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O Segredo de Elul
Por Sara Esther Crispe
Amor. É a mais poderosa das emoções humanas. Todos ansiamos por ele. Não
podemos viver sem ele. E mesmo assim é tão avassalador, tão abrangente, que
não há como medi-lo, prová-lo, defini-lo, ou nem mesmo descrevê-lo.
Ani l’dodi v’dodi li - “Eu sou do meu amado e meu amado é para mim.”
Essa frase linda e romântica é aquela que representa nosso relacionamento com
o Criador, que é frequentemente comparado ao relacionamento entre marido e
mulher, uma noiva e um noivo, em nossas vidas individuais.
O Zohar explica que no início de Elul estamos achor el achor, que significa
“costas com costas”, e ao final de Elul estamos panim el panim, “face a face”.
Mas como é possível que estejamos de costas? Isso não implicaria que D'us tem
Suas costas viradas para nós também? Como podemos dizer isso, quando este
é o mês no qual – como nos ensina o mestre chassídico Shneur Zalman de Liadi
– “o Rei está no campo”? Não é o mês em que D'us está mais acessível do que
nunca, quando Ele está esperando por nós para saudá-Lo, quando Ele está ali
no “campo” da nossa vida cotidiana?
O fato de sermos descritos como “costas com costas” e depois “face a face” é
uma lição incrível. Com frequência, quando nos sentimos irados, magoados,
abandonados, qualquer que seja o motivo do nosso sofrimento, damos as
costas. Quando estamos de costas, não temos ideia do estado do outro. E muitas
vezes é mais fácil acreditar que não somos o único de costas. É mais fácil pensar
que o outro também se virou, e que não está nos encarando, porque se fosse
este o caso, então mesmo que nos virássemos isso não iria ajudar, então, por
que se dar ao trabalho? Por que dar o primeiro passo, somente para se voltar e
ver as costas do outro?
Ela olha para ele com saudade, mas isso não muda nada – ela presume que ele
não se importa pois continua a se afastar dela. E nós, os espectadores,
sentamos na beira do assento, esperando que talvez eles se virem os dois ao
mesmo tempo, para finalmente entender que o outro se importa, e embora
pareçam estar de costas, eles na verdade queriam estar frente a frente. Às vezes
acontece o final feliz; outras vezes eles simplesmente continuam a caminhar em
direções opostas, afastando-se da vida um do outro.
Portanto, agora a questão é como esta lição nos é ensinada, não somente no
mês de Elul, mas por intermédio do próprio nome “Elul”. Um nome hebraico não
é uma mera maneira de referir-se a alguma coisa, mas na verdade representa
sua alma. A Chassidut nos ensina que todo pai ou mãe é dotado com inspiração
Divina quando dá nome ao filho. É o nome que representa os aspectos mais
profundos dessa pessoa. A Cabalá e a Chassidut nos ensinam que para revelar
o significado essencial de uma palavra hebraica, precisamos analisar as letras
que a formam, seu valor numérico, sua forma e significado.
Em hebraico, a palavra para coração é lev, que é escrita com lamed-beit. Rabi
Avraham Abulafia, no ano 1291, escreveu um manuscrito com o nome de Imrei
Shefer, no qual ele define o significado do coração.
Rabi Abulafia ensina que a palavra lev, lamed-beit, precisa ser entendida como
dois lameds. Isso porque a letra beit é a segunda do alfabeto, e é numericamente
equivalente a dois. Ele explica que a palavra precisa ser lida e entendida como
“dois lameds”. Porém, não basta ter dois lameds. Como explica Rabi Yitzchak
Ginsburgh, para que eles tenham um relacionamento, os dois lameds precisam
estar conectados. Precisam estar face a face. Quando viramos o segundo lamed
de frente para o primeiro, formamos a imagem de um coração judaico. Embora
o coração, como estamos acostumados a ver, seja bem claro nesse formato,
uma parte inteiramente nova do coração é também revelada.
O coração e o amor que ele representa podem prosperar, florescer, somente
quando há uma totalidade em conexão. Isso porque a letra lamed é a mais alta
de todas as letras do alfabeto hebraico. O motivo é porque o lamed representa
o conceito de quebrar limites, de ir além do nosso potencial, de entrar no supra
consciente através do consciente. ‘O lamed também significa duas coisas
simultaneamente, Significa tanto “aprender” como “ensinar”, o que nos mostra
que os dois são interligados e ambos são essenciais. Num relacionamento, devo
estar disposto a aprender com o outro, tornando-me um receptor. Porém, a outra
pessoa também deve ser capaz de aprender comigo, o que me torna o professor,
o doador.
Além disso, a imagem do lamed pode ser quebrada em três outras letras. A parte
de cima é um yud, a menor das letras hebraicas, e representa a cabeça. A
cabeça contém a mente, o intelecto, e também a face.
Então é por isso e como Elul é o mês que começa de costas e termina face a
face. No início do mês não estamos conscientes da realidade que “Eu sou para
meu amado e meu amado é para mim.” Porém, trabalhando em nós mesmos
durante o mês, estando dispostos a nos virar e fazer mudanças, começamos a
entender que nosso Criador jamais virou as costas. Ele sempre esteve nos
encarando, e apenas esperando que nos viremos. E quando o fazemos, então
somos como dois lameds que estão face a face, que formam o coração judaico
e que são a essência do mês de Elul.
Elul então deve ser entendido como um alef, representando D'us, seguido por
um lamed, vav, lamed – um lamed que está conectado (vav) ao outro lamed.
E o coração judaico, esta ideia de amor como uma totalidade de conexão, não é
meramente o trabalho para o mês de Elul, mas todo o objetivo de nossa criação.
Esse coração judaico é um símbolo de por que fomos criados e o que devemos
realizar. Pois a Torá é o projeto da criação, e o guia de como nos conectamos
com o divino. E não é um livro com início, meio e fim, mas sim um rolo, pois
somos ensinados que “o fim está ligado ao começo, e o começo ao fim.”
Então, o que encontramos quando o fim do rolo de Torá se junta ao início? Como
a Torá termina e começa? A última palavra da Torá é Yisrael, que termina com
a letra lamed; e a primeira palavra é bereshit, que significa “no princípio”, que
começa com um beit. Quando juntamos a primeira e a última letra da Torá, temos
lev, a palavra hebraica para coração.
Apesar disso, como nenhuma dessas transmite o sabor de “tefilá” para o judeu
praticante, a preferência comum é adotar o original. Como alternativa, usa-se
daven, um termo yidish relacionada ao mesmo radical latino que a palavra
divino. Com frequência, usamos o particípio presente: davening.
A qualquer hora em que você compartilha com o Criador aquilo que está no
seu coração - seja rezando, abençoando, lamentando ou pedindo – você está
davening. Pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar, desde que
venha das genuínas preocupações do coração e da consciência da mente
sobre uma presença mais elevada.
Os homens, em especial, devem recitar suas tefilot sempre que possível num
quorum de dez – chamado minyan. O protocolo é muito populista e
participativo, rico com rituais de identidade que servem para unir o grupo.
Você não pode comungar com alguém que não conhece, portanto conhecer
D'us é uma parte integrante da tefilá. O Talmud nos diz sobre aqueles que
meditavam durante uma hora antes da tefilá. O Código da Lei Judaica
prescreve ponderar sobre “a grandeza de D'us e a pequenez do homem” antes
de cada tefilá. A Chassidut Chabad é principalmente uma ciência da reza – um
sistema de pensamentos a ponderar antes e durante a tefilá.
Outro paradigma: O ser humano tem três modus operandi, ou seja, ação, fala e
pensamento. As mitsvot ocupam principalmente nossa modalidade de ação,
enquanto a Torá está mais preocupada com a fala – articulando os
pensamentos de D'us em palavras humanas. O âmago da tefilá, por outro lado,
é nosso modo de atingir mais profundamente nossos pensamentos interiores, e
encontrar dentro deles o próprio D'us.
NOTAS
1.
Devarim 11:13
http://www.dalvalynch.net/visualizar.php?idt=1129190
Ver este link
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1737379/jewish/O-Que-Tefil.htm
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