu pai,
toma a seu cargo a guarda de Arbrissel.
A alma fendida
É de supor que, de maneira igualmente natural,
constitua família. O seu hagiógrafo, que escreve uns
20 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
A formação escolar
O universo de Abelardo foi à partida e sempre o das
escolas. Neste aspecto, Abelardo aparece num
momento decisivo da história intelectual da Idade
Média. Numa altura em que já não existia senão uma
débil rede de escolas monásticas ou catedrais, com
um raio de açcão local e de níveL geralmente assaz
modesto, alguns centros surgiram no final do século
XI, os quais asseguraram desde então um ensino mais
profundo e susceptível de atrair estudantes de origem
longínqua. Esta renovação escolar, indissociável do
progresso geral do Ocidente nesta época, aproveitou
sobretudo às escolas urbanas, ligadas a capítulos das
catedrais ou dos colégios.
Contudo, a vocação imperiosa de Abelardo para os
estudos decorre essencialmente das suas inclinações
pessoais e de uma escolha voluntária. Teria sido mais
natural que, filho mais velho de um cavaleiro bretão,
nascido no burgo de Pallet, perto de Nantes, em 1079,
tivesse seguido o seu pai na carreira das armas. O
pai, que por seu turno sabia ler, o que era bastante
raro no meio, proveu a que o seu filho recebesse a
instrução inicial. Por outro lado, o condado de Nantes
mantinha relações de grande abertura com a região
do Loire, com o Chartrain e com a região parisiense,
centro do renovamento escolar. Pouco antes de 1100,
Abelardo pôde pois decidir, sem uma ruptura brutal,
20 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Obras de S. Bernardo:
* Edição crítica (em latim) por Dom J. Leclercq e H.
Rochais, Roma, 9 vols., 1957-1977.
* Concordances Verbales. Thesaurus sancti
Barnardi Claraeval- lensis, Turnhout, Brepols, 1988,
em microfichas.
* Saint Bernard, Sermons pour l'Année. Tradução
francesa, introdução, notas e índice analítico por P.-Y.
Emery, Turnhout, Brepols, Taizé, Les Presses de
Taizé, 1990.
* Saint Bernard de Ciairvaux, Textes Politiques,
selecção e trad, francesa de P. Zumthor, Paris, 10/18,
1986 (l.aed. 1944).
* Saint Bernard, Oeuvres Mystiques, Paris, Ed. du
Seuil, 1953.
* Saint Bernard de Ciairvaux, Les Combçtts de
Dieu. Textos escolhidos e trad, por H. Rochais, Paris,
Stock, 1981.
* As obras de S. Bernardo estão a ser traduzidas
para o francês para a colecção "Sources Chrétiennes"
(Paris, Le Cerf).
ROBERT D'ARBRISSEL E A SALVAÇÃO DAS MULHERES 39
Notas
1
Baudri de Bourgueil, "Vita B. Roberti de
Arbrissello", em Patrolo- gie latine, t. 162. col.1043-
1058. Não existe tradução em língua francesa desta
Vida latina sobre a qual se apoia a primeira parte
deste estudo.
2
Georges Duby, Le Chavalier, Ia Femme et le
Prêtre, Paris, Hachette, 1981. Aí se encontrará o
relato pormenorizado dos casamentos referidos do rei
Filipe I.
3
Marbode de Rennes, Epistola 6 em Patrologie
Latine, t. 171, col. 1480-1492.
4
Dominique Iogna-Prat, "La femme dans la
perspective péniten- cielle des ermites du Bas-Maine",
em Revue d'Histoire de la Spiritualité, t. 53, 1977, pp.
47-64.
5
Geoffroy de Vendôme, Epístola 47 do livro IV, em
Patrologie Latine, t. 157, col.181-184.
6
"Vita altera B. Roberti de Arbrissello", em
Patrologie Latine, t. 162, col. 1058-1078.
7
Este texto é reeditado por J. Dalarun em
L'Impossible Sainteté. La Vie Retrouvée de Robert
d'Arbrissel, Paris, Le Cerf, "Cerf Histoire", 1985, p.349.
8
Jules Michelet, Le Moyen Age, em Oeuvres
Complètes, Paris, Flammarion, t. 4, 1974, pp. 459-
460.
9
Texto editado por Jacques Dalarun em
L'Impossible Sainteté (...), pp. 207-298.
10
Sobre as ramificações deste tabu, ver J. Dalarun,
"Eve, Marie ou Madeleine: la dignité du corps féminin
dans l'hagiographie médiévale", em Médiévales, n.°
8,1985, pp. 18-32.
" Ver L'Impossible Sainteté (...).
Orientação bibliográfica
Sobre Robert d'Arbrissel:
S. BERNARDO, O SOLDADO DE DEUS 55
Orientação bibliográfica
O IX centenário (1990) do nascimento de S. Bernardo
foi motivo para a realização de numerosos colóquios, em
França e no estrangeiro, que permitiram avançar de
novo com as pesquisas sobre o abade de Claraval,
caídas um pouco no esquecimento (aliás continua a não
existir nenhuma biografia crítica do santo).
Sobre S. Bernardo:
* J. Berlioz, Saint Bernard en Bourgogne. Lieux et
mémoire, Dijon, Le Bien Public, 1990.
* Bernard de Clairvaux. Histoire, mentalités,
spiritualité. Colóquio de Liâo-Cîteaux, Dijon, Paris,
"Sources Chrétiennes", 380, Le Cerf, 1992.
S. BERNARDO, O SOLDADO DE DEUS 55
Notas
1
André Malraux, Les Chênes qu'on abat (...), Paris,
Gallimard, 1971, p. 81 ; e cf. J. Berlioz, "De Gaulle et
20 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Notas
ABELARDO. ESCOLAS NO CLAUSTRO 74
1
Escolástica: forma de ensino tido em apreço na
Idade Média, principalmente em teologia, e cuja
característica principal consiste em assentar no uso
sistemático da dialéctica como método universal de
explicação dos textos e de exposição das questões.
2
Histoire de France, livro IV, cap. IV, texto de 1869,
em J. Miche- let, Oeuvres Completes, ed. por P.
Viallaneix, t. 4, Paris, 1974, pp. 453-454.
' Terminado por volta de 1136-1140, o Sic et Non
(Sim e Não) é uma vasta recolha de citações dos
Doutores da Igreja sobre pontos essenciais da fé,
parecem sustentar opiniões contraditórias; o prólogo
explica claramente que o propósito deste livro não é
de forma alguma incitar ao cepticismo mas, pelo
contrário, propor um método para resolver essas
contradições aparentes e melhor estabelecer assim a
verdade cristã.
4
Cf. o artigo de Michel Sot, "La genèse du mariage
chrétien", L'Histoire, n.° 63, pp. 60-65.
5
Tal como ficou perfeitamente demonstrado por D.
E. Luscombe, The School of Peter Abelard, The
Influence of Abelard's Thought in the Early Scholastic
Period, Cambridge, 1969.
6
Abelardo, Historia Calamitatum, ed. J. Monfrin,
Paris, Vrin, última ed., 1978, pp. 81-82.
7
Patrístico: relativo aos Santos Padres.
8
Este texto foi recuperado e publicado por L. J.
Engels, "Adtendite afalsis prophetis (Ms. Colmar 128,
f. 152v/153v). Un texte de Pierre Abelard contre les
cisterciens retrouvé?", em Corona Gratiarum (Mé-
langes E. Dekkers), t. 2, Bruges-s' Gravenhage, 1973,
pp. 195-228.
* Cf. o artigo de Jacques Dalarun, "Robert
d'Arbrissel, l'homme qui aimait les femmes", L'Histoire,
n.° 82, pp. 38-46, reatado neste volume, pp. 45.
10
Carta 115 em The Letters of Peter the Venerable,
cd. G. Constate, vol.l, Cambridge, Mass., 1987.
100 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
A impossível tebaida
O drama de 1117 não introduz na vida de Abelardo
uma ruptura total. Ele continuou, pelo menos
episodicamente, a ensinar nos diversos mosteiros,
priorados e eremitérios em que residiu. "Logo que
tiveram conhecimento do meu retiro, os alunos
começaram a acorrer de toda os lados. Abandonando
cidades e burgos, vinham viver comigo no deserto" —
escreve. Já em Saint-Denis o mesmo fenómeno se
havia produzido: "Mal me encontrei restabelecido do
meu ferimento, os clérigos, acorrendo de toda a parte,
puseram-se a importunar o nosso abade e a mim
mesmo com as suas súplicas: como o tinha feito até
ao presente pela glória e o lucro, diziam eles, que me
consagrasse agora ao estudo pelo amor de Deus (...)
Retirei-me para uma dependência para aí retomar o
meu ensino segundo a minha maneira habitual. A
ABELARDO. ESCOLAS NO CLAUSTRO 76
Artesão de paz
Este itinerário monástico complexo, que lembra o
do seu contemporâneo Roberto d'Arbrissel 9, exprime o
jogo de uma personalidade a um tempo lúcida e
irresoluta, numa encruzilhada de influências múltiplas
100 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
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100 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Orientação bibliográfica
* Não existe um estudo global em francês sobre o
assunto desde a Histoire de l 'Ordre Teutonique par un
Chevalier de l 'Ordre, por Wilhelm von Wal (um
alemão), 3 vols., Paris e Reims, 1784.
OS CAVALEIROS TEUTÓNICOS 87
Comércio e cultura
A agricultura desenvolveu-se notavelmente, a ponto
de o centeio se ter tornado um dos principais artigos de
exportação da Prússia. A grande riqueza do país era o
âmbar, recolhido nas costas de Samland e procurado
em toda a Europa e no Oriente: a ordem passou a deter
o monopólio da venda. O comércio também prosperou.
Mercadores das seis cidades principais da Prússia,
desde a sua fundação, participaram nos privilégios
hanseáti- cos da Inglaterra e dos Países Baixos. Como
estas cidades estavam estritamente dependentes da
ordem, o próprio grão- -mestre foi reconhecido como
membro da Hansa, caso único para um príncipe
territorial. Mais: os Teutónicos constituíram uma
poderosa sociedade de comércio, dirigida pelos
grandes ecónomos (Grosschaeffer) de Mariemburgo e
de Conisberga, com os seus navios, os seus
mercadores, os seus cobradores, os seus depositários
próprios.
O economato de Conisberga exportava sobretudo o
âmbar — para Lemberga (Lvov) ou Kosice, na
Eslováquia, de onde era encaminhado para
OS CAVALEIROS TEUTÓNICOS 91
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A. PAISAGEM ARQUITECTÓNICA DO ANO MIL 105
natural: em Sant Miquel de Fay, a água que ressuma
da abóbada reveste os arredores da igreja de uma
espessa camada de musgo.
Cinco nomes, cinco abadias — Ripoll, Cuxa, Sant
Pere de Rodes, Santes Creus e Montserrat —
resumem os grandes momentos da história catalã. À
entrada de Ripoll, aldeola industrial sem atractivos, de
casas besuntadas de poeira de tijolo, um painel lembra
que a vila é o berço da Catalunha. Desenvolveu-se em
redor da abadia de Santa Maria, elevada em 880 pelo
conde Guifredo, o Peludo, fundador da dinastia dos
condes de Barcelona. Panteão condal de 897 a 1162, a
abadia foi, nos séculos X e XI, uma espécie de capital
espiritual comum aos diferentes condados, onde foram
redigidas as crónicas locais mais antigas, primeiros
esboços de uma história "nacional". A igreja "românica",
inteiramente reconstruída entre 1886 e 1893 pelo
arquitecto Élie Rogent, é um edifício solene e frio. Os
restauradores pouparam o magnífico portal esculpido
em meados do século XII. Desdobrando em seis frisos
sobrepostos uma vasta composição glorificando a
gesta dos reis de Israel e, através dela, a reconquista
cristã que os condes catalães acabavam de levar a
bom termo, este "arco do triunfo da cristandade" acha-
se, infelizmente, atingido de uma lepra da pedra que
torna as figuras pouco a pouco irreconhecíveis, mas
inspirou vários portais da rota de Compostela e o portal
dos Ourives da catedral de Santiago.
Fundada em 878, Saint-Michel-de-Cuxa é um
testemunho vivo dos primórdios do monaquismo e da
primeira arte cristã na Catalunha. Com os seus altos
muros cegos, a sua imensa cobertura de telhas e a sua
torre maciça, a abadia assemelha-se exteriormente a
uma gorda herdade catalã. A entrada na igreja reserva-
nos um choque; num imenso espaço nu, sombrio, ver-
AS ABADIAS DA CATALUNHA 119
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A. PAISAGEM ARQUITECTÓNICA DO ANO MIL 127
Nota
1
R. Fossier, Enfance de l'Europe, Xe-XIIe Siècle, t.
1, "Nouvelle Clio", 17, PUF, 1982, p. 288.
Orientação bibliográfica
* Xavier Barral í Altet, s/d, Le-Paysage Monumental
de la France autour de J'An Mil, com a participação de
mais de uma centena de historiadores, arqueólogos e
historiadores da arte, Paris, Picard, 1987. Ver
igualmente as actas do colóquio internacional "Hugo
Capeto, 987- -1937. A França do ano Mil".
100 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Povoamento e defesa
No final do século XI, os condes servem-se do seu
direito de patronagem — direito da família do fundador —
para obrigar as grandes abadias a submeterem-se a
abadias exteriores que se propõem reformá-las. Durante
mais de um século, de 1070 a 1131, Ripoll e quinze
outras abadias são reduzidas ao estado de priorados de
Saint-Victor de Marselha; outras tornam-se filiais de
Moissac, Lagrasse ou Saint-Pons-de-Thomières. Após
1130, põe-se em marcha a expansão do novo
monaquismo — cistercienses e cartuxos — na Catalunha
"nova", reconquistada por Ramon Berenguer IV entre
1137 e 1149.
A escolha dos locais novos manifesta uma vontade
evidente de continuidade em relação aos primeiros
AS ABADIAS DA CATALUNHA 124
Notas
100 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
1
Sacerdote espanhol que, no decurso do primeiro terço
do século XIX, visitou as principais igrejas de Espanha e
fez, em cartas dirigidas ao seu irmão, a descrição
simultaneamente precisa e crítica dos arquivos, tesouros
e bibliotecas.
2
No decurso destes dois séculos, os condados catalães
libertam-se progressivamente da dependência do reino
franco. O advento de Hugo Capeto marca o termo desta
marcha para a soberania, ao mesmo tempo que os
condados até então independentes começavam a
agrupar-se em torno do conde de Barcelona.
3
Elogio fúnebre enrolado num rolo de madeira, enviado
às abadias com as quais o defunto se achava em
comunidade de orações.
Orientação bibliográfica
A melhor abordagem monumental das abadias catalãs
em língua francesa é fornecida pelas obras das Éditions
du Zodiaque, La Pierre-qui-vire:
* E. Junyent, La Catalogne Romane, 2 vois., 1960.
da autoria de tão grande personagem —
apresentando a gesta de S. Bento de Núrsia foram um
prodigioso instrumento de propaganda, cujo êxito se
não desmentiu ao longo de toda a Idade Média.
Quando os Carolíngios chamam a si os destinos do
mundo ocidental, o monaquismo é sobretudo
beneditino; mesmo tendo as missões irlandesas e
anglo-saxónicas trabalhado antes laboriosamente,
fundando mosteiro atrás de mosteiro, como é o caso
de Luxeuil em 590 ou Bobbio em 613. O modelo
beneditino achou-se imposto sob o impulso de outro
Bento, este de Aniane, no século ix. Quando nos
séculos x e xi se faz uma vigorosa renovação
monástica, os grandes fundadores continuam lá. À
frente de Cluníaco (Cluny), fundado em 910, impõem-
AS ABADIAS DA CATALUNHA 139
.
"nHã'3e pãzTíí™ o mosteiro é um refúgio
para (
quem deseje ter uma relação absoluta com Deus: "O
mosteiro de S. Bento é uma escola ao serviço de
Deus e não é mais que isso" (Dom Jean Leclerq).
Busca que pressupõe mais que um afastamento do
mundo: uma verdadeira separação. E isto na
Os construtores de Cluníaco (Cluny)
Carol Heitz
Ctuny! O nome, na sua brevidade melodiosa, evoca
bem o pacífico vale do Grosne, que as carruagens do
TGV hoje em dia sulcam. Ao longe, o viajante vê aparecer
os contornos ainda nitidamente desenhados da antiga
cidade monástica. Uma bela torre octogonal eleva-se aí,
encimada por uma cúpula de formas geométricas, lisas e
elegantes. Alguns instantes mais tarde, o comboio
penetra nas colinas de Mâcon, passando no sopé de
Berzé-la-Ville, que foi, no seu tempo, o Castelgandolfo do
homem da Igreja mais poderoso do mundo.
Por que razão o fenómeno cluniacence é tantas vezes*
privilegiado? E que em Cluny, melhor que em qualquer
outra parte, pode compreender-se como funcionava uma
formidável instituição de oração e liturgia. As buscas
arqueológicas pacientemente levadas a cabo entre 1928
e 1968 pelo arquitecto americano Kenneth John Conant
informam-nos com precisão acerca desta abadia
beneditina, da sua irresistível ascensão, do seu breve
apogeu e, depois, do seu implacável declínio, o qual
evoluiu a seguir à Revolução, precisamente entre 1802 e
1816, para uma destruição quase total.
O zénite deste mosteiro, que o legado do papa Pedro
Damião qualificava em 1063 como "incomparável",
coincide com a realização do mais extraordinário projecto
arquitectónico realizado até então: a construção da sua
terceira — e última — fixo, hóstia, imagens de devoção. A
adoração do Santíssimo Sacramento (o culto eucarístico
está então em pleno desenvolvimento) é acompanhada
de genuflexão, bem distinta de dois gestos rituais em que
a flexão de um só joelho se encontra prescrita: para um
padre durante a missa e para um súbdito conduzido à
presença de um príncipe.
OS CONSTRUTORES DE CLUN Y 141
L'histoire publicou:
* "Saint Bernard, un prédicateur irrésistible", por
André Vauchez, n.° 47, pp. 26-29.
* "Saint Bernard, le soldat de Dieu", por Jacques
Berlioz, n.° 135, pp. 16-21, publicado neste volume.
De há vinte anos para cá, a degradação de
Claraval III acelerou-se. Mas os créditos
importantíssimos que seria preciso empregar para
salvar a enorme abadia do século XVIII só se podem
justificar se as construções encontrarem uma
aplicação. Ora, longe dos grandes centros urbanos e
fora dos eixos de passagem do turismo, o local tem
poucas probabilidades de a encontrar. E assim o
Grande Claustro não passará de uma esplêndida
ruína para os amadores de arte dos séculos
vindouros.
Em contrapartida, o edifício dos conversos de
Claraval II (despensa e dormitório) será salvo, pois o
Ministério da Cultura e a região Champanha-Ardenas
CLARAVAL, DE ABADIA A PRISÃO 145
Nota
CLARAVAL, DE ABADIA A PRISÃO 145
1
Autor anónimo de uma narrativa atribuída
erroneamente a Atanásio, bispo de Alexandria, o
biógrafo de Santo Antão.
Biografias
Notas
1
Jean-Claude Schmitt, La Raison des Gestes dans
l'Occident Médiéval, Paris, Gallimard, "Bibliothèque
des histoires", 1990. Cf. também J. Berlioz, N. Bériou
e J. Longuère, s/d, Prier au Moyen Age. Pratiques e
expériences (Ve-XVe siècles), Tumhout, Brepols,
"Témoins de, notre Histoire", 1991 ; M.G. Briscoe e
B.H. Jaye, Artes Praedicandi, Artes Orandi, Turnhout,
Brepols, "Typologie des sources du Moyen Age
occidental, 61", 1992.
3
E. Benaud, art. "Génuflexions et rnétanies", em
Dictionnaire de Spiritualité, t. 6, Paris, Beauchesne,
1965, col. 219.
3
Henri Leclercq, art. "Génuflexion", em Dictionnaire
d'Archéologie Chrétienne et de Liturgie, t. 6/1, Paris,
1924, col. 1020-21.
4
Paul Saenger, "Manières de lire médiévales", em
Histoire de l'Édition Française. I, Le Livre conquérant.
Du Moyen Age au milieu du XVIlle siècle, Paris,
Fayard-Promodis, 2.° ed., 1989, pp. 131-141.
CLARAVAL, DE ABADIA A PRISÃO 145
3
Sobre a antropologia histórica do gesto, cf. Jean-
Claude Schmitt. "Gestes", Dictionnaire des Sciences
Historiques, Paris, PUF, 1986, pp. 300-305.
MULHERES NO DESERTO? 179
Nota
1
Guibert deNogent, Autobiographie. Introdução,
edição e tradução de Edmond-René Labande, Paris,
Les Belles-Letres "Les Classiques de l'histoire de
France au Moyen Age", 1981, 496 pp.
MULHERES NO DESERTO? 179
Orientação bibliográfica
M. Parisse, Les Nonnes au Moyen Age, Le Puy, éd.
Christine Bon- neton, 1983.
Colóquio, Les Religieuses en France au Xlle Siècle,
Presses Universitaires de Nancy, 1985 (2.a ed., 1990).
Penelope D. Johnson, Equal in Monasîic
Profession. Religious Womenin Medieva! France, The
University of Chicago Press, 1991.
Paulette L'Herm.ite-Leclercq, Le Monachisme
Féminin dans la Société de son Temps. Le monastère
de La Celle (Xle-début du XVle siècle), Paris, éd.
Cujas, 1989.
M. de Fontette, Les Religieuses à l'Age Classique
du Droit Canon. Recherches sur les structures
juridiques des branches féminines des ordres, Paris,
J. Vrin, 1967.
("Pucelles ") de Metz, organizadas em comunidades a
partir do século XIII? Tal permitiria, como alguns
pensam, explicar o qualificativo de donzela dado a
Joana d'Arc. Ou estarão elas mais próximas das
arrependidas, ou das penitentes, daquelas que se
encontram nas "madalenas", assim chamadas porque
a santa patrona era, a maior parte das vezes, Maria
Madalena?
No final da Idade Média, a diversidade das
religiosas não pára de crescer; as regras, os
costumes, os preceitos multiplicam-se, diversificam-
se. Pouco importava, sem dúvida; a cor das vestes, o
véu, as restrições de alimentação, a liturgia, o ideal
distinguiam mal todas aquelas que constituíam o
100 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Orientação
bibliográfica
Estudos:
P. Brown, La Société et le Sacré dans l'Antiquité
Tardive, Paris, Éd. du Seuil, 1985 (recolha de artigos
traduzidos).
P. Canivet, Le Monachisme Syrien selon Théodoret
de Cyr, Paris, Beauchesne, 1977.
D.J. Chitty, Et le Désert devint une Cité, Abadia de
Bellefontaine, 1980 (tradução francesa).
A.-M. Vérilhac, éd., La Femme dans le Monde
Méditérranéen, t. 1, Antiquité, Lião, TMO, dif. De
Boccard, 1985.
Textos:
R. Arnauld d'Andille, tradução (do século XVII) de
Sofrónio, Vie de Sainte Marie Egyptienne Pénitente,
reed. Paris, J. Millon, 1985.
P. Canivet, tradução de Teodoreto de Ciro, Histoire
des Moines de Syrie, 2 ts„ Paris, Le Cerf, 1977-1979.
A.-J. Festugière, Les Moines d'Orient (numerosos
textos traduzidos em francês), 4 ts. (7 vols.), Paris,
Le Cerf, 1960-1965.
Romances:
A. France, Thaïs, Paris, 1890.
J. Lacarrière, Marie d'Egypte, Paris, Lattès, 1983.
AS FREIRAS 197
"Democratização "...
Até ao século XI, houve uma única ordem monástica,
a ordem beneditina. Na realidade, as abadias eram
independentes: penetra sem dificuldade no mosteiro
onde se encontra a jovem Matilde, que ele deseja
conhecer; vai até ao oratório, onde a surpreende a ler o
saltério e, loucamente apaixonado, leva-a ime-
diatamente para na Saxónia. Uma recolha de milagres
conta que, em Maubeuge, um nobre cavaleiro tinha por
hábito visitar uma cónega; a intervenção miraculosa da
santa patrona Hunegundes levou-o uma primeira vez a
renunciar à sua visita. Depois, quando reincidiu para
agradar à sua amante, foi fulminado pela santa. De
notar que não há nenhuma referência a qualquer
punição para a religiosa.
Monjas e cónegas são todas recrutadas na
aristocracia, a qual funda e dota todos os mosteiros. As
plebeias, mesmo de condição livre, só têm como
recurso servir-lhes de criadas. Tal afirmação não figura
nos textos, mas a contrario, está escrito uma
quantidade de vezes que as jovens nobres afluíam aos
mosteiros. E possível que a sociedade de certas
regiões, onde os critérios de nobreza e de liberdade
eram menos estritos do que na Germânia, se tenha
mostrado igualmente menos rigorosa nos seus
exclusivos. Parece-nos todavia confirmado que as
mulheres piedosas de origem "medíocre", para retomar
o vocábulo latino, não podiam viver plenamente a sua
religião nas mesmas condições que as nobres.
Uma vocacão particularmente bem enraizada pode
então levá-las a encerrarem-se durante longos anos
numa cela de reclusa. Se um eremita pode instalar-se
no meio das florestas, numa gruta ou no fundo de um
vale retirado, as mulheres, em contrapartida, não
AS FREIRAS 195
Orientação bibliográfica
Dictionnaire d'Archéologie Chrétienne et de Liturgie,
t. 14, 2." parte (1948), art. "Reclus", col. 2149-2159.
Dictionnaire de Spiritualité, t. 4 (1960), art.
"Érémitisme", col. 936-982.
Dom L. Gougaud, Ermites et Reclus. Etudes sur
d'anciennes formes de la vie religieuse, Ligugé, 1925.
M. C. Guigue, Recherches sur les recluseries de
Lyon, Lião, 1887. P. L Hermite-Leclercq, "Reclus et
recluses dans le Sud-Ouest de la France", Cahiers de
Fanjeaux, n.° 23, 1988 (dedicado à mulher na vida
religiosa do Linguadoque).
A. K. Warren, Anchorites andtheir Patrons, University
of Califórnia Press, Berkeley, Los Angeles, Londres,
1985.
194 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA I
Despedir-se do mundo
O recluso surge na mesma época que o monge*. No
final do século III e início do século IV, no Egipto, muitos
homens e algumas mulheres seguiram o exemplo de
Santo Antão (aproximadamente 251-356). Aquele a
quem chamaram o Pai dos eremitas era originário de
uma família abastada de Mênfis. Aos vinte anos, ouviu
o chamamento de Cristo (Mat. XIX, 21): "Se queres ser
perfeito (...), vende os teus bens e dá-os aos pobres (...)
depois vem e segue-me." Estes homens queriam estar
sós (em grego, monos, de que resultou a palavra
monge em português e, em francês, moine), com o
Único, romper com o mundo (é o sentido da palavra
anacorese*), instalar-se no deserto (eremos, "ermo",
que deu o seu nome ao eremita), construir uma cabana
ou encerrar-se numa gruta ou num sepulcro não
utilizado como fizeram os primeiros reclusos. A partir do
século IV, porém, é a vida em comunidade (o
cenobitismo) que leva a melhor. Os grandes
fundadores, Pacómio, Basílio e em breve Bento, o "Pai
dos monges do Ocidente", não condenavam essas
formas primitivas de recusa do mundo que haviam sido
o eremitismo* e a reclusão. Seria o mesmo que
condenar o próprio Santo Antão! Só para falar dela,
A VIDA QUOTIDIANA DAS RECLUSAS 203
Léxico
ANACORESE: do grego anachorein, retirar-se, fazer
um retiro. Primeira forma do monaquismo cristão. O
anacoreta deixa o mundo para seguir Cristo. O
fenómeno começa por ser egípcio, e é depois imitado
nos desertos da Síria-Palestina. O termo conservou-se
no inglês arcaico: ancren, anchoress, que designa
muitas vezes as reclusas.
CENOBITISMO: do grego coinobios, que vive em
comunidade. E o agrupamento dos voluntários de
secessão. Eles acham-se separados do mundo exterior
pela clausura e obedecem ao abade e à regra. A
primeira é a de S. Pacómio, contemporâneo de Santo
Antão.
CÓNEGO: do grego cânon, regra. Os cónegos
(canonici) têm um estatuto religioso intermédio entre os
monges (como eles, seguem uma regra) e os clérigos
(não se separam dos leigos e celebram os ofícios).
EREMITA; EREMITISMO: do grego cremos, ermo, o
deserto. Tem o mesmo sentido que anacoreta, com a
diferença de que aqui é a formação geográfica que
designa o solitário.
HAGIOGRAFIA: do grego hagios, sagrado, e
graphein, escrever. A hagiografia é um género literário e
religioso adoptado pelos biógrafos dos santos, isto é,
daqueles que, na Igreja cristã, atingiram um elevado
grau de perfeição e mereceram um culto público.
MONGE, MONAQUISMO: do grego monos, só. Na
origem, o termo é utilizado tanto pára os eremitas como
A VIDA QUOTIDIANA DAS RECLUSAS 203
Orientação bibliográfica
Obras em francês:
A. Vauchez, "Une campagne de pacification en
Lombardie autour de 1233. L'action politique des ordres
mendiants d'après la réforme
AS ORDENS MENDICANTES 239
As ordens mendicantes
As ordens mendicantes surgem no século XIII.
Receberam essa designação desde essa época porque a
sua maneira de subsistir pelo peditório e não pela
recepção de dízimos e de proventos de tipo feudal
impressionaram os contemporâneos. A mendicidade —
que eles praticam de uma maneira diferente dos
"verdadeiros" mendigos — é um "valor" e um
comportamento discutidos no século XIII. As duas
principais ordens mendicantes são a ordem dos irmãos
pregadores (comummente chamados hoje dominicanos e,
na França medieval, jacobins por causa do nome do seu
convento, Saint-Jacques, de Paris), fundada pelo
espanhol Domingos de Calaruega (ap. 1170-1221,
canonizado em 1233) e a ordem dos irmãos menores
(comummente chamados hoje franciscanos e, na França
medieval, cordeliers por causa do grosso cinto de corda
da sua túnica), fundado pelo italiano Francisco de Assis
(1181-1226, canonizado em 1228).
Os mendicantes não são monjes, mas irmãos que
vivem entre os homens e não na solidão. Tendo o quarto
concílio de Latrão (1215) proibido a formação de ordens
que observassem novas regras, os dominicanos
adoptaram a regra dita de Santo Agostinho e
apresentaram-se pois canonicamente como cónegos
regulares. Em virtude de uma ficção segundo a qual S.
Francisco teria apresentado à Santa Sé um projecto de
regra anteriormente a Latrão IV, os franciscanos tiveram
em 1223 uma regra redigida por Francisco de Assis após
um primeiro projecto recusado em 1221 pela cúria
romana. As duas ordens são dirigidas por um cabido geral
que se reúne de três em três anos e elege um mestre
gera] no caso dos dominicanos e um ministro geral no dos
franciscanos.
Outras ordens adoptaram no decorrer do século XIII o
modelo mendicante mas o segundo concílio de Lião em
1274 deixou subsistir apenas quatro ordens mendicantes:
194 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA I
A mensagem espiritual
Quando se tenta defini-la em termos abstractos, a
mensagem de S. Francisco reduz-se a algumas
fórmulas que podem parecer bastante banais. Ele não
foi, com efeito, nem um grande teólogo, como Santo
Agostinho, por exemplo, nem um pensador profundo
como S. Tomás de Aquino, nem sequer um teórico da
vida espiritual como um S. Bernardo ou um Inácio de
Loiola. Este leigo que escrevia um latim rugoso e cheio
de ita- gesto, tornava-se um "homem religioso",
deixando de depender da autoridade paterna e dos
tribunais civis e passando a depender da Igreja.
Isso não significava contudo que tivesse a intenção
de se tornar padre ou monge, coisas que nunca foi.
Mas existia na cristandade medieval um estado
intermédio entre o dos clérigos e o dos leigos: tratava-
se dos penitentes, isto é, de fiéis que optavam por
renunciar à vida mundana sem no entanto passarem a
fazer parte das ordens. Esses convertidos (ou
conversos) levavam uma existência ascética e
194 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA I
Notas
1
Na Idade Média, o termo "Sicília" designava toda a
Itália do Sul, peninsular e insular. Falar-se-á também,
mais tarde, das "Duas Sicí- lias".
2
Frederico II de Hohenstaufen (1194-1250) era ao
mesmo tempo, por parte do pai, imperador do Sacro
Império Romano-Germânico e, por parte da mãe, rei
da Sicília.
3
O "erro dos maniqueus" era o erro dos "dualistas"
que, como cs cátaros, acreditavam na existência
distinta de dois princípios, o do Bem e o do Mal, em
luta eterna.
4
A edição "leonina" chama-se assim porque foi
lançada, em 1880, pelo papa Leão XIII; trinta e oito
volumes, dos cinquenta previstos, estão actualmente
editados.
5
A partir de 1266, Carlos de Anjou, irmão de S. Luís,
reina sobre o reino da Sicília, investido pelo Papa.
Orientação bibliográfica
Obras de S. Tomás em francês:
Opuscuies Théologiques, 6 vols., Paris, Vrin, 1984.
Somme contre les Gentils, 4 vols., Paris,
Lethielleux, 1951-1961, reed. em 1 vol. por Cerf, Paris,
1993.
ESTEVÃO DE BOURBON, O INQUISIDOR EXEMPLAR 279
6
V. Massignon, Étude sur la Transmission et les
Représentations des "exempla" d'Étienne de Bourbon
(...) (Dissertação de mestrado, Paris-I), 1976.
7
Alpaís, nascida na aldeia de Cudot (Yonne), de
pais pobres, foi atingida por uma doença grave aos
doze anos de idade. Nossa Senhora curou-a por volta
de 1170. Manteve-se contudo de cama, sem receber
outro alimento além da comunhão dominical. Operou
milagres, teve visões, gozou de êxtases, predisse o
futuro. Atraiu numerosos peregrinos, como a esposa
do rei de França Luís VII, Adélia de Champanha, que
a foi visitar por diversas ocasiões. Morreu em
Novembro de 1211.
8
O Purgatório é aliás, na obra de Estêvão de
Bourbon, enquadrado num contexto de medo
escatológico onde se abeira do Inferno; cf. J. Le Goff,
La Naissance du Purgatoire, Paris, Gallimard, 1981,
pp. 416-423. Sobre a concepção do inferno na obra de
Estêvão de Bourbon, cf. J. Baschet. Les Justices de
l'Au-Delà. Les représentations de t'enfer en France et
en Italie (XIIe-XVe siècle), Roma, École Française de
Rome, 1993, pp. 64-82.
9
Sobre os usurários, tradução de numerosas
narrativas por J. Le Goff, La Bourse et la Vie.
Economie et religion au Moyen Age, Paris, Hachette,
1986.
Orientação bibliográfica
Sobre Estêvão de Bourbon:
J. Berlioz, "Étienne de Bourbon", em G. Hasenohr e
M. Zink, s/d., Dictionnaire des Lettres Françaises. Le
Moyen Age, 2." ed., Paris, Le Livre de Poche,
"Encyclopédies d'aujourd hui", pp. 418-420 (bi-
bliografia importante); id., Saints et. Damnés. La
Bourgogne du Moyen Age dans les récits d'Etienne de
Boubon, inquisiteur (1190-1261), Dijon, Éditions du
Bien Public, 1989. Tradução e apresentação do con-
254 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Jacques Verger
614
ap. 625
ap. 750-
821
910
1012
ap. 1076
1084
1098
1101
ap. 1108
111
111
1118/1119
1120
TOMÁS DE AQUINO 299
Sobre S. Tomás:
M.D. Chenu, Introduction à l'Étude de Saint Thomas
d'Aquin, Montréal-Paris, Institut d'Études
Médiévales/Vrin, 1954; Saint Thomas et la Théologie,
Paris, Éd. du Seuil, 1959.
E. Gilson, Le Thomisme. Introduction à la
Philosophie de Saint Thomas d'Aquin, Paris, Vrin, 6."
ed., 1964.
J.A. Weisheipl, Frère Thomas d'Aquin. Sa Vie, sa
Pensée, ses Oeuvres, trad. fr., Paris, Le Cerf, 1993.
J.-P. Torrell, Initiation à Saint Thomas d Aquin. Sa
Personne et Son Oeuvre, Friburgo-Paris, Éd. Univ. de
Friburgo-Le Cerf, 1993.
Nota
1
O "comos" (kumis) é a bebida mongol por
excelência. Trata-se de soro de leite de égua
fermentado.
Orientação Bibliográfica
Os textos:
Jean de Plan Carpin, Histoire des Mongols, trad. e
anexos de J. Becquet e L. Hambris, Paris,
Maisonneuve, 1965.
Guillaume de Rubrouck, Voyage dans l'Empire
Mongol, trad. e comentário de C. e R. Kappier, Paris,
Payot, 1985; a mesma tradução, apresentada,
comentada e ilustrada pelos mesmos autores, Paris,
Imprimerie Nationale, 1993.
H. Yule, Cathay and the Way Thither, Londres,
Hakluyt Society, 1886.
254 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Os estudos:
R. Grousset, L'Empire des Steppes, Paris, Payot,
1965.
P. Pelliot, La Haute Asie, Paris, L'Édition Artistique
(brochura de preciso com efeito uma audácia sagrada
e uma santa audácia para arrostar com os perigos da
aventura.
Em primeiro lugar, para partir era preciso não ter
medo dos Mongóis. Ora os Mongóis aterrorizavam
toda a gente. A rapidez, a crueldade destes inimigos
surgidos sabe-se lá de onde perturbaram o Ocidente
cristão. Sob o choque, foram assimilados a um flagelo
de Deus: os pecados dos cristãos. Deus tinha deixado
os povos de Gog e Magog passar os portões de ferro
detrás dos quais Alexandre os tinha fechado e os
Mongóis, que eram tratados pelo nome funesto e
infernal de Tártaros, eram esses povos do Apocalipse
que anunciavam o fim dos tempos.
A seguir, era preciso não ter medo do
desconhecido. Sem mapa, com efeito, Rubrouck não
tinha meio de ter de antemão uma representação da
sua viagem. É uma evidência que é para nós difícil de
compreender. O nosso primeiro reflexo, quando lemos
o seu relato de viagem, é "ir ver ao mapa" por onde foi
que ele passou (cf. mapa, página seguinte). Assim se
organiza para nós o quadro da sua viagem: o triângulo
da Crimeia, a estepe entre Crimeia e Ural, a lenta
passagem pelo deserto a norte e a leste do Mar de
Arai, os oásis no sopé dos montes Tien-Chan, os vales
e altas montanhas do Altai, a extremidade norte do
deserto de Gobi são assinalados e inscritos numa
representação conhecida e tranquilizadora do espaço,
GUILHERME DE RUBROUCK ENTRE OS MONGÓIS 317
1410
254 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
1122- Abelardo é eleito pelos monges da
1156 abadia de Saint-Gildas-de-Rhuys
1129 (Morbihan). Vida de Joaquim de
Flore. Vida de S. Domingos. A
ap. 1130/1145- primeira beguinaria surge em Liège.
1202 ap. 1170- Vida de S. Francisco de Assis. A
1221 ap. 1180 Ordem Teutónica passa de
ap. 1182-1226 hospitalar a militar.
1198 S. Domingos funda o convento de
mulheres de Prouille.
1206 Francisco de Assis funda uma nova
família de religiosos (os irmãos
ap. 1209 menores). Clara de Assis funda a
Ordem das "Pobres Reclusas de S.
ap. 1213 Damião". O papa Honório III
reconhece a Ordem dos irmãos
1217 pregadores fundada por São
Domingos.
1221 Primeira regra da ordem
1228- franciscana. Vida de S. Tomás de
1274 Aquino. Criação da Inquisição
1231- pontifical. O papa Inocêncio IV
1232 concede aos Carmelitas, fundados
1247 no século-XII, o estatuto de ordem
mendicante.
Missão do franciscano flamengo
1253-1255 Guilherme de Rubrouck na Ásia
Central. Fundação da ordem dos
1256 eremitas de Santo Agostinho.
Clemente V condena certas
1311 comunidades de beguinas
(Alemanha). Os altos dignitários da
1314 Ordem do Templo são queimados
como relapsos. Condenação pelo
1317 Papa João XXII da Frati- celles.
Batalha de Tannenberg (Polónia):
Pedro, o
Venerável, Ladislau II Jagelão inflige aí uma
1410
abade de sangrenta derrota à Ordem
Cluny. Teutónica.
254 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
S. Francisco de Assis
por André Vauchez......................... ....... ................ 243
A mensagem espiritual, 252.
Mulheres no deserto?
por Pierre-Louis Gatier............................................ 169
As freiras
por Michel Parisse. ................................................ 185
O rigor das monjas, 190. "Democratização"... 193. ... e
"reacção nobiliária", 195.
Bibliografia geral
1. Obras de referência:
Dois livros essenciais:
Marcel Pacaut, Les Ordres Monastiques et Religieux
au Moyen Age, Paris, Nathan, 2.a ed., revista e
aumentada, 1993 (série fac. "Histoire"). Bibliografia
publicada.
Gaston e Monique Duchet-Suchaux, Les Ordres
Religeux. Guide historique, Paris, Flammarion,
1993. Preciosas notas-devidas a dois arquivistas
paleógrafos -, por ordem alfabética, sobre as
personagens, as abadias, os tipos de ordem, o fun-
cionamento do convento, os termos de direito ou de
administração que regulamentam a vida das
ordens.
A 1er igualmente:
Bernard Bligny, Saint Bruno le Premier C hartreux,
Rennes, Ouest-France, 1984.
Alain Demurger, Vie et Mort de l'Ordre du Temple,
1118-1314, Paris, Éd. du Seuil. 2.a ed., revista e
publicada, "Points Histoire", 1989 (l.a ed., 1985).
Jacques Dubois, Les Ordres Monastiques, Paris,
Presses Universitaires de France, "Que sais-je?",
n.° 2241, 1958.
254 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Apresentação
por J acques B erl i oz................................................ 5
1. FUNDAÇÕES E RENOVAÇÕES
S. Bento e a revolução dos mosteiros
por André Vauchez....*............................................• 15
Nascimento de uma regra, 1 9. Um êxito progressivo,
24.
3. Reunir a documentação:
Para além das obras gerais e dos dicionários acima
citados, ver, para os trabalhos franceses recentes:
Société des Historiens Médiévistes de l'Enseignement
Supérieur, L ' Histoire Médiévale en France. Bilan
et perspectives. Prefácio de Georges Duby. Textos
reunidos por Michel Baiard, Paris, Éd. du Seuil,
1991.
Société des Historiens Médiévistes de l'Enseignement
Supérieur, Bibliographie de l'Histoire Médiévale en
France (1965- 1978), Éditions Retz; Histoire de la
France Religieuse (com R. Rémond), 1988-1992,
Éditions du Seuil. Dirigiu o 2.° volume da Histoire
de France (s.d., G. Duby), La Ville Médiévale, 1982,
Éditions du Seuil; o 2.° volume da Histoire de la
France (s.d., A. Bruguière e J. Revel), L'État et les
Pouvoirs, 1990, Éditions du Seuil.
LEROUX-DHUYS, Jean-François: professor de
Ordenação Territorial e Urbanismo, no Instituto de
Estudos Políticos de Paris. Membro da Academia de
Arquitectura e presidente da associação
Renaissance de l'Abbaye de Clairvaux (Aube).
LHERM1TE-LECLERCQ, Paulette: professora
agregada de História e Geografia, com
doutoramento de Estado. Professora da
Universidade de Paris IV. Publicou: Garéoult, un
Village de Provence dans la Deuxième Moitié du xvf
Siècle (Éd. du CNRS, 1979) e a sua tese Le
Monachisme Féminin dans la Société de Son
Temps. La Celle-lès-Brignoles, xf- xvf siècle (Éd.
Cujas, 1989).
PARISSE, Michel: professor da Universidade de Paris-
Panthéon-Sorbonne. Colaborador da revista
Annales de l'Est e autor de uma tese sobre a
BIBLIOGRAFIA GERAL 325