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Novembro / Dezembro de 2012

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ISSN 1518-9740
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VI Encontro Nordestino de Fisioterapia


em Saúde da Mulher – ENFISM
Fisioterapia
Saúde da mulher: consolidação
do conhecimento e perspectivas

8 a 10 de novembro de 2012
Natal/RN
Physical Therapy Brazil

13 anos
www.atlanticaeditora.com.br
VI Encontro Nordestino de Fisioterapia
em Saúde da Mulher – ENFISM
Saúde da mulher: consolidação
do conhecimento e perspectivas
8 a 10 de novembro de 2012
Natal/RN

Fisioterapia Brasil
(Suplemento Especial - novembro/dezembro 2012)
ISSN 1518-9740

Editorial
Saúde da mulher em todas as fases da vida
Profa. Dra. Maria hereza Albuquerque Barbosa Cabral Micussi, Profa. Dra. Elizabel de Souza Ramalho Viana*

É com imensa alegria que a contribuição cientiica gerada pelo o VI  Encontro Nordestino de Fisioterapia na Saúde da
Mulher – ENFISM será apresentada para comunidade acadêmica pela Revista Fisioterapia Brasil. Queremos compartilhar a
produção cientiica na  área da saúde da mulher, de autores de diversas universidades do Brasil com aqueles que se interessam
pela promoção à saúde da mulher.
A isioterapia na saúde da mulher vem ganhando destaque e reconhecimento mediante o esforço dos proissionais, através
da divulgação dos métodos avaliativos e terapêuticos, tornando esta especialidade indispensável para isioterapia clinica.
Esse evento é uma tradição no Nordeste brasileiro e traz consigo muitas inovações nessa área de grande demanda nos serviços
de atenção à saúde. Após a cidade de Campina Grande/PB (2006 e 2008), Teresina/PI (2009), Fortaleza/CE (2010) e Salvador/
BA (2011) serem as cidades-sede do ENFISM, chegou a vez de Natal/RN sediar o ENFISM e mostrar as perspectivas na área
da saúde da mulher.
O encontro não se restringe apenas aos graduandos, mas também aos proissionais atuantes que percebam a necessidade de
haver uma constante reciclagem em todo conteúdo adquirido de acordo com anos de prática. Como a saúde da mulher é um tema
que tem superado tabus, ano após ano, há sempre questionamentos que vencem as portas da clínica e necessitam de respostas.
Foi nesse misto de curiosidade com necessidade de conhecimento que nasceu o ENFISM, agregando valores e proissionais não
apenas na área da Fisioterapia, como também em todas as áreas da saúde, oferecendo troca de conhecimentos com o aprofun-
damento de técnicas e evidências cientíicas.
A atuação da Fisioterapia na saúde da mulher permite intervir em todas as fases da sua vida, desde a adolescência até a sua
fase adulta, passando pelo período gestacional e climatério. Em todas elas, podemos desenvolver ações de prevenção, promoção,
proteção e reabilitação da saúde, dando assistência tanto em nível individual como coletivo. Isso propicia à mulher uma melhor
qualidade de vida e retorno as suas funções de maneira mais rápida e satisfatória.
Convidamos todos a participar com envolvimento crescente dos estudos envolvendo a saúde da mulher e do nosso evento,
uma porta sempre aberta para o conhecimento.

*Professoras organizadoras do VI Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da mulher – VI ENFISM


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Comissão cientíica

Profa. Dra. Elizabel de Souza Ramalho Viana


Profa. Dra. Maria hereza Micussi
Profa. Ms. Lílian Lira Lisboa
Profa. Ms. Vanessa Patrícia Soares de Sousa
Laiane dos Santos Eufrásio, acd.
Patrícia Mayara Moura da Silva, acd.

Comissão organizadora

Amanda Celly 
Rafaela Souza
Camilla Souza
Priscylla Hellouyse
Rívea Trindade
Rossânia Bezerra
Tamyres Oliveira
Gentil Gomes
Bianca Vasconcelos
Heloísa França
Lenize Costa
Paloma Sena
Larissa Varella
Silvia Oliveira
Lívia Narelli
haís Dias
Carla Monique
Natália Barbosa
hereza Micussi
Elizabel Viana
Laiane Eufrásio
Patrícia Mayara
Vanessa Patrícia

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


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Índice

EDITORIAL
Saúde da mulher em todas as fases da vida, Maria hereza Albuquerque Barbosa Cabral Micussi,
Elizabel de Souza Ramalho Viana .................................................................................................................................................... 1

ARTIGOS
1. Afeto positivo e negativo e sua associação com a dor e funcionalidade em mulheres
com ibromialgia, Rodrigo Pegado de Abreu Freitas, Sandra Cristina de Andrade,
Lilian Lira Lisboa, Elisa Sonehara, Maria hereza Barbosa Cabral Micussi,
Maria Bernardete Cordeiro de Sousa ............................................................................................................................................... 6
2. Análise da qualidade de vida e distúrbios do sono em mulheres menopausadas residentes
no município de Apodi/RN: dados preliminares, Pedro Paulo Silveira Souza,
Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Elizabel de Souza Ramalho Viana............................................................................................... 11
3. Recursos isioterapêuticos disponíveis para trabalho de parto: uma revisão,
Victor Hugo Brito de Oliveira, Débora Luciana dos Santos Brandão, Gentil Gomes da Fonseca Filho,
Maria hereza Albuquerque B. C. Micussi, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Lílian Lira Lisboa.................................................. 16
4. Inluência da cinesioterapia sobre a dor e qualidade de vida em mulheres grávidas,
Sayonara Rodrigues da Silva, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Dayse Aleixo Bezerra,
Silvia Oliveira Ribeiro, Elizabel de Souza Ramalho Viana .............................................................................................................. 23
5. Avaliação da função sexual em mulheres no climatério, Natalia Maria Barbosa Bezerra,
Andressa Gollo Signoretti, Maria hereza Albuquerque B. C. Micussi,
Elizabel de Souza Ramalho Viana, Lílian Lira Lisboa ..................................................................................................................... 29
6. Avaliação da qualidade de vida de pacientes portadores de incontinência anal em uma clínica
particular de Natal/RN, Cleneide Quintela Gadelha do Espírito Santo,
Lucas Ithamar Silva Santos, Valéria Conceição Passos de Carvalho ................................................................................................ 34
7. Recuperação da diástase de reto abdominal no período puerperal imediato com
e sem intervenção isioterapêutica, haís Medeiros da C. Dias, haisa Caline dos Santos Barbalho,
Amanda Celly de Andrade Moura, Rafaela Jéssica Silveira de Souza1, Vanessa Patrícia Soares de Sousa,
Elizabel de Souza Ramalho Viana .................................................................................................................................................. 39
8. Eletroterapia aplicada às disfunções sexuais femininas: revisão sistemática, Camila Stein Montalti,
Natachie Furlan Santos, Karina Tamy Kasawara, Andréa de Andrade Marques, Néville de Oliveira Ferreira .................................. 45
9. Peril epidemiológico de puérperas atendidas em uma maternidade conveniada ao Sistema Único
de Saúde de Maceió/AL, Rafaela da Silva Cruz, Bárbara Rose Bezerra Alves Ferreira .................................................................... 51
10. Avaliação da força muscular respiratória durante o período gestacional: uma análise através
da manovacuometria, André Gustavo Marcolino Leal, Nayara Tavares dos Santos, Esp.,
Gabriela Brasileiro Campos Mota, Maíra Creusa Farias Belo, Denise Almeida Santos,
Klênio Lucena Sena, Marcos Valério Rocha de Oliveira ................................................................................................................. 56
11. Inluência da atividade física na qualidade de vida da mulher no climatério,
Rívea Trindade da Silva, Camila huanne Brito Fernandes, Ana Rita Dantas de Lira,
Vitória Jéssica Teixeira Dantas, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Lílian Lira Lisboa .................................................................... 62
12. Avaliação funcional do assoalho pélvico: uma abordagem isioterapeutica na prevenção
da incontinência urinária, Jéssica Costa Leite, Flavia Monteiro Marques Morais,
Gabriela Brasileiro Campos Mota, Denise Almeida Santos, Klênio Lucena Sena,
Isabela Dantas da Silva, Lorena Maria Brito Neves Pereira ............................................................................................................. 67
13. Prevalência da perda urinária em praticantes de atividades físicas, Vânia Nayara da Silva Costa,
Raylla Kelly Ibiapina Leal, Maíra Creusa Farias Belo, Denise Almeida Santos,
Cileneide Pereira dos Santos Rodrigues ......................................................................................................................................... 73

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14. Peril epidemiológico de mulheres em idade fértil com hepatites virais na região Trairí
e Potengi, Rio Grande do Norte, Brasil, Joelson dos Santos Silva,
Candice Simões Pimenta de Medeiros, Vanessa Lopes Costa de Oliveira, Diego de Sousa Dantas,
Damião Ernane de Souza, Adriana Gomes Magalhães, Karla Veruska Marques Cavalcante da Costa ............................................. 79
15. Abordagem da sexualidade após a mastectomia, Nívea Adriano de Santana e Santos,
Socorro Maria Pinho da Silveira .................................................................................................................................................... 86
16. Atuação do isioterapeuta na linha de cuidado à saúde da mulher com ênfase
no apoio matricial, Daiana Pereira Martins Costa ........................................................................................................................ 93
17. Importância da isioterapia na qualidade de vida em idosas institucionalizadas
com diagnóstico de osteoartrose, Ana Letícia de Souza Pereira,
Cynthiane Louyse Menezes de Araújo, Alianny Raphaely Rodrigues Pereira,
Lívia Braz de Carvalho, Fernanda Diniz de Sá, Karla Luciana Magnani, Adriana Gomes Magalhães.............................................. 97
18. Incidência de episiotomia em partos normais em uma maternidade do SUS,
Bárbara Rose Bezerra Alves Ferreira, Eloá Mendes Silva Gomes ................................................................................................... 103
19. Qualidade de vida de mulheres na fase do climatério residentes no meio urbano
e no meio rural, Carla Monique Ribeiro de Aquino, Katheyrine Lorena Bráz Santos,
Maria hereza Albuquerque B.C. Micussi, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Lílian Lira Lisboa................................................. 108
20. Inluência da isioterapia no tratamento da constipação intestinal em mulheres
com ibromialgia: estudo piloto, Marjorie Ovídio Bezerra Galvão,
Fernanda de Lourdes Penha da Câmara, Rodrigo Pegado de Abreu Freitas, Elisa Sonehara,
Sandra Cristina de Andrade, Lilian Lira Lisboa ........................................................................................................................... 113
21. Análise comparativa da capacidade funcional de idosas com e sem incontinência urinária,
Denise Almeida Santos, Maíra Creusa Farias Belo, Klenio Lucena de Sena,
Gabriela Brasileiro Campos Mota ................................................................................................................................................ 118
22. Efeito agudo de uma sessão de reabilitação cardíaca sobre a pressão arterial sistêmica
em mulheres hipertensas, Rayanne Rakel Paiva Ferreira, Danielly Inocêncio de Araújo,
Murillo Frazão de Lima e Costa, Maria Elma de Souza Maciel Soares, Iza Neves de Araújo Nascimento ..................................... 124
23. Fisioterapia na incontinência fecal: uma revisão integrativa, B.B. Camilo, J.M.A. Cruz,
M.S. Magalhães, A.A.B. Façanha ................................................................................................................................................. 130
24. Repercussão da incontinência urinária na qualidade de vida de mulheres idosas institucionalizadas,
Joelson dos Santos Silva, Fernanda Diniz de Sá, Maria das Graças Costa,
Kamila Brena Almeida de Oliveira, Adriana Gomes Magalhães ................................................................................................... 135
25. Estudo fenomenológico sobre a percepção masculina das transformações da mulher
no período gestacional e suas implicações afetivo-sexuais, Neyliane Sales Chaves Onofre,
Georges D. Janja Bloc Boris ........................................................................................................................................................ 141
26. Géis lubriicantes são bons agentes de acoplamento para estimulação transvaginal
do assoalho pélvico? Jairo Domingos de Morais, Mallison da Silva Vasconcelos,
Maria Francilene Leite, Eleazar Marinho de Freitas Lucena, Welligton da Silva Lyra.................................................................... 145
27. Resistência elétrica de géis lubriicantes utilizados na reabilitação uroginecológica,
Jairo Domingos de Morais, Mallison da Silva Vasconcelos, Eleazar Marinho de Freitas Lucena,
Maria Francilene Leite, Welligton da Silva Lyra ........................................................................................................................... 149
28. Associação da hipertensão arterial com as medidas antropométricas em mulheres
assistidas no programa Hiperdia, Iza Neves de Araújo Nascimento, Iara Medeiros de Araújo,
Maria Elma Souza Maciel Soares, Neir Antunes Paes ................................................................................................................... 154
29. Avaliação isioterapêutica do comportamento ventilatório de parturientes durante
a fase de dilatação ativa do trabalho de parto, hâmara Pequeno de Paiva, Emília Sampaio Rocha,
Gabriela Brasileiro Campos Mota, Marília Sampaio Rocha Campos de Souza,
João Paulo Campos de Souza, Edilânia Cristina Féliz de Souza, Italo Morais Torres..................................................................... 159

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30. Peril clínico, qualidade de vida e nível de independência funcional de pacientes


submetidas à mastectomia radical modiicada, Leila Maria Alvares Barbosa,
Camilla Carneiro Leão Sampaio Carvalho, Caroline Wanderley Souto Ferreira ........................................................................... 166
31. Repercussões ventilatórias impostas pelo ciclo gestatório: uma abordagem isioterapêutica
sobre a saturação de oxigêni, Pâmella Carolline Araújo Batista, Karenn Araújo Barros,
Gabriela Brasileiro Campos Mota, Juliana Carvalho Cordeiro, Aliuska Souza Santos,
Denise Almeida Santos, Ângela Maria Targino de Alcântara ........................................................................................................ 171
32. Incontinência urinária na prática esportiva: uma revisão sistemática,
Priscylla Helouyse Melo Angelo, Rossânia Bezerra, Maria hereza Barbosa Cabral Micussi,
Rodrigo Pegado de Abreu Freitas ................................................................................................................................................. 176
33. Mortalidade materna: peril sociodemográico do Brasil no ano de 2010,
Érika Rayane de Medeiros Silva, Jéssica Danielle Medeiros da Fonsêca,
Camila Maria Medeiros de Araújo, Maria José Medeiros da Fonsêca ........................................................................................... 181
34. Análise da relação entre idade gestacional e qualidade de vida em gestantes atendidas
em unidades básicas de saúde da cidade do Natal/RN, Laiane Santos Eufrásio,
Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Elizabel de Souza Ramalho Viana............................................................................................. 185
35. Avaliação do desconforto respiratório em gestantes: uma abordagem isioterapêutica,
Jéssica Costa Leite; Saulo Patrício Gonçalves, Gabriela Brasileiro Campos Mota,
Denise Almeida Santos, Maíra Creusa Farias Bel, Tércio de Sousa Mota, Matheus Brasileiro Campos ......................................... 190
36. Avaliação do grau de satisfação de gestantes usuárias do serviço de isioterapia
de uma maternidade pública, André Gustavo Marcolino Leal, Lidyane Ferreira de Oliveira,
Gabriela Brasileiro Campos Mota, hâmara Pequeno de Paiva, Denise Almeida Santos,
Matheus Brasileiro Campos, Tércio de Sousa Mota...................................................................................................................... 195
37. Avaliação da qualidade de vida e dos sintomas de depressão em mulheres com incontinência
urinária, Clécio Gabriel de Souza, Isabelle Eunice de Albuquerque Pontes, Karolinne Souza Monteiro,
Maria do Carmo Pinto Lima, Maíra Creusa Farias Belo, José Roberto da Silva Júnior,
Maria de Lourdes Fernandes Oliveira .......................................................................................................................................... 201
38. Inluência de um protocolo de exercícios cinesioterapêuticos sobre a qualidade do sono
de mulheres grávidas: ensaio clínico randomizado controlado, Silvia Oliveira Ribeiro,
Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Dayse Aleixo Bezerra, Bárbara Emmily Cavalcanti Vale,
Gabriele Natane de Medeiros Cirne, Elizabel de Souza Ramalho Viana ....................................................................................... 206
39. Conhecimento de mulheres com lesão medular traumática sobre sexualidade pós-lesão:
relato de caso, Mariana Carmem Apolinário Vieira, Lorenna Marques de Melo Santiago,
Livane Caldas dos Santos Barbosa, Silvia Oliveira Ribeiro, Raquel da Silva Ferreira,
Elizabel de Souza Ramalho Viana, Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo ................................................................................... 211
40. Tratamento isioterapêutico com exercícios do assoalho pélvico associados ou não
ao biofeedback ou à eletroestimulação em mulheres portadoras de Incontinência Urinária
de Esforço: um estudo piloto, Daphne Gilly, Leila Maria Alves Barbosa, Deniele Bezerra Lós,
Ivson Bezerra da Silva, Mallison da Silva Vasconcelos, Caroline Wanderley Souto Ferreira ........................................................... 214

RESUMOS ........................................................................................................................................................................222

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Artigos

Afeto positivo e negativo e sua associação com a dor e


funcionalidade em mulheres com ibromialgia
Positive and negative affect and their association with pain and
functionality in women with ibromyalgia
Rodrigo Pegado de Abreu Freitas, M.Sc.*, Sandra Cristina de Andrade, D.Sc.*, Lilian Lira Lisboa, M.Sc.*, Elisa Sonehara,
M.Sc.**, Maria hereza Barbosa Cabral Micussi, M.Sc.***, Maria Bernardete Cordeiro de Sousa, D.Sc.*

*Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,**Docente da Universidade Potiguar, ***Doutoranda em Ciências da
Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Bolsista CAPES

Resumo Abstract
Fibromialgia (FM) é uma síndrome reumática, caracterizada Fibromyalgia (FM) is a non-inlammatory rheumatic disease
por dor, fadiga, alterações psicossomáticas e no estado de humor. A of unknown etiology, characterized by pain and fatigue, as well as
afetividade positiva e negativa aparecem como um fator importante psychosomatic and changes in mood. he positive and negative
por estarem relacionadas com o mecanismo de bem estar subjetivo afectivity appears as an important factor for being related to the
pessoal e interferir nos sintomas físicos e psicossomáticos. Objeti- mechanism of subjective well-being, physical and psychosomatic
vamos avaliar o nível de afeto positivo e negativo e correlacioná-los symptoms of FM. We aimed to assess the positive and negative
com o impacto da FM e a dor em mulheres com FM. Mediante afect and correlate with pain and the impact of FM in women.
estudo descritivo transversal, 39 mulheres com FM foram avaliadas Upon cross-sectional study 39 women with FM were evaluated with
quanto à afetividade através da Escala de Afeto Positivo e Negativo Positive and Negative Afect Schedule (PANAS), pain threshold
(PANAS), limiar de dor (algometria) e impacto da FM (FIQ). O (algometry) and Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). he
grupo de mulheres com FM apresentou média de afeto positivo woman with FM had lower positive afect and higher negative afect
menor e média de afeto negativo maior que aquela preconizada than recommended by the American Psychological Association
pela Associação Americana de Psicologia (APA). O teste de Spear- (APA). he Spearman correlation test showed correlation between
man evidenciou correlação entre: afeto positivo e limiar de dor (r positive afect and pain threshold (r = -0.32, p = 0.04), negative vs.
= -0,32; p = 0,04), afeto positivo vs negativo (r = 0,39; p = 0,01), positive afect (r = 0.39, p = 0.01), negative afect and FIQ (r = 0.72,
afeto negativo e FIQ (r = 0,72; p < 0,0001) e FIQ e limiar de dor (r p < 0.0001) and FIQ and pain threshold (r = -0.43, p = 0.005).
= -0,43; p = 0,005). Estes resultados evidenciam a associação entre hese data show signiicant change in positive and negative afect in
as variáveis afetivas e isiológicas e sugerem alteração importante women with FM, interfering in hyperalgesia and low functionality.
nos estados afetivos que pode estar interferindo nos mecanismos Key-words: ibromyalgia, affect, pain.
de percepção dolorosa e funcionalidade na FM.
Palavras-chave: ibromialgia, afeto, dor.

Endereço para correspondência: Rodrigo P.A. Freitas, Departamento de Fisiologia, Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Av. Sen. Salgado Filho, 3000 Lagoa Nova 59075-000 Natal RN, E-mail: rodrigopegado@gmail.com

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Introdução Material e métodos

Fibromialgia (FM) é uma síndrome reumática não Através de um estudo descritivo transversal, foram estu-
articular, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor dadas mulheres com diagnóstico clínico de FM, residentes na
musculoesquelética difusa, crônica e presença de sítios anatô- cidade de Natal, Rio Grande do Norte, que frequentaram o
micos especíicos dolorosos à palpação, denominados “tender setor de Fisioterapia do Hospital Universitário Onofre Lopes
points”, localizados especialmente no esqueleto axial. Dentre e a Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Potiguar no
os sintomas frequentemente associados ao quadro doloroso período de maio a setembro de 2012. O estudo foi realizado
encontram-se a fadiga, distúrbios do sono, rigidez muscular com 39 mulheres com ibromialgia com faixa etária de 32 a
matinal, ansiedade e depressão [1]. Além da presença de sinto- 71 anos. Todas as participantes possuíam diagnóstico médico
mas físicos, a FM também apresenta, comumente, alterações de FM predito através dos critérios do American College of
psicossomáticas e no estado de humor que se agravam em Rheumatology (1990) [1].
momentos de estresse físico ou emocional [2]. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
O I Consenso Brasileiro do Tratamento da Fibromialgia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte parecer
[3] preconiza a associação entre a terapêutica medicamento- número 274/2010. As participantes foram informadas sobre
sa, a orientação da prática de exercícios musculoesqueléticos os propósitos da pesquisa, podendo participar mediante o
e a terapia cognitivo-comportamental, respeitando-se a preenchimento e assinatura de um Termo de Consentimento
individualidade de cada caso. É necessário reportar então, Livre e Esclarecido.
os estudos entre as interações físicas e psicossomáticas de- Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: (a)
vido ao entrelace de sintomas, para que possamos escolher possuir diagnóstico médico de FM; (b) capacidade cognitiva
o melhor curso de tratamento. As habilidades emocionais de entender o intuito da pesquisa e de responder aos ques-
são variáveis preditivas de menor dor percebida e a literatura tionários; (c) não estar realizando a menos de 1 mês qualquer
descreve importante relação entre os estados afetivos e os tratamento isioterapêutico ou de reabilitação física. Adotamos
resultados clínicos em doenças como a FM, porém, esse tipo como critérios de exclusão: (a) comprovação de algum déicit
de relação ainda merece maior investigação [4,5]. Em meio cognitivo; (b) presença de diiculdades físicas e/ou orgânicas,
aos estudos de estados de humor e comportamento social, caso estas comprometam a aplicação dos questionários e
a afetividade positiva e negativa aparece como um fator limitem os testes algésicos; (c) portadoras de doenças endó-
importante por estarem relacionadas com o mecanismo de crinas, reumáticas e/ou auto-imune, tais como: síndrome
bem estar subjetivo pessoal, interação social e de relaciona- da fadiga crônica, pubalgia, dor pélvica crônica, depressão
mento interpessoal [5]. atípica, síndrome do cólon irritável, artrite reumatóide, gota
Pressman e Cohen [6] observaram em estudos de auto- e lúpus; (d) pacientes que fazem uso de medicamentos cor-
-relato de saúde, que indivíduos que apresentavam altos níveis ticoesteróides, analgésicos, antiinlamatórios, psicoativos e
de estados afetivos negativos e déicits de afeto positivo relata- antidepressivos na semana dos testes algésicos e da aplicação
vam mais sintomas do que aqueles com níveis normais. Essas dos questionários; (e) história de desordens psiquiátricas
alterações no estado de humor e afetividade estão relacionados como depressão grave, dependência de álcool ou substância
à piora dos quadros de hipersensibilidade a dor, baixa função entorpecente, esquizofrenia e desordens de personalidade.
física e distúrbios psicossomáticos [5,7,8]. Para todas as pacientes os procedimentos experimentais
Alguns estudos [9,10] têm mostrado que o afeto positivo foram aplicados na seguinte sequência: (1) aplicação dos ques-
possui um efeito benéico sobre indicadores psicológicos e tionários de afeto positivo e negativo (PANAS), questionário
isiológicos de bem-estar, especialmente em resposta a estí- de impacto da FM (FIQ); (2) testes algésicos com algometria.
mulos afetivos negativos e as suas consequências deletérias.
Contudo, existe agora uma forte evidência de que mulheres Aplicação dos questionários e exame físico
com dor crônica como na FM possuem grande diiculdade em
manter os níveis de afeto positivo devido aos episódios de dor. O afeto positivo e afeto negativo foram medidos pela
A vida afetiva merece, portanto, atenção durante a ava- PANAS [11]. A PANAS surge da necessidade de desenvolver
liação e prescrição do tratamento em mulheres com FM. medidas validadas, breves e fáceis de administrar para avaliar
Esse entendimento pode ser uma alternativa de intervenção alterações de afetividade na população. Esse questionário
pouco levada em consideração pelo isioterapeuta e demais consiste em um conjunto de palavras que descrevem diferentes
proissionais da saúde, mais de grande importância para en- sentimentos e emoções dispostas em duas escalas de humor
tender as relações entre os distúrbios psicossomáticos e físicos com 10 itens cada. Cada item possui uma pontuação de 1 a
encontrados na FM. Desse modo, objetivamos avaliar o nível 5 pontos (1 = “muito ligeiramente ou nada” a 5 = “extrema-
de afeto positivo e negativo e correlacioná-los com o impacto mente”) para indicar à medida que os entrevistados sentiram
da FM e o sintoma de dor em mulheres com FM. os sentimentos e emoções durante as semanas anteriores à
entrevista. Para a pontuação do afeto positivo, são somados os

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


8 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

itens 1, 3, 5, 9, 10, 12, 14, 16,17, e 19 da escala. A pontuação Resultados


pode variar de 10 a 50, com escores mais altos representando
níveis mais elevados de afeto positivo. A pontuação do afeto A Tabela I apresenta as características gerais da amostra. O
negativo é realizada somando os itens 2, 4, 6, 7, 8, 11, 13, grupo de mulheres com FM apresentou média de afeto positi-
15, 18, e 20, também variando de 10 – 50 onde os escores vo menor (27,7 ± 4,6) e média do afeto negativo maior (26,2
menores representam baixos níveis de afeto negativo. A As- ± 5,9) que a média preconizada pela APA (33,3 ± 7,2/17,4 ±
sociação Americana de Psicologia (APA) [12] deiniu que o 6,2 respectivamente) (Tabela I).
escore médio para afeto positivo é descrito como 33,3 ± 7,2
e para o afeto negativo média de 17,4 ± 6,2. Tabela I - Descrição de dados demográicos e das variáveis do estudo.
Foi utilizada a versão portuguesa da PANAS, validada por Variáveis Fibromialgia (n = 39)
Galinha et al. [12]. A análise de consistência interna calculou M/DP
um valor de alpha de Conbrach a= 0,86 para subescala de Idade 53,1 ± 9,5
afeto positivo e a= 0,91 para a subescala de afeto negativo.
Estado civil (%)
A capacidade funcional foi avaliada pela versão brasileira
Casada 56,41%
do FIQ, validada por Marques et al. [13]. Este é um questio-
Solteira 15,38%
nário auto-aplicável que compreende aspectos funcionais do
Viúva 10,25%
indivíduo ao longo das últimas semanas, composto por três
Divorciada 15,38%
questões do tipo escala Likert (escala de respostas gradativas)
Não respondeu 2,56%
e sete perguntas classiicadas numa escala visual analógica
Renda (%)
(EVA). Todas as escalas variam de 0 a 10, onde uma pon-
> 4 salários mínimos 25,64%
tuação alta indica elevado impacto negativo e uma maior
2 a 3 salários mínimos 41,02%
severidade dos sintomas. O score total do FIQ é graduado de
0 a 100 pontos, sendo as maiores pontuações relacionadas até 1 salário mínimo 33,33%
ao alto impacto da doença na funcionalidade do indivíduo, FIQ 63,5 ± 16,9
consequentemente piorando sua qualidade de vida [14]. Limiar de dor 1,8 ± 0,6
O teste de sensibilidade dolorosa foi realizado nos 18 Afeto positivo 27,7 ± 4,6
pontos preditos pelo ACR, como preconizado por Okifuji Afeto negativo 26,2 ± 5,9
et al. [15] com intervalo de cerca de 5 a 10 segundos entre M ± DP; dados dispostos em média e desvio padrão; FIQ: questionário
eles, de forma perpendicular a pele, aplicados pelo mesmo de impacto da fibromialgia; Limiar de dor em kg/cm2.
avaliador devidamente capacitado. Foi utilizado um algô-
metro de pressão (Pain Diagnostics and hermography®, Foi observada correlação negativa moderada entre o estado
Great Neck, NY, USA) com uma ponta de borracha de 1 de afeto positivo e o limiar de dor (r = -0,32; p = 0,04) (Figura
cm de diâmetro, sendo quantiicados em termos de limiar 1). O estado de afeto positivo apresentou correlação positiva
à dor à pressão, na unidade de kg/cm2. O limiar de dor é moderada quando correlacionado ao estado afetivo negativo (r
deinido como o ponto em que um estímulo de pressão cada = 0,39; p = 0,01) (Figura 1). A análise dos dados demonstrou
vez maior e não dolorosa torna-se uma sensação de pressão também correlação positiva forte entre o afeto negativo e o
dolorosa [16]. O examinador posiciona a ponta de borracha FIQ, indicando que quanto maior o impacto da FM sob a
sobre a área de exame e gradualmente aumenta a pressão com funcionalidade dos pacientes maior é o estado de afetividade
aproximadamente 1 kg/cm2 por segundo. O limiar de dor foi negativa (r = 0,72; p < 0,0001) (Figura 1). O FIQ também
descrito quando a paciente relatar início da percepção dolorosa apresentou correlação moderada negativa em relação ao limiar
através da frase “comecei a sentir dor”. Foi solicitado que as de dor (r = -0,43; p = 0,005), demonstrando que quanto menor
participantes repetissem exatamente essa frase para completa o limiar de dor maior será o impacto sob a funcionalidade das
padronização do exame. mulheres com FM. Não foi observado correlação entre o afeto
negativo e dor.
Análise estatística
Discussão
A análise estatística dos dados foi realizada através do uso
do software estatístico SPSS versão 19.0 e GraphPad Prism 5. O objetivo deste estudo foi avaliar o papel potencial de
As variáveis quantitativas contínuas foram avaliadas segundo alterações na afetividade positiva e negativa em mulheres com
os seus valores médios e seus respectivos desvios-padrão. A FM e correlacioná-la com a saúde física mediante avaliação
normalidade de distribuição da amostra foi avaliada através da dor e funcionalidade. Foram observados níveis baixos de
do teste de Shapiro-Wilk. Para testar a correlação entre as afetividade positiva bem como níveis altos de afetividade ne-
variáveis foi utilizado o teste de correlação de Spearman. O gativa nas mulheres com diagnóstico clínico de ibromialgia.
nível de signiicância adotado foi de 5%. Essas alterações no estado afetivo se correlacionam com a

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 9

sensibilidade dolorosa elevada, quantiicada a partir do limiar As pacientes com FM possuem percentagens elevadas de
doloroso à pressão, e a funcionalidade das pacientes. comorbidades psiquiátricas como depressão e distúrbios de
ansiedade, apresentando uma tendência, portanto, de relatar
Figura 1 - Correlações de Sperman signiicativas entre as variáveis de níveis mais elevados de afeto negativo e menores de afeto
afeto positivo e negativo e sensibilidade dolorosa à pressão (limiar de positivo [5]. Estudos [17,18] descrevem que as alterações de
dor em Kg/cm2) e impacto da ibromialgia na funcionalidade (FIQ). afeto negativo em relação aos episódios de dor nem sempre são
consistentes entre indivíduos de vários grupos de patologias,
4 como ocorre na artrite reumatoide. Por exemplo, nem todos os
r= -0,32
p=0,04 pacientes com níveis elevados de dor possuem problemas afe-
3 tivos negativos, corroborando com nosso estudo onde não foi
encontrada correlação signiicativa entre dor e afeto negativo.
Dor em Kg/cm2

Strand et al. [18] ressalta em estudo realizado em pacientes


2
com artrite reumatoide que o afeto positivo possui grande
inluencia na redução do afeto negativo durante um quadro
1 de dor crônica e pode ser um fator de resiliência, ajudando
pacientes que possuem quadros álgicos a tolerarem melhor do
0 que aqueles com níveis mais baixos de afeto positivo.
0 10 20 30 40 Em mulheres com FM a presença de dor crônica parece
Afeto Positivo ter correlação importante com alterações afetivas positivas
40 [19], resultado também encontrado em nosso estudo. Em
r=0,39
p=0,01 pesquisa realizada por Finan et al. [19] os pacientes com FM
30
apresentaram perturbação da afetividade positiva quando
comparado como grupo de pacientes com osteoartrose. O
Afeto Negativo

déicit na manutenção do estado afetivo positivo parece ser


20
causado por incapacidade de manter o estado de afeto posi-
tivo em face da dor e dos altos níveis de afetividade negativa.
10 Observamos então a dependência da afetividade positiva
aos sintomas de hipersensibilidade à dor (hiperalgesia) e a
0 manutenção de altos níveis de afeto negativo, possivelmente,
0 10 20 30 40 causados pelos distúrbios de humor consideravelmente pre-
Afeto Positivo sentes na FM como depressão, ansiedade e estresse [17-19].
100 Ainda existe controvérsia em torno da relação afeto po-
r=0,72 sitivo vs afeto negativo e a melhor forma de mensurar essas
80 p<0,0001 variáveis. O estudo do afeto positivo separadamente do afeto
negativo nos proporciona uma oportunidade de discriminar
60 entre estados afetivos que podem caracterizar melhor as dii-
FIQ

culdades emocionais de pacientes com FM [19]. O Modelo


40 Dinâmico de Afeto (DMA) [17] descreve que o espaço afetivo
entre o afeto positivo e afeto negativo ica diminuído em
20
momentos de dor ou de outras formas de estresse, resultando
0
numa relação bipolar entre os dois estados de afeto, geralmente
0 10 20 30 40 representado por altos níveis de afeto negativo e baixos níveis
Afeto Negativo de afeto positivo, fato claramente encontrado em nosso estu-
do. Neste caso, problemas com a regulação afetiva seria mais
4
r= -0,43 aparente durante os dias em que ocorre a piora do quadro de
p=0,005 dor e os pacientes com FM frequentemente relatam níveis
Dor em Kg/cm 2

3 mais elevados de dor do que indivíduos com outras condições


de dor crônica. Em adição aos efeitos potencialmente nocivos
2 de um déicit de afeto positivo, há alguma razão para suspeitar
que uma elevação na afetividade positiva possa ter consequ-
1 ências negativas para alguns pacientes com FM. Evidências
recentes [20,21] em pacientes com FM sugerem que eventos
positivos estão associados com aumento de notiicações de
0
0 20 40 60 80 100 fadiga no dia seguinte.
FIQ

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10 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

O entendimento atual das relações afetivas da FM e seus 8. Kratz AL, Davis MC, Zautra AJ. Pain acceptance moderates the
sintomas físicos estão longe de ser compreendidos. A ma- relation between pain and negative afect in osteoarthritis and
nutenção de um estado bom de afetividade positiva mostra ibromyalgia patients. Ann Behav Med 2007;33(3):291-301.
alguns benefícios para pacientes com FM, mas há pouca 9. Fredrickson BL, Mancuso RA, Branigan C, Tugade MM. he
undoing efect of positive emotions. Motivation and Emotion
informação sobre como a manutenção desse estado varia de
2000;24:237-58.
dia para dia e se os efeitos benéicos da afetividade positiva são 10. Tugade MM, Fredrickson BL. Resilient individuals use positive
sustentados a partir de um dia para o outro [18-19]. emotions to bounce back from negative emotional experiences.
Observa-se, portanto, uma alteração importante nos J Pers Soc Psychol 2004;86:320 –33.
estados afetivos positivos e negativos em mulheres com FM, 11. Watson D, Clark LA, Tellegen A. Development and validation
correlacionando-se com o sintoma de hipersensibilidade à dor of brief measures of positive and negative afect: the PANAS
e à funcionalidade. Também foi observada uma associação scales. J Pers Soc Psychol 1988;54:1063–70.
entre os estados de afeto positivo e negativo. Trabalhos futuros 12. Galinha IC, Pais-Ribeiro JL. Contribuição para o estudo da
são necessários para elucidar os possíveis mecanismos subja- versão portuguesa da Positive and Negative Afect Schedule
(PANAS): II – Estudo psicométrico. Análise Psicológica
centes à complexidade das alterações afetivas em pacientes
2005;2:219-27.
com FM e as relações destas com os sintomas físicos.
13. Marques AP, Santos AMB, Assumpção A, Matsutani LA, Lage
LV, Pereira CAB. Validation of the brazilian version of the Fi-
Conclusão bromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). Rev Bras Reumatol
2006;46:24-31.
As mulheres com FM apresentam alteração importante 14. Burckhardt CS, Clark SR, Bennett RM. he Fibromyalgia Im-
nos estados afetivos positivos e negativos associados ao sinto- pact Questionnaire: development and validation. J Rheumatol
ma de hiperalgesia e de baixa funcionalidade. Observou-se a 1991;18:728-33.
relação da afetividade positiva aos sintomas de dor e a manu- 15. Okifuji A, Turk JD, Sinclair D, Starz TW, Marcus DA. A
tenção de índices altos de afetividade negativa em pacientes standardized manual tender point survey. I. Development
and determination of a threshold point for identiication of
com grande impacto da FM.
positive tender points in Fibromyalgia Syndrome. J Rheumatol
1997;24:377-383.
Referências 16. Eglof N,  Klingler N,  von Känel R,  Cámara RJ,  Curatolo
M, Wegmann B et al. Algometry with a clothes peg compa-
1. Wolfe F,  Clauw DJ,  Fitzcharles MA,  Goldenberg DL,  Katz red to an electronic pressure algometer: a randomized cross-
RS,  Mease P  et al. The American College of Rheumato- -sectional study in pain patients. BMC Musculoskelet Disord
logy preliminary diagnostic criteria forfibromyalgia  and 2011;25;12:174.
measurement of symptom severity. Arthritis Care Res (Ho- 17. Zautra A, Smith B, Aleck G, Tennen H. Examinations of
boken) 2010;62(5):600-10. chronic pain and afect relationships: applications of a dynamic
2. Tanriverdi F, Karaca Z, Unluhizarci K, Kelestimur F. he model of afect. J Consult Clin Psychol 2001;69:786-95.
hypothalamo-pituitary-adrenal axis in chronic fatigue syndrome 18. Strand EB, Zautra AJ, horesen M, Odegard S, Uhlig T, Finset
and ibromyalgia syndrome. Stress 2007;10:13-25. A. Positive afect as a factor of resilience in the pain-negative
3. Heymann RE, Paiva ES, Helfenstein-Junior M, Pollak DF, efect relationship in patients with rheumatoid arthritis. J
Martinez JE, Provenza JR, Paula AP et al. Consenso brasileiro do Psychosom Res 2006;60:477–84.
tratamento da ibromialgia. Rev Bras Reumatol 2010;50:56-66. 19. Finan PH,  Zautra AJ,  Davis MC. Daily Afect Relations in
4. Ruiz-Aranda D, Salguero JM, Fernández-Berrocal P. Emotional Fibromyalgia Patients Reveal Positive Afective Disturbance.
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vage SV,  Sigal LH. he relationship between  afect  balan- ibromyalgia, rheumatoid arthritis, and osteoarthritis. Health
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7. Furlong LV, Zautra A, Puente CP, López-López A, Valero PB.
Cognitive-afective assets and vulnerabilities: two factors inluen-
cing adaptation to ibromyalgia. Psychol Health 2010;25:197-
212.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 11

Artigo 2

Análise da qualidade de vida e distúrbios do sono


em mulheres menopausadas residentes
no município de Apodi, RN: dados preliminares
Analysis of quality of life and sleep disorders in postmenopausal
women residents at Apodi/RN: preliminary data
Pedro Paulo Silveira Souza*, Vanessa Patrícia Soares de Sousa**, Elizabel de Souza Ramalho VianA***

*Mestrando do Programa de pós-graduação em Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Docente da Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Norte (FACISA), ***Docente adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo Abstract
Introdução: As mulheres menopausadas, ao atingirem maior Introduction: he menopausal women, to achieve longer life
expectativa de vida, estão expostas por períodos mais longos às trans- expectancy, are exposed for longer periods to changes in bodily,
formações corporais, psicológicas e sociais, que trazem perturbações psychological and social disturbances that bring in their relationship
na sua relação com o mundo, podendo interferir na sua qualidade with the world, and can interfere with your quality of life and
de vida e de sono. Objetivo: Avaliar a qualidade de vida e distúrbios sleep. Objective: To evaluate quality of life and sleep disturbances
do sono em mulheres menopausadas no município de Apodi/RN. in postmenopausal women in the city of Apodi/RN. Methodology:
Metodologia: A pesquisa desenvolvida foi descritiva, observacional, he survey was developed descriptive, observational, cross-sectional
transversal, de caráter quantitativo. Foram aplicados o Questionário quantitative character. We applied the Utian Quality Of Life Ques-
Utian Quality Of Life (UQOL) e a Escala de Sonolência de Epworth tionnaire (UQOL) and Epworth Sleepiness Scale (ESS). Statistical
(ESE). A análise estatística foi de caráter descritivo, com seus res- analysis was descriptive in character, with their absolute and relative
pectivos valores absolutos e relativos, através da descrição de média, values, by describing the mean, standard deviation and percentages
desvio padrão e porcentagens dos valores colhidos na pesquisa. of the values collected in the survey. Results: he study included
Resultados: Participaram do estudo 20 mulheres menopausadas, com 20 postmenopausal women with a mean age of 59.1 (± 4.3) years,
média de idade de 59,1 (± 4,3) anos, variando de 51 a 65 anos. Os ranging from 51 to 65. he areas of UQOL reached only about 50%
domínios do UQOL atingiram apenas cerca de 50% do seu escore of your inal score maximum. Regarding ESS scores, 50% of evalu-
inal máximo. Em relação aos escores da ESE, 50% das avaliadas ated showed excessive daytime sleepiness. Conclusion: he women
apresentaram sonolência diurna excessiva. Conclusão: As mulheres interviewed had impaired quality of life and relative propensity for
entrevistadas apresentaram prejuízo da qualidade de vida e uma excessive daytime sleepiness.
relativa propensão para sonolência diurna excessiva. Key-words: quality of life, sleepiness, menopause.
Palavras-chave: qualidade de vida, sonolência, menopausa.

Endereço para correspondência: Pedro Paulo Silveira Souza, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Av. Senador Salgado Filho,
3000 Caixa Postal 1524, 59072-970 Natal RN, E-mail:  pedrofwt@gmail.com

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12 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução regular base de menos de 6 horas de sono por dia, aumentando


riscos de problemas a curto prazo, como acidentes ocasionados
Com o aumento da expectativa de vida feminina, as mu- devido a fadiga e a longo prazo, alterações como hipertensão,
lheres passaram a estar mais sujeitas a mudanças no corpo diabetes e doenças cardiovasculares. Além do mais, altas taxas
e mente, o que pode trazer mudanças no seu estilo de vida. de distúrbios do sono, durante a transição da menopausa,
surgindo então dúvidas, medos eventuais, viuvez, solidão e tendem a afetar negativamente a qualidade de vida (QV)
uma maior incidência de doenças crônico-degenerativas [1]. dessas mulheres [8].
As fases do desenvolvimento humano são passíveis de iden- O fenômeno qualidade de vida possui várias dimensões,
tiicação, um exemplo na vida da mulher é a menarca como incluindo pelo menos três: física, psicológica e social, cada
marcador do início da puberdade. Dentre as modiicações uma comportando vários aspectos. Destes, a saúde percebida
biológicas observadas, a mais investigada nos dias atuais é a e a capacidade funcional são variáveis importantes que devem
menopausa, conirmada a partir de 12 meses consecutivos ser avaliadas. Os estados crônico-degenerativos levam à inca-
sem menstruação [2]. pacidade e à deterioração funcional. Estereótipos relacionados
Nesta fase, a mulher experimenta diversas consequências ao envelhecimento comprometem a possibilidade de uma QV
do envelhecimento, entre elas: a depleção dos folículos ova- melhor, além do mais, as pessoas tendem a ignorar sintomas
rianos, com consequente falência funcional dos ovários, que como tristeza e dor. Isto acarreta uma maior incidência na
ocorre de forma gradativa dos 35 aos 65 anos. Raramente os referência de estresse. Este, por sua vez, atua na produção do
ciclos menstruais são interrompidos abruptamente, existindo hormônio cortisol em quantidades acima dos níveis ótimos
a lutuação hormonal com irregularidades dos ciclos. Apesar para o organismo, levando a privação do sono, mudança de
da grande evolução cientíica nesta área, a menopausa ainda humor, irritabilidade e consequente déicit na realização de
se apresenta como uma imagem negativa para a mulher suas atividades básicas da vida diária [9].
atrelada a preconceitos, resultando em angústia, ansiedade Em resposta a esses efeitos negativos advindos da alta
e depressão [3]. produção de cortisol, os exercícios físicos, bem como a rea-
Para o bom estado geral da mulher, é decisivo o equilíbrio lização de Fisioterapia, se mostram como podem contribuir
hormonal. Nesta perspectiva, o sistema endócrino é respon- para um bem estar psico-social, incluindo efeitos como a
sável pela existência de uma dependência entre as glândulas melhora da performance nas Atividades da Vida Diária
que produzem hormônios, como por exemplo, o hormônio (AVDs), interação social, distração, mecanismos isiológicos,
luteinizante, produzido pela hipóise (glândula pituitária), que aumento de opióides endógenos e efeitos analgésicos das
provoca a maturação das glândulas reprodutivas e a liberação encefalinas [10].
de hormônios sexuais (estrogênio e progesterona) pelo ovário. Diante do exposto, torna-se relevante investigar a qualida-
Com o avançar da idade, a mulher tem diminuída a resposta de de vida e distúrbios do sono em mulheres menopausadas
dos ovários ao estímulo da hipóise, e,consequentemente, os com o objetivo de contribuir para um melhor conhecimento
ovários secretam quantidades cada vez menores de estrogênio cientíico deste fenômeno, assim como direcionar melhor a
e de progesterona [4]. atuação da isioterapia para esta clientela.
O climatério caracteriza-se por alterações clínicas e
metabólicas decorrentes da falência ovariana. Dentre os Material e métodos
sintomas observados, após a menopausa, encontram-se os
distúrbios do sono [5] e, para tanto, há uma série de fato- A pesquisa caracterizou-se como descritiva, observacional,
res que podem afetar a qualidade do sono feminino, como transversal, de caráter quantitativo. Esta pesquisa foi realiza-
doenças neurológicas, alterações metabólicas, elevação do da no município de Apodi/RN. Fizeram parte deste estudo
peso corporal, associada a baixo grau de exercício, e também mulheres menopausadas residentes no município do Apodi/
depressão, estresse estilo de vida adotado e alterações nos RN A amostra do estudo foi constituída por 20 voluntárias re-
níveis hormonais [6]. crutadas através de visitas as unidades básicas de saúde (UBS)
A menopausa ainda pode desencadear uma diiculdade do referido município. Como critérios de inclusão foram
para adormecer, sono fracionado, incapacidade de retomar o adotados os seguintes requisitos: mulheres com idade entre 50
sono, problemas em acordar, fadiga e sonolência diurna [5]. e 65 anos e um período mínimo de um ano de amenorréia,
A sonolência diurna diiculta a realização de tarefas diárias, sem uso de Terapia de Reposição Hormonal. Foram excluídas
causando irritabilidade, mau-humor e problemas de memória. do estudo aquelas voluntárias que desistiram de participar da
Além do mais, sudorese noturna frequente e excessiva, tem pesquisa mesmo após a assinatura do TCLE ou apresentaram
sido associada a graves distúrbios do sono fragmentação do incapacidade de compreender e responder os itens inclusos
mesmo e vigília noturna em mulheres na pós-menopausa [7]. nos questionários.
Os distúrbios do sono são mais comuns durante o declínio Para a avaliação das variáveis propostas foram utilizados o
da fertilidade, quando comparado aos anos pré-menopausa5. Questionário Utian Quality of Life (UQOL), para a avaliação
Muitas mulheres, durante a menopausa, adquirem um hábito da qualidade de vida, e a Escala de Sonolência de Epworth

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 13

(ESE), para a averiguação de sonolência diurna excessiva na pesquisa. Para tanto, utilizou-se o Software SPSS for
(SDE). Windows, versão 17.0.
O Utian Quality of Life (UQOL) é um questionário
elaborado e validado para quantiicação da qualidade de Resultados
vida e bem-estar na peri e pós-menopausa. Esse instru-
mento contém 23 perguntas que compreendem quatro A média de idade das participantes foi de 59,1 ± (4,3) anos,
domínios distintos da qualidade de vida: ocupacional, variando de 51 a 65 anos. A caracterização sociodemográica
saúde, sexual e emocional. vale ressaltar que a pontuação da amostra encontra-se descrita na Tabela I.
máxima que podo ser atingida para esses domínios é de
respectivamente 35, 35, 15 e 30 pontos. O UQOL é uma Tabela I - Caracterização sociodemográica da amostra estudada,
ferramenta satisfatória para uso na prática clínica, prin- em seus valores relativos e absolutos (n = 20). -
cipalmente pela fácil aplicabilidade. Também tem sido N %
evidenciada sua utilidade em pesquisas, demonstrando ser Raça
um instrumento completo e especíico para avaliação da Negra 7 35,0
qualidade de vida em mulheres climatéricas de diferentes Parda 5 25,0
culturas. As possibilidades de respostas do UQOL variam Branca 8 40,0
de 1 (Muito falso) a 5 (Muito verdadeiro), então baseado Amarela - -
nas respostas, é computado um escore inal e escores para Estado civil
cada um dos domínios considerados. Para cálculo dos Casada 15 75,0
escores inais, as frases formuladas em sentido negativo Solteira 5 25,0
devem ser invertidas em suas marcações, de forma que o 5 Características clínicas
(Muito verdadeiro) seja computado como 1 (Muito falso). Hipertensão Arterial Sistê-
A composição dos diferentes domínios é obtida através mica (HAS) 9 45,0
da soma dos valores das questões especíicas para cada Acidente Vascular Encefá-
domínio. Quanto mais elevado for determinado escore, lico (AVE) 2 10,0
assume-se que melhor é a qualidade de vida relacionada a Diabetes
esse domínio em particular [11]. Sem Relatos 3 15,0
Para avaliação dos distúrbios do sono utilizou-se a 10 50,0
Escala de Sonolência de Epworth (ESE) - validada para
língua portuguesa por Bertolazi et AL, 200912. Esta escala Com relação aos domínios do UQOL, considerando o
quantifica a propensão para adormecer durante 8 situa- escore inal médio de cada domínio com seus respectivos
ções rotineiras a saber: sentado e lendo; vendo televisão; escores máximos, o domínio que obteve a melhor média
sentado em lugares públicos; andando de trem, carro ou foi o domínio Saúde, seguido pelo Sexual, Emocional,
ônibus por uma hora sem parar; deitando-se à tarde para e por im, o Ocupacional. O escore inal médio deste
descansar quando as circunstâncias permitem; sentado questionário foi de 64,25 ± (9,8). As médias dos quatro
e conversando com alguém; sentado calmamente após domínios do UQOL com seu respectivo desvio padrão se
o almoço sem ter tomado bebida alcoólica; parado na encontra na Tabela II.
direção de um carro, por alguns minutos, em trânsito
intenso. A distinção é feita entre adormecer e sentir-se Tabela II. Média e desvio padrão (DP) dos valores obtidos para os
simplesmente cansado. A pessoa deve fornecer uma nota escores dos domínios do UQOL em mulheres menopausadas (n=20).
de zero a três, quantificando sua tendência a: adormecer Domínios Média ±( DP)
em nenhuma chance = 0; pequena = 1; moderada = 2 e Ocupacional 18,8 ± 5,1
alta chance de cochilar = 3. As respostas atingem valores Saúde 19,9 ± 3,5
máximos de 24 e mínimos de 0 pontos, sendo 10 o divisor
Sexual 8,5 ± 2,3
da normalidade.
Emocional 16,9 ± 0,9
Todas as voluntárias foram informadas a respeito dos
objetivos e procedimentos da pesquisa e assinaram um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com De acordo com os valores inais obtidos pela aplicação
a resolução de 196/96 – Conselho Nacional de Saúde. Este da Escala de Sonolência de Epworth (ESE), a média dos
estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa, sob o valores foi de 11,45 ± (2,9) pontos, variando desde 8 até
registro 096/2007. 17 pontos. As porcentagens referentes à presença ou não
A análise estatística foi de caráter descritivo com seus da Sonolência Diurna Excessiva (SDE) estão representadas
respectivos valores absolutos e relativos, através da descrição no Gráico 1.
de média, desvio padrão e porcentagens dos dados coletados

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14 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Gráico 1 - Porcentagem da amostra para a presença ou não de SDE terapia entra como modalidade de exercício, contribuindo
em mulheres menopausadas segundo dados colhidos pela Escala de na melhora da aptidão física ou funcional, que por sua vez
Sonolência de Epworth (ESE) (n = 20) vai agir beneiciando corpo e mente, neste caso a mulher
menopausada. A aptidão funcional dessas mulheres necessá-
rias para uma boa vida incluindo um sono adequado, pode
ser adquirida pela prática de exercícios físicos regulares, que
combate e minimiza os efeitos maléicos do envelhecimen-
to, otimizando, pois a qualidade de vida em todos os seus
âmbitos [15].
O treino de força associado ao exercício aeróbico desem-
penhado regularmente, tem efeito positivo sobre a saúde óssea
da mulher pós-menopausa, pelo aumento de massa muscular
e força, equilíbrio dinâmico diminuindo o risco de fraturas
1º Com SDE (50%) 2º Sem SDE (50%)
ósseas [16].
SDE (Sonolência Diurna Excessiva) A interação entre sono e sistema imunológico tem sido
sistematicamente estudada na última década. Essa relação
Discussão bidirecional, baseia-se na letargia e forte sonolência, que
ocorre durante infecções e condições inlamatórias e na maior
Os múltiplos aspectos do processo de envelhecimento e da suscetibilidade a infecções como consequência da privação do
velhice justiicam a noção de que o estado de saúde transcende sono. Um número crescente de estudos vem sendo realizado
os limites puramente biológicos e, mais que o controle das para avaliar o impacto do sono sobre a qualidade de vida, a
doenças, o objetivo maior é a melhora da qualidade de vida. A morbidade e a mortalidade [17-20].
biologia humana, o estilo de vida, a organização dos serviços Os dados do presente estudo, no que diz respeito à análise
de saúde de uma sociedade que rodeia o individuo contribuem dos escores da Escala de Sonolência de Epworth, nos revelaram
de maneira signiicativa para obtenção e manutenção de saúde que metade das mulheres pesquisadas obtiveram pontuação
que, na verdade, é uma parte da vida diária [13]. acima do número divisor de normalidade o que conigurou
As mulheres além de apresentar os efeitos advindos do metade delas apresentando Sonolência Diurna Excessiva
envelhecimento, ainda sofrem em seu organismo consequ- (SDE).O termo sonolência é usado neste estudo no sentido da
ência da desestabilidade hormonal gerada pela menopausa, propensão em cochilar ou adormecer quando a intenção é de
o que por si só já se mostra um agravante na saúde destas. Os se manter acordado; deve ser distinta das sensações subjetivas
resultados desta pesquisa apontam para dados preocupantes, de cansaço ou fadiga, as quais nem sempre estão relacionadas
tendo em vista que com relação aos domínios do UQOL, que à sonolência [21].
avaliam a qualidade de vida na mulher menopausada, todos É sabido que o envelhecimento traz mudanças tanto
os quatro domínios chegaram a aproximadamente 50% do no campo físico quanto mental, sendo o estresse um fator
escore máximo. Isto indica que as menopausadas apresentaram presente na vida das menopausadas, o que por sua vez afeta a
déicits nos domínios Ocupacional, Sexual, Emocional e de produção de cortisol, aumentando-a, predispondo essas mu-
Saúde, afetando a qualidade de vida é dessas mulheres. Estes lheres a alteração de memória, cognição, além do surgimento
dados corroboram em parte com o estudo de Smith et al, 2006 da depressão e distúrbios do sono [22].
[13], que realizaram uma pesquisa para avaliar a qualidade de Transtornos do sono nos quais a privação do sono é a carac-
vida de 398 mulheres menopausadas das quais 85 não faziam terística principal, como a insônia e a apnéia do sono, resultam
terapia de reposição de hormonal apresentando um escore em alterações importantes no sistema imunológico. Silva [23]
inal médio de 81,9, indicando um prejuízo na qualidade de defende a inclusão de um programa regular de atividade física,
vida dessa população estudada. Vale ressaltar que a amostra visando minimizar a hipocinesia e o aparecimento de doenças,
do estudo de Smith et al foi cerca de quatro vezes maior do além de ter demonstrado respostas favoráveis para um enve-
que ao do nosso estudo. lhecimento saudável, promovendo um reengajamento da vida
A maneira mais eicaz de fazer com que o idoso tenha a dos idosos em seu contexto social, incrementando a própria
qualidade de vida, a aceitação e a inserção na família e na auto-estima, tomando-os mais abertos, bem humorados e
sociedade é pelo estímulo para a atividade física. Dentro desse emocionalmente mais equilibrados diante dos fatos da vida,
contexto, o estímulo ao exercício faz com que as pessoas vivam contribuindo para a melhora da qualidade do sono e redução
com mais qualidade. Os idosos podem e devem exercitar-se dos sintomas da depressão. Sendo assim, a Fisioterapia atuaria
adequando suas atividades à sua idade [14]. como facilitador da otimização da capacidade funcional das
A aptidão física depende de diversos componentes, em menopausadas, além da produção de endorinas melhorando
especial a força muscular, a lexibilidade, a agilidade, o o humor, diminuindo assim a irritabilidade, estresse, man-
equilíbrio, a capacidade aeróbia e a coordenação. A Fisio- tendo os níveis de cortisol adequados e proporcionando um

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 15

sono revitalizante. 8. Vgontzas AN, Liao D, Bixler EO, Chrousos GP, Vela-Bueno A.
Embora este estudo tenha mostrado resultados impor- Insomnia with objective short sleep duration is associated with
tantes com relação à qualidade de vida e sono em mulheres a high risk for hypertension. Sleep 2009;32:491-7.
menopausadas, algumas limitações devem ser citadas, como 9. Gapstur RL. Symptom burden: a concept analysis and implica-
tions for Oncology Nurses. Oncol Nurs Forum 2007;34:673-80.
o pequeno número amostral que não permite extrapolar os
10. Pereira WMP, Shmitt ACB, Buchalla CM, Reis AOA, Aldrighi
resultados para um grande contingente de mulheres meno- JM. Ansiedade no climatério: prevalência e fatores associados.
pausadas. Portanto, sugere-se que se façam estudos com uma Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum 2009;19(1):89-
amostra mais signiicativa. 97.
11. Galvão LLLF. Tradução, adaptação e validação da versão brasi-
Conclusão leira do questionário utian qualityof life (UQOL) para avaliação
da qualidade de vida no climatério. [Dissertação]. Natal: Uni-
Diante das informações apresentadas neste estudo, o versidade Federal Rio Grande do Norte; 2007.
quadro geral aponta para um prejuízo da QV e uma relativa 12. Bertolazi AN, Fagondes SC, Hof LS, Pedro VD, Barreto SSM,
Jhons MW. Validação da escala de sonolência de Epworth em
propensão para sonolência diurna excessiva nas mulheres
português para uso no Brasil. J Bras Pneumol 2009;35(9).
menopausadas. A implementação de estratégias de prevenção
13. Smith AJ, Hall DR, Grové C. Postmenopausal hormone therapy
e tratamento isioterapêutico através de ações como palestras and quality of life. International Journal of Gynecology and
educativas, ginástica laboral, exercício físico e programações Obstetrics 2006:95:267-71.
de lazer regulares e/ou encaminhamento para tratamento 14. Tavares DMS et al. Incapacidade funcional entre idosos resi-
especializado irão contribuir sobremaneira com a melhoria dentes em um município do interior de Minas Gerais. Texto
da qualidade de vida e de sono em mulheres menopausadas. Contexto Enfermagem 2007:16(1):32-9.
15. Benedetti TBR et al. Valores Normativos de Aptidão Funcional
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nha: Faculdade de Ciências do Esporte e Educação Física; 2008.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


16 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 3

Recursos isioterapêuticos disponíveis


para trabalho de parto: uma revisão
Physiotherapy resources available for labor: a review
Victor Hugo Brito de Oliveira*, Débora Luciana dos Santos Brandão**, Gentil Gomes da Fonseca Filho*,
Maria hereza Albuquerque B. C. Micussi***, Elizabel de Souza Ramalho Viana****, Lílian Lira Lisboa*****

*Graduando do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Fisioterapeuta graduada em Fisioterapia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ***Doutoranda do Programa de pós-graduação em Ciências da Saúde - Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Norte, ****Docente adjunta do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, *****Docente assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo Abstract
Ao longo do tempo, medidas não farmacológicas têm sido hroughout time, nonpharmacological measures have been used
utilizadas para reduzir a dor do parto. Apesar dos relatos de que to reduce the pain of childbirth. Despite reports that some of these
alguns destes métodos reduzem a dor, aumentam a satisfação methods reduce pain, increase customer satisfaction and improve
materna e melhoram os resultados obstétricos, estes têm recebido maternal obstetric outcomes, they have received little attention in
pouca atenção na literatura médica e não são comumente disponí- the medical literature and are not commonly available to women in
veis para as mulheres no Sistema Único de Saúde. O obetivo deste the Sistema Único de Saúde. he objective of this literature review
estudo é realizar uma revisão da literatura sobre o tema, buscando was to study the efects of physiotherapeutic resources during labor.
veriicar o que a literatura apresenta sobre os efeitos dos recursos he review allowed us to conclude that upright walking, breathing
isioterapeuticos durante o trabalho de parto. A revisão nos permitiu exercises, TENS, massage, baths, cryotherapy and acupuncture,
concluir que a posição vertical, deambulação, exercícios respiratórios, therapeutic resources noninvasive ar able to reduce the perception
TENS, massagens, banhos de imersão, crioterapia e acupuntura, são of pain, shorten labor and provide comfort of patients.
recursos terapeuticos não-invasivos capazes de reduzir a percepção Key-words: childbirth, pain, physiotherapy.
dolorosa, diminuir o tempo do trabalho de parto e proporcionar
conforto às parturientes.
Palavras-chave: parto, dor, isioterapia.

Endereço para correspondência: Lílian Lira Lisboa Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Senador Salgado Filho, 3000, 59072-970
Natal RN E-mail: lisboa.lilian@gmail.com

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 17

Introdução apontar os efeitos colaterais que os medicamentos analgésicos


e anestésicos podem causar à mãe e ao feto durante o processo
Historicamente, o acompanhamento do trabalho de parto de parturição [5,6].
e parto ocorria no ambiente domiciliar, no qual a mulher A intervenção isioterapêutica na assistência obstétrica de
era apoiada pelos familiares e assistida por outra mulher de baixo risco valoriza a responsabilidade da gestante no processo,
maior experiência ou a parteira, que conheciam a gravidez por meio do uso ativo do próprio corpo. A mobilidade cor-
e o puerpério por experiência própria. No século XX, mais poral durante o processo de parturição envolve interação de
expressivamente depois da Segunda Guerra Mundial, em fatores isiológicos, psicológicos, culturais e principalmente o
nome da redução das elevadas taxas de mortalidade materna apoio e orientação da equipe obstétrica. A ação do isiotera-
e infantil, ocorre a institucionalização do parto, passando do peuta é um fator estimulante para que a mulher se conscientize
domicilio para o hospital [1]. de que seu corpo ativo pode ser uma ferramenta para facilitar
Ao sofrer essa mudança, o cenário do nascimento passou o processo do trabalho de parto e trazer-lhe satisfação com a
a ser um ambiente estressante, onde a parturiente era orien- experiência do nascimento [5].
tada a manter-se horizontalizada, movimentar-se o mínimo Alguns trabalhos descrevem técnicas isioterapêuticas, que
possível, isolar-se de seus familiares, permanecer em jejum, são estratégias não farmacológicas, como métodos no alívio
e submeter-se a intervenções farmacológicas e invasivas, da dor, sendo de grande aceitação pelas gestantes de baixo
aspectos esses que contribuem para o sentimento de temor, risco obstétrico. Dentre eles estão o estímulo a deambulação,
que gera a dor, uma vez iniciada, aumenta o temor, dando adoção de posturas verticais, exercícios respiratórios, analgesia
origem a um círculo vicioso. através da neuroeletroestimulação transcutânea (TENS), mas-
A partir da década de 1980 ocorreu um movimento mun- sagens, banhos quentes, crioterapia e relaxamento, exercícios
dial em prol da humanização do parto e nascimento, uma respiratórios, relaxamento muscular, massagem lombossacral
preocupação crescente em dar lugar a novos paradigmas que e banho de chuveiro [5,6].
considerassem e valorizassem o ser humano em sua totalidade, Assim, o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão
e que estimulassem os proissionais de saúde a repensarem sua de literatura cientíica nacional e internacional, veriicando
prática, buscando a transformação da realidade no cotidiano quais técnicas utilizadas por isioterapeutas na assistência ao
do cuidado. A avaliação cientíica das práticas de assistência trabalho de parto em gestações de baixo risco, promovem me-
evidenciou a efetividade e a segurança de uma atenção ao parto lhor evolução do trabalho de parto de forma efetiva e segura.
com um mínimo de intervenção sobre a isiologia, e de muitos
procedimentos centrados nas necessidades das parturientes. Metodologia
Isto resultou em um novo paradigma de assistência ao parto,
denominado de humanista [2]. O presente estudo caracteriza-se como sendo revisão de
Segundo o Ministério da Saúde [3], a humanização seria literatura em que foram consultados as bases de dados Me-
receber com dignidade a mulher, seus familiares e o recém- dLine/PubMed, Lilacs/SciELO e BIREME foram consultados
-nascido, exercendo uma atitude ética e solidária por parte à procura de artigos nacionais, internacionais e das melhores
dos proissionais, de modo a criar um ambiente acolhedor e evidências cientíicas, as quais foram classiicadas de acordo
a instituir rotinas hospitalares que rompam com o tradicional com o tipo de técnica. A consulta foi feita entre os meses
isolamento imposto à mulher. Evitar práticas intervencionis- de abril a junho de 2011, considerando-se palavras-chave
tas desnecessárias, que não beneiciam a mulher e o recém- que pudessem contemplar o maior número de artigos sobre
-nascido. o tema. Foram encontrados 24 artigos com as seguintes
Apesar dos esforços e das campanhas educativas, a as- palavras-chave: “trabalho de parto”, “parto” e “parto normal”.
sistência proissional atual ao processo parturitivo ainda se Para condutas particulares, empregaram-se descritores como
faz muitas vezes organizada em função das necessidades das “deambulação”, “verticalização”, “neuroestimulação trans-
instituições e não das parturientes, e por isso vem exigindo cutânea”, “massagem”, “banho de imersão”, “crioterapia” e
atitudes e procedimentos que priorizem a qualidade da aten- “acupuntura”. Os critérios de inclusão foram o estudo está
ção prestada, ultrapassando o modelo de atenção centrado entre 1975 a 2007 e apresentar metodologia deinida, Já os
apenas no monitoramento e controle de risco, em favor de critérios de exclusão foram não se encaixar nos critérios de
procedimentos preventivos em direção à saúde [4]. inclusão e os que eram revisão sistemática.
A dor durante o trabalho de parto e parto é um impor-
tante sintoma que pode ser vivenciado de forma positiva pela Resultados e discussão
parturiente e por seus familiares. Para tal, ela deve estar pre-
parada e ciente da necessidade de manter-se calma e relaxada Foram encontrados 21 artigos dos quais, 9 abordam
durante toda evolução do processo. O emprego de métodos deambulação/verticalização, 5 pesquisaram a inluência de
que permitem vencer a dor de maneira não-medicamentosa é exercícios respiratórios no parto, 3 eram sobre banhos de
aconselhado por muitos pesquisadores, que são unânimes em imersão, 2 investigaram a eicácia da massagem, 1 sobre crio-

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18 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

terapia e 1 acerca da eletro-acupuntura. Os resultados serão autores concluíram que o posicionamento vertical reduziu o
apresentados em forma de tópicos de acordo com o tipo de tempo expulsivo, diminuiu o índice de partos instrumenta-
prática (Tabela I). lizados, de uso de ocitócitos, de episiotomia e da intensidade
da dor referida no período expulsivo. Entretanto aumentou
Deambulação / Verticalização a perda sanguínea materna [6].

O movimento de caminhar associado à ação da gravidade, Exercícios respiratórios


e o aumento do canal de parto, este último proporcionado pela
posição de cócoras, são considerados os principais motivos de A respiração tem importância fundamental du-
benefícios da postura ativa da mulher durante o trabalho de rante o trabalho de parto e o parto, por promover
parto, pois estão ligados principalmente à menor duração do o relaxamento, obter concentração, diminuir riscos
período de dilatação, expulsivo e melhor dinâmica da contra- de trauma perineal no momento expulsivo e melho-
tilidade uterina. Além disso, favorecem a diminuição do uso rar a oxigenação sanguínea da mãe e do feto [9,14].
de analgesia em mulheres que utilizaram as posturas verticais Para alguns autores, não existe técnica respiratória ideal a
no primeiro e segundo estágios do trabalho de parto [6,8,9]. ser recomendada durante o trabalho de parto. O que deve
Na posição vertical há menos irregularidade na contrati- ser estimulado pelo isioterapeuta, desde o pré-natal, é o uso
lidade uterina em sua forma e ritmo, podendo ser consequ- adequado dos músculos respiratórios, através da respiração
ência da melhor irrigação sanguínea do útero nesta posição. espontânea, diafragmática, natural e leve, para que no mo-
Acredita-se que a mobilidade materna e a liberdade de mo- mento do parto a mulher já esteja conscientizada e consiga
vimento facilitam a “adaptação” e o encaixe do bebê à pelve desviar a atenção das dores e beneicie a sua oxigenação e a
materna e ao canal de parto, visto que a mobilidade pélvica do bebê [13].
é diferente nas diversas posturas que a mulher pode assumir Calais-German [15] defende o uso da respiração torácica
durante o trabalho de parto [6,9]. ampla durante as contrações, pois assim a parturiente estaria
Bio et al. [7], veriicou num ensaio clínico controlado aliviando a pressão do diafragma sobre o fundo uterino,
prospectivo com 100 mulheres em fase ativa do trabalho mantendo a oxigenação sanguínea. Já para o intervalo entre
de parto, que a média de duração da fase nas parturientes as contrações a recomendação continua sendo a respiração
estimuladas a assumir posicionamentos verticais foi menor abdominal ou diafragmática por ser levemente mais profunda
em relação as que pertenciam ao grupo controle, concluindo e que promove maior relaxamento.
que a mobilidade adequada da parturiente inluencia de Almeida et al. [16] airma que por muito tempo, a respira-
maneira positiva o trabalho de parto, uma vez que melhora ção rápida e supericial, conhecida como “cachorrinho”, antes
a evolução da dilatação, diminuindo a duração da fase ativa preconizada foi abandonada, pois leva a um rápido aumento
do trabalho de parto. da taxa respiratória e uma redução da profundidade interfe-
Contrapondo essas airmações, Molina et al. [10] relatou rindo na isiologia da respiração e nas trocas gasosas, podendo
que a maioria de suas pacientes preferiram a posição horizon- levar à hipocapnia, resultando em alcalose respiratória que tem
tal à posição vertical durante o primeiro estágio do trabalho como sinais e sintomas: tonturas, entorpecimento, parestesia
de parto, sendo tal preferência mais marcante após 5 cm de e espasmo muscular, tensão, exaustão e ansiedade. Além de
dilatação cervical. reduzir o luxo de sangue e consequentemente o volume de
Bloom et al. [11], num estudo randomizado de caminhar oxigênio disponível tanto para a mãe quanto para o feto.
durante o trabalho ativo para determinar se ele alterou a dura- Reberte et al. [14] também alegou que a respiração rápida e
ção do trabalho ou outros desfechos maternos ou fetais, 380 supericial, estaria indicada estritamente nos casos de períodos
partirientes deambularam entre 46 e 56 minutos, enquanto expulsivos muito rápidos, em que se pretende proteger o períneo
que 156 mulheres receberam apenas os cuidados habituais da do alongamento súbito e facilitar um desprendimento suave e
equipe de enfermagem. Não observou-se diferença signiica- relaxado da cabeça fetal. Os esforços expulsivos seriam inter-
tiva na duração da primeira fase do trabalho (6,1 horas em calados por períodos de respiração ofegante, dando assim aos
ambos os grupos, P = 0,83), na necessidade de ocitocina, no tecidos, tempo para relaxar, se adaptar e distender sob pressão.
uso de analgésicos e uso de fórceps. Os resultados dos bebês Sabatino et al. [6] defende que durante o período expulsi-
também foram semelhantes nos dois grupos de estudo. vo a utilização da respiração também é fundamental, pois se
Segundo Helman [12] a dor é uma experiência subjetiva sabe que os puxos (esforços expulsivos), realizados através da
sobre qual se pode identiicar comportamentos diferentes, prensa abdominal, se somam às contrações uterinas. Quando
que variam segundo a cultura e a época. Com base nessa os puxos são espontâneos ou involuntários, a parturiente, a
concepção de dor podemos compreender porque os resultados cada contração, consegue realizar um maior número de es-
das pesquisas nem sempre são uniformes. forços que por serem de curta duração não produzem grande
Em revisão sistemática de estudos sobre o posicionamento impacto cardiovascular. Já quando os puxos são dirigidos, a
da parturiente durante o segundo estágio do trabalho de parto, parturiente acaba realizando a Manobra de Valsalva (aumento

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 19

Tabela I - Resultados encontrados sobre o tema de acordo com o tipo de prática.


Pesquisador Ano Técnica Conclusão
Albers L et al. 1997 Deambulação Mulheres que deambularam durante o trabalho de parto tiveram 50%
menos incidência de parto cesárea
Allahbadia GN 1992 Deambulação e cócoras Menor duração da primeira e segunda fase do trabalho de parto nas
et al. parturientes que deambularam e assumiram a posição de cócoras quando
comparadas ao grupo controle.
Almeida et al. 2005 Técnicas de respiração e A redução do hormônio ACTH com alívio parcial do estresse do grupo
relaxamento experimental, sugere a interferência das técnicas de respiração e relaxa-
mento.
Almeida et al. 2005 Técnicas de respiração e A intensidade de dor não foi reduzida no grupo experimental, mas promo-
relaxamento veram ao GE a manutenção de nível baixo de ansiedade por maior tempo
da parturição.
Bio ER et al. 2006 Posturas verticais e mobili- O grupo experimental teve aumento de tolerância à dor e menor duração
dade pélvica da fase ativa do trabalho de parto.
Bonfim-Hipólito 1998 Sedestação / Verticalização Não houve diferenças estatisticamente significativas na duração do traba-
S lho de parto, perda de sangue e trauma perineal entre os dois grupos.
Bloom et al. 1998 Deambulação Não foram observadas diferenças significativas na duração da primeira
fase do trabalho de parto, no uso de ocitocina e analgésicos.
Cassol EGM 2001 Prensa abdominal, relaxa- Foi observado menor duração da trabalho de parto.
et al. mento do assoalho pélvico
e respiração

Chang MY et al. 2002 Massagem Diminuição da ansiedade e das reações de dor durante as fases latente,
ativa e de transição.
Diaz AG et al. 1980 Verticalização (sedestação, Duração da primeira fase do trabalho de parto reduzida em 25%.
ortostatismo ou deambulação)
Gupta JK et al. 2007 Verticalização Redução do tempo de expulsão, menor o índice instrumentalização, uso
de ocitócitos, de episiotomia e da intensidade da dor referida no período
expulsivo.
Hansen SL et al. 2002 Exercícios respiratórios (an- Menor período expulsivo, menos lacerações e menor percepção de cansa-
tes da prensa abdominal). ço pelas primíparas

Knobel R 2002 Eletro-acupuntura Maior alívio da dor, menor necessidade de analgésicos e 50% menos
incidência de cesárea.
Mendez -Bauer 1975 Verticalização (ortostatismo) Menor percepção dolorosa quando comparada ao grupo controle.
C et al.
Molina FJ et al 1997 Verticalização Grande parte das pacientes sentiram menos dor em posições horizontais.
Nunes S et al. 2007 Crioterapia As parturientes verbalizaram significativa diminuição da dor e relaxamento
global.
RMB et al. 2007 Exercícios respiratórios, rela- Demonstraram ser efetivas na redução da dor dessas parturientes.
xamento muscular, massa-
gem lombossacral e banho
de chuveiro.
Silva FMB et al. 2008 Banho de imersão Alívio da dor e menor duração das contrações no grupo experimental.
Field et. al. 1997 Massagem Massagem frequente de um parceiro pode reduzir a dor do parto, a ansie-
dade, e duração, e melhorar os resultados pós-parto
Lenstrup et al. 1987 Banho de imersão O grupo de banho relatou alívio significativo da dor, enquanto os escores
do grupo não-banho a dor aumentou.
Eriksson et al. 1997 Banho de imersão O banho durante a primeira etapa do trabalho deve ser preferencialmente
utilizado após uma dilatação cervical de 5 cm para evitar o trabalho de
parto prolongado, e um aumento do uso de ocitocina e analgesia epidural.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


20 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

da pressão intra-abdominal por bloqueio da expiração e con- dade, promove relaxamento muscular, otimiza a consciência
tração de abdominais), por maior período de tempo que por corporal e promove equilíbrio entre sistema simpático e
sua vez gera um grande impacto na oxigenação sanguínea e parassimpático. Embora não exista consenso relacionando
no sistema cardiovascular, prejudicando o binômio mãe-bebê. riscos e benefícios da massagem durante o trabalho de parto,
Em estudo realizado no Intermountain Health Care, (USA) clinicamente observa-se que essa técnica tranquiliza a partu-
foram reunidas 252 parturientes, todas submetidas à analgesia riente, suavizando a dor, a ansiedade, e conduzindo de modo
peridural e divididas em dois grupos: puxos espontâneos ou aceitável o trabalho de parto. [23]
puxos dirigidos. Os autores concluíram que as parturientes que Chang et al. [23], em seu estudo realizado em Taiwan,
tiveram puxos espontâneos apresentaram menos sinais de fadiga observou-se diminuição da ansiedade e das reações de dor
e menos desacelerações cardíacas fetais. Entretanto, tiveram o durante as fases latente, ativa e de transição, no grupo de
período expulsivo mais prolongado [17]. mulheres que receberam massagem, servindo também como
Outros pesquisadores airmam que é importante que haja um suporte psicológico benéico para o trabalho de parto.
sincronia entre puxos, prensa abdominal e relaxamento da Field et al. [24] em um ensaio clínico randomizado con-
musculatura perineal para que ocorra diminuição do período trolado no qual as parturientes receberam massagem de seus
expulsivo e menor chance de parto instrumentalizado ou com parceiros, observou que as pacientes massageadas apresenta-
manobra de Kristeller (compressão manual sobre fundo ute- ram alívio emocional e físico signiicativo, conforme relatado
rino feita durante o período expulsivo do trabalho de parto, pelas próprias mulheres, e avaliados pelos seus parceiros e um
para empurrar o bebê em direção à vagina da mãe) [18]. observador cego.
Não há dados que apóiem o direcionamento do esforço
de expulsão durante o segundo estágio do trabalho de parto Banho de imersão
e algumas evidências sugerem que ela pode ser prejudicial.
Segundo os autores, em partos eutócitos de gestações de baixo Durante o trabalho de parto, a água morna reduz a
risco, essa prática não deve ser incentivada. A recomendação sensibilidade dolorosa da parturiente com diminuição da
genérica é permitir que a mulher faça esforços de puxo mais atividade simpática através da modiicação da transmissão
curtos e principalmente de forma espontânea [14]. aferente nociceptiva mais lenta, e eleva os níveis de encefalinas
Estudos sugerem que o relaxamento associado aos exer- e endorinas endógenas. A utilização do chuveiro, deixando
cícios respiratórios promove alívio do estresse da parturiente a água cair sobre as costas da gestante, alivia a dor lombar,
ao diminuir a secreção de hormônio adrenocorticotróico queixa presente em um terço das parturientes no primeiro
(ACTH), que atua no mecanismo do estresse em resposta à estágio do parto, geralmente em consequência da apresentação
dor, tanto na fase latente quanto na ativa [17,19]. posterior da cabeça do feto (ODP), provavelmente devido à
demora na rotação do pólo cefálico [25].
Analgesia através de eletroestimulação Silva et al. [19] por meio de ensaio-clínico realizado numa
(TENS) maternidade pública da cidade de São Paulo, com o objetivo
de identiicar a inluência do banho de imersão na duração do
Dentre as várias alternativas para controle da dor durante primeiro período clínico do trabalho de parto e na frequência
do trabalho de parto, a TENS surge como um recurso atra- e duração das contrações uterinas, observou-se que o banho
ente. A Neuroeletroestimulação Transcutânea é um método de imersão é uma opção viável para o conforto da parturiente,
não-farmacológico empregado no alívio da dor pela qual visto que apresenta as vantagens de reduzir e postergar o uso
alguns isioterapeutas em obstetrícia optam. A TENS induz de fármacos no controle da dor, proporcionando condições
analgesia por meio da ativação de receptores sensoriais pe- para a colaboração ativa da parturiente e permitindo maior
riféricos, agindo através do fenômeno da comporta de dor, participação do acompanhante.
induzindo a produção de endorinas [20]. Eriksson et al. [26], em estudo randomizado prospectivo
Apesar de apresentar o maior número de estudos controla- estudo-piloto realizado com 200 pacientes, concluiu que o
dos as evidências cientíicas para o uso continuado do TENS banho durante a primeira etapa do trabalho deve ser prefe-
no tratamento da dor obstétrica são insuicientes, porém não rencialmente utilizado após uma dilatação cervical de 5 cm
há sentido em descartar o uso do TENS, até que discrepâncias para evitar o trabalho de parto prolongado, e um aumento
entre, a experiência clínica, a satisfação das pacientes e as do uso de ocitocina e analgesia epidural [26].
evidências cientíicas sejam esclarecidas, visto que na prática
clínica os resultados são animadores [13]. Crioterapia

Massagens O emprego do gelo consiste num método bastante


disseminado de promover analgesia. Fisiologicamente ele
A massagem sempre foi um dos meios mais instintivos de é responsável por reduzir a via nervosa aferente nociceptiva
aliviar a dor, uma vez que atua na analgesia, reduz a ansie- por redução metabólica e isquemia, em função da intensa

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 21

vasoconstrição. As parturientes têm a possibilidade de usar mos um longo caminho a percorrer até que os gestores de
compressas frias ou pacote de gel congelado para reduzir a dor. maternidades se convençam da importância e necessidade
A crioterapia é uma técnica inócua e reconfortante, devendo de oferecer um atendimento obstétrico mais completo e
se manipulanda de forma correta para evitar a formação de acolhedor.
queimaduras. A prática não impede o uso associado de téc-
nicas analgésicas mais eicazes [25]. Referências
Nunes et al. [27] realizou um estudo no Hospital Ma-
ternidade Carmela Dutra, no Rio de Janeiro, um estudo 1. Tanaka ACA. Maternidade: dilema entre nascimento e morte.
exploratório utilizando o gelo como recurso para alívio da São Paulo: Editora Hucitec/Rio de Janeiro: ABRASCO; 1995
dor e foram veriicados possíveis efeitos sobre a evolução 2. D a v i s - F l o y d R. The technocra-
tic, humanistic, and holistic paradigms of
do trabalho de parto e peril biofísico do feto. Concluiu-se
childbirth. Int J Gynecol Obstet 2001, 48 (Suppl.):S33-S52,
que a crioterapia pode ser aplicada para alívio da dor no
3. Ministério da Saúde (BR). Parto, aborto e puerpério: assistência
parto, pois proporciona o relaxamento global das partu- humanizada à mulher. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2003.
rientes, sem gerar quaisquer efeitos indesejados sobre o 4. Bio ER. Intervenção Fisioterapêutica na assistência ao trabalho
peril biofísico do feto. de parto – São Paulo 2007.
5. Balaskas J. Parto ativo: guia prático para o parto natural. São
Acupuntura Paulo: Ground; 1993.
6. Sabatino H, Dunn PM, Barcia RC. Parto Humanizado: formas
Uma alternativa, que está se difundindo progressivamente alternativas. Campinas: Editora da UNICAMP; 2000]
no Ocidente, é a acupuntura. É uma prática terapêutica mi- 7. Bio ER, Bittar RE, Zugaib M. Inluência da Mobilidade Materna
na duração da fase ativa do trabalho de parto. Rev Bras Ginecol
lenar inserida no conjunto de conhecimentos da Medicina
Obstet. 2006; 28(11): 671-679.
Tradicional Chinesa que visa a cura de patologias através da 8. RMB Torres GV, Melo ES. Estratégias não farmacológicas no
estimulação de determinados pontos na pele [20]. alívio da dor durante o trabalho de parto: pré-teste de um ins-
Knobel [20] em seu ensaio clínico se propôs a avaliar os trumento. Rev Lat Am Enfermagem. 2007; 15(6): 1150-1156.
resultados da acupuntura no alívio da dor no trabalho de 9. Albers L, Anderson D, Cragin L, Daniels SM, Hunter C, Sedler
parto em 60 parturientes primíparas distribuídas de maneira KD et al. he relationship of ambulation in labor to operative.
aleatória em um grupo que recebia aplicação de eletroacu- J. Nurse Midwifery. New York, v. 42, n. 1, p 4-8, 1997.
puntura sacral e outro em que a aplicação era simulada. A 10. Molina FJ, Solá PA, Lopez E, Pires C. Pain in the irst stage of
autora observou que o grupo que recebeu acupuntura apre- labor: relationship with the patient’s position. J. Pain Symptom
Manag. New York, v. 13, n. 2, p.98-103, 1997.
sentou maior proporção de alívio da dor e maior proporção
11. Bloom SL, McIntire DD, Kelly MA. Lack of efect of walking
de médicos consideraram o tratamento como eicaz, 30 e 60
and labor to operative delivery. New England Journal of Medi-
minutos após aplicação. A partir desse resultado, a pesquisado- cine. 1998; v. 339, n. 2, p. 76-79.
ra concluiu que a acupuntura pode contribuir para diminuir 12. Helman CG. Cultura, saúde e doença. 2. ed. Porto Alegre:
a dor no período de dilatação. Artes Médicas, 1994.
13. Castro AB. - Acupuntura e dor. Dor, 2:1-5, 1994
Conclusão 14. Reberte LM, Hoga LAK. O desenvolvimento de um grupo
de gestantes com a utilização da abordagem corporal. Texto
A atenção física e emocional oferecida pelo isioterapeuta contexto - enferm. 2005; 14(2): 186-192.
durante o trabalho de parto de baixo risco parece cooperar 15. Calais-German B. O Períneo Feminino e o Parto: elementos de
anatomia e exercícios práticos. São Paulo: Manole; 2005. Almei-
para a humanização do parto ao promover à parturiente
da NAM, Silveira NA, Bachion MM, Sousa JT. Concentração
bem-estar físico, redução das sensações dolorosas, redução plasmática do hormônio adrenocorticotróico de parturientes
do medo e ansiedade e segurança, uma vez que os riscos submetidas a método não farmacológico de alívio da ansiedade
das intervenções medicamentosas e invasivas são deixadas e dor no parto. Rev Lat Am Enfermagem 2005; 13(2): 223-228
de lado. Além disso, a assistência isioterapêutica contribui 16. Balaskas J. Parto ativo: guia prático para o parto natural. São
para fazer do trabalho de parto um processo mais ativo, Paulo: Ground; 1993.]
natural e positivo, permitindo uma vivência satisfatória na 17. Hansen SL, Clarck SL, Foster JC. Active pushing versus passive
vida social e familiar da parturiente. Cremos que o isio- fetal descent in the second stage of labor: a randomized control-
terapeuta é um proissional de saúde que dispõe de todo led trial. Obstet Gynecol. 2002 Jan; 99(1): 29-34]
18. Almeida NAM, Sousa JT, Bachion MM, Silveira NA. Utilização
o conhecimento para oferecer um atendimento eiciente e
de técnicas de respiração e relaxamento para alívio de dor e
seguro, valorizando métodos não-farmacológicos de alívio
ansiedade no processo de parturição. Rev Lat Am Enfermagem
da dor no trabalho de parto. 2005; 13(1): 52-58.
Apesar da escassez de estudos relativos ao tema, pode- 19. Silva FMB, Oliveira SMJV. O efeito do banho de imersão na
-se concluir que os recursos abordados podem favorecer duração do trabalho de parto. Rev Esc Enferm USP 2006;
uma melhor evolução do parto normal. Porém ainda te- 40(1):57-63.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


22 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

20. Knobel R. Técnicas de acupuntura para alivio da dor no trabalho 24. T Field, M Hemandez-Reif, S Taylor, O Quintino and I. Bur-
de parto – ensaio clínico [tese]. Campinas: UNICAMP [tese na man, Labor pain is reduced by massage therapy, J Psychosom
internet]. 2002 [acessado 2011 Abr 07].] Obstet Gynecol 18 (1997), pp. 286–291
21. Nunes S, Vargens OMC. A crioterapia como estratégia para 25. Vale NB. Analgesia Adjuvante e Alternativa. Rev Bras Anestesiol
alívio da dor no trabalho de parto: um estudo exploratório. Rev 2006; 56(5): 530-555.
Esc Enferm USP 2007 15(3):337-342. 26. M Eriksson, L Mattsson and L. Ladfors, Early or late bath during
22. Ministério da Saúde (BR). Parto, aborto e puerpério: assistência the irst stage of labour: a randomised study of 200 women,
humanizada à mulher. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2003 Midwifery 13 (1997), pp. 146–148.
23. Chang MY, Wang SY, Chen CH. Efects of massage on pain and
anxiety during labour: a randomized controlled trial in Taiwan.
J Adv Nurs. 2002 Abr; 38(1): 68-73

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 23

Artigo 4

Inluência da cinesioterapia sobre a dor


e qualidade de vida em mulheres grávidas
Inluence of cinesiotherapy on quality of life and pain
in pregnant women
Sayonara Rodrigues da Silva, Acd* Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Ft, M.Sc.**, Dayse Aleixo Bezerra, Ft***,
Silvia Oliveira Ribeiro, Acd****, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Ft., D.Sc.*****

*Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí
(UFRN/FACISA), **Professora Assistente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Faculdade
de Ciências da Saúde do Trairí (UFRN/FACISA), ***Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação Infantil, Natal/RN, ****Aluna de
Iniciação Cientíica do Curso de Fisioterapia da UFRN, *****Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da UFRN

Resumo Abstract
Introdução: A gravidez caracteriza-se pela ocorrência de trans- Introduction: Pregnancy is characterized by the occurrence of
formações físicas, psicológicas e sociais as quais interferem na dor e physical, psychological and social conditions which interfere with
qualidade de vida (QV) da gestante. Objetivo: Analisar a inluência pain and quality of life (QOL) of the pregnant woman. Objective:
de exercícios cinesioterapêuticos sobre dor e QV de mulheres grá- To analyze the inluence of exercise on pain and QOL pregnant
vidas. Metodologia: Participaram do estudo 26 gestantes, entre 13 e women. Methodology: he study included 26 pregnant women
36 semanas de gestação, com faixa etária de 18 a 41 anos de idade, between 13 and 36 weeks of gestation, 18 to 41 years old, without
que não apresentassem complicações gestacionais. A dor foi avaliada pregnancy complications. Pain was assessed by Visual Analogue
pela Escala Analógica Visual (EVA) e a qualidade de vida, através Scale (VAS) and quality of life by SF-36, applied before (SF-36B;
do SF-36, aplicados antes (SF-36A; EVAA) e após (SF-36D; EVAD) VASB) and after (SF-36A; VASA) protocol therapeutic exercise. For
o protocolo de exercícios terapêuticos. Para a análise estatística, statistical analysis was used the Shapiro-Wilk tests, T-test for paired
utilizaram-se os testes de Shapiro-Wilk T de Student para amostras samples and Wilcoxon. Results: here was signiicant improvement
emparelhadas e de Wilcoxon. Resultados: Observou-se melhora in pain (VASB: 5.1 ± 2.2; VASA: 3.6 ± 2.2, p = 0.007) and in the
signiicativa da dor (EVAA: 5,1 ± 2,2; EVAD: 3,6 ± 2,2; p = 0,007) e ields “Social Aspects” (SF-36B: 71.6 ± 19.4, SF-36A: 82.2 ± 17.2,
nos domínios “Aspectos Sociais (SF-36A: 71,6 ± 19,4; SF-36D: 82,2 p = 0.02), “Mental Health” (SF-36B: 69 ± 11.5, SF-36A: 74 ± 8.8, p
± 17,2; p = 0,02), “Saúde Mental” (SF-36A: 69 ± 11,5; SF-36D:74 ± = 0. 04) and “General Health” (SF-36B: 82.1 ± 4.2, SF-36A: 86.7 ±
8,8; p = 0,04) e “Estado Geral de Saúde” (SF-36A: 82,1 ± 4,2; SF- 3.6, p = 0.03) of the SF-36 after the exercise protocol. Conclusion:
-36D: 86,7 ± 3,6; p = 0,03) do SF-36 após o protocolo de exercícios. he results of this study suggest that exercise improves quality of
Conclusão: Os resultados obtidos desse estudo sugerem que a prática life of the mother and attenuates pregnancy painful disturbances.
de exercícios cinesioterapêuticos melhora a qualidade de vida da Key-words: pregnancy, pain, quality of life, exercise.
gestante e atenua os incômodos dolorosos característicos da gravidez.
Palavras-chave: Gestação, dor, qualidade de vida, exercícios.

Endereço para correspondência: Vanessa Patrícia S. de Sousa Departamento de Fisioterapia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Av. Senador Salgado Filho, 3000 caixa postal 1524 59072 -970 Natal RN, E-mail: vanessaisio@gmail.com

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24 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução É de grande relevância analisar a inluência dos exer-


cícios pré-natais sobre as alterações musculoesqueléticas
A gravidez é um período em que o corpo da mulher passa características do período gestacional, além da melhoria do
por profundas transformações hormonais e biomecânicas, as quadro doloroso imposto pelas mudanças físicas e isiológicas
quais interferem nos sistemas corporais acarretando alterações características da gestação e sua repercussão na qualidade de
que podem ou não se tornarem crônicas ao longo da vida vida em tais mulheres. Diante do exposto, este estudo teve
feminina. Dentre essas mudanças, destacam-se: dor lombar, como objetivo analisar a inluência da cinesioterapia sobre a
frouxidão ligamentar, fadiga e edema, afetando diretamente qualidade de vida e intensidade dolorosa durante o período
a qualidade de vida da mulher [1,2]. As alterações muscu- gestacional.
loesqueléticas mais comuns são: hiperextensão dos joelhos,
anteversão pélvica, tensão da musculatura paravertebral, Material e métodos
diástase dos músculos retos abdominais, alterações posturais,
deiciência dos músculos do assoalho pélvico e síndromes de O estudo realizado tratou-se de um pesquisa quase-
compressão neural [3,4]. -experimental e teve como objetivo avaliar a inluência de
A dor lombo-pélvica, presente em 70% das mulheres protocolo de exercícios isioterápicos sobre a qualidade de vida
grávidas, constitui-se uma das queixas mais comuns no e intensidade dolorosa em mulheres grávidas. A pesquisa foi
terceiro trimestre da gestação [5] e, quando não tratada de realizada no laboratório de Atendimento Materno-Infantil da
maneira eicaz, pode impedir que a gestante tenha uma vida Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no período
normal, causando incapacidade motora, insônia, depressão de jul/2007 a maio/2009, sendo aprovado pelo Comitê de
e interferindo de forma importante sobre a sua qualidade de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes,
vida. Dentre as causas prováveis da lombalgia estão: aumento sob o protocolo de número 329/09.
do peso do útero, aumento da lordose lombar, alteração do A população do estudo constituiu-se de gestantes inscritas
centro de gravidade e da postura, frouxidão da musculatura, no Curso Preparatório para a Gestação, Parto e Pós-parto
mudanças hormonais, mecânicas e vasculares [1,6]. (CPGPP), promovido semestralmente pelo Departamento
Mediante todas essas mudanças ocorridas no período de Fisioterapia da UFRN. O processo de amostragem carac-
gestacional, com destaque para a dor lombar, a Fisioterapia terizou-se por ser do tipo não-probabilístico, resultando em
pode intervir através de diversas modalidades terapêuticas número amostral de 26 voluntárias, avaliadas antes e após a
com objetivo de atenuar ou debelar os desconfortos mus- aplicação de um protocolo de exercícios cinesioterapêuticos,
culoesqueléticos presente durante o período gestacional, de acordo com o luxograma apresentado na Figura 1.
evitando sua croniicação. Entre as técnicas isioterapêuticas, a
cinesioterapia visa desenvolver, restaurar, melhorar ou manter Figura 1 - Fluxograma do estudo.
a normalidade da força e resistência muscular, mobilidade e Gestantes inscritas
lexibilidade, relaxamento, coordenação e habilidade motora. no CPGPP Excluídas (n=20):
(n=46) Inelegíveis
As sobrecargas são adicionadas nos sistemas corporais de ma-
neira progressiva e apropriada visando atender as demandas Ausência de dor
Voluntárias lombo pélvica
das atividades da vida diária (AVD’s) [2,7]. selecionadas (n=3)
A prática de exercícios terapêuticos durante a gravidez pro- (n=26) Excesso de falta
(n=17)
porciona diversos benefícios tais como melhoria da qualidade
de vida, ajustes no sistema musculoesquelético [1,2,4,8], cons- Avaliação Inicial Avaliação Final
ciência corporal, proporcionando equilíbrio físico e psíquico, (n=26) (n=26)
redução dos sintomas de dor e/ou desconforto na gravidez e
puerpério [1], além de auxiliar contra a depressão puerperal Para participar do estudo, as voluntárias deveriam estar
[8]. O American College of Obstetricians and Gynecologists entre a 13ª e 36ª semanas gestacionais; ter entre 18 e 41 anos
preconiza um programa de exercícios físicos (com atividades e não apresentar complicações obstétricas (risco de aborto,
aeróbica e anaeróbica) de intensidade moderada, com duração hipertensão arterial grave induzida pela gravidez (HAIG),
de até 40 minutos e frequência de 3 a 5 vezes por semana [9]. toxemia gravídica, anemia grave e placenta prévia). Além
Os estudos sobre qualidade de vida na gestação utilizando disso, somente entraram para a análise as que apresentaram
o SF-36 são escassos, entretanto o questionário se propõe a dor lombo-pélvica, medida subjetivamente por meio da Escala
avaliar 8 domínios, sendo eles: Capacidade Funcional, Li- Visual Analógica (EVA).
mitação por Aspectos Físicos, Dor, Estado Geral de Saúde, Foram excluídas do estudo gestantes que se desligaram vo-
Vitalidade, Aspectos Sociais, Aspectos Emocionais e Saúde luntariamente da pesquisa e aquelas que excederam o número
Mental. O SF-36 é válido e sensível para avaliar a qualidade de três faltas durante a aplicação do protocolo de treinamento.
de vida de gestantes [10,11] e indivíduos saudáveis ou por- Todas as voluntárias assinaram o Termo de Consentimento
tadores de patologias [12]. Livre e Esclarecido.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 25

Inicialmente, foi realizada uma avaliação individual A pressão arterial das gestantes foi veriicada antes, durante e
por meio de icha de avaliação previamente estruturada, após os exercícios. Após os 12 encontros, todas as gestantes
contendo dados clínicos e obstétricos. Posteriormente, foi foram reavaliadas.
aplicado o questionário o Medical Outcomes Study Short- Para a análise estatística, utilizou-se o programa Statistical
-Form General Health Survey (SF-36). Este instrumento Package for Social Science for Windows (SPSS) versão 17.0, sen-
abrange oito domínios, sendo estes: Capacidade Funcional, do realizada a análise descritiva, com seus respectivos valores
Limitação por aspectos físicos, Dor, Estado Geral de Saúde, absolutos e relativos, através de medidas de tendência central
Vitalidade, Aspectos Sociais e Saúde Mental. O escore varia e dispersão. Foram selecionadas as seguintes variáveis para
de 0 a 100, em que 0 representa a pior e 100, a melhor análise: (1) categóricas – estado civil, escolaridade, atividade
qualidade de vida 11. A intensidade dolorosa foi obtida por física, paridade, trimestre gestacional e intensidade dolorosa;
meio da Escala Visual de Analógica (EVA). Esta escala é (2) quantitativa – intensidade dolorosa, medida por meio da
um instrumento simples, de fácil aplicação e válido para EVA; qualidade de vida, representada pelo escore total do
detectar a intensidade dolorosa. É graduada de 0 (zero) a Medical Outcomes Study Short-Form General Health Survey
10 (dez), em que 0 representa ausência de dor e 10, a dor (SF-36); Capacidade Funcional (CF), Limitação por aspectos
máxima suportada. A intensidade dolorosa é dividida em físicos (LAF), Dor (D), Estado geral de saúde (EGS), Vitali-
categorias, onde: 0 é a ausência de dor; 1 a 2, a intensidade dade (V), Aspectos Sociais (AS), Aspectos Emocionais (AE)
é considerada leve; 3 a 7, moderada; 8 a 9, intensa; 10, in- e Saúde Mental (SM), obtidas pelo escore de cada domínio
suportável. Este instrumento tem sido amplamente usado do SF-36. Todas as variáveis foram mensuradas antes e após
para a avaliação da intensidade dolorosa em populações de as 12 sessões do protocolo de exercícios.
mulheres grávidas [13,14]. Foi realizado o teste de Shapiro-Wilk para testar a nor-
As gestantes participaram de 12 encontros, que acontece- malidade das variáveis quantitativas. Para a comparação das
ram 3 vezes por semana, ao longo de um mês, com a duração médias, antes e após o programa de exercícios pré-natais,
de 1h30min. Em tais ocasiões, eram ministradas palestras foi utilizado o teste t de Student para amostras pareadas. O
com temas relacionados à gestação, parto e pós-parto. O teste de Wilcoxon foi utilizado para comparar as posições
programa de exercícios cinseioterapêuticos seguiu uma se- das médias, antes e após a intervenção, das variáveis LAS,
quencia pré-estabelecida para dias alternados, preservando o EGS e AE, devido a distribuição não-normal de tais dados.
mesmo horário para todos os encontros e grupos formados, Adotou-se um nível de signiicância de 5% de probabilidade
seguindo o ritmo circadiano das gestantes. A cada encontro, (p < 0,05). Para o cálculo do tamanho da amostra foram uti-
de forma a contemplar todas as atividades físicas durante o lizados dados obtidos do estudo-piloto, considerando como
programa, foram realizados exercícios para a musculatura variável principal a intensidade dolorosa, a saber: média da
do assoalho pélvico na bola suíça, exercícios respiratórios diferença=1,2; desvio-padrão da diferença=2,2; poder do
(padrões diafragmático, costal e misto), alongamento e teste=0,8 e nível alfa=0,05. Esses valores foram adicionados
fortalecimento de membros superiores (MMSS) e membros ao programa Bioestat, versão 5.3, e, assim determinou-se uma
inferiores (MMII). amostra de 19 sujeitos.
Para a musculatura do assoalho pélvico, as gestantes foram
orientadas a sentar sobre a bola suíça e realizarem anterversão, Resultados
retroversão, inclinação lateral e circundução da pelve, associa-
das a contrações rápidas e, posteriormente, lentas. Realizou-se A média das idades cronológica e gestacional das vo-
3 séries de 10 repetições e, estabeleceu-se um tempo médio luntárias foi de, respectivamente, 28,1 ± 6,0 anos e 22,8 ±
de 6 segundos para as contrações sustentadas. 6,9 anos. Os dados relacionados às características sociode-
Para a musculatura de MMSS e tronco, foram reali- mográicas e obstétricas das gestantes estão demonstrados
zados exercícios de alongamento para deltóide posterior, na Tabela I.
tríceps braquial, peitoral e grande dorsal, sendo realizadas A queixa principal das participantes, obtida à pri-
3 repetições com 15 segundos de sustentação, para cada meira avaliação, foi a dor, que apresentou frequência de
exercício. Para fortalecimento da musculatura, foram 100% (n = 26). Outras queixas relacionaram-se com a
feitas 3 séries de 10 repetições para os músculos: tríceps dor irradiada para membros inferiores (19,23%; n = 5),
braquial, bíceps braquial, peitoral e deltóide, com as micção frequente (7,6%; n = 2), fadiga (7,6%; n = 2)
gestantes na posição sentada na bola suíça ou colchonete e constipação (7,6%; n = 2). Sintomas como dores de
durante a atividade. cabeça e nos pés, edema e pubalgia somaram 57, 97%
Os exercícios de alongamento e fortalecimento de MMII (n = 15) das demais queixas.
e tronco enfocaram os seguintes músculos: cadeias anterior A distribuição categorizada, bem como a média da
e posterior, grupo adutor e paravertebrais, sendo mantida a intensidade dolorosa, antes e após o protocolo de exer-
mesma metodologia utilizada para MMSS e tronco. Os exer- cícios cinesioterapêuticos encontram-se apresentadas na
cícios foram realizados em ambiente ventilado e iluminado. Tabela II.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


26 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Tabela I - Frequências relativa e absoluta das variáveis sócio- Tabela III- Médias, desvio-padrão e nível de signiicância do escore
-demográicas e obstétricas para a amostra estudada (N = 26). total e dos domínios do SF-39 para a amostra estudada (n = 26).
N = 26 Variáveis Antes (média; Após (média; p-valor
Variáveis
n % DP) DP)
Estado civil SF-36T 107,5 (± 15,5) 110,1 (± 12,7) 0,30
Casada 18 69,2 Capacidade 54,2 (± 21,1) 52,6 (± 21,7) 0,66
Divorciada 8 30,8 funcional
Escolaridade Dor 51,0 (± 20,8) 57,7 (± 19,1) 0,09
Ensino Fundamental 1 3,8 Vitalidade 52,6 (± 14,1) 56,5 (± 14,9) 0,16
Ensino Médio 9 34,6 Aspectos sociais 71,6 (± 19,5) 82,2 (± 17,3) 0,02*
Ensino Superior 16 61,5 Saúde mental 69,0 (±11,5) 74,0 (± 8,8) 0,04*
Atividade Física SF-36T- Escore total do SF-36; *p-valor gerado pelo Teste T de Student
Sim 5 19,2 para amostras emparelhadas. Diferença estatisticamente significativa (p
Não 21 80,5 < 0,05).
Paridade
Nulípara 23 88,5 A comparação entre os valores dos domínios LAF, EGS e
Primípara 3 11,5 AE e o nível de signiicância estão apresentados na Tabela IV.
Trimestre gestacional
Segundo 16 61,5 Tabela IV - Mediana, erro-padrão e nível de signiicância do escore
Terceiro 10 38,5 dos domínios LAF, EGS e AE do SF-36 para a amostra estudada
(n = 26).
Tabela II - Distribuição categórica e média da intensidade do- Variáveis Antes Depois p-va-
lorosa (frequências absoluta e relativa) para a amostra estudada Z
(média;DP) (média; DP) lor
(n = 26). Limitações
Antes Após p-valor por aspectos 38, 4 (± 7,6) 39,4 (± 7,3) -0,053 0,98
Ausente - 15,4% (n = 4) - físicos
Leve 15,4% (n = 4) 15,4% (n = 4) - Estado geral
82,1 (± 4,2) 86,7 (± 3,6) -2,139 0,03*
Moderada 73,1% (n = 19) 69,2% (n = 18) ´- de saúde
Intensa 7,7% (n = 2) - - Aspectos
66,5 (± 8,4) 76,9 (± 7,1) -1,184 0,23
Insuportável 3,8% (n = 1) - - emocionais
LAF – Limitações por aspectos físicos; EGS – Estado Geral de Saúde; AE
EVA (média; DP) 5,1 (± 2,2) 3,6 (± 2,2) 0,007* – Aspectos Emocionais; DP – Desvio-padrão; *p-valor gerado pelo teste
EVA – Escala Visual Analógica. *p-valor gerado pelo Teste T de Student de Wilcoxon. Diferença estatisticamente significativa (p < 0,05).
para amostras emparelhadas. Diferença estatisticamente significativa (p
< 0,05). Discussão

A avaliação da qualidade de vida das gestantes foi rea- Este estudo de intervenção se propôs a avaliar a efetivi-
lizada por meio do instrumento Medical Outcomes Study dade da cinesioterapia sobre a qualidade de vida e atenuação
Short-Form General Health Survey (SF-36), aplicado ao das algias em gestantes. Evidências da literatura tratam da
início e ao término do programa de exercícios. Obteve- crescente preocupação em se desenvolver programas de
-se resultado correspondente a um escore inicial médio prevenção e tratamento para as alterações decorrentes do
de 107,5 (± 15,5) e final de 110,1 (± 12,7). Entretanto período gestacional, principalmente no que diz respeito à
esta diferença não foi estatisticamente significativa (p sintomatologia dolorosa.
= 0,30). Em relação aos domínios do SF-36, observou- Os programas que envolvem educação da gestante quanto
-se melhora dos Aspectos Sociais e Saúde Mental, após às mudanças físicas e psicológicas decorrentes da gravidez,
a aplicação do protocolo de exercícios. Esta diferença bem como exercícios programados respeitando as diferenças
mostrou-se estatisticamente significativa (p = 0,02 e individuais, são avaliados como eicazes para a melhora da
0,04, respectivamente). qualidade de vida e atenuação dos incômodos dolorosos em
As médias, desvios-padrão e nível de signiicância dos gestantes [2,15].
domínios CF, D, V, AS e SM do SF-36, bem como do escore Na amostra estudada, todas as gestantes relataram sentir
geral do questionário, encontram-se apresentados na Tabela dor, com a categoria moderada sendo a mais frequente. O local
III. mais comum de dor foi a região lombo-pélvica, conirmando
dados obtidos em estudos prévios que apontam uma faixa de
50% a 80% de dor nessa região [5,14]. As dores, comuns no

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período gravídico, são decorrentes de uma combinação de de exercícios durante a gravidez beneicia tanto a saúde mental
fatores mecânicos, hormonais, circulatórios e psicossociais quanto emocional, além de diminuir a ansiedade característica
[7,15]. do período gestacional, reletindo-se na melhora do estado
As alterações hormonais, como aumento do nível de geral de saúde [7,8].
relaxina, levam ao relaxamento crescente dos ligamentos,
amolecimento cartilaginoso, aumento da mobilidade articular Conclusão
e, consequentemente, das instabilidades posturais [1,15]. O
aumento da retenção hídrica provocado pela progesterona, Os resultados aqui obtidos sugerem que um programa
que afeta diretamente o sistema musculoesquelético, associado envolvendo educação em saúde e um protocolo de exercício
com o crescimento do útero e das mamas, pode justiicar as cinesioterapêutico especíico, de leve a moderada intensidade,
dores referidas pelas gestantes nas demais regiões corporais [14]. promove benefícios físicos e psíquicos durante a gravidez.
Após a realização do programa de exercícios, observou-se Desse modo, percebe-se a importância do proissional Fisiote-
diminuição signiicativa da intensidade dolorosa na amostra rapeuta dentro da equipe multidisciplinar de atenção à mulher
estudada. Esses achados condizem com os dados obtidos grávida, tendo em vista, que técnicas especíicas usadas por
na literatura, os quais referem que programas de exercícios, esses proissionais trazem inúmeros benefícios à gestante. O
abrangendo educação, alongamento e fortalecimento, são gerenciamento adequado das principais queixas relacionadas
eicazes para a diminuição das queixas dolorosas na gestação. ao período gestacional pode evitar que as tais se perpetuem
Estudo realizado com 599 grávidas mostrou que o exercício após o término da gravidez.
contínuo e bem orientado durante a gestação, promove Entretanto, vale ressaltar algumas limitações deste estudo
atenuação da fraqueza muscular, aumenta a lexibilidade do tais como a ausência de grupo controle e de acompanhamento
dorso e membros inferiores, melhora a postura e diminui a durante toda a gravidez. Por estas razões, torna-se necessária a
incidência de dor, resultando em maior habilidade da gestante realização de mais estudos, direcionados ao assunto qualidade
na realização das atividades da vida diária [16]. de vida, dor e gestação, para melhor avaliação dos efeitos do
Estudos analisando os efeitos dos exercícios pré-natais exercício terapêutico envolvendo esta temática.
sobre a qualidade de vida da gestante são escassos na literatura.
São encontrados dados referentes a aspectos de depressão, Referências
qualidade de vida em gestantes com doenças reumáticas, após
o parto e relacionados às exigências da gravidez e nascimento 1. Novaes FS, Shimo AKK, Lopes MHBM. Low back pain during
do bebê [6,12,17,18], porém estudos com gestantes saudáveis gestacion. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2006;14:620-4.
são raros. 2. Conti MHS, Calderon IMP, Consonni EB, Prevedel TTS, Dal-
bem I, Rudge MVC. Efect of physiotherapeutic techniques on
Torkan et al. [17] compararam a qualidade de vida de
musculoskeletal discomforts in pregnancy. Rev. Bras. Ginecol.
mulheres submetidas a dois tipos de parto (cesárea e normal) e
Obstet 2003;25:647-54.
acharam que aquelas submetidas a parto normal apresentaram 3. Borg-Stein J, Dugan SA. Musculoskeletal aspects of pregnancy.
melhor qualidade de vida, em relação às que tiveram parto Am J Phys Med and Rehabil 2005;84:180-92.
cesárea. Adicionalmente, Jomeen e Martin [18] concluíram 4. Borg-Stein J, Dugan SA. Musculoskeletal disorders of preg-
que a gravidez e nascimento são períodos de transição que nancy, delivery and postpartum. Am J Phys Med and Rehabil
afetam a qualidade de vida da mulher, devido ao aumento 2007;18:459-76.
dos níveis de ansiedade e emoção. 5. Pitangui ACR, Ferreira CHJ. Physical therapy evaluation
Embora haja escassez de trabalhos relacionando direta- in treatment of gestational low back pain. Fisioter Mov
mente exercício pré-natal e qualidade de vida, os benefícios do 2008;21:135-42.
6. Setse R, Grogan R, Pham L, Cooper LA, Strobino D, Powe
exercício na saúde da gestante são bem conhecidos. Os dados
NR, Nicholson W. Longitudinal study of depressive symptoms
obtidos neste estudo corroboram com aqueles encontrados and health-related quality of life during pregnancy and after
na literatura onde ocorrem registros de aumento das queixas delivery: he health status in pregnancy (HIP) study. Matern
relacionadas ao sistema musculoesquelético, principalmente Child Health J 2008;13:577-87.
algias lombares, durante a gestação. Tal fato pode ser atribu- 7. Sabino J, Grauer J. Pregnancy and low back pain. Curr Rev
ído à mudança do centro de gravidade, rotação anterior da Musculoskelet Med 2008;1:137-141.
pelve, aumento da lordose lombar e elasticidade ligamentar 8. Lima FR, Oliveira N. Pregnancy and exercise. Rev Bras Reu-
[8,19]. O exercício de intensidade leve a moderada previne o matol 2005;45:188-90.
aumento de peso, o aparecimento de dor lombar e mantém 9. Artal R, O’Tool M. Guidelines of the American College of
Obstetricians and Gynecologists for exercise during pregnancy
a forma física [20].
and postpartum period. Br J Sports Med 2003;37:6-12.
Considerando a avaliação da qualidade de vida, antes e
10. Jomeen J, Martin CR. he factor structure of the SF-36 in early
após os exercícios, observou-se melhora signiicativa nos do- pregnancy. J Psychosom Res 2005;59:131-8.
mínios “Aspectos Sociais”, “Saúde Mental” e “Estado Geral de 11. Ferreira PL. Development of the Portuguese version of MOS
Saúde” do SF-36. Relatos na literatura mostram que a prática SF-36. Part II: Validaton tests. Acta Med Port 2000;13:119-27.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


28 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

12. Förger F, Stensen M, Schumacher A, Villiger PM. Impact if 16. Mann L, Kleinpaul JF, Teixiera CS, Konopka CK. Lumbar-
pregnancy on health related quality of life evaluated prospecti- -pelvic pain and physical exercise during gestation. Fisioter
vely in pregnant women with rheumatic diseases by the SF-36 Mov 2008;21:99-105.
health survey. Ann Rheum Dis 2005;64:1494-9. 17. Torkan B, Sousan P, Lamyian M, Kazemnejad A, Montazeri
13. Martins RF, Pinto e Silva JL. Tratamento da lombalgia e dor A. Posnatal quality of life in women after normal delivery and
pélvica posterior na gestação por um método de exercícios. Rev caesarean section. BCM pregnancy and childbirth 2009;9:1-7.
Bras Ginecol Obstet 2005;27(5):275-82. 18. Jomeen J, Martin CR. he impact of choice of maternity care
14. Martins RF, Pinto e Silva JL. Prevalência de dores nas costas na on psychological health outcomes for women during pregnancy
gestação. Rev Assoc Med Bras 2005;51(3):144-7. and the postnatal period. J Eval Clin Pract 2008;14:391-8.
15. Martins RF, Pinto e Silva, JL. An exercise method for the tre- 19. Tendais I, Figueiredo B, Mota J. Actividade física e qualidade de
atment of lumbar and posterior pelvic pain in pregnancy. Rev vida na gravidez. Análise psicológica 2007;25:489-501.
Bras Ginecol Obstret 2005;27:257-87. 20. Evenson KR, Moos MK, Carrier K, Riz AMS. Perceived barriers
to physical activity among pregnanct women. Matern Child
Health J 2009;13:364-75.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 29

Artigo 5

Avaliação da função sexual em mulheres no climatério


Evaluation of sexual function in climacteric women
Natalia Maria Barbosa Bezerra*, Andressa Gollo Signoretti**, Maria hereza Albuquerque B. C. Micussi***, Elizabel de Souza
Ramalho Viana***, Lílian Lira Lisboa*****

*Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Graduada em Fisioterapia pela Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Norte, ***Docente adjunta do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, ***8Docente assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar a função sexual das mulheres que se encontram Objective: To evaluate sexual function of women in climacteric
no período do climatério, utilizando o instrumento Quoeiciente de period, using the instrument Coeicient of Sexuality-Female Version
Sexualidade- Versão Feminina (QS-F), investigando se existe relação (QS-F), investigating whether there is a relation between sexual
entre a função sexual e as variáveis sociodemográicas associadas. function and sociodemographic variables associated. Methods: In an
Métodos: em um estudo observacional, analítico de corte transver- observational, analytical, cross-sectional study, 23 women were eva-
sal, foram avaliadas 23 mulheres no período de março a abril de luated during the period from March to April 2011. he sample was
2011. A amostra foi selecionada por conveniência, foram incluídas selected for by convenience and included women 45 to 65 years old,
mulheres de 45 a 65 anos, sexualmente ativas, sem histerectomia sexually active that have not been submitted to a hysterectomy, and
prévia e concordância em participar da pesquisa. Os dados sociode- agreed to participate. Sociodemographic data were investigated: age,
mográicos investigados foram: faixa etária, escolaridade, estado civil education, marital status and physical activity. hese were collected
e prática de atividade física. Estes foram coletados juntamente com with the self-application of QS-F. Data analysis was performed by
a auto-aplicação do QS-F. A análise dos dados foi realizada com o the program Statistical Package for Social Sciences (SSPS) version
auxílio do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), 18.0. he test U of Mann-Whitney was also used to investigate di-
versão 18.0. Também foi utilizado o teste de U de Mann-Whitney ferences between groups in order to compare the sociodemographic
para investigar a diferenças entre grupos a im de comparar as va- variables on sexual function adopting a signiicance level of p < 0.05.
riáveis sociodemográicas quanto à função sexual, sendo o nível de Results: he majority of the participants women of this study were
signiicância adotado p < 0,05. Resultados: a maioria das mulheres 45 to 54 years old (78.3%), studied for more than 9 years (78.3%),
participantes da pesquisa encontravam-se na faixa etária entre 45 e were married or were in a stable relationship (60,9%) and sedentary
54 anos (78,3%), tinham mais de 9 anos de estudo (78,3%), eram (73,9%). Single women obtained good to excellent score while the
casadas ou estavam em uma união estável (60,9%) e não praticavam women in other categories had scores between regular and good. A
atividade física (73,9%). As mulheres solteiras obtiveram resultados detailed evaluation of QS-F scores showed that single women had
de desempenho sexual bom a excelente enquanto as outras cate- higher median score on the question ability to reach orgasm (p =
gorias se encaixam no intervalo de regular a bom. Já a avaliação 0.03). Conclusion: Women in climacteric period who are younger,
detalhada dos escores do questionário QS-F, pode-se observar que single, with physical activities seem to have better sexual function
as mulheres solteiras obtiveram maior mediana na pontuação da than those who it into the other categories.
questão capacidade de atingir o orgasmo (p = 0,03). Conclusão: as Key-words: climacteric, menopause, orgasm, sexuality, women’s
mulheres na fase do climatério que são mais jovens, solteiras e que health.
praticam atividade física parecem ter melhor função sexual do que
as que se encaixam nas demais categorias.
Palavras-chave: climatério, menopausa, sexualidade, orgasmo,
saúde da mulher.

Endereço para correspondência: Lílian Lira Lisboa, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Senador Salgado Filho, 3000, 59072-970
Natal RN, E-mail: lisboa.lilian@gmail.com

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30 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução da cidade de Natal, estado do Rio Grande do Norte, Bra-


sil. A coleta de dados foi realizada no período de março a
O climatério representa um problema de saúde pública, abril de 2011. Foram adotados como critérios de inclusão:
pela sua magnitude e pelas repercussões sociais produzidas. mulheres de 45 a 65 anos de idade, sexualmente ativas, sem
A Organização Mundial de Saúde o deine como uma fase histerectomia prévia e que apresentassem disponibilidade
biológica da vida da mulher, geralmente dos 40 aos 65 anos de e aceitação para responder voluntariamente o instrumento
idade, em que ocorre a transição entre o período reprodutivo utilizado neste estudo.
e o não reprodutivo, chegando ao término um ano depois da A pesquisa foi aprovada segundo parecer emitido pelo
menopausa [1]. Comitê de Ética da Universidade Potiguar (250/2010).
Nas mulheres brasileiras, a menopausa ocorre em média Todas as mulheres foram informadas sobre a aplicação do
aos 51,2 anos [2]. Desde 2003 a expectativa de vida da mulher questionário assim como o destino dos dados coletados, e
no Brasil é de 72 anos [3]. Assim, o aumento progressivo da assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
expectativa de vida da população permite prever que a po- Foram colhidos dados gerais: faixa etária, escolaridade (por
pulação feminina possa viver ainda cerca de um terço de suas anos estudados), estado civil e prática de atividade física;
vidas após a menopausa [4]. e auto-aplicação do instrumento utilizado, o Quoeiciente
Durante o período de climatério ocorrem mudanças Sexual-versão feminina (QS-F).
endócrinas em função do declínio da atividade ovariana. A O QS-F é um questionário validado por Abdo em 2006
diminuição na produção do estrogênio tem como resultado a [14], que avalia a função sexual de mulheres, composto de
atroia urogenital acarretando sintomas como prurido vulvar, 10 questões abrangendo domínios da função sexual como:
dispareunia e algopareunia, sensação de secura vaginal, polaci- pensamentos, lembranças e imaginação sobre sexo; interesse
úria e incontinência urinária [4,5]. Também ocorrem comu- na participação do ato sexual com desejo; estímulo sexual
mente neste período as mudanças clínicas em consequência com preliminares; lubriicação; aumento da excitação com
das alterações do ciclo menstrual: fogachos, sudorese excessiva a excitação do parceiro; relaxamento da vagina durante a
e insônia [6], além de uma variedade de queixas psíquicas penetração; dor durante a relação sexual enquanto acontece
como irritabilidade, depressão e as disfunções sexuais [7,8]. a penetração; envolvimento sem distração durante o sexo;
A sexualidade vem sendo reconhecida como um dos pi- capacidade de atingir o orgasmo; desejo de repetir o ato se-
lares da qualidade de vida, sendo uma questão do climatério xual. A resposta para cada questão é composta por uma escala
que tem sido grandemente valorizada. Esta valorização se dá gradual de 0 a 5, sendo 0 = nunca; 1 = raramente; 2 = às vezes;
em virtude da crescente longevidade feminina nas últimas 3 = aproximadamente 50% das vezes; 4 = a maioria das vezes;
décadas e da maior prevalência destas disfunções depois da 5 = sempre. Os pontos de corte são: 0 a 20 pontos = nulo a
menopausa [9,10]. ruim; 22 a 40 = ruim a desfavorável; 42 a 60 = desfavorável a
Salienta-se que a disfunção sexual é caracterizada pela falta regular; 62 a 80 = regular a bom; 82 a 100 = bom a excelente.
de capacidade de participar com satisfação do relacionamento Sendo classiicado como paciente com disfunção sexual apenas
sexual [11], podendo ser dividida em quatro áreas: desejo aqueles com pontuação abaixo de 60.
sexual, excitação, orgasmo e dor [12]. Tais áreas podem ser A análise dos dados foi realizada com auxílio do software
alteradas por aspectos culturais, sociais, biológicos e psico- de processamento de dados Statistical Package for the Social
lógicos [9,10]. Science (SPSS 18.00), e apresentados através de estatísticas
O climatério tem um impacto negativo sobre a sexua- descritivas para identiicar e caracterizar a função sexual
lidade [13]. Entretanto, apesar da disfunção sexual ser um de mulheres que se encontram no período do climatério.
aspecto investigado por pesquisas realizadas com mulheres Também foi utilizado o teste de U de Mann-Whitney para
no climatério, destaca-se a relevância de investigar de forma investigar a diferenças entre grupos a im de comparar as
mais especíica a função sexual feminina neste período, bem variáveis sociodemográicas quanto a função sexual, sendo o
como fatores potencialmente associados, a im de instigar nível de signiicância adotado p < 0,05.
relexões e possíveis intervenções direcionadas a esta temática.
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo avaliar Resultados
a função sexual das mulheres que se encontram no período
do climatério fazendo uma relação com as variáveis sociode- De acordo com os dados analisados, 73,8% das mulheres
mográicas associadas. encontravam-se na faixa etária entre 45-54 anos, 21,7 %
assinalou ter 5 a 8 anos de estudo e 26,1% pratica atividade
Material e métodos física (Tabela I).
A análise da função sexual das mulheres com menor faixa
Realizou-se um estudo observacional, analítico de corte etária (45-54 anos), sem união conjugal, com mais anos de
transversal com amostra selecionada por conveniência. As estudo e que praticam atividade física mostrou que estas tive-
participantes são mulheres na fase do climatério, residentes ram medianas mais elevadas do escore total do QS-F (Tabela

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 31

II). As mulheres solteiras obtiveram resultados de desempenho estímulo sexual com preliminares e relaxamento da vagina
sexual bom a excelente, segundo o QS-F, as outras categorias para penetração do pênis, enquanto as mais jovens tiveram
se encaixam no intervalo de regular a bom. maior escore de envolvimento na relação sexual. Relataram
maior desejo de repetir o ato sexual em outros dias aquelas
Tabela I - Dados sociodemográicos das mulheres no climatério n solteiras e de menor faixa etária. Porém as participantes mais
= 23. velhas e que não fazem atividade física pontuaram mais no
Dados n (%) quesito relacionado à dor, ou seja, relataram sentir menos dor
Idade durante o ato sexual. Quanto aos quesitos pensamento em
45-54 anos 18(78,3) sexo e excitação com o aumento da excitação do parceiro, não
55-65 anos 5(21,7) houve diferença de pontuação.
Escolaridade
5-8 anos de estudo 5(21,7) Discussão
9 ou mais anos de estudo 18(78,3)
Estado civil Durante o climatério ocorrem modiicações na resposta
Casada/ união estável 14(60,9) sexual. Na fase de excitação há diminuição da vasodilatação
Solteira/ divorciada/ separada 9(39,1) das mamas, o rubor sexual se apresenta com menos inten-
Prática de atividade física sidade e frequência, o aumento do tônus muscular se torna
Sim 6(26,1) mais discreto e surge um declínio na atividade das glândulas
Não 17(73,9) de Bartholin. Na fase platô da resposta sexual o clitóris não
sofre mudanças em mulheres climatéricas. A vagina perde
Tabela II - Associação entre escore total do QS-F e variáveis socio- elasticidade e apresenta menor expansão do órgão durante o
demográicas. ato sexual, há menor lubriicação vaginal, abreviação do tempo
Mediana de excitação enquanto torna-se menor a elevação do útero para
Dados sociode- (Intervalo dentro da pelve. Ocorre um decréscimo da tensão muscular
mográicos
Grupo P
interquartí- pélvica e uma menor intensidade do orgasmo [15,16].
lico) Estas mudanças trazem como consequências diminuição
Idade 45-54 77 (15) do desejo sexual, dor durante a relação sexual e aversão ao
0,10 coito, assim como a diminuição da frequência das relações
55-65 64 (22) sexuais [15,16]. Daí a importância de se compreender detalha-
Escolaridade damente a relação entre possíveis fatores causais da disfunção
5-8 anos de estudo 70 (12) sexual nessa fase de vida das mulheres.
0,43 Apesar de este estudo não ter obtido diferença signiicativa
9 ou mais anos de entre as variáveis sociodemográicas, a função sexual foi, no
77 (22)
estudo geral, de regular a bom, segundo essa graduação originalmente
Estado Civil elaborada e validada por Abdo [14]. Este achado corrobora
Solteira/divorcia- com o estudo realizado em 2008, utilizando também mulheres
82 (18)
da/separada brasileiras [17].
0,12 Dos fatores avaliados no estudo de Figueroa et al. [13], a
Casada/união idade resultou ser um fator de risco signiicativo ao afetar a
70 (20)
estável sexualidade feminina globalmente, aumentando em dobro o
Atividade Física risco de disfunção sexual, provavelmente devido à diminuição
Sim 81 (14) hormonal secundário ao envelhecimento. A inluência da
0,20 idade sobre a sexualidade citada neste estudo coincide com
Não 70 (20) o achado do presente trabalho, o qual mostra que mulheres
*Teste Mann-Whitney **p <0,05 mais jovens parecem ter melhor função sexual.
Num estudo envolvendo aproximadamente 1500 mu-
Na avaliação detalhada dos escores do questionário QS-F, lheres, as principais disfunções sexuais encontradas entre as
pode-se observar que as mulheres solteiras, com menor faixa participantes foram: a disfunção orgásmica, dor na relação
etária e praticantes de atividade física obtiveram maiores pon- sexual e falta de desejo sexual. O mesmo estudo constatou que
tuações quanto ao interesse na participação da relação sexual indivíduos mais velhos são mais insatisfeitos com a vida sexual
com desejo, lubriicação e capacidade de atingir o orgasmo. [18]. Outra pesquisa com 456 mulheres de 45 a 60 anos de
Sendo esta última associada signiicativamente com a faixa idade também mostrou que entre as queixas sexuais, a dimi-
etária de 45 a 54 anos (p = 0,03). Ainda solteiras e praticantes nuição do interesse sexual foi a mais frequente e predominou
de atividade física apresentaram maiores escores quanto ao nos períodos da peri e pós-menopausa. No entanto a maioria

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


32 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

das mulheres entrevistadas neste estudo referiu ter relações por erro amostral. Dessa forma, não existem provas o sui-
orgásmicas e poucas referiram secura vaginal [8]. Botell et al. ciente para concluir que existem diferenças quanto a função
[19] mostra em sua pesquisa que as alterações na esfera sexual sexual, exceto na maior capacidade de atingir orgasmo pelas
são signiicativamente predominantes nas pós-menopáusicas, mulheres na faixa etária entre 45 e 54 anos.
sendo a aversão a relações sexuais, diminuição do desejo
sexual, dor na penetração e insatisfação as mais frequentes. Conclusão
Para Lorenzi et al. [10] a frequência das relações sexuais
associou-se signiicativamente com a idade, nível de satisfação Apesar da relevância do tema para diversas áreas, exis-
sexual e intensidade dos sintomas climatéricos. A maioria das tem poucos estudos que abordam a sexualidade no período
mulheres entrevistadas referiu diminuição da frequência das do climatério. No início do terceiro milênio é possível que
relações sexuais após a menopausa. No presente trabalho, ape- a medicina sexual seja um dos campos mais promissores
sar de não ser avaliada a frequência e sim o desejo de ter mais em termos de pesquisa cientíica direcionadas a estratégias
relações sexuais, foi observado, sem signiicância estatística, de abordagem da sexualidade, visando de prevenção a tra-
a diminuição do desejo proporcional ao aumento da idade. tamento das disfunções sexuais e de outras condições pa-
As mulheres que convivem com parceiro apresentam tológicas correlacionadas. Estimula-se, portanto, a criação
maior prevalência de queixas genitais do que as que não con- de mais pesquisas sobre o tema, abrangendo um número
vivem. Este fato poderia ser explicado pela melhor percepção maior de mulheres, de diferentes regiões do país, para que
do trato genital baixo pelas mulheres que, tendo parceiro, con- se possa incrementar o conhecimento sobre a inluência
sequentemente, teriam maior atividade sexual. Porém, com destes dados sociodemográicos na função sexual feminina,
o avanço da idade, parece existir também uma perda gradual objetivando uma melhor abordagem, pelos proissionais
da libido resultando na diminuição da atividade sexual, o que da saúde, dessa questão tão relevante para a qualidade de
reduziria a percepção da atroia do epitélio vaginal. Estes fatos vida da mulher.
podem explicar porque as mulheres solteiras apresentaram
maior escore na pontuação do QS-F [8]. Referências
A mulher tem múltiplas razões para se engajar no ato se-
xual. A razão puramente instintiva acompanha a redução no 1. Fernandes CE, Baracat EC, LimaGR. Climatério; manual de
interesse por sexo. A perda da motivação pela interação sexual orientação. SP: Ponto; 2004.
é crescente em decorrência da inércia provocada pela rotina 2. Pedro AO, Pinto Neto AM, Costa Paiva L, Osis MJD, Hardy
EE. Idade de ocorrência da menopausa natural em mulheres
sexual [20]. Observa-se em outro estudo que a diiculdade
brasileiras: resultados de um inquérito populacional domiciliar.
do casal em estabelecer uma relação dialógica e compreensiva
Cad Saúde Pública 2003;19(1):17-25.
pode interferir no exercício pleno da sexualidade [19]. Isso 3. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS [Internet]. Informações
pode explicar o achado no presente trabalho onde se obser- de Saúde. Banco de dados. Ministério da Saúde 2003. [citado
vou diferença no quesito orgasmo entre mulheres casadas e 2011 mai 5]. Disponível em URL: http:// www.datasus.gov.br.
solteiras. 4. Spritzer PM. Relevância da avaliação dos sintomas e dosagem
A sintomatologia climatérica mostrou-se signiicativa- de estradiol no tratamento de reposição hormonal em pacientes
mente mais intensa entre as mulheres que não tinham uma pós-menopáusicas. Arq Bras Endocrinol Metab 1999;43(5):310-
atividade física regular [21]. No presente estudo essa diferença 2.
não foi percebida talvez pelo fato de que não houve mulheres 5. Castelo-Branco C, Cancelo MJ, Villero J, Nohales F, Juliá MD.
Management of post-menopausal vaginal atrophy and atrophic
suicientes para captar tal associação.
vaginitis. Maturitas 2005;52:46-52.
Porém é sabido que a atividade física regular contribuiu 6. Zahar SEV, Aldrighi JM, Pinto Neto AM, Conde DM, Zahar
para a preservação da massa muscular e da lexibilidade ar- LO, Russomano F. Qualidade de vida em usuárias e não usu-
ticular, reduzindo a intensidade dos sintomas climatéricos, árias de terapia de reposição hormonal. Rev Assoc Med Bras
levando a uma sensação de maior bem-estar. O exercício 2005;51(3):133-8.
físico aumenta a secreção de b-endorinas hipotalâmicas, 7. Favarato MECS, Aldrighi JM. A mulher coronariopata no cli-
aliviando as ondas de calor e melhorando o humor, aumenta matério após a menopausa: implicações na qualidade de vida.
a densidade mineral óssea, diminui a frequência cardíaca de Rev Assoc Med Bras 2001;47(4)339-345.
repouso, melhora o peril lipídico e normaliza a pressão ar- 8. Pedro AO, Pinto Neto AM, Costa Paiva LHS, Osis MJD, Hardy
EE. Síndrome do climatério: inquérito populacional domiciliar
terial. Por im, a atividade física melhora a imagem corporal,
em Campinas, SP. Rev Saúde Pública 2003;37(6):735-42.
aumentando a auto-estima feminina, a qual afeta diretamente
9. Lara LAS, Usechea B, Silva JCR, Ferriani RA, Reis RM, Sá
o desejo sexual da mulher [22]. MFS et al. Sexuality during the climacteric period. Maturitas
Salienta-se que as associações entre a função sexual e as 2009;62:127–33.
variáveis sócio-demográicas, tiveram neste estudo, o valor 10. De Lorenzi DRS, Saciloto B. Frequência da atividade se-
de probabilidade associada superior a 0,05 o que mostra ser xual em mulheres menopausadas. Rev. Assoc. Med. Bras.
possível que os escores mais altos obtidos nesta pesquisa seja 2006;52(4):256-60.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 33

11. Organização Mundial da Saúde (OMS). CID-10 - Classiicação 18. Abdo CHN, Oliveira Junior WM, Moreira Junior ED, Fittipaldi
estatística internacional de doenças e problemas relacionados à JAS. Peril sexual da população brasileira: resultados do Estudo
saúde. 10ª Rev. São Paulo: EDUSP;1997. do Comportamento Sexual (ECOS) do brasileiro. Rev Bras
12. González M, Viáfara G, Caba F, Molina T, Ortiz C. Libido Med 2002;59(4):250-7. 
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14. Abdo CHN. Elaboração e validação do quociente sexual: versão 2008;30(6):312-21.
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mulheres no climatério atendidas em hospital-escola na cidade
do Recife, Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2008;30(3):113-120.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


34 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 6

Avaliação da qualidade de vida de pacientes


portadores de incontinência anal em uma clínica
particular de Natal/RN
Assessement of quality of life in patients with fecal incontinence
at a clinic of Natal/RN
Cleneide Quintela Gadelha do Espírito Santo*, Lucas Ithamar Silva Santos**, Valéria Conceição Passos de Carvalho, D,Sc.***

*Fisioterapeuta, Especialista em Uroginecologia e Obstetrícia – Faculdade Redentor/RJ, **Fisioterapeuta, Especialista em Urogineco-


logia e Obstetrícia – Faculdade Redentor/RJ, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Fisioterapia – Universidade Federal de
Pernambuco/PE, ***Fisioterapeuta, Doutora em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportame/to – Universidade Federal de Pernam-
buco/PE, Professora Titular da Universidade Católica de Pernambuco/PE

Resumo Abstract
Introdução: A Incontinência Anal (IA) é deinida como a perda Introduction: Anal incontinence (AI) is deined as the loss of
de latos e de fezes sólidas, líquidas ou pastosas. Seus portadores latus and solid, liquid or pasty stool. he patients tend to a de-
tendem a uma queda na Qualidade de Vida (QV) devido ao iso- crease Quality of Life (QOL) due to the isolation that is imposed.
lamento que se impõem. Objetivo: Identiicar possíveis diferenças Objective: To identify possible diferences in the impact of forms
na repercussão das formas de apresentação da IA na qualidade de of presentation of anal incontinence (AI) in the quality of life, and
vida, além de avaliar a presença de diferença entre os domínios do to evaluate the existence of diferences between the domains of the
Fecal Incontinence Quality of Life Scale (FIQL). Método: Foi reali- Fecal Incontinence Quality of Life Scale (FIQL). Method: Was car-
zado um corte transversal em uma clínica particular de isioterapia ried out a cross-sectional study on a private clinic of physiotherapy
de Natal/RN. Foi aplicado o FIQL além de um questionário sobre at Natal/RN. FIQL was applied in addition to a questionnaire of
dados sociodemográicos e dados da IA em pacientes de ambos os sociodemographic data and data of AI in patients of both sexes,
sexos, acima de 18 anos, com diagnóstico de incontinência anal. Os aged over 18, with a diagnosis of anal incontinence. he unable
incapazes de responder aos questionários foram excluídos. Resultados: to respond to the questionnaires were not included. Results: here
Não foram encontradas diferenças entre os valores médios do escore were no diferences between mean values of the total score of the
total do FIQL nem dos domínios quando a amostra foi dividida por FIQL nor by domains when the sample was divided by the chief
queixa principal. A IA apresentou maior repercussão nos domínios complaint. he AI had a higher impact in the domains behavior and
comportamento e constrangimento e os domínios estilo de vida e embarrassment. Conclusion: Anal incontinence and its various forms
depressão não apresentaram diferença. Conclusões: A incontinência of presentation afects in a similar manner the quality of life, but
anal e suas diversas formas de apresentação repercutem de modo with greater impact related to embarrassment and to the behavior
semelhante na qualidade de vida, porém, com maior impacto rela- of incontinent.
cionado ao constrangimento e ao comportamento do incontinente. Key-words: fecal incontinence, quality of life, pelvic loor
Palavras-chave: Incontinência fecal; Qualidade de vida; disorders.
Distúrbios do assoalho pélvico.

Endereço para correspondência: espiritosanto_br@hotmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 35

Introdução obtendo-se um poder do estudo de 80%, um intervalo de


coniança de 95% e um erro-alfa de 3%. O presente estudo
O mecanismo complexo da continência anal depende da foi aprovado pelo comitê de ética de pesquisas com seres
ação integrada da musculatura esincteriana anal e dos mús- humanos sob o CAAE nº 0040.0.096.000/09.
culos do assoalho pélvico, da presença do relexo inibitório Para traçar um peril sociodemográico, foi elaborada
reto-anal, da capacidade, sensibilidade e complacência das uma avaliação para esta pesquisa com questionamentos sobre
fezes e, inalmente do tempo de trânsito intestinal [1]. Assim, idade, gênero, nível de escolaridade, estado civil, proissão,
a Incontinência Anal (IA), pode ser deinida como a alteração condição econômica, hábitos de vida, dados sobre a IA (queixa
deste complexo que leva a perda de latos e ou fezes líquida, principal, data de início dos sintomas, situações onde ocorrem
pastosa ou sólida [1]. perdas fecais e/ou de latos, uso de protetores) e dados sobre
A determinação da prevalência desta enfermidade é con- tratamentos clínicos e isioterapêuticos.
troversa devido a vários fatores que podem diicultar a sua Para avaliar a qualidade de vida, foi utilizado o questionário
estimativa, como por exemplo, a subestimação de seus sinais FIQL, desenvolvido para avaliar a qualidade de vida relacio-
e sintomas como também pelo constrangimento em relatá-las. nada à saúde em pacientes portadores de incontinência fecal.
Por isso há uma grande variação em suas estatísticas de 1% a Possui 29 questões separadas em quatro domínios (estilo de
23% na população em geral [1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8]. vida, comportamento, depressão e constrangimento) cada uma
As pessoas que apresentam disfunção anal tendem a um pontuada em uma escala que varia de 1 a 4. Foi validado no
desequilíbrio emocional, físico, social e psicológico fazendo Brasil por Yusuf e colaboradores [9], e, tanto a versão original
com que elas se isolem cada vez mais, pelo simples fato de como a versão em português, possuem propriedades psicomé-
perder fezes em público [2, 3, 9]. As mudanças de hábitos tricas adequadas, boa especiicidade, linguagem simples, são
e costumes do homem contemporâneo causaram mudanças objetivos, bem aceitos e muito utilizados na literatura [10].
também na isiologia de vários sistemas, notoriamente no Inicialmente, os pacientes foram convidados por meio
sistema digestivo e, por conseguinte no mecanismo de re- de uma conversa informal a participarem da pesquisa, onde
gulação fecal, afastando-o assim mais precocemente da vida foram explicitados sobre os objetivos e benefícios da pesquisa e
em sociedade. A perda do controle da evacuação determina os métodos de coleta de dados. A coleta de dados foi realizada
a incapacitação física e psicológica, resultando em perda de através dos questionários sociodemográico e da aplicação do
autoestima e progressiva redução social, além de onerar seu questionário FIQL.
portador pelo seu custo (protetores e vestes) [9]. Após a coleta, os dados foram tabulados no programa
Atualmente medidas para avaliar a QV são incentivadas, Microsoft Office Excel e transferidos para o programa
no tocante a IA sendo o FIQL considerado padrão ouro estatístico SPSS versão 18.0. Foram obtidas distribuições
pelos pesquisadores, pois avalia os aspectos psicossociais que de frequências, para as variáveis qualitativas, e medidas de
envolvem o paciente, além de fornecer dados para melhorar tendência central e desvios, para as variáveis quantitativas.
a abordagem terapêutica [9]. Foi aplicado o teste Kolmogorov-Smirnov para veriicar se
Desta forma, o presente estudo teve como objetivos as variáveis apresentavam distribuição normal, Foi utilizado
analisar as características sociodemográicas e características o teste de Kruskal-Wallis para comparação de médias e para
relacionadas à incontinência anal, avaliar a qualidade de vida, comparação das médias dos domínios entre si foi utilizado
analisar quais domínios do FIQL são mais acometidos além de o teste de Friedman e para a identiicação das diferenças, o
analisar as repercussões do tipo de incontinência na qualidade teste de Wilcoxon para amostras relacionadas.
de vida de pacientes com incontinência anal.
Resultados
Material e métodos
A amostra foi composta por 40 pacientes com média de
Foi realizado um corte transversal em uma clínica par- idade de 54,75 (DP = 14,22) anos, a maioria desta era do sexo
ticular de isioterapia na cidade de Natal, Rio Grande do feminino 92,5% (n = 37), 55% (n = 22) dos casos tinha o
Norte. Foram incluídos no estudo, todos os pacientes com ensino fundamental, bem como 55% (n = 22) eram casados.
diagnóstico de IA, de ambos os sexos, maiores de 18 anos, que Com relação a condição econômica 77,5% (n = 31) foram
aceitaram participar voluntariamente do estudo e assinaram classiicados como da classe média. Quando questionados
o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). O sobre atividade física foi observado que 52,5% (n = 21) refe-
diagnóstico de IA foi emitido por um(a) médico(a) proctolo- riram ser sedentários (Tabela I).
gista. Foram excluídos os pacientes que apresentaram alguma Dentre os avaliados, a perda fecal foi à queixa principal
condição clínica que os tornassem incapazes de responder aos mais frequente, sendo relatada por 40% (n = 16), seguida
questionários. O cálculo do tamanho da amostra foi realizado do soiling, relatado por 32,5% (n = 13) da amostra avaliada,
com base na média do número de atendimentos realizados 75% (n = 30) referem perder fezes ao liberar latos e quando
no serviço. Foi utilizado o programa EPI INFO Versão 6, questionados com relação ao uso de protetor, mais da meta-

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


36 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

de, 72,5% (n = 29) relataram não utilizar nenhum tipo de teste de Kolmogorov-Smirnov também indicou distribuição nor-
protetor (Tabela II). mal para as variáveis anteriormente descritas quando a amostra é
separada em grupos que representam a queixa principal: grupo
Tabela I - Características sociodemográicas dos participantes do 1 = soiling (n = 13), grupo 2 = perda fecal (n = 11) e grupo 3 =
estudo. perda de latos ou coceira ou manobras para evacuar (n = 16).
n %
Gênero Masculino 3 7,5 Tabela III - Média e desvio padrão do escore total do FIQL e seus
Feminino 37 92,5 domínios.
Escolaridade Superior 15 37,5 Média DP
Secundário 3 7,5 FIQL
Fundamental 22 55 Escore Total 2,73 0,86
Estado Civil Casados 22 55 FIQL (Domínios)
Solteiros 6 15 Estilo de Vida 3,08 0,9
União Consensual 2 5 Comportamento 2,39 0,93
Divorciados 7 17,5 Depressão 3,12 0,88
Viúvos 3 7,5 Constrangimento 2,15 1,1
Condição Econômica Classe Baixa 4 10 DP = Desvio Padrão; FIQL = Fecal Incontinence Quality of Life Scale
Classe Média 31 77,5
Classe Alta 5 12,5 Apesar da distribuição normal das variáveis, devido ao
Hábitos de Vida Caminhada 8 20 tamanho amostral foi utilizado o teste Kruskal-Wallis para
Atividade Física 11 27,5 comparação de médias e, em todas as situações, foi adotado
Sedentária 21 52,5 o nível de signiicância p ≤ 0,05. A média do FIQL entre os
n = número de participantes grupos separados por queixa principal pelo teste de Kruskal-
-Wallis não apresentou diferença signiicativa (p = 0,854).
Tabela II - Características da incontinência fecal dos participantes Também não houve diferença entre as médias entre os do-
do estudo. mínios do FIQL (estilo de vida; comportamento; depressão e
n % constrangimento) quando a amostra é separada em grupos por
Queixa Principal Soilling 13 32,5 queixa principal. Para a comparação das médias dos domínios
Perda Fecal 16 40,0 entre si foi utilizado o teste de Friedman, o qual demonstrou
Perda de flatos 4 10,0 a presença de diferença entre os domínios (p = 0,001). Para a
Coceira (perda de muco) 3 7,5 identiicação das diferenças foi utilizado o teste de Wilcoxon
Manobras para evacuar 4 10,0 para amostras relacionadas. Apenas os valores médios dos do-
Situação da inconti- Perda aos pequenos mínios Depressão e Estilo de Vida não apresentaram diferença
1 2,5
nência esforços signiicativa entre si (p = 0,282). As diferenças entre as médias
Perda aos grandes dos domínios estão representadas na Figura 1.
1 2,5
esforços
Perda aos pequenos e Figura 1 - Escore total médio dos domínios Estilo de Vida, Compor-
1 2,5
grandes esforços tamento, Depressão e Constrangimento do FIQL (Fecal Incontinence
Não consegue chegar Quality of Life Scale).
2 5,0
ao banheiro * *
Perda de fezes ao liberar 4,5 * * *
30 75,0 4
flatos
Pera de flatos 4 10,0 3,5
3
Escore FIQL

Perda de muco 1 2,5


2,5
Uso de proteção Nenhum 29 72,5
2
Papel Higiênico 11 27,5
1,5
Absorvente 0 0,0
1
Panos 0 0,0
0,5
n = número de participantes
0
Estilo Comporta- Depres- Constran-
de vida mento são gimento
Na Tabela III são descritas as médias do escore total do FIQL *p<0,05
e dos 4 domínios do FIQL (Estilo de vida; Comportamento;
A diferença entre as médias dos domínios foi analisada através do teste
Depressão; Constrangimento) Todas as variáveis apresentaram
de Wilcoxon para amostras relacionadas (*indica diferença estatistica-
distribuição normal segundo o teste de Kolmogorov-Smirnov. O
mente significante no nível de p < 0,05).

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 37

Discussão na qualidade de vida, os participantes com perda fecal grave


e leve apresentaram menores valores absolutos nos domínios
Qualidade de vida é um conceito multidimensional que comportamento e constrangimento [18]. Em outro estudo, a
incorpora aspectos sociais, físicos e mentais do indivíduo estan- severidade da perda fecal apresentou maior associação com
do relacionado com a sua percepção sobre seu estado de saúde os domínios comportamento e constrangimento [19].
em grandes domínios ou dimensões de sua vida [11]. Segundo Diante disso, pôde-se observar que o impacto da incon-
a Organização Mundial de Saúde [12], deine-se qualidade de tinência anal na qualidade de vida apresenta divergências
vida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida no na literatura cientíica. Porém, o domínio comportamento
contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em parece ser o que apresenta maior comprometimento dentre
relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. os domínios do FIQL.
O uso de questionários genéricos ou especíicos, como instru- A amostra avaliada, por ser decorrente de uma clínica
mento de avaliação de qualidade de vida tem sido intensiicado particular e ter sido obtida por conveniência, apresenta-se
na pesquisa cientíica nos últimos anos, pelo crescente interesse como uma limitação do estudo. Outra limitação deve-se a
dos pesquisadores em saúde por métodos subjetivos de avaliação diferença entre a proporção de homens e mulheres incluídos
clínica, valorizando a opinião do paciente sobre sua condição na amostra.
[13,14]. Embora a qualidade de vida da clientela portadora de IA Devido à escassez de estudos que avaliem o impacto de
seja sempre mencionada pelos pesquisadores, como objetivo ou intervenções em pacientes com incontinência anal e utilizem o
indicador de resultados da assistência interdisciplinar prestada, a instrumento FIQL como método de avaliação da qualidade de
literatura cientiica exibe escasso estudo diretamente voltado para vida, fazem-se necessários estudos longitudinais que avaliem
a mensuração e ou avaliação de qualidade de vida, por métodos o efeito de métodos terapêuticos no tratamento de IA e na
quantitativos ou qualitativos [15]. No presente trabalho, o FIQL melhora da qualidade de vida.
foi o instrumento utilizado na identiicação de possíveis diferen-
ças na repercussão das formas de apresentação da incontinência Conclusão
anal (IA) na qualidade de vida, além de avaliar a presença de
diferença entre os domínios avaliados. A incontinência anal e suas diversas formas de apresenta-
Não foram encontradas diferenças signiicativas entre ção repercutem de modo semelhante na qualidade de vida,
os valores médios do escore total do FIQL nem dos valores porém, com maior impacto relacionado ao constrangimen-
médios do FIQL por domínios quando a amostra foi dividida to e ao comportamento do incontinente. São necessários
por queixa principal. Tal achado demonstra que o impacto da estudos longitudinais que avaliem o efeito de intervenções
IA na qualidade de vida independe da forma de apresentação terapêuticas na IA e suas repercussões na qualidade de vida
da mesma. Contudo, os resultados do presente trabalho apre- e nos diferentes domínios do FIQL em pacientes portadores
sentam discordância quando comparados com a literatura. de incontinência anal.
No estudo de Bartlett e colaboradores [16], por exemplo, os
participantes com perda de soilling apresentaram menores Referências
valores no escore total do FIQL. Além disso, nesse mesmo
estudo foi veriicado que nos participantes que apresentavam 1. Oliveira L. Incontinência Fecal. J Bras Gastroenterol
perdas sólidas e líquidas houve maior repercussão negativa na 2006;6(1):35-7.
qualidade de vida quando comparados com participantes que 2. Oliveira SCM, Pinto-Neto AM, Conde DM, Góes JRN,
Santos-Sá D, Costa-Paiva L. Incontinência fecal em mulheres
apresentavam apenas um tipo de perda. Em outro estudo,
na pós-menopausa: prevalência, intensidade e fatores de risco.
mulheres com um componente líquido da incontinência anal Arq Gastroenterol 2006;43(2):102-6.
apresentaram maior impacto na qualidade de vida em todos 3. Oliveira L, Jorge JMN, Yusuf S, Habr-Gama A, Kiss D, Cecco-
os domínios do FIQL quando comparadas com mulheres que nelo I. Novos Tratamentos para a Incontinência Anal: Injeção
referiram apenas incontinência para latos [17]. de Silicone Melhora a Qualidade de Vida em 35 Pacientes
Quando analisada por domínio do FIQL, a incontinência Incontinentes. Rev Bras Coloproct 2007;27(2):167-73.
anal apresentou maior repercussão nos domínios comporta- 4. Blanco DA, Oliván MPD. Complicaciones personales en
mento e constrangimento, sendo representada por menores pacientes con síndromede incontinência fecal. Gerokomos
valores médios nesses domínios. Os domínios estilo de vida e 2008;19(4):190-4.
5. Carvalho LP, Corleta OC, Mallmann ACM, Koshimi RT, Spo-
depressão não apresentaram diferença signiicativa entre seus
lavori A. Neuropatia pudenda: correlação com dados demográ-
valores médios. No estudo de Bartlett e colaboradores [16], icos, índice de gravidade e parâmetros pressóricos em pacientes
a quantidade de perdas relacionada à incontinência fecal pro- com incontinência fecal. Arq Gastroenterol 2002;39(3):139-46.
vocou maior repercussão negativa nos escores médios dos do- 6. Ferreira MC, Braz TP, Machado AMO, Ribeiro G, Andrade
mínios estilo de vida, comportamento e depressão, apresentando RCP. Correlação entre incompetência esincteriana anal e a
resultados diferentes do presente trabalho. Em outro trabalho prática de sexo anal em homossexuais do sexo masculino. Rev
que avaliou o impacto da severidade da incontinência fecal Bras Coloproct 2010;30(1):55-60.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


38 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 39

Artigo 7

Recuperação da diástase de reto abdominal


no período puerperal imediato com
e sem intervenção isioterapêutica
Puerperium recovery of the diastasis of rectus abdominis
with and without physical therapy intervention
haís Medeiros da C. Dias*, haisa Caline dos Santos Barbalho**, Amanda Celly de Andrade Moura*,
Rafaela Jéssica Silveira de Souza*1, Vanessa Patrícia Soares de Sousa***, Elizabel de Souza Ramalho Viana****

*Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Fisioterapeuta graduada Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, ***Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (FACISA),
****Docente adjunta do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo Abstract
Objetivos: Veriicar a inluência da intervenção isioterapêutica na Objectives: To investigate the influence of physiotherapy
recuperação da diástase dos músculos reto-abdominais (DMRA) em intervention in the recovery of diastasis of the rectus abdominal
mulheres no pós-parto imediato. Métodos: foi realizado um ensaio (DMRA) in women in the immediate postpartum period. Metho-
clínico aleatorizado com 16 puérperas, distribuídas aleatoriamente ds: We performed a randomized clinical trial with 16 postpartum
grupo controle controle (GC), onde se veriicou a medida da DMRA women, randomly assigned control group (GC), where there was a
às 6 e 18 horas pós o parto, e grupo tratamento (GT), em que se measure of DMRA at 6 and 18 hours of puerperium in treatment
realizou mensuração e protocolo de intervenção isioterapêutica, group (GT), in which she performed measurement and protocol
com exercícios direcionados para a musculatura abdominal. Na of physical therapy intervention with targeted exercises for abdo-
análise estatística, realizou-se Análise de Variância (ANOVA), para minal muscles. Statistical analysis performed were yhe Analysis of
comparação entre os grupos controle e de tratamento, e o teste Variance (ANOVA) for comparison between treatment and control
de Friedman, para a comparação entre as medidas supra e infra groups, and the Friedman test for comparison between measure-
umbilicais referentes ao grupo tratado. Resultados: Houve intera- ments above and below umbilical for the treated group. Results: A
ção signiicativa na relação Tempo*Grupo (p = 0,00000043) para signiicant interaction in relation Time * group (p = 0.00000043)
DMRA supra-umbilical no GC e GT. Para as medidas da DMRA for GC and GT DMRA supraumbilical. For measures between
infra-umbilical entre os grupos, observou-se uma interação signi- infraumbilical DMRA groups, there was a signiicant interaction
icativa Tempo*Grupo (p-valor = 0,0013). Quando comparadas as Time * group (p-value = 0.0013). Comparing measures supra and
medidas da DMRA supra e infra-umbilical no GT nos três mo- infra-umbilical DMRA GT in the three time points, we observed a
mentos de avaliação, observou-se uma diferença signiicativa para signiicant diference for the two regions measured (p = 0.00034).
as duas regiões medidas (p = 0,00034). Conclusão: Constatou-se Conclusion: here was signiicant reduction in measures supra and
redução signiicativa das medidas da DMRA, tanto infra quanto infra-umbilical DMRA, after physical therapy intervention.
supra-umbilical, após a realização de intervenção isioterapêutica. Key-words: physical therapy, puerperium, diastasis, abdominal
Palavras-chave: isioterapia, puérperio, diástase, músculos muscles.
abdominais.

Endereço para correspondênca: Elizabel de Souza Ramalho Viana, Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ,
Av. Senador Salgado Filho, 3000 Caixa Postal 1524 59072-970 Natal RN, E-mail: elizabel@ufrnet.br

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


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Introdução permanecer ao longo da vida da mulher. Um aumento na


incidência da diástase pode ser devido à inluência hormonal
A gravidez é caracterizada por vários ajustes musculoes- da relaxina, pois se sugere que esta induza o relaxamento
queléticos, isiológicos e endócrinos direcionados à criação nos ligamentos das articulações do corpo durante a gestação
de um ambiente ideal para o feto. O útero gravídico em [3]. Ainda durante a gestação, é comum que haja uma an-
constante crescimento é a principal causa das alterações que teversão pélvica acompanhada ou não de uma hiperlordose
ocorrem na estática e dinâmica do esqueleto da gestante. De lombar. Tais alterações posturais inluenciam a biomecânica
um órgão estritamente pélvico, o útero se expande para cima postural, além de gerar um déicit na função de sustentação
tornando-se um órgão abdominal, suas dimensões aumentam dos órgãos pélvico-abdominais, facilitando o aparecimento
150 vezes durante a gravidez e a capacidade aumenta mais de da diástase dos músculos retoabdominais (DMRA), que
mil vezes [1,2]. Essas alterações contribuem para que ocorra tem como principais fatores predisponentes a obesidade,
um inevitável estiramento da musculatura abdominal, que se multiparidade, macrossomia fetal, lacidez de musculatura
torna lácida devido à frouxidão da linha alba, ocasionando abdominal, polihidrâmnio e gestações múltiplas [8]. As
o afastamento entre os músculos retos abdominais, deinido alterações biomecânicas e musculoesqueléticas que ocorrem
como diástase. A diástase do músculo reto abdominal – no corpo da gestante também são fatores que predispõem ao
DMRA, é uma condição que pode estar presente no último aparecimento da diástase, que pode se agravar se a gestante
trimestre ou aparecer durante o trabalho de parto em virtude apresentar: obesidade, alterações posturais, sedentarismo,
do esforço físico para expulsão do feto, podendo surgir acima fraqueza prévia na musculatura da parede abdominal e
da cicatriz umbilical, na cicatriz e, menos frequentemente, multiparidade [8,9].
abaixo desse nível [3]. Apesar de convencionalmente ser uti- Logo após o nascimento do bebê, o corpo da mãe começa
lizado, Hsia e Jones [3] consideram que o termo diástase é o período de recuperação, entretanto, a normalidade após
mal empregado, pois denota uma situação de separação entre o nascimento não será idêntica ao estado pré-gravidez, so-
os músculos retos abdominais, o que não ocorre, já que eles frendo o corpo feminino efeitos da gravidez e parto [10,11].
são unidos no meio pela linha alba. Portanto, esses autores Ocorrem importantes modiicações gerais até que o orga-
sugerem que a forma mais correta seria dizer que existe uma nismo volte às condições anteriores à gestação. A relevância
distância entre os retos. e a extensão desses processos são proporcionais ao vulto das
Os músculos abdominais além de permitir os movimen- transformações gestacionais experimentadas e diretamente
tos de lexão lateral e anterior de tronco e rotação, também subordinadas à duração da gravidez. O puerpério é reco-
revestem as paredes laterais, anterior e posterior do abdômen. nhecido de seis a oito semanas pós-parto, compreendendo
Agem como uma espécie de cinta que sustenta as vísceras ab- as seguintes etapas: puerpério imediato, primeiros dez dias;
dominais, auxiliando na manutenção do equilíbrio e postura pós-parto tardio, de 10 a 45 dias e pós-parto remoto, após
do corpo. Além disto, serve de apoio e auxílio ao diafragma 45 dias.
durante a respiração [4]. Com a gravidez, estes músculos Um dos objetivos da atuação isioterapêutica nesse mo-
são estirados, provocando uma mudança no seu ângulo de mento é promover a recuperação da musculatura, em parti-
inserção, resultante de uma alteração na habilidade de pro- cular abdominal, através da melhoria de sua tonicidade, com
dução de torque, ou seja, uma diminuição na eiciência de prescrições de exercícios abdominais que são componentes
sua contração. Na existência de uma hipotonia ou fraqueza chaves nos programas isioterapêuticos do período pré-natal
abdominal, essa musculatura não desempenhará o seu papel e pós-natal [6,12].
de forma satisfatória, induzindo, consequentemente, uma A atenção isioterapêutica à saúde da puérpera visa esclare-
atitude postural desequilibrada e patológica, assim como cer, apoiar e orientar a adoção de posturas adequadas, técnicas
uma má função respiratória [5,6]. No período após o parto, respiratórias, além do uso de técnicas de fortalecimento de
na medida em que a puérpera se move, fala e ri, pode ob- grupos musculares importantes na recuperação puerperal,
servar uma falta quase completa de controle da musculatura favorecendo o pleno restabelecimento da função corporal
abdominal, pois esta se encontra enfraquecida. Ela pode normal nesta mulher. Ainda são poucas as pesquisas acerca
ter diiculdade para iniciar a micção, ou o contrário pode dos efeitos da atuação isioterapêutica sobre a recuperação da
ocorrer – uma incapacidade de controlar a bexiga; também DMRA em puérperas no pós-parto imediato, necessitando-se
pode ocorrer vazamento quando a pressão intra-abdominal de mais estudos que possam contribuir com o entendimento
for elevada pela tosse, espirro ou riso. Além do mais, as desta disfunção presente neste período da vida reprodutiva
costas icam muito mais vulneráveis à lesão resultante de da mulher.
um uso incorreto [7]. Diante do exposto, o presente estudo tem como objeti-
A ocorrência da DMRA é mais comum na gestação e no vo veriicar a inluência da intervenção isioterapêutica na
pós-parto imediato. É percebida mais facilmente a partir do recuperação da DMRA no pós-parto imediato, assim como
segundo trimestre gestacional, apresentando diminuição no contribuir com a literatura com dados para uma melhor
puerpério tardio. Pode ser uma situação transitória ou pode atuação do isioterapeuta no puerpério imediato.

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Material e Métodos respiração com predominância abdominal, solicitando-se que


a mesma que inspirasse profundamente o ar e, em seguida,
Este estudo caracteriza-se com ensaio clínico aleatorizado, realizasse uma expiração forçada ao mesmo tempo em que
realizado no Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB), contraía a musculatura abdominal.
localizado no município de Santa Cruz/RN, com o objetivo Após isto, as puérperas realizaram os exercícios no
de observar a efetividade do tratamento isioterapêutico no próprio leito com a mesma posição inicial em todos eles,
pós-parto imediato em relação ao tratamento hospitalar em decúbito dorsal, com os quadris e joelhos letidos e pés
convencional (medicamentoso e repouso). apoiados. Em ambos os momentos, foram dados estímulos
A amostra foi composta por 16 puérperas, que se encon- verbais para as mulheres. Solicitou-se a contração isométrica
travam nos leitos do HUAB destinados ao período de pós- dos músculos abdominais, dando ênfase ao transverso do
-parto imediato. A distribuição das participantes foi feita de abdômen, e a contração isotônica dos músculos oblíquos
forma aleatória em dois grupos: submetido à intervenção abdominais, onde a participante realizou movimentos de
isioterapêutica, chamado de grupo de tratamento (GT; n = lexão anterior de tronco combinados com movimentos
8) e sem intervenção isioterapêutica, grupo controle (GC; rotacionais do mesmo (até que a borda inferior da escápula
n=8). Cada grupo foi composto de 8 puérperas. saísse do leito), neste exercício foi solicitado a puérpera que
Como inclusão estabeleceu-se: idade entre 18 e 40 colocasse as mãos cruzadas na região occipital para facilitar
anos, parto transvaginal, com 6 horas de pós-parto e o exercício. As voluntárias executaram 10 repetições de
apresentando medida de DMRA maior que 3 cm. Os cada exercício no 1º atendimento e 20 repetições para o 2º
critérios de exclusão para participação neste estudo foram: atendimento.
parto cesáreo ou múltiplo, idade menor que 18 anos ou
maior que 40 anos, presença de patologias relacionadas à Análise estatística
gravidez (poliidrâmnio, macrossomia fetal, hipertensão
arterial induzida pela gravidez-HAIG), presença de déicit Para comparação entre os grupos (GT e GC) aplicou-se
cognitivo, mais de 6 horas pós-parto e com DMRA me- uma Análise de Variância (ANOVA) considerando a variável
dindo menos que 3 cm. dependente como a diástase supra e infra-umbilical, medida
O protocolo de atendimento aplicado nas puérperas, que em 2 tempos diferentes. Para comparação entre as medidas
se encontravam no grupo submetido à intervenção isiote- da DMRA, supra e infra-umbilical, referentes ao grupo de
rapêutico, foi adaptado do estudo de Mesquita et al. [12]. tratamento, foi realizado o teste não paramétrico de Friedman.
Foi utilizado o paquímetro (sem mostrador) da marca Foi considerado o valor de p menor que 0,05 como tendo
Messen – 150 mm durante toda a pesquisa e todas as medidas signiicância estatística.
tomadas foram executadas pela mesma pesquisadora. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Para verificar a presença e mensurar a DMRA, a Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes da Uni-
participante se posicionou em decúbito dorsal, com o versidade Federal do Rio Grande do Norte, sob o parecer
quadril e joelhos fletidos e os pés apoiados no leito. 013/06 – CEP. Todas as participantes deste estudo foram
Foram demarcados pontos (4,5 cm acima e abaixo da esclarecidas e instruídas a respeito da pesquisa a ser reali-
cicatriz umbilical) no abdome da puérpera. Solicitou-se, zada, assim como dos instrumentos utilizados na mesma,
então, à puérpera, que realizasse uma flexão anterior de assinando, logo após, um termo de consentimento livre
tronco até que as bordas inferiores das escápulas saíssem e esclarecido, de acordo com a Resolução n.º 196/96 do
do colchão, mantendo esta posição enquanto se obtinha Conselho Nacional de Saúde.
a mensuração da diástase com auxílio do paquímetro. As
medidas obtidas nesses pontos foram chamadas de DMRA Resultados
supra-umbilical e infra-umbilical. Após a avaliação, o
GT foram submetidas, individualmente, ao atendimento A idade média das participantes variou entre 25,8 (± 6,1)
fisioterápico às 6 e 18 horas após o parto. As mulheres para o GC e 28,1 (± 6,6) para o GT, com uma média de idade
no grupo controle não foram submetidas ao programa gestacional, em semanas, de 39,3 (± 1,5) para o GC e 39,1
de exercícios, somente à avaliação às 6 horas e 18 horas (± 1,0) para o GT.
pós-parto, quando foi realizada a medição da DMRA Na Tabela I, são descritos outros aspectos sociodemográ-
nesses dois momentos. icos que caracterizaram os grupos. Pode-se observar, através
O intervalo de 12 horas entre a 1ª e 2ª avaliação no gru- da porcentagem, que em relação à paridade e realização
po de tratamento visou proporcionar um descanso para que de alguma atividade física não houve nenhuma diferença
a musculatura abdominal e o organismo das puérperas se entre os grupos controle e o de tratamento. Em relação às
adaptassem ao tipo de intervenção que estava sendo realizada. outras variáveis, veriica-se que os valores em porcentagem
Inicialmente, foi ensinado à participante como realizar são próximos, caracterizando uma homogeneidade entres as
padrões ventilatórios diafragmáticos, solicitando-se uma participantes dos dois grupos.

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Tabela I - Características demográicas das puérperas participantes Tabela II - Medidas descritivas da DMRA, supra e infra-umbilical,
do estudo (N = 16) dos grupos controle e de tratamento. do grupo de tratamento nos três momentos de avaliação.
Grupo Controle Grupo Tratamento Medidas do Grupo
(n=8) (n=8) Tempo de Tratamento (mm)
Variáveis
Nº puér- Nº puér- Média Mín Máx DP P-valor
% % DMRA Supra-umbilical
peras peras
Paridade 6h pós-parto 45,4 40,7 52,2 3,9
Primípara 2 25,0 2 25,0 Após 1ª intervenção 37,8 30,0 44,2 4,8 0,00034
Multípara 6 75,0 6 75,0 Após 2ª intervenção 33,0 27,0 41,0 4,2
Estado civil DMRA Infra-umbilical
Casada 4 50,0 5 62,5 6h pós-parto 30,0 25,7 35,2 3,0
Solteira 4 50,0 3 37,5 Após 1ª intervenção 24,2 16,7 28,7 4,3 0,00034
Escolaridade Após 2ª intervenção 19,7 12,3 26,3 5,4
Analfabeta - - 1 12,5
Fundamental 4 50,0 3 37,5 Considerando as medidas da diástase supra-umbilical,
Médio 4 50,0 4 50,0 observou-se que entre as participantes do GC a média
Ocupação de redução desta medida, em porcentagem, foi de 9,6
Agricultora 5 62,5 3 37,5 % (± 3,7), enquanto que no GT a redução foi de 27,4
Do lar 3 37,5 3 37,5 % (± 5,1).
Professora - - 2 25,0
Atividade Discussão
Física
Sim 1 12,5 1 12,5 Os resultados obtidos neste estudo conirmam estudos
Não 7 87,5 7 87,5 prévios [3,9,8,12,14]. Bursch veriicou, em seu estudo, que
a incidência e extensão da diástase do reto abdominal em
Nos resultados obtidos na mensuração da DMRA supra- puérperas com menos de 4 dias de pós-parto, mais de 60
-umbilical para o grupo controle e de tratamento, constatou-se % das participantes tiveram separações signiicantes sui-
uma interação signiicativa na relação Tempo*Grupo, com cientes para justiicar exercícios de proteção. Hsia e Jones
p-valor de 0,00000043. Esse resultado revela que há um [3] observaram em seu estudo de caso com duas mulheres,
comportamento diferenciado dos grupos dentro dos tempos que houve um aumento de 200 a 400 % na distância entre
de 6h e 18h. Observou-se que, no tempo de 6 horas pós- os retos abdominais nas 12 semanas após o parto em rela-
-parto, as médias da diástase dos dois grupos foram bastante ção à 36ª semana de gestação. Entretanto, a incidência da
próximas, sendo o do GC de 45,5 ± 9,5mm, enquanto no DMRA não é exclusiva em mulheres no período de gestação
GT foi de 45,4 ± 3,9mm. Ao contrário, no tempo de 18 ou puerpério. Spitznagle et al [15] realizaram um estudo
horas (2ª intervenção), o GT mostrou uma média de diástase para veriicar a prevalência da diástase em uma população
supra-umbilical signiicativamente menor (33,0 ± 4,3mm), portadora de disfunção uroginecológica e constataram que
do que o grupo controle (41,2 ± 9,5mm). 55% das pacientes apresentavam diástase de reto abdominal,
Para as medidas da DMRA infra-umbilical entre os gru- sendo estas mais velhas, com maior número de gestações e
pos, observou-se uma interação signiicativa Tempo*Grupo, paridade e apresentando maior fraqueza na musculatura do
com p-valor 0,0013, mostrando que houve um comporta- assoalho pélvico, quando comparadas às mulheres onde não
mento diferenciado entre os grupos controle e tratado dentro se veriicou a incidência de diástase. Ainda nesse estudo, os
de cada tempo estudado (Tabela II). No tempo de 6h, as autores observaram que 60 % de todas as pacientes com
médias da diástase infra-umbilical não apresentam diferenças diástase dos retos tiveram pelo menos um diagnóstico de
signiicativas, com o GC apresentando valor de 31,2 ± 5,9mm disfunção relacionado com a sustentação do assoalho pélvico.
e o GT com 25,7 ± 3,0mm. Entretanto, no tempo de 18 Embora não tenha sido objetivo deste estudo a avaliação
horas, o comportamento é bem diferenciado, sendo a média do assoalho pélvico, os dados da literatura mostram uma
da diástase do GC (27,7 ± 4,1mm) signiicativamente menor importante relação entre a DMRA e esta disfunção, ressal-
que o GT (12,3 ± 5,4mm). tando a importância da atuação isioterapêutica precoce no
Na Tabela II pode observar que, comparadas as medidas puerpério para prevenção de tais distúrbios.
da DMRA supra e infra-umbilical dentro do GT nos três No presente estudo veriicou-se que as menores reduções
momentos de avaliação, demonstrou-se uma diferença sig- percentuais de DMRA supra-umbilical encontradas em
niicativa para as duas regiões medidas, sendo a maior média ambos os grupos de estudo foram em mulheres com maior
obtida nas 6h após o parto, enquanto o menor valor foi paridade e não praticantes de exercício físico; enquanto que
observado após a 2ª intervenção. as maiores reduções se deram em puérperas primíparas e que

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realizavam alguma atividade física. Apesar dos achados deste dos exercícios iniciados nesse período, já que o tamanho da
estudo sugerirem uma maior separação entre os retos nas diástase inlui no tratamento isioterapêutico.
mulheres multíparas e sedentárias, não se encontrou respaldo Apesar de ter mostrado importantes resultados comparando
na literatura para conirmação destes dados. Adicionalmente, a atenção isioterapêutica precoce no puerpério com a ausência
a amostra deste estudo foi pequena conirmação deste achado desta atenção neste período importante da vida das mulheres
de forma generalizada. Mais estudos, com amostras maiores, em idade reprodutiva, este estudo contou com limitações. Em
são necessários para esta conirmação. primeiro lugar, a diiculdade em acompanhar o puerpério de
Os exercícios devem ser planejados de acordo com o tipo partos transvaginais foi uma realidade presente, em função
de parto, a disposição e o interesse da paciente, com início do número de partos cirúrgicos que ocorrem atualmente em
no 1º ou 2º dia pós-parto sem muito esforço e a partir desta muitas maternidades. Segundo, o número amostral deste estudo
fase continuar de acordo com a situação de puerpério de foi bastante pequeno, necessitando-se de estudos futuros com
cada mulher. - As primeiras 48 horas de puerpério são muito um número maior de participantes para melhor validação dos
importantes para a execução de exercícios de respiração, achados aqui encontrados. Porém, apesar das limitações, este
para os músculos abdominais, e circulação. Esses exercícios estudo torna-se importante porque mostra uma real recupera-
melhoram a circulação, toniicam suavemente os músculos ção da DMRA, que pode ser prevenida com a atenção prestada
abdominais e ajudam a relaxar [13]. Os exercícios utilizados a puérperas pelo isioterapeuta, em um período mais precoce.
nesta pesquisa mostraram-se bastante eicientes, já que eram Finalmente, constatou-se que a intervenção isioterapêu-
de fácil entendimento e simples de serem realizados pelas tica no puerpério imediato possui importante inluência na
puérperas, assim como também não demandavam nenhum melhor recuperação da diástase dos retos abdominais em
grande gasto energético por ser de baixa intensidade. As mu- puérperas submetidas ao programa de exercícios direcionados
lheres do grupo de tratamento tiveram uma boa adesão aos e sob supervisão isioterapêutica, na fase imediata do pós-
exercícios e não relataram nenhuma queixa importante que -parto. Foi constatada uma redução das medidas da diástase,
as impedissem de executá-los. tanto infra quanto supra-umbilical, após a realização de cada
Os resultados obtidos nesse estudo mostraram que houve intervenção, demonstrando a inluência da atenção isiotera-
uma maior redução da DMRA no grupo que foi submetido pêutica no puerpério imediato.
à intervenção isioterapêutica em relação ao grupo que não
recebeu esse tipo de atenção proissional. Em estudo ante- Referências
rior, Mesquita et al12 apresentaram resultados favoráveis na
redução da DMRA supra-umbilical no pós-parto imediato, 1. Sousa VPS, Ribeiro SO, Aquino CMR, Viana ESR. Análise
através de intervenção com exercícios para musculatura ab- da relação entre dor lombar, idade gestacional e qualidade de
dominal, no tempo de 18 horas pós-parto, o grupo controle vida durante a gravidez. Terapia Manual 2011;9(46):835-40.
2. Silva JL, Monteiro RA, Viana ESR, Lisboa LL, Araújo ML.
teve uma redução de 5,4 % e o grupo de tratamento de 12,5
Orientações pré-natais e a inluência na qualidade de vida de
% em relação à medida inicial às 6 horas pós-parto. Os dados
gestantes saudáveis. Fisioterapia Brasil 2010;11(4).
obtidos no presente estudo conirmam os achados do estudo 3. Hsia M, Jones S. Natural resolution of rectus abdominis dias-
anterior, tendo as mulheres apresentado maior recuperação tasis. two single case studies. Aust J Physiother 2000;43:301-7.
da DMRA quando submetidas a tratamento isioterapêutico, 4. Pinto RR, Guerino CS, Consolin DB, Cunha ACV. Relação
em relação àquelas que não foram submetidas a este tipo entre lordose lombar e desempenho da musculatura abdominal
de intervenção. em alunos de isioterapia. Acta Fisiátrica 2000;7:95-8.
Este estudo conirma, assim como em outros, que a 5. Leite ACNM, Cavalcanti KKB. Diástase dos retos abdominais
incidência da DMRA no período de pós-parto é um agra- em puérperas e sua relação com as variáveis obstétricas. Fisioter
vante na saúde da mulher que não deve ser subestimado, Mov 2012;25(2).
6. Boissonault JS, Blaschak MJ. Incidence of diastasis recti abdo-
sendo importante que os proissionais da saúde voltem sua
minis during the childbearing year. Phys her 1988;68:1082-6.
atenção para este momento da mulher, especialmente o 7. Bursch SG. Interrater reliability of diastasis recti abdominis
isioterapeuta, que através de recursos e técnicas de atuação measurement. Phys her 1987 67: -9.
não-invasivas podem proporcionar uma boa recuperação 8. Rett T, Braga MD, Bernardes NO; Andrade SC. Prevalência
e melhoria na tonicidade da musculatura abdominal nas de diástase dos músculos reto abdominais no puerpério ime-
puérperas. Sabe-se que a DMRA não provoca diretamente diato: comparação entre primíparas e multíparas. Rev Bras
desconforto ou dor; entretanto, com a distensão excessiva, Fisioter 2009;13(4). 
pode haver interferência na capacidade da musculatura 9. Artal R, O’Toole M, White S. Guidelines of the American
abdominal na estabilização do tronco, gerando maior pre- College of Obstetricians and Gynecologists for exercise du-
ring pregnancy and the postpartum period. Br J Sports Med
disposição ao desenvolvimento de dor lombar14. A atuação
2003;37:6-12.
da isioterapia no pós-parto imediato visa melhorar a toni-
10. Boxer S, Jones S. Intra-rater reliability of rectus abdominis
cidade dos músculos abdominais e pélvicos, informando a diastasis measurement using dial calipers. Aust J Physiother
puérpera sobre a diástase e da importância da continuidade 1997;43(2):109-14.

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11. Spitznagle T, Leong F, Dillen L. Prevalence of diastasis recti 13. Nagib ABL, Guirro ECO, Palauro VA, Guirro RRJ. Avaliação
abdominis in a urogynecological patient population. Int Uro- da sinergia da musculatura abdomino-pélvica em nulíparas com
gynecol J 2007;18(3):321-8. eletromiograia e biofeedback perineal. Rev Bras Ginecol Obstet
12. Davies GAL, Wolfe LA, Mottola MF, MacKinnon C. Exercise 2005;27(4):210-5
in pregnancy and postpartum period. J Obstet Gynaecol Can 14. Martins AB, Ribeiro J, Sperli ZAGS. Proposta de exercícios
2003;25(6):516-22. físicos no pós-parto. Um enfoque na atuação do enfermeiro
obstetra. Investigación y Educación en Enfermería 2011;29(1).

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 45

Artigo 8

Eletroterapia aplicada às disfunções sexuais femininas:


revisão sistemática
Electrotherapy applied to female sexual dysfunctions:
a systematic review
Camila Stein Montalti*, Natachie Furlan Santos*, Karina Tamy Kasawara**, Andréa de Andrade Marques***,
Néville de Oliveira Ferreira****

*Aluna do Curso de Especialização em Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher
(CAISM)/Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), **Aluna de Pós-Graduação do Departamento de Tocoginecologia da
Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, ***Coordenadora do Curso de Especialização em Fisioterapia em Saúde da Mulher,
CAISM/UNICAMP, ****Supervisora do Curso de Especialização em Fisioterapia em Saúde da Mulher, CAISM/UNICAMP

Resumo Abstract
Introdução: O tratamento das disfunções sexuais femininas é Background: he treatment for female sexual dysfunction usually
pouco descrito. Dentre as técnicas isioterapêuticas utilizadas, está is not well described in the literature. Among the physical therapies
a eletroestimulação, entretanto não há consenso sobre seus efeitos e techniques available, we can highlight electrical stimulation. Ho-
parâmetros das correntes utilizadas. Objetivo: Realizar uma revisão wever, no consensus exists about efects and which would be the
na literatura para avaliar a atuação e os parâmetros das correntes parameters. Objective: he aim of this literature review was to study
eletroterapêuticas utilizadas no tratamento das disfunções sexu- the efects and electrical parameters used on female sexual dysfunc-
ais femininas. Metodologia: Realizou-se uma revisão sistemática, tion treatment. Methodology: A systematic review was performed
incluindo estudos com mulheres, nos idiomas português, inglês including studies for women in Portuguese, English and Spanish,
e espanhol publicados até junho de 2012. As bases de dados utili- published by June/2012. Data bases used were Pubmed®, Embase®,
zadas foram: PubMed®, Embase®, ISI web of KnowledgeSM, LILACS e ISI Web of KnowledgeSM, LILACS and SciELO. he quality of stu-
SciELO. A qualidade dos estudos foi avaliada pelo escore JADAD. dies was assessed by scoring JADAD. Results: From the 118 articles
Resultados: De 118 artigos encontrados, 113 foram excluídos por selected, 113 were excluded for not being adequate to the review.
serem inadequados. Foram incluídos cinco estudos. Desses, três It was included ive studies. Of these, three used transcutaneous
utilizaram eletroestimulação transcutânea em disfunções distintas electrical nerve stimulation with frequencies (F) ranging from 1-10
com frequências (F) entre 0-110 Hz, largura de pulso (T) entre 50- Hz, pulse width (T) from 50-3000 µs during 30-60 minutes of
3000 µs durante 30-60 min de estimulação. Os demais utilizaram a stimulation. Others studies used Functional electrical stimulation
eletroestimulação funcional com F = 1-50Hz, T = 0,1-2µs, tempo with F = 50 Hz, T = 0.1-2 µs, time rise/fall ranging from 2-20s
de subida/descida entre 2-20 s durante 15-20 min de estimulação. during 15-20 minutes of stimulation. Results showed improvement
Todos os estudos mostraram resultados positivos para os diferentes of the symptoms, although neither of the studies was considered
sintomas de disfunção sexual feminina estudados, apesar de nenhum high quality. Conclusion: Diferent protocols of electrical parameters
dos estudos ter sido considerado de boa qualidade. Conclusão: Di- exist for the treatment of female sexual dysfunction. Preliminary
ferentes protocolos de parâmetros eletroterapêuticos existem para studies suggest beneits to this approach.
o tratamento das disfunções sexuais femininas. Resultados prévios Key-words: electric stimulation therapy, physical therapy
sugerem benefícios desta técnica. modalities, sexual dysfunction, physiological
Palavras-chave: terapia por estimulação elétrica, modalidades de
isioterapia, disfunção sexual isiológica.

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Av. Senador Salgado Filho, 3000 Caixa Postal 1524 59072-970 Natal RN, E-mail: elizabel@ufrnet.br

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Introdução denada, a im de alcançar a função perdida [10]. Esta técnica


demonstra capacidade de fortalecimento muscular, aumento
A disfunção sexual é uma queixa comum entre as mulhe- da circulação e luxo sanguíneo, redução da dor, cicatrização
res, sendo que em um recente estudo sobre a vida sexual no de tecido e protelar a atroia muscular. Embora a estimulação
Brasil (Estudo da Vida Sexual do Brasileiro) foram avaliadas elétrica crie uma tetanização através da ativação das ibras
3.148 mulheres de 18 cidades e observou-se que 51% delas motoras, as ibras sensoriais também são estimuladas e há
referiam algum tipo de disfunção sexual [1]. As desordens evidências descrevendo melhora na sensibilidade e consciência
sexuais possuem causas multifatoriais e são classiicadas como tátil [8]. Já a TENS é utilizada para alívio da dor e sua aplica-
desordens de desejo sexual (aversão sexual ou desejo hipoa- ção em geral envolve o uso de uma corrente elétrica de baixa
tivo), desordem de excitação sexual, desordem de orgasmo e voltagem através da pele, a im de estimular as ibras nervosas
disfunções por dores sexuais (dispareunia, vaginismo e dor aferentes. Além disso, foi observado que a modulação dos
sexual não-coital) [2]. parâmetros com intensidades maiores promovem aumento
De acordo com o “Manual de Diagnóstico e Estatística do limiar de dor à pressão [9]. Dois mecanismos explicam sua
dos Distúrbios Mentais”, os distúrbios de dor sexual podem efetividade: a Teoria das Comportas que induz analgesia por
ser divididos em dispareunia, onde a paciente relata dor às meio da inibição das ibras tipo C (nociceptoras) e a teoria
atividades sexuais, e vaginismo onde associado a dor, observa- da liberação de opióides endógenos como a endorina. [4,6].
-se espasmos musculares diicultando o coito [3]. Entretanto Portanto, a eletroterapia é muita citada entre os tratamen-
há outros tipos especíicos de dores sexuais, como a vesti- tos existentes para disfunção sexual, visto que os seus efeitos
bulodínea, dor perineal pós-parto e dispareunia supericial. terapêuticos como analgesia, relaxamento muscular e aumento
A vestibulodínea é caracterizada por um desconforto vul- da circulação local, podem promover melhora nas queixas
var que é geralmente descrito como dor em queimação sem dessas mulheres, cujos sintomas englobam dor, aumento da
causa aparente ou sem desordens neurológicas especíicas. tensão muscular e diminuição da circulação sanguínea local.
A dispareunia introital é um sintoma frequente [4]. A dor No entanto, até a presente data, não foi encontrada uma
perineal pós-parto e dispareunia supericial são comumente revisão sistemática do assunto, sendo necessário um levan-
atribuídas aos pontos de hipersensibilidade pós-episiotomia tamento bibliográico minucioso para veriicar a qualidade e
ou atroia vaginal devido à deiciência de estrogênio pro- os resultados obtidos nos estudos publicados que utilizaram
lactina-dependente, além da inluência psicossexual como eletroestimulação na disfunção sexual feminina. Além disso,
depressão pós-parto, redução da excitabilidade e estresse [5]. uma revisão sistemática possibilitará a análise da melhor
Outra disfunção sexual menos comum é a “síndrome dos corrente para ser utilizada e o parâmetro ideal de aplicação e
genitais inquietos” (SGI), geralmente associada à síndrome se os resultados podem ser extrapolados para todos os casos
das pernas inquietas (SPI). Além desses sintomas, pode estar de disfunção sexual feminina.
associada a sintomas de disestesia e/ou parestesia genital, or-
gasmos espontâneos e/ou iminentes e sintomas urinários [6]. Objetivo
O tratamento para as disfunções sexuais é variado, sen-
do utilizadas técnicas como psicoterapia, medicação, entre Realizar um levantamento dos estudos disponíveis na
outros, e isioterapia. Dentre os recursos isioterapêuticos, literatura com relação aos parâmetros das correntes eletro-
a eletroterapia se destaca por ser um procedimento simples, terapêuticas utilizadas e sua atuação nas disfunções sexuais
não invasivo, que requer breves visitas e alto grau de moti- femininas.
vação [7]. Na clínica, a estimulação elétrica pode ser usada
com objetivo de aumentar a força muscular e amplitude de Metodologia
movimento, reduzir edema, acelerar cicatrização e aliviar dor.
Os parâmetros ajustados na eletroestimulação são: frequência Foi realizada uma revisão sistemática sobre a eletroterapia
de impulsos produzidos por segundo durante a estimulação, nas disfunções sexuais femininas. Este estudo foi registrado na
largura de pulso, ciclo on/of e intensidade/amplitude, todos os base de dados PROSPERO sob o número: CRD42012002698
parâmetros podem ser modulados de acordo com os objetivos e desenvolvido de acordo com o PRISMA [11].
[8]. A eletroterapia possui vários tipos de correntes, entre Os critérios de inclusão foram estudos com mulheres, nos
elas, podemos citar a eletroestimulação nervosa transcutânea idiomas português, inglês e espanhol publicados até junho de
(TENS) e a eletroestimulação funcional (FES). O parâmetro 2012. Como critérios de exclusão foram considerados estudos
que diferencia essas correntes é a presença do ciclo on/of na que não contemplavam a temática e as revisões bibliográicas
FES, por ser uma forma de estimulação intermitente e ter ou sistemáticas.
como objetivo a contração muscular, com momentos de As bases de dados utilizadas para busca foram acessadas na
repouso. seguinte ordem: PubMed®, Embase®, ISI web of KnowledgeSM,
O uso da FES tem como objetivo a ativação do sistema Latin-American and Caribbean Literature in Health Sciences
neuromuscular daniicado ou enfraquecido de forma coor- (LILACS) e Scientiic Electronic Library On-line (SciELO)

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após consulta dos seguintes Medical Subject Headings (MeSH): orientação de treinamento dos músculos do assoalho pélvico
“Sexual Dysfunction, Physiological” e “Electric Stimulation (TMAP) 3 vezes por semana, durante 20 minutos. A FES
herapy” com o operador booleano “AND”. Nas bases de foi aplicada uma vez por semana, durante 10 semanas, na
dados PubMed® e Embase®, foi utilizada uma ferramenta para região vestibular e no intróito vaginal, utilizando eletrodos
iltrar os resultados por espécie (“human”), gênero (“female”) de superfície. A frequência de corrente foi de 1-4Hz, largura
e idioma (“english”, “portuguese” e “spanish”). de pulso 0,1-0,3 µs, tempo de subida e descida de 10 e 20s e
O processo de inclusão dos estudos foi realizado por dois intensidade entre 0-70mA. Após 10 semanas, houve melhora
revisores de forma independente. Inicialmente, os artigos signiicativa na capacidade de contração e relaxamento do
foram selecionados analisando seus títulos e/ou resumos. MAP e na dor durante relação sexual. O outro artigo que
Em seguida, artigos de texto completo que potencialmente estudou a FES [12] analisou doze mulheres com vaginismo
abordavam o tema foram acessados. Quando houve falta com ou sem associação de dispareunia, disfunção de desejo
de consenso entre os dois revisores, um terceiro revisor foi e/ou excitação e que receberam como intervenção educação,
consultado para solucionar a discordância. terapia cognitivo-comportamental, FES-biofeedback e
Foi feita uma avaliação da qualidade metodológica dos manipulação. Os parâmetros da FES foram: frequência de
estudos incluídos pela escala JADAD [12], que pode variar 50 Hz, largura de pulso de 2 µs, tempo de subida e descida
de 0 a 5, sendo considerados de boa qualidade os estudos com de 2 e 4 segundos, intensidade de acordo com o limiar de
escores acima de 3. Nesta escala, os artigos são analisados pela cada paciente (10-100 mA) por 15 minutos, uma vez por
presença de aleatorização, cegamento e descrição de perdas. semana durante doze semanas. Após o tratamento, todas as
participantes foram capazes de inserir um dispositivo vaginal
Resultados de maior calibre e obter maior conforto na relação sexual.

A estratégia de busca cruzando os descritores “Sexual Figura 1 - Fluxograma: Processo de seleção dos artigos incluídos
Dysfunction, Physiological” AND “Electric Stimulation hera- na revisão.
py” iniciou-se na base de dados Pubmed, seguida de Embase, Artigos identificados pela estratégia
ISI web of KnowledgeSM , LILACS e, por último, SciELO. de busca (n =118)
Quando apareceram estudos duplicados, foi considerada a Artigos excluídos
primeira base de dados em que foi encontrado. Esta revisão pelo título (n = 96)
de literatura encontrou 118 artigos, sendo 23 do PubMed,
82 no Embase e três no ISI web of KnowledgeSM . Artigos selecionados para análise
do resumo (n = 22)
Destes artigos, 86 foram excluídos pelo título por não se
adequarem aos critérios de inclusão e 10 por serem artigos du- Artigos excluídos
pelo resumo (n = 13)
plicados. Após avaliar 22 resumos, 13 estudos foram excluídos
por utilizar outras técnicas que não às relacionadas a pratica
Artigos selecionados para análise
da isioterapia, por se tratar de revisões de literatura ou por do texto completo (n = 9)
não avaliar disfunção sexual feminina primariamente. Após
Artigos excluídos
a análise inal de artigos completos, quatro foram excluídos, após a leitura na
três por tratar incontinência urinária primariamente e um por íntegra (n = 4)
• Suplemento = 1
ser publicado apenas como suplemento (Figura 1). Artigos selecionados • Incontinência Urinária
Sendo assim, cinco estudos foram incluídos. Três utili- para revisão (n = 5) como disfunção
principal a ser
zaram a TENS e dois a FES. A tabela I mostra os artigos tratada = 3
incluídos e seus resultados.
A escala JADAD foi utilizada para avaliar a qualidade
dos estudos incluídos na revisão baseados na metodologia. Dentre os estudos que utilizaram TENS, o primeiro foi
Nenhum dos cinco estudos foi considerado de boa qualida- um ensaio clínico [4], onde participaram 40 mulheres com
de. O estudo de Murina et al (2008) obteve o maior valor vestibulodínea, divididas em grupo TENS (n= 20) com
na escala (escore dois) por ser adequadamente randomizado, frequência de 10 Hz, largura de pulso de 50 µs durante 15
embora não tenha realizado adequado cegamento ou ainda minutos iniciais, alterando para 50 Hz, 100 µs por mais 15
descrito as situações de perdas. Os outros quatro estudos minutos e; grupo chamado placebo (n = 20) com frequência
apresentaram escore zero por não serem cegos, aleatorizados de 2 Hz, largura de pulso de 2µs durante 15 minutos, com
ou com descrição de perdas. pausa de 15 minutos. A intensidade em ambos os grupos foi
Dos cinco estudos, dois utilizaram FES como corrente elé- individualizada (10-100 mA) e a aplicação era realizada duas
trica e três utilizaram TENS para o tratamento das disfunções. vezes por semana, completando 20 sessões. O grupo TENS
O primeiro estudo [7] que utilizou a FES, avaliou 20 mulheres apresentou melhora signiicativa na dor e na função sexual.
com dispareunia e 9 com vaginismo. A FES foi associada a O segundo estudo [6], descreveu os casos de duas mulheres

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Tabela I - Apresentação dos principais aspectos abordados pelos estudos incluídos nesta revisão.

48
Duração de Duração Número de Terapias Escore
Estudo Amostra Tipo e Local Frequência Intensidade Total Resultados
pulso da sessão sessões Associadas Jadad
45 mulheres TENS (pulsos bifá-
10-100mA Diminuição da
(IM=32.6 sicos com modu-
Dionisi e Se- (sensação 1vez/sema- 10 ses- Exercícios dispareunia,
anos) com lação) 0/10-50Hz 300/100/3000µs 30min 0
natori, 2011 pulsante na sões MAP dor na cicatriz
dispareunia Eletrodo intrava-
confortável) e na vulva *
pós-parto ginal
TENS 7 vezes/dia Melhora na

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Eletrodos de (intervalos sensação geni-
2 mulheres (56 49
superfície: área do de 1 hora tal e orgasmos
Waldinger et e 61 anos) com (sensação sessões
osso púbico, genital 110Hz 80µs 1 hora entre as - espontâneos 0
al, 2010 Sd. Dos genitais confortável) por se-
e sacral (região aplicações) e redução
inquietos mana
que mais aliviava durante 2-4 dos sintomas
sintomas) semanas urinários
Grupo TENS
40 mulheres Grupo TENS =
= 15 min de
com vestibulo- 15 minutos de
10Hz + 15min
dínea (grupo TENS 50µs + 15 min 10-100mA 2 vezes/ 20 ses- Melhora na
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Murina et al, de 50Hz; Gru-


TENS, IM=30 Eletrodo intrava- de 100µs; (sensação 30min semana sões - dor e função 2
2008 po placebo =
anos; gru- ginal Grupo placebo = confortável) sexual *
15min de 2Hz
po placebo, 15min de 2µs +
+ 15min de
IM=26 anos) 15min pausa
pausa
12 mulheres
(IM=29,6 Todas as parti-
Educação
anos) com cipantes foram
FES-biofeedback + terapia
vaginismo capazes de
(simultaneamente) sexual +
Seo et al, (com ou sem 2µs; Ton/off = 2 12 ses- inserir um di-
Eletrodo intrava- 50Hz 10-100mA 15min 1vez/dia FES-biofe- 0
2005 associação de e 4s sões latador grande
ginal (diferentes edback +
dispareunia, e de ter uma
tamanhos) manipula-
disfunção de relação sexual
ção
desejo e/ou satisfatória
excitação)
29 mulheres Melhorou
FES (pulsos bifási-
(IM=20-45 capacidade
cos)
Nappi et al, anos), sendo 0,1-0,3µs; Ton/ 1vez/sema- 10 ses- Exercícios de contração
Eletrodos de su- 1-4Hz 0-70mA 20min 0
2003 20 com dispa- off = 10-20s na sões MAP e relaxamento
perfície: vestíbulo e
reunia e 9 com do MAP e dor
intróito vaginal
vaginismo (FSFI) *
IM: Idade Média; TENS: Eletroestimulação nervosa transcutânea; TMAP: Treinamento dos músculos do assoalho pélvico; FES: Eletroestimulação funcional; FSFI: Índice de função sexual feminina; *indica
valor significativo.
Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 49

com SGI que utilizaram TENS convencional com eletrodos disfunção sexual com objetivo contrário ao que é geralmente
de superfície bilateralmente nas regiões púbica, genital e sacral. citado na literatura.
Essas pacientes foram estimuladas durante 60 minutos, sete Já a TENS, foi mais utilizada nas disfunções relacionadas
vezes diárias, por 2 a 4 semanas com os seguintes parâmetros: ao sintoma da dor, como dispareunia e vaginismo. Entretanto,
frequência de 110 Hz, 80µs de largura de pulso e intensidade a TENS mostrou-se eiciente, também, na diminuição dos
de acordo com cada paciente. Em um dos casos houve 90% sintomas da SGI, o que é esperado, pois na SGI, há carac-
de melhora dos sintomas (orgasmos espontâneos, sensação terísticas de mononeuropatia periférica do nervo pudendo
de genital inquieto e bexiga hiperativa - BH) e no outro e particularmente o ramo distal do nervo dorsal do clitóris
houve 100% de melhora na sensação de genital inquieto, (NDC). Observa-se também disfunções das ibras Ad e C,
orgasmos iminentes e BH. Por im, o terceiro estudo avaliou que pode ser resultante da compressão ou irritação do NDC,
45 mulheres com dispareunia pós-parto que participaram que de forma contínua pode conduzir a hipersensibilidade
de um estudo de coorte prospectivo [5], e utilizou-se como dos correspondentes espinais dos neurônios do corno dorsal
intervenção o TENS intravaginal durante 30 minutos sema- (sensibilização central). Desta forma, o sucesso terapêutico
nalmente, com os parâmetros: frequência entre 0/10-50 Hz, da TENS teria sido obtida através da inibição das Ad e C,
100/300/3000 µs de largura de pulso e intensidade de acordo e, consequentemente, redução dos sintomas da síndrome
com paciente (10 a 100 mA). As mulheres foram orientadas pela teoria das comportas [6]. Com relação aos parâmetros,
a realizar diariamente um total de 25 minutos de TMAP. Ao pode-se observar variação, mesmo nos casos com objetivo de
inal do tratamento, 95% das mulheres obtiveram completa analgesia [4-6].
resolução da dispareunia e aumento da distância anovulvar, O local de aplicação das correntes foi outra diferença
ou seja, menor tensão exercida pela cicatriz perineal. Após oito encontrada nos estudos incluídos. Para a aplicação das cor-
meses, todas relataram ausência de dor e relação sexual normal. rentes TENS e FES são utilizados eletrodos intravaginais e/
ou de superfície. Dois estudos [4,5] aplicaram a TENS e um
Discussão [13] aplicou a FES utilizando eletrodo intravaginal que é
uma sonda vaginal contendo dois anéis metálicos. Os demais
Foram encontrados poucos estudos relacionando a eletro- estudos aplicaram a eletroestimulação por meio de eletrodos
terapia (exclusiva ou associada a outras técnicas) e disfunções de superfície, um [6] usou a TENS estimulando as regiões
sexuais. Dos estudos encontrados, observou-se melhora na púbica, genital e sacral e outro [7] a FES nas regiões do ves-
sintomatologia analisada: tanto na dispareunia, como na di- tíbulo e intróito vaginal.
mensão vaginal avaliada através da capacidade de introdução Foram utilizados diferentes métodos de avaliação nos
de dilatadores vaginismo, e redução dos orgasmos espontâneos cinco estudos. Um estudo utilizou a escala Marinof, teste
e sensação genital na SGI. Entretanto nenhum dos estudos do cotonete e escala analógica visual (EAV) para avaliar a
apresentou boa qualidade, segundo a escala JADAD. dispareunia [5], em outro estudo foi feito o teste do cotonete
O tipo de corrente eletroterapêutica utilizada foi diferente para hiperestesia e questionamento sobre a função/disfunção
entre os estudos, sendo que três utilizaram a TENS como sexual para as participantes com SGI [6]. O ensaio clínico
tratamento e os outros dois a FES. Estes resultados são varia- de Murina et al. [4] avaliou as participantes com EAV,
dos, pois as disfunções sexuais são variadas e por isso causam questionário de dor Mc-Gill-Melzack, escala de Marinof e
sintomas distintos, necessitando de tratamentos diferenciais questionário Female Sexual Function Index (FSFI) para ana-
para cada disfunção. Apesar de a eletroestimulação possuir lisar a vestibulodínea. Já outro estudo analisou a dor apenas
vantagens, a FES e a TENS têm efeitos terapêuticos distintos. com a EAV e a função sexual pelo questionário FSFI para
A FES é utilizada em uroginecologia principalmente para avaliar as participantes com dispareunia e vaginismo [7]. No
melhorar a força muscular do assoalho pélvico, e a TENS é último estudo, as mulheres foram avaliadas apenas por meio
utilizada para analgesia. Além do tipo de corrente ser diferente, de questionário semi-estruturado [13]. Sendo assim, é difícil
os parâmetros descritos nos artigos incluídos nesta revisão analisar homogeneamente a melhora dos sintomas das dis-
foram muito distintos, inclusive entre aqueles que usaram o funções sexuais femininas por não haver um método padrão
mesmo tipo de corrente, tornando difícil a comparação e a ouro de avaliação de dor e de função sexual.
eleição da melhor forma de tratamento. A limitação dessa revisão foi que apesar de terem sido en-
O primeiro estudo que utilizou a FES teve como objetivo contrados muitos artigos com os descritores utilizados, poucos
enfatizar o relaxamento, o que é contraditório ao seu efeito foram incluídos devido à baixa qualidade e a não relação com
principal, no entanto possibilitou a penetração de dilatadores o tema. Outra limitação foi o fato de que muitos estudos
e, posteriormente, de uma satisfatória relação sexual [13]. O não utilizam descritores adequados, o que pode explicar a
outro estudo que utilizou a FES de baixa frequência teve por não inclusão de alguns artigos. Como limitação dos estudos
objetivo de reduzir as disfunções por dor [7]. Os parâmetros incluídos, todos apresentaram tamanho amostral pequeno,
da aplicação da FES variaram entre os dois estudos, sendo baixa qualidade metodológica, ausência de consenso entre
que em um estudo [13], a FES foi utilizada nas mulheres com as formas de avaliação dos sintomas das disfunções sexuais.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


50 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Além disso, nenhum estudo realizou aplicação da eletrotera- 5. Dionisi B, Senatori R. Efect of transcutaneous electrical nerve
pia isolada, associando outros recursos (como terapia sexual, stimulation on the postpartum dyspareunia treatment. J Obstet
TMAP, entre outros), e não incluiu grupo de comparação, o Gynaecol Res 2011; 37(7):750-3.
que impediu a realização de uma metanálise sobre o assunto. 6. Waldinger MD, de Lint GJ, Venema PL, van Gils AP, Schweitzer
DH. Successful transcutaneous electrical nerve stimulation in
two women with restless genital syndrome: he role of a- and
Conclusão c-nerve ibers. J Sex Med 2010;7(3):1190-9.
7. Nappi RE, Ferdeghini F, Abbiati I, Vercesi C, Farina C, Polatti
Foram observados diferentes parâmetros e tipos de corren- F. Electrical stimulation (ES) in the management of sexual pain
tes descritos na literatura, diicultando a padronização do tra- disorders. J Sex Marital her 2003;29:103-10.
tamento das disfunções sexuais femininas com eletroterapia. 8. Duocet BM, Lam A, Griffin L. Neuromuscular electri-
No entanto, todos os estudos apresentaram melhora ou cura cal stimulation for skeletal muscle function. Yale J Biol
dos sintomas associados às disfunções sexuais, demonstrando Med 2012;85(2):201-15.
os benefícios dessa técnica. Ainda assim, são necessários mais 9. Moran F, Leonard T, Hawthorne S, Hughes CM, McCrum-
-Gardner E, Johnson MI, et al. Hypoalgesia in response to
ensaios controlados aleatorizados.
Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation (TENS) depends
on stimulation intensity. J Pain 2011;12(8):929-35.
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 51

Artigo 9

Peril epidemiológico de puérperas atendidas


em uma maternidade conveniada ao Sistema
Único de Saúde de Maceió/AL
Epidemiological proile of mothers attended at maternity
of the Uniied System of Health at Maceió/AL
Rafaela da Silva Cruz*, Bárbara Rose Bezerra Alves Ferreira**

*Graduanda de Fisioterapia Estácio-FAL, **Fisioterapeuta especialista em Fisioterapia em Urologia e Obstetrícia, professora da


Estácio-FAL

Resumo Abstract
Fundamentação: A realização de estudos epidemiológicos em Background: Epidemiological studies on health has several
saúde tem vários objetivos, entre os quais os de conhecer uma de- goals, including to observe a particular situation, such as postpar-
terminada situação, como o puerpério, que é um período de grandes tum, which is a period of great body and mental changes without
modiicações corporais e psíquicas sem consequências patológicas, na pathological consequences, most of the time. Methods: his was a
maioria das vezes. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, obser- descriptive, observational, cross-sectional analysis based on replied
vacional, de corte transversal, baseado na análise dos questionários questionnaires. Results: he volunteers were 23,83 years old. Most
respondidos. Resultados: A idade média das voluntarias foi 23,83 women attended was race /ethnicity mixed with 58%. he average
anos. A maioria das mulheres atendidas foi de raça/etnia parda com birth rate owas 1.79 children. 66% of respondents received total
58%. A taxa de natalidade média obtida foi de 1,79 ilhos. 66% das monthly income of up to two minimum wages, 52% attended only
entrevistadas sobreviviam com renda total mensal de até 2 salários primary school. 99% of pregnancies were single, 60% of these had
mínimos, 52% cursaram apenas ensino fundamental. 99% das cesarean deliveries. And 53% of women have consulted four to six
gestações foram únicas, destas 60% tiveram partos cesáreos. E 53% during the prenatal period. Conclusion: It was traced the social and
das mulheres se consultaram de quatro a seis durante o pré-natal. obstetric proile of the postpartum women, which can be used as
Conclusão: Foi traçado o peril social e obstétrico das puérperas, an input to guide the actions of healthcare professionals working
podendo este ser utilizado como subsídio para orientar as ações in the area and help in building new programs and health services
dos proissionais de saúde que atuam na área, além de ajudar na in line with the population proile user.
construção de novos programas e serviços de saúde em consonância Key-words: postpartum, SUS, epidemiology
com o peril da população usuária.
Palavras-chave: pós-parto, SUS, epidemiologia.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


52 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução morragia durante o parto imediato e tromboembolismo no


puerpério, sendo a anemia o problema hegemônico nesse
Os estudos epidemiológicos sobre serviços de saúde período [10, 11,12].
são realizados com objetivos diversos, entre os quais os de Transtornos mentais associados ao período puerperal têm
conhecer a situação, por exemplo, a cobertura populacional sido incorporados aos sistemas de classiicação diagnóstica em
ou a qualidade do atendimento, com o intuito de identiicar psiquiatria [13]. Estudos epidemiológicos têm estimado que
problemas, assim como investigar as suas causas, propor a depressão pós-parto ocorre em 10% a 15% das puérperas
soluções compatíveis e avaliá-las com os métodos usados em em países desenvolvidos ocidentais e que a maioria dos casos
epidemiologia [1]. se resolve espontaneamente em 3 a 6 meses [14,15].
A quantiicação de variáveis populacionais é, sem dúvida, É necessário que a puérpera seja assistida por uma equipe
uma etapa importante e imprescindível como parte desse multidisciplinar, a im de proporcionar-lhe segurança e con-
contexto, procurando, através de metodologia especíica, forto no puerpério imediato [16]. De maneira geral, a mulher
conhecer as principais doenças e agravos a saúde que atingem deve ser orientada no período puerperal da mesma maneira
uma determinada comunidade, os grupos mais suscetíveis, como foi orientada no pré-natal. Isso lhe dará tranquilidade
as faixas etárias mais atingidas, os riscos mais relevantes e os e coniança [9].
mecanismos efetivos de controle para cada caso [2]. O objetivo geral do presente estudo foi analisar o peril
Através das pesquisas epidemiológicas, pode-se oferecer das puérperas de uma maternidade conveniada ao SUS de
evidências aos governos, sobre a importância da alocação Maceió/AL.
de verbas para a saúde [3]. Entre as diversas áreas da saúde,
destaca-se também a obstetrícia, com estimada relevância Material e métodos
para estes estudos.
No ciclo gravídico-puerperal, concluída uma gestação de Trata-se de um estudo descritivo, observacional, de corte
aproximadamente 40 semanas, ocorre o parto, que é o pro- transversal, com coleta de dados entre abril e maio de 2011,
cesso isiológico quando o útero expulsa o feto [4,5]. Logo baseado na análise de questionários aplicados à puérperas
após o parto do bebê, ocorre o parto da placenta, e a partir internadas na Maternidade Nossa Senhora da Guia.
deste momento dá-se início ao puerpério que termina depois Para a realização desta análise o projeto teve que passar
de 6 a 8 semanas, embora algumas bibliograias considerem pelo CEPEB-FAL com o número de protocolo nº 059/10,
que o período do puerpério termine apenas com a volta da após sua aprovação os participantes assinaram o termo de
menstruação [6]. consentimento livre e esclarecido depois de ter lido e con-
O pós-parto está dividido em imediato, tardio e remoto. cordado com o mesmo.
O imediato compreende do 1º ao 10º dia, é o período onde Participaram do estudo 100 puérperas, com idade entre
ocorrem as mais importantes alterações isiológicas do puer- 18 a 39 anos. Para melhor caracterizar os resultados da amos-
pério; o tardio compreende do 10º ao 45º dia; e o remoto a tra, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: idade
partir do 45º dia [7]. superior a 18 anos; paciente lúcida, orientada no tempo e no
Este é um período de grandes modiicações corporais espaço; que concordasse participar da pesquisa. Critérios de
e psíquicas, predominando um catabolismo intenso sem exclusão: idade menor que 18 anos; puérpera com alguma
consequências patológicas, na maioria das vezes. O útero em intercorrência que impossibilitasse a coleta dos dados e que
uma semana diminui de peso e de tamanho, voltando a se não concordasse em participar da pesquisa.
localizar dentro da pelve verdadeira [6,8]. As puérperas participantes da pesquisa receberam todas
Os lóquios, que de acordo com a fase tem característica as informações quanto à realização do estudo e estiveram
peculiar. Primeiramente é uma secreção sanguínea (lóquios livres para desistência; validaram suas participações voluntá-
vermelhos), em seguida se torna serossanguínea (lóquios rias, assinando o termo de consentimento livre e esclarecido
serosos) e após duas ou três semanas é uma secreção serosa antes de serem inseridas no projeto. Os questionários foram
esbranquiçada (lóquios brancos) [9]. analisados, obtendo informações referentes à idade, estado
O períneo encontra-se vermelho e intumescido ao redor civil, renda familiar, escolaridade, religião, raça, número de
da episiotomia, quando esta acontece, ou de eventuais lacera- consultas do pré-natal, idade gestacional, tipo de gestação,
ções. No trato gastrointestinal há diminuição da mobilidade intercorrências na gestação, paridade, tipo de parto, inter-
intestinal, agravada se a paciente for submetida à anestesia. corrências no parto, queixas.
Tônus muscular abdominal encontra-se fraco, podendo não
oferecer suporte adequado para o tronco. Há a separação dos Resultados e discussão
músculos retos do abdômen, e a linha alba se torna alongada
e amolecida para acomodar o útero [5,6]. A idade média das usuárias do referido hospital foi de
Os problemas mais frequentes do sistema hematológico 23,83 ± 3,4 anos, sendo a idade mínima de 18 anos e a
no ciclo gestatório- puerperal são: anemia no pré-natal, he- máxima 39 anos, já que as puérperas menores de 18 anos

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 53

foram excluídas da pesquisa. Aproximadamente 61% das Raça/Etnia


entrevistadas tinham entre 18 a 23 anos, 23% tinham de 24 Branca 15
a 29 anos, 13% tinham de 30 a 35 anos e apenas 3% tinham Parda 58
idade superior a 36 anos. (TABELA1) Negra 15
Estudos têm demonstrado uma tendência para o início Amarela 12
tardio da maternidade no Brasil, porém, esses dados variam Total 100
muito de acordo com o grau de instrução e a renda familiar Escolaridade
e a região a serem pesquisadas. As regiões norte e nordeste Fundamental 52
apresentam elevados índices de maternidade precoce [17]. Médio 46
O presente estudo demonstra essa tendência ao alcançar Analfabeto 2
uma média abaixo da nacional mesmo excluindo da amostra Total 100
menores de idade. Renda
Uma ampla variedade de estudos tem apresentado evidên- Até 1 45
cias do relacionamento negativo entre escolaridade da mulher 1a2 21
e fecundidade. Schultz [18] documentou em sua pesquisa que 3a5 31
em todas as partes do mundo, mulheres com sete ou mais Não sabe 3
anos escolaridade tiveram substancialmente uma queda na Total 100
fecundidade em comparação com mulheres com zero ano
de escolaridade. Aumentos na educação parecem inluenciar A taxa de natalidade média obtida foi de 1,79 ilhos, este
signiicativamente as decisões do casal quanto ao seu desejo número encontra-se abaixo da taxa média do estado, que foi
de aumentar a família. de 2,41 segundo o DATASUS 2009. Esta diferença pode ser
No Brasil, diversos estudos documentaram a existência de justiicada ao levarmos em conta que o presente estudo não
um relacionamento negativo entre a educação da mulher e a considerou as gestações de menores de idade [21].
fecundidade. Estes estudos sugeriram que o grau de escolari- Em relação à renda familiar 37% das entrevistadas so-
dade da mãe explica grande parte da queda da fecundidade brevivem com renda total mensal de até 1 salário mínimo,
no Brasil [18]. 21% tem renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos, 31%
A maioria das mulheres atendidas era de raça/etnia parda entre 3 e 5 salários mínimos, 8% alegaram não possuir renda
com 58%, enquanto que 15% eram brancas, 15% negras e e 3% disse não saber o valor da renda. Estes dados eviden-
12% se consideravam amarelas. ciam que 58% das entrevistadas apresentam renda média de
Entres as puérperas questionadas 44% declararam viver até 2 salários mínimos. Segundo alguns autores, as taxas de
em união consensual, 33% casadas, 20% solteiras, 2% viúvas natalidade em mulheres desta faixa de renda é relativamente
e 1% divorciada. Os dados encontrados demonstram que a maior que mulheres que possuem uma renda superior, o que
maior parte das entrevistadas encontra-se em meio familiar, pode sugerir uma necessidade de modiicações nas políticas
sendo que, estudos airmam que uma situação conjugal in- publicas de natalidade [18].
deinida durante a gravidez é apontada como um dos fatores No estudo em relação à religião 67% das mulheres eram
de risco gestacionais [18-20]. A Tabela I demonstra os dados católicas, 25% evangélicas, 1% espírita e 7% declararam
pessoais e sociodemográicos das mulheres entrevistadas no não seguir nenhuma religião. Apesar de não ter sido objetivo
presente estudo. da pesquisa estudar índices de depressão pós-parto e uso de
álcool, tornou-se importante a investigação da crença reli-
Tabela I - Dados sociodemográicos das mulheres pesquisadas. giosa destas puérperas, visto que o estudo de Silva, Ronzani
Dados Pessoais F (%) e Furtado (2011), demonstra que as praticantes de algum
Idade tipo de religião apresentam médias menores nos escores de
18 A 23 61 sintomas depressivos e de uso do álcool em comparação com
24 A 29 23 as não praticantes [22].
30 A 35 13 Quanto à escolaridade, 52% possuem ensino fundamen-
36 Acima 3 tal, seguidas pelas mulheres com ensino médio (46%) e 2%
Total 100 não foram alfabetizadas. Entre as puerpéras pesquisadas 99%
Estado Civil das gestações foram únicas, destas 40% tiveram partos vaginais
Casada 33 e 60% partos cesáreos. A alta incidência de partos cesáreos
Solteira 20 demonstra uma tendência nacional e regional que vem le-
União Estável 44 vantado uma preocupação dos órgãos públicos [17,19,23].
Viúva 2 O Brasil apresenta uma das maiores taxas de parto cesáreo
Divorciada 1 do mundo, com 47,39% segundo o DATASUS 2009, no
Total 100 mesmo período Alagoas icou abaixo da média nacional com

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54 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

39,79% partos cesáreos [24]. Porém o mesmo não foi evi- adequado de consultas no pré-natal seria igual ou superior a
denciado nesta pesquisa, pois das 100 puérperas pesquisadas seis durante toda a gestação. O papel das consultas no pré-
60% se submeteram ao parto cesáreo. Os dados encontrados -natal ganha um destaque ainda maior ao lembrarmos que
ganham um signiicado ainda mais importante ao levarmos estas podem representar talvez as únicas oportunidades que
em consideração que a maternidade onde o estudo se desen- muitas das gestantes terão para receber assistência médica
volveu atendia apenas gestantes de baixo. [25,26].
O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para Em relação à idade gestacional, identiicou-se que a idade
se adequar as taxas deinidas pela OMS de 10 a 15% de predominante foi a compreendida entre 37 a 41 semanas com
cesáreas em todas as indicações medicas. Vale salientar ainda 92%, sendo que 3% apresentaram gestação com 36 semanas
que o parto cesáreo inluencia diretamente na qualidade ou menos e 5% nasceram pós-termo. Esses dados compro-
do cuidado obstétrico e no aumento da morbimortalidade vam que na referida maternidade a maioria dos nascidos foi
materna [19,20,25]. a termo, indo de acordo com a média nacional e os índices
O aumento da frequência de parto cesáreo não apresenta preconizados pela OMS [19,20,25].
associação positiva com o aumento simétrico dos benefícios Quanto à presença de intercorrências foi observada uma
para a mãe e recém-nascidos (RN). O risco de morte mater- correlação quando comparadas nos períodos da gestação,
na segundo o tipo de parto revela maior morbimortalidade parto e pós-parto. No período gestacional 49% das gestantes
materna entre as mulheres submetidas à cesárea, devido a apresentaram complicações, onde por sua vez 30% vieram
infecções puerperais, acidentes e complicações anestésicas. a ter parto cesariano e 19% destas tiveram parto vaginal.
Ao contrário do parto por via vaginal, onde a recuperação Durante o parto 46% das gestantes apresentaram alguma
será mais rápida, ocorrendo menos complicações consigo ou complicação, sendo que 15% tiveram intercorrências durante
com o RN, entre outros [27]. A Tabela II apresenta os dados o parto cesariano e 31% tiveram intercorrências durante o
obstétricos das mulheres pesquisadas. parto vaginal, já no período pós-parto 56% das puérperas
apresentaram algum tipo de intercorrência, sendo que 39%
Tabela II - Dados obstétricos das mulheres pesquisadas. destas tiveram parto cesáreo e 17% apresentaram após o
Dados obstétricos F (%) parto vaginal.
Idade gestacional
Até 36 3 Conclusão
37 a 41 92
Mais de 42 5 Este estudo permitiu traçar o peril socioeconômico e
Total 100 obstétrico das puérperas usuárias dos serviços de saúde da Ma-
Tipo de gravidez ternidade Nossa Senhora da Guia, no município de Maceió/
Única 99 AL, as quais tiveram idade média de aproximadamente 23
Gemelar 1 anos; realizaram de quatro a seis consultas durante o pré-natal;
Total 100 tiveram gestações únicas; com nascimentos operatórios; eram
Paridade de raça/etnia parda; com taxa de natalidade média de 1,79
Primípara 51 ilhos; renda total mensal de até 2 salários mínimos; e ensino
Multípara 49 fundamental completo.
Total 100 Desta forma, este esta pesquisa, pode ser utilizada como
Consultas pré-natais subsídio para orientar as ações dos proissionais de saúde que
Nenhuma 4 atuam nesta instituição, além de ajudar na construção de
1a3 8 novos programas e serviços de saúde em consonância com o
4a6 53 peril da população usuária.
7 ou mais 35
Total 100 Referências
Tipo de parto
Cesárea 60 1. Pereira MG. Epidemiologia Teoria e Prática. 4 ed. Rio de Janeiro:
Normal 40 Guanabara Koogan; 2000. p.598.
Total 100 2. Rouquayro LMZ, Filho NA. Epidemiologia e Saúde. 5 ed. Rio
de Janeiro: Medsi; 1999. p.570.
Quanto ao número de consultas de pré-natal, 53% das 3. Fleitlich BW, Goodman R. Epidemiologia. Rev Bras Psiquiatr
2000;22(Suppl2).
mulheres foram consultadas de quatro a seis vezes, 35%
4. Geraldes PC. A saúde coletiva de todos. Rio de janeiro: Revinter;
compareceram a sete ou mais consultas, 8% frequentaram 1992. p.208.
entre uma e três consultas e 4% não izeram o pré-natal. Se- 5. Polden M, Mantle J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia.
gundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número São Paulo: Santos; 2002. p.442.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 55

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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


56 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 10

Avaliação da força muscular respiratória durante o


período gestacional: uma análise através
da manovacuometria
Assessment of respiratory muscle strength during the gestational
period: analysis by manovacuometry
André Gustavo Marcolino Leal*, Nayara Tavares dos Santos, Esp.*, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.**,
Maíra Creusa Farias Belo, Esp.****, Denise Almeida Santos, Esp.*, Klênio Lucena Sena, Esp.*,
Marcos Valério Rocha de Oliveira*

*Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), **Docente do Curso de Fisioterapia e coordenadora da
Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda em Engenharia
de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, Coordenadora do PRASM, ****Docente do Curso de Fisioterapia da
Faculdade Maurício de Nassau/Unesc Faculdades/Universidade Estadual da Paraíba

Resumo Abstract
No período gravídico ocorrem diversas alterações morfológicas During pregnancy occur several morphological and anatomical
e anatômicas no corpo feminino, dentre elas podemos citar as alte- alterations in the female body, among which we can mention the
rações na função respiratória. Portanto, o presente estudo teve como changes in respiratory function. herefore, this study aimed to
objetivo avaliar a força muscular respiratória de gestantes no terceiro evaluate the respiratory muscle strength in pregnant women in
trimestre gestacional, através da manovacuometria, e identiicar os the third trimester through manometer, and to identify key dis-
principais desconfortos ventilatórios inerentes ao processo gestatório. comforts inherent in the process obstetrical ventilation. his was a
Tratou-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa, cross-sectional quantitative approach, which involved a sample of
que contou com uma amostra de 30 gestantes no terceiro trimestre 30 pregnant women in the third trimester, and those tested with
gestacional, sendo essas submetidas ao teste de manovacuometria. Os manometer. he results showed a socio-demographic proile with
resultados mostraram um peril sócio-demográico com alto índice a high rate of teenage pregnancy. Regarding maximal respiratory
de gravidez na adolescência. Em relação às pressões respiratórias pressures we observed decrease them beyond the sensation of dysp-
máximas foi possível observar diminuição das mesmas, além da sen- nea reported signiicantly also demonstrated by the Borg scale, thus
sação de dispnéia relatada signiicantemente, também demonstrada showing that the role of physiotherapy in this period can minimize
através da escala de Borg, mostrando assim que a atuação da isio- the discomforts ventilation and provide a better quality of life to
terapia nesse período pode minimizar os desconfortos ventilatórios both mother and newborn.
e proporcionar melhor qualidade de vida ao binômio mãe-bebê. Key-words: pregnancy, manovacuometria, physiotherapy\
Palavras-chave: gestação, manovacuometria, isioterapia.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47, Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail:
gabi.bcampos@gmail.com

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 57

Introdução Destarte, frente às modiicações corporais vivenciadas


pelas gestantes para que a função pulmonar se ajuste à nova
Durante o período gestacional são profundas as adapta- situação, esta pesquisa teve o propósito de avaliar a força
ções anatômicas, isiológicas e bioquímicas que acometem a muscular respiratória em gestantes no terceiro trimestre gesta-
mulher [1]. Dentre essas, o aumento no tamanho do útero, cional através da manovacuometria, e identiicar os principais
que é capaz de promover a compressão do músculo diafrag- desconfortos ventilatórios inerentes ao processo gestatório.
ma, bem como, alterações metabólicas, como o aumento no
consumo de oxigênio, que associadas podem alterar a função Material e métodos
respiratória da gestante, podendo consequentemente acarretar
processos patológicos [2]. Tratou-se de um estudo transversal com abordagem
E outro estudioso [3] vai além airmando ainda, que o quantitativa; e descritivo exploratório, por observar, regis-
aumento do volume das mamas e as modiicações cardiovas- trar, analisar, descrever e correlacionar fatos ou fenômenos
culares são também considerados responsáveis pelas alterações sem manipulá-los, procurando descobrir com precisão a
na isiologia respiratória nas gestantes. frequência em que um fenômeno ocorre e sua relação com
Em virtude das condições e restrições geradas pelas altera- outros fatores e descrevem as características, propriedades
ções na caixa torácica e nos pulmões durante a gestação supõe- ou relações existentes no grupo ou da realidade em que foi
-se que a força muscular respiratória possa estar subutilizada, realizada a pesquisa [10].
o que pode se reletir na endurance diafragmática por meio de A pesquisa foi realizada nas dependências do Instituto
sobrecarga inspiratória, aumento do consumo de oxigênio, do de Saúde Elpídio de Almeida – ISEA, localizado na cidade
trabalho respiratório e do custo energético da respiração [4]. de Campina Grande – PB, em parceria com Programa de
Devido a tais acontecimentos, surge a dispnéia que tem Atenção à Saúde da Mulher - PRASM, durante o período
sido relatada como o principal desconforto vivenciado pela de abril a maio de 2011. O responsável pelo local assinou o
mulher durante o processo gestatório, ocorrendo em cerca de Termo de Autorização Institucional.
60%-70% das gestantes, de forma mais intensa no terceiro A população selecionada para este estudo foi composta
trimestre [2]. por gestantes admitidas pelo serviço de pré-natal do Instituto
A dispnéia ainda pode estar relacionada à maior sensi- de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), onde estas receberam
bilidade do sistema respiratório causado pelo aumento de os devidos esclarecimentos sobre a inalidade e o trajeto
progesterona [5]. A dispnéia é, algumas vezes, um primeiro metodológico que o estudo visava seguir. A amostra foi do
sinal de gravidez, indicando o quão rapidamente a gestante tipo não-probabilística e por acessibilidade, composta por 30
se adapta as múltiplas alterações respiratórias que ocorrem gestantes admitidas pelo PRASM, que aceitaram participar
durante a gravidez [6]. da pesquisa.
Desta forma, torna-se importante compreender as altera- Foram incluídas as gestantes admitidas no Programa no
ções que acometem o sistema respiratório, no que se refere a período da coleta de dados, sem restrições de qualquer caráter
isiologia e mecânica ventilatória da mulher durante o perí- para a realização da avaliação, e que aceitaram constituir a
odo gestacional [7], uma vez que, a isioterapia surge como amostra. E excluídas aquelas com estado clínico que direta ou
alternativa, no intuito de favorecer a saúde materno-fetal e indiretamente diiculte ou contraindique a avaliação proposta,
atenuar os desconfortos decorrentes da gestação, tendo-se histórico de doença cardiopulmonar, fumo e índice de massa
mostrado um excelente proposta terapêutica na avaliação, corpórea (IMC) acima de 40 kg/m2, ou que se recusaram a
prevenção e tratamento das disfunções ventilatórias inerentes participar.
ao processo gestatório. Para coleta de dados foram utilizados como instrumentos
A avaliação das pressões respiratórias máximas (PI e PE) o Protocolo de Avaliação Cinético-Funcional na Gestação para
tem sido utilizada para mensurar a força dos músculos ins- obtenção dos dados pertinentes a pesquisa, a Escala de Borg
piratórios e expiratórios. Esses parâmetros têm se mostrado Modiicada, um manovacuômetro com escala +120/-120 da
úteis na avaliação da eiciência desses músculos [8], tendo marca Comercial Médica para a avaliação da PImáx e PEmáx,
como conceitos que a Pressão Inspiratória máxima (PImáx) estetoscópio e esigmomanômetro aneróide da marca NTL
é o índice de força diafragmática e a Pressão Expiratória Pressure M.S. 80005640004 para mensuração da pressão
Máxima (PEmáx) mede a força da musculatura abdominal arterial, e um Oxímetro de Pulso portátil modelo OX-P-10
(principalmente) e intercostal [9]. para veriicação da SatO2. Uma ita métrica para medição da
A manovacuometria completa o bojo dessas informações, altura do fundo uterino. E por im avaliação da Frequência
pois expressa os valores das pressões expiratórias e inspiratórias respiratória por observação direta dos movimentos da caixa
geradas no ato respiratório. Tal teste apresenta como principal torácica durante 1 minuto.
vantagem a possibilidade de fornecer uma estimativa da força Após as gestantes assinarem o Termo de Consentimento
muscular inspiratória e expiratória, sendo um teste simples Livre e Esclarecido, através do qual eram informadas sobre os
de ser realizado e com baixa reatividade pelo paciente. [7]. riscos e benefícios da pesquisa, era realizada a avaliação através

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58 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

do Protocolo proposto, a partir do qual foram coletadas as Grau de instrução


informações pertinentes aos objetivos do estudo. 1° Grau imcompleto 10 33,3
Para realização da técnica de manovacuometria, com 1° Grau completo 2 6,6
base em um protocolo [11], as gestantes foram posicionadas 2° Grau incompleto 14 13,3
adequadamente sentadas - com os pés e as costas apoiados 2° Grau completo 4 46,6
no chão e no encosto da cadeira, respectivamente, os MMSS Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.
apoiados sobre os MMII ou segurando o tubo do aparelho
(ou traquéia) e o tronco deverá estar num ângulo de 90° com Analisando os dados obtidos e dispostos na tabela, os
as coxas - as peças do vestuário que possam impedir esforços dados mostram um peril preocupante e característico dos
máximos, tais como cintos apertados ou cintas abdominais dias atuais, onde 56,6% das pacientes são solteiras, do lar
foram retirados e foi, então, realizada primeiramente a ava- (73,3%), com procedência de regiões circunvizinhas (53,3%)
liação da PEmáx e, posteriormente, a PImáx. e com baixo grau de escolaridade (79,9%) abandonaram os
Os dados coletados nesta pesquisa forma direcionados estudos. Pode-se observar uma predominância de gestantes
para a quantiicação estatística, possibilitando além do cál- com idade variando entre 14 e 21 anos de idade, o que sugere
culo de médias e percentagens, através do método estatístico a ocorrência, em maior percentual da amostra em estudo, de
descritivo do Programa Oice Excel 2000 e apresentados em gravidez na adolescência.
forma de gráicos e tabelas, o cálculo do desvio padrão para A Figura 1 apresenta os dados referentes aos desconfortos
análise da dispersão, bem como, realizado o Teste de Pearson ventilatórios relatados pelas gestantes pesquisadas ao longo
para veriicar o grau de correlação linear entre as variáveis do terceiro trimestre.
contínuas em estudo.
Antes de dar início à pesquisa, o projeto foi submetido à Figura 1 - Desconfortos ventilatórios apresentados pelas gestantes
apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Saú- ao longo do terceiro trimestre.
de Elpídio de Almeida – ISEA, e posteriormente apreciação 91,6 91,6
100 83,3
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual
da Paraíba – UEPB, sendo aprovado e tendo como CAEE 80
N: 0216.0.133.000-11. 60
O responsável pelo local de desenvolvimento da pesquisa
40
assinou o Termo de Autorização Institucional, assim como 16,6
o pesquisador responsável o Termo de Compromisso do 20 8,3 8,3
Pesquisador. 0
27-30 31-34 35-38
Idade gestacional (semanas)
Resultados
Não apresentam Apresentam

Através da identiicação das gestantes em estudo, pôde-se Fonte: Dados da Pesquisa, 2011
analisar o peril sócio-demográico das mesmas, apresentado
na Tabela I. Dentro da amostra geral de 30 pacientes, 27 delas rela-
taram alguma queixa relacionada a ventilação, destas 95,5%
Tabela I - Peril sócio-demográico das gestantes. relataram “falta de ar’, ou seja, a dispnéia como sendo o
Idade n % principal desconforto ventilatório apresentado.
14 - 17 7 23,3 No que se refere à AFU, para as gestantes que se encon-
18 - 21 10 33,3 travam entre 27 e 30 semanas de gestação a média foi de 29
22 - 25 5 16,6 ± 3,1 cm, das gestantes que se encontravam entre 31 e 34
26 - 29 3 10,0 semanas a média foi de 30,5 ± 4,4 cm e para as gestantes que
30 - 5 16,6 se encontravam entre 35 e 38 semanas de gestação a média foi
Estado civil 32,3 ± 3,3 cm. Já em relação à FR, para as gestantes entre 27
Casada 13 43,3 e 30 semanas a média foi de 19 ± 0,8 irpm, para as gestantes
Solteira 17 56,6 entre 31 e 34 semanas a média foi também de 19 ± 0,8 irpm
Ocupação/Proissão e para as gestantes entre 35 e 38 semanas a média foi de 21
Do lar 22 73,3 ± 1,5 irpm.
Agricultoras 2 6,6 Podemos observar também uma relação crescente entre
Outros 6 20,0 as duas variaveis, uma vez que com o avançar das semanas
Procedência de gestação houve um crescimento paralelo entre as duas.
Campina Grande 14 46,6 Os dados supracitados foram em seguida submetidos a
Municípios circunvizinhos 16 53,3 análise estatistica através do Teste de Pearson (p = 0,6),

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 59

onde pode-se concluir que há uma moderada relação entre amostra em estudo, ao longo do último trimestre gestacional,
as duas variaveis. bem como a correlação trimestral entre as variáveis contínuas
A Figura 2 apresenta os valores médios referentes à evo- analisadas.
lução do crescimento da altura do fundo uterino (AFU) e da
FR, ao longo do terceiro trimestre gestacional, e a correlação Figura 4 - Correlação dos valores médios da Circunferencia Abdo-
entre as variáveis. minal e PEmáx, das gestantes avaliadas,distribuidas ao longo do
terceiro trimestre gestacional.
Figura 2 - Correlação entre Altura de fundo uterino e Frequência 83,2

Mensuração (cm)
83 83

Pressão (cmH20)
Respiratória. 83 95
82,8 94 94
82,6 93
82,4
Número de incursões (irpm)

82,2 92
82 91
21,5 32,3 33 81,8 91 82 90

Mensuração (cm)
21 81,6 90
31 32 89
20,5 30,5 31 81,4 88
20 27-30 31-34 35-38
19,5 29 30
19 29 Idade gestacional (semanas)
18,5 19 19
28 PeMÁX MCA
18 27
27-30 31-34 35-38
Fonte: Dados da pesquisa, 2011.
Idade gestacional (semanas)
FR AFU
Comparando os valores de referência propostos na litera-
tura [12], onde a PEmáx tem seu valor normal compreendido,
Fonte: Dados da Pesquisa, 2001. em um adulto jovem, na faixa 100 a 150 cmH2O, com os
valores achados na pesquisa pode-se veriicar uma diminuição
A Figura 3 apresenta os valores médios referentes à evolu- da PEmáx em relação a mulher não-grávida, bem como é
ção do crescimento da AFU e da PImáx, ao longo do terceiro possível observar a diminuição desta ao evoluir da gestação,
trimestre gestacional, e a correlação entre as variáveis. fato este acompanhado pelo aumento gradativo da MCA.
Os dados analisados foram submetidos ao teste estatístico
Figura 3 - Correlação dos valores médios da AFU e PImáx, das de Pearson, para avaliar a correlação entre as variáveis, uma
correlação inversa positiva, uma vez que apresentou um valor
de ρ = 0,9.
gestantes avaliadas, distribuídas ao longo do terceiro trimestre
gestacional.
Os resultados sugerem que com o crescimento uterino
Mensuração (cm)

33 76,5
Pressão (cmH20)

76 32,3 76 e consequente protrusão abdominal, possivelmente há a


32
31 75,5 diástase dos músculos reto abdominais associado a diminui-
30 30,5 75 75 ção da força muscular destes. Uma vez que tal musculatura
74,5
29 29 74 74 apresenta importante participação no processo ventilatório,
28 73,5 destaque-se a expiração.
27 73
27-30 31-34 35-38 Uma vez que as pressões pulmonares apresentam altera-
Idade gestacional (semanas) ções signiicativas impostas pelo ciclo gravídico, a Figura 5,
AFU PiMÁX através da manovacuometria, apresenta de forma comparativa
as médias da PImáx e PEmáx da amostra em estudo, distribuídas
Fonte: Dados da pesquisa, 2011.
ao longo do terceiro trimestre.

Os resultados encontrados mostram que, para a amostra Figura 5 - Média das pressões respiratórias máximas das gestantes
em estudo, ao longo do terceiro trimestre gestacional, ocor- avaliadas, ao longo do terceiro trimestre gestacional.
reu um aumento gradativo da AFU, ao mesmo tempo que, 90 82,5 81,2
80 80
a PImáx apresentou um peril inverso, com uma diminuição
Média (cmH20)

70
ao longo da gestação. O que sugere a diminuição da força 60 72,9 70 61,2
50
muscular do diafragma, devido a compressão exercida sobre 40
pelo fundo uterino em crescimento, favorecendo a pressão 30
20
durante a inspiração. Comparando os dados com os valores 10
de referência [12], correlacionando os dados estatisticamente 0
27-30 31-34 35-38
através do teste de Pearson (p=0,4) icou comprovado que
Idade gestacional (semanas)
existe uma correlação inversa positiva entre as variáveis.
PeMÁX PiMÁX
A Figura 4 apresenta os valores médios da variação da
Medida da circunferência abdominal (MCA) e da PEmáx da Fonte: Dados da pesquisa, 2011.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


60 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Como é possível observar, para a PImáx, nas gestantes que crianças que nascem são ilhas de adolescentes, número que
se encontravam entre 27 e 30 semanas de gestação a média se representa três vezes maior de gravidez na adolescência em
foi de 72,9 ± 16 cmH2O, nas que se encontravam entre 31 relação a década de 70 [14].
e 34 semanas a média foi de 70 ± 12cm H2O e nas gestantes Já em relação aos desconfortos ventilatórios na gestação,
entre 35 e 38 semanas a média foi de 61,2 ± 13cm H2O. No 95,5% das gestantes relataram a dispnéia como principal deles
que se refere à PEmáx, as médias foram de para as gestantes (Figura 1). Dois autores [15,16]concordam que a dispnéia
que se encontravam entre 27 e 30; 31 e 34 e, 35 e 38 semanas é uma queixa de 60 a 70% das grávidas, durante a gravidez
de gestação, 82,5º ± 16 cmH2O, 81,2 ± 13 cmH2O, 80 ± 13 ocorre um aumento de 20 a 30% no consumo de oxigênio,
cmH2O, respectivamente compensado por uma respiração mais profunda, que aumenta
Durante a avaliação as pacientes foram interrogadas sobre o esforço respiratório. A redução da capacidade de difusão e
o nível de esforço percebido por elas nas atividades diárias a elevação do diafragma pelo crescimento uterino, também
relacionando com a fadiga e dispnéia após o referido esforço, contribui para agravar a sensação de “falta de ar” da grávida.
através da Escala de Borg Modiicada. A Figura 6 apresenta O volume total da frequência respiratória é aumentado
a distribuição da amostra em estudo de acordo com os graus durante a gestação, e há uma diminuição de 25% da tensão
de esforço relatados pelas gestantes através da Escala de Borg de dióxido de carbono do sangue materno, o que favorece
Modiicada. consequentemente a sensação de dispnéia referida pelas ges-
tantes principalmente no terceiro trimestre e durante atividade
Figura 6 - Avaliação da Escala de Esforço de BORG, ao longo do [5], corroborando com os dados da pesquisa.
terceiro trimestre. Na Figura 2 encontramos uma relação crescente entre a
40% altura do fundo uterino e a FR, concordando com a literatura
40,00% 33,30% que explica que a gestante respira mais profundamente, e
35,00% sua frequência respiratória aumenta em duas respirações por
Amostra (%)

30,00% 23,30% minuto para manter a SatO2, causando um aumento de 40%


25,00%
20,00% no volume respiratório por minuto [17,18], clinicamente
15,00% ocorrendo uma hiperventilação, para o qual contribui rele-
10,00% 3,30% vantemente a progesterona [19].
5,00%
Os efeitos mecânicos da gestação sobre a função pulmonar
0,00%
Muito Leve Moderado Pouco são notórios, tendo em vista que as alterações na forma, tama-
leve severo nho e volume do útero gravídico interferem signiicativamente
Fonte: Dados da pesquisa, 2011. na função diafragmática [20]
Analisando o foco principal do nosso estudo, que é a
força muscular respiratória, percebemos uma diminuição da
Os resultados apontam que a maioria das pacientes, 73,3% PImáx e da PEmáx (Figuras 3, 4 e 5) ao longo do terceiro
relatou esforço de moderado a pouco severo, o que sugere trimestre de gestação, inversamente ao gradativo aumento
que o desempenho ventilatório das mesmas apresentava-se do volume abdominal. Visto que, com o aumento do fundo
prejudicado devido as alterações respiratórias esplanadas nos uterino ocorre uma compressão do principal músculo inspi-
gráicos já discutidos anteriormente, decorrentes das adap- ratório, o que predispõe a diminuição a força muscular do
tações do período gestatório, levando assim a desconfortos diafragma diicultando sua contração durante a inspiração e
ventilatórios como a queixa de dispnéia veriicada através da assim, levando a diminuição da PImáx pela ação uterina [12].
escala. Além da diiculdade de contração do músculo diafragma,
a distensão excessiva dos retos abdominais causa prejuízo no
Discussão vetor de força também desses músculos, diminuindo a força
de contração [21]. Porém entre os músculos abdominais os
Através dos resultados vimos que a faixa etária predo- retos têm grande ação na caixa torácica durante a expiração.
minante entres as gestantes foi de 14 a 21 anos (Tabela I), Nesta perspectiva, no que concerne à musculatura respiratória,
sendo um dado importante uma vez que de acordo com outro nota-se que a PEmáx encontra-se signiicativamente reduzida
estudo [13] a gestação ocorrida em jovens de até 21 anos entre o 5o e o 9o mês de gestação [22].
que se encontram, portanto, em pleno desenvolvimento da Em um estudo de caso [23], realizado com duas pacientes
adolescência ocorre, em geral, de forma não planejada, não com idade gestacional entre 27 e 38 semanas, veriicou que
desejada e muitas vezes em meio a relacionamentos instáveis. mesmo as pacientes não apresentando queixas de desconfortos
Além disso, a gravidez precoce é uma das ocorrências mais ventilatórios, os dados obtidos através da técnica de mano-
preocupantes relacionadas à sexualidade na adolescência, com vacuometria mostrou que houve diminuição nos valores das
sérias consequências para a vida dos envolvidos, de seus ilhos pressões respiratórias comparados aos valores de referencia.
e de suas famílias. No Brasil a cada ano, cerca de 20% das Concluindo assim, que mesmo as pacientes não apresentando

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 61

queixas de desconforto respiratório, as modiicações anatô- 3. Stirbulov R. Situações especiais-gravidez. In: Zambone M.
micas e isiológicas impostas ao sistema respiratório alteram Pneumologia - Diagnostico e Tratamento. São Paulo: Atheneu;
a força da musculatura respiratória, consequentemente alte- 2006. p.725-27.
rando os valores das pressões respiratórias máximas. 4. Paisini D, Chiaveggato L, Feresin S. Volumes, capacidades
pulmonares e força muscular respiratória no pós-operatório de
Também em outra pesquisa [2] com dez gestantes, utili-
gastroplastia. J Bras Pneum 2005;31(2):125-32.
zando a mesma técnica, veriicou uma diminuição nos valores 5. Polden M, Mantle J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia.
das pressões respiratórias máximas, porém não considerou tais São Paulo: Santos; 2002.
alterações como signiicantes devido ao número pequeno da 6. Stephenson RG, O’Connor LJ. Fisioterapia aplicada à gineco-
amostra estudada. logia e obstetrícia. 2a ed. São Paulo: Manole; 2004.
Além de que quando comparados os valores obtidos com 7. Almeida LGD, Constâncio FL, Santos CVS. Análise compara-
os valores de referência, pode-se realmente comprovar que tiva das pe e pi máximas entre mulheres grávidas e não-grávidas
houve diminuição das pressões respiratórias máximas ao e entre grávidas de diferentes períodos gestacionais. Rev Saúde
longo do terceiro trimestre gestacional. Pois, a PImáx tem Com 2005;1(1):91-7.
8. Karvonen J, Saarelainnen S, Nieminen MM. Measurement of
seu valor normal compreendido, em um adulto jovem, na
respiratory muscle forces based on maximal inspiratory and
faixa de - 90 a - 120 cmH2O, enquanto que a PEmax tem
expiratory pressures. Respiration 1994;61:28-31.
seu valor normal compreendido, em um adulto jovem, na 9. Silva LCC, Rubin AS, Silva LMC.. Avaliação funcional pulmo-
faixa de + 100 a + 150 cmH2O. Sabe-se que a partir dos 20 nar. Rio de Janeiro: Revinter; 2000.
anos de idade ocorre um decréscimo anual de 0,5 cmH2O 10. Mattos MG, Rosseto Jr AJ, Blecher S. Teoria e prática da
nestes valores [12]. metodologia da pesquisa em educação física: construindo sua
Este estudo sugere, portanto, que as alterações anátomo- monograia, artigo cientíico e projeto de ação. São Paulo:
-isiológicas impostas pelo ciclo gestatório levam a alterações Phorte; 2003.
na mecânica respiratória e consequente diminuição de 11. Souza RB. Pressões Respiratórias Máximas. J Pneumol
força muscular respiratória, o que leva a diminuição dessas 2002;28(23):155-65.
12. Azeredo CAC. Fisioterapia Respiratória Moderna. 4a ed. São
pressões. Além de aumentar a frequência respiratória das
Paulo: Manole; 2002.
mesmas, predispondo-as instabilidade e desconfortos, como 13. Guimarães EB. Gravidez na adolescência: fatores de risco. In:
icou comprovado pela Figura 6 em que 73,3% das gestantes Saito MI, Silva EV. Adolescência – Prevenção e Risco. São Paulo:
relatou esforço de moderado a pouco severo nas atividades Atheneu; 2001.
da vida diária. 14. Ballone GJ. Gravidez na Adolescência. PsiqWeb 2003 [citado
2011 mai]. Disponível em URL: http://sites.uol.com.br/gballo-
Conclusão ne/infantil/adoelesc3.html.
15. Moretti E. Problemas comuns da gravidez: cuidados planejados.
Os achados dessa pesquisa conirmam que o acompa- 2a ed. Passo Fundo:UPF; 2000.
16. Silva OJ, Silva TJC. Exercício e saúde: fatos e mitos. Florianó-
nhamento respiratório é um fator essencial na gestação
polis: UFSC;1995.
estando ligado diretamente com o desenvolvimento do feto
17. Barros SMO. Enfermagem no ciclo gravídico puerperal. 1a ed.
e qualidade de vida da gestante. Nesse contexto, se insere o São Paulo: Manole; 2006.
proissional isioterapeuta, pois o acompanhamento isiotera- 18. Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia e
pêutico respiratório tem a inalidade de estabelecer melhora aspectos de mastologia. 4a ed.amp.rev. Rio de Janeiro: Guana-
da função ventilatória da gestante, e orientar sobre a adequada bara Koogan; 2007.
mecânica pulmonar. 19. Rezende J. Obstetrícia. 10a ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 2005.
No entanto, se fazem necessários mais estudos pertinentes 20. Messeder OHC, Morissey WL. Funçäo pulmonar na gravidez: o
a temática abordada na perspectiva de favorecer a melhor volume de isoluxo no último trimestre de gestaçäo. J Pneumol
adaptação da gestante as alterações isiológicas impostas, de 1985;11(3):127-34.
21. Kapandji AI. Fisiologia articular: tronco e coluna vertebral. 5a
modo a minimizar os desconfortos instalados e assim favorece
ed. São Paulo: Manole; 2000.
a vitalidade materno-fetal. 22. Konkler CA, Kisner BS. Princípios de exercícios para a paciente
obstétrica. In:, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos
Referências e técnicas. 3a ed. São Paulo: Manole;1998.
23. Amaral APG, Ávila CH, Braunstein MVG, Marcuzzo L, Soares
1. Neme B. Obstetrícia básica. 3. ed. São Paulo: Sarvier; 2005. TD, Braz MM, Ferreira FV, Pivetta HMF. Avaliação da função
2. Lemos A, Caminha MA, Melo Jr EF, Andrade AD. Avaliação respiratória de gestantes: um estudo de caso. In: 3° jornada
da força muscular respiratória no terceiro trimestre de gestação. interdisciplinar em saúde, 2010; Santa Maria: UNIFRA; 2010.
Rev Bras Fisioter 2005;9(2):151-6.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


62 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 11

Inluência da atividade física na qualidade


de vida da mulher no climatério
Inluence of physical activity on quality of life
of woman in climacteric
Rívea Trindade da Silva, Acd*, Camila huanne Brito Fernandes**, Ana Rita Dantas de Lira, Acd*,
Vitória Jéssica Teixeira Dantas, Acd*, Elizabel de Souza Ramalho Viana, D.Sc.***, Lílian Lira Lisboa, M.Sc.****

*Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Fisioterapeuta graduada pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, ***Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, ****Professora Assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar a inluência da prática da atividade física na Objective: To evaluate the inluence of physical activity on
qualidade de vida da mulher na fase do climatério. Métodos: Foram quality of life of woman in the climacteric phase. Methods: We
estudadas mulheres com idade entre 45 e 65 anos, em diversas fases studied women 45 to 65 years old in various stages of climacteric
do climatério, em estudo analítico de corte transversal. Aplicou-se in cross-sectional analytical study. We applied a semi-structured
um questionário semi-estruturado para avaliação das características questionnaire to assess socio-demographic characteristics, beyond
demográicas e sociais, além do SF-36, para mensuração da qualidade an instrument for measuring quality of life in general, the SF-36.
de vida. Para veriicar associações entre variáveis qualitativas, foi To assess associations between qualitative variables we used test chi-
utilizado o teste qui-quadrado e para comparações de médias entre -square and for comparisons of means between groups were used
grupos foram utilizados os testes “t” de Student, adotando-se nível t-tests of Student adopting a signiicance level of 5%. Results: he
de signiicância de 5%. Resultados: As mulheres estudadas na amostra women studied in the sample had a mean age of 54.22 (± 4.71)
apresentaram média de idade de 54,22 (± 4,71) anos para o grupo years for the group physically active. For the non-practicing group,
das praticantes de atividade física. Para o grupo das não praticantes, the average was 55.09 (± 4.9) years. he domains of the SF-36
a média foi de 55,09 (±4,9) anos. Os domínios do questionário showed decreased quality of life in almost all areas, excluding only
SF-36 demonstraram da qualidade de vida em quase todos os do- the mental health of the group not engaged in physical activity.
mínios, excluindo apenas o de saúde mental para o grupo das não Conclusion: Based on results it was concluded that regular physical
praticantes de atividade física. Conclusão: Com base nos resultados exercise can have a positive impact on various aspects of quality of
encontrados, conclui-se que a prática regular de exercícios físicos life of women in climacteric.
pode ter um impacto positivo em vários aspectos na qualidade de Key-words: climacteric, motor activity, exercise, quality of life,
vida das mulheres climatéricas. menopause.
Palavras-chave: climatério, atividade motora, exercício, qualidade
de vida, menopausa.

Endereço para correspondência: Lílian Lira Lisboa, E-mail: lisboa.lilian@gmail.com

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 63

Introdução gar a inluência da atividade física na qualidade de vida destas


mulheres no climatério.
O climatério é deinido pela Organização Mundial da
Saúde como uma fase biológica na vida das mulheres, que Material e métodos
compreende a transição entre o período reprodutivo e o não
reprodutivo [1], um fenômeno isiológico decorrente do Realizou-se estudo analítico de corte transversal, com ina-
esgotamento dos folículos ovarianos que ocorre em todas as lidade descritiva. Foram estudadas mulheres com idade entre
mulheres de meia idade. Este se caracteriza pelo hipoestroge- 45 e 65 anos, em diversas fases do climatério, sem distinção de
nismo progressivo, culminando com a interrupção deinitiva raça, etnia e religião, atendidas nos ambulatórios de assistência
dos ciclos menstruais, chamada menopausa [2]. Esta pode ser ao climatério do Centro de Saúde Reprodutiva Leide Morais
dividida em três fases: a pré-menopausa inicia-se após os 40 e Maternidade Escola Januário Cicco da Universidade Federal
anos de idade, em mulheres com ciclos menstruais regulares; a do Rio Grande do Norte (UFRN), município de Natal/RN.
perimenopausa, dois anos antes da última menstruação e per- Foram excluídas mulheres que não demonstraram capacidade
siste até 12 meses após a cessação dos catamênios; e o período cognitiva para entendimento dos propósitos da pesquisa e
pós-menopausa, um ano após a última menstruação [3,4]. para responder adequadamente os instrumentos utilizados.
Aproximadamente 60 a 80% das mulheres referem algum Pelo fato do desenho do estudo envolver estimativas de
tipo de sintomatologia durante o climatério. Esses sintomas frequência e médias de escores, foram utilizadas técnicas
podem ser divididos em: neuropsíquicos, como ansiedade, de amostragens destinadas a esses diferentes objetivos da
irritabilidade, diminuição da libido, modiicações do humor, pesquisa. Em relação à qualidade de vida, foram utilizados
perda de memória, diminuição da autoconiança e da auto- dados de estudo que empregou o mesmo instrumento de
-estima; neurovegetativos, tipo ondas de calor, suores notur- avaliação, calculando-se um tamanho amostral suiciente
nos, palpitações, parestesias, cefaléias e insônias; metabólicos, para detectar diferenças de, no mínimo, 10% em relação aos
como a obesidade; genitourinários, como ressecamento, pru- escores médios observados naquela casuística, perfazendo
rido vaginal e dor durante a relação sexual; e intestinais, por 100 pacientes. Em ambos os procedimentos estatísticos, foi
exemplo, diminuição da motilidade que leva a constipação e adotado alfa de 5% e poder estatístico de 80%. Considerando
latulências. Todos esses sintomas repercutem negativamente o efeito do desenho e a ocorrência de recusas e perdas, optou-
na qualidade de vida das mulheres climatéricas [5,6]. se por acrescentar a maior estimativa encontrada, totalizando
O termo qualidade de vida inclui uma variedade potencial 120 pacientes.
de condições que podem afetar a percepção do indivíduo, seus Para as análises do presente estudo, foram incluídos os
sentimentos e comportamentos relacionados com o seu dia a dados provenientes de 116 voluntárias. A coleta de dados
dia, com grande impacto sobre o estado de saúde [7]. Dessa foi realizada por acadêmicos do curso de isioterapia, previa-
forma, a análise da qualidade de vida tem estado cada vez mente treinados na aplicação dos instrumentos de pesquisa.
mais presente na área da saúde como uma fonte importante O projeto foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética e
no sentido de avaliar e quantiicar o impacto da doença na Pesquisa da UFRN. (Parecer No 115/2004). Para este estudo
vida do paciente [8]. foi redigido um termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Muitos estudos têm buscado maneiras de contribuir na conforme as normas do Conselho Nacional de Saúde, resolu-
redução dos sintomas frequentemente vividos durante o ção 196/96, o qual foi lido e assinado por todas as mulheres
climatério e o exercício físico tem sido bastante estudado e que concordaram em participar da pesquisa.
apontado como uma terapêutica eicaz na luta contra esses A coleta de dados constou da aplicação de um questio-
sintomas [9,10]. nário semi-estruturado para avaliação das características de-
A prática regular de exercícios físicos é uma estratégia mográicas e sociais, além de um instrumento validado para
para manter e melhorar o estado de saúde física e psíquica em mensuração da qualidade de vida em geral (SF-36, Medical
qualquer idade, tendo efeitos benéicos diretos e indiretos para Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey).
prevenir e retardar as perdas funcionais do envelhecimento, O questionário genérico de qualidade de vida, SF-36, foi
melhorando a capacidade cardiovascular e respiratória, pro- validado para uso na população brasileira por Ciconelli et al.
movendo o ganho de massa óssea, prevenindo a hipertensão [13]. Este instrumento avalia oito conceitos (domínios) de
e o diabetes, entre outros [1,11]. Nessa fase, além das vanta- saúde: Capacidade Funcional (CF), Aspectos Físicos (AF),
gens já citadas, a atividade física auxilia, também, na redução Dor (DOR), Estado Geral de Saúde (EGS), Vitalidade (VIT),
dos sintomas da menopausa e melhora o estado psicológico Aspectos Sociais (AS), Aspectos Emocionais (AE) e Saúde
da mulher, levando ao bem-estar, melhoria da auto-estima, Mental (SM). Cada domínio do SF-36 corresponde a um
diminuição da ansiedade, da tensão e da depressão. Portanto, valor que varia de zero a 100, onde zero corresponde ao pior
as mulheres devem ser encorajadas a realizar atividade física e 100 ao melhor estado de saúde.
regularmente [12]. A análise dos dados constou de uma abordagem descritiva
Diante desse contexto, o objetivo deste estudo foi investi- da qualidade de vida, procurando estabelecer relações com va-

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


64 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

riáveis sócio-demográicas, tais como idade, raça, escolaridade, 23,07). Os valores para os domínios do SF-36 para o G1 e
situação conjugal, renda familiar e prática de atividade física. G2 estão demonstrados na tabela II.
Para análise estatística descritiva dos dados foram utili-
zados os softwares STATISTIC (StatSoft, Inc, Tulsa, OK) e Tabela II - Escores médios de qualidade de vida para os oito do-
SPSS for Windows 13.0 (SPSS, Chicago, IL). Inicialmente foi mínios do SF-36, para o grupo das praticantes de atividade física e
feito o teste Kolmogorov-Smirnov, para veriicar a normalida- das não praticantes. (* p < 0,05)
de de distribuição dos dados. Os dados foram apresentados em Componentes do
Praticantes Não praticantes
médias com seus respectivos desvios padrões e percentagens.. SF-36
Capacidade funcional 73,63 (± 26,17) 62,85 (± 26,29)*
Resultados Aspectos físicos 71,08 (± 38,85) 58,46 (± 41,52)
Dor 60,53 (± 27,41) 53,75 (± 27,03)
A amostra estudada foi dividida em dois grupos: G1 - Estado geral de saúde 69,76 (± 25,17) 68,58 (± 20,28)
constituído por 51 mulheres com média de idade de 54,22 Vitalidade 68,24 (± 20,68) 58,62 (± 23,07)*
(± 4,71) anos e praticantes de atividade física regularmente, Aspectos sociais 74,51 (± 25,12) 70,96 (± 25,96)
com frequência de três ou mais vezes por semana e duração Aspectos emocionais 71,90 (± 39,65) 64,10 (± 45,37)
superior a 40 minutos por sessão; G2 - constituído por 65 Saúde mental 68,86 (± 19,06) 71,26 (± 18,31)
mulheres com média de idade de 55,09 (± 4,9) anos e não
praticantes de atividade física. Discussão
No grupo das praticantes de atividade física, referindo-se
à ocupação das entrevistadas no momento da pesquisa, 25 Neste estudo, as praticantes de atividade física apresentam
(49%) não possuíam ocupação extra-domicílio e 26 (51%) melhores escores de qualidade de vida, segundo os domínios
trabalhavam extra-domicílio. Os dados sociodemográicos das do SF-36, quando comparados às não praticantes, com ex-
mulheres estudadas encontram-se demonstrados na tabela I. ceção do domínio saúde mental. Este dado reforça estudos
que veriicaram melhora na qualidade de vida em indivíduos
Tabela I - Dados sociodemográicos para o grupo das praticantes de praticantes de exercícios físicos [14-18]. O presente estudo
atividade física e das não praticantes. demonstra signiicância estatística nos domínios capacidade
Dados sócio demográicos
Não prati- funcional e vitalidade.
Praticantes
cantes Com relação à inluência das variáveis sócio-demográicas
Estado civil na qualidade de vida, os dados encontrados no presente estudo
Solteira 16 (31,4%) 23 (35,4%) mostram que as mulheres com menor renda familiar faziam
Casadas ou união estável 28 (54,9%) 35 (53,8%) parte do grupo que apresentou piores índices de qualidade
Viúvas 7 (13,7%) 7 (10,8%) de vida semelhante a resultados encontrados por Galvão et
Renda al. [19] que justiicou os resultados a razões como falta de
Um salário mínimo 8 (15,7%) 14 (21,5%) acesso a tecnologias de lazer, cultura e entretenimento, além
Dois a três salários 10(19,6%) 11 (16,9%) das diiculdades inerentes às classes sociais menos favorecidas,
Quatro ou mais salários 33 (64,7%) 40 (61,5%) relacionadas à saúde, educação, habitação e segurança.
Anos de estudo Quanto à escolaridade, as mulheres com mais anos de
Analfabetas 5 (9,8%) 0 (0%) estudo obtiveram menores valores na qualidade de vida o que
Um a quatro anos 8 (15,7%) 7 (10,8%) difere de resultados encontrados por Lorenzi et al. [20] que
Cinco a oito anos 8 (15,7%) 9 (13,8%) associa a maior escolaridade a maiores níveis de informação o
Nove ou mais anos. 30 (58,8%) 49 (75,6%) que facilita o entendimento da nova fase da sua vida, além de
Ocupação extradomiciliar tranquilizar as mulheres. A respeito da ocupação, as mulheres
Não 25 (49%) 25 (38,5%) que relataram não ter ocupação extra-domicílio apresentaram
Sim 26 (51%) 40 (61,5%) melhor qualidade de vida diferente de Galvão et al. [19] que
em seu estudo concluiu que mulheres que trabalhavam fora
Com relação aos domínios do SF-36 para o grupo das apresentaram melhor qualidade de vida no geral. Com relação
praticantes de atividade física, os maiores valores foram ao estado civil não foram observadas diferença entre os grupos.
encontrados para os domínios de aspectos sociais (74,51) e A capacidade funcional e a vitalidade signiicativamente
capacidade funcional (73,63), enquanto que para aquelas não maior no grupo das mulheres praticantes de atividade física
praticantes, os valores mais elevados foram aspectos sociais vão de encontro com dados da literatura que veriicaram me-
(70,96) e estado geral de saúde (68,58). lhor qualidade de vida em indivíduos praticantes de exercícios
Para a capacidade funcional e vitalidade, nas mulheres físicos regulares. Toscano et al. [18] em seu estudo com 238
não praticantes de atividade física, foram encontrados valores idosas, comparando a qualidade de vida em idosos com níveis
estatisticamente signiicativos de 62, 85 (± 26,29) e 58,62 (± distintos de atividade física, concluiu que as mulheres idosas

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 65

mais ativas apresentaram melhores resultados nos escores do que concluiu que a atividade física melhora o estado
[27]

SF-36, inclusive nos domínios acima citados. psicológico do indivíduo, proporcionando sensações de
Matsudo et al. [21] em um estudo com 117 mulheres bem-estar, aumento da auto-estima, diminuição da ansie-
entre 50 e 79 anos de idade participantes de um programa de dade, da tensão e da depressão.
atividade física regular há dois anos, concluiu que a atividade
física praticada regularmente pode ajudar na manutenção de Conclusão
um nível funcional de independência, numa melhor saúde
e qualidade de vida durante o processo natural de envelhe- Com base nos resultados encontrados conclui-se que a
cimento. prática regular de exercícios físicos pode ter um impacto po-
No domínio estado geral de saúde não foi observado sitivo em vários aspectos na qualidade de vida das mulheres
signiicância estatística entre os grupos, diferentemente de climatéricas.
outros trabalhos que associam a prática regular de exercício Pelo fato de, socialmente, a menopausa estar associada à
físico a uma melhora perceptível na saúde de uma forma geral velhice, ao declínio da vitalidade física e da feminilidade, é de
do indivíduo que a pratica [11,12,14,15,17,18]. vital importância manter um estilo de vida adequado, com
Sguizzatto et al. [15] em um estudo comparando mulheres práticas regulares de atividades físicas, a im de manter o corpo
idosas atletas com mulheres saudáveis sedentárias associou a mais saudável e melhorar a qualidade de vida.
prática de atividade física com menores queixas de dor em Como sugestão, ica a participação da Fisioterapia no
suas praticantes, semelhante a Nakagava [22] em um estudo tratamento das mulheres no climatério, visando um aumento
com 22 mulheres idosas, com idade entre 60 e 70 anos, pra- na qualidade de vida, na promoção do bem-estar, na melhoria
ticantes de hidroginástica onde foi concluído que a prática ou manutenção das capacidades funcionais e prevenção de
da mesma contribui para melhoria da qualidade de vida dos limitações. Neste contexto, a Fisioterapia conigura-se como
praticantes, inclusive no domínio dor. No nosso estudo não um recurso capaz de analisar e implementar programas de
foram encontrados valores com signiicância estatística entre intervenção para evitar e se contrapor a muitas das alterações
os grupos nesse domínio. e deiciências encontradas nas mulheres da terceira idade e
No domínio aspectos físicos vários autores encontraram para melhorar sua saúde em geral.
associação da prática da atividade física com melhora nesse É importante que esse tipo de estudo seja continuado
aspecto, diferente do nosso estudo que não apresentou sig- a im de uma avaliação mais detalhada, tanto do melhor
niicância estatística entre os grupos. Aguiar et al. [23] em tipo de modalidade física como da frequência ideal, para o
um estudo com quarenta mulheres, com idade entre sessenta aprimoramento dos resultados.
e oitenta anos, praticantes de hidroginástica e sedentárias,
concluiu que o grupo que realizava atividade física obteve Referências
melhoras no equilíbrio corporal. Alves et al. [24] fez um
estudo com 74 idosas sedentárias, onde as participantes 1. Manual de atenção à mulher no climatério/Menopausa. Minis-
foram divididas em dois grupos, um praticou duas aulas de tério da Saúde. 2008;9:11.
hidroginástica semanais durante três meses e o outro serviu de 2. Lorenzi DRS, Danelon C, Saciloto B, Padilha Júnior I. Fatores
indicadores da sintomatologia climatérica. Rev Bras Ginecol
grupo controle, ao inal do estudo concluiu-se que as mulheres
Obstet 2005;27(1):7-11.
que realizaram a atividade física tiveram aumento na força,
3. Fernandes CE, Baracat EC, Lima GR. Climatério: manual de
resistência, velocidade, agilidade, equilíbrio e lexibilidade. orientação. Febrasgo; 2004. p.11.
O domínio aspectos sociais, foi outro onde não se obser- 4. Fernandes RCL, Rozenthal M. Avaliação da sintomatologia de-
vou diferença estatística signiicativa de um grupo para outro. pressiva de mulheres no climatério com a escala de rastreamento
Resultados diferentes foram encontrados por Gomes et al. populacional para depressão CES-D. Rev Psiquiatr Rio Grande
[25] em um estudo com quarenta mulheres que tinha como do Sul 2008;30(3):192-200.
objetivo constatar os principais motivos de adesão dessas à 5. Silveira IL, Petronilo PA, Souza MO, Silva TDNC, Duarte
atividade física, foi concluído que as mesmas procuram a JMBP, Maranhão TMO et al. Prevalência de sintomas do cli-
atividade buscando aumento do seu contato social. matério em mulheres dos meios rural e urbano no Rio Grande
do Norte, Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2007;29(8): 415-22.
Nos domínios aspectos emocionais e saúde mental
6. Liberali R, Vieira ZM, Goulart JCT. O papel da atividade física
não foram encontradas diferenças signiicativas diferente na saúde e qualidade de vida na saúde e na menopausa. Rev
de um estudo de McAuley et al. [26] que relacionou a Digital Buenos Aires. 2004;78(10):328-332.
atividade física com a redução do estresse, da depressão e 7. Fleck MPA, Leal OF, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E,
da ansiedade, concluindo que a prática de exercícios pode Vieira G et al. Desenvolvimento da versão em português do
corroborar no nível de saúde mental dos praticantes e que instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (WHO-
sedentários podem ter inferiores níveis de saúde mental QOL-100). Rev Bras Psiquiatr 1999;21(1):19-28.
quando comparados a indivíduos ativos. O resultado 8. Makluf ASD, Dias RC, Barra AA. Avaliação da qualidade de
encontrado difere ainda de um estudo feito por Camargo vida em mulheres com câncer da mama Rev Bras Cancerol
2006;52(1):49-58.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


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um programa de atividade física de longa duração sobre a força 2007;53(5):414-20.
muscular manual e a lexibilidade corporal de mulheres idosas. 20. Lorenzi DRS, Baracat EC, Saciloto B, Padilha JI. Fatores as-
Rev Bras Fisioter 2006;10(1):127-32. sociados à qualidade de vida após menopausa. Rev Assoc Med
12. Liberali R, Vieira ZM, Goulart JCT. O papel da atividade física Bras 2006;52(5):312-7.
na saúde e qualidade de vida da mulher na menopausa. Lect 21. Matsudo SM, Matsudo, VKR, Barros Neto TL, Araujo TL. Evo-
Educ Fís Deportes 2004;10(78). lução do peril neuromotor e capacidade funcional de mulheres
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Tradução para a língua portuguesa e validação questionário ge- Med Esporte 2003;9(6):365-76.
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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 67

Artigo 12

Avaliação funcional do assoalho pélvico: uma


abordagem isioterapeutica na prevenção da
incontinência urinária
Functional evaluation of pelvic loor: physiotherapeutic approach in
prevention of urinary incontinence
Jéssica Costa Leite*, Flavia Monteiro Marques Morais*, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.**, Denise Almeida Santos,
Esp.*, Klênio Lucena Sena, Esp.*, Isabela Dantas da Silva*, Lorena Maria Brito Neves Pereira*

*Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), **Docente do Curso de Fisioterapia e coordenadora da
Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda em Engenharia de
Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, Coordenadora do PRASM

Resumo Abstract
O pompoarismo é uma técnica milenar do Oriente com o obje- he pompoarism is an Eastern ancient technique aiming at
tivo de fortalecer o assoalho pélvico. O presente trabalho teve como strengthening the pelvic loor muscles. his study aimed to evaluate
objetivo avaliar funcionalmente a musculatura do assoalho pélvico the pelvic loor muscles function before and after application of
antes e após aplicação de técnicas de pompoarismo, na perspectiva techniques of pompoarism in view of prevention of female urinary
de prevenção da incontinência urinária feminina. Trata-se de um incontinence. his was a case study, consisting of one woman with
estudo de caso, transversal de natureza aplicada, do tipo quantitativo severe deicit of the pelvic loor muscles. Was evaluated the degree
e descritivo exploratório. A amostra foi do tipo não-probabilística of muscle strength of the pelvic loor by the Assessment Protocol
e intencional, composta por 1 mulher com disfunção do assoalho Functional Kinetic by biofeedback Perina ® 996-2, and used instru-
pélvico (AP). Foi realizada a avaliação através do Protocolo de ments to perform the pompoarism technique and the Oxford Mo-
Avaliação Cinético-Funcional, pelo biofeedback PERINA® 996-2, diied Scale. he results showed a strength and proprioceptive gain
para mensurar o grau de força da musculatura do AP e instrumentos in the patient in a short time, the maintenance of the contraction
para a realização da técnica de pompoarismo e a Escala Modiicada and an increase in the strength of muscle contraction when reques-
de Oxford. Os resultados mostraram um ganho de força e ganho ted. It could be concluded that through an exercise program and
proprioceptivo da paciente em um curto espaço de tempo, sendo appropriate tools, the use of pompoarism associated with physical
possível observar a manutenção da sustentação da contração e um therapist orientation leads to gains in strength and proprioception,
aumento na força de contração da musculatura quando solicitada. demonstrating the feasibility of the technique in the prevention and
Pode-se concluir que através de um programa de exercícios e utili- treatment of disorders of the pelvic loor.
zação de instrumentos apropriados, a utilização do pompoarismo, Key-words: pompoarism, physical therapy, pelvic loor.
associada à orientação do isioterapeuta, conduziram a ganhos de
força e propriocepção, demonstrando a viabilidade da técnica na
prevenção e tratamento das disfunções do AP.
Palavras-chave: pompoarismo, isioterapia, assoalho pélvico.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José
Amaral, 47, Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail: gabi.bcampos@gmail.
com
Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012
68 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução na e saudável, já que vários autores concordam que a ginástica


pélvica é uma grande aliada para auxiliar no tratamento de
A isioterapia ginecológica vem contribuindo para a saúde varias disfunções, pois tanto a inervação estará sendo estimu-
da mulher, propiciando uma maior consciência da muscu- lada quanto a vascularização e a sensibilidade [7].
latura do assoalho pélvico (AP), restaurando ou prevenindo Deste modo, este trabalho justiicou-se pela importância
as disfunções dessa musculatura, não permitindo com isso a em se aprofundar o conhecimento das técnicas de pompo-
instalação de doenças. Obtêm-se estes resultados através de arismo e entender sobre esta arte milenar, que trás enormes
exercícios que recrutam um número maior de ibras mus- benefícios para os músculos pélvicos feminino, através de uma
culares. O fortalecimento dessa musculatura propiciará um técnica de fácil execução e de baixíssimo custo. A contribuição
maior ganho proprioceptivo, melhorando a autoestima e desse estudo possibilita uma nova linha de tratamento para
autoconiança. Todos esses fatores promovem uma prevenção o AP, que tanto acometem as mulheres e abre uma discussão
de patologias de origem de fraqueza muscular [1]. sobre uma temática importante e delicada, permitindo que
Músculos sadios e volumosos proporcionam a mulher haja uma intervenção precoce.
maior consciência, e é assim que as técnicas isioterapêuticas Sendo um tema socialmente relevante, uma vez que
assumem papel no tratamento ou na prevenção dos distúr- ainda é pouco explorado na área da isioterapia ginecológica,
bios funcionais, atendendo às disfunções musculares, ou o além de poder desmistiicar conceitos a cerca da prática de
autoconhecimento e propriocepção [2]. pompoar, mensurado seus inúmeros benefícios na melhoria
O Pompoarismo é uma técnica milenar do Oriente, nas- das disfunções do assoalho pélvico e consequentemente, na
ceu na Índia e foi aperfeiçoada na Tailândia e no Japão. Na qualidade de vida da mulher.
Tailândia é costume passar a técnica de mãe para ilha, com o Nesta perspectiva, o presente estudo teve como objetivo
objetivo de fortalecer o AP. A técnica consiste em controlar os geral avaliar funcionalmente a musculatura do assoalho pél-
três principais anéis da vagina movendo-os de maneira cons- vico antes e após aplicação de técnicas de pompoarismo, na
ciente, com a proposta de estimular os músculos pubococcígeo perspectiva de prevenção da incontinência urinária feminina.
aumentando a propriocepção dessa região, proporcionando E como objetivos especíicos traçar o peril sócio-demográico
um controle maior, melhorando assim a saúde da mulher em da amostra e analisar de forma comparativa a força muscular
todas as áreas [3]. do assoalho pélvico antes e após aplicação de técnicas de
A partir dos anos 40 o médico americano Arnold Ke- pompoarismo.
gel, forneceu uma visão mais cientiica, quando começou
a aplicar a técnica em seu consultório, tratando mulheres Material e métodos
com incontinência urinária. Esta prática surge como uma
alternativa para condicionar o AP trabalhando toda a região Trata-se de um estudo de caso de natureza aplicada,
que circunda a vagina da mulher através de comandos ver- que objetiva gerar conhecimentos para aplicação práti-
bais onde o terapeuta ira solicitar uma contração sustentada ca, dirigido a solução de problemas especíicos; do tipo
seguida de um tempo de repouso. A consequência do desuso quantitativo não probabilística, por traduzir em números,
é a perda de sua função primordial do AP que é sustentar os opiniões e informações para classiicá-las e analisá-las,
órgãos pélvicos [4]. requerendo o uso de recursos e de técnicas estatísticas; e
A proposta do pompoarismo se unir a isioterapia visa descritivo exploratório.
exatamente atender de maneira global as necessidades que a Foi desenvolvido nas dependências da UBSF Raif Ra-
mulher de hoje busca. A isioterapia com seu embasamento malho, na cidade de Campina Grande/PB, em 2011. A
cientíico e o pompoarismo fortalecendo os músculos do AP população do estudo compreendeu mulheres acima de 18
com suas técnicas milenares ainda pouco estudadas. Unir a anos que apresentavam alguma disfunção do AP na cidade de
isioterapia às técnicas de pompoarismo será um grande passo Campina Grande- PB. A amostra foi composta por 1 mulher
para diminuir um preconceito acerca desta temática e com com disfunção do AP admitida na UBSF Raif Ramalho,
isso contribuir com o crescimento da isioterapia nesse campo escolhida por acessibilidade que apresentou disponibilidade
ainda tão pouco explorado [5]. de participar da pesquisa e que se adequou aos critérios de
A necessidade de abordar a utilização da técnica de pompo- inclusão e exclusão.
arismo como conduta isioterapêutica no recondicionamento Foram adotados como critérios de inclusão: mulheres
da musculatura do AP surgiu em detrimento aos benefícios residentes do município de Campina Grande/PB, com idade
relatados por praticantes do pompoarismo e a escassez de acima de 18 anos, admitidas na UBSF Raif Ramalho, sem
literatura a esse respeito, além da necessidade de comprovação restrições para a realização da terapêutica, e que aceitararam
cientíica acerca dos benefícios para a sua saúde feminina em constituir voluntariamente a amostra. E como critério de
seus diversos focos [6]. exclusão: mulheres que não fossem residentes do município
A isioterapia por meio desses exercícios poderá contribuir de Campina Grande-PB, com idade inferior a 18 anos, com
de maneira signiicativa para proporcionar uma vida mais ple- alguma restrição, de qualquer caráter, para a realização da

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 69

terapêutica, com estado clínico que direta ou indiretamente Tabela I - Escala Modiicada de Oxford.
diiculte ou contra indicasse a terapêutica proposta e que não Ausência de resposta muscular dos músculos
Grau 0
aceitem constituir voluntariamente a amostra. perivaginais.
A coleta de dados foi realizada após encaminhamento e Grau 1 Esboço de contração muscular não sustentada.
posterior e aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Presença de contração de pequena intensidade,
Grau 2
Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências Médicas mas que se sustenta.
(FCM) sob CAAE 0162.0.405.000-11. Contração moderada, sentida como um aumento
Como instrumento para coleta de dados foi utilizado de pressão intravaginal, que comprime os dedos
Grau 3
a Ficha de Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico, bem do examinador com pequena elevação cranial da
como, o biofeedback para mensurar o grau de força da mus- parede vaginal
culatura do AP e instrumentos para a realização da técnica Contração satisfatória, aquela que aperta os
de pompoarismo tais como: cones vaginais e Ben-wa, colar Grau 4 dedos do examinador com elevação da parede
tailandês e bola suíça. vaginal em direção a sínfise púbica.
A paciente que compôs a amostra da pesquisa, e atendeu Contração forte, compressão firme dos dedos do
aos critérios de inclusão do presente estudo foi esclarecida Grau 5 examinador com movimento positivo em direção a
quanto aos objetivos, importância e procedimentos da sínfise púbica.
mesma, e mediante aceitação com assinatura do Termo de A avaliação com o uso do biofeedback foi realizada com
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) teve início a a participante posicionada em decúbito dorsal, com os qua-
coleta de dados, onde foi realizada uma avaliação criteriosa, dris abduzidos e letidos, joelhos em lexão e pés apoiados.
a partir da qual foram coletadas as informações pertinentes A realização da AFA e a intensidade da contração perineal
aos objetivos do estudo. foram veriicadas através do aparelho de biofeedback modelo
A avaliação isioterapêutica constou com a coleta de PERINA®. O terapeuta com uma das mãos afastou os gran-
dados clínicos, exame físico por meio da Escala Modiicada des e pequenos lábios e com a outra, posicionou a sonda do
de Oxford, através do exame estático da pelve [8], avaliação biofeedback revestida por um preservativo da marca Micro-
funcional do AP [9] e a mensuração da intensidade da con- tex®, lubriicado. Solicitou, através de comando verbal, para
tração perineal através do biofeedback modelo, PERINA® a participante realizar a inspiração e, ao expirar, contrair a
996-2, antes do inicio do tratamento e após a aplicação da região perineal.
técnica. Todo o procedimento de avaliação foi explicado para Em média, a sonda foi posicionada até a profundi-
a participante da pesquisa. dade de 70 mm. Isso permitiu que os sensores acoplados ao
No exame clínico a palpação digital vaginal foi realizada protótipo se alocassem exatamente a 35 mm da abertura da
com a paciente na postura supina, com as pernas e joelhos cavidade vaginal, onde se localiza a região de maior força ao
lexionados e apoiados em um rolo de dimensões 800 mm de longo do canal conferida pela musculatura do assoalho pélvico
diâmetro por 600 mm de comprimento. Este posicionamento [11]. Realizando a contração perineal por meio de comando
evitou a utilização demasiada da musculatura acessória como verbal de fácil entendimento, a participante fazia contração do
os adutores e glúteos. períneo como se fosse segurar a urina. De inicio foi solicitada
O toque bidigital foi realizado com o intuito de avaliar a uma primeira contração perineal com a inalidade do apren-
realização da contração da musculatura de forma adequada e dizado e conscientização da participante. Em seguida foram
graduar a sua força. Para esta avaliação foi utilizada a Escala solicitadas, novamente, mais três contrações, as quais foram
Modiicada de Oxford que pode ser visualizada na Tabela I, registradas na escala em cm H2O do aparelho. Para a obtenção
caso a participante não realizasse de forma satisfatória novas do valor inal, foi feita uma média entre as contrações.
orientações acerca da correta contração da musculatura as- O biofeedback é um equipamento para reeducação que
soalho pélvico eram feitas até a mesma ser capaz de realizar é utilizado para mensurar efeitos isiológicos internos como
a correta contração. meio de aprendizado e também no fortalecimento dos múscu-
Para esta avaliação o examinador utilizou luvas de proce- los do AP, uma vez que nos fornece parâmetros de uma con-
dimento, sem uso de gel lubriicante, pois o mesmo poderia tração máxima [12,13]. Permite também a conscientização de
interferir na percepção tátil da avaliadora. A pesquisadora um músculo pouco exercitado como o elevador do ânus [14].
posicionou o dedo indicador e médio no introito vaginal, A mensuração da capacidade de contração dessa mus-
assegurando, desta forma, o completo contato com o lúmen culatura seguiu os seguintes protocolos estabelecidos neste
vaginal em toda a sua circunferência, então requereu da pa- estudo para garantir uma padronização da pesquisa. Foram
ciente a contração dos músculos do AP, de modo similar ao solicitados três ciclos respiratórios completos em padrão dia-
movimento de contenção de escape urinário. fragmático; uma contração rápida e intensa de uma vez, como
O toque vaginal foi realizado anteriormente à inserção da uma “guilhotinada”; foram solicitados três ciclos respiratórios
sonda do biofeedback e consequentemente antes da medição completos em padrão diafragmático; além de uma contração
das forças de modo a evitar viés no estudo assegurando. intensa só que desta vez a paciente sustentou por cinco se-

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


70 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

gundos, onde foi observada a capacidade de manutenção do continência no repouso. E as do tipo II são recrutadas durante
valor máximo atingido e os valores decrescentes dentro desse aumento súbito da pressão abdominal contribuindo assim
período. Foram realizadas três medidas. para o aumento da pressão de fechamento uretral [16-18].
A intervenção constava de avaliações isioterapêuticas, Dessa forma, os resultados encontrados estão de acordo com
iniciais e inais, com informações acerca da técnica utilizada a literatura, que sugere o comprometimento das ibras tipo I
para análise comparativa de ganho de força muscular e pro- e tipo II da musculatura pélvica.
priocepção do AP. O protocolo de exercícios foi baseado na Na perspectiva de prevenção e/ou tratamento da IU, a
técnica de pompoarismo. A paciente era orientada sobre a isioterapia dispõe de diferentes condutas terapêuticas, no
execução de exercícios de reconhecimento, fortalecimento intuito de favorecer o processo de continência urinária, dentre
e reeducação da musculatura pélvica. Foram realizados 20 tais técnicas, destaca-se a cinesioterapia, como eiciente con-
atendimentos. duta isioterapêutica, uma vez que favorece o fortalecimento
Os dados da pesquisa foram analisados estatisticamente e das ibras do tipo I e II, da musculatura comprometida do
apresentados de forma descritiva através de gráicos, utilizando AP [18] o que justiica a escolha metodológica da pesquisa.
o programa Microsoft Oice Excel® 2010. Na cinesioterapia trabalhada foi seguido o protocolo
Esta pesquisa teve seu desenvolvimento de acordo com a proposto pela técnica de pompoarismo com esse paciente,
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que sendo realizados exercícios de percepção do períneo associado
aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas à respiração diafragmática, de ponte com os joelhos letidos,
envolvendo seres humanos, baseando-se nos princípios bá- adução de membros inferiores, báscula com uso da bola suíça
sicos da bioética: autonomia, beneicência, não maleicência entre outros, sendo a mesma orientada a realizar as contrações
e justiça. da musculatura do AP durante a fase de expiração. Observou-
-se que todas as atividades eram realizadas sem diiculdades,
Resultados e discussão porém no início do tratamento havia diiculdade de identi-
icar a musculatura a ser contraída, por volta da 10ª sessão,
O presente estudo teve o objetivo de avaliar funcionalmen- a paciente já conseguia identiicar sem maiores diiculdades
te a musculatura do assoalho pélvico antes e após aplicação tornando a contração mais eiciente.
de técnicas de pompoarismo, na perspectiva de prevenção Este fato sugere o ganho progressivo da propriocepção e
da incontinência urinária feminina traçando o peril sócio- força muscular do AP e consequente melhora do processo
-demográico da amostra analisando de forma comparativa de continência, uma vez que o exercício tem como objetivo
a força muscular do AP antes e após aplicação de técnicas de principal promover uma maior consciência dessa região.
pompoarismo, realizado com F.M.M.S, 37 anos, casada, nível Esses resultados corroboram com Gunnarsson et al. [19]
superior completo, multípara, todos de parto pré-maturo e que airmam que a cinesioterapia busca estabelecer a cons-
cesarianos, residente em Campina Grande/PB. ciência da existência e da função dos músculos do AP, uma
Os fatores de risco para a incontinência urinaria também vez que após a realização de um procedimento cirúrgico,
foram avaliados, a paciente apresentava história familiar pre- a musculatura na região lesionada, pode apresentar conse-
gressa de incontinência. Relatou que começou a apresentar quente diminuição de força e propriocepção, sendo esses
luxo menstrual bastante irregular e em grande quantidade, músculos afetados e, portanto, necessitando ser retreinados
passando cerca de dois anos com esse problema. Foi realizada para possível recuperação.
cirurgia de histerectomia e a mesma relata não ter sido escla- O protocolo utilizado apresentou resultado satisfatório, a
recida sobre os riscos referentes a este procedimento cirúrgico paciente relatou que está com sua autoestima mais elevada e
a qual foi submetida, percebendo logo após a presença dos observou uma melhora nas relações sexuais, isto demonstra
seguintes sintomas: sensação de peso no pé da barriga, dimi- que a musculatura adquiriu um melhor condicionamento,
nuição do prazer sexual e infecções urinárias frequentes. A pa- favorecendo consideravelmente seu processo de saúde e con-
ciente não foi orientada a realizar tratamento isioterapêutico. sequentemente a sua qualidade de vida.
A função da isioterapia urológica é avaliar a condição O exame físico bidigital da avaliação inicial, mostrou
muscular do AP e elaborar um programa de reabilitação que variação para palpação vaginal segundo a Escala Modiicada
normalize o tônus, força e propriocepção dessa musculatura, de Oxford grau (1) correspondente a esboço de contração
promovendo um equilíbrio pressórico pélvico e minimizando muscular não sustentada, ou seja, uma contração débil, mas
algumas possíveis sequelas pós-cirúrgicas como, histerectomia sem inversão verbal de comando. Na reavaliação, a paciente
entre outras [15]. realizou satisfatoriamente a contração, sem inversão verbal de
Os músculos pélvicos são constituídos de 70% de ibras comando, sugerindo um ganho de força para o toque vaginal
do tipo I (ibras de contração lenta) e 30% de ibras do tipo passando para o grau (4) que correspondente a uma contração
II (ibras de contração rápida). Assim as ibras do tipo I são satisfatória, aquela que aperta os dedos do examinador com
responsáveis pela ação antigravitacional dos músculos do AP, elevação da parede vaginal em direção a sínise púbica.
mantendo o tônus constante e também na manutenção da O toque bidigital, relete diretamente sobre os músculos
pélvicos, pois os mesmos se contraem em resposta ao esti-

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 71

mulo, podendo ser percebido e mensurado pelo avaliador, inicialmente que a paciente possuía uma diminuição na
acompanhando o ganho de troismo [20]. força do AP, grau (1), mas foi capaz de manter a contração
Na avaliação inicial e inal da força exercida pelas ibras do estabilizada demonstrando certa consciência do movimento.
tipo II foi observado o ganho de força obtido em um período Após o tratamento, a paciente demonstrou valores bastante
curto de tratamento. Na avaliação inicial a paciente atingiu o importantes sugerindo um ganho de força e consciência da
nível 4 cmH2O na primeira contração, nível 4,5 cmH2O na região, bem como domínio da técnica, dando as ibras tipo
segunda contração e nível 5,5 cmH2O na terceira contração I uma característica peculiar as do tipo II, Elleuch et al. [25]
e na avaliação inal, foi possível observar que a mesma atingiu concluíram em seus estudos que as ibras do tipo I quando
o nível 12 cm H2O nas 3 contrações subsequentes. Os dados treinadas, podem atingir força máxima, obtida pela capacidade
demonstram que é possível obter resultados satisfatórios em de se adaptarem em ibras tipo II.
um curto espaço de tempo, utilizando técnicas simples e de O pico estabelecido de contração mensurado neste estudo
fácil aquisição, o que torna viável sua aplicação em qualquer foi de 12 cmH2O, para a contração máxima e de 11 cmH2O
UBSF. para as contrações sustentadas nos dois segundos iniciais,
Barbanti [21] caracteriza a força muscular como a capa- caindo para 9 cmH2O no terceiro segundo, para 8 cmH2O
cidade de um individuo exercer tensão muscular contra uma no quarto e 7,5 cmH2O no quinto. Estes valores mostram
resistência, envolvendo e dependendo de diversos fatores que à paciente adquiriu uma musculatura mais forte e capaz
como: mecânicos e isiológicos, que geram força para realizar de exercer com propriedade suas funções.
um determinado movimento particular. Já para [22] força é a É de suma importância o uso da isioterapia como fer-
capacidade de exercer tensão muscular contra uma resistência, ramenta para proporcionar à mulher uma conscientização
superando, sustentando ou abdicando da mesma. da região pélvica e perineal através de exercícios perineais,
No primeiro encontro foi solicitado à paciente uma principalmente para àquelas com disfunção sexual e/ou in-
contração dos músculos do AP e a mesma não conseguiu continências, considerando que aproximadamente 37% das
identiicar a musculatura recrutada, no entanto na segunda mulheres não possuem consciência corporal da região pélvica
avaliação, após a aplicação do protocolo de exercícios, houve e não conseguem contrair voluntariamente seus músculos
sucesso na propriocepção, uma vez que movimento solicitado perineais quando solicitado [12].
foi atendido prontamente, inferindo com isso que uma boa
orientação e treino acompanhamento de um proissional Conclusão
isioterapeuta, são de fundamental importância para a pro-
priocepção muscular. Os resultados variaram de 0 no primeiro Concluí-se que a proposta terapêutica desenvolvida neste
segundo para 1 no quinto segundo. Demonstrando uma trabalho com o objetivo de avaliar funcionalmente a muscula-
diminuição proprioceptiva bastante importante. tura pélvica de forma preventiva, evitando a lacidez muscular
A autoestima e a autoconiança são imprescindíveis para causada pelo desuso obteve os resultados esperados através
que a mulher se conheça e assim possa ter uma qualidade de um programa de exercícios e utilização de instrumentos
de vida mais plena em todas as áreas da vida englobando a apropriados para a realização da técnica de pompoarismo
sexualidade [23]. e orientação do isioterapeuta avaliando e testando toda a
Estudos demonstraram que as ibras do tipo I quando condição do AP, antes e após a utilização da técnica, em uma
treinadas, podem desenvolver força máxima, devido a uma voluntaria sem conhecimento prévio nem prática da técnica.
adaptação nas ibras tipo II [24,25]. Esses ganhos signiicativos A razão pela qual a amostra foi de apenas uma mulher
na força máxima após um programa de treinamento especíico deu-se pelo fato das outras mulheres encontradas na UBSF
foi comprovado por [26], e conirmado nesse estudo de caso. Raif Ramalho não concordarem em participar do estudo em
Quando comparados os valores da utilização da muscula- questão, o que podemos inferir com isso que a sexualidade
tura acessória, observa-se uma disparidade, foi necessária uma ainda exerce um “peso” muito grande na vida de muitas
intervenção para que a paciente isolasse tais musculaturas. O mulheres, isso não serviu com desanimo, mas sim gerou o
que justiica os valores muito próximos dos da reavaliação, desejo de continuar a pesquisa sobre o assunto a im de que-
onde o valor inicial máximos foi de 4,5 cmH2O e após a brar o “tabu” existente no universo feminino, trazer à tona o
técnica a contração máxima passou para 5 cm H2O. assunto e desta forma ampliar o conhecimento promovendo
Pode-se sugerir que neste estudo houve um ganho de força melhorias na qualidade de vida das mulheres a curto, médio
e propriocepção importante, quando comparada com os va- e longo prazo.
lores iniciais, o protocolo de tratamento proposto executado As medidas diretas de força do AP foram realizadas no
neste estudo buscou nos acessórios próprios da técnica de plano transverso, estabelecendo então, um peril da con-
pompoarismo, proporcionar ganho de força e consciência em tração dos músculos do AP através do canal vaginal. Uma
um período menor de tempo, devido os mesmos exercerem vez que os resultados encontrados evidenciaram um ganho
uma contração relexa e inconsciente da musculatura, atin- tanto de força como na propriocepção do AP. A correlação
gindo o condicionamento mais rapidamente. Foi observado estabelecida entre a isioterapia e a aplicação dos exercícios

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72 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

de pompoarismo foi bastante signiicativa, demonstrando de Urologia - Serviço de Fisioterapia Faculdade de Medicina
uma viabilidade de sua aplicação no cotidiano da isioterapia de Botucatu; 1999.
ginecológica, sendo de grande contribuição para a saúde de 14. Rodigues NC, Scherma DR, Mesquita A, Oliveira J. Exercícios
mulheres que enfrentam problema de incontinência urinária perineais, eletroestimulação e correção postural na incontinência
urinária estudo de casos. Fisioter Mov 2005;18(3).
e/ou disfunções relacionadas ao AP.
15. Assaroli P, Virginia P, HardyA E, Andrade NF et al. Treinamento
Programas de exercícios para fortalecimento do pélvico dos músculos do assoalho pélvico nas disfunções sexuais femi-
representam atualmente uma opção de custo benefício para ninas. Campinas; 2007.
pacientes e para o SUS, por ser de baixo custo e proporcionar 16. Larosa AV, Magnani OS, Oliveira J, Mesquita RA. Comparação
maior segurança ao paciente, uma vez que a indicação cirúrgi- da funcionalidade do assoalho pélvico entre mulheres atletas e
ca pode ser descartada mediante sucesso do tratamento, que não-atletas. Araquara: Centro universitário de Araraquara –
tem como objetivo básico o aumento da resistência uretral e Uniara, Departamento de ciências exatas e naturais, Curso de
melhora dos elementos de sustentação dos órgãos pélvicos. isioterapia; 2005.
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 73

Artigo 13

Prevalência da perda urinária em praticantes de


atividades físicas
Prevalence of urinary loss in physical activity
Vânia Nayara da Silva Costa*, Raylla Kelly Ibiapina Leal**, Maíra Creusa Farias Belo***, Denise Almeida Santos**, Cileneide
Pereira dos Santos Rodrigues, D.Sc.****

*Discente do 7º período do curso de Fisioterapia pela UNESC Faculdades, **Fisioterapeuta – Graduada pela UNESC Faculdades,
***Fisioterapeuta - Profª Orientadora Esp.- UNESC Faculdades; Faculdade Maurício de Nassau (FMN); Universidade de Estadual
da Paraíba (UEPB), ****Fisioterapeuta – Profa. Drda. Faculdade de Ciências Médicas (FCM-CG)

Resumo Abstract
A incontinência urinária (IU) é o estado no qual há eliminação Urinary incontinence (UI) is a state in which there is elimina-
involuntária de urina, sendo uma condição desconfortável, emba- tion of urine, being an uncomfortable, stressful and embarrassing
raçosa e estressante e pode afetar até 50% das mulheres em alguma condition, which can afect up to 50% of women at some stage of
fase da vida. Dessa forma, o presente estudo objetivou avaliar a life. hus, the present study aimed to assess the prevalence of urinary
prevalência de perdas urinárias em praticantes de atividades físicas. incontinence in physical activity practitioners. It was a quantitative,
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva, analítica, explo- descriptive, analytical and exploratory, cross-sectional study. It was
ratória, transversal. Foi realizada através de um questionário semi- performed using a semi-structured questionnaire, applied to 165
-estruturado, aplicado em uma amostra de 165 mulheres praticantes women engaged in physical activity in the year 2011 in a itness
de atividade física, no ano de 2011, em uma academia da cidade club at Campina Grande/PB. To establish the relationship between
de Campina Grande/PB. Para estabelecer a relação entre tempo de practice time and urinary loss, we used the chi-square test, with α <
prática e perda urinária, utilizou-se o teste do Qui-quadrado, com 0.05. Data were tabulated in the Statistical Package for Social Science
α < 0,05. Os dados foram tabulados no programa Statistical Package (SPSS) version 18.0. It was found that the prevalence of urinary
for the Social Science (SPSS) em sua versão 18.0. Foi veriicada uma loss of 9.1%, having no relation with the type of activity nor with
prevalência de perda urinária de 9,1%, não tendo relação com o tipo duration of practice. he same relationship was evident for age and
de atividade praticada e nem com o tempo de prática. O mesmo urine loss (p > 0.05) which showed no association between older
foi evidenciado pra relação idade e perda de urina (p > 0,05) que women and urine loss. hus, it is concluded by the data presented
mostrou não ter associação entre mulheres mais velhas e perda de that although the presence of IU was low, is still signiicant and
urina. Dessa forma, conclui-se por meio dos dados apresentados cannot be forgotten.
que, embora a presença de IU tenha sido baixa, ainda é signiicativa Key-words: urinary incontinence, pelvic loor, physical activities.
e não pode ser esquecida.
Palavras-chave: incontinência urinária de esforço, assoalho
pélvico, atividades físicas.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José
Amaral, 47, Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail: gabi.bcampos@gmail.
com
Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012
74 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução veriicar as características das perdas urinárias, e observar as


características sociodemograicas e clínicas da amostra.
A International Continence Society deine a incontinência
urinária (IU) como uma situação na qual há perda involun- Material e métodos
tária de urina. Já Baracho [1] deine IU como qualquer perda
involuntária, exceto para crianças, é comum em mulheres, po- A pesquisa foi de natureza aplicada, com uma abordagem
dendo acometer até 50% delas em alguma fase de suas vidas. quantitativa, descritiva, analítica, do tipo exploratória e trans-
A IU constitui um importante problema médico, com versal, tendo sido realizado através de um questionário, méto-
repercussão social e econômica, acarretando problemas de do que segundo Lakatos [10] caracteriza se pelo emprego da
saúde adicionais e piorando a qualidade de vida do doente. quantiicação tanto nas modalidades de coleta de informações,
Trata-se de uma situação que não deve ser ignorada ou des- quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas
valorizada, pelo fato de qualquer perda involuntária de urina através de amostras amplas e informações numéricas.
após os cinco anos de idade deverá ser considerada e tratada A referida pesquisa foi realizada nas duas unidades de uma
como uma verdadeira IU [2]. academia, no município de Campina Grande/PB, em 2011.
Os tipos mais comuns de IU, de acordo com os sintomas A população-alvo foi formada pelos praticantes de ativida-
são: IU de esforço (IUE) que é a perda involuntária de urina des físicas em uma academia da cidade. Para o desenvolvimen-
associada com atividades físicas com o aumento da pressão to da pesquisa foi selecionada um amostra composta por 165
intra-abdominal; urge-incontinência (IUU), deinida como mulheres que praticavam atividades físicas nas duas unidades
perda involuntária de urina associada com um forte desejo de de uma academia no Município de Campina Grande/PB.
urgência para urinar; e incontinência mista (IUM), quando A amostra foi do tipo não-probabilística, por acessibili-
existe associação dos sintomas de IUE e IUU [3]. dade, formada por 165 mulheres.
A IUE por sua vez ocorre quando há perda involuntária Foram incluídas na pesquisa: gênero feminino; praticantes
de urina ao tossir, espirrar ou com esforços físicos [4]. Esse de atividades físicas; que desejassem participar da pesquisa,
fator ocorre quando a pressão vesical excede a pressão uretral e assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
máxima, na ausência de contração do músculo detrusor. Esse (TCLE); e excluídas mulheres que não praticavam atividades
aumento de pressão está intimamente ligado ao esforço [5]. físicas regularmente; mulheres que apresentassem perdas
Tais perdas ocorrem em momentos e ações comuns que urinárias associadas a outras patologias.
vivenciamos durante o dia, exempliicados como tosse, riso, O instrumento utilizado foi através de um formulário
movimentos contráteis, entre outros, em razão do aumento semi-estruturado desenvolvido pelas próprias autoras, através
da pressão abdominal [6]. O funcionamento inadequado dos de questões fechadas, composto de dados sociodemográicos,
músculos do períneo está intimamente ligado ao aumento antecedentes pessoais, antecedentes ginecológicos e obstétricos
brusco da pressão intra-abdominal, uma das principais cau- e questões relacionadas a atividades físicas e perdas urinárias
sas da IUE [7]. O episódio da perda involuntária de urina indicando possíveis perdas de urina aos exercícios.
que pode acontecer durante a prática de atividade física em Primeiramente, foram contatadas as instituições envol-
mulheres com IUE causa desconfortos e constrangimentos, vidas na pesquisa para que fosse possível coletar o Termo de
interfere no desempenho e na execução dos exercícios, e leva Autorização Institucional (TAI) e encaminhado o projeto
ao abandono de tais práticas [8]. para o Conselho de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade
De acordo com Pascoal [9], para evitar tais perdas, Estadual da Paraíba (UEPB). O projeto obteve a aprovação
exercícios na musculatura do assoalho pélvico deverão ser do (CEP) da (UEPB) com parecer n° (0482.0.133.000-11).
executados para que não haja pressão sobre os órgãos e outras Então se deu inicio a coleta dos dados.
estruturas, evitando lesões que podem desencadear a IUE ou Foi explicado a inalidade da pesquisa e as mulheres que
agravá-la. desejassem participar assinavam o TCLE, onde era entregue
Dessa forma faz-se necessário avaliar a prevalência de perdas uma via a participante e outra icava de posse da pesquisadora,
urinárias em praticantes de atividades físicas, como também foi feito apenas um único contato com essas mulheres, onde as
veriicar as características das perdas urinárias, e observar as mesmas respondiam e logo em seguida entregava o formulário,
características sociodemograicas e clínicas para que depois no qual foi aplicado por dez dias não consecutivos, no turno
orientar os proissionais de isioterapia quanto ao seu papel fun- da manha e da noite.
damental na orientação adequada de exercícios, transformando Foi construída planilha eletrônica para armazenamento
essa prática de exercícios em uma intervenção preventiva [8]. dos dados, através do programa Excel®. As variáveis foram
classiicadas em categóricas nominais e ordinais e outras
Objetivos em numéricas contínuas e discretas. A prevalência de perda
urinária foi determinada pela razão entre o número de casos
O objetivo geral foi avaliar a prevalência de perdas urinárias de perda urinária e o número total de participantes. Para
em praticantes de atividades físicas. Como objetivos especíicos: estabelecer a relação entre tempo de prática e perda urinária,

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 75

assim como atividades esportivas e faixa etária utilizou-se o A IU também pode estar associada a algumas doenças
teste de Qui-quadrado, sendo adotado um  ≤ 0,05. Os dados como, por exemplo, o diabetes mellitus, que em virtude de
foram tabulados no Statistical Package for the Social Science complicações microvasculares, podem causar danos neuro-
(SPSS) em sua versão 18.0. vasculares ao esfíncter uretral e alterações na musculatura
A presente pesquisa está de acordo com a Resolução nº detrusora, tornando-se um fator de desencadeamento ou
196, de 10 de outubro de 1996, que fala das diretrizes da pes- agravamento da IU [15].
quisa envolvendo seres humanos, com base nos princípios da No tocante aos antecedentes ginecológicos, percebe-se
Bioética (beneicência, não-maleicência, autonomia e justiça), que 34,8% da amostra já tiveram infecção urinária e 9,1%
este estudo será inicialmente submetido ao comitê de ética. mioma. Segundo Caetano et. al [16], a Infecção urinária
Os dados foram mantidos em sigilo das informações consiste na colonização microbiana na urina, com invasão
colhidas e dos sujeitos. A pesquisa não trouxe ônus para ne- tissular de qualquer estrutura do trato urinário. Nas mulheres,
nhum dos participantes. Os autores se responsabilizam pela o enfraquecimento do AP, a redução da capacidade vesical, a
integridade desta pesquisa e assumem o compromisso de zelar secreção vaginal, a contaminação fecal e as alterações tróicas
pelos seus aspectos éticos. do epitélio pela queda dos níveis hormonais facilitam, so-
bremaneira, a infecção urinária, que consiste numa das mais
Resultados e discussão importantes causas reversíveis de IU.
No estudo feito por Rett [17] observou que os sintomas
Participaram desse estudo 165 mulheres que praticavam menos relatados foram infecções urinárias frequentes e diicul-
atividades físicas em duas unidades de uma academia de dade para urinar. Ausência de queixas para a disúria e infecções
Campina Grande, sendo as modalidades de exercícios físicos urinárias foi demonstrada em 59,3% das pacientes com IU.
analisados: musculação, aeróbica, localizada, jump, natação, Quando questionadas se realizaram cirurgia ginecológica
boxe e spinning. é perceptível que apenas 8,5% das mulheres realizaram,
A idade da amostra variou de 19 a 74 anos, com média de dentre as quais foram cirurgia de mioma, histerectomia,
31,02 (± 9,73), em sua maioria solteiras (53,7%), estudantes cisto e laqueadura. No estudo de Danforth et al. [18], a
(34,1%) e originárias de Campina Grande/PB (53,7%). O histerectomia apresentou risco modestamente elevado para
fator idade tende a ser causa importante de distúrbios uriná- o desenvolvimento de IU severa em mulheres de meia idade.
rios devido a alterações, como diminuição de ibras colágenas, A histerectomia pode estar relacionada ao desenvolvimen-
diminuição da capacidade de armazenamento da bexiga e to da IU, em decorrência dos danos à inervação pélvica e às
baixos níveis de estrógenos na pós-menopausa [11]. estruturas de suporte pélvico que a cirurgia pode acarretar
De acordo com o estudo de Dockter et al. [12], foi de- [13]. Alvaro [19] concorda, ao airmar que cirurgias que
monstrado uma prevalência de IU em mulheres entre 15 e envolvem o assoalho pélvico são fatores de risco para IU,
64 anos de 10 a 55%. Corroborando com Guarisi et. al. [13], essas forças expulsivas alongam e distendem o assoalho pél-
que airma que existem vários fatores que podem contribuir vico, resultando em alterações anatômicas e funcionais nos
para o aumento dessa prevalência, como a idade avançada, músculos, nervos e tecido conectivo.
o aumento de peso corporal, doença respiratória crônica, Quando questionadas quanto às gestações, veriicou-se que
paridade, raça branca, obesidade, partos vaginais, deiciência 36,1% das entrevistadas apresentaram pelo menos uma gesta-
estrogênica, condições associadas à aumento da pressão intra- ção, e a ocorrência de multigestas (14%) foi mais prevalente.
-abdominal, tabagismo, doenças do colágeno, neuropatias e Uma das explicações para a presença de incontinência nessas
histerectomia prévia. mulheres, pode ser fraqueza genética do tecido conjuntivo,
Ao analisarmos a presença de doenças crônicas na amostra, localização mais baixa do assoalho e o número reduzido de
veriica-se nesta pesquisa que 85,4% das participantes não ibras musculares nessa região [20].
apresentam antecedentes pessoais de doenças crônicas, porém Da mesma forma, o estudo de Lopes et al. [21] airma que
dentre aquelas que possuem tais doenças, a mais prevalente foi a gravidez, o trabalho de parto, o parto propriamente dito e o
a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), com 7,9%. puerpério provocam muitas mudanças no trato genital e uri-
Higa et al. [14] mostram em um estudo uma queixa de IU nário da mulher. Sabe-se que fatores mecânicos e hormonais
3,8 vezes maior nos casos de hipertensão arterial. A associação propiciam aumento dos sintomas urinários, em particular na
de HAS e IU pode ser explicada pelo uso de diuréticos, pois gravidez, elevando a frequência miccional e agravando a urge-
é um dos fatores que mais contribui para que as mulheres incontinência e a incontinência aos esforços pré-existentes.
hipertensas apresentem perdas urinárias. Na hipótese que Por outro lado, estudos recentes não apontam paridade,
após o tratamento com diuréticos ocorra uma carga excessi- via de parto ou realização de episiotomia como fator de risco
va na bexiga, causando não somente a IUU como também para IU entre a população feminina [22,23]. Segundo Warren
a IUE, uma vez que o uso de medicamentos atua no trato et al. [24] a perda urinária, usualmente relacionada à multipa-
urinário inferior e pode alterar a função vesical piorando ou ridade, vem sendo questionada por estudos que demonstram
contribuindo para aumento da frequência da perda urinária. sua ocorrência frequente em mulheres jovens, em boa forma

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física e atletas e praticantes de atividades físicas que envolvam A prática de exercícios físicos extenuantes tem sido indi-
aumento da pressão intra-abdominal. cada como um fator de promoção de disfunções do assoalho
Nesse sentido, hyssen et al. [25], teve como alvo de es- pélvico [20]. Para Kikuchi et al. [31], atividades físicas vi-
tudo atletas de elite em oito esportes diferentes, incluindo o gorosas podem levar ao aumento da pressão intrabdominal,
balé. Do total de 291 mulheres, 51,9% tinham experimentado tornando-se um importante fator associado com a ocorrência
a perda de urina, 43% ao praticar o esporte e 42% durante de IU. Nygaard et al. [32] e BO et al. [20] ainda airmam que
a vida diária. Corroborando com o estudo de Caetano [26] a prática esportiva proissional constitui um risco adicional ao
foi veriicada uma incidência de 51,9% de mulheres atletas desenvolvimento da IUE, principalmente quando relaciona-
com idade média de 22,8 anos com sintomas comuns de da à atividades de alto impacto. Entende-se como atividade
perdas urinárias. de alto impacto aquela que ocasiona aumento excessivo da
Os dados desta pesquisa mostram que dentre as mulheres pressão intra-abdominal, sobrecarregando os órgãos pélvicos
que passaram por um período gestacional, 51,6% tiveram e empurrando-os para baixo como, por exemplo, atividades
parto por via vaginal. O parto vaginal está associado com com saltos e aterrissagens e, também, corridas [26].
o aumento de casos de IU quando comparado com o parto Em relação ao tempo de prática da atividade física,
cesáreo, no entanto, o parto vaginal isoladamente não é o percebe-se nesta amostra uma predominância de tempo de
causador da IU e sim, quando associado às lesões e traumas prática de um ano (21,95%), seguido por praticantes de
do assoalho pélvico. Isto se explica pelo fato de que disten- longa duração (21,34%). Atualmente a prática sistemática
sões ou rupturas imperceptíveis dos músculos, ligamentos e de atividade física faz parte do cotidiano de várias mulheres
nervos, responsáveis pelo controle do esvaziamento da bexiga, que buscam hábitos saudáveis [33].
aconteceriam durante o parto vaginal [27]. O AP é solicitado constantemente, durante atividades
Segundo Oliveira [28], após o parto, independente da repetitivas de correr, saltar e que envolvam aumento da pressão
via, ocorre redução da força muscular do assoalho pélvico, intra-abdominal. Cerca de 67% a 76% das ibras do AP são do
sendo signiicativo apenas no parto vaginal. Peeker et al. [29], tipo I, ou seja ibras de contração lenta que são responsáveis
airmam que a gravidez por si mesma está relacionada com o pela manutenção do tônus muscular no colo vesical. Sendo
risco de gerar IU, que se eleva quando associada com parto assim fatores que comprometam o suprimento de oxigênio,
vaginal e multiparidade. como a fadiga muscular, promovendo a diminuição da capa-
Em relação ao tipo de atividade realizada na academia, cidade de contração, obrigando o recrutamento das ibras do
praticamente todos realizavam musculação, 22,9% Jump, tipo II, as quais por serem ibras de contração rápidas, não
25,6% localizada, 28,4% aeróbica, 4,7% boxe e 10,4 outras têm a mesma capacidade de manutenção do tônus muscular
atividades junto à musculação. Estes participantes vão à do AP, comprometendo o mecanismo de continência [34].
academia, em sua maioria, numa frequência de 4 vezes por Eliasson et al. [35] airmam que mulheres isicamente
semana (41,5%), como evidencia-se na igura 4.6, e com uma ativas estão mais frequentemente sujeitos a aumentos de
predominância de tempo de prática de um ano (21,95%). pressão intra-abdominal que mulheres sedentárias. Segundo
Existe uma grande incidência de mulheres que praticam BO et al. [20], a maioria das atividades físicas não envolve
exercícios aeróbicos e musculação de maneira combinada e as contração voluntária dos músculos perineais durante a reali-
mesmas apresentaram uma perda de urina de 74,46% durante zação de exercícios que aumente a pressão intra-abdominal.
a prática de mais de uma modalidade [30]. Corroborando com Dessa forma, mulheres que fazem exercícios não possuem os
esses dados Silva et al. [7], relata que a atividade em academias músculos perineais mais forte do que aquelas que não fazem.
inclui exercícios que exigem contração abdominal máxima, Pelo contrário, mulheres que se exercitam relataram perder
como os exercícios aeróbicos, a ginástica, a musculação, entre mais urina durante atividades que exigem muito esforço e
outros, uma vez que foi demonstrado que quanto maior o impacto. Esse estudo vai de encontro com a pesquisa feita por
número de modalidades praticadas maior é a propensão à Caetano [26] no qual foi evidenciado que cerca de 27% das
perda de urina. atletas relataram perder urina durante tosse, espirro e risada,
Antunes et al. [30] em seu estudo, veriicou uma associa- 29% durante atividades físicas e 15% durante movimentos
ção direta entre a frequência semanal da prática de atividades bruscos ou levantando-se.
e a perda de urina durante o exercício físico. Essa proporção Ao serem questionados acerca das perdas urinárias, 9,1%
demonstrou que quanto maior a frequência semanal de exer- da amostra referiram perdas, das quais todas utilizavam
cícios, maior foi também a quantidade de episódios de perda protetor, e tendo como situações mais frequentes de perdas
relatados. A maior porcentagem encontrada de perda foi de sorrir, tossir, levantar-se, abaixar-se, espirro e atividade física.
35.29%, em mulheres que frequentam as academias 6 dias Evidenciou-se também que 4,3% da amostra referiram
por semana. A porcentagem de perda diminuiu diretamente perda ao se dirigir ao banheiro. O tipo de atividade praticada e
conforme a frequência semanal também diminuiu. Esses o seu tempo não inluenciaram na ocorrência de perda urinária
dados não divergiram em relação aos estudos efetuados por (p > 0,05). O mesmo foi evidenciado para a relação idade e
Caetano [26]. perda de urina (p > 0,05) que mostrou não ter associação
entre mulheres mais velhas e perda de urina.

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A presença de IU em mulheres jovens e nulígestas que pra- O elevado nível de desinformação em relação ao AP e
ticam atividades físicas e esportivas ocorrem com frequência, à IU aliado à escassez de literatura acerca da temática em
sendo não conclusiva a esse respeito, mas atividades físicas que questão impossibilita o proissional de isioterapia de realizar
exigem muito esforço e alto impacto podem ser um fator de um trabalho de prevenção e de consciência acerca da referida
risco para o desenvolvimento da IU [33]. Tal fato apresentou musculatura. Sabendo-se que negligenciar questões sobre IU
uma relação diretamente proporcional às relações obtidas por pode acarretar diversos prejuízos às mulheres que praticam
Nygaard et al. [32], ao veriicar a prevalência de perda de urina atividades físicas, vê-se necessário a orientação adequada desses
entre mulheres jovens, constataram que 11,8% das mulheres proissionais no sentido de tornar a prática de atividades físicas
apresentaram perdas urinárias durante as atividades físicas. um auxilio a prevenção para essa patologia.
No estudo realizado por Santos [36], foi observado uma Sugere-se então que seja feita novas pesquisas a cerca desse
perda de 11,1% em mulheres que faziam musculação, uma tema, pois na literatura ainda se encontra poucos estudos que
vez que esse tipo de atividade é realizado através do levanta- abordem o tema referido, e que os próximos estudos abor-
mento de peso e é considerado um exercício que promove uma dem os conhecimentos dessas mulheres em relação à perda
elevação considerável da pressão intra-abdominal, levando a urinária, pois muitas mulheres ainda evitam falar sobre esse
episódios de perda de urina. Nygaard et al. [32] airma não tema, uma vez que as deixam constrangidas, ou acreditarem
ser conclusiva a esse respeito de modo que questionários não ser um processo normal.
conseguem avaliar a intensidade do exercício, assim como o
tipo de peso. Referências
Talvez possamos explicar tais achados devido a não reali-
zação de contração voluntária dos MAP’s durante a realização 1. Baracho E. Fisioterapia aplicada a ginecologia e obstetrícia e
de exercícios que aumentem a pressão intra-abdominal. Como aspectos da mastologia. 2ª ed. Guanabara Koogan; 2007.
visto anteriormente, o presente estudo evidenciou perdas 2. Silva APS, Silva JS. A importância dos músculos do assoalho
pélvico feminino, sob uma visão anatômica. Fisioter Bras
urinárias de 4,3% ao dirigir-se ao banheiro. Em estudo rea-
2003;4(3):205-10.
lizado por Freitas et al. [37] a prevalência desse tipo de perda
3. Abrams P et al. he standardization of terminology of lower
foi de 18,8% dos casos. Segundo o mesmo autor, a IUU é urinary tract function: report from the standardization sub-
caracterizada pelo desejo súbito de urinar (urgência), muitas -committee of the international continence society. Urology
vezes ocasionado quando a bexiga possui uma quantidade 2003;61(1):37-49.
pequena de urina, porém a pessoa não consegue controlar o 4. Felicissimo MF et al. Fatores limitadores à reabilitação da mus-
desejo e perde-a antes de chegar ao banheiro. culatura do assoalho pélvico em pacientes com incontinência
A noctúria, por sua vez, caracteriza-se por mais de duas urinária de esforço; 2007.
micções noturnas, devido a uma baixa capacidade funcional 5. D’Ancora C et al. Urologia feminina. São Paulo: Gráica e
da bexiga. É um sintoma urológico bastante frequente que Editorial; 1999.
6. Maciel A et al. Tratado de geriatria e gerontologia: Incontinência
acomete aproximadamente em 15% das mulheres, sua preva-
Urinária. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 2006. 1632p.
lência aumenta em indivíduos com idade avançada [30]. No 7. Silva APM, Santos VLCG. Prevalência da incontinência uri-
estudo realizado por Mourão [38] teve uma discordância com nária em adultos e idosos hospitalizados. Revista da Escola de
o estudo apresentado, uma vez foi observado que houve uma Enfermagem USP 2005;39(1):36-45.
maior prevalência de sintomas urinários, dentre eles a noctúria 8. Caetano AS, Tavares MCGCF, Lopes MHBM. incontinência
com uma intensidade bastante signiicativa de 80,95%. urinária e prática de atividades físicas. Rev Bras Med Esporte
Com relação à frequência de perda, a maioria das mu- 2007;13(4).
lheres que apresentaram perdas urinárias relatou apresentar 9. Pascoal. AG. Trabalho abdominal e incontinência urinária de
perdas escassas. Segundo Nygaard et. al [32] mulheres que esforço. Faculdade de Motricidade Humana; 2010.
10. Lakatos EM. Metodologia cientiica, 5° ed. São Paulo: Atlas;
apresentam sintomas severos de IU, e aquelas com frequentes
2007.
episódios de perda de urina são as que apresentam menores
11. Virtuoso JF. Fatores de risco para incontinência urinária em
índices de participação de atividade física. mulheres idosas segundo a prática de atividade física. Floria-
nópolis/SC; 2011.
Conclusão 12. Dockter M. Prevalence of urinary incontinence: a comparative
study of collegiate female athlets and non-athletic controls. J
Conclui-se, portanto, que a prevalência de perdas uriná- Womens Health Phys herap 2007.
rias foi de 9,1% em meio a praticantes de atividades físicas. 13. Guarisi, TPN, Aarão M, Maria J et al. Procura de serviço médico
Considerada baixa, porém signiicativa. Percebe-se, ainda, que por mulheres com incontinência urinária. Rev Bras Ginecol
não se exclui a presença de sintomas urinários em mulheres Obstet 2001;23(7):439-43.
14. Higa, R, Lopes MHBM. Fatores associados com a inconti-
jovens, visto que as mesmas apresentaram um ou mais sin-
nência urinária na mulher. Revista Brasileira de Enfermagem
tomas urinários, incluindo a noctúria, e percebeu-se então a 2005;58(4):422-8.
prevalência de IU aos esforços.

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Artigo 14

Peril epidemiológico de mulheres em idade fértil


com hepatites virais na região Trairí e Potengi,
Rio Grande do Norte, Brasil
Epidemiological proile of women of reproductive age with viral
hepatitis in the Trairí and Pontengi Regions, Rio Grande do Norte, Brazil
Joelson dos Santos Silva*, Candice Simões Pimenta de Medeiros*, Vanessa Lopes Costa de Oliveira*,
Diego de Sousa Dantas**, Damião Ernane de Souza, D.Sc.***, Adriana Gomes Magalhães, M.Sc.****,
Karla Veruska Marques Cavalcante da Costa, D.Sc.*****

*Estudante de graduação do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, **Graduado em Fisio-
terapia pela Universidade Federal da Paraíba – UEPB, ***Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia –UFBA,
****Mestre docente do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, *****Docente do curso de
Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Resumo Abstract
As hepatites virais são doenças silenciosas provocadas por dife- Viral hepatitis is a silent disease caused by diferent hepatotropic
rentes vírus hepatotrópicos que apresentam características epidemio- viruses that have epidemiological, clinical and laboratory similar
lógicas, clínicas e laboratoriais semelhantes, porém com importantes characteristics, but with important peculiarities. his study aimed
particularidades. Este estudo tem como objetivo descrever o peril to describe the epidemiological proile of women in reproductive
epidemiológico de mulheres em idade fértil com hepatites virais na age with viral hepatitis in the Trairí and Pontengi regions the state
região Trairí e Pontengi no estado do Rio Grande do Norte. Dos of Rio Grande do Norte. Of the 219 cases of viral hepatitis reported
219 casos de hepatites virais notiicados apenas 22 casos de mulheres only 22 cases of women of childbearing age (WCA) were investigated
em idade fértil (MIF) foram investigados e caracterizam-se como and characterized as the study sample. 31.7% women were infected
amostra do estudo. 31,7% mulheres encontravam-se infectadas during pregnancy, most had between 10 to 15 years, 40.9% had
durante a gestação, a maioria possuía entre 10 a 15 anos, 40,9% more than six years of study, 54.5% were of mixed ethnicity and
apresentavam mais de 6 anos de estudo, 54,5% eram de cor parda 22.7% were students. 62.8% had suspected hepatitis type A and
e 22,7% eram estudantes. 62,8% apresentavam suspeita de hepatite were not vaccinated. It is important to have efective public policies
do tipo A e não eram vacinadas. Torna-se importante traçar políticas to reduce the number of viral hepatitis, with the use of preventive
públicas efetivas para reduzir o número de hepatites virais, com a actions. In addition to practice proper and efective reporting and
utilização de ações preventivas. Além da prática adequada e efetiva the development of educational and permanent strategies in health
de notiicação e do desenvolvimento de estratégias educacionais e professionals.
permanentes nos proissionais de saúde. Key-words: hepatitis, women, pregnancy, epidemiology.
Palavras-chave: hepatite, mulheres, gestação, epidemiologia.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47, Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail:
gabi.bcampos@gmail.com

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80 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução volver ações de promoção da saúde, prevenção e assistências


aos pacientes com hepatites virais [5], no Brasil existem uma
As hepatites virais são doenças silenciosas provocadas por escassez de informações e poucos estudos epidemiológicos
diferentes vírus hepatotrópicos que apresentam características sobre a incidência de hepatites virais em mulheres em idade
epidemiológicas, clínicas e laboratoriais semelhantes, porém fértil através do rastreamento de casos notiicados e investiga-
com importantes particularidades [1]. Com efeito, as hepatites dos através do Sistema Nacional de Notiicações de Agravos
mais encontradas no Brasil são as causadas pelos agentes etioló- (SINAN), o que é fundamental para a implementação de me-
gicos dos vírus A, B e C. Estes vírus têm em comum a predileção didas que visem reduzir o índice de transmissão e minimizar as
para infectar os hepatócitos, divergindo quanto à transmissão e consequências geradas pela instalação das hepatites virais [15].
consequências [2,3]. Sua distribuição é universal e elas possuem Diante do exposto, o estudo teve como objetivo descre-
grande importância devido a sua grande prevalência, incidên- ver o peril epidemiológico de mulheres em idade fértil com
cia e pela possibilidade de complicações das formas agudas e hepatites virais na região Trairí e Pontengi no estado do Rio
crônicas, podendo afetar qualquer ser humano, independente Grande do Norte e caracterizar as notiicações, com base nas
da idade, sexo, raça e estado sócio-econômico [4]. informações das ichas de investigação desse agravo através do
As hepatites virais são um grave problema de saúde públi- Sistema de Informações de Agravos de Notiicações (SINAN).
ca no mundo e, inclusive no Brasil. Segundo estimativas da
OMS (Organização Mundial de Saúde), bilhões de pessoas já Material e métodos
tiveram contato com vírus das hepatites e milhões são porta-
dores crônicos [1]. A Organização Mundial de Saúde estima O presente trabalho se refere a um estudo descritivo, eco-
que existam cerca de 325 milhões de portadores crônicos lógico da série temporal realizado nas regiões Trairí e Potengi
da hepatite B e 170 milhões da hepatite C no mundo [5], no estado do Rio Grande do Norte. As regiões englobam
entretanto a prevalência da hepatite A varia de acordo com aproximadamente 21 municípios com a cobertura de uma
o grau de higiene e com as facilidades sanitárias disponíveis população de aproximadamente 180.000 habitantes [10].
para as populações [6]. A pesquisa foi realizada com os dados obtidos no Sistema
A hepatite viral A é uma doença infecciosa aguda, causada de Informação de Agravos de Notiicação (SINAN) corres-
por um vírus (RNA), transmitida por via fecal-oral e que atinge pondendo aos dados da V Unidade Regional de Saúde Pública
mais frequentemente crianças e adolescente através da ingestão (URSAP) pertencente à Secretaria de Saúde do Rio Grande
de água e alimentos contaminados ou diretamente de uma do Norte das regiões Trairí e Potengi onde foram coletadas
pessoa para outra [7]. A transmissão do vírus da hepatite viral B amostras entre os anos de 2007 a Setembro de 2011 no pe-
(HBV) ocorre principalmente através de exposição percutânea ríodo de outubro de 2011.
ou de mucosas a sangue ou luidos corpóreos contaminados A população de estudo constitui-se dos casos de Hepa-
com o vírus. As formas de contagio mais importantes são tites Virais (A, B e C) em Mulheres em Idade Fértil (MIF)
através das vias vertical, sexual e por inoculação percutânea adscritas nos municípios da região Trairí e Potengi - RN com
[8,9]. Embora o vírus na hepatite C (VHC) seja transmitido casos notiicados e investigados. Foram excluídos os casos de
por contato direto, percutâneo ou através de sangue contami- indivíduos não residentes nessas microrregiões e idosos (idade
nado, em percentual signiicativo de casos não se identiica a superior a 65 anos), mulheres com casos apenas notiicados.
via de contaminação[10,7].A evolução das hepatites varia de O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da
acordo com o tipo de vírus e dependendo do estágio em que foi Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob parecer
descoberta a maioria das pessoas desconhecem a sua sorologia, número 272/2011.
agravando ainda mais a cadeia de transmissão da infecção [2]. Os casos suspeitos de hepatites virais são notiicados
A população brasileira feminina constitui 51% da popu- através da icha individual de notiicação (FIN) de cada
lação do país e a população de mulheres em fase reprodutiva, município que é encaminhado pelos serviços de vigilância
entre 10 e 49 anos de idade, representa cerca de 62.110.637 epidemiológica das Secretarias Municipais que devem realizar
milhões de indivíduos [11]. As mulheres em idade fértil o repasse das ichas para as Secretarias Estaduais de Saúde.
representam uma parcela importante da população geral, Quando não ocorre nenhuma notiicação suspeita da doença,
constituindo uma fração considerável da força produtiva do o formulário de notiicação negativa é preenchido. Além disso,
país, para a constituição e manutenção da família [12], além também é disponibilizado a Ficha Individual de Investigação
de representarem um dos principais grupos usuários dos (FII) possibilitando a identiicação da fonte de infecção e os
serviços de saúde [13]. As infecções adquiridas durante a ges- mecanismos de transmissão da doença. Todos os casos noti-
tação podem impactar tanto a saúde materna quanto a fetal, icados eram reconhecidos pela vigilância, porém, não eram
e no caso da hepatite a transmissão pode ocorrer no período realizados nenhum tipo de identiicação. Enquanto isso, os
gestacional, durante o parto e no pós-parto 14]. casos investigados eram submetidos a total análise das carac-
Apesar do Ministério da Saúde ter desenvolvido o Progra- terísticas e fatores desencadeante. A coleta de dados ocorreu
ma Nacional de Hepatites Virais com o objetivo de desen- exclusivamente na URSAP, onde um proissional técnico que

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 81

apresentavam domínio com o manuseio do sistema SINAN Dos municípios da região Trairí e Potengi, apenas 7 apre-
realizou a busca pelas mulheres que se encaixavam nos critérios sentaram investigação dos casos notiicados, sendo São José
de inclusão. Trabalhou-se com variáveis socioeconômicas e do Campestre o mais acometido (36,4%), na distribuição por
demográicas presentes nos registros do SINAN. zona observou-se uma distribuição igualitária entre a zona
Trabalhou-se com variáveis socioeconômicas e demo- urbana e rural de 50%. A faixa etária mais frequente foi de
gráicas presentes nos registros do SINAN. As informações 10 a 15 anos (36,4%), com média de 18,36 anos (± 6,79) e
coletadas foram armazenadas e analisadas de forma descritiva de cor parda (54,5%). No tocante a escolaridade, observou-se
pelo programa estatístico SPSS 16.0 com valores de frequên- uma elevada incidência para os casos de preenchimento igno-
cia absoluta (n) e percentual (%) e estatísticas descritivas das rado (59,1%), seguida pela permanência de mais de 6 anos
variáveis contínuas, com valores de média e desvio padrão. de estudo atingindo um percentual de 40,9% dos casos. Em
relação ao tipo de ocupação 63,6% apresentavam informação
Resultados ignorada e o maior percentual informado foi de 22,7% para
os estudantes (Tabela II). A informação sobre o estado civil
Dos 219 casos de hepatites virais notiicados para o das mulheres avaliadas estava sem preenchimento em 100%
período de interesse, foram excluídos 197, dos quais: 116 dos casos dos MIF investigados.
eram homens; 51 eram mulheres em fase não reprodutiva;
52 mulheres encontravam-se em idade fértil, entretanto, 30 Tabela II - Distribuição das características das MIF dos casos
casos foram somente notiicados e 22 casos notiicados foram investigados de hepatites virais nas regiões Trairí e Potengi/RN.
investigados. Como resultado inal, 22 casos de hepatites virais Variáveis %
investigados foram objeto do estudo. Município de Residência/notiicação
Das 22 ichas de hepatites virais investigadas que foram Japi 9,1
avaliadas, (31,7%) das mulheres encontravam-se infectadas Lajes Pintadas 9,1
durante a gestação, sendo (4,5%) no primeiro trimestre ges- Santa Cruz 9,1
tacional, (13,6%) no segundo trimestre, (4,5%) no terceiro São José do Campestre 36,4
trimestre e (9,1%) com idade gestacional ignorada (Tabela I). Sítio Novo 4,5
Ruy Barbosa 18,2
Tabela I – Casos notiicados e investigados de hepatites virais na Tangará 13,6
região Trairí e Potengí/RN registrados no SINAN entre os anos de Zona
2007 e setembro de 2011. Urbana 50,0
Fichas das Hepatites Virais 2007 - 2011 n % Rural 50,0
Fichas notiicadas Faixa Etária (anos)
Homens 116 52,9 10 a 15 36,4
Mulheres 103 47,1 16 a 20 27,3
Total 219 100 21 a 25 27,3
MIF notiicadas e investigadas - Anos 26 a 30 0
2007 7 13,46 31 a 35 9,1
2008 2 3,85 36 a 49 0
2009 16 30,77 Raça
2010 18 34,62 Branca 27,3
2011 9 17,30 Preta 4,5
Total 52 100 Parda 54,5
MIF investigadas Ignorado 13,6
Total 22 100 Escolaridade
Gestante 4º série completa do ensino fundamental 13,6
Primeiro trimestre 1 4,5 5º a 8º série incompleta do ensino fundamental 9,1
Segundo trimestre 3 13,6 Ensino fundamental completo 13,6
Terceiro trimestre 1 4,5 Ensino médio completo 4,5
Idade gestacional ignorada 2 9,1 Ignorado 59,1
Não 7 31,9 Ocupação
Não se aplica 3 13,6 Dona de Casa 9,1
Estudante 22,7
Ignorado 5 22,8
Agropecuária 4,5
Total 22 100
Sem informação 63,6
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


82 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Em relação às variáveis referentes às características dos Tabela IV - Distribuição da exposição aos principais fatores agra-
casos de hepatites virais (Tabela III), observa-se que 62,8% vantes para a contaminação das hepatites virais nas regiões Trairí
apresentavam suspeita de hepatite do tipo A, sendo 62,8% e Potengí/RN.
dos casos não vacinadas para hepatite A e 34,6% com vaci- O paciente foi submetido/exposto: %
nação completa para a hepatite B. Quanto à infecção por Medicamentos injetáveis 31,8
doenças como o HIV/AIDS e outras DSTs 68,2% dos casos Tatuagem/Piercing 4,5
não apresentavam as enfermidades, no entanto 31,8% dos Acidente com material biológico 0
demais foram ignorados. O 50% dos casos referiam não pos- Drogas Inaláveis ou Crack 4,5
suir contato com o portador de hepatite B ou C pela forma Acupuntura 0
sexual, domiciliar ou ocupacional e os outros 50% os dados Transfusão de sangue/ derivados 0
estavam ignorados. Drogas injetáveis 4,5
Tratamento cirúrgico 4,5
Tabela III - Distribuição dos casos, vacinações e outros agravos Tratamento dentário 22,7
referentes as hepatites virais na região Trairí e Potengi/RN. Água/Alimento contaminado 22,7
Variáveis % Três ou mais parceiros sexuais 0
Suspeita de Hemodiálise 0
Hepatite A 68,2 Transplantes 0
Hepatite B/C 31,8 Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Tomou vacina para Hepatite A
Não vacinada 68,2 Tabela V - Distribuição da classiicação dos principais mecanismos
Ignorado 31,8 de infecções para hepatites virais.
Tomou vacina para Hepatite B Mecanismos de infecção %
Completa 36,4 Sexual 4,5
Incompleta 27,3 Transfusional 0
Não vacinada 22,7 Uso de drogas 0
Ignorado 13,6 Acidentes de trabalho 0
HIV/ AIDS Hemodiálise 0
Não 68,2 Domiciliar 9,1
Ignorado 31,8 Tratamento cirúrgico 0
Outras DSTs Tratamento dentário 4,5
Não 68,2 Água/Alimentos contaminados 22,8
Ignorado 31,8 Ignorados 59,1
Contato com paciente portador de HBV ou HBC Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Sexual Não 50,0
Ignorado 50,0 Discussão
Domiciliar (não sexual) Não 50,0
Ignorado 50,0 O peril da MIF com hepatites caracterizam-se por mu-
Ocupacional Não 54,5 lheres com faixa etária variando entre os 10 e 25 anos, sendo
Ignorado 45,5 a raça parda e o grau de escolaridade superior a seis anos de
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). estudo, representando enquanto ocupação a categoria de
estudantes. Observou-se também que pelo menos 31,7% das
Quando ao grau de exposição a fatores agravantes nos mulheres contaminadas estava na fase da gestação, podendo
últimos seis meses, observou-se uma elevada incidência acarretar riscos e complicações para o binômio mãe/ilho.
para os casos que referiam utilizar medicamentos injetáveis Adicionalmente a estes dados, quanto à contaminação pelo
(31,8%), ter submetido a tratamento dentário (22,7%) e VHA, a ausência de vacinação anti-hepatite A e B foram dados
ter contato com água e alimento contaminado (27,2%) relevantes, assim como o elevado grau de exposição a fatores
(Tabela IV). de risco como: medicamentos injetáveis e água e alimentos
O principal mecanismo/fonte de infecção para a con- contaminados, contribuindo para o aumento da incidência
taminação das hepatites virais registradas foi através do desse agravo.
contato com água e alimentos contaminados (22,7%), no Os achados do presente estudo demonstraram uma tabula-
entanto em 59,1% dos casos esta informação foi ignorada ção insatisfatória por parte dos proissionais responsáveis pela
(Tabela V). vigilância e assistência epidemiológica da região do Trairí e
Potengi no estado do Rio Grande do Norte. Não obstante,
para garantir uma adequada prestação da assistência à saúde,

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 83

é imprescindível a melhoria da prestação das informações SINAN onde se veriicou que dos 89 municípios que com-
epidemiológicas das regiões, através da prática adequada da põem essa região, apenas 28 (31%) realizavam a notiicação
notiicação, buscando implantar a utilização do SINAN, dos casos de hepatites [15]. De acordo com as características
como um importante instrumento para facilitar a formulação das MIF encontradas nesta pesquisa referentes à faixa etária,
e a avaliação das políticas públicas, planos e programas de zona de moradia, raça, escolaridade e ocupação observou-se,
saúde, subsidiando o processo de tomada de decisões, com respectivamente, resultados semelhante aos dados de Vieira et
vistas a contribuir para a melhoria da situação de saúde da al. [15] onde a ocorrência de hepatites virais foi mais frequente
população [27]. na faixa de de 5 a 9 anos, enquanto isso, Perrim e Passos [8],
Durante o estudo encontrou-se uma taxa de 219 casos de ao avaliar gestantes com hepatite B encontrou um predomí-
hepatites virais notiicados na região Trairí e Potengi/RN no nio de mulheres jovens com 30% dos casos com idade até
período de 2007 a setembro de 2011. A notiicação dos casos 20 anos; de acordo com o percentual divulgado no boletim
foi maior no gênero masculino (52,9%), quando comparado epidemiológico de hepatites virais em 2010[19], observou-se
ao feminino com 103 (47,1%) casos notiicados, no entanto uma maior proporção de casos de hepatite A entre homens e
somente 52 casos correspondiam a MIF, e 22 destes casos fo- mulheres da raça/cor parda, tendo uma incidência de 58,6%,
ram investigados. Um estudo semelhante realizado no estado seguidos da branca com 34,0%; Araujo; Mayvane e Gonçalvez
de Pernambuco, de 2002 a 2006, com o peril de hepatites [2] também encontraram 60,7% de acometimento de hepati-
virais em homens e mulheres encontrou-se uma predominân- tes virais na raça parda. Percebeu-se no presente estudo, que
cia ao longo dos anos de casos, no sexo masculino, variando a faixa da adolescência e dos adultos jovens representam os
de (53,6% a 52,5%) enquanto o sexo feminino manteve a segmentos da população com maior risco para a contaminação
média de 40% em todos os anos. Além disso, o mesmo estudo de hepatites virais em MIF, independente da zona de moradia.
considerou 9.721 casos conirmados (investigados) em um Além disso, esse fator está relacionado com o maior número de
total de 19.533 notiicações [2]. Na avaliação do peril da mulheres com maior grau de escolaridade, ou seja, no nosso
síilis congênita em Natal/RN entre 2004 a 2007 através do estudo com mais de 6 anos de estudo [2].
SINAN, observa-se um elevado número de casos notiicados, A alta prevalência da hepatite A (68,2%) e baixa ende-
porém não investigados, indicando uma necessidade de maior micidade ao vírus da hepatite B e C foram encontrados no
vigilância epidemiológica para melhorar, principalmente, a estudo. Embora a maior ocorrência do VHA a hepatite B
qualidade dos registros [16]. também se destaca por apresentar um importante problema
A prevalência da notiicação e investigação dos casos de de saúde pública e os resultados encontrados corroboram com
hepatites virais em MIF encontradas no presente estudo, os dados de Clemens et al. [20] que realizaram um estudo
no ano de 2010, foi a mais elevada. Durante o período de soroepidemiológico em 6 países latino-americanos sendo no
investigação dos casos (31,7%) das mulheres estavam conta- Brasil 3.600 pessoas avaliadas entre 1 e 40 anos em 4 regiões
minadas durante a gestação. Em um estudo com a avaliação diferentes (norte, nordeste, sudeste e sul) foram encontrados
sorológica do pré-natal com testes para HIV, toxoplasmose, a soroprevalência geral para hepatite A de 64,7% e hepatite B
síilis e hepatite B foram avaliadas 5.191 mulheres onde 26 de 7,9%, além dos estudos de Vieira et al. [15] que analisou
apresentavam resultado positivo para a contaminação da He- os aspectos epidemiológicos das hepatites virais em 28 mu-
patite B [8]. Um estudo semelhante no primeiro atendimento nicípios do norte de Minas Gerais através do SINAN encon-
ambulatorial em Londrina demonstra uma positividade na trando cerca de 75,79% de sua amostra infectada pelo vírus
contaminação de 0,9% para o vírus da hepatite B e 0,8% no da Hepatite A. A análise da frequência dos diversos tipos de
vírus da hepatite C com uma amostra de 1.164 gestantes [17]. hepatite no Brasil, em 2000, mostrou que o vírus A continua
Dados do Programa Nacional de DST/AIDS do Ministério sendo o principal causador da doença, representando 43% dos
da Saúde (MS) sobre a prevalência de algumas DST’s em casos registrados de 1996 a 2000 [7,15]. Uma das principais
população selecionada de seis capitais brasileiras mostram vias de disseminação do VHA está relacionada ás condições
que entre 3.303 gestantes, a prevalência da infecção pelo vírus de saneamento básico, nível socioeconômico e de higiene da
da hepatite B (HBV) foi de 0,5% [14]. A contaminação do população e grau de educação sanitária [21].
vírus da hepatite durante a gestação acarreta riscos para mãe Observa-se ainda uma relação entre o percentual de casos
e principalmente para o feto, onde o risco da transmissão de indivíduos suspeitos infectados com o vírus da hepatite A
para o ilho no primeiro e segundo trimestre é de 5 - 15%, e o percentual de indivíduos não vacinados onde 68,2% da
sendo o terceiro trimestre responsável por 60% de risco de população estudada de MIF na região Trairí e Potengi não
comprometimento do recém-nascido [18]. tiveram acesso à vacinação da Hepatite A e 50% das mulheres
Dos 21 municípios da região Trairí e Potengi avaliados investigadas estavam com a vacinação ausente ou incompleta
apenas 7 municípios (33,3%) apresentaram investigação de para a Hepatite B. Estudos prévios tem demonstrado que a
suas notiicações. Um aspecto semelhante foi observado em vacinação é capaz de evitar a disseminação da doença durante
um estudo sobre os aspectos epidemiológicos das hepatites surtos, além de proteger contratantes domiciliares. Dessa
virais no norte de Minas Gerais através da investigação pelo

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


84 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

forma a vacinação contra o VHA e VHB é o meio bastante Conclusão


efetivo de controle da doença, além de ser um meio de saúde
pública de fácil acesso evitando custos adicionais para os ser- Percebe-se que, muito embora, o número de suspeitos de
viços públicos [5,20,22] e, o desenvolvimento de vacinas para hepatites virais seja elevado, principalmente do tipo A, existe
prevenir essas infecções, por meio da indução de imunidade um percentual similar de mulheres não vacinadas contra esse
ativa contra os vírus das hepatites A e B, foi uma das maiores tipo de hepatite, evidenciando que é de extrema importância
conquistas cientíicas [15]. traçar políticas públicas efetivas para viabilizar e reduzir o
Em relação ao percentual de preenchimento dos casos de número de agravos das hepatites virais, com a utilização de
HIV e outras DST do nosso estudo, observa-se que 31,8% ações preventivas e vigilância à saúde. Só assim, poderá ser
dos casos, em ambos os itens são ignorados, assim como a reduzido o percentual de indivíduos suspeitos de hepatites
forma de contato com algum portador de hepatite B ou C virais, como também tentar diminuir o elevado grau de ex-
por via sexual, domiciliar ou ocupacional que também se en- posição a fatores de risco. Contribuindo para a redução do
contra ignorado em quase 50% dos casos conigurando uma aumento da incidência desse agravo.
negligência do sistema ou um mau preenchimento da icha Observou-se também uma insuiciência de estudos sobre
e aumento da incompletude do campo de preenchimento. o peril das hepatites virais em MIF, acarretando sem dúvidas,
Araujo, Mayvane e Gonçalvez [2] encontraram, durante a ava- a necessidade de realizar mais trabalhos cientíicos nessa área,
liação das hepatites virais através do SINAN, certa de 100% já que são casos de riscos extras para a transmissão, principal-
dos casos com ausência de preenchimento para a variável de mente a partir da gestação. Dessa forma, devendo ser visado à
exposição a DST. prevalência dos vírus da hepatite e os determinantes do processo
Para o risco a exposição de fatores agravantes as hepatites saúde-doença, o que possibilitará monitorização e planejamento
virais no estudo, observou-se que os medicamentos injetáveis de forma mais efetiva, quando se trata de ações de prevenção,
e água/alimentos contaminados apresentaram elevado índice controle e combate de agravos, em especial para hepatites virais.
para a contaminação. No nosso estudo, a água e os alimentos
contaminados foram observados como um dos maiores me- Agradecimentos
canismo de infecção (22,8%) para as hepatites virais em MIF.
Vieira et al. [15] em seus estudos encontraram como a prin- Secretaria de estado da Saúde do Rio Grande do Norte,
cipal fonte de infecção/transmissão no ano de 2001 a sexual, Secretaria municipal de saúde do município de Santa Cruz/
transfusional, drogas injetáveis, domiciliar e outros; porém RN e V Unidade Regional de Saúde Pública (URSAP).
no ano de 2006 a via domiciliar predominou. E Clemens et
al. [20] corrobora com os nossos achados quando defende Referências
que melhorias adicionais e, em particular, no suprimento de
água a longo prazo, são medidas eicientes para reduzir os 1. Brasil. Hepatites virais: o Brasil está atento/ Ministério da Saúde,
índices de VHA. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância
A utilização de fontes oiciais de dados secundários sub- Epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
-registros, sub-notiicações, erros de classiicação e preenchi- 2. Araujo AC, Mayvane A, Gonçalvez ICM. Peril epidemioló-
gico das hepatites virais no estado de Pernambuco no período
mento, traduzem-se em limitações ao estudo em questão,
de 2002 a 2006. [Monograia]. Recife, Fundação Oswaldo
principalmente no que se referem a prováveis casos registrados, Cruz. Departamento de Saúde Coletiva. 2008. [citado 2011
número de casos notiicados e não investigados, como também nov 10]. Disponível em URL: http://www.cpqam.iocruz.br/
casos ignorados. A prática da notiicação e investigação de bibpdf/2008araujo-ac.pdf
doenças constitui uma atitude fundamental para a melhoria 3. Cordova CMM, Blatt SL, Botelho TKR, Dalmarco EM. So-
da prestação da assistência à saúde e a ausência de estratégias rologia para o vírus da hepatite E em gestantes: clinicamente
idedignas nesse processo de notiicação encontrado nos casos importante ou desnecessário? RBAC 2007;39(4):269-73.
de MIF na região Trairí e Potengi com a redução do número 4. Cruz CRB, Shirassu MM, Martins WP. Comparação do peril
de casos investigados pode representar uma ampla negligência epidemiológico das hepatites B e C em um serviço público de
da notiicação e da atuação dos serviços de saúde prestados, São Paulo. Arq Gastroen 2009;46(3):225-9.
5. Brasil. Manual de aconselhamento em hepatites virais/ Ministé-
mascarando, de certa forma, os resultados encontrados na
rio da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento
pesquisa. Diante do exposto, constata-se que devido o baixo de Vigilância Epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde;
índice de casos investigados, fora possível apreender que houve 2005.
uma determinada deiciência no que concerne a elaboração 6. Pereira FEL, Gonçalves CS. Hepatite A. Revista da Sociedade
de dados seguramente concretos na investigação das MIF Brasileira de Medicina Tropical 2003;36:387-400.
que foram investigadas, demonstrando que faz-se necessário 7. Ferreira CT, Silveira TR. Hepatites virais: aspectos da epidemio-
outros estudos em anos posteriores que possam elucidar a logia e da prevenção. Rev Bras Epidemiol 2004;7(4).
matéria discutida. 8. Perrim EB, Passos ADC. Hepatite B em gestantes atendidas pelo
Programa do Pré-Natal da Secretaria Municipal de Saúde de Ri-

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 85

a 1998 no Hospital Universitário Regional Norte do Paraná


beirão Preto, Brasil: prevalência da infecção e cuidados prestados (Universidade Estadual de Londrina, Paraná, Brasil). Revista da
aos recém-nascidos. Rev Bras Epidemiol 2005;8(3):272-81. Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2000;33(6):519-27.
9. Brasil. Hepatites virais: O Brasil está atento/ Ministério da 18. Araújo EC, Soares MCP, Cardoso VC, Silveira DMR. Hepa-
Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de tite B aguda em gestante – relato de caso. Revista Paraense de
Vigilância Epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde; 2005. Medicina 2006;20(3).
10. Portal da Saúde - Sistema de Informação de Agravos de No- 19. Boletim Epidemiológico – Hepatites Virais. Ministério da
tificação (SINAN). [citado 2011 nov 16]. Disponivel em Saúde; Secretaria de vigilância em Saúde – Departamento de
URL: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto. DST, Aids e Hepatites Virais; 2011.
cfm?idtxt=21383. 20. Clemens SAC, Fonseca JC, Azevedo T, Cavalcanti A, Silveira
11. IBGE – Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística – Sinopse TR, Castilho MC et al. Soroprevalência para hepatite A e
dos Resultados do Censo 2010. [citado 2011 nov 16]. Dispo- hepatite B em quatro centros no Brasil. Revista da Sociedade
nivel em URL: http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/ Brasileira de Medicina Tropical 2000;33(1):1-10.
webservice/. 21. Brasil. A, B, C, D, E de hepatites para comunicadores/ Ministé-
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saúde por mulheres em idade fértil: resultado de dois estudos 1999;353:1136-9.
transversais de base populacional no extremo sul do Brasil. Cad 23. Secretaria de Vigilância em Saúde/ MS. Hepatites Virais. Guia
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14. Costa MC, Bornhausen-Demarch E, Azulay DR, Périssé ARS, 24. Protocolo de Abordagem do paciente com Hepatite Viral na
Dias MFRG, Nery JAC. Doenças sexualmente transmissíveis na Atenção Básica - Secretaria Municipal de saúde de Belo Hori-
gestação: uma síntese de particularidades. Arq Bras Dermatol zonte. [citado 2011 out 15]. Disponível em URL: http://www.
2010;85(6):767-85. pbh.gov.br/smsa/biblioteca/protocolos/hepatite.pdf.
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16. Holanda MTC, Barreto MA, Machado KMM, Pereira RC. Stein AT, Figueiredo GM et al. Methodology of a nationwide
Peril epidemiológico da síilis congênita no município de Natal, cross-sectional survey of prevalence and epidemiological patterns
Rio Grande do Norte – 2004 a 2007. Epidemiol Serv Saúde of hepatitis A, B and C infection in Brazil. Cad Saúde Pública
2011;20(2):203-12. 2010;26(9):1693-704.
17. Reiche EMV, Morimoto HK, Farias GN, Hisatsugu KR, Geller 27. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saú-
L, Gomes ACLF et al. Prevalência de tripanossomíase americana, de. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Sistema de
sílis, toxoplasmose, rubéola, hepatite B, hepatite C e da infecção Informação de Agravos de Notiicação – SINAN: normas e
pelo vírus da imunodeiciência humana, avaliada por intermédio rotinas / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,
de testes sorológicos, em gestantes atendidas no período de 1996 Departamento de Vigilância Epidemiológica. Brasília: 2007.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


86 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 15

Abordagem da sexualidade após a mastectomia


The sexuality after mastectomy
Nívea Adriano de Santana e Santos*, Socorro Maria Pinho da Silveira, M.Sc.**

*Fisioterapeuta graduada pela Faculdade de Ensino e Cultura do Ceará (FAECE), Pós-graduada em Fisioterapia na Saúde da
Mulher, Faculdades Nordeste(FANOR), Fisioterapeuta da Clínica Dr. Rubens Albuquerque, Fortaleza/CE, **Psicóloga, mestre em
administração pela Universidade de Fortaleza(UNIFOR). Professora da Faculdades Nordeste(FANOR)

Resumo Abstract
A mastectomia proporciona mudanças negativas no relaciona- he mastectomy causes negative changes in the sexual rela-
mento sexual das mulheres, dentre elas a diiculdade em mostrar seu tionship of the women as the diiculty in showing her body. he
corpo para o companheiro. O presente estudo buscou identiicar present study aimed to identify the communication between the
como é a comunicação entre a mulher e o seu parceiro e entre a woman and her partner and between the woman and her doctor
mulher e o médico de 50 mulheres mastectomizadas, com idades de in 50 mastectomized women, 30 to 77 years old, the majority with
30 a 77 anos, a maioria com menos de um ano da cirurgia. Foram less of one year of surgery. his study disclosed what the mastec-
realizadas entrevistas estruturadas, as respostas inseridas em um tomized women usually are telling to partners about sexuality. In
banco de dados e as variáveis analisadas utilizando-se do programa regard to the communication between the patient and the doctor
estatístico SPSS para Windows versão 16.0. A pesquisa revelou que it was veriied that good part does not speak about her privacy with
as mulheres mastectomizadas costumam falar para o companheiro this professional, although the majority of the women airm the
assuntos ligados a sexualidade. Com relação à comunicação entre opposite. Although the women look for to surpass their diiculties
a paciente e o médico veriicou-se que boa parte não fala sobre sua after the surgery, they need a more efective multidisciplinary team
intimidade com esse proissional, apesar da maioria das entrevista- to take in charge for the fear and distress inherent to the illness and
das airmarem o contrário. Embora as mulheres procurem superar its treatments could be brightened up and do not intervene with
suas diiculdades na convivência após a cirurgia, se faz necessário the sexual life.
uma abordagem mais efetiva da equipe multidisciplinar para que os Key-words: sexuality, mastectomy, body image.
medos e as angústias inerentes à doença e seus tratamentos possam
ser amenizados e assim não interiram na vida sexual.
Palavras-chave: sexualidade, mastectomia, imagem corporal.

Endereço para correspondência: Nívea Adriano de Santana e Santos, Rua 118, 86 Passaré 60744-570 Fortaleza CE

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 87

Introdução e, quase sempre, o esvaziamento axilar [3].


A mastectomia radical se constitui no tratamento tradi-
Diante da crescente incidência de câncer de mama no cional e sua prática não se limita apenas a lesões físicas, mas
Brasil, surgiu o interesse em conhecer como é realizada a também a danos emocionais, podendo gerar sentimento de
abordagem da vivência da sexualidade e se a mulher compar- perda, mutilação, dor, perda de atrativo sexual e impotência,
tilha suas dúvidas e/ou queixas sexuais com seu parceiro ou o que poderá contribuir para diiculdades nas relações inter-
proissional da saúde. Os estudos a respeito da sexualidade da pessoais [4].
mulher mastectomizada vêm sendo cada vez mais desenvolvi- A mama é tida como um símbolo da sexualidade no corpo
dos no meio acadêmico e proissional, o que demonstra haver feminino, o que nos leva a pensar que qualquer patologia que
uma preocupação com os efeitos psicológicos decorrentes do ameace este órgão poderá levar a uma perda da auto-estima e
câncer e da mastectomia, porém, não há estudos suicientes gerar sentimentos de inferioridade e rejeição. Com a retirada
que avaliem se esse assunto é abordado pelos proissionais que da mama a imagem corporal sofre uma alteração, não apenas
a acompanham ou pela própria paciente. Embora as pesquisas na parte física, mas também na percepção do corpo, com sua
existentes sejam, na sua maioria, de abordagem qualitativa, integralidade e funcionalidade [5].
através das mesmas é possível identiicar algumas questões que Após a mastectomia, a mulher poderá apresentar senti-
são afetadas com a retirada da mama tais como, a imagem mentos de rejeição de si mesma por se sentir em desvantagem
corporal e a sexualidade da mulher. com a nova imagem que possui. Tais sentimentos poderão
A interação entre a paciente e os proissionais de saúde persistir até o momento em que ela consegue reelaborar a
representa uma importante ferramenta para a abordagem das situação vivida passando e a aceitar essa nova condição. No
alterações decorrentes da mastectomia, inclusive as de ordem decorrer dessa transição a mulher pode apresentar sentimentos
sexual, pois permite que a mulher comunique de forma mais de inferioridade e considerar-se menos feminina, o que a faz
natural sua vivência sexual no momento em que se sentir sentir-se excluída da sociedade e rejeitada sexualmente [4,6].
pronta para tal, permitindo dessa forma o esclarecimento de A perda da mama faz a mulher sentir diiculdades em
suas dúvidas e alívio para suas angústias. No entanto, é ne- expressar sua intimidade e em selecionar roupas, evitando
cessário que o proissional conheça e entenda os sentimentos roupas decotadas ou que evidenciam o corpo, passando a
e as diiculdades enfrentadas por essa população para assim evitar esses modelos, pois é através da roupa que a mulher
permitir uma assistência adequada capaz de contemplar em procura ocultar a cicatriz pós-cirúrgica. Com isso, a mulher
sua integralidade e não apenas o câncer e seus tratamentos. constrói uma autoimagem negativa, o que poderá fazer com
O câncer mamário vem apresentando um relevante peril que a mulher não expresse sua sexualidade e seu poder de
epidemiológico e já pode ser considerado como um proble- sedução, o que pode resultar em inércia e constrangimento
ma de saúde pública mundial. É o tipo de câncer que mais diante da busca do parceiro pelo exercício sexual [7].
acomete as mulheres, tanto em países em desenvolvimento A sexualidade da mulher não se resume apenas a mama
quanto em países desenvolvidos sendo crescente o número feminina. A sexualidade do ser humano é algo complexo que
de casos a cada ano. No Brasil, de acordo com as estimativas envolve um processo isiológico e outras dimensões mais sub-
do Instituto Nacional de Câncer, são estimados para 2012, jetivas, como a capacidade de coniar e sentir-se valorizado.
cerca de 52.680 casos novos de câncer da mama, com taxa de Diante disso, fatores interpessoais não sexuais podem ser
incidência de 52 casos novos para cada 100 mil mulheres [1]. determinantes para a prática ou não do exercício sexual, sendo
Apesar dos avanços nos métodos de diagnóstico e trata- que ainda outros fatores como comorbidades e a depressão
mento, a incidência e a taxa de mortalidade ainda são alar- poderão conduzir ou agravar uma disfunção sexual [8].
mantes apesar de ser considerado um câncer de relativamente A qualidade no relacionamento é um dos fatores predi-
bom prognóstico se diagnosticado e tratado oportunamente. tivos de satisfação sexual e deve ser mantida durante todo o
De acordo com as informações de mortalidade, segundo o tratamento e recuperação, já que essa fase é extremamente
grupo de causas (CID 10), em 2008 as neoplasias (tumo- difícil, longa e limitante para o exercício da sexualidade. Ou-
res) representaram a segunda causa de óbito na população tro aspecto importante é o medo do abandono pelo fato de
(15,57%), estando atrás apenas dos óbitos decorrentes de pensar que podem estar privando seus parceiros de atividade
doenças do aparelho circulatório (29,51%). Já o câncer de sexual [9,10]. Já o distanciamento do casal pode ser uma di-
mama representa a maior causa de óbito por câncer (16%) iculdade enfrentada após a mastectomia podendo repercutir
entre as mulheres no ano de 2008 [2]. diretamente no relacionamento sexual [10].
O câncer mais frequente no sexo feminino é o carcinoma Nesse sentido é importante que a mulher mastectomizada
in situ. Pode ser lobular ou ductal e seu efeito tem um impacto possa expressar e viver sua sexualidade de forma plena e desfru-
clínico importante, sendo a mastectomia o tratamento padrão, tar de uma vida sexual boa e saudável, o que poderá favorecer
com índices de cura em torno de 100%. A cirurgia constitui condições melhores no enfrentamento diário da doença, do
uma das etapas mais importantes no tratamento do câncer de estigma social representado e na superação do tratamento [4].
mama, incluindo a remoção do tumor e dos tecidos adjacentes Para tanto, a equipe de saúde em atenção ao paciente

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


88 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

oncológico deve prover muito mais que cuidados médicos e Frente ao exposto, o presente estudo tem como objetivo
cirúrgicos, e sim um acompanhamento que possa garantir um investigar se as mulheres falam de seus problemas ou dúvidas
retorno a uma vida emocional e sexual normal [11]. sobre sexualidade que venham a surgir após a mastectomia ou
Os proissionais de saúde que atuam em oncologia pre- se são abordadas sobre o tema pelos proissionais de saúde.
cisam estar mais conscientes de que cuidar de uma pessoa
com câncer requer uma abordagem interdisciplinar, para que Material e métodos
seja possível prestar assistência integral, que compreenda o
paciente em múltiplos domínios, tendo como preocupação Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quan-
central a preservação da sua qualidade de vida. O psicólogo titativa, cuja população alvo foi mulheres mastectomizadas
e o isioterapeuta são proissionais que podem se beneiciar atendidas no Centro Regional Integrado de Oncologia
na abordagem da sexualidade, pois dispõe de mais tempo em (CRIO), em Fortaleza, Ceará, no período de 17 de março
contato com a paciente em sua atividade terapêutica, sendo a 11 de abril de 2011. O CRIO é um completo centro de
essa uma condição favorável para estabelecer um vínculo de assistência a pacientes oncológicos no Estado do Ceará e
amizade e coniança e com isso fazer com que a mulher possa atende pacientes de convênios, particulares e provenientes
expressar suas diiculdades sexuais naturalmente. do Sistema Único de Saúde (SUS) tanto da capital quanto
Na maioria das vezes, apresentam-se alguns obstáculos do interior do estado.
para a abordagem da sexualidade. Conversar com o paciente A amostra estudada foi de conveniência e a escolha das
sobre suas preocupações a cerca de sexo/sexualidade pode participantes foi aleatória, não probabilística, entre as mulhe-
ser difícil e desconfortável para o proissional, talvez pelo res que aguardavam atendimento na sala de espera do setor de
fato de haver um desconhecimento das questões relativas à isioterapia. O instrumento utilizado foi uma entrevista estru-
sexualidade humana. Para tanto, seria de grande valia um turada que obedecia a um roteiro previamente estabelecido.
aprofundamento sobre o tema nas disciplinas e conteúdos Foram incluídas no estudo as mulheres submetidas à
curriculares de graduação de forma a fornecer conhecimentos mastectomia radical e que tinham parceiros ixos, além da
especíicos de forma a desmistiicar o tema e assim reduzir anuência em participar do estudo. Como critérios de exclusão,
os medos, preconceitos, constrangimentos do proissional, foram considerados, as pacientes com estado cognitivo alte-
resultando em benefício mútuo: proissional e paciente [4]. rado e/ou doenças neurológicas que impeçam a compreensão
As mulheres também podem se sentirem envergonhadas e as que haviam sido submetidas a outro tipo de cirurgia da
em falar sobre a sua intimidade, principalmente para um mama que não seja a mastectomia radical.
homem, mesmo que proissional de saúde. Alguns tabus, As entrevistas eram realizadas a sós com a mulher, após
aspectos culturais ou religiosos também podem impedir consentimento informado, sucessivamente até completar
uma comunicação aberta e clara, ou o estabelecimento de o número de cinquenta mulheres mastectomizadas, o que
um diálogo sobre sexualidade, problemas ou dúvidas sexuais, ocorreu vinte e cinco dias após seu início.
fazendo com que esse assunto não seja abordado pela maioria Na primeira fase do trabalho realizou-se uma revisão de
das pessoas e nem mesmo pelos proissionais de saúde [12]. literatura a respeito do tema e a elaboração do roteiro de
A falta de tempo também é um fator determinante na entrevista, composto de duas partes e que contava com per-
abordagem da sexualidade, pois impede um aprofundamento guntas fechadas. A primeira investigava dados pessoais como
da relação entre o proissional de saúde e as pacientes, devido idade, estado civil, renda familiar, escolaridade, ocupação e
exigência à rapidez com que devem ser realizados os procedi- tempo de cirurgia.
mentos, o grande número de pacientes, bem como a ausência Na segunda parte da entrevista foram realizadas perguntas
de espaços físicos mais reservados para falar sobre o assunto pertinentes ao tema como: a senhora falaria sobre sexualidade
e o despreparo para lidar naturalmente com a sexualidade com o seu companheiro; a senhora falaria espontaneamente
dessas pacientes [11]. suas queixas sobre sexualidade para o médico; a senhora foi
Além disso, de maneira brusca, a pessoa com câncer é orientada por algum proissional de saúde sobre a sexualidade
“bombardeada” de novas informações e até mesmo termos mé- após a mastectomia e qual foi esse proissional que abordou
dicos, ao mesmo tempo em que precisa aprender a administrar o assunto. Estas perguntas também eram fechadas, mesmo
medicamentos e atender as inúmeras demandas que surgem assim, a entrevistadora mantinha-se cuidadosa no sentido
com essa nova realidade. Entende-se que, se não houver um de não sugestionar as respostas, principalmente mantendo
tempo aceitável para o atendimento, a compreensão dessas o foco nas respostas, retomando-o quando este era desviado.
demandas estará comprometida. Na análise estatística das respostas às perguntas foi uti-
É necessária a realização de mais estudos envolvendo lizado o programa estatístico SPSS (Statiscal Package for
essa temática a fim de fortalecer as ações que buscam Social Sciences) para Windows versão 16.0. Como todos os
contemplar o universo feminino integralmente de modo que indicadores adotados possuem uma margem de erro, visto que,
os proissionais não se detenham apenas na “falta do seio” e esses se referem à amostra extraída e não ao verdadeiro valor
possam contemplar a sexualidade do indivíduo. populacional, será construído um intervalo de coniança no

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 89

qual os valores populacionais possivelmente estarão situados. Viúva 0,0505-


Intervalo de coniança é um intervalo em torno do indicador 0,0600 0,0695
amostral, no qual os valores populacionais possivelmente se Separada/divorciada 0,0321-
encontram. A construção desse intervalo é necessária porque 0,0400 0,0479
nos fornece os possíveis valores que a população assume em União estável 0,0879-
relação ao indicador analisado, isso porque, a inferência feita 0,1000 0,1121
a partir dos indicadores é feita para a população e não para Escolaridade*
as pessoas que foram extraídas como amostras. Fundamen- Não alfabetizada 0.0144-
talmente importante é estabelecer um grau de coniança 0,0200 0.0256
suicientemente grande, para que nosso intervalo abranja Fundamental 0,6207-
os valores populacionais dos indicadores com uma “relativa
certeza”. Adotaremos β=0.95, para a construção dos inter-
0,6400 0,6593
Médio 0,2620-
valos dos indicadores referentes às mulheres que passaram 0,2800 0,2980
por mastectomia, ou seja, um nível de signiicância de 95%. Superior 0,0144-
O projeto de pesquisa foi previamente avaliado e autori- 0,0200 0,0256
zado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Cearense Pós-graduação ou mais 0,0321-
de Oncologia do Instituto do Câncer do Ceará (ECO/ICC), 0,0400 0,0479
tendo sido aprovado em 29 de abril de 2011 através do Ocupação
protocolo Nº 013/2011. O termo de consentimento livre e Dona-de-casa 0,3210-
esclarecido foi assinado antes da entrevista. 0,3400 0,3590
Aposentada 0,0879-
Resultados 0,1000 0,1121
Costureira 0,1453-
Todas as entrevistas foram realizadas uma a uma e em local 0,1600 0,1747
reservado. O tempo médio de duração de cada entrevista foi Agricultora 0,0879-
de 10 minutos. No total foram entrevistadas 50 mulheres. 0,1000 0,1121
A média das idades foi de 53,5 anos, variando de 30 a 77 Outras 0,2816-
anos. A Tabela I mostra as características sócio-demográicas 0,3000 0,3184
onde se pode constatar o predomínio da faixa etária de 51-60 Renda familiar (SM**)
anos (36%), a maioria casada (72%), donas-de-casa (34%), <1 0,3803-
com baixa escolaridade, ou seja, não-alfabetizada e ensino 0,4000 0,4197
fundamental completo ou incompleto (64%) e baixa renda 1–2 0,3210-
familiar considerada em até um salário mínimo/mês (40%) 0,3400 0,3590
e com menos de um ano de cirurgia (50%). 2–3 0,1261-
0,1400 0,1539
Tabela I - Peril sócio-demográico das mulheres mastectomizadas > 3 0,1069-
atendidas no Centro Regional de Oncologia (CRIO) em Fortaleza/ 0,1200 0,1331
CE, 2011. Tempo de cirurgia (anos)
Indicadores Proporção IC 95% <1 0,4799-
Faixa Etária 0,5000 0,5201
≤ 40 0,1000 0,0879- 1–3 0,2228-
0,1121 0,2400 0,2572
41 – 50 0,3000 0,2816- 3–6 0,1453-
0,3184 0,1600 0,1747
51 – 60 0,3600 0,3407- >6 0,0879-
0,3793 0,1000 0,1121
≥ 61 0,2340 0,2170- *Grau de estudo completo ou incompleto; **Salário(s) mínimo(s).
0,2510
Estado civil De modo geral, no que se refere à capacidade de comuni-
Solteira 0,0691- cação com o parceiro sobre sexualidade, a Tabela II mostra que
0,0800 0,0909 as pesquisadas sentem-se seguras para falar sobre o assunto com
Casada 0,7020- o seu companheiro (56%) enquanto que outras não (12%). Já
0,7200 0,7380 com relação à comunicação espontânea de suas queixas sexuais
para o médico veriicou-se que a maioria falaria (48%) enquanto

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


90 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

que outra parte das mulheres parece ter diiculdade em comu- do climatério ou na menopausa. Essas fases geralmente são
nicar-se (38%), pois nunca falariam sobre sua sexualidade para marcadas por mudanças intensas na vida da mulher, podendo
este proissional. Dentre as mulheres que relataram nunca falar ser considerado um momento de muitas perdas: como a falta
para o médico (19), um total de 17(89,47%) delas tem baixa de menstruação, a separação dos ilhos, a aposentadoria e até
escolaridade, ou seja, nível fundamental incompleto. No en- mesmo a perda do companheiro [9].
tanto, não podemos atribuir apenas a baixa escolaridade como Já com relação ao nível de escolaridade predominante,
fator determinante para a falta de comunicação das pacientes. veriicou-se que um baixo nível de escolaridade diiculta o
acesso as informações e orientações, além de menor nível
Tabela II - Características da capacidade de comunicação Paciente- de compreensão da doença. Em geral, as mulheres estão
-Parceiro e Paciente-Médico sobre sexualidade para as mulheres fortemente inseridas no mercado de trabalho, no entanto,
mastectomizadas atendidas no Centro Regional de Oncologia houve um predomínio da amostra para as atividades do lar
(CRIO) em Fortaleza/CE, 2011. (donas-de-casa), função que muitas vezes é motivo de prazer
Indicadores Proporção IC 95% e de grande valor, principalmente para aquelas de idade mais
Paciente -Parceiro avançada. Atualmente a mulher tem uma preocupação mui-
Nunca 0,1200 0,1069-0,1331 to grande com a atividade laboral pelo fato de muitas delas
Raramente 0,1400 0,1261-0,1539 serem muitas vezes obrigadas a abandonar seu trabalho em
Às Vezes 0,1800 0,1646-0,1954 função da doença, afetando diretamente a renda familiar,
Sempre 0,5600 0,5401-0,5799 icando impossibilitadas ainda de cuidarem de seus ilhos e
Paciente-Médico do seu lar [12]. Assim, passa a viver na dependência de outras
Nunca 0,3800 0,3605-0,3954 pessoas, razão pela qual causa um grande sofrimento, além
Raramente 0,0200 0,0144-0,0256 gerar um sentimento de impotência. No estudo de Sales [13],
Às Vezes 0,1200 0,1069-0,1331 foi constatado que 36% da sua amostra exerciam atividade
Sempre 0,4800 0,4599-0,5001 remunerada e destas, 14% tiveram que reduzir ou abandonar
sua atividade.
De acordo com os dados obtidos, menos da metade das Outro fator importante é a renda, onde foi obtido na
mulheres pesquisadas foram orientadas sobre sexualidade amostra um predomínio de baixa renda familiar. Baixos
após a mastectomia (34%) enquanto que a maioria não foi rendimentos não permitem uma boa manutenção da saúde
contemplada com essas orientações por nenhum proissional da mulher, principalmente na condição de idosa, visto que
de saúde no decorrer de seu tratamento (Tabela III). muitas vezes outros parentes também dependem dessa renda.
A pesquisa revelou que o sentimento de coniança é mar-
Tabela III - Proporção de mulheres que receberam orientação sobre cante na amostra, que evidencia a importância de um relacio-
sexualidade atendidas no Centro Regional de Oncologia (CRIO) namento baseado no companheirismo e no respeito mútuo.
em Fortaleza/CE, 2011. Para Silva et al. [14] uma relação bem estruturada dá apoio
Indicadores Proporção IC 95%
social e serve de barreira para os efeitos do estresse; enquanto
Recebeu Orientação Sexual que a perda do parceiro ou uma má relação pode ter efeitos
Sim 0,3400 0,3210-0,3590 negativos na vida da mulher. Nesse sentido, para a construção
Não 0,6600 0,6410-0,6790 de uma relação saudável, o diálogo pode ser considerado como
uma peça chave para a reabilitação. A diiculdade que o casal
A Tabela IV mostra que o médico foi o proissional que tem em obter um diálogo sincero e aberto pode resultar em
mais abordou o assunto (64,7%), seguido pelo psicólogo e distanciamento. Tal diiculdade pode ser justiicada devido
isioterapeuta (17,6%), ambos com o mesmo número. à inabilidade de lidar com temas difíceis como a morte ou
a recidiva da doença, passando a não comentá-los, evitando
Tabela IV - Tipo de proissional que realizaram abordagem da assim situações desconfortáveis [10]. A promoção da saúde
sexualidade das mulheres mastectmizadas atendidas no Centro através de orientações e esclarecimentos signiica um canal de
Regional de Oncologia (CRIO) em Fortaleza/CE, 2011. comunicação aberto de grande relevância para assistência a
Tipo Proporção IC 95%
mulher mastectomizada e seu companheiro [14].
Médico 0,6470 0,6278-0,6662
A diiculdade em comunicar-se com o proissional de
Psicólogo 0,1760 0,1607-0,1913
saúde denota existir ainda certo tabu e/ou a presença de
Fisioterapeuta 0,1760 0,1607-0,1913 sentimento de vergonha em relatar assuntos relacionados à
intimidade ou sexualidade. Durante o tratamento, a mulher
Discussão com câncer de mama é acompanhada por vários proissionais,
destes, percebe-se que o tema é abordado pelos proissionais
Por meio da análise dos aspectos sociodemográicos, médicos. Abdo ,Oliveira Júnior e Projeto Prosex [15] pes-
observou-se uma predominância de mulheres no período quisaram 4.753 ginecologistas de todo o Brasil e concluiu

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 91

que a maioria deles (36,2%) relatou que menos de 30% das câncer de mama, integrantes de uma equipe multidisciplinar,
mulheres atendidas em seu consultório trazem espontane- precisam de um olhar mais focado para as questões ligadas a
amente queixas sobre sexualidade e, para outra parcela de sexualidade. Também é necessário conhecer o assunto e incluir
médicos (24,8%), menos de 10% das mulheres procedem a abordagem no rol de cuidados a mulher mastectomizada
da mesma forma. e com isso superar os obstáculos que impedem essa atitude.
Os proissionais precisam dar a oportunidade para os Apresenta-se como alternativa para uma melhor aborda-
pacientes expressarem suas preocupações, e ao identiicar gem, a criação de grupos de apoio, que possam estabelecer um
questões que não podem ser tratadas localmente, estes deverão vínculo com os proissionais de saúde e as demais mulheres
ser encaminhados para especialistas [11]. que poderão compartilhar dos mesmos problemas, e dessa
No estudo realizado por Serrano [16] com 46 proissionais forma, possibilitar a troca de experiências de maneira mais
de saúde (93% enfermeiros e 7% médicos), concluíram que os descontraída e lúdica.
proissionais de saúde (50%) sentem diiculdade em abordar Desta forma, esperamos que esse estudo possa contribuir
os assuntos da sexualidade referindo fatores proissionais como para a relexão sobre a importância de criarem-se estratégias
os principais motivos, ou seja, o receio da reação do doente para possibilitar uma intervenção adequada dos aspectos da
(15,7%), a falta de iniciativa própria (12,9%) e do paciente sexualidade na mulher no processo da doença, antes ou após
(12,9%). Os fatores pessoais foram também atribuídos, a cirurgia, e assim agir em prol de um prognóstico favorável.
como por exemplo, o fato de considerarem a sexualidade um
assunto pessoal e da intimidade de cada um, além de muito Referências
constrangedor e difícil de abordar.
Abdo, Oliveira Júnior e Projeto Prosex [15] constataram 1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José
que 57,7% dos médicos ginecologistas se encontram “seguros” Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2012: incidência de câncer
em responder às questões sexuais e pesquisam espontane- no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2011. [citado 2012 ago 23].
Disponível em URL: http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/
amente a vida sexual de suas pacientes, apenas 30,4% dos
estimativa20122 111.pdf.
“pouco seguros” o fazem. Portanto evidencia-se que, quanto
2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José
mais inseguro está o médico para o questionamento destes Alencar Gomes da Silva. ABC do câncer : abordagens básicas
aspectos, tanto menor é a possibilidade de que os investigue. para o controle do câncer. Rio de Janeiro: INCA; 2012. [citado
No estudo foi apontado pela maioria da amostra que o 2012 ago 23]. Disponível em URL: http://www1.inca.gov.br/
proissional médico está abordando a questão sexual. Não inca/Arquivos /livro_abc_2ed. pdf.
foi esclarecido no estudo em qual momento ocorreu esse 3. Silva HMS, Rocha MLL, Ferrari BL, Marinho RM, Conside-
contato, icando a dúvida de qual seria o momento ideal: rações sobre as doenças da mama. In: Baracho E. Fisioterapia
antes ou após a cirurgia. Para os demais proissionais da aplicada à saúde da mulher. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
equipe, espera-se que o psicólogo seja o grande precursor Koogan; 2012. p.387-99.
4. Souto MD, Souza IEO.Sexualidade da mulher após a mastec-
da temática. No entanto, a prática da interdisciplinaridade
tomia. Esc Anna Nery Rev Enferm 2004;8(3):402-10.
é algo que poderá vir beneiciar o paciente em um melhor 5. Ramos AS, Patrão I. Imagem corporal da mulher com cancro
enfrentamento das alterações decorrentes do câncer e seus de mama: impacto na qualidade do relacionamento conjugal e
tratamentos. Os autores Ramos e Patrão [5] corroboram com na satisfação sexual. Anál Psicol 2005;3(23):295-304.
a pesquisa ao airmarem que quanto mais informados a cerca 6. Madeira, AMF, Almeida, GBS, Jesus, MCP. Reletindo sobre
da doença, menores serão as diiculdades encontradas durante a sexualidade da mulher mastectomizada. REME – Rev Min
todo o seu processo. Enferm 2007;11(3):254-7.
7. Duarte TP, Andrade AN. Enfrentando a mastectomia: análise
Conclusão dos relatos de mulheres mastectomizadas sobre questões ligadas
à sexualidade. Estud psicol (Natal) 2003;8(1):155-63.
8. Fleury H.As novas abordagens e teorias sobre a resposta sexual
Neste estudo, de acordo com os dados coletados, percebeu-
feminina. Arquivos H. Ellis 2004;1(1):18-21.
-se que as mulheres estão expondo mais abertamente questões 9. Cantinelli FS, Camacho RS, Smaletz O, Gonsales BK, Braguit-
ligadas a sua sexualidade, principalmente para o parceiro, mas, toni E, Renno Júnior J. A oncopsiquiatria no câncer de mama
também para o médico. No entanto, não podemos negar que – considerações a respeito de questões do feminino. Rev Psiq
algumas mulheres apresentam diiculdades em levantar essas Clín 2006;33(3):124-33.
questões ligadas a sua intimidade e que ainda não é data a 10. Bii RG, Mamede MV.Suporte social na reabilitação da mulher
atenção necessária a esse assunto por parte da equipe que a mastectomizada: o papel do parceiro sexual. Rev Esc Enferm
acompanha. USP 2004;38(3):262-9.
Por outro lado, percebeu-se através da pesquisa que a abor- 11. Ferreira SMA. A sexualidade no cuidado de enfermagem de
mulheres com câncer ginecológico e mamário. [Dissertação].
dagem médica está presente, no entanto, ainda não contempla
Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, Escola de Enfer-
toda a população que passa por esse problema. A pesquisa nos magem de Ribeirão Preto; 2012.
faz reletir que os proissionais envolvidos no tratamento do

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


92 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

15. Abdo CHN, Oliveira Júnior WM, Projeto Prosex. O ginecolo-


12. Talhaferro B, Lemos SS, Oliveira E. Mastectomia e suas conse- gista frente às queixas sexuais femininas: um estudo preliminar.
quências na vida da mulher. Arq Ciênc Saúde 2007;14(1):17-22. Rev Bras Med 2002;59(3);179-86.
13. Sales CACC, Paiva L, Scandiuzzi D, Anjos ACY. Qualidade de 16. Serrano S. Os técnicos de saúde e a sexualidade dos doentes
vida de mulheres tratadas de câncer de mama: funcionamento oncológicos: atitudes, crenças e intenções comportamentais.
social. Rev Bras Cancerol 2001;47(3):263-72. Anál Psicol 2005;2(23):137-50.
14. Silva TBC, Santos MCL, Almeida AM, Fernandes AF.Percepção
dos cônjuges de mulheres mastectomizadas com relação à con-
vivência pós-cirurgia. Rev Esc Enferm USP 2010;44(1):113-9.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 93

Artigo 16

Atuação do isioterapeuta na linha de cuidado à saúde


da mulher com ênfase no apoio matricial
The physical therapist practice in women’s health care
with emphasis on support matrix
Daiana Pereira Martins Costa

*Fisioterapeuta, apoiadora matricial pelo Núcleo de Atenção à Saúde da Família, João Pessoa/PB

Resumo Abstract
No município de João Pessoa, adota-se o modelo técnico- he city of João Pessoa/PB Brazil was adopted the technical
-assistencial Em Defesa da Vida, que propõe a concepção de saúde assistance model called Em Defesa da Vida, which proposes the
como direito de cidadania, com base no acolhimento e humanização concept of health as a right of citizenship, based on reception and
das relações. O Fisioterapeuta do Núcleo de Atenção à Saúde da humanizing relations. he physiotherapist at the Núcleo de Apoio à
Família (NASF) está inserido neste modelo, atuando através do apoio Saúde da Família (NASF) is inserted in this model, working through
matricial com ações de suporte técnico-pedagógico e assistencial. the actions of matrix support with technical, educational and health
Na área de Saúde da Mulher, este proissional acompanha e auxilia care support. In Women’s Health, this professional monitor and
na discussão de estratégias voltadas a integralidade do cuidado, assist discussions of strategies to comprehensive care, participating in
participando do monitoramento das ações em saúde e contribuindo the monitoring of health initiatives and contributes to the planning
com o planejamento das Equipes de Saúde da Família e distritos of the family health teams and sanitary districts. Additionally, they
sanitários. Adicionalmente, integra grupos de trabalho, promovendo integrate working groups, promoting and strengthening arguments
discussões que busquem a garantia de resolutividade e qualidade do that seek to guarantee resolution and quality of care from the current
cuidado a partir da situação atual em saúde. Além disso, realiza visitas situation in health. In addition, the NASF Physiotherapist performs
domiciliares com avaliações, orientações e encaminhamentos neces- home visits with assessments, referrals and guidance to demands
sários para demandas identiicadas, como alterações gestacionais, identiied as gestational changes, urogynecology disorders, post-
disfunções uroginecológicas, alterações linfáticas pós-mastectomia -mastectomy lymph changes and efects of menopause. His inclusion
e repercussões do climatério. Sua atuação tem proporcionado o in the NASF has provided the strengthening of women’s health care
fortalecimento do cuidado à saúde da mulher no território, visto in the territory, since contributions of their training has strengthe-
que contribuições da sua formação tem fortalecido a construção ned the construction of healthcare projects with bases in full and
de projetos de cuidado com bases na integralidade e estreitado a narrowed further rapprochement between users and staf reference.
aproximação entre usuárias e equipe de referência. Key-words: physical therapy specialty, women’s health, family
Palavras-chave: isioterapia, saúde da mulher, saúde da família. health.

Endereço para correspondência: Distrito Sanitário III, Rua Tenente Euclides Bandeira, S/N, Mangabeira 58056-330 João Pessoa PB, E-mail: daia_
mar@hotmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


94 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução partir da tecnologia do apoio matricial. Para tal, será descrita


a vivência da inserção deste proissional no NASF, através de
O Sistema Único de Saúde deve promover a atenção inte- sua inclusão no Distrito Sanitário III do município de João
gral à saúde da mulher, contemplando a promoção, proteção, Pessoa/PB.
assistência e recuperação em seus diferentes níveis de atenção. Atualmente, entre os cinco distritos sanitários existentes
O cuidado deve envolver a mulher em qualquer fase da vida, no município, este abriga a maior população, e consequente-
garantindo o acesso por meio de estratégias de descentrali- mente, o maior número de ESF, com 53 ESF e 3 Programas
zação, regionalização e integração das ações e serviços [1]. de Agentes Comunitários de Saúde.
No município de João Pessoa, adota-se o modelo técnico- O Fisioterapeuta atua em três cenários de gestão da saúde
-assistencial Em Defesa da Vida, partindo do reconhecimento na função de apoiador matricial. Realiza o apoio às Equipes
da necessidade de transpor as deinições constitucionais de de Saúde da Família, participa de atividades relacionadas ao
saúde. Esse modelo propõe a concepção de saúde como direito Distrito Sanitário no qual está inserido, assim como tem
de cidadania, com base no acolhimento e humanização das representatividade distrital em âmbito municipal. Desta
relações. Através da reorganização dos serviços e do incentivo à forma, a construção deste trabalho dá-se a partir da descrição
mudança de práticas, busca a garantia de acesso para o usuário de atividades desenvolvidas nos três âmbitos em que este
a partir de uma gestão democrática com controle social [2]. proissional se insere, quando relacionadas à linha de cuidado
Assim, o modelo Em Defesa da Vida objetiva a efetivação de Saúde da Mulher.
do vínculo entre usuário e equipe, além de buscar maior re-
solutividade nas ações a partir da responsabilização em saúde. Apoio à Equipe de Saúde da Família
Neste cenário, permite-se a troca de saberes entre os sujeitos
envolvidos com ampliação da clínica, estabelecimento de No contexto da atenção à saúde da mulher, o Fisiotera-
projetos terapêuticos e educação permanente em saúde [2,3]. peuta realiza visitas domiciliares com atendimento individual
Inserido neste modelo de atenção, está o Fisioterapeuta do ou interconsulta com proissionais da ESF ou do NASF.
Núcleo de Apoio de Saúde à Família (NASF), que desenvolve Por se tratar de parte comum do planejamento das ESF,
o processo de trabalho baseado na lógica do apoio matricial. frequentemente avalia e acompanha mulheres em período
Este utiliza saberes e práticas especializadas, atuando junto à gestacional e pós-parto, realizando orientações relacionadas
equipe de referência, a im de promover o cuidado através de à saúde materno-infantil.
um enfoque transdisciplinar. Neste contexto, busca-se uma Além disto, realiza as avaliações, orientações e encami-
base para organizar e ampliar as ações em saúde [4]. nhamentos necessários para demandas identiicadas por
O apoio matricial apresenta dimensões de suporte técnico- proissionais da ESF ou por outros pontos da rede de atenção,
-pedagógico e assistencial. Objetiva promover espaços de como disfunções uroginecológicas, alterações linfáticas pós-
discussão e planejamento, além de atendimentos em sua -mastectomia e repercussões do climatério.
especialidade ou interconsultas. É seu papel apoiar a Equipe Tais casos necessitam frequentemente da construção de
de Saúde da Família (ESF) na constante reavaliação e recons- um Projeto Terapêutico Singular, considerando as potencia-
trução, quando necessário, de um processo de trabalho que lidades e fragilidades existentes, a im de buscar estratégias
seja mais resolutivo, baseando-se nas necessidades territoriais. resolutivas para enfrentamento de cada situação. O Fisiote-
Ou seja, devem ser utilizadas ferramentas que respeitem a rapeuta contribui com seu conhecimento técnico-cientíico,
estrutura e peril epidemiológico local para orientação das seja na prevenção de agravos, promoção da funcionalidade ou
práticas em saúde [5-7]. recuperação da saúde, além de incentivar a problematização,
Em João Pessoa, além da construção do cuidado junto a efetivação e constante reavaliação dos projetos terapêuticos.
ESF, o apoiador matricial acompanha e auxilia na discussão de Participa também de grupos operativos de mulheres.
estratégias em âmbito municipal. Participa do monitoramento Atualmente os grupos são formados com maior frequência
das ações em saúde contribuindo com o planejamento das por gestantes. Assim, este proissional promove o diálogo
ESF e distritos sanitários. Realiza a avaliação de indicadores sobre alterações isiológicas da gravidez, processo de parto,
em saúde e estimula a discussão junto aos proissionais para atividades de relaxamento, autocuidado, além da preparação
a melhoria do cuidado. Adicionalmente, integra grupos de para o parto e pós-parto.
trabalho em âmbito distrital e municipal, promovendo e for- Junto à ESF, incentiva espaços de Educação Permanente,
talecendo discussões que busquem a garantia de resolutividade problematizando a situação em saúde do território. Avalia e
e qualidade do cuidado a partir da situação atual em saúde. discute a prevenção do câncer de mama e de colo uterino.
Acompanha a captação das gestantes durante o primeiro
Metodologia trimestre para início do pré-natal e a conclusão do acompa-
nhamento gestacional, de acordo com as estratégias e metas
Este trabalho apresenta um relato da atuação do Fisiote- estabelecidas pelo Plano Municipal de Saúde [8].
rapeuta nas atividades voltadas à área de Saúde da Mulher, a

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 95

Distritos Sanitários assistência pré e pós-operatória em oncologia [1,8,9].


Este realiza a avaliação, orientação, encaminhamentos e a
Os grupos de trabalho (GT), existentes no âmbito distrital, capacitação de cuidadores para qualiicar o acompanhamento
realizam o monitoramento das linhas de cuidado de forma da usuária em ambiente domiciliar. A intervenção poderá
interdisciplinar. O GT em Saúde da Mulher constitui uma ser feita quando necessária, porém, dada a complexidade
das ferramentas voltadas à atenção integral e humanizada. da atuação do apoio matricial, geralmente identiicam-se na
Este acompanha os indicadores locais relacionados à saúde rede os serviços que tenham foco assistencial, para garantir
da população feminina e discute estratégias de melhoria do o tratamento com a frequência adequada a cada usuária [5].
cuidado, uma vez que tais indicadores reletem as ações efe- Ou seja, o Fisioterapeuta exerce um importante papel nesta
tivadas em nível territorial. área, tanto pela atuação baseada no conhecimento técnico-
A partir da avaliação das diiculdades existentes, serão -cientíico quanto pela participação na construção de ações
construídos projetos de capacitação proissional e outros es- a partir do conceito ampliado de saúde. Logo, permite-se a
paços julgados necessários; como os de educação permanente proissional utilizar tecnologias além daquelas existentes nos
e elaboração de protocolos com a interlocução dos diferentes procedimentos técnicos isioterapêuticos [5,6].
níveis de complexidade de atenção. Algumas questões inseridas na atenção integral à saúde fe-
Ao Fisioterapeuta cabe também propor atividades edu- minina ainda constituem um desaio, como a violência contra
cativas nas unidades de referência, feiras de saúde ou nos a mulher. Imagina-se que muitos casos de violência não são
diversos equipamentos sociais. Realiza desde uma abordagem identiicados pelas ESF e quando há suspeita não chegam a ser
especializada até a construção de atividades em parcerias com conirmados. Em algumas circunstâncias familiares e sociais,
outros setores relacionados à saúde da mulher, como os centros a violência ainda é subestimada e tratada com silêncio, por
de referência, maternidades, hospitais, centros de atenção parentes, amigos e pela própria mulher [1,10].
integral e centros de diagnóstico. Outro desaio para as ESF e equipes de apoio matricial
está na atenção à saúde mental feminina. Seja relacionada
Município ao período gestacional, distúrbios alimentares, resultado de
violência doméstica ou de demais fatores, a saúde mental
A ação do GT em Saúde da Mulher se dá também em ainda necessita de uma articulação efetiva da rede de atenção e
âmbito municipal com ampliação das discussões a partir do inclusão participativa de todos os proissionais envolvidos [1].
acompanhamento dos indicadores municipais e análise da No município de João Pessoa, o apoio matricial não
situação local em saúde. estimula apenas a reorientação das práticas nas ESF, mas
Além disto, seus representantes participam das discussões também de suas próprias práticas, buscando fortalecer a sua
do Comitê de Mortalidade Materna, analisando causas e fato- atuação na atenção básica. Apesar das diiculdades existentes,
res relacionados aos óbitos maternos. Propõem e constroem torna-se evidente o avanço alcançado nos espaços de discussão
estratégias de confronto a este problema, com os represen- com as ESF, fortalecendo a problematização do processo de
tantes das secretarias municipais, conselhos proissionais, trabalho através de uma lógica usuário-centrada. O trabalho
sociedades cientíicas, ministério público, ensino superior em passa a ser norteado por uma construção coletiva que garanta
saúde e Secretaria de Defesa dos Direitos da Mulher. que as decisões sejam compartilhadas, por meio de análises e
avaliações construídas coletivamente [11].
Discussão Outro avanço veriicado na ampliação do cuidado está
na implantação do acolhimento na maioria das Unidades de
O apoio matricial deve subsidiar a estruturação de pla- Saúde da Família, assim como na atual discussão realizada com
nos de ação que contemplem os vários objetivos da Política aquelas ESF em processo de estruturação do acolhimento. Tal
Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher de forma dispositivo busca a mudança na assistência a partir da relexão
interdisciplinar. Tais objetivos englobam a prevenção do crítica sobre as relações no trabalho em saúde, os modelos
câncer de colo e da mama, planejamento familiar e pré-natal, de atenção e gestão e as relações de acesso aos serviços [12].
redução de DST e AIDS, saúde mental e abordagem das
vulnerabilidades e especiicidades das mulheres [1,5]. Conclusão
Estes são objetivos principais, porém o cuidado integral
deverá considerar os ciclos da existência de cada mulher, A inserção do Fisioterapeuta no NASF proporciona o for-
assim como suas características biológicas e socioculturais. talecimento do cuidado à saúde da mulher no território, visto
O Fisioterapeuta atua nos diversos aspectos inseridos nestes que permite a sua relação com as usuárias estreitando ainda
ciclos, como na abordagem das alterações durante a gesta- mais a aproximação entre usuária e equipe de referência. Isto
ção, preparação para o parto, cuidados no puerpério, fatores se dá através da realização de avaliações, consultas domiciliares,
relacionados ao climatério e menopausa, diversos tipos de capacitação dos cuidadores, orientações especíicas a cada caso
incontinência, dores pélvicas, prolapsos pélvicos, além da e do acompanhamento realizado junto às ESF.

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96 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

O acompanhamento realizado é singular, tendo em vista madora da gestão. In: Freese E, ed. Municípios: a gestão da
que o Fisioterapeuta passa a conhecer a realidade de cada mudança em saúde. Recife: UFPE; 2004. p.45-76.
usuária, suas relações familiares, suas redes de apoio e condi- 4. Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria Executiva. Humani-
ções de vida, sendo muitas vezes compartilhadas angústias e zaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização
como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas
alições de cada mulher.
as instâncias do SUS. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. 19p.
Assim como as demais especialidades do NASF, o Fisiote- 5. Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Atenção à Saúde.
rapeuta se insere no apoio às equipes a im de estimular uma Departamento de Atenção Básica. Série B. Textos Básicos de
relexão crítica a partir de uma visão ampliada do processo Saúde. Cadernos de Atenção Básica; n. 27 – Brasília: Ministério
saúde-doença. Assim, busca a mudança da relação entre pro- da Saúde; 2009. 164p.
issionais e usuários, enfraquecendo o modelo hegemônico 6. Campos GWS, Domitti AC. Apoio matricial e equipe de refe-
assistencial e objetivando a reorientação das práticas voltadas rência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar.
à saúde. Cad Saúde Pública 2007;23(2):399-407.
A importância de sua atuação na área de Saúde da Mulher 7. Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria Executiva. Humaniza-
SUS: equipe de referência e apoio matricial. Brasília: Ministério
está na contribuição nas discussões e planejamento das ações
da Saúde; 2004.
voltadas à esta população. Além disto, o compartilhamento
8. Prefeitura Municipal de João Pessoa. Secretaria de Saúde. Plano
de saberes de sua formação fortalece a construção de projetos Municipal de Saúde 2010 – 2013. João Pessoa; jul. 2010. 165p.
de cuidado com bases na integralidade. 9. Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa. Saúde da mulher: um diálogo aberto e participa-
Referências tivo. Brasília: Ministério da Saúde; 2010. 48p.
10. Andrade CJM, Fonseca RMGS. Considerações sobre violência
1. Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Atenção à Saúde. Po- doméstica, gênero e o trabalho das equipes de saúde da família.
lítica nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios Rev Esc Enferm USP 2008; 42(3):591-5.
e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. 82p. 11. Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Atenção à Saúde.
2. Teixeira CF. A mudança do modelo de atenção à saúde no SUS: Gestão participativa e cogestão. Brasília: Ministério da Saúde;
desatando nós, criando laços. Saúde Debate 2003;27(65):257- 2009. 56p.
77. 12. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção à Saúde.
3. Merhy EE, Malta DC, Santos FP. Desaios para os gestores do Acolhimento nas práticas de produção de saúde. Brasília: Mi-
SUS hoje: compreender os modelos de assistência à saúde no nistério da Saúde; 2008. 44p.
âmbito da Reforma Sanitária Brasileira e a potência transfor-

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Artigo 17

Importância da isioterapia na qualidade


de vida em idosas institucionalizadas
com diagnóstico de osteoartrose
Importance of physical therapy in quality of life
of institutionalized elderly with osteoarthrose
Ana Letícia de Souza Pereira*, Cynthiane Louyse Menezes de Araújo*, Alianny Raphaely Rodrigues Pereira*,
Lívia Braz de Carvalho**, Fernanda Diniz de Sá***, Karla Luciana Magnani***, Adriana Gomes Magalhães***

*Discentes do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Fisioterapeuta


***Docentes do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo Abstract
O envelhecimento é um fenômeno mundial que acontece atu- Ageing is a global phenomenon occuring today in developing
almente nos países em desenvolvimento e uma das doenças mais countries and one of the most common diseases in this age group
comuns nessa faixa etária é a osteoartrose, sendo responsável pela is osteoarthritis, accounting for the loss of functional independence
perda da independência funcional tornando um fator indicativo para becoming an indicative factor for institutionalization. he aim of this
a institucionalização. O objetivo do estudo foi avaliar a qualidade de study was to evaluate the quality of life in institutionalized elderly
vida de idosas institucionalizadas com osteoartrose, comparando as woman with osteoarthritis, comparing the elderly in the partici-
idosas quanto a participação ou não em programas isioterapêuticos. pation or not in physical therapy programs. he methodological
O estudo se caracteriza como de caráter quantitativo, de campo, approach was made through a quantitative survey characterized as
realizado em duas Instituições de Longa Permanência através da ield study, carried out in two long-stay institutions through the
aplicação do questionário WHOQOL-OLD. A amostra foi com- application of the WHOQOL-OLD. he sample consisted of 20
posta por 20 idosas que foram divididas em 2 grupos: idosas que elderly women who were divided into 2 groups: women who received
recebiam assistência isioterapêutica e as que não recebiam. A análise physical therapy and not receiving. he results demonstrated that
da realidade estudada demonstra que o total da amostra apresentou the total sample showed a low quality of life with an average of 52.2
uma qualidade de vida baixa com uma média de 52.2 em uma escala on a scale of 0 to 100. However, notable diferences were observed
de 0 a 100. No entanto, foi observada diferença notória entre os between the groups. he elderly group assisted by physiotherapy
grupos avaliados. As idosas atendidas pela isioterapia demonstra- showed a better quality of life when compared to those who had no
ram uma melhor qualidade de vida quando comparadas as que não such assistance. hus, this study demonstrated that physical therapy
tinham essa assistência. Dessa forma, este trabalho comprova que has indispensable beneits in the life of elderly with osteoarthritis,
a isioterapia apresenta benefícios indispensáveis na vida de idosas contributing satisfactorily to a better quality of life.
com osteoartrose, contribuindo satisfatoriamente para uma melhor Key-words: physical therapy, quality of life, osteoarthritis.
qualidade de vida.
Palavras-chave: isioterapia, qualidade de vida, osteoartrose.

Endereço para correspondência: Ana Letícia de Souza Pereira, E-mail: ana_leticiarn@hotmail.com

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98 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução proporcionará uma manutenção ou mesmo uma melhora das


condições funcionais associada ao controle do quadro dolo-
O envelhecimento é um fenômeno mundial que atu- roso apresentado por esta afecção. Dessa forma, a isioterapia
almente acontece nos países em desenvolvimento, como o contribuirá para a manutenção de uma QV adequada, através
Brasil, devido ao crescimento da população e do aumento da do controle dessa doença, principalmente nas crises dolorosas,
longevidade nas sociedades [1]. Nos últimos anos, o Brasil vem promovendo melhoras nas atividades funcionais, assim como
apresentando na pirâmide etária um crescimento evidente da a redução da ingestão de medicamentos que controlem a dor.
participação idosa, sendo caracterizado pelo alargamento do Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa tratou-se de uma
ápice que normalmente encontrava-se retangularizado. Isto abordagem na qualidade de vida em idosas institucionalizadas
demonstra que a população idosa torna-se expressiva como com osteoartrose que participavam ou não de programas isio-
a jovem [2-3]. terapêuticos, a im de observar o impacto dessa intervenção
Esse envelhecimento apresenta especiicidades que variam na qualidade de vida das mesmas.
de acordo com as condições socioeconômicas, isiopatológi-
cas, educacionais, dentre outros fatores. Diante de tal fato, Material e métodos
aumentarão também a prevalência de doenças crônicas co-
muns nos idosos, dentre as quais a osteoartrose encontra um A presente pesquisa tratou-se de um estudo de campo e
lugar de destaque, tendo em vista seu caráter incapacitante e foi desenvolvida com idosas acima de 60 anos, residentes em
suas repercussões na independência funcional e qualidade de Instituições de Longa Permanência (ILP) no município de
vida, que podem levar muitos idosos a institucionalização [4]. João Pessoa/PB e com diagnóstico clínico de Osteoartrose.
A osteoartrose (OA), conhecida também como doença Inicialmente, foram identiicados 40 idosos dos gêneros
articular degenerativa ou osteoartrite, é uma doença reuma- masculino e feminino com idade acima de 60 anos, que pos-
tológica comumente encontrada que atinge principalmente as suíam diagnóstico clínico de osteartrose e tinham cognição
articulações com maior suporte de peso nas pessoas da terceira preservada. Porém devido ao baixo desempenho cognitivo
idade. Esta doença é bastante evidente no envelhecimento, apresentado pelos residentes das ILP, participaram efetiva-
pois resulta do desgaste ou anormalidade da articulação [1, 5]. mente 20 mulheres com idades entre 68 e 93 anos.
A OA representa grande parte das doenças articulares no A pesquisa foi realizada no período de 21/08/09 a
idoso e é importante não apenas por ser a mais frequente em 04/09/09 no turno da tarde sendo desenvolvida nas ILP Vila
doenças reumatológicas, mas pelo fato de atingir um impacto Vicentina Júlia Freire e Lar da Providência Carneiro Cunha
socioeconômico por causar incapacidade [6]. na cidade de João Pessoa/PB. O instrumento utilizado foi o
A capacidade funcional está diretamente ligada ao enve- questionário sobre qualidade de vida proposto pelo World
lhecimento, visto que na terceira idade os indivíduos estarão Health Organization Quality of Life Group (GRUPO WHO-
mais propensos há desenvolver algumas limitações visuais, QOL) da OMS, o WHOQOL-OLD, aplicado na forma de
auditivas, motoras, intelectuais, e principalmente surgem as entrevista direta. O WHOQOL-OLD foi criado para utili-
doenças crônico-degenerativas, como por exemplo, a osteo- zação de uma perspectiva transcultural, com o objetivo geral
artrose, que resultam em dependência nas atividades de vida de desenvolver e testar uma medida genérica da qualidade de
diária e perda da autonomia [7]. vida em adultos idosos.
A capacidade funcional do idoso comprometida implica Esse método de avaliar foi desenvolvido para ser aplicado
em consequência considerável para a família, comunidade em pessoas da terceira idade, e é composto por seis facetas e
em que reside e para a própria vida das pessoas da mesma 24 itens da Escala de Likert, gerando escores em cada uma
faixa etária, visto que as diiculdades e incapacidades resul- das facetas e um escore geral, representados por: (1) Fun-
tam em uma maior dependência, interferindo diretamente cionamento do Sensório (FS), analisando o funcionamento
na qualidade de vida do idoso [8]. Diante do exposto, a OA sensorial e o impacto da perda de habilidades sensoriais na
interfere diretamente na qualidade de vida dos idosos com esse qualidade de vida; (2) Autonomia (AUT), independência na
diagnóstico, demonstrando a importância em analisar o estilo velhice, capacidade ou liberdade de viver de forma autônoma
de vida que esses indivíduos adotam. Um dos componentes e tomar decisões; (3) Atividades Passadas, Presentes e Futuras
que se avalia na qualidade de vida é a autonomia, aspecto (PPF), satisfação sobre conquistas na vida e coisas a que se
diretamente afetado e alterado nos idosos com diagnóstico anseia; (4) Participação Social (PSO), participação nas ativi-
de osteoartrose, visto que esses indivíduos frequentemente dades cotidianas, especialmente na comunidade; (5) Morte e
perdem a capacidade de realizar suas atividades de vida diária, Morrer (MEM), preocupações, inquietações e temores sobre a
tornando-se dependentes de terceiros em algumas tarefas morte e sobre o morrer; e (6) Intimidade (INT), capacidade
cotidianas [9-10]. de ter relacionamentos pessoais e íntimos.
Para que se promova uma boa qualidade de vida a estes As facetas possuem 4 itens, no entanto todos os itens de
idosos acometidos pela OA, uma das mais importantes ações uma faceta devem ser preenchidos. Em cada uma das facetas
é o acesso a um tratamento isioterapêutico, uma vez que este há o escore que pode variar de 4 a 20, sendo 4 o pior escore e

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 99

20 o melhor. Através dos valores dos 24 itens ou das seis facetas a isioterapia contribui para a redução das limitações desses
se tem uma produção geral ou global da qualidade de vida em idosos [13].
idosos. Por questões didáticas, os escores serão transformados As respostas obtidas diante da aplicação do questionário
em escala percentual, ou seja, 4 correspondendo ao percentual WHOQOL-OLD foram primeiramente separadas por mé-
mais baixo (zero) e 24 o mais alto grau (cem). dia geral da qualidade de vida, desvio padrão e correlação da
Além do questionário de qualidade de vida, foram reali- idade com a qualidade de vida, para veriicar a importância
zadas perguntas referentes a indicadores sócio-demográicos dessa variável nos escores encontrados através do coeiciente
abordando informações como: nome, idade, data de nasci- de correlação de Pearson. Por im, foram separadas por domí-
mento, gênero, estado civil, ocupação anterior ou atual e acer- nios para comparar as que realizam a isioterapia e as que não
ca da realização ou não de acompanhamento isioterapêutico. recebem esta assistência. Os resultados de cada questão foram
Após esta coleta, as respostas obtidas foram analisadas adquiridos pela soma das respostas de cada idosa.
quantitativamente. No primeiro momento esses dados foram No que se refere à qualidade de vida, foi obtido que o total
colocados no programa Excel e organizados de forma indivi- da amostra das idosas, que possuem diagnóstico clínico de
dualizada. Posteriormente, foi realizada uma leitura horizontal OA, apresentou uma QV relativamente baixa, apresentando
e interpretados a partir da literatura adotada. uma média de 52.2 em uma escala que varia de 0 a 100. A
Para análise estatística dos dados, foi aplicada uma organização mundial da saúde (OMS) sugere que 25% dos
análise não-paramétrica, usando os procedimentos MED idosos sofrem de dor e incapacidades relacionadas à OA,
(média), DV (desvio padrão), FREQ (frequência) e CORR e isso vem a afetar diretamente a qualidade de vida dessas
(correlação linear de Pearson), do aplicativo pessoas [14].
Excel for Windows, para inferir a correlação entre as fa- Para ins didáticos a correlação da idade com a qualidade
cetas sócio-demográicas e os resultados apontados pelo de vida na amostra foi distribuída pela idade versus a QV e
WHOQOL-OLD sobre a qualidade de vida e suas facetas, idade versus cada domínio, como mostra a Tabela I.
a im de identiicar, caracterizar e comparar a qualidade de
vida de ambos os grupos (que são assistidos pela isioterapia Tabela I - Correlação da idade com a qualidade de vida.
e os que não são), buscando a percepção dos benefícios que Variáveis correlacionadas P
trazem a isioterapia. Idade X QV (Considerando todos os domí- -0,021
nios implicados)
Resultados e discussão Idade X Domínio 1 (Habilidade sensório) -0,123
Idade X Domínio 2 (Autonomia) -0,137
A amostra desta pesquisa foi composta por 20 idosas, sen- Idade X Domínio 3 (Atividades passado, -0,141
do 10 que recebiam assistência isioterapêutica e 10 que não presente e futuro)
recebiam esta assistência. Todos os participantes entrevistados Idade X Domínio 4 (Participação social) -0,284
foram do sexo feminino, e quanto à faixa etária, tinham idade Idade X Domínio 5 (Morte e morrer) -0,161
entre 68 e 93 anos, totalizando uma média de 79,5 anos e um Idade X Domínio 6 (Intimidade) -0,049
desvio padrão de 7,6. O estado civil foi variado em 9 solteiras,
9 viúvas, 1 divorciada e 1 casada. O coeiciente de correlação de Pearson é medido pelo
Com relação à realização ou não de tratamento isiotera- grau de relação linear em duas variáveis quantitativas. Este
pêutico, a maioria das idosas não realizavam o tratamento. coeiciente pode variar entre -1 e 1, enquanto que o zero
Porém, para que se pudesse ter uma amostra com resultados signiica que não existe relação linear, o 1 uma relação linear
comparativos adequados foi realizada a entrevista com as 10 perfeita e o -1 também signiica uma perfeita porém inversa.
idosas que eram atendidas pela isioterapia e selecionadas Portanto quando as duas variáveis, uma aumenta e a outra
apenas 10 idosas que não realizavam esse atendimento. diminui, e quanto mais perto dos valores 1 e -1, maior será
A atuação da isioterapia em ILP é importante, visto que a associação linear entre as duas variáveis [15].
promoverá uma boa qualidade de vida aos idosos que apre- Diante desse conceito a correlação de idade x qualidade
sentam diferentes necessidades de saúde, social e autonomia de vida e idade x DOM 6 pode ser deinida como correlação
no seu cotidiano [11]. Ainda que esses residentes apresentem negativa ínima. As correlações de idade x DOM 1, DOM 2,
independência em suas AVD, precisam de estimulação para DOM 3, DOM 4 e DOM 5 são caracterizados como corre-
se manter nestas condições, conirmando assim a necessi- lação negativa baixa. Ou seja, não houve nenhuma correlação
dade da isioterapia na promoção da capacidade funcional que se associasse linearmente entre as variáveis na amostra.
e prevenção de incapacidades [12]. Estudos comprovaram Em relação aos domínios, separamos individualmente para
que o grupo de idosos atendidos pela isioterapia obteve que se tenha uma observação melhor de como se encontra
uma melhora signiicativa no desempenho das atividades isoladamente a qualidade de vida nas idosas em estudo, de
funcionais após a intervenção quando comparadas ao grupo acordo com cada situação. O domínio Habilidade Sensório
controle que não tinha esse atendimento, concluindo que obteve a média de 42,2; no domínio 2 que refere-se a Auto-

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100 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

nomia totalizou uma média de 36,3; o domínio nomeado por ter sido tão elevada nessa amostra, devido as idosas terem
Atividades Presentes, Passadas e Futuras obteve resultado de relacionado a função afetiva não apenas ao companheirismo
47,2, enquanto que a Participação Social resultou em 66,3. conjugal, e sim ao tipo de companhia com os amigos internos
O domínio de Morte e Morrer teve a média de 61,6 e por e externos da instituição. O envelhecer não deve ser encarado
im, o último domínio cujo assunto é intimidade obteve uma apenas como uma fase de declínio e perdas, mas também
média de 59,4. como oportunidades de vitórias como adquirir uma visão
Foi observado no domínio 1 um nível muito baixo nas maior da existência passando dessa possibilidade evolutiva
idosas institucionalizadas, visto que não obtiveram sequer a da sexualidade [22].
metade desse total que seria 50%. Segundo estudo realiza- Diante dos dados obtidos por cada questionário, foi
do, esse domínio irá afetar diretamente a vida diária dessas analisado didaticamente os domínios isolados e comparando
idosas devido a limitação da capacidade de interação com as as respostas do grupo que participava da intervenção isiote-
demais pessoas que são do seu convívio [16]. O processo de rapêutica (Grupo A ) e os que não tinham essa intervenção
envelhecimento vai ser acompanhado pelas perdas do sistema (Grupo B). No primeiro domínio a média observada foi
sensorial e as mais evidentes são as diminuições da acuidade relativamente baixa demonstrando que os sentidos das idosas
visual como também a redução da audição [17]. estão relativamente preservados, uma vez que ambos os gru-
Os resultados obtidos no segundo domínio evidenciam pos não tiveram suas médias sequer em 50, ou seja as perdas
uma diminuição da autonomia. A osteoartrose é uma doença sensoriais eram poucas e não interferiam em suas atividades.
que vai ter como sintoma inicial a dor, que é imediatamente No segundo domínio observa-se que as idosas com OA
relatada após o movimento e com o progredir da doença até apresentam um déicit signiicante na perda da capacidade
mesmo em repouso, e as deformidades em casos mais avança- funcional, pois o índice foi o menor de todo o questionário,
dos [18]. A diminuição dos movimentos articulares e rigidez não atingindo 40, porém as idosas do grupo A mantiveram
matinal ou após longo período de inatividade caracterizam um escore mais elevado do que o grupo B. Quanto ao terceiro
também sinais e sintomas da doença [10]. Todos esses sinto- domínio, o grupo B se sobressaiu um pouco do grupo A,
mas apresentados na OA vão atingir a autonomia, diicultando ambos apresentando média próxima a 50. O quarto, quinto
assim a independência nas atividades de vida diária. e sexto domínio obtiveram os maiores escores nessa amostra,
Com relação ao domínio 3, estudos referentes a este e nos três domínios foi observado uma melhor qualidade de
assunto vão corroborar com os resultados obtidos por essa vida nas idosas que são atendidas pela isioterapia.
pesquisa, uma vez que descrevem o modo insatisfeito dos Os resultados do domínio 1 mostrou que apesar de apre-
idosos com as tentativas de continuar alcançando realizações sentarem alguma diiculdade nos sentidos como audição,
pessoais e também refere a insatisfação no que diz respeito visão, olfato, paladar e o tato, não afetaram diretamente no
ao reconhecimento familiar e com o que já foi alcançado ao cotidiano dessas mulheres, e a comparação entre os grupos foi
longo de sua vida [16]. relativamente insigniicante, onde o Grupo A obteve total de
O domínio 4 obteve a melhor média encontrada nessa 43,1 e o grupo B 41,3. Essas perdas em estudo corroboram
amostra. Os resultados obtidos vão de acordo com uma com a literatura, visto que estudiosos conirmam que a visão
pesquisa a qual refere uma boa participação nas atividades está afetada nas pessoas da terceira idade devido a perda da
da comunidade pelos idosos [19]. gordura que se localiza ao redor do globo ocular, modiicando
O resultado encontrado no domínio 5 foi uma média a aparência do olho, diminuindo a produção de lágrimas e a
elevada, porém foi observado que uma grande quantidade das ixação da visão em objetos próximos [9].
idosas não referiam medo da morte, mas sim medo de sofrer Os mesmos autores destacam também a perda da audi-
para morrer, como por exemplo icar acamada. Esse resultado ção, diicultando a distinção dos diferentes sons, além da
condiz com outro estudo realizado, o qual enfatiza as questões diminuição no número das papilas gustativas e terminações
de espiritualidade, visto que grande parte dos idosos acreditam olfativas, e por im uma redução da coordenação motora ina
que a morte é a única coisa certa que se tem na vida, portanto consequentemente tornando os dedos menos sensíveis [9]. No
não se deve ter medo e sim aceitar [16]. entanto, a isioterapia não atua diretamente na reabilitação
Por im, o último domínio obteve uma pontuação razoável dos sentidos da visão, audição, olfato e paladar, descritos
quando comparada com outros domínios. Estudos confron- nesse domínio, portanto não há porque encontrar diferença
tam com a amostra em estudo, devido relatar níveis muito evidente entre os grupos.
baixos quando se refere ao estado emocional das idosas e que No segundo domínio foi notório o reduzido índice em
essas variáveis vão reduzindo com o avanço da idade [20]. Em ambos os grupos, no entanto pôde ser observado que o grupo
outro estudo as mulheres idosas também obtiveram escores A (38,8) obteve uma independência maior quando comparada
bem baixos quando estudado o aspecto da função sexual e ao grupo B (33,8). As maiores características da OA são a dor
que com o progredir da idade essa atividade sexual diminui e a diminuição da força muscular, portanto se associa esses
ainda mais [21]. escores tão reduzidos aos sintomas encontrados nessa doença
A insatisfação no que diz respeito a vida sexual pode não [23]. Nesse sentido, a isioterapia vai atuar melhorando essa

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 101

limitação funcional da OA que leva a uma incapacidade, Conclusão


atingindo a qualidade de vida dessas pessoas.
O terceiro domínio também obteve uma média muito Foi observado que a QV na amostra total foi relativamente
baixa, porém destaca-se que o grupo B em único aspecto baixa, visto que os resultados em geral não obtiveram uma
sobressaiu ao grupo A. Com relação as conquistas obtidas resposta tão satisfatória, porém na maioria dos domínios ana-
em sua vida as idosas que não fazem a isioterapia resultaram lisados, com exceção do terceiro (que se trata das atividades do
em 48,1 enquanto as que fazem correspondeu a 46,3. Esses presente, passado e futuro), as idosas que são atendidas pela
dados relativamente baixos podem ser indicativos de insa- isioterapia mantiveram-se com suas respostas apresentando
tisfações com seus familiares e até mesmo pelo modo que se uma melhor qualidade de vida quando comparadas com as
vive nas ILP. que não tinham essa assistência.
No domínio 4 houve um elevado escore nos dois grupos, É importante considerar que a concepção sobre a qualida-
porém o grupo A obteve uma média de 73,8 enquanto que de de vida, muitas vezes vem a ser mascarada e não associada
o grupo B de 58,8. Essa diferença signiicativa condiz com aos benefícios que a isioterapia trás para essas idosas, pois se
a literatura, uma vez que Marques e Kondo em sua pesquisa sabe que com o tratamento isioterapêutico o quadro doloroso
relatam que os exercícios realizados pela isioterapia vão ajudar presente na OA é reduzido e as deformidades adquiridas com
na recuperação da força muscular e na reabilitação dos pacien- o avançar da doença podem ser retardadas com essas sessões.
tes com AO [24]. Portanto demonstra a facilidade no retorno No entanto a permanência nas ILP e os motivos pelos quais
das atividades sociais mais precocemente quando comparado houve a institucionalização interferem no modo de viver
com aqueles que não estão tratando a dor, deformidades, entre dessas pessoas, e isso é um fato que pôde ser observado, que
outros sinais e sintomas. atingi diretamente o conceito delas sobre a qualidade de vida.
No quinto domínio, os escores obtidos foram relativa- Nos três últimos domínios que se referem à participação
mente altos havendo uma grande diferença entre o grupo A social, morte e intimidade foram obtidos os melhores resulta-
com total de 67,5 e o grupo B com 55,6. Curiati e Alencar dos e o grupo que realiza a isioterapia mostrou boas respostas
airmam em seu estudo que o sedentarismo, vai contribuir nesses aspectos. Pode ser considerado que a isioterapia ajuda
para que os idosos tornem-se depressivos e então aumentem as idosas a desenvolverem uma adequada interação social
os pensamentos sobre a morte [25]. O estudo desses autores tanto com os proissionais quanto com os demais residentes
condiz com a amostra em estudo, visto que as idosas entre- das ILP e desperta uma coniança no tratamento, descartando
vistadas do grupo A, demonstravam ocupar seu tempo com os pensamentos associados à morte e desencadeando uma boa
coisas boas e não se preocupavam com a morte, diferentes intimidade com as pessoas que convivem.
das do grupo B que referiam muito medo e pensamentos de Este trabalho veio comprovar que a isioterapia apresenta
como e quando iriam morrer. benefícios indispensáveis na vida dos idosos com diagnóstico
Por im, o último domínio mostrou uma diferença signi- de osteoartrose, percebendo-se também a importância da isio-
icativa quando comparado as idosas que eram atendidas pela terapia no trabalho em grupo, pois visa condições favoráveis
isioterapia, pois as em tratamento isioterapêutico apresenta- para melhoria efetiva da qualidade de vida dessas pessoas.
ram uma média de 78,1, enquanto que as que não participam Diante do exposto, é observada a importância do aten-
dessa intervenção atingiu um total de 40,6. Os resultados dimento isioterapêutico nos idosos com diagnóstico de
encontrados na amostra corroboram com outros estudos os osteoartrose, visto que esse tratamento ajudará na melhora
quais comprovam que idosos que não realizam a isioterapia do seu quadro clínico, proporcionando assim uma melhora
e permanecem diminuindo as suas atividades do cotidiano na qualidade de vida. Portanto, existi a possibilidade que a
tem tendência a adquirirem depressão, estando propensos a autoavaliação da QV desses idosos em acompanhamento
perdas, por exemplo, do desejo sexual [25]. isioterápico seja diferente quando comparados àqueles idosos
No que se refere à média geral da qualidade de vida, foi que não têm acesso a este tipo de intervenção.
obtido que as idosas que são atendidas pela isioterapia apre-
sentaram um melhor resultado quando comparadas com as Referências
que não realizam esta intervenção. As que realizam a isiotera-
pia tiveram uma média de 57.9 enquanto que o outro grupo 1. Papaleo NM, Carvalho FET. Geriatria: Fundamentos, clínica e
alcançou a média de 46.4 em uma escala que varia de 0 a 100. terapêutica. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2006.
Portanto, foi observada uma diferença notória entre os 2. Moreira, MM. Envelhecimento da população brasileira: aspectos
grupos das idosas institucionalizadas com diagnóstico de gerais. In: Wong IR. O envelhecimento da população brasileira
e o aumento da longevidade – subsídios para políticas orientadas
osteoartrose, comprovando que a isioterapia contribui sa-
ao bem estar do idoso. Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR:
tisfatoriamente para que essas mulheres tenham um melhor ABEP; 2001.
hábito de vida, adquirindo assim uma boa concepção sobre 3. Veras RP, Lourenço R, Martins CSF, Sanchez MAS, Chaves
sua qualidade de vida. PH. Novos paradigmas do modelo assistencial do setor saúde:
consequência da explosão populacional dos idosos no Brasil.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


102 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 103

Artigo 18

Incidência de episiotomia em partos normais


em uma maternidade do SUS
Incidence of episiotomy in natural childbirths
in a public maternity
Bárbara Rose Bezerra Alves Ferreira*, Eloá Mendes Silva Gomes**

*Fisioterapeuta especialista em Fisioterapia em Urologia e Professora da Faculdade Estácio de Alagoas,


**Graduanda de Fisioterapia Estácio-FAL

Resumo Abstract
Fundamentação: O parto é um processo isiológico resultante Background: he birth is a physiological process arising from the
da expulsão do feto, placenta e membranas do útero pelo canal de expulsion of the fetus, placenta and uterus of membranes through
parto. A episiotomia é um procedimento que consiste em incisar the birth canal. Episiotomy is a procedure that consists of incising
a pele e mucosa vaginal, além dos músculos do assoalho pélvico, the vaginal mucosa and skin beyond the pelvic loor muscles, incre-
aumentando o diâmetro do canal de parto. O seu uso permanece asing the diameter of the birth canal. his routine is common, but
de rotina, onde não se comprova cientiicamente os benefícios ad- there is no scientiic evidence about the beneits of this procedure,
vindos de sua realização, assim, não minimiza as chances de lesões and it not minimizes the risk of serious perineal injuries, as well as
perineais graves, como também não previne o relaxamento pélvico. not increases pelvic relaxation. Methods: his was an observational,
Métodos: Trata-se de um estudo observacional, do tipo transversal e cross-sectional and prospective study, based on the results obtained
prospectivo, baseado nos resultados obtidos com a coleta de dados from the collection of data between women at the Hospital Nossa
realizada com as puérperas do Hospital Nossa Senhora da Guia. A Senhora da Guia. he sample consisted of 100 patients over 18 years
amostra foi composta por 100 pacientes maiores de 18 anos. Para old. For data analysis, was used as a descriptive statistics, who scored
a análise dos dados, foi utilizada estatística descritiva, que quanti- data obtained with a population study. Results: It was found a value
icou os dados obtidos com a população em estudo. Resultados: Foi of 59% of mothers submitted to episiotomy, where 54% of them
encontrado um valor de 59% de puérperas que foram submetidas à had no information on the procedure, nor consented to completion.
realização de episiotomia, onde 54% destas não tiveram informações Conclusion: he results of this study showed that episiotomy is still a
sobre o procedimento realizado, tampouco consentiram a realização routine procedure in obstetrical practice, while not having enough
do mesmo. Conclusão: Os resultados desse estudo demonstraram scientiic evidence to prove the beneit of its realization.
que a episiotomia ainda é um procedimento rotineiro na prática Key-words: natural childbirth, episiotomy, SUS.
obstétrica, mesmo não tendo evidências cientíicas suicientes que
comprovem o benefício de sua realização.
Palavras-chave: parto normal, episiotomia, SUS.

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104 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução A referida técnica é um procedimento comum que passou


a fazer parte da prática clínica sem evidências cientíicas sui-
O processo isiológico do parto é resultado da expulsão do cientes que comprovassem seu benefício. O seu uso permanece
feto, placenta e membranas do útero pelo canal de parto [1]. de rotina, embora não cumpra a maioria dos objetivos pelos
Sendo este um processo natural, não deve sofrer nenhuma quais sua realização é justiicada, ou seja, não minimiza as
interferência no seu curso [2]. chances de lesões perineais graves, como também não previne
O Parto normal, também chamado vaginal é o parto onde o relaxamento pélvico [11].
ocorre a expulsão do feto através do canal de parto, ou seja, Muito pelo contrário, de acordo com estudos, observa-se
a vagina. Em alguns casos, esse tipo de parto é considerado grandes complicações advindas da prática da episiotomia,
como o parto a qualquer custo, ou sem a participação ativa da onde as mais signiicativas são: incontinência urinária ou fecal,
mulher, onde são realizadas várias intervenções desnecessárias, prolapsos e redução da força muscular do assoalho pélvico
entre elas a episiotomia [3]. A episiotomia é deinida como um quando comparada com os casos que ocorrem lacerações
procedimento que consiste em incisar a pele e mucosa vaginal, espontâneas. A presença de episiotomia também aumenta as
além dos músculos contíguos (como o períneo), aumentando chances de dor, hemorragia pós-parto, infecções, hematomas
o diâmetro do canal de parto, permitindo assim a saída da e disfunções sexuais [12,13].
cabeça do feto [4]. A Organização Mundial de Saúde recomenda que não se
A episiotomia no parto normal está entre os temas mais deve proibir a episiotomia, pois em alguns casos realmente é
discutidos ultimamente na área da obstetrícia, sendo consequen- necessária a sua prática, mas é necessário restringir o seu uso.
temente alvo de grandes polêmicas entre diversos proissionais Porém não icou claro ainda em que situações é indispensável
envolvidos no assunto. Nos dias atuais, a episiotomia é um a sua realização, visto que até mesmo os partos instrumentais
dos procedimentos mais corriqueiros em obstetrícia, sendo podem ser realizados sem a intervenção [12].
suplantado somente pelo pinçamento e corte do cordão De acordo com uma revisão sistemática publicada pela
umbilical [5]. biblioteca Cochrane em 2006, a episiotomia seletiva se com-
A primeira menção à episiotomia foi feita por Ould, em parada à usada de forma rotineira associa-se a menores riscos de
1741, como método para prevenir lacerações severas, e ser usado traumas de períneo posteriores ao parto e diminui a necessidade
raramente. Todavia, esta intervenção passou a ser recomendada de sutura e menos complicações, principalmente no que diz
por dois exímios ginecologistas, De Lee e Pomeroy, na primeira respeito à cicatrização, e que só é indicada em situações onde
metade do século passado, período que coincidiu com o início ocorra sofrimento fetal, feto em apresentação pélvica, progres-
da prática da hospitalização para a assistência ao parto. De Lee são insuiciente de parto e nos casos em que ocorra uma ameaça
(1915) indicou o uso da episiotomia de rotina, preferindo a de laceração perineal de terceiro ou quarto grau [14].
incisão médio-lateral, enquanto Pomeroy (1918) expressou Existem algumas medidas de proteção perineal, que
sua preferência pela episiotomia mediana, principalmente nas apresentam como objetivos a prevenção de traumas e o rela-
primigestas, para evitar roturas perineais extensas [6]. xamento pélvico, como por exemplo, a técnica de contenção
A episiotomia pode ser lateral, médio-lateral e mediana, do períneo e a massagem perineal respectivamente [15].
neste caso, denominada de perineotomia. A episiotomia lateral A técnica de contenção do períneo é executada da se-
está em desuso por suas complicações, pois essa região, além guinte forma: no momento do parto, é oferecido um apoio
de muito vascularizada, ainda pode lesar os feixes internos no períneo com uma das mãos do proissional, enquanto a
do músculo elevador do ânus. A episiotomia médio-lateral outra mão tenta controlar a velocidade da cabeça do feto
é a mais usada, e a incisão abrange pele, mucosa vaginal, no coroamento, tentando assim evitar ou reduzir os danos
aponeurose supericial do períneo e ibras dos músculos bul- perineais [15]. Já a massagem perineal é realizada no período
bocavernoso e do transverso supericial do períneo e algumas expulsivo por meio de movimentos circulares (em forma de
vezes, ibras internas do elevador do ânus [7]. A episiotomia “U”) utilizando o dedo médio e indicador introduzidos até a
mediana apresenta grande facilidade de suturação e menor segunda falange na vagina da parturiente, promovendo assim
associação com dor no pós – parto e dispareunia. Contudo, um relaxamento da musculatura e evitando também danos
é mais associada com as lacerações de 3º e 4º graus, ou seja, perineais causados por uma provável rigidez muscular [16].
lesões mais graves [8]. O objetivo geral do presente estudo foi analisar a incidência
Os danos que acometem o períneo, devido à realização da da episiotomia em partos normais acontecidos em uma mater-
episiotomia, são classiicados de acordo com o comprometi- nidade SUS de Maceió, obtendo também resultados pertinentes
mento causado. É considerado de 1º grau quando atinge pele à dor perineal no pós-parto imediato.
e mucosa apenas, 2º grau, quando afeta os músculos e fáscia
do períneo, 3º grau, quando compromete o esfíncter anal e Material e métodos
4º, quando ocorre lesão da mucosa retal. As lesões de 1º e 2º
graus são ditas lesões leves, enquanto as de 3º e 4º graus são Trata-se de uma pesquisa observacional, do tipo trans-
consideradas severas [9,10]. versal e prospectiva, baseada nos resultados obtidos pela

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 105

coleta de dados do questionário aplicado nas puérperas do maioria dos partos normais, onde o seu uso é realizado quase
Hospital Nossa Senhora da Guia (HNSG), no período de sempre de forma rotineira [9,17].
dezembro a janeiro de 2011/12. A amostra foi composta Os resultados obtidos no presente estudo demonstram
por 100 pacientes, onde a idade variou entre 18 e 41 anos. que 59% dos partos normais foram realizados com a presença
A realização deste obedeceu aos princípios éticos para da episiotomia, conirmando que esse procedimento ainda é
pesquisa envolvendo seres humanos, conforme a resolução bastante usado na prática médica, apesar das recomendações
196/96 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da da OMS.
Saúde (CNS/MS), sendo aprovado pelo Comitê de ética A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
em pesquisa (CEP) da Faculdade Estácio de Alagoas sob Obstetrícia (FEBRASGO), não recomenda o uso da episioto-
protocolo 201111/039. As voluntárias assinaram o termo de mia de rotina e ressalta a importância de que para ser realizada,
consentimento livre e esclarecido (TCLE) para participação deverão ser dadas todas as informações necessárias, e que como
na presente pesquisa. todo procedimento cirúrgico só deve ser realizado com o
Os critérios de inclusão consistiram em puérperas com consentimento da paciente, uma vez que a episiotomia é um
idade acima de 18 anos que tiveram parto normal e con- dos únicos procedimentos realizados sem o consentimento
cordaram em participar da pesquisa voluntariamente, além prévio da mesma [18].
da assinatura do documento TCLE, onde foi garantido o Evidencia-se que 54% das parturientes não obtiveram
anonimato das participantes. informações sobre o procedimento realizado e que 46% foram
Foram excluídas da pesquisa puérperas que não quiseram informadas. Porém, vale ressaltar que todas as entrevistadas
participar voluntariamente, com idade fora da faixa etária apenas foram informadas ou não informadas, mas nenhuma
apresentada nos critérios de inclusão e puérperas submetidas delas deu consentimento para a realização do procedimento
à parto cesárea. como recomenda a FEBRASGO.
A princípio foram analisados os prontuários e identiicados Durante o parto normal, algumas mulheres podem so-
de acordo com o tipo de parto, sendo escolhidas para a entre- frer algum tipo de lesão perineal, quer seja uma laceração
vista apenas as que tiveram parto normal e se encontravam espontânea quer seja uma incisão cirúrgica (episiotomia).
nas enfermarias do Hospital Nossa Senhora da Guia. Os estudos evidenciam que se ocorrer alguma iminência de
A aplicação do questionário foi feita de forma breve, laceração espontânea de primeiro ou segundo grau, não é
sem causar nenhum tipo de constrangimento, onde todas as indicação para a realização da episiotomia de rotina, pois é
perguntas foram explicadas de forma clara pelo pesquisador comprovado que não traz nenhum benefício demonstrável
para que não persistisse nenhum tipo de dúvida, sendo assim para mãe ou para o feto [19].
alguns termos técnicos foram explicados de forma simples e Como resultado do estudo mostra-se que 49% das
objetiva para que as puérperas pudessem ter entendimento mulheres que não sofreram episiotomia, tiveram laceração
sobre o assunto. espontânea do períneo, sendo estas de primeiro ou segundo
A análise estatística utilizada foi a descritiva, onde os dados grau; e 51% mantiveram-se com períneo íntegro.
obtidos com a população em estudo foram quantiicados, De acordo com evidências cientíicas, as lacerações espon-
analisados em porcentagem, média e desvio padrão, sendo tâneas apresentam melhores resultados que a episotomia no
resumidos e expostos em tabelas e gráicos do tipo pizza, do que diz respeito à perda sanguínea, dor, dispareunia, cicatri-
programa Excel 2010 for Windows XP®. zação e retomada da função muscular, ou seja, as lacerações
provocam menos prejuízos para a mulher [20].
Resultados e discussão Em um estudo randomizado controlado que foi realizado
com 61 puérperas que sofreram episiotomia, 65,5% referiram
No decorrer da pesquisa aconteceu um total de 479 partos dor no pós-parto, contra 41,4%. Outro estudo realizado na
na Maternidade Nossa Senhora da Guia, onde 258 foram par- Argentina contou com a presença de 2606 mulheres, onde
tos cesáreas e 221 partos normais. Do total de partos normais também icou evidente que além da dor perineal, as compli-
citados, 165 ocorreram em mulheres acima de 18 anos e 56 cações locais também estavam associadas à realização do pro-
nas menores de idade. Sendo o presente estudo realizado com cedimento. Demonstra-se assim, uma associação signiicativa
100 pacientes provenientes de parto normal, observa-se um entre dor perineal e episiotomia [21,22].
número bastante signiicativo na amostra estudada. Em comparação com os estudos citados anteriormente,
A idade média das voluntárias da pesquisa foi de 23,1 ± 4,9 observa-se realmente no atual estudo que a presença de dor
anos, sendo a idade mínima 18 anos e a máxima 41 anos, da- perineal tem uma grande prevalência nas mulheres vítimas
dos esses utilizados apenas para descrever a presente amostra. de episiotomia, onde 58% das puérperas que sofreram epi-
De acordo com diversos ensaios clínicos, os quais discutem siotomia relataram a presença de dor perineal, enquanto que
a taxa ideal para ser realizada a episiotomia, não se encontra 42% não referiram presença de dor.
um número exato, porém a OMS sugere que a frequência A presença de algia perineal no período puerperal gera
ideal deveria ser em torno de 10%, e não como acontece na muitas diiculdades para a mulher, como por exemplo: a

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


106 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

movimentação, a realização das atividades cotidianas, o a maiores ocorrências de lacerações no períneo, aumento da
cuidado com o recém-nascido, interfere na qualidade do duração do trabalho de parto e do risco de sofrimento fetal,
sono, no repouso, na micção e evacuação, onde todas essas pois na posição supina ocorre uma pressão na veia cava infe-
diiculdades acabam gerando problemas físicos e emocionais rior, onde o luxo sanguíneo é diminuído para o feto [26-28].
na vida da mesma, provocando assim uma experiência nega- No passado a episiotomia era usada como medida proi-
tiva do parto [23]. lática com o objetivo de prevenir traumas perineais severos.
Andrews et al. [24] em seu recente estudo avaliou 241 No entanto evidencia-se o maior erro em relação ao uso da
mulheres no período do puerpério e identiicou que 92% episiotomia, pois a mesma quando utilizada já é por si só
apresentaram dor perineal após o parto independente do uma lesão de segundo grau e responsável por severas com-
trauma perineal sofrido. plicações na vida da mulher, e deinitivamente não seria o
Foi demonstrado na pesquisa que há presença de dor uso da episiotomia uma maneira de prevenir ou minimizar
mesmo se tratando de ausência de episiotomia, sendo que em um dano perineal, uma vez que esse procedimento já é uma
uma porcentagem menor, do que quando esse procedimento lesão grave [29-31].
é realizado. O estudo evidenciou que 36% das pacientes As complicações causadas pelo uso da episiotomia em pri-
apresentaram dor perineal, enquanto 64% não. meiro momento podem ser dor e inlamação apenas, porém as
Os dados acima apresentados corroboram com a literatura complicações mais graves como incontinência urinária e fecal,
comprovando que uma mulher submetida à episiotomia prolapsos, dispareunia, dentre tantas outras, podem aparecer
apresenta uma experiência maior de dor. Podendo ainda estar um pouco depois e não necessariamente imediatamente após
sujeita a maiores complicações, como maior perda sanguínea, o parto [29].
hematoma e infecções quando comparada com outros traumas
perineias [25]. Conclusão
Existem algumas medidas de proteção perineal que são
utilizadas na obstetrícia, como por exemplo, o suporte e a De acordo com os resultados obtidos neste estudo, pode-se
massagem perineal. Se tratando da técnica de suporte pe- veriicar que a episiotomia ainda é um procedimento rotineiro
rineal, a mesma se mostra eicaz na prática, visando evitar na prática obstétrica, e que as parturientes não apresentam
que a musculatura sofra severos danos, todavia não existem nenhum conhecimento sobre o mesmo, além de não terem
evidências cientíicas suicientes que constatem a eicácia da o conhecimento de técnicas alternativas como o suporte
referida técnica. Em um estudo experimental, randomizado perineal, as quais ainda são pouco utilizadas.
e controlado concluiu que a ocorrência do trauma perineal, Muitas vezes uma visão pessimista do parto é criada
pode estar mais associada à posição da parturiente durante o devido a intervenções como a episiotomia, que mesmo sem
parto, ao uso de ocitocina sintética, ao tipo de puxo realiza- evidências cientíicas que comprovem seus benefícios ainda
do, ao suporte emocional oferecido e as orientações que são são utilizados como ferramenta para o processo do parto que
dadas a mulher no parto do que a prevenção ser realizada pela é um ato natural e isiológico do organismo da mulher.
técnica de contenção propriamente dita [14]. No entanto, Desta forma sugere-se que novas pesquisas sejam realiza-
no que diz respeito à massagem perineal, alguns estudos das, com foco, neste caso, nos proissionais envolvidos com
vem demonstrando que a mesma está se tornando eicaz na o parto, para assim explicitar melhor o motivo pelo qual esta
redução de traumas perineais, como mostra em um estudo prática ainda é tão utilizada.
que ocorreu uma redução de 6,1% nas taxas de lacerações e
episiotomias nas pacientes que realizaram a massagem [16]. Referências
Foi observado no presente estudo que de acordo com a
literatura citada anteriormente, a técnica de suporte perineal 1. Bodiajina VI. Manual de Obstetrícia. Moscovo: Mir; 1985.
não é utilizada com frequência pelos proissionais da área obs- p. 415.
tétrica como se pode observar a insigniicante porcentagem da 2. Saito E, Riesco MLG, Oliveira SMJV. Condutas no parto
normal. In: Barros SMO. Enfermagem no ciclo gravídico –
realização da mesma, apenas 1%. Tendo em vista, de acordo
puerperal. São Paulo: Manole; 2006.
com os resultados, que a não realização do procedimento pode
3. Ferreira BRBA. Parto, puerpério e lactação. Curso de Fisiote-
realmente estar ligada ao fato de não possuir claras evidências rapia, disciplina de Fisiopatologia Clínica em Ginecologia e
na literatura que comprovem seu benefício. Obstetrícia. Nota de Aula; 2011. p. 55.
A posição adotada pela parturiente no momento do parto, 4. Prates AJ. Prevalência de dor decorrente da episiotomia no pós-
na presente pesquisa, foi de 100% em posição supina. Estudos -parto imediato das puérperas do Hospital Nossa Senhora da
relacionados ao que diz respeito à posição da mulher durante Conceição – SC [monograia]. Santa Catarina: Universidade
o parto, mostram que as mulheres que evitaram a posição do sul de Santa Catarina; 2006.
litotômica e adotaram a posição lateral esquerda apresentaram 5. Osava RH. Assistência ao parto no Brasil: um lugar do não mé-
maior prevalência de períneo íntegro em comparação com as dico [Tese]. São Paulo: Faculdade de saúde pública (USP); 1997.
6. Neme B. Obstetrícia básica. 2nd ed. São Paulo: Sarvier; 2000.
que optaram pela posição de litotomia, a qual foi associada
p. 190-213.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 107

7. Ziegel EE, Cranley MS. Enfermagem Obstétrica. 8nd ed. Rio 20. Beleza ACS, Nakano MAS, Santos CB. Práticas obstétricas:
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2000;320(7250):1615-6. 21. Silva SF. Sutura do trauma perineal no parto normal: estudo
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moderna. Femina 2008;36:47-54. tpartum perineal pain and dyspareunia- a prospective study. Eur
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Update software. 27. Abeche AM, Teruchkin B, Leite CSM, Mucenic M.
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16. Shipman MK, Boniface DR, Teft ME, McC loghry F. Antenatal na assistência ao parto. In: Textos de apoio do 2º Seminário
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


108 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 19

Qualidade de vida de mulheres na fase do climatério


residentes no meio urbano e no meio rural
Quality of life of women during the climacteric residents
in urban and rural areas
Carla Monique Ribeiro de Aquino*, Katheyrine Lorena Bráz Santos**, Maria hereza Albuquerque B. C. Micussi***,
Elizabel de Souza Ramalho Viana****, Lílian Lira Lisboa*****

*Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Graduada em Fisioterapia pela Universi-
dade Federal do Rio Grande do Norte, ***Doutoranda do Programa de pós-graduação em Ciências da Saúde - Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, ****Docente adjunta do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
*****Docente assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo Abstract
Fundamentação: O parto é um processo isiológico resultante Background: he birth is a physiological process arising from the
da expulsão do feto, placenta e membranas do útero pelo canal de expulsion of the fetus, placenta and uterus of membranes through
parto. A episiotomia é um procedimento que consiste em incisar the birth canal. Episiotomy is a procedure that consists of incising
a pele e mucosa vaginal, além dos músculos do assoalho pélvico, the vaginal mucosa and skin beyond the pelvic loor muscles, incre-
aumentando o diâmetro do canal de parto. O seu uso permanece asing the diameter of the birth canal. his routine is common, but
de rotina, onde não se comprova cientiicamente os benefícios ad- there is no scientiic evidence about the beneits of this procedure,
vindos de sua realização, assim, não minimiza as chances de lesões and it not minimizes the risk of serious perineal injuries, as well as
perineais graves, como também não previne o relaxamento pélvico. not increases pelvic relaxation. Methods: his was an observational,
Métodos: Trata-se de um estudo observacional, do tipo transversal e cross-sectional and prospective study, based on the results obtained
prospectivo, baseado nos resultados obtidos com a coleta de dados from the collection of data between women at the Hospital Nossa
realizada com as puérperas do Hospital Nossa Senhora da Guia. A Senhora da Guia. he sample consisted of 100 patients over 18 years
amostra foi composta por 100 pacientes maiores de 18 anos. Para old. For data analysis, was used as a descriptive statistics, who scored
a análise dos dados, foi utilizada estatística descritiva, que quanti- data obtained with a population study. Results: It was found a value
icou os dados obtidos com a população em estudo. Resultados: Foi of 59% of mothers submitted to episiotomy, where 54% of them
encontrado um valor de 59% de puérperas que foram submetidas à had no information on the procedure, nor consented to completion.
realização de episiotomia, onde 54% destas não tiveram informações Conclusion: he results of this study showed that episiotomy is still a
sobre o procedimento realizado, tampouco consentiram a realização routine procedure in obstetrical practice, while not having enough
do mesmo. Conclusão: Os resultados desse estudo demonstraram scientiic evidence to prove the beneit of its realization.
que a episiotomia ainda é um procedimento rotineiro na prática Key-words: natural childbirth, episiotomy, SUS.
obstétrica, mesmo não tendo evidências cientíicas suicientes que
comprovem o benefício de sua realização.
Palavras-chave: parto normal, episiotomia, SUS.

Endereço para correspondência: Carla Monique Ribeiro de Aquino, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Rua Íris, 39, 59025-240 Natal
RN, E-mail: carlamribeiro@yahoo.com.br

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 109

Introdução as informações por meio de uma pesquisa populacional, sendo a


subamostra urbana colhida no município de Natal e a subamos-
A partir dos anos 80, o envelhecimento populacional tra rural em comunidades da cidade de São Rafael, no Estado
tornou-se um fenômeno global, inicialmente, observado do Rio Grande do Norte. O estudo foi realizado respeitando as
nos países desenvolvidos e, mais recentemente, nos países normas éticas estabelecidas na resolução nº 196/96 do Conselho
em desenvolvimento. O Brasil passa por um processo de Nacional de Saúde, para pesquisa envolvendo seres humanos, e
envelhecimento acelerado e intenso, podendo, a proporção o estudo foi aprovado pelo comitê de ética, número 115/2004
de brasileiros com mais de 60 anos, em 2025, chegar a 14%. em pesquisa da UFRN. Todas as participantes assinaram o Ter-
Uma vez que a expectativa de vida das mulheres geralmente mo de Consentimento Livre e Esclarecido. A amostra do tipo
ultrapassa a dos homens, isso justiica a maior procura nos intencional conta com um total de 30 mulheres climatéricas,
serviços de saúde brasileiros com queixas relacionadas ao entrevistadas no mês de abril/2011, sendo divididas em dois
climatério. De acordo com o Ministério da Saúde, o limite grupos: 15 do meio urbano e 15 do meio rural, as quais foram
etário estabelecido para o climatério é o período entre 40 a selecionadas por contatos nas comunidades ou por indicação
65 anos de idade [1-5]. de mulheres de seu convívio social.
O climatério é a fase da vida da mulher em que ocorre a Os critérios de inclusão para ambos os grupos foram: idade
transição do período reprodutivo – menacme ao não repro- entre 45 e 65 anos e capacidade cognitiva para responder aos
dutivo- senectude e está dividido em: pré-menopausa – inicia, questionamentos. Os critérios de exclusão compreenderam
em geral, após os 40 anos, com diminuição da fertilidade em mulheres com história prévia de ooforectomia bilateral e
mulheres com ciclos menstruais regulares ou com padrão histerectomia (menopausa artiicial).
menstrual similar ao ocorrido durante a vida reprodutiva; Foi utilizado um questionário semi-estruturado de dados
perimenopausa- inicia dois anos antes da última menstruação sociais, demográicos, socioeconômicos e ginecológicos, adi-
e vai até um ano após (com ciclos menstruais irregulares e cionado ao questionário de qualidade de vida especíico para
alterações endócrinas); pós-menopausa – começa um ano o climatério (UQOL), aplicados por estudantes do curso de
após o último período menstrual [2,5,6-8]. isioterapia previamente treinados na aplicação dos instru-
Nesse período, há uma regressão na produção de estró- mentos, de forma individualizada.
genos causando alterações físicas hormonais, metabólicas, O questionário semi-estruturado abrangeu questões refe-
somáticas, psíquicas e sociais, sofrendo inluências do con- rentes à idade, estado civil, escolaridade, ocupação, história
texto sociocultural, da família, do ambiente e psiquismo; que reprodutiva, classe social, hábitos de vida e doenças associadas.
se manifestam ou não por sinais e sintomas (instabilidade O instrumento de avaliação de qualidade de vida especíico para
vasomotora, distúrbios menstruais, sintomas psicológicos, o climatério (UQOL) [17] avalia as mulheres climatéricas em
distúrbios cognitivos, insônia, atroia gênito-urinária e, no quatro domínios: ocupacional, emocional, saúde e sexual. Para
longo prazo, osteoporose e alterações cardiocirculatórias) que quantiicar, os dados foram inseridos na tabela dos domínios,
caracterizam a síndrome climatérica [1,2,3,6,9-11]. sendo caracterizados com valores distintos. Nos domínios ocu-
Na esfera cognitivo-comportamental, no climatério, pacional, saúde, emocional e sexual quanto mais próximos de
não são raras mudanças comportamentais, maior labilidade 13, 11, 12 e 0, respectivamente, pior será a qualidade de vida.
emocional e até diiculdades com a memória. Dependendo da Já quanto mais próximos de 35, 31, 28 e 15, respectivamente,
intensidade e da frequência, as ondas de calor podem interferir melhor será a qualidade de vida. Ao inal é feita soma de todos
no sono e nas atividades cotidianas, causando irritabilidade e os domínios, tendo como base a pior qualidade de vida com
depressão. A maior ocorrência de depressão no climatério está escore de 48 pontos e a melhor com 100 pontos.
relacionada ao medo de envelhecer, aliado a sentimentos de Para análise estatística dos dados, foram utilizados o
inutilidade, perda da juventude e carência afetiva. Todos esses software SPSS for Windows 13.0 (SPSS, Chicago, IL),
aspectos são capazes de ocasionar impacto negativo sobre a adotando-se nível de signiicância de 5% em todos os proce-
qualidade de vida da mulher [1,2,12-14]. dimentos estatísticos. Para analise da normalidade de dados
Diante do exposto, o propósito desse estudo foi comparar foi utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov. Para veriicar
a qualidade de vida de mulheres residentes no meio rural e associações entre variáveis qualitativas foram empregados os
no meio urbano, de forma a compreender melhor a inluên- testes qui-quadrado e o teste exato de Fisher. Na avaliação
cia do contexto sociocultural sobre a síndrome climatérica, das variáveis quantitativas foi utilizado o teste t para amostras
empregando o UQOL (Utian quality of life) e o protocolo independentes para comparar os grupos.
de pesquisa [17].
Resultados
Material e métodos
Essa pesquisa tratou-se de estudo de corte transversal, que
Realizou-se um estudo observacional, analítico de corte teve como objetivo comparar a qualidade de vida de mulhe-
transversal. A pesquisa realizada é do tipo clínico, colhendo-se res do meio urbano e do meio rural. A amostra analisada foi

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


110 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

constituída por 60% das mulheres variando de 45 a 54 anos, emocional e saúde. No entanto, ao se comparar os dados,
sendo o grupo rural detentor de 40% das mulheres na faixa de segundo a ocupação e ao emocional, constatou-se que as
idade entre 45-54, estando as demais entre 55-64 anos, com mulheres do grupo urbano apresentam melhor qualidade de
prevalência de 60%; o grupo urbano apresentou 80% na faixa vida; já ao se analisar os dados de saúde, as mulheres do grupo
etária entre 45-54 e as demais distribuídas nas faixas etárias de rural apresentam melhor qualidade de vida, igualmente para
35-44 anos e 55-64 anos com 6,7% e 13,3%, respectivamente. a sexualidade, sendo esse com diferença de valores signiica-
tivos entre os grupos. Esses dados podem ser visualizados na
População rural Tabela I.

Na análise referente aos dados dos antecedentes obstetrí- Tabela I - Qualidade de vidadas mulheres na fase do climatério da
cios, conclui-se que 11 delas (73,3%) tiveram de 1 a 3 ilhos, população urbana e da população rural.
sendo a maioria submetida ao parto normal (76,9%). Nos DOMINIOS Mulheres da Mulheres da P valor
dados socioeconômicos, observa-se que uma maior quantida- população população
de (53,3%) tem uma renda familiar mensal de 2 a 3 salários urbana rural
mínimos, onde 60% delas trabalham extradomiciliar, com (n = 15) (n = 15)
grau de escolaridade igual ou superior a 9 anos de estudo. UQOL ocupa- 26,87 (± 3,85) 26,33 (± 3,88) 0,709
Em relação ao estado civil, 46,7% são casadas ou apresen- ção
tam união estável. Observando-se os hábitos de vida, 60% das UQOL emo- 17,87 (± 2,56) 17,67 (± 3,06) 0,848
mulheres não são praticantes de atividade física regularmente cional
(3 ou mais vezes por semana, pelo menos 40 minutos/vez). Em UQOL saúde 17,00 (± 4,05) 18,87 (± 3,72) 0,199
análise dos dados ginecológicos, 73,3% não apresentam mais UQOL sexual 8,07 (± 4,02) 10,93 (± 0,88) 0,016*
menstruação e essa parou há mais de um ano. Ao analisar as UQOL total 69,80 (±9,22) 73,08 (± 7,59) 0,206
doenças associadas, todas as mulheres apresentam algum tipo *P ≥ 0,05
de doença que necessita de acompanhamento médico (diabetes,
pré-diabetes, hipertensão, doença do coração, dislipidemia, os- Discussão
teoporose, outras). Dessa amostra, 80% não apresentam perda
involuntária de urina associada a essas doenças. É cada vez maior, o número de mulheres que se preocupam
em ter vida saudável, livre de incapacidades, doenças e sinto-
População urbana mas desagradáveis que prejudicam o lazer, os relacionamentos
interpessoais e o trabalho, mais do que apenas ter vida longa.
Analisando-se os antecedentes obstetrícios, 93,3% dessas As características de uma vida saudável são a essência do que
mulheres tiveram de 1 a 3 ilhos, sendo que a maioria (60%) signiica qualidade de vida relacionada à saúde [9].
tiveram seus ilhos de parto normal. Observando os dados De acordo com o domínio de ocupação, não houve
socioeconômicos, a maior parte da amostra (80%) possui diferença signiicativa, mas houve uma pequena diferença
renda familiar mensal de 4 ou mais salários mínimos, tendo nos valores em que foi demonstrado que mulheres do grupo
a maioria (66,7%) delas ocupação extradomiciliar. Quanto urbano apresentaram melhor qualidade de vida, provavel-
ao grau de escolaridade, 86,7% apresentam de 9 a mais anos mente por uma maior quantidade de mulheres trabalharem
de estudo e 53,3% são casadas ou tem união estável. fora. Galvão et al. [3], mostrou signiicância estatística para
Ao analisar os hábitos de vida, a maioria mulheres esse mesmo domínio e fez um comentário adicional, que as
(73,3%) não pratica atividade física regularmente (3 ou mais mulheres que trabalham fora apresentaram melhor qualidade
vezes por semana, pelo menos 40 minutos/vez). Em relação de vida no geral.
aos dados ginecológicos, 46,7% apresentam menstruação Analisando os dados emocionais, não foi mostrado signi-
regularmente. No que toca às doenças associadas, todas as icância estatística. Porém, as mulheres do meio urbano apre-
mulheres apresentam algum tipo de doença que necessita de sentaram melhor qualidade de vida, o que pode ser explicado
acompanhamento médico, sendo elas: diabetes, pré-diabetes, por uma maioria delas ser casada, o que vai de encontro com
hipertensão, doença do coração, dislipidemia, osteoporose, os dados da literatura que dizem que há uma melhor quali-
outras. Desse universo, 80% delas não apresentam perda de dade de vida quando se tem um relacionamento conjugal e
urina involuntária associada a essas doenças. que acreditam que a desarmonia familiar, falta de diálogo e
desamor levam a tristeza e infelicidade. Tal fato, também pode
Avaliação da qualidade de vida relacionada ter relação com a idade, pois as mulheres do grupo urbano,
com a saúde em menor quantidade, possuem idade maior que 50 anos, o
que é justiicado na literatura que a sintomatologia depressiva
Na avaliação da qualidade de vida das mulheres, não foi mostra-se altamente prevalente em indivíduos com idade
evidenciada diferença signiicativa nos domínios de ocupação, acima dos 50 anos, em ambos os sexos [2,8].

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 111

Em analise dos dados referentes à saúde, as mulheres da Referências


população rural apresentaram melhor qualidade de vida,
apesar de não haver diferença signiicativa entre elas. Elavsky 1. Lorenzi DRS, Catan LB, Moreira K, Ártico GR. Assistência
et al. [18], em seu estudo envolvendo 133 mulheres com à mulher climatérica: novos paradigmas. Rev Bras Enferm
idade concentrada de 44 a 60 anos, submetidas a atividades 2009;62(2):287-93.
físicas, durante 12 meses, concluiu que, além de melhora 2. Serrão C. (Re) pensar o climatério feminino. Anál Psicol
2008;1(26):15-23.
da percepção de severidade dos sintomas menopausais, o
3. Berni NIO, Luz MH, Kohlrausch SC. Conhecimento, percep-
sentimento de vigor físico atua positivamente na sensação ções e assistência à saúde da mulher no climatério. Rev Bras
psicológica de bem-estar, na vitalidade, na saúde mental, Enferm 2007;60(3):299-306.
nos aspectos emocionais, ou seja na qualidade de vida de 4. Zampiere MFM, Falcon GS, Tavares CMA, Silva AL, Ha-
forma geral. mes MLC, Gonçalves LT. O processo de viver e ser saudável
No aspecto sexual, houve diferença signiicativa entre os das mulheres no climatério. Esc Anna Nery Rev Enferm
grupos, sendo que o grupo das mulheres do meio rural apre- 2009;13(2):305-12.
sentou uma melhor qualidade de vida. Em relação à idade as 5. Fernandes ALRV, ed. Sexualidade em mulheres entre 40 e 65
mulheres do meio rural, em sua maioria, possuem mais que 50 anos e com onze anos ou mais de escolaridade: estudo de base
anos, o que contradiz o estudo realizado por Fernandes [19], populacional. Campinas: Unicamp; 2007. Disponível em
URL: http://cutter.unicamp.br/document/?code=vtls000429
em que foi veriicada correlação signiicativa entre sexualidade
235&opt=1.
ruim e idade maior que 50 anos. Um estudo longitudinal 6. Silva Filho CR, Baracat EC, Conterno LO, Haidar MA,
australiano relatou efeito negativo da idade na frequência Ferraz MB. Climateric Symptoms and quality of life: vali-
da atividade sexual, no interesse, e em aspectos da resposta dity of women´s health questionnaire. Rev Saúde Pública
sexual como excitação, prazer e orgasmo [19]. Além disso, 2005;39(3):333-9.
em relação ao estado civil, uma menor quantidade é casada 7. Santos LM, Eserian PV, Rachid LP, Cacciatore A, Bourget
ou vive em união estável, o que é explicado por Pedro et al. IMM, Rojas AC et al. Síndrome do climatério e qualidade de
[20], que diz que as mulheres que convivem com parceiro vida: uma percepção das mulheres nessa fase da vida. (no prelo).
apresentam maior prevalência de queixas genitais do que as 8. Fernandez MR, Gir E, Hayashida M. Sexualidade no período
climatérico: situações vivenciadas pela mulher. Rev Esc Enferm
que não convivem.
USP 2005;39(2):129-35.
Ao inal desse estudo pode-se observar que os dois grupos 9. Gonçalves GC, Moreira MA, Normando VM. Atuação isiote-
apresentaram uma boa qualidade de vida em todos os domí- rapêutica à mulher no climatério. (no prelo).
nios, por suas pontuações chegarem próximo a 100. Sendo 10. Aedo SM, Porcile AJ, Irribarra CA. Calidad de Vida Relacio-
que a população rural mostrou ter maiores escores quando nada conel Climaterioen uma Población Chilena de Mujeres
comparada com a população urbana, o que pode ser justii- Saludables. Revista Chil Obstet Ginecol 2006;71(6):402-9.
cado por Silveira et al. [15], em que avaliando mulheres do 11. Galvão LLL, Farias MCS, Azevedo PRM, Vilar MJP, Azevedo
meio urbano e rural quanto a sintomatologia climatérica e os GD. Prevalência de transtornos mentais comuns e avaliação
fatores relacionados observou que as mulheres do meio rural da qualidade de vida no climatério. Rev Assoc Méd Bras
apresentam menor prevalência de sinais e sintomas. 2007;53(5):414-20.
12. Zahar SEV, Aldrighi JM, Pinto Neto AM, Conde DM, Zahar
Desse aprendizado, sugere perspectivas no campo da
LO, Russomano F. Qualidade de vida em usuárias e não usu-
qualidade de vida das mulheres na fase do climatério, prin- árias de terapia de reposição hormonal. Rev Assoc Méd Bras
cipalmente fazendo essa comparação entre população rural e 2005;5(13):133-8.
urbana, por motivo da amostra utilizada no presente estudo 13. Lorenzi DRS. Avaliação da qualidade de vida no climatério. Rev
ter sido relativamente pequena, não houve praticamente Bras Ginecol Obstet 2008;30(3):103-6.
diferença signiicativa entre os dados, por isso também se 14. Polisseni AF, Araújo DAC, Polisseni F, Mourão Júnior CA,
sugere um maior número de mulheres contatadas. Sugere-se Polisseni J, Fernandes ES et al. Depressão e ansiedade em mu-
também que a amostra do meio rural seja contatada através lheres climatéricas: fatores associados. Rev Bras Ginecol Obstet
do PSF (Programa da Saúde da Família), já que a amostra do 2009;31(1):28-34.
15. Valença CN, Nascimento Filho JM, Germano RM. Mulher no
presente estudo foi constituída por mulheres com alto grau
climatério: relexões sobre desejo sexual, beleza e feminilidade.
de escolaridade. Saúde Soc 2010;19(2):273-85.
16. Silveira IL, Petronilo PA, Souza MO, Silva TDNC, Duarte
Conclusão JMBP, Maranhão TMO et al. Prevalência de sintomas do cli-
matério em mulheres do meio rural e urbano no Rio Grande
A qualidade de vida das mulheres da população rural é do Norte, Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2007;29(8):420-7.
melhor em relação aos domínios sexual e saúde; já em relação 17. Galvão LLLF. Tradução, adaptação e validação da versão bra-
aos domínios ocupação e emocional as mulheres da população sileira do questionário Utian Quality of Life (UQOL) para
urbana apresentaram melhor qualidade de vida. avaliação da qualidade de vida no climatério. [Dissertação].
Natal: UFRN; 2007.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


112 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

18. Prado MP, Fuenzalida A, Jara d, Figuerosa R, Flores D, Blumel 22. Pedro AO, Pinto AMN, Costa LHSA, Osis MJD, Hordy EE.
JE. Evaluación de lacalidad de vida em mujeres de 40 a 59 años Síndrome do climatério: inquérito populacional em Campinas,
mediante la escala MRS (Menopause Rating Scale). Rev Méd SP. Rev Saúde Pública 2003;37(6):735-42.
Chile 2008;136:1511-7. 23. Chedraui P, Pérez-López FR, Mendoza M, Leimberg ML, Mar-
19. Silva Filho EA, Costa AM. Avaliação da qualidade de vida de tínez MA, Vallarino V et al. Factors related to increased daytime
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do Recife, Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2008;30(3):113-20. Epworth Sleepiness Scale. Maturitas 2010;65:75-80.
20. Elavsky S, Mcauley E. Physical activity, symptoms, esteem, 24. Fallahzadeh H. Quality of life after the menopause in Iran: a
and life satisfaction during menopause. Maturitas 2005;52(3- population study. Qual Life Res 2010;19:813-9.
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21. Lorenzi DRS, Danelon C, Saciloto B, Padilha Júnior I. Fatores
indicadores da sintomatologia climatérica. Rev Bras Ginecol
Obstet 2005;27(1):12-9.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 113

Artigo 20

Inluência da isioterapia no tratamento


da constipação intestinal em mulheres com
ibromialgia: estudo piloto
Inluence of physical therapy in treatment of constipation
in women with ibromyalgia: pilot study
Marjorie Ovídio Bezerra Galvão*, Fernanda de Lourdes Penha da Câmara*, Rodrigo Pegado de Abreu Freitas, M.Sc.**,
Elisa Sonehara, M.Sc.***, Sandra Cristina de Andrade, D.Sc.****, Lilian Lira Lisboa, M.Sc.****

*Discentes da Universidade Potiguar, **Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ***Docente da Universidade
Potiguar, ****Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade Potiguar

Resumo Abstract
A ibromialgia é caracterizada por dor difusa e pontos sensíveis Introduction: Fibromyalgia syndrome is a condition characteri-
a palpação digital, ocorrendo principalmente no sexo feminino, zed by difuse pain and tender points digital palpation, occurring
tendo frequentemente no seu quadro clínico a constipação, que é mainly in females, with constipation as a complication, characterized
caracterizada por frequência de evacuações menor do que três vezes by frequency of bowel movements less than three times per week,
por semana, esforço para evacuar, sensação de evacuação incompleta, straining, sensation of incomplete evacuation, hard stool, anorectal
fezes endurecidas, tempo de obstrução anorretal e manobras manu- obstruction time and manual maneuvers, according to the Rome
ais. Veriica-se ainda um aumento da prevalência dessa disfunção II criteria. here is also an increased prevalence of this disorder in
na fase do climatério. A constipação pode ser tratada de diversas the climacteric phase. Constipation can be treated in several ways
formas entre elas a isioterapia utilizando a estimulação elétrica including: medication, bowel retraining, behavioral habits, diet,
intracavitária dos músculos do assoalho pélvico e a cinesioterapia exercise, physical therapy and intracavitary electric stimulation of
com exercícios para fortalecimento destes músculos. Investigar a the pelvic loor muscles and kinesiotherapy with these exercises for
inluência da eletroestimulação intracavitária associada à técnica strengthening muscles. Objective: To investigate the inluence of
de balonnet, no tratamento da constipação intestinal em mulheres electrical stimulation associated with intracavitary cuf technique
com ibromialgia na fase do climatério. Essa pesquisa se caracteriza in the treatment of constipation in women with ibromyalgia in
como sendo estudo de casos de 7 mulheres na fase do climatério the climacteric phase. Methods: his research is characterized as
com idade variando entre 44 e 64 anos, apresentando constipação case studies of seven women in the climacteric phase, 44 to 64 years
intestinal. Foram realizados 15 atendimentos de eletroestimulação old, with constipation, submitted to 15 sessions with intracavitary
intracavitária com tempo total de aplicação de 30 minutos, seguidas electric stimulation of 30 minutes, followed by 15 repetitions of the
de 15 repetições da técnica do balonet associado ao treino respirató- technique of balloon associated with the respiratory training. Results:
rio. Os resultados mostraram melhora signiicativa da constipação he results showed a cure for constipation in 6 of 7 evaluated items
em 6 das 7 pacientes quanto aos itens avaliados no Critério de according to the Rome II criteria, thus achieving improvement in
Roma II, obtendo assim melhora em alguns domínios do SF-36. A some domains of the SF-36. Conclusion: Electrical stimulation asso-
eletroestimulação intracavitária associada à técnica do balonet parece ciated with intracavitary balloon technique may be an efective the-
ser uma terapia eicaz no tratamento da constipação intestinal em rapy in the treatment of constipation in women with ibromyalgia.
mulheres com ibromialgia. Key-words: constipation, ibromyalgia, physical therapy.
Palavras-chave: constipação intestinal, ibromialgia, isioterapia.

Endereço para correspondência: Lilian Lira Lisboa, Departamento de Fisioterapia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Sen. Salgado
Filho, 3000 Lagoa Nova 59075-000 Natal RN, E-mail. lisboa.lilian@gmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


114 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução fase do climatério, encaminhadas para a Universidade Potiguar


(UnP), no período de fevereiro de 2011 a maio de 2011. Foi
A ibromialgia (FM) é uma doença reumatológica não inla- selecionada uma amostra de 7 pacientes. Foram incluídas mu-
matória, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor difusa lheres segundo os seguintes critérios de inclusão: diagnostico
e pontos sensíveis a palpação digital (trigger points), ocorrendo médico de FM, estar na fase do climatério com idade entre
principalmente no sexo feminino em torno dos 45 anos, embora 35 e 65 anos e diagnosticadas com o quadro de constipação
possa ser diagnosticada em qualquer idade e no sexo masculino [1]. de acordo com o Critério de Roma II. Foram excluídas da
Estes sintomas são frequentemente associados à fadiga, distúrbios amostra as pacientes que faltaram ao tratamento por mais
do sono, rigidez articular entre outros, o qual destacamos a consti- de duas vezes consecutivas, tiveram constipação isiológica
pação ou obstipação intestinal [2]. A constipação acomete 20% a ou não funcional por transito colônico lento, apresentaram
30% da população adulta ocidental, com predomínio em mulhe- algum déicit cognitivo, tratamento isioterapêutico anterior
res, chegando a interferir na qualidade de vida das mesmas [3,4]. ao estudo ou uso de medicamento prévio para constipação.
Segundo os critérios de Roma II, a constipação intestinal é O presente estudo respeitou as normas éticas estabelecidas
caracterizada por frequência de evacuações menor do que três na resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para
vezes por semana, esforço para evacuar em mais de 25% das pesquisa envolvendo seres humanos, em que foi submetido e
vezes, sensação de evacuação incompleta, fezes endurecidas e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
estímulos sem eliminação das fezes. São considerados consti- Potiguar sob o número de protocolo 256/2010.
pados aqueles que apresentam dois ou mais desses sintomas, Para coleta dos dados, foi utilizada uma icha de avaliação
no mínimo em um quarto das evacuações, referidos por pelo com dados sócio-demográicos (idade, ocupação, estado civil,
menos três meses (não necessariamente consecutivos) no último nível de escolaridade) e clínicos (tempo de constipação, núme-
ano, embora possam ser considerados os últimos três meses [4]. ro de gestações e tipos de partos). Na avaliação da qualidade
Considera-se como funcional a constipação que não se de vida foi utilizado o questionário Medical Outcome Study
origina em alterações anatômicas do canal alimentar, nem mo- Short Form 36 Health Survey (SF-36), que avalia o estado
tivada por doenças metabólicas, musculares ou neurológicas geral de saúde, sob a perspectiva do próprio indivíduo. O
ou ainda do tecido conjuntivo, que possam interferir com a SF-36 é um questionário multidimensional formado por 36
motricidade dos segmentos que compõem o canal alimentar, itens, englobados em 8 escalas ou componentes: capacidade
quando passa a ser classiicada como orgânica [5]. funcional (10 itens), aspectos físicos (4 itens), dor (2 itens),
Entre os fatores que também podem aumentar a pre- estado geral de saúde (5 itens), vitalidade (4 itens), aspectos
valência de constipação encontram-se danos causados à sociais (2 itens), aspectos emocionais (3 itens), saúde mental
musculatura pélvica, e à sua inervação, decorrentes de partos (5 itens) e mais uma questão de avaliação comparativa entre
e prolapsos genitais. Ocorre frequentemente na fase do clima- as condições de saúde atual e de um ano atrás. Avalia tanto
tério em decorrência da diminuição dos níveis de estrogênio, aspectos negativos de saúde (doença ou enfermidade), como
instalando-se um quadro de hipoestrogenismo associado a aspectos positivos (bem-estar). Os dados são avaliados a partir
mudanças anatômicas e isiológicas, que comprometem o da transformação das respostas em escores numa escala de 0
assoalho pélvico e os esfíncteres [4-5]. a 100, de cada componente, não havendo um único valor
A constipação pode ser tratada de diversas formas, entre que resuma toda a avaliação, resultando em um estado geral
elas: tratamento medicamentoso, reeducação intestinal (trata- de saúde melhor ou pior. A constipação foi avaliada pelo
mento cirúrgico), hábitos comportamentais, dieta, exercícios questionário da constipação baseado nos critérios de Roma
físicos e tratamento isioterapêutico. Com relação ao trata- II, sendo estes: fezes endurecidas ou fragmentadas, menos
mento isioterapêutico o uso da eletroestimulação intracavi- de três evacuações por semana, sensação de diiculdade para
tária dos músculos do assoalho pélvico e a cinesioterapia com evacuar em pelo menos 25% das evacuações, e sensação de
exercícios para fortalecimento destes músculos são métodos evacuação incompleta em pelo menos 25% das evacuações [4].
terapêuticos que podem oferecer melhora signiicativa no Após avaliação as pacientes iniciaram o tratamento com
quadro de constipação e na qualidade de vida [5,6]. duração de aproximadamente 40 minutos por sessão, sendo
Tendo em vista o impacto da FM e da constipação na realizado duas vezes por semana, totalizando 15 atendimentos. As
qualidade de vida e a falta de literatura sobre tal assunto, pacientes foram submetidas ao mesmo protocolo de tratamento
o presente estudo tem como objetivo veriicar os efeitos da realizado da seguinte forma: (1) nas primeiras cinco sessões, foi
isioterapia uroginecológica no tratamento da constipação utilizada eletroestimulação com corrente bifásica no aparelho
intestinal em mulheres com FM. estimulador da marca Quark modelo Dualpex 961, eletrodo
intracavitário anal compatível com o aparelho estimulador, nos
Material e métodos seguintes parâmetros: frequência de 35Hz, largura de pulso de
250µs, com tempo on e of 1:1, intensidade de acordo com o
Foi realizado um estudo de casos, com mulheres com FM limiar da paciente, tempo total de aplicação de 30 minutos, em
diagnosticada clinicamente com quadro de constipação e na seguida foram feitas 15 repetições da técnica do balonet; (2) as

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 115

demais sessões iniciaram com 15 repetições da técnica do balonet aspectos físicos 7,1 (± 18,9) e dor 24,0 (± 12,8). Observa-se
ainda com tônus de base (sem aplicação da eletroestimulação), ainda que após o tratamento da constipação houve melhora
seguido de eletroestimulação associado a mais 15 treinos com a em seis dos oito domínios da qualidade de vida. No entanto,
técnica de balonet. As pacientes também receberam orientações só foi veriicada diferença estatisticamente signiicante apenas
quanto ao treino respiratório (expiração forçada) no ato da no domínio estado geral de saúde (p = 0,0011). Estes dados
defecação associada à orientação quanto á postura correta para são melhor visualizados na Tabela II.
evacuar, que é sentar com as pernas afastadas, antebraços sobre as
coxas, costas retas ou levemente letidas e pés totalmente apoiados Tabela I - Distribuição das frequências relativas e absolutas dos
no chão. Essa é a posição que a musculatura interna entra em critérios de Roma II em pacientes com ibromialgia e constipação
relaxamento e realiza o ato sem muito esforço. no pré e pós tratamento.
Ao inal do período de tratamento, as pacientes foram Pré-Trata- Pós-Trata-
submetidas a uma reavaliação com os mesmos instrumentos Critérios de Roma II mento mento
iniciais para ins comparativos pré e pós intervenção. N(%) N(%)
A normalidade dos dados foi analisada pelo método de Fezes endurecidas 7 (100%) 2 (28,5%)
Shapiro-Wilk. As variáveis quantitativas estão expressas em Evacuações infrequentes 5 (71,4%) 0 (0%)
médias e desvio padrão (± DP) e mediana e percentis (25- Necessidade de esforço 7 (100%) 1 (14,3%)
75). As variáveis categóricas estão expressas em frequências Sensação de evacuação incom- 7 (100%) 1 (14,3%)
relativas e absolutas. Para análise da diferença entre o pré e pleta
pós-tratamento foi utilizado o teste t pareado. O pacote esta- tempo excessivo 5 (71,4 %) 0 (0%)
tístico SPSS® 19.0 foi utilizado para esses ins, sendo adotado Manobras manuais 6 (85,7%) 0 (%)
um p-valor < 0,05 como signiicância estatística.
Tabela II - Distribuição e análise dos valores das médias (± DP)
Resultados dos domínios da qualidade de vida (SF-36) em pacientes com
ibromialgia e constipação pré e pós-tratamento.
Foram avaliadas 7 mulheres com FM e constipação, a Variáveis Valores
idade das voluntárias variou de 44 a 64 anos com média (± Pacientes Pacientes com
DP) de 55,28 (± 6,67) anos. A maioria das pacientes 57,14% com ibro- ibromialgia
eram divorciadas ou solteiras. Em relação á escolaridade, mialgia (pré- (pós-trata- p valor
57,14% tinha escolaridade igual ou superior a 15 anos de -tratamento) mento)
estudo. Quanto á ocupação, 85,71% não possuíam ocupação Média (± DP) Média (± DP)
extra-domicílio. Qualidade de
Em relação aos dados clínicos veriicou-se que a mediana vida (SF-36)
(25-75) do tempo de constipação foi de 3 (1-20) anos. Em re- Domínios
lação ao número de gestações foi visto variação de 1 a 4 gestas físicos
com mediana (25-75) de 3 (1-3) gestações e que a mediana Capacidade
24,3 (± 21,1) 33,6 (± 27,2) 0,4171
(25-75) do número de partos normais foi de 1 (1-2) parto. funcional
Na avaliação da constipação através dos critérios de Limitação por
7,1 (± 18,9) 21,4 (± 36,6) 0,4362
Roma veriica-se na Tabela I que avaliação inicial 5 (71,4%) aspectos físicos
pacientes apresentavam 5 dos 6 critérios, e que 2 (28,5%) Dor 24,0 (± 12,8) 28,0 (± 19,2) 0,5791
pacientes apresentavam os 6 critérios positivos. Os critérios Estado geral
26,3 (± 9,8) 53,3 (± 19,1) 0,0011*
fezes endurecidas, necessidade de esforço ao evacuar e sensação de saúde
de evacuação incompleta foi relatado por todas as pacientes Domínios
(100%). O item manobras manuais foi presente em 85,7% mentais
dos casos, seguido com 71,4% dos itens evacuações infrequen- Vitalidade 31,4 (± 24,1) 27,14 (± 26,1) 0,6670
tes e tempo excessivo. Após intervenção foi veriicado que 6 Aspectos
39,3 (± 15,2) 33,9 (± 36,0) 0,7272
(85,7%) das pacientes não apresentaram mais constipação, sociais
segundo os critérios de Roma II. Ainda permaneceram pre- Aspectos
28,6 (± 48,8) 42,9 (± 53,5) 0,3559
sentes os critérios fezes endurecidas em 2 (28,5%) pacientes, emocionais
necessidade de esforço ao evacuar e sensação de evacuação Saúde mental 31,4 (± 18,4) 40,6 (± 27,9) “Data 2”
incompleta em 1 (14,3%) paciente cada critério.
Em relação à avaliação da qualidade de vida, foi veriicado Discussão
na avaliação inicial o grande impacto da ibromialgia em todos
os domínios da qualidade de vida das pacientes com ibro- No presente estudo foi veriicado que mulheres com ibro-
mialgia, tendo os piores escores os domínios: limitação por mialgia podem apresentar quadro severo de constipação, bem

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116 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

como que através de técnicas de eletroterapia e cinesioterapia balonet é uma técnica que proporcionará uma reeducação
podem melhora o quadro de constipação. Foi observado ainda do relexo reto- esincteriano estriado, em que o estímulo
que o tratamento isioterápico da constipação pode interferir proporcionará uma resposta voluntária especíica [8,9]. A
positivamente na qualidade de vida. evacuação é um processo complexo que envolve a muscula-
Em estudo prévio foi veriicado que em pacientes com tura abdominal e pélvica e o esfíncter anal, por isso além de
ibromialgia os escores de gravidade dos sintomas de consti- treinar a musculatura perineal, que promove o relaxamento
pação foram maiores do que em pacientes com artrite reuma- do esfíncter, é importante trabalhar o músculo transverso do
tóide e controles. Neste estudo também foi constatado que abdômen, que associado à respiração une as forças resultantes
maior gravidade dos sintomas gastrointestinais em pacientes da contração do diafragma para a região abdominal, e projeta
com ibromialgia podem ter efeitos negativos sobre a sua com intensidade máxima para área pélvica.
qualidade de vida [7]. Entre os tratamentos propostos para a constipação está a
Em relação aos principais sintomas encontrados na presen- eletroestimulação dos músculos do assoalho pélvico que vem
te casuística foi veriicado em 100% da amostra necessidade sendo utilizada promovendo a conscientização da contração
de esforço ao evacuar, sensação de evacuação incompleta e muscular para aquelas pacientes que não apresentam boa
fezes endurecidas ou fragmentadas, e 71,42% das pacientes percepção cinestésica, achado este bem frequente na prática
relataram evacuações infrequentes e tempo excessivo. Estes clínica de pacientes com quadro de constipação terminal. A
dados são reforçados por estudo prévio sobre constipação, eletroterapia irá fornecer uma informação neuromuscular
o qual evidencia que os sintomas relatados frequentemente importante para a retomada da atividade consciente dos mús-
pelas pacientes foram os mesmos encontrados no presente culos do assoalho, promovendo uma contração do músculo
estudo, sendo o esforço ao evacuar presente em (91,9%), elevador do anus e do esfíncter anal, pela estimulação direta
seguido da sensação de evacuação incompleta (83,8%), fezes do nervo pudendo [10].
endurecidas ou fragmentadas (81,1%), menos de três evacu- A Fisioterapia aparece como um importante recurso por
ações por semana e sensação de obstrução à evacuação com proporcionar uma reeducação perineal e abdominal conjun-
62,2%, respectivamente. Manobras manuais para facilitar as tamente com o rearranjo da estática lombo-pélvica, apresen-
evacuações foram referidas por 45,9% das participantes [4]. tando bons resultados. O uso das técnicas terapêuticas no
Vários fatores podem aumentar a prevalência da tratamento da constipação intestinal em mulheres com FM
constipação, sendo citado na literatura mais frequentemente parece melhor o quadro funcional das pacientes.
os danos causados à musculatura pélvica e à sua inervação
decorrentes de partos ou cirurgias ginecológicas e os prolapsos Conclusão
genitais, mais frequente na pós-menopausa. Os distúrbios
defecatórios  geralmente são resultado de algum problema A eletroestimulação intracavitária associada à técnica de
no assoalho pélvico ou do esfíncter anal, em que os pacientes Balonet, mostrou-se uma terapia eicaz no tratamento da
com defecação obstruída apresentam contração paradoxal constipação intestinal em pacientes com ibromialgia e inter-
do puborretal ou a inabilidade em relaxar o esfíncter anal, feriu positivamente na qualidade de vida. Há necessidade de
gerando consequentemente esforço excessivo ao evacuar e a investigações futuras, com estudo randomizado controlado.
sensação de eliminação incompleta das fezes.
No tratamento isioterápico para constipação são uti- Referências
lizados vários métodos terapêuticos que podem oferecer
melhora signiicativa, dos quais destacamos os exercícios e a 1. Wolfe F, Smythe HAA, Yunus MB, Bennett AM, Bombardier
eletroestimulação [4,5]. No entanto, é necessário durante o CE, Goldenberg DL. he American College of Rheumatology
tratamento orientar os pacientes quanto a postura correta, pois 1990. Criteria for the classiication of ibromyalgia: Report
of the Multicenter Criteria Committee. Arthritis Rheum
também, é um fator importante, durante o ato evacuatório, a
1990;33:160-72.
postura correta seria a pessoa sentada com os pés apoiados no
2. Martinez JE et al. Fibromyalgia patients quality of life and pain
solo, costas retas ou levemente letidas (aumento da pressão intensity variation. Rev Bras Reumatol 2008;48(6):325-8.
intra-abdominal). 3. Conde DM et al. Prevalência e fatores associados á constipação
Exercícios especíicos dos músculos da região pélvica re- intestinal em mulheres na pós-menopausa. Rev Assoc Méd Bras
-ensinam a paciente a controlar estes músculos e facilitar a 2005;42(10):12-7.
evacuação. A cinesioterapia e a técnica do balonet auxiliam 4. Oliveira SCM et al. Constipação intestinal em mulheres na pós-
para melhorar a coordenação, força e endurance de ambos -menopausa. Rev Assoc Méd Bras 2005;51(6):334-41.
os tipos de ibras musculares. Quanto maior a conscientiza- 5. Miszputen SJ. Guia de gastroenterologia: Constipação intestinal.
ção da contração dos músculos do assoalho pélvico, isolada São Paulo; 2007.
6. Schryver AMD et al. Efect of regular physical activity on
de musculaturas acessórias, maior será o recrutamento de
defecation pattern in middle-aged patiens complaining of
unidades motoras , ganho de força muscular e a capacidade chronic constipation. Scandinavian Journal of Gastroenterology
de relaxamento fundamental para a defecação. A técnica do 2005;40(4):422-29.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 117

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of gastrointestinal symptoms in patients with ibromyalgia irritable bowel syndrome in ibromyalgia patients. Clin Rheu-
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118 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 21

Análise comparativa da capacidade funcional


de idosas com e sem incontinência urinária
Comparative analysis of functional capacity of elderly women
with and without urinary incontinence
Denise Almeida Santos*, Maíra Creusa Farias Belo, D.Sc.**, Klenio Lucena de Sena***, Gabriela Brasileiro Campos Mota,
D.Sc.****

*Fisioterapeuta, Graduada pela UNESC Faculdades, **Fisioterapeuta, Profª Orientadora Esp.- UNESC Faculdades, Faculdade
Maurício de Nassau (FMN); Universidade de Estadual da Paraíba (UEPB), ***Fisioterapeuta, Graduado pela UNESC Faculda-
des, ****Fisioterapeuta, Profa. Dra. Faculdade de Ciências Médicas (FCM-CG)

Resumo Abstract
O envelhecimento é um processo contínuo, complexo, multi- Aging is a continuous, complex, multifactorial and individual
fatorial e individual, levando a modiicações como a Incontinência process, leading to modiications such as Urinary Incontinence (UI).
Urinária (IU). Cerca de 60% das idosas são afetadas pela IU que About 60% of the elderly are afected by UI that may contribute to
pode contribuir para alterações no convívio social e atividades changes in social and functional activities. he aim of this study was
funcionais. O objetivo deste estudo foi analisar comparativamente to analyze the functional ability of elderly women with and without
a capacidade funcional de idosas com e sem IU. Foi um estudo UI. It was a cross-sectional study, quantitative, descriptive, analytical
transversal, quantitativo, descritivo, analítico, exploratório; rea- and exploratory, held at São Januário Foundation. he sample was
lizado na Fundação São Januário. A amostra foi formada por 16 comprised of 16 elderly. We administered a questionnaire relating
idosas. Foi aplicado um questionário referente à IU e a Medida de to UI and Functional Independence Measure Motor (mFIM). he
Independência Funcional Motor (MIFm). Os dados foram ana- data was analyzed by using SPSS 18.0. he results show average of
lisados pelo Programa SPSS 18.0. Os resultados mostram média 67.81 (± 5.71) years old, mostly married (50%). he urinary loss
de idade de 67,81 (±5,71) anos, casadas (50%). A perda urinária was observed in 62.5%, with a mean of 68 months; prevalence of
foi veriicada em 62,5%, com média de 68 meses; prevalência por small eforts (60%), stress (50%), 70% lost as urine low. he main
pequenos esforços (60%), estresse (50%), 70% jato. Os principais symptoms related were: nocturnal enuresis (27.6%) and feeling of
sintomas: enurese noturna (27,6%) e sensação de resíduos (13,8%). residual urine (13.8%). he values of mFIM ranged from 80 to 92
Os valores da MIFm variaram de 80 a 92 com média de 83,5 nas with an average of 83.5 in the elderly with UI and 89.83 in the ones
idosas com IU e 89,83 sem. Nos domínios controle de urina 43,8% without it. In the areas of urine control, 43.8% showed complete
apresentaram dependência completa e subir escadas 68,8% não ne- dependence, and about climbing stairs, 68.8% required no help. It
cessitou de ajuda. Conclui-se que é possível observar uma associação was concluded that it is possible to observe an association between
entre incontinência urinária e baixa capacidade funcional, trata-se, urinary incontinence and poor functional capacity, it is, therefore,
portanto, de um tema socialmente relevante. a socially important theme.
Palavras-chave: idosas, incontinência urinária, capacidade Key-words: elderly women, urinary incontinence, functional
funcional. capacity.

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Introdução dependentes da possibilidade de ter um banheiro por perto,


evitam realizar atividades diárias junto a outras pessoas que
O século XX foi marcado pelo fenômeno que modiicou possam evidenciar a IU [11].
o panorama demográico e o peril da população, referente Apesar de não ser uma condição de vida ameaçadora, a IU
ao incremento da parcela idosa [1]. No Brasil, os idosos já pode causar vários problemas, contribuindo para o surgimento
compõem 11,1% da população total do país, com um con- de alterações psicológicas, de relacionamento pessoal, sexual,
tingente de mais de 21 milhões de indivíduos [2]. alterações físicas, econômicas, ocupacionais, domésticas,
Classiicam-se como idosas as pessoas com mais de 65 higiênicas, inluenciando negativamente na qualidade de vida
anos de idade em países desenvolvidos e com mais de 60 (QV) dessa população e causando alta morbidade, estresse e
anos de idade em países em desenvolvimento [1]. Contudo, debilidade, alterando, portanto, o convívio social e as ativi-
os indivíduos envelhecem não a partir dos 60 ou 65 anos, dades funcionais [12]
mas ao longo do seu desenvolvimento. O envelhecimento é Esse processo de transição epidemiológica que vem ocor-
um processo contínuo, complexo, multifatorial e individual, rendo nos últimos anos e transformando o paradigma de
envolvendo modiicações do nível molecular ao morfoisio- saúde, fez com que, condições como a IU assumam papel de
lógico, principalmente após o período pós-reprodutivo [3]. destaque. A capacidade funcional (CF) que pode ser afetada
É um processo progressivo, universal e intrínseco, e suas diretamente pela IU, tornou-se um importante meio de avaliar
alterações ocorrem em diferentes taxas entre os vários órgãos a autonomia e a independência do idoso [13].
de um indivíduo [4]. Destarte, faz-se necessário veriicar a interferência causa-
A biologia do envelhecimento é inexorável e as tentativas da pela IU na funcionalidade, e disponibilizar os resultados
de entendimento de suas causas são limitadas pela complexi- colhidos para que a sociedade possa fazer uso de eventuais
dade do fenômeno. As modiicações do envelhecimento são descobertas, além disso, identiica-se a necessidade de uma
caracterizadas por: mudança na composição bioquímica dos pesquisa mais aprofundada acerca do assunto, por ser um
tecidos; diminuição progressiva na capacidade isiológica; tema socialmente relevante e com amplo espaço para novas
redução na capacidade de adaptação aos estímulos; aumento abordagens voltadas para a área da saúde.
na suscetibilidade e vulnerabilidade às doenças. Tal declínio
inicia-se em torno dos 30 anos de idade cronológica [5,6]. Objetivos
As principais síndromes geriátricas, os chamados gigantes
da geriatria são: imobilidade (que acentua a diminuição da O presente estudo foi realizado com o objetivo geral de
massa magra, podendo levar à sarcopenia e às escaras de de- analisar comparativamente a CF de idosas com e sem IU. E
cúbito); a instabilidade postural (com um risco aumentado de como objetivos especíicos foram avaliar a prevalência das
quedas e, consequentemente, fraturas); insuiciência cerebral idosas com IU; investigar através da comparação se a IU in-
(alterações cognitivas); iatrogênica (maior susceptibilidade a terfere na CF das idosas; analisar quais variáveis da CF mais
reações colaterais e à intoxicação) e a incontinência urinária sofreram interferência.
(IU) [7].
Para a International Continence Society (ICS) a IU é a Material e métodos
incapacidade de controlar a passagem da urina, afetando
aproximadamente 200 milhões de pessoas em todo o mundo Este trabalho caracterizou-se por ser um estudo trans-
e acarretando sofrimento em quem vivencia essa problemática versal, quantitativo, descritivo e analítico, com abordagem
[8]. Classiica-se em de esforço, urge-incontinência e mista. exploratória. A referida pesquisa foi realizada na Fundação
A mais comum é a IU por esforço, deinida como toda perda São Januário, em Campina Grande-PB em 2011. A população
involuntária de urina através do canal uretral íntegro, quando foi formada por 30 (trinta) mulheres. A amostra foi do tipo
a pressão vesical excede a pressão uretral máxima, na ausência não-probabilística e intencional, composta por 16 idosas.
de atividade do músculo detrusor [9]. Foram incluídos na pesquisa: idosos do sexo feminino;
Há diversos fatores de risco relacionados à IU. O avanço entre 60 e 80 anos; que aceitaram participar da pesquisa por
da idade, diabetes e infecções do trato urinário, etnia branca, livre e espontânea vontade, através da assinatura do Termo de
aumento do índice de massa corporal (IMC), parto vaginal Consentimento Livre e Esclarecido TCLE. Foram excluídos
e parto traumático (com uso de fórceps e episiotomia) bem mulheres idosas com doenças incapacitantes ou sequelas
como multiparidade, gestação em idade avançada, diabetes e neurológicas (Ex.: AVE).
menopausa, atroia dos músculos e tecidos, queda funcional O trabalho foi submetido à apreciação do Comitê de
do sistema nervoso (SN) e circulatório e diminuição do vo- Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual da Paraíba
lume vesical podem contribuir para o seu aparecimento [10]. – UEPB. Após a aprovação pelo CEP, com parecer CAAE
Cerca de 60% das mulheres acima de 60 anos de idade 0477.0.133.000-11, teve início o referido estudo.
que são afetadas pela IU tendem ao isolamento social por Foi feito um único contato com cada idosa, e nesse
temerem a ocorrência das perdas urinárias em público e icam momento foram explicados às participantes a justiicativa e

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objetivos da pesquisa de forma clara e concisa, e os proce- Complementares, outorgada pelo Decreto nº. 93833, de 24
dimentos que seriam realizados com as mesmas, bem como de janeiro de 1987, de acordo com o Termo de Compromisso
apresentado o TCLE, enfatizando que a participação era dos Pesquisadores – TCP. Por se tratar de uma pesquisa envol-
voluntária e não-obrigatória, que não sofreriam nenhum vendo seres humanos, o estudo visou assegurar os direitos e
dano ou prejuízo, e que a idosa teria plena liberdade de se deveres que dizem respeito à comunidade cientíica e aos sujei-
recusar a participar da pesquisa ou retirar o consentimento tos da pesquisa, atendendo as determinações dessa resolução.
a qualquer momento sem penalização alguma. Ainda foram
garantidos sigilo e privacidade quanto aos dados conidenciais Resultados e discussão
envolvidos na pesquisa.
Para coleta dos dados foram utilizados dois questionários, Esta pesquisa desenvolveu-se na Fundação São Januário
um elaborado pelos pesquisadores abrangendo aspectos re- em Campina Grande-PB, foi realizado com 16 idosas, com
lacionados à IU, e o MIFm para avaliação da CF das idosas idade variando entre 61 à 80 anos e média de 67,81 (±5,71)
com e sem IU. anos. Houve um predomínio de mulheres casadas (50%) na
O questionário sobre IU aborda questões socioeconô- amostra e uma prevalência de 4 ilhos ou mais em 56,3% das
micas, doenças pré-existentes, sintomas urinários, perdas entrevistadas. Quando questionadas quanto à escolaridade, a
urinárias, tipos de perdas, bem como quantidade de perdas amostra foi formada apenas por idosas analfabetas (47,3%) e
urinárias. com ensino fundamental incompleto (56,3%). Outros dados
A MIF é amplamente utilizada e aceita como medida de sociodemográicos podem ser visualizados na Tabela I.
avaliação funcional internacionalmente. Ela veriica o desem-
penho do indivíduo para a realização de um conjunto de 18 Tabela I - Dados sociodemográicos.
tarefas, divididas em MIFm referentes às subescalas de auto- N° %
-cuidados, controle esincteriano, transferências, locomoção Estado civil
e MIFcs referente às subescalas de comunicação e cognição Casada 8 50
social. Cada item pode ser classiicado em uma escala de graus Divorciada 1 6,3
de dependência de 7 níveis, sendo o valor 0 correspondente à Viúva 7 43,7
dependência total e o valor 7 correspondente à normalidade N° de filhos
na realização de tarefas de forma independente. Nenhum 2 12,5
Neste estudo foi utilizado apenas a MIFm, excluindo os 2 ou 3 filhos 5 31,3
itens de comunicação e cognição social. Os valores atribuídos 4 ou mais filhos 9 56,3
as dimensões da MIFm são os seguintes: referente à escala Escolaridade
auto-cuidados (alimentação, higiene pessoal, banho - lavar o Analfabeta 7 43,7
corpo - vestir metade inferior, vestir metade superior, utili- Fundamental Incompleto 9 56,3
zação de vaso sanitário) os valores variam de 6 a 42 pontos; Fonte: Dados da Pesquisa, 2011
referente à escala de controle dos esfíncteres (controle de
urina e controle de fezes) os valores variam de 2 a 14 pontos, No que concerne à idade, o estudo realizado por Souza
referente a escala transferências, os valores variam de 3 a 21 [14] teve uma amostra semelhante formada por doze idosas,
pontos, e na escala locomoção os valores variam de 2 a 14 cujas idades variaram entre 61 e 83 anos, cinco idosas eram
pontos. Sendo a pontuação total do MIFm variando entre viúvas, quatro casadas, duas divorciadas e uma solteira. As
13 a 91 pontos. informações sobre escolaridade revelaram que três idosas
Os dados foram analisados e apresentados através do concluíram o 3º grau e três possuíam formação de nível
Programa SPSS - Statistical Packadge for the Social Science, técnico, duas idosas possuíam o curso normal e duas conclu-
na sua versão 18.0. A análise quantitativa dos dados foi rea- íram o 2º grau. O nível de escolaridade mais baixo foi o de
lizada por meio da classiicação das variáveis em categóricas 1º grau, concluído por duas idosas. Tais dados divergem com
e numéricas discretas, as quais foram reveladas em termo de os encontrados na referida pesquisa como pode ser observado
distribuição de frequência, média e desvio-padrão da média, quando comparados aos visualizados na Tabela I.
respectivamente. A análise inferencial para comparação de O envelhecimento da população brasileira tem ocorrido
capacidade funcional entre as idosas com e sem incontinência de forma rápida, com grande aumento na média de idade.
procedeu-se através da execução do teste de Mann-Whitney No presente trabalho, veriicou-se que a média de idade das
para dados não-paramétricos e teste de Qui-Quadrado de idosas entrevistadas foi bem próxima ao encontrado no estudo
Pearson para veriicar a associação entre doenças crônicas e de Pereira [15] que teve uma média de 72,9 anos. Em relação
incapacidade funcional. Para tanto, adotou-se um ≤0,05. ao estado civil das participantes, os resultados da presente
Os pesquisadores assumiram a responsabilidade, em todas investigação revelaram observações contrárias ao estudo rea-
as etapas da pesquisa, em cumprir as diretrizes da Resolução lizado por Moraes [16] que encontrou percentual majoritário
nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – CNS e suas para a categoria de solteiras entre mulheres acima de 60 anos.

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Ao analisarmos a prática de atividades físicas, embora o Para Guarisi et al. [24] de todas as pacientes por eles en-
conhecimento acerca dos seus benefícios já tenha sido aponta- trevistadas, 35% referiram perda urinária aos médios esforços,
do de diversas formas, as idosas participantes da pesquisa, não o que difere do encontrado na pesquisa em questão em que
se encontravam inseridas em programas dedicados à prática a predominância foi a perda aos pequenos esforços. No que
de atividade física ou isioterapia fora da fundação onde a refere à quantidade de perda urinária, esta pesquisa vai contra
referida pesquisa foi realizada, sendo consideradas, portanto, o estudo realizado por Reis [10], em que nove idosas (40,9%)
mulheres sedentárias (56,3%). Analisando os dados referentes relataram pequena quantidade de urina perdida (gotas) e cinco
às doenças crônicas, 75% das idosas são hipertensas e apenas (22,7%) relataram grandes perdas (jato).
25% diabéticas. Em relação à presença de doenças crônicas No que diz respeito ao uso de proteção três possíveis
e a CF, o estudo não revelou nenhuma associação (p>0,05) fatores podem estar relacionados: ou a população considera
tanto para hipertensão arterial como diabetes. os sintomas irrelevantes, causando pequena interferência
No que concerne à prática regular de atividade física, os em sua qualidade de vida, já que consideram desnecessária a
dados da pesquisa corroboram com o estudo realizado por utilização dos protetores; ou os cuidados higiênicos não são
Feliciano et al. [17] que veriicaram em seu estudo que cerca levados em consideração, ou ainda o baixo poder aquisitivo
de 83% das idosas informaram não adotar essa prática. Ele pode diicultar a compra dos protetores, interferindo nos
airma, ainda, que a maior prevalência de sedentarismo ocor- cuidados com a higiene.
reu entre as mulheres que demonstraram dependência total 30 a 50% das pessoas que sofrem de IU, não relatam es-
ou parcial para as atividades de vida diária. pontaneamente esse fato, por acharem que a perda urinária é
Os resultados apontam que todas as idosas se encontravam esperada com o evoluir da idade, como se ela fosse uma ocor-
no período de pós-menopausa. A menopausa é considerada rência natural e izesse parte dos problemas que as mulheres
um evento único que marca a transição do período repro- têm que aceitar ao se aproximar da velhice [25].
dutivo para o não-reprodutivo, ocorrendo após 12 meses Os principais sintomas relatados pelas idosas participantes
consecutivos de amenorréia, sem outra causa patológica ou da pesquisa foram os seguintes: enurese noturna (27,6%),
psicológica [18]. Estudos epidemiológicos mostram que 30% sensação de resíduos (13,8%), desejo pós-miccional (10,3%),
a 40% das mulheres após a menopausa apresentam perda dor pélvica (10,3%), noctúria (10,3%), urge-incontinência
involuntária de urina [19]. (10,3%), urgência (10,3%) e frequência (6,9%).
A IU é deinida como qualquer perda involuntária de Estes dados divergem com os resultados do estudo de
urina suiciente para gerar um problema social ou higiênico, Mourão et al. [26], no qual existiu uma maior prevalência
sendo considerada, nesse sentido como um problema de saúde dos sintomas de urgência (95,23%), frequência (90,47%),
pública. Alguns fatores de risco podem estar associados ao apa- incontinência de esforço (85,71%) e noctúria (80,95%)
recimento dos sintomas, entre eles o próprio envelhecimento todos com elevados níveis de impacto. Os demais sintomas
natural das ibras musculares, a redução da função ovariana apresentaram valores decrescentes seguindo a seguinte or-
após a menopausa, a obesidade, a gravidez e os múltiplos dem: quadros de urge incontinência (61,90%) e de infecções
partos vaginais [20]. urinárias frequentes (61,90%); quadros de enurese noturna
Neste estudo a perda urinária foi veriicada em mais da (52, 38%), incontinência durante a relação sexual (52,38%);
metade da amostra, 62,5% das idosas entrevistadas, nas quais dor na bexiga (52,38%) e diiculdades para urinar (42,86%).
o tempo de acometimento variou de um mês até 240 meses, A IU e os sintomas a ela relacionados, dentre outras coi-
com média de 68 meses. A prevalência da perda urinária em sas levam ao comprometimento da CF. A OMS estima que
idosas e a incidência da IU aumentam com a idade e é mais cerca de 10% da população mundial possua deiciências e
frequente no sexo feminino [21]. que metade destas são físico-funcionais. A CF de indivíduos
Estes dados assemelham-se com os encontrados no estudo idosos surge como novo conceito em saúde, já que a presença
de Karantanis et al. [22] que veriicou que das 22 participantes de doenças não está relacionada à perda de sua autonomia.
do estudo, 12 (54,54%) relataram perda urinária, ou seja, mais Envelhecimento bem-sucedido passa a ser o resultado da
da metade da amostra. De forma semelhante, Gunnel et al. interação de fatores multidimensionais, os quais incluem
[23] airmou que a frequência de perda de urina ocorreu em questões relacionadas à saúde física, mental, independência
87% das idosas que participaram de seu estudo. na vida diária, aspectos econômicos e psicossociais [13].
Entre as idosas incontinentes, o principal tipo de perda A CF é um determinante da condição de saúde e bem-estar
urinária encontrado nesta pesquisa foi por pequenos (60%) e das pessoas. Na velhice, as funções orgânicas decorrentes do
médios esforços (40%); no que diz respeito ao modo da perda, processo de envelhecimento em consequência dos agravos ao
cerca de 50% foi por estresse, 20% de modo contínuo e 30% longo da vida passam a ser mais vulneráveis ao declínio fun-
intermitente. Os valores encontrados na quantidade de perda cional. A incapacidade na realização de uma dessas atividades
urinária demonstram 70% em jato e 30% em gotas. O uso instrumentais de vida diária, além de prejudicar a vida social
de protetores não é comum em 90% da amostra, sendo que do idoso, potencialmente implica em transtornos para ele e sua
apenas 10% utilizam proteção. família, a qual, dependendo da atividade, terá que mobilizar

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maior tempo disponível, energia e recursos inanceiros para roboram com o estudo de Greve et al. [30] que encontrou
suprir as demandas existentes [27]. sobre o controle urinário, 52,9% das idosas apresentando
Na avaliação da CF das idosas, realizada através da MIFm, dependência completa e 47,1% das idosas com controle to-
pode-se observar que os valores totais encontrados na MIFm tal em relação a este. Ainda com relação à dependência para
das idosas, variam de 80 a 92. Existe uma pequena diferença realizar as AVD’s, Arap [31] em seu estudo diz que 77,5%
entre a média da MIFm total da idosas com IU que foi de das idosas apresentaram algum tipo de incontinência para
83,5, com a média das idosas sem IU de 89,83, como visua- as micções, classiicando-se em dependência completa. Essa
lizado na Tabela II. Porém, é possível observar uma associação ocorrência pode ser considerada alta e, ao mesmo tempo, é
entre IU e diminuição da CF (U=2,5; p=0,003). preocupante, uma vez que a falta de controle dos esfíncteres
pode levar ao isolamento social, alterações na auto-estima e
Tabela II - Funcionalidade dos grupos com e sem Incontinência auto-imagem, podendo inluenciar também nas atividades
Urinária. instrumentais de vida diária.
MIFm Total p = 0,003 Referente ao quesito subir escadas, 25% da amostra desta
Idosas com IU Idosas sem IU pesquisa apresentam dependência completa, 6.3% necessitan-
Média DP Média DP do de ajuda e 68,8% sem ajuda, divergindo dos encontrados
83,5 2,9 89,83 2,4 no estudo de Guedes et al. [32], no qual 29,4% da sua amostra
Fonte: Dados da Pesquisa, 2011 classiicou-se em dependência completa, 47,1% necessita de
algum tipo de ajuda, 23,6% não necessita de ajuda, sendo
No que se refere à CF correlacionada à IU os dados desta predominante as idosas que necessitavam de alguma ajuda.
pesquisa divergem dos encontrados no estudo de Pedrazzi et
al. [28], que foi realizado com 69 idosas, das quais 25,5% Conclusão
tinham IU. As idosas com IU tiveram diiculdade em realizar
as AVD’s, o que foi associado em seu estudo à maior diicul- Através dos resultados obtidos, veriica-se que existe uma
dade para realizar os serviços domésticos, fazer compras e usar associação entre IU e diminuição da CF. Um prejuízo nas
os meios de transporte. atividades funcionais contribui para um maior afastamento
No tocante a CF de idosas com e sem IU, os dados desta do entorno social e consequente tendência ao isolamento na
pesquisa também divergem dos encontrados por Schneider et residência, enquanto as AVD’s estão associadas a uma questão
al. [29] em seu estudo, que foi realizado com 148 idosas, em de sobrevivência.
que veriicou-se uma grande diferença entre a funcionalidade Tendo em vista que a CF do ser humano declina com a
das idosas com e sem IU. Ele demonstrou que em relação às idade, é necessário planejar estratégias que melhorem o estilo
idosas com IU, 32,2% tinha independência, 25,8% tinha de vida dessas idosas, principalmente em relação a programas
dependência parcial e 41,9% dependência modiicada. Em que proporcionem valorização do processo de envelhecimento
relação às idosas sem IU percebe-se a grande discrepância no individual e populacional.
que diz respeito ao grau de independência que foi de 96,5%, Levando em consideração a prevalência da IU encon-
e apenas 3.4% com dependência modiicada, p<0,001. trada, sua natureza crônica, silenciosa e seu impacto físico
Esse desacordo entre os dados encontrados nesta pesquisa, e psicossocial, em que muitas pacientes permanecem sub-
que observou uma pequena associação entre IU e diminui- -diagnosticadas e sem tratamento por não se queixarem de
ção da CF, com os estudos encontrados que correlacionam suas perdas urinárias, torna-se imperativo que os proissionais
grande alteração da funcionalidade em relação à IU, pode e os programas de prevenção se preparem de forma adequada
ser explicado pelo fato das idosas participantes das pesquisas para uma abordagem eicaz de condução dessa condição na
realizadas por estes autores [28,29] não realizarem atividades população, destacando-se a importância da detecção precoce
físicas, como a isioterapia, por exemplo, o que não é identi- e avaliação periódica da interferência da IU nos parâmetros
icado na nossa amostra que realiza atividades de isioterapia funcionais, a im de manter pelo maior tempo possível a
duas vezes por semana, além de terem recebido informações autonomia e o bem estar da idosa, assistindo-a de maneira
sobre a musculatura do assoalho pélvico e orientações de individualizada, levando em consideração as suas limitações
como trabalhá-lo. físicas, psíquicas e ambientais.
Ainda referente à CF das idosas, os dados da pesquisa Tais ações possibilitariam minimizar a dependência nas
mostram, em relação aos domínios avaliados pelo MIFm, AVD’s, proporcionado, assim, um envelhecimento com au-
que os únicos quesitos que sofreram variação, ou seja, que as tonomia e independência às pessoas idosas com IU. Estudos
idosas referiram precisar de alguma ajuda, foram os quesitos dessa natureza são necessários para que se possa obter um
controle de urina e subir escadas. panorama mais próximo das realidades de saúde da população
No tocante ao controle da urina, 43,8% apresentaram idosa, objetivando assim, bases mais seguras e concretas, para
dependência completa, 18,8% necessitavam de algum tipo o atendimento integral à saúde.
de ajuda e 37,5% não necessitou de ajuda. Estes dados cor-

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124 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 22

Efeito agudo de uma sessão de reabilitação cardíaca


sobre a pressão arterial sistêmica em mulheres
hipertensas
Acute effect of a cardiac rehabilitation session on blood pressure
in hypertensive women
Rayanne Rakel Paiva Ferreira*, Danielly Inocêncio de Araújo**, Murillo Frazão de Lima e Costa***,
Maria Elma de Souza Maciel Soares****, Iza Neves de Araújo Nascimento*****

*Acadêmica de Fisioterapia do Centro Universitário de João Pessoa-UNIPÊ, **Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Cardior-
respiratória, ***Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Pneumofuncional, ****Fisioterapeuta, doutoranda em Modelos de Deci-
são e Saúde, docente do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, *****Fisioterapeuta, especialista em Saúde Coletiva, docente
do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ

Resumo Abstract
Introdução: A hipertensão arterial constitui um dos maiores Background: he high blood pressure is a major public health
problemas de saúde pública. Sua prevenção e tratamento precoce problem in Brazil. Its Prevention and early treatment should be
devem ser prioridades para reduzir a morbidade e mortalidade as- a priority to reduce morbidity and mortality associated with car-
sociada às doenças cardiovasculares. Estudos demonstram que uma diovascular disease. Studies show that a single session of moderate
única sessão de exercícios físicos de moderada intensidade e curta intensity and short-term exercises produce an efect on the blood
duração produzem efeitos na pressão arterial. Objetivo: Analisar os pressure. Objective: To analyze the efects of a cardiac rehabilitation
efeitos de uma sessão de reabilitação cardíaca através do exercício session through short-term aerobic exercise on blood pressure in
aeróbio de curta duração sobre a pressão arterial de mulheres hi- hypertensive women. Methodology: he study was characterized as
pertensas. Metodologia: O estudo caracteriza-se como experimental an almost experimental cross-sectional design with non-probability
de delineamento transversal com amostragem não probabilística. sampling. 14 sedentary hypertensive volunteers participated in the
Participaram da pesquisa 14 voluntárias hipertensas e sedentárias, study, selected in the control group (G1) and the intervention group
selecionadas em grupo controle(G1) e grupo de intervenção (G2) (G2) having their blood pressure monitored through ambulatory
tendo suas pressões monitorizadas através do exame de medida am- blood pressure measurement. G2 was held in a single session of
bulatorial da pressão arterial. No G2 foi realizada uma única sessão aerobic training for 10 minutes on a stationary bicycle at a moderate
de treinamento aeróbico por 10 minutos em bicicleta ergométrica intensity. Results: here were no statistically signiicant diferences
com intensidade moderada. Resultados: Não foram encontradas between the systolic and diastolic blood pressures in both groups (p
diferenças estatisticamente signiicativas entre as pressões arteriais > 0.05). Signiicant diference occurred in the mean arterial pressure
sistólicas e diastólicas de ambos os grupos (p > 0,05). Ocorreu di- of the groups after one hour of monitoring (p = 0.023). Conclusion:
ferença signiicativa na pressão arterial média dos grupos após uma Aerobic exercise with 10 minutes of duration does not seem to be
hora de monitorização (p = 0,023). Conclusão: O exercício aeróbio enough to cause acute hypotensive efect on the blood pressure of
de duração de 10 minutos parece não ser suiciente para causar efeito hypertensive women.
hipotensor agudo sobre a pressão arterial sistólica e diastólica em Key-words: cardiac rehabilitation, hypotension post-exercises,
mulheres hipertensas. systemic arterial pressure.
Palavras-chave: reabilitação cardíaca, hipotensão pós-exercício,
pressão arterial sistêmica.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 125

Introdução que maiores intensidades de exercício estão associados a maior


risco cardiovascular e lesão ortopédica [25,26].
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição A duração da sessão do exercício físico tem sido sugerida
clinica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sus- como um dos fatores que inluenciam a HPE, porém os
tentados de pressão arterial. Está associada frequentemente a resultados ainda são controversos. Em hipertensos, Bennett
alterações funcionais e estruturais dos chamados órgãos-alvo et al. [27], sugeriram que a magnitude dos decréscimos na
(coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações pressão arterial aumentam com longa duração do exercício,
metabólicas, representando um dos principais fatores de risco embora isto não se aplique aos normotensos. Entretanto,
para morbidade e mortalidade cardiovascular [1]. naquele estudo, a pressão foi mensurada durante 3 minutos
O Brasil apresenta um alto percentual de HAS na de repouso após sucessivos 10 minutos de exercício.
população idosa. Afeta aproximadamente 60% dos idosos Forjas et al. [24], tem achado um maior decréscimo e longa
acima dos 65 anos, tendo prevalência maior em mulheres duração da HPE após 45 minutos do exercício comparado a
na mesma idade [2]. Segundo os indicadores de acesso a 25 minutos. Contrariamente, numa revisão realizada por Mac
Serviços de Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), a Donald [28], veriicou-se recentemente magnitude similar
doença é auto-referida em número maior pelas mulheres do de HPE pós 15, 30 e 45 minutos de exercício moderado
que pelos homens, o que demonstra uma maior preocupação em normotensos e hipertensos limítrofes e examinando-se
das mulheres com a saúde e um conhecimento maior da o tempo da hipotensão pós-exercício usando monitorização
condição da hipertensão [3]. ambulatorial os resultados foram contraditórios e poderiam
Segundo o Seventh Report of the Joint Nacional Comittee ser confundidos pelo fato do período pós-exercício não ter
(JNC VII) a HAS é deinida como pressão arterial maior ou sido bem controlado em todos os estudos.
igual a 140/90 mmHg com ou sem uso de medicação anti- Dessa forma o objetivo deste trabalho foi analisar os efei-
-hipertensiva [4]. Dentre as principais causas para o estabele- tos agudos de uma sessão de reabilitação cardíaca através do
cimento desse quadro destacam-se o sedentarismo, cada vez exercício aeróbio de curta duração sobre a pressão arterial de
maior em razão da comodidade oferecida pela vida moderna mulheres hipertensas.
e o excesso de gordura corporal, sobretudo em mulheres [5,6].
Diversos estudos indicam que a prática regular de exercí- Material e métodos
cios físicos pode promover respostas favoráveis para prevenção
e controle da hipertensão arterial, devido a ajustes autonômi- Estudo experimental com amostragem não probabilística,
cos e hemodinâmicos [7-13]. O exercício aeróbio utilizado realizado em uma clínica de reabilitação cardíaca e pulmonar
em programas de reabilitação cardíaca promove, quando na cidade de João Pessoa/PB. A população do estudo foi com-
realizados sob supervisão adequada, benefícios signiicantes posto por indivíduos que procuravam a Clínica para realizar
e baixos riscos [14]. o exame de monitorização ambulatorial da pressão arterial
Entre os diversos efeitos benéicos do exercício aeróbio (MAPA). A amostra foi constituída por 14 mulheres na faixa
destaca-se a redução dos valores da pressão arterial comparado etária entre 46 e 79 anos, diagnosticadas como hipertensas
ao repouso pré-exercício, fenômeno denominado Hipotensão de acordo com o Joint National Committee [4], em uso de
Pós-Exercício (HPE) [15-17]. Esse efeito vêm sendo ampla- medicamentos anti-hipertensivos. Foram excluídas pacientes
mente estudado e os resultados demonstram variação tanto portadoras de doença pulmonar, problemas osteomioarticu-
na sua magnitude, quanto na sua duração, o que pode estar lares ou metabólicos, com quadro de infarto há pelo menos
relacionado a fatores como características dos indivíduos e dois anos, angina instável, insuiciência renal (creatinina >
do exercício [18,19]. 1,5); anemia (Hb < 10 g/dl), pressão sistólica > 200 mmHg
Nos últimos anos, vários estudos têm demonstrado que e/ou pressão arterial diastólica > 100 mmHg em repouso ,
não somente o exercício crônico, mas também uma única doença coronariana, participantes de algum programa regular
sessão de exercício aeróbio é suiciente para reduzir a pressão de exercício. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética
arterial sistólica e diastólica tanto em indivíduos normotensos em Pesquisa da Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba
como em hipertensos, sendo esse efeito maior nos hipertensos (CAAE-0362). Os voluntários foram esclarecidos sobre os
[20,21]. objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Compromisso
A intensidade, duração e o tipo do exercício têm grande Livre e Esclarecido.
inluência na pressão arterial pós-exercício. O efeito da inten- Inicialmente foi aplicado um questionário contendo
sidade e duração foi investigado por diversos autores [22-24]. questões referentes a dados pessoais, hábitos de vida, uso de
Recomenda-se que programas direcionados para indivíduos fármacos e doenças associadas. Foram mensuradas as medidas
sedentários e com fatores de risco para doença cardiovascular antropométricas ( peso, altura e IMC) com uso de balança
enfatizem exercícios aeróbios de intensidade moderada (50 portátil e trena. Os dados da pressão arterial de repouso foram
a 70% da frequência cardíaca de repouso e níveis 12 a 13 na aferidos de forma automática pelo aparelho de monitorização
escala de Borg de percepção subjetiva de esforço) pelo fato de ambulatorial da pressão arterial (MAPA Pró medic). A MAPA

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126 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

foi programada para obter as medidas da pressão arterial sis- em ambos os grupos, sendo encontrada maior redução (3,6
tólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD), pressão arterial mmHg) no grupo submetido à intervenção (PASfG2).
média (PAM) e frequência cardíaca (FC), a cada 15 minutos
no período de 08:00 h às 22:00 h e a cada 30 min de 22:00 Tabela I - Medidas cardiovasculares dos grupos controle e inter-
h às 08:00 h da manhã seguinte perfazendo 24 horas. Foram venção no inicío e ao inal da monitorização (João Pessoa, 2012).
considerados válidos para interpretação os registros com 90% Grupo Medidas cardiovasculares
ou mais de medidas válidas. Após a colocação do aparelho, as PASi PADi FCi PASf PADf FCf
participantes foram orientadas a manter, sempre que possível, Contro- 135,1 83,8 75,0 124.8 73,2 77,7
o membro superior não dominante contendo o manguito, em le (G1)
posição solta e relaxada durante cada medida. ± 15,4 ± 25,6 ± 14,3 ± 17,9 ± 9,5 ± 9,8
As participantes foram divididas em 2 grupos: Grupo 1- Inter- 146,7 85,5 78,7 132,8 87,1 87,7
grupo controle e Grupo 2 – grupo intervenção. As participan- venção
tes do grupo controle, permaneceram sentadas, durante três (G2)
aferições da pressão arterial. Logo em seguida a 3ª aferição, e ± 15,4 ± 12,4 ± 18,4 ± 16,9 ± 10,2 ± 18,3
com o relaxamento total do membro aferido, foram liberadas. Valores expressos em média ± desvio padrão. PASi = Pressão arterial
O grupo da intervenção, permaneceu em posição sentada sistólica inicial; PADi = Pressão arterial diastólica inicial; FCi = frequ-
até a 2ª aferição. Logo após, foi submetido a uma única sessão ência cardíaca inicial; PASf = Pressão arterial sistólica final;PADf =
de treinamento aeróbico em bicicleta ergométrica (Reebok Pressão arterial diastólica final;FCf = frequência cardíaca final. PAS,
Power bike) com duração de 10 minutos, numa intensidade PAD medidas em mmHg; FC medida em bpm.
moderada (60-70% da frequência cardíaca máxima prevista
para cada indivíduo e Escala de Esforço Subjetivo de Borg No G1, a média da pressão arterial diastólica reduziu de
adaptada numa faixa de 12 a 13, veriicados a cada 2 mi- 83,8 ± 25,6 mmHg para 73,2 ± 9,5 mmHg correspondendo
nutos). Após a realização da atividade física, as pacientes se a redução de 10,6 mmHg. Porém, ocorreu o inverso no G2,
mantiveram na posição inicial de repouso, durante 5 minutos onde a média da pressão arterial diastólica aumentou de 85,5
e liberadas após a 3ª aferição. ± 12,4 mmHg para 87,1 ± 10,2 mmHg correspondendo a um
A análise dos dados foi realizada por meio do programa aumento de 1,5 mmHg. Com relação à frequência cardíaca
estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão ocorreu um aumento ao inal da monitorização em ambos
19.0. Inicialmente foi testada a normalidade dos dados por os grupos, sendo constatado diferença maior no G2, onde a
meio do teste Shapiro Wilks. Como os dados apresentaram FC em média se elevou de 78,7 ± 18,4 bpm para 87,7 ± 18,3
distribuição normal foram empregados os testes t de Student bpm, aumento de 9 bpm. No entanto, apesar das alterações
para amostras pareadas e para amostras independentes. Foi observadas nos valores das variáveis mencionadas, não foram
estabelecido um nível de signiicância de 0,05 para todas as consideradas diferenças estatisticamente signiicativas (p >
análises. 0,05).
Após 60 minutos da monitorização, conforme gráico
Resultados a seguir, observou-se que a pressão arterial média (PAM)
do grupo controle foi 73,29 mmHg enquanto que, a PAM
A amostra foi composta por 14 mulheres hipertensas e do grupo da intervenção apresentou uma valor superior ao
sedentárias. O grupo controle (G1) apresentou média de grupo controle correspondendo a 87,14 mmHg. A Pressão
idade de 58,2 ± 10,1 anos e índice de massa corpórea) (IMC) arterial média entre os grupos apresentou diferença de 13,85
em média 27,5 ± 2,5 kg/m2. O grupo intervenção (G2) mmHg, valor considerado estatisticamente signiicativo (p
apresentou média de idade de 67,7 ± 6,6 anos e IMC corres- = 0,023).
pondendo em média a 28,7 ± 4,36 kg/m2, caracterizadas na
faixa de sobrepeso (25 a 29,9 kg/m2) [29]. Todas as voluntárias Figura 1 - Pressão arterial média entre os grupos intervenção e
faziam uso regular de medicação anti-hipertensiva. De acordo controle, após 60 minutos de monitorização (João Pessoa, 2012).
com as variáveis cardiovasculares apresentadas na Tabela I, no
90
inicio do estudo, no G1 (grupo controle), a média da pressão 87,14
arterial sistólica inicial (PASiG1) foi de 135,1 ± 15,4 mmHg 85
e a média da pressão arterial diastólica (PADiG1) foi de 83,8
± 25,6 mmHg. No G2 (grupo intervenção), inicialmente, a 80
média da pressão arterial sistólica (PASiG2) correspondeu
75 73,29
a 146,7 ± 15,4 e a média da pressão diastólica (PADiG2) a
85,5 ± 12,4 . 70
Após 30 minutos da medição inicial pela MAPA, houve
uma redução na média da pressão arterial sistólica inal (PASf ) 65
Intervenção Controle

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 127

Discussão Quinn et al. [39], foi evidenciada redução absoluta maior e


mais duradoura da pressão arterial com 30 minutos de duração
As reduções dos valores pressóricos é uma importante e intensidade elevada.
ferramenta na prevenção e tratamento da hipertensão arterial Vários trabalhos [40,41] consideram a medida da fre-
e de suas complicações subsequentes como as doenças car- quência cardíaca como um parâmetro a mais na análise do
diovasculares. Nesse sentido, vários estudos têm procurado comportamento das variáveis cardiovasculares obtidas através
investigar os benefícios de diversos tipos de exercício, procu- da monitorização ambulatorial. O comportamento da frequ-
rando evidenciar resposta hipotensora pós-exercício [30,31]. ência cardíaca durante o período de recuperação do exercício
Os efeitos agudos do exercício, sejam imediatos ou tardios, são tem apresentado resultados controversos na literatura. Suas
as respostas do organismo a apenas uma sessão de exercícios variações, após o exercício físico, também foram observadas no
[32]. O presente estudo analisou os efeitos de uma sessão trabalho de Forjaz et al. [24] o qual veriicou que as diferenças
de exercício aeróbio com duração de apenas 10 minutos na parecem estar relacionadas à intensidade do exercício, pois os
resposta pressórica imediata e tardia em mulheres hipertensas. autores veriicaram que, após 45min de exercício aeróbio leve
Segundo Hagberg [7] a maioria das evidências indica que (30% do consumo máximo de oxigênio), observava-se sua
pacientes sedentários hipertensos, apresentam signiicante queda, após exercício moderado (50% do consumo máximo
redução na pressão arterial, especialmente na PAS, após uma de oxigênio), seu aumento e, após exercício mais intenso (80%
única sessão de exercício submáximo. Este achado corresponde do consumo máximo de oxigênio), seu aumento transitório,
em parte com o presente estudo, pois neste foi veriicada redu- resultado semelhante ao estudo em questão.
ção na PAS das pacientes, apesar de não ter sido de relevância Os resultados demonstraram os efeitos agudos do exercício
estatística, porém foram encontradas reduções não somente aeróbio sobre o sistema cardiovascular, em uma única sessão
no grupo que realizou o exercício como também no grupo de exercícios. Porém, optou-se pela análise até uma hora da
controle. Talvez tal fato se justiique, devido ao grupo controle realização dos exercícios, já que ao longo do dia a pressão
ter apresentado níveis pressóricos controlados (PAS ≤ 140 arterial sofre inluência de inúmeros fatores que não poderiam
mmHg e PAD ≤ 90 mmHg) no momento inicial da pesquisa. ser controlados. Em revisões sobre o tema, são encontrados
Importante mencionar que apesar da PAS do grupo da resultados contraditórios pelo fato do período pós hipotensão
intervenção não ter alcançado relevância estatística foram não ser bem controlado em muitos estudos.
observadas reduções em média de 3 mmHg após 60 minutos Algumas limitações do estudo devem ser levadas em
da atividade física. Em estudo semelhante, Mac Donald [33] consideração. O número pequeno de participantes que pre-
veriicou que 10 minutos de exercício moderado foram sui- enchiam os critérios de inclusão, a falta de controle da dieta
cientes para eliciar uma diminuição da pressão arterial sistólica alimentar das voluntárias, bem como das atividades exercidas
e diastólica pós exercício em indivíduos hipertensos mensu- ao longo do dia da realização da pesquisa pode inluenciar a
rada em até 1 hora após realização do exercício. Whelton e resposta hipotensora.
colaboradores [34] postularam que pequenas modiicacaões
na PA já são capazes de proporcionar um grande impacto Conclusão
na sobrevida cardiovascular de uma pessoa, pois, reduções
na PAS de 3 e 5 mm Hg podem diminuir o risco de infarto Com base nos resultados obtidos no presente estudo,
em 8% e 14% e o risco de doença coronariana em 5% e 9%, pode-se concluir que o exercício aeróbio de duração de 10
respectivamente, bem como, reduzir a mortalidade por todas minutos parece não ser suiciente para causar efeito hipotensor
as causas em 4 e 7%, respectivamente. agudo sobre a pressão arterial de mulheres hipertensas verii-
Analisando a pressão arterial diastólica, Pescatello et al. cados durante o transcorrer de uma hora seguinte a pesquisa.
[35], mensurando a resposta da pressão arterial ambulatorial Além disso, os dados demonstraram comportamento da
em relação ao exercício aeróbio agudo observaram contraria- pressão arterial semelhante entre o grupo controle e o grupo
mente aos dados encontrados reduções signiicativas da PAD submetido ao exercício.
(8 mmHg) nos hipertensos. Respostas contrárias também Sugere-se a realização de novos estudos especialmente
ocorreu em relação aos estudos [36,37] os quais apresentaram em função de investigar modalidades diferentes de exercício
reduções signiicativas desse parâmetro entre 2 e 6 mmHg. em função da magnitude e da duração da hipotensão pós-
No presente estudo foi encontrado, diferentemente dos de- -exercício, pois possibilita a descoberta de novas formas de
mais estudos, um aumento da média da PAD inal do grupo estratégias não farmacológicas de prevenção e tratamento da
submetido ao exercício. hipertensão arterial.
Quanto à forma de duração escolhida para o exercício,
Viecili et al. [38], demonstraram eicácia na diminuição da Referências
PA com tempo maior de duração em relação ao nosso estu-
do correspondendo a 20 minutos, apresentando resultados 1. Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial, Sociedade Bra-
satisfatórios na redução da pressão arterial, já nos achados de sileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


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1993;22:653-4. cation Program. JAMA 2002;288(15):1882-8.
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and duration of post-exercise hypotencion in the hypertensive efect of dynamic exercise on arterial blood pressure. Circulation
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 129

36. Piepoli M, Coats AJS, Adamopoulos S et al. Persistent peripheral 40. Nami R, Mondillo S, Agricola E et al. Aerobic exercise training
vasodilatation and sympathetic activity in hypotension after fails to reduce blood pressure in nondipper-type hipertension.
maximal exercise. J Appl Physiol 1993;75:1807-14. Am J Hipertens 2000;13:593-600.
37. Staessen JA, Bieniaszewski L, O’Brien E et al. Nocturnal blood 41. Mancia G, Sega R, Bravi C et al. Ambulatory blood pressure
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data base. Hypertension 1997;29: 30-9. 1995;13:1377-90.
38. Viecili PRN, Bundchen DC, Richter CM et al. Curva-dose res- 42. Taylor-Tolber NS, Dengel DR, Bown MiD et al. Ambulatory
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para efeito hipotensor. Arq Bras Cardiol 2009;92(5):393-9. hypertension. Am J Hypertens 2000;13:44-51.
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


130 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 23

Fisioterapia na incontinência fecal:


uma revisão integrativa
Physical therapy in fecal incontinence: an integrative review
B.B. Camilo*, J.M.A. Cruz**, M.S. Magalhães, M.Sc.***, A.A.B. Façanha, M.Sc.***

*Fisioterapeuta, Graduada pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR, **Fisioterapeuta, Graduado pela Universidade Federal de
Pernambuco – UFPE e Pós-Graduando Latu Senso em Fisioterapia em Uroginecologia e Obstetrícia pela Faculdade Redentor/RJ,
***Fisioterapeuta, Docente da Universidade de Fortaleza – UNIFOR

Resumo Abstract
Introdução: A Incontinência Fecal (IF) é caracterizada por im- Introduction: Fecal incontinence (FI) is characterized by inability
possibilidade de controlar a eliminação fecal, resultando em perda to control fecal elimination, resulting in involuntary loss of liquids
involuntária, com ou sem sensibilidade do paciente, de fezes líquidas or solids faeces and gases, with or without sensitivity of the patient.
ou sólidas e gases. Podendo acarretar prejuízos físicos, psicossociais e his may cause physical damage, psychosocial and emotional, and
emocionais, além de representativos custos econômicos. No âmbito economic costs representative. Within the physiotherapy we list
da isioterapia listam-se diversos recursos a serem utilizados para seu several resources to be used for its treatment. Given the above and
tratamento. Diante do exposto e frente ao aumento da expectativa due to increased life expectancy of the population, there is a need
de vida da população brasileira, veriica-se a necessidade de delinear to delineate the role of physical therapy in the FI. Objective: To
a atuação da Fisioterapia na IF. Objetivo: Analisar atuação da Fisio- analyze the performance of Physical herapy as a treatment for fecal
terapia, como tratamento para incontinência fecal, sua utilização e incontinence and also its use and its results. Method: A descriptive
seus resultados. Método: Estudo descritivo de revisão integrativa da study of integrative literature review. Was used a guide question:
literatura. Utilizou-se como pergunta norteadora: “O que está publi- “What is published in literature in the past eight years on physical
cado na literatura, nos últimos oito anos, sobre tratamento isioterápico therapy treatment for FI?”. For the study, we analyzed nine articles
da IF?”. Para a pesquisa foram utilizados nove artigos publicados published between 2002 to 2009. Results: We found a few articles
no período de 2002 a 2009. Resultados: Foram encontrados pou- about the subject, the majority emphasized the use of biofeedback,
cos artigos sobre o assunto, a grande maioria enfatizava o uso do but without many criteria concerning the patient selection and
biofeedback, mas sem muitos critérios para seleção de pacientes e choice of method. Conclusion: No randomized article comparing the
escolha do método. Nenhum artigo randomizado comparando as physical therapy techniques was found. Although the studies have
técnicas isioterapêuticas foi encontrado. Conclusão: Os estudos, positive results, they require more speciicity during the collections.
embora com resultados positivos, necessitam de mais especiicidade Key-words: fecal incontinence, physical therapy modalities.
durante as coletas.
Palavras-chave: incontinência fecal, isioterapia.

Endereço para correspondência: Milena Sampaio Magalhães, Av. Washington Soares, 1321 Edson Queiroz Fortaleza CE, E-mail: milena@unifor.br /
barbaracamilo43@yahoo.com.br.

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 131

Introdução e/andFisioterapia/Physioterapy,nas bases de dados Acade-


micSearch Elite, Fuente Académic, Medline, Health Source,
A Incontinência Fecal (IF) é caracterizada por impossi- Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientiic Eletronic Library
bilidade de controlar a eliminação fecal, resultando em perda Online(SciELO),Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
involuntária, com ou sem sensibilidade do paciente, de fezes (BDTD) e Bireme.
líquidas ou sólidas e gases [1,2]. Os critérios de exclusão foram publicações que não es-
A IF pode acarretar prejuízos físicos, psicossociais e emo- tivessem disponíveis na integra e/ou que não interligasse a
cionais, além de representativos custos econômicos, referentes patologia IF e o tratamento isioterápico. Ao im da pesquisa
ao uso de proteção, cuidados especializados, recuperação obtivemos nove artigos e uma dissertação, publicados nos
funcional e medicamentos [3]. períodos de 2002 a 2011.
A Incidência da IF ainda é desconhecida, contudo estima- Para análise dos artigos foi utilizado um instrumento de
-se que esta pode variar de 0,1 a 5% [04]. Outros autores su- coleta de dados, contendo informações sobre o ano de publi-
gerem ainda que a IF pode incidir em até 24% da População cação, abordagem metodológica e resultados com enfoque na
adulta [05]. Visto que a ocorrência da IF está relacionada com assistência isioterapêutica.
o aumento da idade, observa-se na comunidade idosa uma A análise dos dados ocorreu de forma organizada e crítica,
incidência de 2,2%, sendo que destes 30% tem 65 anos à medida que se realizou leitura aprofundada dos conteúdos,
ou mais; 63% são mulheres; e 36% dos pacientes podem buscando esclarecimentos a respeito do tema proposto.
apresentar-se incontinentes para fezes sólidas e 60% para
gás. Contudo, esses números podem ser ainda maiores, em Resultados e discussão
virtude do grande número de subnotiicação, onde se veriicou
que apenas 34% dos indivíduos com IF chegam a relatar tal Foram encontrados nove (9) artigos, apresentados no
queixa para o seu médico [4]. Tabela I conforme autor e ano de publicação, abordagem
No âmbito da isioterapia listam-se na literatura diversos metodológica e principais resultados relacionados ao tema.
recursos a serem utilizados no tratamento da IF, com destaque Destes, três artigos apresentam uma abordagem de estudo
para o Biofeedback, uma vez que atualmente este vem sendo de caso, um estudo retrospectivo, um estudo coorte pros-
adotado e reconhecido como o recurso de primeira escolha pectivo, um análise retrospectivo, um estudo observacional
para o tratamento conservador da IF [2]. comparativo à longo prazo, duas revisões da literatura, e uma
Diante do exposto e frente ao reconhecido aumento da revisão sistemática
expectativa de vida da população brasileira [6], veriicou-se Os estudos de casos auxiliam o esclarecimento de uma
a necessidade de delinear a atuação da Fisioterapia na IF. E a decisão, o motivo pelo qual tais decisões foram adotadas e os
partir da realidade constatada, implementar estratégias que resultados obtidos com as mesmas [8]. Os artigos com esta
favoreçam o trabalho multi e interdisciplinar aos pacientes metodologia abordam quatro casos ao todo.
com esta disfunção, melhorando assim a qualidade do trata- Costa e Santos [9] apresenta o relato de caso de duas
mento clínico funcional. mulheres com quadro de IF com mais idade de 63 e 55 anos,
onde a mais velha não possui histórico de gravidez, e a segunda
Objetivo realizou três partos normais. Ambas submetidas ao tratamen-
to isioterápico, com uso de biofeedback, cinesioterapia e
Analisar atuação da Fisioterapia, como tratamento para bola suíça em 16 atendimentos. A avaliação das pacientes se
incontinência fecal, sua utilização e seus resultados. deu antes e depois do tratamento e foi através do protocolo
isioterapêutico utilizando a avaliação funcional do assoalho
Metodologia pélvico (AFA), o biofeedback, e o índice de incontinência
anal (IIA). A paciente de 63 anos apresentava latulência e
Trata-se de um estudo descritivo de revisão integrativa da urgência antes do tratamento. Após os 16 atendimentos, a
literatura. Essa abordagem metodológica contempla melhor paciente relatou voluntariedade na eliminação das mesmas e
as temáticas da área da saúde, quando comparadas aos outros melhoras nos resultados da AFA, biofeedback e IIA, a frequ-
tipos de revisão. Essa revisão obedece às seguintes etapas: 1 – ência de acidentes que era de pelo menos uma vez por dia,
elaboração da pergunta norteadora; 2 – busca da literatura; 3 tornou-se ausente. A paciente de 55 anos apresentava IF em
– coleta de dados; 4 – analise crítica dos estudos selecionados; momentos de estresse e nervosismo. Após os 16 atendimentos
5 – discussão dos resultados; e 6 – apresentação [7]. relatou não apresentar mais incontinência a estes momentos.
Neste estudo, utilizou-se como pergunta norteadora: O Apresentou melhora no biofeedback e no IIA, mas não apre-
que está publicado na literatura, nos últimos oito anos, sobre sentou melhora evolução da AFA [9].
tratamento isioterápico da IF? O relato de caso feito por Cofey et al. [10], apresentava o
A busca na literatura foi realizada sem restrição de idiomas, uso do biofeedback e cinesioterapia (exercícios progressivos), á
utilizando os descritores incontinência fecal/fecal incontinence serem realizados em casa, em uma paciente mulher, de 30 anos

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


132 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

com histórico de um parto normal. A paciente se submeteu à retrospectivamente 513 pacientes, 445 mulheres, com mé-
um atendimento por mês, durante três meses, totalizando 4 dia de idade de 61,9 anos, submetidos ao tratamento com
atendimentos. Este estudo enfatizou mais nos exercícios do- biofeedback. Dentro deste número, 385 pacientes, ou seja,
miciliares. A avaliação pré e pós tratamento, para comparação 75% concluíram o tratamento.Para avaliação, foram utili-
dos resultados foi feita através de uma pontuação para seis zadas a pontuação da IF, a avalição da enfermagem (pois se
categorias de atividades funcionais, onde as pontuações variam tratou de uma população dentro de um hospital), e escalas
de 0 à 5, sendo 0 nenhuma limitação e 5 signiicando que de auto-avaliação analógica, qualidade de vida e medidas de
a IF impede totalmente a realização da função. Ao inal dos função isiológica do esfíncter anal. Trinta por cento dos que
atendimentos havia ausência de perda de fezes involuntárias concluíram o tratamento foram considerados continentes, e
e signiicativa melhora, em algumas categorias a pontuação 38% apresentaram melhora de no mínimo 70% da função.
chegou a 0, após o tratamento [10]. Os melhores resultados eram da percepção do paciente [15].
Souza; Suter; Tonon [11] relata o quadro de IF de uma O estudo comparativo foi realizado com 79 pacientes,
mulher de 67 anos, com história de três partos normais e uma que foram avaliados no inicio e 1; 6; 36 e 60 meses após o
cesariana, submetida ao tratamento com uso de estimulação tratamento, para avaliar os resultados a longo prazo do biofee-
elétrica do nervo tibial posterior (EENTP) e cinesioterapia, dback, os atendimentos aconteceram inicialmente, duas vezes
durante 20 atendimentos realizados duas vezes por semana. na semana, e a frequência foi alterada para uma vez no mês,
Ao inal dos atendimentos observou-se uma signiicativa mas foram orientados exercícios domiciliares. Utilizaram-
melhora através de uma avaliação subjetiva do tratamento -se questionários para avaliar os sintomas e gravidade da IF,
a escala visual analógica de 0 à 10. Onde inicialmente a pa- além da classiicação de Miller para determinar a frequência
ciente relatou nota 0 para o controle da evacuação e ao inal de episódios de IF. Os resultados mostraram que, mais de
do tratamento, atribuiu nota 7 [11]. 80% dos pacientes tratados recuperaram a continência. Ao
As revisões encontradas abordadas em três (03) artigos inal da última avaliação (60 meses) observou-se que 86%
[5,12,13] utilizaram-se de publicação que variam de 2004, dos pacientes mantinham a funcionalidade, ou melhoraram
2008 e 2009. signiicativamente o quadro de IF, comprovando a eicácia do
O artigo de Rao [3], apresenta 25 artigos totalizando 846 biofeedback á longo prazo [16].
pacientes, com idades entre 5 e 97 anos e na grande maioria
mulheres. O tratamento utilizado englobava biofeedback, Conclusão
orientação para exercícios em domicílio, eletroestimulação do
nervo sacral e canal anal e manometria. Os índices de melhora A partir deste estudo, percebemos a eicácia do tratamento
variaram de 41-92%, e não houve padrão na quantidade de isioterápico para o tratamento da IF, principalmente quando
atendimentos dos artigos, variando de 1 a 11 atendimentos no utilizado o biofeedback e a cinesioterapia. Os números de
período de um mês a um ano. Neste estudo, artigos com um atendimentos necessários variaram bastante dentre todos os
número mínimo de atendimentos, menos que três, mostrou estudos achados.
ser menos eicaz que os estudos que calcularam o número de Então, como resposta da nossa pergunta norteadora, faz-se
atendimentos com base no desempenho dos pacientes. Em necessário, estudos mais precisos e criteriosos, para especiicar
estudos controlados, a melhora subjetiva tem sido relatada em melhor os tipos de biofeedback, e quais pacientes seriam mais
40-85% dos pacientes. Nenhum dos artigos era randomizado beneiciados com a técnica quanto os tipos de IF.
e comparava o uso do biofeedback e outros tratamentos. O Percebemos que o tratamento conservador isioterapêutico
autor sugere que os critérios de seleção, motivação do indi- pode evitar intervenções cirúrgicas, evitando assim maiores
víduo, o entusiasmo do terapeuta e a gravidade da IF podem transtornos às pessoas portadoras dessa disfunção (IF), além
afetar o resultado de cada paciente. de se tratar de um procedimento menos dispendioso e que
Os artigos de revisão enfatizam o fato de o tratamento não gera transtornos equivalentes ao de um pós-operatório.
isioterápico ser considerado antes do cirúrgico, devido seus
benefícios. Seja ele com eletroestimulação, biofeedback ou Referências
treinamento muscular do assoalho pélvico [5,12,13].
As outras metodologias abordadas neste estudo é o estudo 1. Andrade NA. Doenças anorretais. In: Dani R. Gastroente-
de coorte prospectivo, onde 281 pacientes (89% mulheres), rologia essencial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan
com média de 59 anos, foram submetidos a nove atendimentos, 2001;411-26.
onde foram utilizadas eletroestimulação e treinamento do asso- 2. Bartlett LM, Sloots K, Nowak M, Ho YH. Biofeedback therapy
for faecal incontinence: a rural and regional perspective. Rural
alho pélvico com biofeedback. Os resultados foram analisados
and Remote Health 2011;11:1630-42.
através da pontuação de Vaizey. Entre os 281 pacientes, 239 3. Edwards NI, Jones D. he prevalence osfaecal incontinence in
inalizaram o tratamento e 143 apresentaram melhora [14]. older people living at home. Age and Ageing 2001;30(6):503-7.
O estudo retrospectivo, artigo com maior amostra do- 4. Oliveira L. Incontinência fecal. J Bras Gastroenterol
cumentado sobre biofeedback no tratamento da IF, analisou 2006;6(1):35-7.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 133

5. Bols AMJ, Berghmans BCM, Hendriks EJM, Baeten CGM. 11. Souza GP, Suter TMC, Tonon E. Tratamento isioterapêutico
Physiotherapy and surgery in fecal incontinence: an overview. em incontinência fecal com estimulação elétrica do nervo
Phy herapy Rev 2008;13(2):71-90. tibial posterior e cinesioterapia: relato de caso. Revista Horus
6. Ministério do planejamento, orçamento e gestão (Brasil), Insti- 2011;5(3):73-80.
tuto Brasileiro de Geograia e Estatística, Diretoria de pesquisa. 12. Rao SS. Diagnosis and management of fecal incontinence. Am
Peril dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil. Rio de J Gastroenterol. 2004;1585-604.
Janeiro: 2002. 13. Enck P, Van Der Voort IR, Klosterhalfen S. Biofeedback therapy
7. Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrada: o que é e in fecal incontinence and constipation. Neuro gastroenterol
como fazer. Einstein (São Paulo) 2010:8(1pt 1):102-6. motil 2009;21(11):1133-41.
8. Schramm, W. (1971). Notes on case studies of instructional 14. Terra MP, Dobben AC, Berghmans B, Deutekom M, Bae-
media projects. Working paper, the Academy for Educational ten MI, Janssen LWM, et al. Eletric stimulation and pelvic
Development, Washington, DC. loor muscle training with biofeedback in patients with fecal
9. Costa AP, Santos JG. Estudo prospectivo da resposta terapêutica incontinence: cohort study of 281 patients. Discolonrectum
ao biofeedback e cinesioterapia em pacientes portadoras de 2006;49(8):1149-59.
incontinência anal: relato de dois casos [trabalho de conclusão 15. Byrne CM, Solomon MJ, Young JM, Rex J, Merlino CL. Bio-
de curso]. Belém: Universidade da Amazônia, curso de Fisio- feedback for fecal incontinence; short-term outcomes of 513
terapia; 2008. consecutive patients and preditors of successful treatment. Dis
10. Cofey SW, Wilder E, Majsak MJ, Stolove R, Quinn L. he colon rectum 2007;50(4):417-27.
efects of a progressive exercise program with surface electromyo- 16. Lacima G,Pera M, Amadoc A, Escaramís G, Pique JM. Long-
graphic biofeedback on an adult with fecal incontinence. Phy -term results of biofeedback treatment for faecal incontinence:
herap 2002;12(8):798-811. a comparative study with untreated controls. Color Disea
2010;12(8):742-9.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


134 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Tabela I - Descrição dos artigos pesquisados, no período de 2002 a 2011, sobre assistência isioterapêutica na IF.
Artigos Autor Métodos Resultados
Estudo prospectivo da respos- Costa; Santos, Estudo de caso com 2 mulheres. Paciente A: AFA antes 3, depois 4. Biofeedback:
ta terapêutica ao biofeedback 2008 Utilizado biofeedback, cine- 8mmH, depois 11mmHg. IIA: 11 e depois 6.
e cinesioterapia em pacientes sioterapia e bola suíça em 16 Ausência de sintomas e maior controle de flatos e
portadoras de incontinência atendimentos. fezes após os atendimentos. Paciente B: AFA antes
anal: relato de dois casos. 2, depois 2.
[09] Biofeedback antes de 4 mmHg e depois de
8mmHg. IIA: antes de 12, depois 5. Após os aten-
dimentos apresentou ausência dos sintomas
The effects of a progressive Coffey SW et Estudo de caso, mulher, 30 Ausência de perda de fezes involuntárias no últi-
exercise program with surface al, 2002 anos, cinesioterapia (exercícios mo mês de tratamento. Ausência de limitação em
electromyographic biofeed- progressivos), e biofeedback, 04 três categorias do questionamento, e significativa
back on an adult with fecal atendimentos. melhora das outras três categorias, significando
incontinence.[10] melhora no quadro como um todo.
Tratamento fisioterapêutico Souza; Suter; Estudo de caso, mulher de 67 Através de uma avaliação subjetiva do tratamento
em incontinência fecal com Tonon, 2011 anos. Uso de cinesioterapia e a escala visual analógica de 0 a 10, a paciente
estimulação elétrica do nervo EENTP, no total de 20 atendi- avaliou inicialmente sua capacidade de controle
tibial posterior e cinesiotera- mentos. das evacuações como 0, e ao final dos atendi-
pia: relato de caso.[11] mentos 7. Significando uma melhora de 70%.
Diagnosis and management Rao, 2004 Revisão de literatura. 31 artigos, Apesar da falta de abordagem uniforme, a maio-
of fecal incontinence.[12] abordaram biofeedback e eletro- ria das técnicas de biofeedback parece conferir
estimulação do nervosa sacral e benefícios, e deve ser oferecida antes de trata-
canal anal. mentos cirúrgicos e à pacientes mais frágeis.
Physiotherapy and surgery in Bols et al., Estudo de revisão sistemática, Nos artigos analisados, os resultados foram pro-
fecal incontinence: an over- 2008 com 14 artigos analisados atra- missores, embora sua eficácia tenha que ser mais
view.[05] vés da lista de Delphi. bem verificada devido a grande diferença de tipos
de pacientes e causas da patologia, ou seja, não
há um estudo que unifique tais questões para um
resultado mais fidedigno.
Biofeedback therapy in fecal Enck; Van Revisão de literatura, com 19 Resultados foram positivos em todos os artigos,
incontinence and constipation. Der Voort artigos, sendo 11 de estudo mas conclui-se que o se sabe, ao certo, se os
[13] ;Klosterhalfen, randomizado, sobre tratamento benefícios são exclusivos do biofeedback, ou se
2009 da IF com uso do biofeedback e há um efeito placebo, um estimulo psicológico
exercícios terapêuticos, de 1984 por parte do paciente.
à 2007.
Eletric stimulation and pelvic Terra et al., Estudo de coorte prospectivo, no Segundo pontuação de Vaizey, houve melhora em
floor muscle training with bio- 2006 período de 2001 à 2005. 143 pacientes.
feedback in patients with fecal Realizado com 281 pessoas. São necessários estudos para identificar que
incontinence: cohort study of Utilizando eletroestimulação e grupo de pacientes se beneficiaria mais com a
281 patients.[14] biofeedback. Avaliação feita reabilitação do assoalho pélvico.
através da pontuação de Vaizey.
Biofeedback for fecal incon- Byrne et al., Estudo de análise retrospectiva385 pacientes completaram o tratamento, o
tinence; short-term outcomes 2007 de 513 pacientes; uso de biofee-
índice de melhora de cada paciente foi maior que
of 513 consecutive patients dback. Em até 5 atendimentos. 70%. Nenhum outro tratamento foi utilizado. 30%
and preditors of successful dos que terminaram o tratamento foram conside-
treatment.[15] rados totalmente continentes.
Long-term results of biofee- Lacima et al, Estudo comparativo à longo Ao final da última avaliação (60 meses), obser-
dback treatment for faecal 2010 prazo, com 79. 40 pacientes vou-se que 86% dos pacientes tratados manti-
incontinence: a comparative foram avaliados, mas não foram veram a continência adquirida, ou melhoraram
study with untreated controls. submetidos ao tratamento com significativamente, o quadro de incontinência.
[16] biofeedback. Comprovando a eficácia do biofeedback à longo
prazo.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 135

Artigo 24

Repercussão da incontinência urinária na qualidade


de vida de mulheres idosas institucionalizadas
Repercussion of urinary incontinence on the quality
of life in institutionalized elderly women
Joelson dos Santos Silva*, Fernanda Diniz de Sá**, Maria das Graças Costa***, Kamila Brena Almeida de Oliveira*,
Adriana Gomes Magalhães**

*Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, **Docente mestre do Curso de Fisio-
terapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, ***Fisioterapeuta graduada pelo Centro Universitário de João
Pessoa – UNIPÊ

Resumo Abstract
A presente pesquisa tem como objetivo investigar a qualidade de his study aimed to investigate the quality of life of elderly
vida de idosas com incontinência urinária, residentes em uma insti- women with UI, all living in a philanthropic health care in João
tuição de longa permanência para idosos do município de João Pes- Pessoa/PB. It was a cross-sectional descriptive study with a popu-
soa, PB. Trata-se de um estudo descritivo, de corte transversal, cuja lation of elderly women (≥ 60 years old), well-oriented and able to
população foi composta de mulheres com idade igual ou superior a be interviewed. Data collection was done through a survey with a
60 anos, conscientes e orientadas no tempo e no espaço, capazes de questionnaire to evaluate the quality of life of incontinent elderly.
interagir em uma entrevista. A coleta dos dados foi feita através de Was used the King’s Health Questionnaire - KHQ. he statistical
entrevista e o instrumento King’s Health Questionnaire - KHQ foi data analysis included average, standard deviation, minimum and
utilizado para avaliar a qualidade de vida das idosas incontinentes. maximum values to each variable. Were interviewed 30 elderly
A análise estatística dos dados foi feita em forma de média, desvio women. he woman reported urinary loss: bedwetting (30%), urge
padrão, valores mínimos e máximos para cada variável. Encontrou-se incontinence (33%), efort incontinence (17%). he analysis of the
um total de 30 idosas cujos episódios de incontinência, relatados quality of life’s domains in KHQ showed that the general health
como muito frequentes, foram assim distribuídos na amostra: 30% perception domain showed higher mean value, followed by the
apresentou noctúria, 33% incontinência de urgência e 17% incon- UI impact and severity degrees. Other areas showed a decreasing
tinência de esforço. Na análise dos domínios da qualidade de vida evaluation according to the following order: sleep and disposition;
no KHQ, observou-se que o domínio Percepção Geral da Saúde physical limitations, social limitations, emotions, and daily acti-
apresentou maior valor médio quando comparado aos outros resul- vities limitations. We concluded that the Urinary Incontinence
tados, seguido pelo Impacto da IU e as Medidas de Gravidade. Os has important prevalence among institutionalized elderly and can
demais domínios apresentaram uma avaliação decrescente seguindo compromise their quality of life. So we believe that intervention
a seguinte ordem: Sono e Disposição; Limitações Físicas; Limitações measures should be taken in an attempt to reduce this syndrome.
Sociais; Emoções; e Limitações de Atividades Diárias. Concluiu-se Key-words: quality of life, urinary incontinence, women’s health,
que a incontinência urinária tem prevalência importante entre aged
idosas institucionalizadas, entretanto não compromete a qualidade
de vida das mesmas. Diante disso, medidas de intervenção devem
ser adotadas, para que o problema não seja minimizado e entendido
como sendo próprio do envelhecimento normal.
Palavras-chave: qualidade de vida, incontinência urinária, saúde
da mulher, idoso.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


136 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução Metodologia

A incontinência urinária (IU) é deinida como toda e O presente trabalho corresponde a um estudo de campo,
qualquer perda involuntária de urina, de origem multifatorial descritivo do tipo transversal. A pesquisa foi realizada agosto
e pode ocorrer em diversas situações, causando constrangi- a setembro de 2011 em uma instituição de longa Permanên-
mento social e problema higiênico, independentemente do cia para Idosos (ILPI), localizado em João Pessoa/PB sendo
sexo e idade, com predominância no sexo feminino e idade caracterizada como uma instituição ilantrópica que abrigava
acima dos sessenta anos [1]. 123 idosos.
Não é considerada uma doença, mas um conjunto de sinais A população do estudo foi constituída por todas as idosas
e sintomas que restringem alguns indivíduos, interferindo (60 anos ou mais de idade) moradoras na ILPI já mencionada.
na vida relacional e psicológica do mesmo, diicultando as A amostra foi composta por 30 idosas que corresponderam aos
relações sociais devido às situações de constrangimento que seguintes critérios de inclusão: idade igual ou superior a 60
a incontinência pode lhe trazer [2]. Existe crescente preo- anos, ser do sexo feminino, ser capaz de ouvir, compreender
cupação, não somente na determinação da ocorrência de e se expressar verbalmente, aceitar participar voluntariamente
incontinência, mas também no fato de que esse problema da pesquisa, assinando um termo de consentimento livre e
pode interferir na qualidade de vida dos indivíduos. esclarecido.
A Prevalência da IU entre mulheres jovens é de 10 a A coleta de dados foi feita mediante entrevista, utili-
20%, e de 30 a 40% naquelas com idade igual ou superior zando um questionário que buscou informações referentes
a 65 anos. No Brasil, estima-se que 11 a 23% da população aos dados sociodemográico. Posteriormente foi aplicado
feminina seja incontinente, embora muitas mulheres não um instrumento utilizado para avaliar a qualidade de vida
relatem essa condição [3]. Estudos revelam que a prevalência de indivíduos com incontinência urinária, o King’s Health
da incontinência urinária no idoso varia de 8 a 34%. Essa Questionnaire - KHQ que é validado no Brasil [8]. O KHQ
variação da prevalência pode ser parcialmente explicada pelos está organizado em 9 domínios que tratam respectivamente
diferentes tipos de questionários aplicados, pelas amostras da Percepção da Saúde (1 item); Impacto da Incontinência
populacionais distintas e pela falta de uniformização nas Urinária (1 item); Limitações no Desempenho de Tarefas
deinições [4]. (2 itens); Limitação Física (1 item); Limitação Social (3
O conceito de qualidade de vida (QV), abordado na itens); Relações Pessoais (3 itens); Emoções (3 itens); Sono/
literatura, está relacionado ao bem- estar e a auto-estima das Disposição (2 itens); Medidas de Gravidade (4 itens). Além
pessoas de forma geral e envolve uma série de aspectos como disso, o instrumento apresenta uma escala de sintomas que
o estado emocional, a interação social, a atividade intelectu- compreende os seguintes itens: frequência urinária, noctúria,
al, o nível socioeconômico, o próprio estado de saúde, seus urgência, hiperrelexia vesical, incontinência urinária de es-
valores éticos e a religiosidade, o estilo de vida, a satisfação forço, enurese noturna, incontinência no intercurso sexual,
com o emprego e/ou com atividades diárias e o ambiente em infecções urinárias e dor na bexiga.
que se vive. Portanto o conceito de qualidade de vida varia O instrumento é classiicado conforme quatro possibilida-
de autor para autor, apresenta várias deinições, e além disso, des de respostas: “nem um pouco, um pouco, moderadamen-
é subjetivo, dependente da idade e do nível sociocultural e te, muito”; “nunca, às vezes, frequentemente, o tempo todo”.
de cada pessoa [5]. Exceto o domínio percepção da saúde que apresenta cinco
O interesse em mesurar a qualidade de vida em relação possibilidades de respostas: muito boa, boa, regular, ruim,
aos cuidados com a saúde tem aumentado nos últimos anos muito ruim e ao domínio ‘relações pessoais’ ”não aplicável,
[6]. Entende-se que os funcionamentos físicos e emocionais nem um pouco, um pouco, moderadamente e muito”. Nesse
repercutem diretamente sobre a QV, e indiretamente a in- instrumento, há uma escala tipo Likert que avalia o quanto
capacidade física é inluenciada por anormalidades biológi- a incontinência urinária interfere na vida diária das pessoas,
cas, devido sua relação causal com a incontinência urinária. cuja pontuação varia de zero a dez, sendo que zero interfere
A IU relaciona-se a comprometimento físico e psicossocial pouco na vida do sujeito e dez, muito.
e há evidências de que a maioria dos incontinentes passam A análise dos dados coletados no KHQ foi feita através
por situações onde os sentimentos de solidão, tristeza e dos escores inais calculados pelas respostas adquiridas nos
depressão se tornam muito evidentes e preocupantes, mas questionários aplicados. As pontuações variam de 0 a 100 e
que a inluência da mesma na QVRS varia de acordo com quanto maior a pontuação obtida, pior é a QV relacionada
o tipo de incontinência e com a percepção individual do àquele domínio. A análise estatística dos dados foi apresentada
problema [7]. na forma de média, desvio padrão, valores mínimos e máximos
Diante do exposto, a presente pesquisa teve como objetivo para as variáveis numéricas. O programa Microsoft Windows
geral investigar a repercussão da IU na qualidade de vida de 98 com Excel 1998 foi utilizado para a análise dos dados.
idosas que vivem em instituições de longa permanência. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pes-
quisa do Centro Universitário de João Pessoa de acordo com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 137

as disposições da resolução 196/96, que regula as pesquisas 77% não apresentaram, 20% apresentaram um pouco de dor
com seres humanos. e 3% relataram dor moderada.
De acordo com a análise dos domínios representados na
Resultados Tabela II, observou-se que limitações das atividades diárias
não foram relatadas pela maioria das idosas, 97%, sendo que
Entre as mulheres izeram parte da pesquisa, 40% delas apenas 3% delas sentem “um pouco” de tais limitações no
consideraram a saúde atual como boa, enquanto que 10% que corresponde aos afazeres e atividades.
muito boa, 37% airmam ter saúde regular, 10% classiicaram
como ruim e 3% muito ruim. A tabela I ilustra a prevalência e Tabela II - Distribuição da amostra de acordo com as limitações das
intensidade dos sintomas na amostra. Em relação a prevalência atividades diárias - King’s Health Questionnaire (KHQ).
e os sintomas da polaciúria, observou-se que 13% apresentaram Variáveis Prevalência de Sintomas (%)
essa queixa e 10% não sofreram alteração de frequência no ato Mode-
Um
de urinar. Referente a noctúria, 9% relataram que levantam Não rada- Muito
pouco
muitas vezes a noite para urinar, 20% considera a frequência -mente
moderada e 17% apresentaram esse problema (Tabela I). Problemas de bexiga
97 3 - -
afeta seus afazeres
Tabela I - Distribuição da amostra de acordo com a Escala de Presença Afeta seu trabalho/
97 3 - -
e Intensidade dos Sintomas - King’s Health Questionnaire (KHQ). suas atividades
Características Prevalência de Sintomas (%) Fonte: Dados do pesquisador, 2011.
Mode-
Um
Não rada- Muito No domínio relacionado às limitações físicas e sociais (Ta-
Pouco
-mente bela III), foi observado que em 93% das idosas o problema
Frequência 10 44 33 13 na bexiga não interferia (nem um pouco) na realização das
Noctúria 17 33 20 30 atividades físicas.
Urgência 34 10 23 33
Urge-Incontinência 37 20 23 20 Tabela III - Distribuição da amostra de acordo com as limitações
Incontinência de físicas e sociais - King’s Health Questionnaire (KHQ).
53 10 20 17
Esforço Variáveis Prevalência de Sintomas (%)
Enurese Noturna 87 3 7 3 Mode-
Um
Durante a Relação Não rada- Muito
(N/A)* pouco
Sexual -mente
Infecções Urinárias Atrapalha suas ativida-
97 - - 3 93 7 - -
Frequentes des físicas
Dor na Bexiga 77 20 3 - Atrapalha suas viagens 73 20 4 3
Dificuldade para Limita sua vida social 77 20 - 3
97 3 - -
Urinar Limita encontro com
90 7 3 -
*N/A: não se aplica amigos
Fonte: Dados do pesquisador, 2011. Fonte: Dados do pesquisador, 2011.

No que diz respeito a urgência, 33% apresentaram diiculdade No domínio relacionado às “emoções” demonstrada na
de controlar a vontade de urinar, 34% não apresentaram esse Tabela IV, mostra que, quando as mulheres foram questiona-
sintoma e 23% apresentaram-no moderadamente. Com relação das sobre o fato de a IU deixá-las deprimidas, 97% relataram
à urge-incontinência 37% das entrevistadas não relataram perda que “não” e 3% airmam que “um pouco”.
de urina antes de chegar ao banheiro, 23% relataram perda mode-
rada, 20% pouca perda e 20% referiram perder muita urina. Essa Tabela IV - Distribuição da amostra de acordo com as emoções -
sintomatologia esteve presente num total de 63% das entrevistadas King’s Health Questionnaire
Em relação à incontinência urinária de esforço (IUE), Variáveis Prevalência de Sintomas (%)
caracterizada pela perda de urina com a prática de atividades Mode-
físicas, 17% relataram uma perda acentuada, 20% perda Um
Não rada- Muito
moderada, 10% pouca perda e 53% não apresentaram perda pouco
-mente
de urina durante a prática de atividades físicas. Referente a Sente-se deprimida 97 3 - -
enurese noturna, o sintoma prevalece em 13% da amostra, e Ansiosa ou nervosa 90 7 3 -
a frequência de infecções urinárias foi relatada por apenas 3% Sente-se mal consigo 90 4 3 3
das idosas. No que concerne à intensidade de dor na bexiga, Fonte: Dados do pesquisador, 2011.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


138 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Com a análise dos resultados inerentes ao domínio das Discussão


alterações do sono e energia (Tabela V) houve maiores índices
entre as idosas 53% com relação ao sono e 17% com relação A maioria dos idosos residente em instituição apresentam
ao cansaço/ esgotamento. Pelos inconvenientes da IU foi condições precárias de saúde, que envolve sedentarismo, ca-
observado que 13% das idosas têm o sono afetado “o tempo rência afetiva, diminuição de atividades físicas e mentais, seja
todo” e 10% “frequentemente”. pela idade ou incapacidade funcional, perda de autonomia,
distanciamento de familiares que não consegue manter o idoso
Tabela V - Distribuição da amostra de acordo com as alterações no sobre seus cuidados, ou devido a falta de recursos inanceiros
sono/ energia - King’s Health Questionnaire (KHQ). para ajudá-lo [9]. Estes fatores podem desencadear sintomas
Variáveis Prevalência de Sintomas (%) depressivos no idoso, devido o isolamento social que afeta sua
Fre- saúde e impacta sobremaneira sua qualidade de vida [10]. Em
O
Às quen- relação à presença de IU observam-se variações na intensidade
Não tempo
vezes te- do impacto negativo que causam nas pacientes.
todo
-mente De acordo com a análise dos domínios a qualidade de
Afeta seu sono 47 30 10 13 vida no KHQ, observou-se que o domínio Percepção Geral
Sente-se esgotada/ da Saúde apresentou maior valor médio quando comparado
83 14 3 -
cansada aos outros resultados, seguido pelo Impacto da IU e as Me-
Fonte: Dados do pesquisador, 2011. didas de Gravidade. Os demais domínios apresentaram uma
prevalência decrescente seguindo a seguinte ordem: Sono e
De acordo com as medidas e gravidades (Tabela VI) Disposição; Limitações Físicas; Limitações Sociais; Emoções;
avaliadas pelo KHQ, houve relato de uso de forros ou e Limitações de Atividades Diárias.
absorventes por 33% da amostra (com intensidades que Na análise dos domínios especíicos de qualidade de
variam entre: às vezes, frequentemente e o tempo todo). vida, propostos pelo instrumento, observou-se uma grande
Percebe-se que o fato de tomar cuidados com a quantidade variabilidade de resultados, médias com o desvio padrão rela-
de líquido para redução da perda de urina, 87% das idosas tivamente baixos. Por meio do questionário também se pôde
nunca se preocupam com esse fator, e 13% “às vezes” tomam mostrar quais os fatores que afetam a qualidade de vida das
cuidado com isso. Observa-se que há uma inluência negativa pacientes com incontinência urinária, em relação ao domínio
na qualidade de vida dessas idosas, uma vez que, há uma percepção geral da saúde.
preocupação das mesmas em cheirar a urina sendo relatado Assim, a frequência de micções diurnas e noturnas, a
por 47% delas, e o fato de sentirem-se envergonhadas com urgência e a urge-incontinência foram os fatores que mais
o problema 50%. impactaram a percepção da qualidade de vida das idosas. Da
mesma forma, o uso de forros absorventes, a necessidade de
Tabela VI - Distribuição da amostra de acordo com as medidas de trocar as roupas quando molhadas e a preocupação de cheirar
gravidade - King’s Health Questionnaire (KHQ). a urina, demonstram o impacto das medidas de gravidade
Variáveis Prevalência de Sintomas (%) na QV das idosas. Ortiz em seus estudos, observou que na
Fre- maior parte das mulheres uma frequência de perda de urina
O
Às quen- várias vezes ao dia prevalecendo às queixas entre pequena e
Não tempo
vezes te- moderada. Seu estudo revelou também a grande preocupação
todo
-mente das mulheres em icarem restritas às atividades sociais pelo
Usa forros/ absorventes 67 6 7 20 cheiro da urina [11].
Cuidado com a quan- Quanto à intensidade dos sintomas, os maiores índices
tidade de líquido que 87 13 - - foram constatados nos sintomas relacionados à noctúria,
bebe a urgência e a urge-incontinência. Resultados semelhantes
Troca as roupas quan- foram apresentados na amostra em pesquisa de Silva e Santos
40 17 13 30
do estão molhadas [12], que demonstraram os mesmos sintomas dentre os que
Preocupa-se com a mais interferiram na negativamente sobre a qualidade de vida.
possibilidade de chei- 53 13 7 27 O relato de perda urinária durante as atividades físicas foi
rar a urina de 37%, corroborando com estudos realizados por Guarisi et
Envergonha-se com o al., [13]. O esforço é a causa mais frequente de incontinência
50 33 10 7
problema de bexiga urinária, com incidência variando de 14 a 52% nas mulheres,
Fonte: Dados do pesquisador, 2011. aumentando de acordo com a idade [14].
A infecção do trato urinário é considerada como um dos
fatores causais da IU tais problemas no trato urinário podem
resultar em distúrbios do sono contribuindo para problema

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 139

dermatológico, à medida que piora o comportamento da redução de boa parte da qualidade de vida. Os sintomas da
bexiga já instável, ao aumentar o número e a frequência de incontinência trazem desordem no convívio e nas limitações
suas contrações involuntárias [12]. A dor referente a bexiga, das pacientes e uma queda da auto-estima [22].
que foi relatada por 23% das entrevistadas, é um sintoma que Ao analisar o domínio das alterações do sono e energia, os
pode ser um sinal de infecção urinária, tipo cistite, descrita sintomas foram evidenciados na amostra, com prevalência em
pela a aderência da bactéria à bexiga leva ao quadro de cistite relação ao sono em 53% das idosas e em relação ao cansaço/
bacteriana, ou infecção do trato urinário inferior, o que tam- esgotamento, em 17% das mesmas. Há que se considerar que
bém representa risco para o surgimento da IU [15]. 13% das idosas têm o sono afetado “o tempo todo” e 10%
No que diz respeito a limitações das atividades diárias, ape- “frequentemente” pelos inconvenientes da IU. Esses sintomas
nas 3% delas relataram que sentem “um pouco” tais limitações são referenciados nos estudos de Reis et. al. [4], airmando
em ambos os aspectos (afazeres/ atividades). Neste contexto, que a IU traz mudanças associadas aos distúrbios do sono.
estudos realizados por Silva e Lopes [16], demonstraram O número de micções noturnas pode provocar um grande
que 50% das pacientes acometidas pela IU, reportam que o impacto na vida das pacientes onde muitas delas evitam ingerir
problema afeta “um pouco” a vida cotidiana, considerando líquidos por medo de não controlar os atos miccionais, e as
que desvalorizam o fato de perder urina, pois acham normal micções noturnas podem atrapalhar o sono e as emoções das
ou ainda que o problema não seja importante. idosas incontinentes [23,24]. Sendo este um dos fatores que
Sobre o domínio relacionado às limitações físicas e sociais, mais prejudicou a qualidade de vida da amostra.
icou evidente que o problema na bexiga na sua maioria não O uso de forros ou absorventes foi relatado por 33% da
atrapalha as atividades físicas (caminhadas) de 93% das ido- amostra (com intensidades que variam entre: às vezes, fre-
sas. A maior prevalência foi veriicada em relação às viagens quentemente e o tempo todo). Autores como Auge et al. [25]
e vida social, apresentando também maior intensidade dos airmam que a necessidade do uso de forros ou absorventes
sintomas. A IU se caracteriza como um problema comum e a troca de roupas, afetam a QV.
sem risco de vida, contudo os sintomas relacionados podem Falar sobre a ingestão diária de líquidos faz-se necessário, já
interferir adversamente no bem-estar físico, social e psicoló- que inluencia nas condições urinárias por parte do paciente.
gico das pessoas afetadas por ela. O impacto da IU diminui Sobre isso, o que se percebe é que grande parte das pessoas que
seriamente a qualidade de vida das pessoas [17]. O impacto sofrem de incontinência urinária acaba diminuindo o volume
da incontinência causa situação constrangedora na vida das de consumo de água, pelo medo de interferir no aumento
pessoas incontinentes apresenta afastamento das atividades das perdas de urina [26]. O que se observou, no entanto,
do dia a dia, restrições quanto à frequentar lugares públicos, foi que 87% das idosas da amostra nunca se preocuparam
perda da autoconiança. com esse fator, e apenas 13% relataram dar um pouco de
É evidente que os fatores relacionados à vida social estão importância a isso.
diretamente ligados a qualidade de vida (QV). Paschoal [18], Cabe ressaltar que a maioria das idosas relatou que a perda
em seu estudo sobre a qualidade de vida do idoso, airma que da urina é normal e faz parte do envelhecimento. Para Lopes
a avaliação pessoal, envolve um processo complexo onde o e Higa [19] a IU não pode ser considerada patologia comum
indivíduo faz um balanço a partir de valores, princípios e do envelhecimento natural, embora algumas alterações no
critérios assimilados ao longo da vida. De acordo Lopes e trato urinário possam favorecer seu aparecimento.
Higa [19], em pesquisas realizadas com idosas, a limitação
social foi relatada por 33,5%, onde 18,9% relataram não sair Conclusão
de casa por vergonha de perder urina em ambiente público e
em relação aos fazeres doméstico, o que não corrobora com De uma maneira geral, a qualidade de vida foi considerada
os resultados da amostra estudada. pior quando o tipo de queixa era o impacto da IU, ou seja,
De acordo com Guimarães e Caldas [20] a IU gera reper- como ela inluência a vida diária das idosas, embora o maior
cussões nos aspectos sociais, restringe a capacidade de interagir escore obtido foi em relação a percepção geral de saúde. Em
com o ambiente, impede as mulheres de viajar, de sair de casa, conjunto, os resultados demonstram que a QV foi negativa-
isso reforça o isolamento na velhice. mente impactada, mas não apresentou pontuação tão elevada
Ao questioná-las sobre o fato do problema de IU deixá-las ao ponto de comprometer a qualidade de vida das idosas em
deprimidas, 97% relataram que “não”. De acordo com Abreu sua totalidade, considerando que os demais domínios apre-
[21] os incontinentes icam constrangidos com seus sintomas sentaram escores relativamente baixos.
e muitas vezes vivenciam sentimentos de solidão, tristeza e O que preocupa é que a despeito de as idosas da amostra
depressão mais alorados que os que não são acometidos pela relatarem sintomatologia compatível com quadros de inconti-
IU, o que não corresponde a realidade da amostra. nência urinária, essas não parecem perceber isso enquanto um
A IU pode reduzir a capacidade física, e a consequente problema, o que pode levar essas mulheres a não procurarem
diminuição nas tarefas de casa, impactando a vida de manei- tratamento adequadado por achar que isso é algo comum ao
ra diferente para cada idosa, podendo resultar em estresse e envelhecimento. Portanto, é de grande interesse que se estude

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


140 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

os impactos dos problemas incidentes na terceira idade em 11. Ortiz OF. Urinária de esforço na prática ginecológica.
relação à QV, para o desenvolvimento de ações que contri- 2004;86:S6-S16.
buam para um envelhecimento saudável (prevenção) e com 12. Silva APM, Santos VLC. Prevalência da incontinência uriná-
melhor qualidade de vida para portadores de IU. ria em adultos e idosos hospitalizados. Rev Esc Enferm USP
2005;39(1):36-45.
Ao abordar a repercussão da incontinência urinária na
13. Guarisi T, Pinto Neto AM, Osis MJ, Costa Paiva AOPLHS,
qualidade de vida de idosas institucionalizadas, não se obje- Faúndes A. Procura de Serviço Médico por Mulheres com Incon-
tivou aqui esgotar todas as questões referente a incontinência tinência Urinária. Rev Bras Ginecol Obstetr 2001;23(7):439-43.
urinária e como esta afeta a percepção da qualidade de vida 14. Ribeiro RM, Rossi P. Incontinência urinária de esforço. In: Hal-
das idosas. Buscou-se trazer à tona discussões acerca desse be HW. Tratado de ginecologia. 3ª ed. São Paulo: Roca; 2000.
problema e estimular a continuidade da pesquisa em relação 15. Schor N. Abordagem diagnóstica e terapêutica na infecção do
à temática proposta, que venha abordar práticas que possi- trato urinário. AMB Rev Assoc Med Bras 2003;29(1):109-16.
bilitem a prevenção nos cuidados com a saúde, para que se 16. Silva L, Lopes MHBM. Incontinência urinaria em mulheres:
possa desfrutar de uma velhice com qualidade. razões da não procura por tratamento. Rev Esc Enferm USP
2009;43(1).
17. Burgio KL, Matthews KA, Engel FA. Prevalência e incidência
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Idosos Institucionalizados. Anais do 8º Encontro de Extensão 2006;28(6):352-7.
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Coelho FGM, Gobbi S. Estudo do nível de atividade física, Enferm 2009;62(1):51-6.
independência funcional e estado cognitivo de idosos institucio-
nalizados: análise por gênero. Revista Brasileira de Biomotricity
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 141

Artigo 25

Estudo fenomenológico sobre a percepção masculina


das transformações da mulher no período gestacional
e suas implicações afetivo-sexuais
Phenomenological study on male perception of women’s
transformations in gestational period and affective-sexual implications
Neyliane Sales Chaves Onofre, M.Sc.*, Georges D. Janja Bloc Boris, D.Sc.**

*Docente Mestre da FANOR/DeVry (CE). Especialista em Fisioterapia na Saúde da Mulher, **Docente Doutor do Programa de
Mestrado e Doutorado de Psicologia da UNIFOR (CE)

Resumo Abstract
A mulher no período gravídico-puerperal exige adaptações he woman during gravidic-puerperal cycle presents anatomi-
anatômicas, funcionais e emocionais, que repercutem em mudan- cal, functional and emotional adaptations, which relect in body
ças corporais, no bem-estar, no humor, nos relacionamentos e na changes, well-being, mood, relationships and sexuality. What makes
sexualidade. O que torna importante investigar sobre as vivências it important to investigate the experiences of men in this period,
masculinas neste período, para buscar compreender os aspectos seeking to understand the afective-sexual aspects during this period.
afetivo-sexuais que permeiam o casal no ciclo gravídico-puerperal. Was adopted in this study a phenomenological listening of male
Adotou-se, neste estudo, uma escuta fenomenológica da subjetivi- subjectivity in order to discuss the testimony of 12 men. he sub-
dade masculina, visando a discutir o depoimento de 12 homens. jects of the study were of middle and upper class, average 36 years
Estes eram adultos de classe média-alta, com média de idade de 36 old, all living a stable union. he results indicate the occurrence
anos, todos em união estável. Os resultados indicam a ocorrência of adaptations in the conjugal relationship, triggering a process of
de adaptações na relação conjugal, desencadeando um processo de restructuring and re-adaptation of the man. he discomforts of
reestruturação e de readaptação do homem. Os desconfortos gesta- pregnancy and the transformations of the female body gives raise
cionais e as transformações do corpo feminino ensejaram adaptações to changes in the sexual act that impact on the reduction of libido
no ato sexual, que repercutiram na redução da libido e na frequência and sexual frequency. he afection is stronger with the arrival of the
sexual. A afetividade está mais fortalecida com a chegada do ilho. child. Public policies must be created and strengthened to encourage
Deve-se criar e fortalecer políticas públicas, que estimulem ações educational, care and health promotion holistically, encompassing
educativas, a atenção e a promoção da saúde de forma integral, report on the physical, psycho-emotional and cultural myths to
englobando informar sobre os aspectos físicos, psicoemocionais e demystify and guide the couple. he healthcare professional is not
culturais para desmistiicar mitos e os orientar ao casal. O proissio- always prepared to inform, clarify and properly orient the doubts
nal da saúde, nem sempre está preparado para informar, esclarecer and questions of man.
e orientar adequadamente as dúvidas e as indagações do homem. Key-words: gravidic-puerperal cycle, male subjectivity, sexuality,
Palavras-chave: ciclo gravídico-puerperal, subjetividade affectivity.
masculina, sexualidade, afetividade.

Endereço para correspondência: neyliane.sales@hotmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


142 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução Metodologia

O homem e a mulher contribuem igualmente para a A pesquisa fenomenológica constitui abordagem descri-
concepção do ilho, mas é a mulher que vivencia as transfor- tiva, partindo da ideia de que se pode deixar o fenômeno
mações físicas, senti o bebê crescer em seu corpo. É fato que falar por si mesmo, com o objetivo de alcançar o sentido da
alguns homens sentem sensações semelhantes às das gestantes, experiência, ou seja, o que a experiência signiica para as pes-
como aumento de apetite, problemas digestivos, intestinais e soas que a vivenciaram [5]. O pesquisador faz uma descrição
aumento de sono [1], ou seja, sofrem da síndrome de couvade, das experiências vividas dos sujeitos-colaboradores sobre um
que é a expressão somática da ansiedade que envolve todo o conceito ou fenômeno. Os discursos e seus signiicados foram
processo e demonstra a identiicação do pai com a mãe, ou, analisados seguindo os passos que se resumem a: transcrição
uma ambivalência em relação à paternidade e a adaptação à da entrevista; divisão do texto original em seções; análise
nova situação, o que demonstra que as implicações da gravidez descritiva dos signiicados que emergiram de cada seção; e
e do puerpério ocorrem também no homem [2]. Portanto, as sair dos “parênteses” [6]. A análise é realizada, com base na-
mudanças que ocorrem neste período ensejam a necessidade quilo que se manifesta por si mesmo, pois a fenomenologia
de uma série de adaptações também por parte do homem [3]. procura tornar explicita a estrutura e o signiicado implícito
Consequentemente, com a chegada do bebê, inicia-se outro da experiência humana é uma expressão do mundo vivido.
período de desaios e transformações que interferem, direta O estudo foi realizado na Harmonia Materno Infantil
ou indiretamente, na conjugalidade [4]. As modiicações Clínica Interdisciplinar, em Fortaleza/CE. A pesquisa foi rea-
ocasionadas pela gravidez alteram o relacionamento conjugal, lizada nos meses de julho e agosto de 2011, com 12 homens.
ou seja, o casal é alvo modiicações no apoio dado e recebido, Todos eram adultos com idade entre 31 e 46 anos, em união
na preocupação sentida, nos conlitos vivenciados, nas prio- estável com tempo de relacionamento variando entre 2 a 16
ridades do casal e na sexualidade [3]. Muitos fatores levam anos. Os entrevistados eram da classe média-alta, com renda
a alterações que, se forem compreendidas, poderão auxiliar familiar acima de quinze salários-mínimos e todos tinham
na obtenção da felicidade sexual pelo casal. Desta forma, a o nível superior. No momento da entrevista, as parceiras se
gravidez pode alterar o comportamento afetivo-sexual, em encontravam entre dois meses a um ano após o parto. Após
virtude das inluências psicológicas e socioculturais. a seleção as entrevistas fossem realizadas no consultório da
clínica, foram esclarecidos, de forma breve, os objetivos da
Objetivos pesquisa e informamos os seus critérios éticos, enfocando e
assegurando-lhes o sigilo. Foi aprovado pelo Comitê de Ética
Durante muitos séculos, o homem foi afastado das vi- em Pesquisa da Academia Cearense de Odontologia / Centro
vências relacionadas com a gravidez, parto e pós-parto, mas de Educação Continuada – ACO, Processo No253.
hoje se observa a procura de conhecimento e participação
paterna neste período. As modiicações sociais relacionadas Resultados
com a emancipação da mulher vieram proporcionar um
envolvimento do pai em todo o processo. A gravidez passou Durante o período gestacional a mulher passa por um
a ser um projeto de vida e uma experiência partilhada pelo processo de transformações que proporciona mudanças e
casal, em que a ligação pré-natal se inicia cada vez mais pre- adaptações bio-psico-sociais, onde a gestante vivencia mo-
cocemente, facilitada pela visualização da imagem do bebê diicações no seu corpo oriundas da gravidez. O homem-pai
por meio da ultrasonograia, o que possibilita a construção também experiência este universo, com seus múltiplos con-
da paternidade ainda no ventre materno. Nesta perspectiva, tornos, como a sua personalidade, a cultura da masculinidade
esta pesquisa busca, então, compreender sobre as percepções e o seu contexto familiar. Desta forma, as modiicações que
masculinas acerca das transformações gestacionais objetivando ocorrem no corpo feminino no ciclo gravídico-puerperal e
orientar casais de forma multiproissional e interdisciplinar, e os desconfortos gestacionais repercutem em adaptações no
propor atendimento no ciclo gravídico-puerperal abrangente, ato sexual e interferem na sexualidade do casal. Todos os
envolvendo o casal, já que as repercussões da gravidez e do sujeitos colaboradores entrevistados falaram sobre as suas
puerpério atingem a ambos [5]. percepções com relação às mudanças do corpo da gestante
Para alcançar os objetivos propostos deste estudo, busquei no período gravídico-puerperal. O abdômen grávido pode ser
realizar uma pesquisa qualitativa, pois esta busca a compre- um empecilho para as práticas sexuais e afetar a intimidade do
ensão dinâmica do ser humano. Sua força metodológica é casal. Portanto, as mudanças do corpo tornam-se muitas vezes
atribuída à alta validade dos dados achados/colhidos, e seu obstáculos para prática sexual. Quando a afetividade e a sexu-
objeto de estudo são os fenômenos apreendidos. Optei pela alidade no relacionamento são bem exercidas, proporcionam
pesquisa qualitativa com abordagem fenomenológica, busca elementos que favorecem a vinculação do casal [7]. A gravi-
a interpretação das relações de signiicados referidos pelos dez enseja uma reorganização conjugal em que o casal busca
sujeitos colaboradores entrevistados. adaptações em todas as áreas, inclusive afetivo-sexuais [8]. Nos

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depoimentos dos meus colaboradores foi evidenciado que a oscilações de humor8. A sexualidade é afetada em alguns as-
frequência e a libido diminuem no ciclo gravídico-puerperal, pectos, principalmente no terceiro trimestre, pela necessidade
podendo trazer consequências importantes na vida do casal. de se adaptar a novas posições e pela disposição da gestante
Pode-se perceber que, de forma geral, a afetividade tende a para a atividade sexual [10]. Percebe-se que os desconfortos
aumentar, talvez para equilibrar o declínio da sexualidade no oriundos da gestação repercutem no desempenho sexual, para
ciclo gravídico-puerperal, quando o casal tem promovido uma isso é fundamental o entendimento do companheiro, pois
crescente conjugalidade antes e após a gravidez. quando ele compreende tais mudanças adapta-se melhor.
Onde Emanuel depõe que desconfortos gestacionais modii-
Discussão caram o ritmo do casal, e expõe:

Discutiram-se as falas significativas dos informantes Nos primeiros meses vem os enjoou, mudanças de humor, mudanças
sobre como vivenciaram a gravidez, suas impressões sobre a hormonais, tudo isso dando um certo desconforto para o casal,
subjetividade masculina, a percepção do corpo gravídico e mas considero que a gente levou bem. No inalzinho ela sentia-se
suas implicações no comportamento afetivo-sexual do casal. muito casada com as pernas inchadas, ai vem outra fase do próprio
É inquestionável o fato de que ocorrem intensas mudanças desconforto gestacional que prejudica até essa aproximação.
na vida conjugal e que estas ocasionam adaptações no ato
sexual. Vale salientar que as mudanças oriundas da gestação, A sexualidade é afetada em alguns aspectos, principalmen-
se inscrevem tanto no corpo quanto no plano afetivo. Todos te no terceiro trimestre, pela necessidade de se adaptar a novas
os fatores, sejam no âmbito físico ou emocional, estão intrinse- posições e pela disposição da gestante para a atividade sexual.
camente conectados e inluenciam, em maior ou menor grau, Neste sentido, exponho, aqui, a fala de Manasse:
a própria percepção ou o signiicado que a pessoa atribui a
eles. Onde destaca José: Na gravidez, realmente, a vontade diminui, pelo próprio descon-
forto da mulher, por causa da barriga. (...) Aquela história toda,
O corpo muda? Muda, porque era,... Quando há o crescimento, então: realmente, diminui a vontade.
a expansão do útero, você visualiza e sente que há um “stop”. Você
toca e você vê essa preocupação. É diferente. É diferente, por quê? Percebe-se que os desconfortos oriundos da gestação re-
Fica, em você, a ideia de que há uma gestação. Mas, essa mudança percutem no desempenho sexual, para isso é fundamental o
ocorreu, principalmente, no começo do crescimento do útero... entendimento do companheiro, pois quando ele compreende
tais mudanças adapta-se melhor, como percebo em Benjamin:
Na fala de Daniel, evidencia-se a percepção das transfor-
mações do corpo da mulher, e suas repercuções na sexualidade Toda mulher tem uma gravidez diferente. Todas icam diferentes:
do casal: umas, mais chorosas; outras icam mais nervosas. Enim, eu sabia
dos desconfortos. Eu percebi mudanças e incômodos nela princi-
[...] a gestação é um processo meio camaleônico, “tipo” que a gente palmente no inalzinho, com a barriga muito grande, ela se sentia
vai vendo experiências e fases, durante a própria gestação. (...) Eu mais cansaço e desconforto pra dormir (...). Eu tinha um pouco de
estava inseguro: eu sabia que ela é que ia passar por muitas trans- receio e tal de machucar a barriga: então, diminuímos de forma
formações e mudar o corpo e, talvez, ela ique... talvez ela se sinta natural um pouco a relação sexual.
diminuída porque ela vai icar com o corpo deformado, digamos
“né”? Será que o meu marido vai me querer depois dessa mudança? Ocorrem expressivas mudanças na trilogia biológica e
psicossocial, que repercutem, direta ou indiretamente, nas
O entrevistado refere que este momento é transformador, relações afetivo-sexuais do casal, produzindo um ajustamento
cheio de fases. As modiicações ocorridas do corpo da mu- decorrente das alterações físicas que acontecem na mulher,
lher no ciclo gravídico-puerperal ensejam incomodo físico como o crescimento abdominal, a sensibilidade mamária,
e emocional, podendo levar ao desinteresse sexual tanto no as náuseas, os vômitos, alteração na lubriicação vaginal, a
homem como na mulher [9]. Alguns depoimentos destacam lombalgia gestacional, o edema, entre outros.
as repercussões dos desconfortos gestacionais na sexualidade
do casal, onde Ruben refere: Conclusão

Os desconfortos gestacionais interferem um pouco na sexualidade, Os pais precisam elaborar afetivamente o cuidado mater-
tem dia que ela está mais cansada; outros dias ela está mais sensível. no/paterno com o qual irão proteger e amparar a criança que
(...). Aí conversamos: hoje, num tá legal. Deixa pra amanhã (sexo) está por vir. Devem também, buscar originalidade, esponta-
neidade e criatividade no período gravídico-puerperal. Os afa-
Tais mudanças de comportamento são esperadas na gos e as atitudes podem se tornar enrijecidas, empobrecendo
gravidez e no pós-parto, como o aumento da sensibilidade e as trocas cotidianas, levando ao comprometimento nas rela-

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ções afetivas do casal, principalmente quando o ajustamento Referências


conjugal está comprometido. Deste modo, a afetividade é um
grande inluenciador no comportamento sexual entre homens 1. Brennan A, Marshal LS, Ayres S, Alves H. Uma exploração
e mulheres, o que depende da vontade e do desprendimento qualitativa da síndrome de couvade em futuros pais. Revista de
do casal. Só encontra a afetividade quem a ediica, quem a Psicologia Reprodutiva e Infantil 2007;25(1):18-39.
distribui. É preciso haver a decisão de amar, e a vontade de 2. Bornholdt EA., Wagner A, Staudt ACP. A vivência paterna da
gravidez do primeiro ilho a luz da perspectiva paterna. Psicol
constituir e aprender essa arte do dia a dia. Querer amar, no
Clín 2007;19(1):75-92.
entanto, não é querer ser amado pelos outros. Querer amar 3. Piccinini CA., Silva M R, Gonçalves, TR., Lopes RS, Tudge J.
é pretender amar a partir de si mesmo, é tencionar oferecer O envolvimento paterno durante a gestação. Psicol Relex Crít
de si próprio. É importante investir na cumplicidade e no 2004;17(3):303-14.
companheirismo conjugal, para fortalecer os laços afetivos 4. Menezes CC, Lopes RD. Relação conjugal na transição para a
e emocionais, à medida que o casal vivencia a transição parentalidade: gestação até dezoito meses do bebê. Psico-USF
da conjugalidade para parentalidade. A afetividade entre o 2007;12(1):83-93.
casal no ciclo gravídico-puerperal aumenta principalmente 5. Brtnicka H, Weiss P, Zverina J. Human sexuality during preg-
se a gestação é planejada e muito esperada. Mas é fato, que nancy and the postpartum period. Bratist Lek Listy; 2009.
ocorre uma diminuição da frequência do ritmo sexual que é 110(7).p. 427- 31.
6. Moreira V. Clínica humanista-fenomenológica: estudos em psi-
perfeitamente compreensível pelas as mudanças e adaptações
coterapia e psicopatologia crítica. São Paulo: Anna Blume; 2009.
físicas e emocionais que perfazem o casal neste momento. O 7. Aslan G, Aslan K., Kizilyar A., Ispahir C, Esen A. A prospective
casal deve ser preparado para viver a parentalidade de forma anaysis of sexual funcion during pregnancy. Int J Impot Res
plena e adaptar a vida conjugal à nova realidade, pois o nas- 2005;17(2):154-7.
cimento de um ilho não implica só dar a vida a um novo ser, 8. Benute GRG. Aspectos emocionais da gravidez e do pós-parto.
mas também a um novo casal. Desta forma, é indispensável Cap 2. p. 19-26. In: Lopes MAB, Zugaib M, eds. Atividade física
preparar e orientar os pais, mediante ações de cuidado que na gravidez e no pós-parto. São Paulo: Roca; 2009.
envolvam valores e compromissos com a pessoa e com a vida 9. Magagnin C, Körbes JM, Hernandez JA, Cafruni S, Rodrigues
humana, pois as adaptações orgânicas, funcionais e emocio- MT, Zarpelon. Da conjugalidade à parentalidade: gravidez,
ajustamento e satisfação conjugal. Aletheia; 2003. p. 41-52.
nais da mulher grávida interferem na sexualidade masculina
10. Savall A, Mendes AK, Cardoso FL. Peril do comportamento
no ciclo gravídico-puerperal. sexual na gestação. Fisioter Mov 2008;21(2):61-70.

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Artigo 26

Géis lubriicantes são bons agentes de acoplamento


para estimulação transvaginal do assoalho pélvico?
Lubricant gels are good agents for transvaginal stimulation
of the pelvic loor?
Jairo Domingos de Morais*, Mallison da Silva Vasconcelos**, Maria Francilene Leite***,
Eleazar Marinho de Freitas Lucena****, Welligton da Silva Lyra, D.Sc.*****

*Fisioterapeuta, Discente de Pós-graduação do Núcleo e Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Paraíba, **Fisio-
terapeuta, Prof. Assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba, ****Enfermeira, Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão em Saúde da Universidade Federal da Paraíba, ****Fisioterapeuta, Mestrando
do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão em Saúde da Universidade Federal da Paraíba, *****Químico, Doutor em
Química Analítica pela Universidade Federal da Paraíba

Resumo Abstract
Introdução: A utilização da estimulação elétrica transvaginal Background: he use of transvaginal electrical stimulation in
no tratamento das disfunções do assoalho pélvico feminino tem the treatment of female pelvic loor dysfunction has been recom-
sido recomendada pela literatura, porém com evidências cientíicas mended in the literature, but with insuicient scientiic evidence
insuicientes em relação a sua eicácia. O uso de géis lubriicantes regarding their efectiveness. he use of lubricant gels is indicated
está indicado para facilitar a introdução dos eletrodos intracavitários to facilitate insertion of intra cavity probes used in this procedure
utilizados neste procedimento, mas acredita-se que o seu uso pode but it is believed that its use may modify the outcome of therapy or
modiicar os resultados terapêuticos ou a aplicação dos parâmetros application of electrical parameters due to its impedance in device/
elétricos devido a sua impedância no circuito estimulador/paciente. patient circuit. Objective: To evaluate the electrical conductivity of
Objetivo: Avaliar a condutividade elétrica de géis e compará-los com gels and compare them with conductive gel for electrotherapy and
gel condutor de eletroterapia e ultrassom. Métodos: Cinco amostras ultrasound. Methods: Five samples of lubricating gels (G1-G5) and
de géis lubriicantes (G1 a G5) e uma de gel condutor de eletrotera- a conductive gel for electrotherapy and ultrasound (G6) available
pia e ultrassom (G6) disponíveis no mercado foram avaliadas através in the market were evaluated through conductometry under suit-
de condutimetria em condições adequadas de temperatura. Foram able temperature. We excluded gels containing lubricating oil in
excluídos géis lubriicantes que continham óleo em sua composição. its composition. Results: It was observed that the conductive gel
Resultados: Observou-se que o gel condutor de eletroterapia e ultras- electrotherapy and ultrasound has a higher conductivity compared
som possui maior condutividade em relação aos géis lubriicantes to lubricant gels (42.0 µS/cm). Among the lubricant gels tested,
(42,0 µS/cm). Dentre os lubriicantes testados o gel o G3 foi aquele G3 gel has a greater conductivity (34.1 µS/cm) while the G5 gel
de maior condutividade (34,1µS/cm) enquanto o gel G5 apresentou had a lower conductivity (3.7 µS/cm). Conclusion: Condutive gel
menor condutividade (3,7 µS/cm). Conclusão: Os géis condutores de for electrotherapy and ultrasound should be recommended for in-
eletroterapia e ultrassom devem ser recomendados para introdução troduction of intra cavity probes and in case of discomfort with its
dos eletrodos cavitários e em caso de desconforto em relação a sua viscosity, the therapist may choose a lubricant of higher conductivity.
viscosidade o terapeuta poderá optar por um lubriicante de maior Key-words: electrical conductivity, electrolyte, electrical
condutividade. stimulation therapy, pelvic loor.
Palavras-chave: condutividade elétrica, terapia por estimulação
elétrica, diafragma da pelve.

Endereço para correspondência: Prof. Mallison S. Vasconcelos, Departamento de Fisioterapia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da
Paraíba, Campus I, 58051-900 João Pessoa PB, E-mail: continencia@hotmail.com

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Introdução a falha na descrição dos parâmetros e métodos utilizados em


sua aplicação [4].
A utilização da estimulação elétrica transvaginal através Dentre os procedimentos relacionados á estimulação elé-
de sondas intracavitárias tem sido proposta como recurso trica transvaginal no tratamento das disfunções do assoalho
adjuvante no tratamento das disfunções do assoalho pélvico pélvico, a referência acerca dos meios de acoplamento ainda
desde os experimentos realizados por Godec e Cass na década é negligenciada nos estudos que abordam este tema. Neste
de 70 [1]. Sua indicação consiste na conscientização muscular, contexto, os agentes de acoplamento merecem uma conside-
fortalecimento de músculos fracos e inibição das contrações ração especial já que estabelecem o contato entre as sondas e o
vesicais [2]particularly in cases of urinary incontinence with paciente e, portanto, suas características poderiam inluenciar
no irst-degree uterine prolapse, with poor-quality perineal os resultados do procedimento [5].
testing results or inverted perineal command. Prescription A utilização de gel lubriicante é indicada em casos de
of 15 sessions should suice to evaluate the possibilities of atroia vaginal devendo ser aplicado apenas na extremidade da
improving the incontinence. he sessions can be continued sonda para facilitar sua introdução. Como os géis constituem
if the patient feels she is progressing but has not reached resistências à passagem de corrente não devem ser usados sobre
suicient results. With no progression despite properly con- os anéis metálicos para não aumentarem a impedância do cir-
ducted rehabilitation, the question of whether to continue cuito elétrico estimulador/paciente [3,6]. Contudo, estima-se
the physical therapy arises. Currently, therapists determine que durante a introdução da sonda na cavidade vaginal uma
the number of sessions. hey are better apt to know whether ina camada de gel possa cobrir os anéis metálicos funcionando
sessions should be pursued and should relay a report to the como meio de acoplamento podendo facilitar ou diicultar a
prescribing physician. his type of rehabilitation is within the distribuição da corrente elétrica na mucosa vaginal.
domain of physical therapists. Midwives can be responsible for Ainda não existe um consenso sobre qual tipo de gel
postpartum rehabilitation. On the other hand, the importance deve ser utilizado para a aplicação da eletroterapia com uso
of the patient’s role in the results and their maintenance is well de sondas intracavitárias. Estima-se que um bom produto
known. Occasionally a few sessions some time after the initial ofereça uma boa condutibilidade e uma composição próxima
sessions can serve to verify the acquisitions and motivate the a secreção vaginal para não causar desconforto a paciente
patient in her personal contribution to this rehabilitation. durante e depois de sua utilização.
he work of the physical therapist cannot be substituted with Sabe-se que a resistência à passagem da corrente oferecida
Keat-type home electrostimulation. he physical therapist pelos agentes de acoplamento depende da sua composição [5],
plays an important role in the overall management of this o que pode variar de acordo com cada fabricante. A boa escolha
condition. Currently, in absence of demonstrated eicacy, destes produtos é importante, pois podem interferir nos resulta-
self-administration of electrostimulation is not recommen- dos terapêuticos e no conforto da paciente por exigirem uma in-
ded. In urge incontinence, the rehabilitation approach will tensidade maior na carga elétrica oferecida durante o tratamento.
be used concomitantly with prescription of anticholergics Baseado neste pressuposto, questionamos se os lubriican-
with behavioral therapy and bladder biofeedback work. In tes íntimos podem ser utilizados como meios de acoplamento
addition, low-frequency electrostimulation can be done para a estimulação elétrica transvaginal nas disfunções do
during the session. Starting with 10-12 sessions is suicient. assoalho pélvico.
In all cases, rehabilitation should take a multidisciplinary O objetivo deste estudo foi avaliar a condutividade elétrica
approach and be integrated into a medical and/or surgical dos lubriicantes íntimos disponíveis no mercado local e compa-
management plan.”, “author” : [ { “family” : “Leriche”, “given” rá-lo com um gel condutor disponível para uso em eletroterapia
: “B” }, { “family” : “Conquy”, “given” : “S” } ], “container- e ultrassom, como recomendar o melhor produto a ser utilizado
-title” : “Progr\u00e8s en urologie : journal de l’Association como gel de acoplamento para a estimulação transvaginal.
fran\u00e7aise d’urologie et de la Soci\u00e9t\u00e9 fran\
u00e7aise d’urologie”, “id” : “ITEM-1”, “issued” : { “date- Material e métodos
-parts” : [ [ “2010”, “2” ] ] }, “page” : “S104-8”, “publisher”
: “Elsevier”, “title” : “[Guidelines for rehabilitation manage- Trata-se de um estudo experimental, realizado entre Janeiro
ment of non-neurological urinary incontinence in women].”, a Março de 2012 no Laboratório de Automação e Instrumenta-
“type” : “article-journal”, “volume” : “20 Suppl 2” }, “uris” : ção em Química Analítica, da Universidade Federal da Paraíba
[ “http://www.mendeley.com/documents/?uuid=c74021d0- (UFPB), no município de João Pessoa/PB. Foram analisados
-bcf4-4191-a438-ceeed04f8e77” ] } ], “mendeley” : { “pre- cinco géis lubriicantes à base de água passíveis de serem
viouslyFormattedCitation” : “(2. empregados na estimulação endocavitária e um gel condutor
Embora o uso de sondas intracavitárias terem sido re- recomendado para uso em eletroterapia e ultrassom, todos
latadas como efetivas no tratamento destas alterações [3], disponíveis comercialmente. Os dados comerciais e composição
as evidências relacionadas à sua eicácia ainda é conlitante química dos produtos são demonstrados na tabela I. Não foram
devido a carência de artigos com bom rigor metodológico e testados lubriicantes que continham óleos em sua formulação.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 147

Tabela I - Identiicação do nome comercial, composição e fabricante dos géis lubriicantes analisados.
Gel Nome Composição Fabricante
G1 K-Y ® Água, Glicerina, Propilenoglicol, Hidroxietilcelulose, Johnson & Johnson, Rod. Presidente Dutra,
Fosfato monobásico de sódio, Metil parabeno, fosfato Km 156, São José dos Campos SP
dibásico de sódio e propilparabeno
G2 EROS ® Hidrocietilcelulose, EDTA, Propilenoglicol, Glycereth-26, Trade Center Comercial, Estrada do Encana-
Metilparabeno, Água, Glycereth-26, Metilparabeno, mento, 1379, Casa Forte Recife/PE
Água, Propilparabeno.
G3 K-MED ® Água, Glicerol, Propilenoglicol, Hietelose, Fosfato de CIMED-Indústria de Medicamentos
sódio dibásico, Fosfato de Sódio monobásico, Metilpara-
beno, Propilparabeno
G4 OLLAGEL ® Água Desmineralizada, Propilenoglicol, Hidroxietilcelulose, Indústria Nacional de Artefatos de Látex Caixa
Sequestrante e Conservante. Posta 213, CEP 18130-170 São Roque SP
G5 INTRAGEL ® Extrato de Aloe Vera, Extrato de Camomila, Glicerina, Me- Eurofarma, Av Ver. José Diniz, 3465, São Paulo
tilparabeno, Hidroxietilcelulose, Água e Propilparabeno. SP
G6 Gel Condutor Polímero vinílico, TEA (trietanolamina), PPG (poli glicol Mercur S.A.
Mercur ® propilênico) e conservante

As amostras se encontravam dentro do prazo de validade condutividade com valor de 42,0 µS/cm, seguido pelo gel lubri-
e foram seguidas as recomendações de armazenamento indi- icante (G3) com condutividade de 34,1 µS/cm enquanto o gel
cadas pelo fabricante, mantendo os produtos à temperatura lubriicante G5 foi o de menor condutividade obtendo 3,7 µS/cm.
ambiente e abrigados da luz.
Durante os experimentos, todo material utilizado como: Tabela II - Valores de condutividade das amostras.
pipeta volumétrica e vidros relógios para pesagem dos géis, Gel Condutividade Temperatura
foram lavados com água destilada e secados em estufa. Em G1 24,5 µS/cm 25,1 ºC
seguida cada amostra foi pesada em balança analítica (Bio- G2 27,1 µS/cm 23,7 ºC
precisa - FA2104N – Elerdonic Balance) obtendo o peso G3 34,1 µS/cm 24,0 ºC
de 3,0g de cada gel seguindo de diluição em 50 ml de água G4 28,9 µS/cm 25,3 ºC
destilada sendo colocada em seis recipientes separados. Após G5 3,7 µS/cm 25,7 ºC
esta etapa cada amostra foi avaliada pelo condutímetro mar- G6 42,0 µS/cm 24,4 ºC
ca Konduktometer Schott, TYP CG853 (igura 1), o qual foi
calibrado antes da amostragem em temperatura ambiente. Discussão

Figura 1 - Aparelho de mensuração da condutividade (condutíme- Para haver condução de corrente elétrica, o agente de
tro) das amostras em estudo. acoplamento deve formar ou apenas separar íons quando
em solução (ionização ou dissociação), ou seja, pode tanto
ser composto iônico (bases e sais) como molecular (ácidos).
Com base nos valores de condutividade elétrica dos géis,
pôde-se constatar que todos permitem transmissão da corrente
elétrica, característica garantida pela presença de um ou mais
agentes ionizantes na sua composição como, por exemplo, os
sais fosfato monobásico e dibásico de sódio, o EDTA, o metil
parabeno, e agente sequestrante.
Nas amostras G1 e G3 os valores de condutividade mo-
erada são decorrentes da estimada presença de sais fosfato
monobásico de sódio e fosfato dibásico de sódio, encontrado
nas duas amostras, os quais em solução aquosa formam um
tampão com pH em torno de 7,0, considerado normal para
Resultados células epiteliais ou mucosas do corpo humano o que pode
facilitar a condução da corrente elétrica [7].
Durante a análise dos géis, a temperatura ambiente variou entre Na amostra G2 a presença do EDTA após terceira ioniza-
23,7ºC e 25,7ºC (24,7 ± 0,78) e os valores das condutividades ção também produz uma solução tampão com pH em torno
analisados foram expressos na tabela II. Observou-se que o gel de 7,0, que aproxima os valores de condutividade elétrica aos
condutor para eletroterapia e ultrassom (G6) foi o gel de maior encontrados em G1 e G3 [8].

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148 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Estima-se que a condutividade moderada encontrada em Conclusão


G4 e G6 possa estar associada a presença de conservantes
presentes na formula do produto. Esta estimativa é hipotética Géis condutores de eletroterapia e ultrassom são melhores
e não foi possível confrontá-la por não conhecermos o tipo de recursos para auxiliar na introdução dos eletrodos intraca-
substância relacionada a este componente sem a necessidade vitários sem comprometer a condução de corrente elétrica
de quebra de patente ou concessão do nome da substância por possuírem uma maior condutividade em relação aos géis
utilizada como conservante pelo fabricante. Acreditamos que lubriicantes. Em caso de desconforto devido a viscosidade
o tipo de conservante utilizado seja diferente em cada compo- dos primeiros, os lubriicantes íntimos podem substituí-los
sição sendo o de G6 o que confere uma melhor condutividade tendo o terapeuta o cuidado na escolha da marca que oferece
ao associar-se com o TEA que é utilizado para corrigir o PH uma melhor condutividade.
da formula, o que nos faz elegê-lo como o melhor condutor
para a aplicação da estimulação transvaginal. Referências
A amostra G5 apresentou menor condutividade. O baixo
valor de condutância encontrado durante nosso experimento 1. Barroso JCV. Estimulação elétrica transvaginal no tratamento
pode ser explicado pela composição do gel lubriicante que da incontinência urinária [Internet]. Rev Bras Ginecol Obstetr
não relata a presença de nenhum composto iônico que facilite 2002. p. 92.
a condução da corrente elétrica. 2. Leriche B, Conquy S. Guidelines for rehabilitation management
of non-neurological urinary incontinence in women. Prog Urol
Outro fator limitante na explicação dos valores de con-
2010;20 Suppl 2:S104–8.
dutibilidade dos géis lubriicantes é a possível diferença de 3. Palma P. Uroisioterapia: Aplicações clínicas das técnicas isio-
concentração dos componentes de sua formulação, particular terapêuticas nas disfunções miccionais e do assoalho pélvico.
de cada fabricante e não relatado no produto. Quanto maior Campinas: Personal Link Comunicações; 2009. p. 524.
for a quantidade de íons por volume ou concentração presente 4. Correia GN, Bossini PS, Driusso P. Eletroestimulação intrava-
em cada componente, menor a oposição ao luxo elétrico e ginal para o tratamento da incontinência urinária de esforço :
assim maior a condutividade. revisão sistemática. Femina 2011;39(4):223–30.
A viscosidade elevada do gel condutor de eletroterapia e 5. Bolfe VJ, Guirro RRJ. Resistência elétrica dos géis e líquidos
ultrassom G6 é atribuída ao polímero vinílico presente na utilizados em eletroterapia no acoplamento eletrodo-pele. Rev
maioria dos géis condutores disponíveis no mercado como Bras Fisioter 2009;13(6):499–505.
6. Grosse D, Sengler A. Reeducação perineal. São Paulo: Manole;
também da substância denominada carbopol também presen-
2002. p. 146.
te em algumas marcas destinadas a este im. Estes espessantes 7. Jefery GH, Basset J, Mendham J, Denney RC. Vogel- Análise
são também umidiicantes (auto-molhantes) conferindo uma Química Quantitativa. 6 edição. São Paulo: LTC; 2002. p. 448.
sensação de vagina molhada, que pode ser desconfortável ou 8. Baccan N, Andrade JC, Godinho OES, Barone JS. Química
constrangedora para algumas pacientes. Analítica Quantitativa Elementar. 3a edição. São Paulo: Edgard
Neste caso, a recomendação de um lubriicante íntimo de Blucher - Instituto Mauá de Tecnologia; 2004. p. 324.
maior condutividade como o K-med ® ou Olla gel ® podem 9. Alon G, Kator G, Ho HS. he efect of three of surface electrodes
ser uma boa opção para se utilizar durante a terapia com on threshold excitation of human motor nerve. Journal Clinical
sondas intracavitárias. Electrophysiology 1996;8(1):2–8.
10. Bolfe VJ, Ribas S, Montebelo MIL, Guirro RRJ. Comportamen-
to da impedância elétrica dos tecidos biológicos durante estimu-
lação elétrica transcutânea. Rev Bras Fisioter 2007;11(2):153–9.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 149

Artigo 27

Resistência elétrica de géis lubriicantes utilizados


na reabilitação uroginecológica
Electrical resistance of lubricant gels used in urogynecologic
rehabilitation
Jairo Domingos de Morais*, Mallison da Silva Vasconcelos**, Eleazar Marinho de Freitas Lucena***,
Maria Francilene Leite****, Welligton da Silva Lyra, D.Sc.*****

*Fisioterapeuta, Discente de Pós-graduação do Núcleo e Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Paraíba, **Fisio-
terapeuta, Prof. Assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba, ***Fisioterapeuta, Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão em Saúde da Universidade Federal da Paraíba, ****Enfermeira, Mestranda
do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão em Saúde da Universidade Federal da Paraíba, *****Químico, Doutor em
Química Analítica – Universidade Federal da Paraíba

Resumo Abstract
Introdução: Géis de acoplamento são acessórios importantes na Background: Condutive gels are important accessories in the ef-
efetividade do tratamento de algumas disfunções uroginecológicas fectiveness of treatment of some urogynecological disorders through
através do emprego da estimulação elétrica contudo, estudos acerca electrical stimulation, however, studies evaluating their properties
de suas propriedades são escassos e limitam a evidência sobre seu are scarce and limited the evidence of its use. Objective: To evaluate
emprego. Objetivo: Avaliar a resistência elétrica dos géis lubriicantes the electrical resistance of lubricant gels and a conductive gel and
e de um gel condutor e veriicar a inluência da frequência do estí- the inluence of frequency of stimulation on its electrical resistance.
mulo sobre a resistência elétrica dos mesmos. Metodologia: Foram Methods: We analyzed six water-based lubricant gels and a conduc-
analisados seis géis lubriicantes à base de água e um gel condutor tive gel for use in electrotherapy and ultrasound. he experiment
para uso em eletroterapia e ultrassom. O experimento constou de consisted of a circuit consisted of an analog oscilloscope, a generator
um circuito composto por um osciloscópio analógico, um gerador of electric current with two urogynecological programs and two
de corrente elétrica com dois programas uroginecológicos e dois electrodes between which was deposited the coupling agent. he
eletrodos entre os quais foi depositado o agente de acoplamento. A electrical resistance was calculated indirectly using Ohm’s Law and
resistência elétrica foi calculada indiretamente, pela Lei de Ohm e the data were analyzed using nonparametric statistical tests. Results:
os dados foram analisados através de testes estatísticos não paramé- he opposition ofered by the electric current in conductive gel alone
tricos. Resultados: A oposição à corrente elétrica oferecida pelo gel was greater than one type of intimate lubricant gel. It was observed
condutor só foi maior que uma marca de gel lubriicante íntimo. that there was no statistical diference between the programs used
Observou-se que não houve diferença estatística entre os programas during the evaluation of gels´ resistance. Conclusion: Condutive gels
utilizados durante a avaliação da resistência dos géis. Conclusão: Géis for electrotherapy and ultrasound have lower resistance than most
condutores de eletroterapia e ultrassom possuem menor resistência lubricants gels tested and they are not inluenced by the frequency
que a maioria dos géis lubriicantes e não são inluenciados pela of the electrical stimulus.
frequência do estímulo elétrico. Key-words: Electric stimulation therapy, pelvic loor, urinary
Palavras-chave: Terapia por estimulação elétrica, diafragma da incontinence, fecal incontinence.
pelve, incontinência urinária, incontinência fecal.

Endereço para correspondência: Prof. Mallison S. Vasconcelos, Departamento de Fisioterapia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da
Paraíba, Campus I, 58051-900 João Pessoa PB, E-mail: continencia@hotmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


150 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução O emprego de eletrodos de superfície ou intracavitários


têm sido recomendado para tratar as disfunções do assoalho
A aplicação da estimulação elétrica é um meio utilizado pélvico através do uso de correntes eletroterapêuticas e neste
para propiciar a contração passiva da musculatura do assoa- contexto, o tamanho, a polaridade, a resistência e a distância
lho pélvico, aumentar o luxo sanguíneo na região estimula- dos eletrodos são propriedades importantes que devem ser
da, reduzir a dor pélvica e inibir as contrações involuntárias tomados em conta [4].
da bexiga [1,2particularly in cases of urinary incontinence Os agentes de acoplamento também merecem uma consi-
with no irst-degree uterine prolapse, with poor-quality deração especial já que estabelecem o contato entre o eletrodo
perineal testing results or inverted perineal command. de superfície e o paciente e, portanto, suas características pode-
Prescription of 15 sessions should suice to evaluate the riam inluenciar os resultados do procedimento [5]. O agente
possibilities of improving the incontinence. he sessions can ideal deve ter uma baixa impedância (resistência) comparada
be continued if the patient feels she is progressing but has ao tecido do paciente de forma que minimize a dissipação de
not reached suicient results. With no progression despite energia fora do paciente e potencialize a introdução da energia
properly conducted rehabilitation, the question of whether transferida ao paciente [6].
to continue the physical therapy arises. Currently, therapists Apesar da suposição de que a magnitude da oposição à
determine the number of sessions. hey are better apt to corrente elétrica, oferecida pelo agente de acoplamento pode
know whether sessions should be pursued and should relay alterar o conforto do paciente durante a terapia, a escolha do
a report to the prescribing physician. his type of rehabili- mesmo e seu comportamento durante a passagem do estímulo
tation is within the domain of physical therapists. Midwives elétrico são pouco estudados, podendo-se considerar que a
can be responsible for postpartum rehabilitation. On the passagem de correntes elétricas terapêuticas pelos diferentes
other hand, the importance of the patient’s role in the results meios de acoplamento altera a sua resistência elétrica[5].
and their maintenance is well known. Occasionally a few Os géis condutores compostos por polímeros são os mais
sessions some time after the initial sessions can serve to verify utilizados para a estimulação elétrica transcutânea através de
the acquisitions and motivate the patient in her personal eletrodos de silicone impregnados de carbono. Estes eletrodos
contribution to this rehabilitation. he work of the physical são comumente disponíveis pelos fabricantes de estimuladores
therapist cannot be substituted with Keat-type home elec- elétricos usados em uroginecologia por manterem suas pro-
trostimulation. he physical therapist plays an important priedades condutivas por um longo período de tempo e serem
role in the overall management of this condition. Currently, de baixo custo devido a repetição de seu uso [7].
in absence of demonstrated eicacy, self-administration of A utilização de gel lubriicante durante a estimulação
electrostimulation is not recommended. In urge incontinen- intracavitária é indicada em casos de atroia vaginal ou para
ce, the rehabilitation approach will be used concomitantly a estimulação anorretal devendo ser aplicado apenas na ex-
with prescription of anticholergics with behavioral therapy tremidade da sonda para facilitar sua introdução [8]. Como
and bladder biofeedback work. In addition, low-frequency os géis constituem resistências à passagem de corrente, não
electrostimulation can be done during the session. Starting devem ser usados sobre os anéis metálicos para não aumen-
with 10-12 sessions is suicient. In all cases, rehabilitation tarem a impedância do circuito elétrico estimulador/paciente
should take a multidisciplinary approach and be integrated [9]. Contudo, estima-se que durante a introdução da sonda
into a medical and/or surgical management plan.”, “author” na cavidade vaginal ou no ânus uma ina camada de gel
: [ { “family” : “Leriche”, “given” : “B” }, { “family” : “Con- possa cobrir os anéis metálicos funcionando como meio de
quy”, “given” : “S” } ], “container-title” : “Progr\u00e8s en acoplamento podendo facilitar ou diicultar a distribuição da
urologie : journal de l’Association fran\u00e7aise d’urologie corrente elétrica na mucosa.
et de la Soci\u00e9t\u00e9 fran\u00e7aise d’urologie”, “id” Apesar dos avanços tecnológicos e produção de conheci-
: “ITEM-2”, “issued” : { “date-parts” : [ [ “2010”, “2” ] ] }, mento no que diz respeito ao uso da correta forma de onda
“page” : “S104-8”, “publisher” : “Elsevier”, “title” : “[Gui- e dos parâmetros de estimulação adequados, o estudo da
delines for rehabilitation management of non-neurological interação dos estimuladores com o meio biológico e prin-
urinary incontinence in women].”, “type” : “article-journal”, cipalmente dos acessórios utilizados para a sua aplicação no
“volume” : “20 Suppl 2” }, “uris” : [ “http://www.mende- campo da isioterapia uroginecológica, não tem acompanhado
ley.com/documents/?uuid=c74021d0-bcf4-4191-a438- esse avanço. Além disso, a carência de artigos envolvendo os
-ceeed04f8e77” ] } ], “mendeley” : { “manualFormatting” : agentes de acoplamento usados na estimulação endocavitária
“[1,2”, “previouslyFormattedCitation” : “(1,2]. O resultado limita a evidência cientíica para seu correto uso.
terapêutico esperado para este recurso adjuvante consiste Baseado neste pressuposto objetiva-se avaliar a resistência
na recuperação da continência urinária ou fecal através da elétrica dos géis lubriicantes e de um gel condutor, disponíveis
aquisição de força e coordenação dos músculos fracos, esti- no mercado local, através do calculo da lei de ohm e veriicar
mulação de vias relexas associadas ao controle da micção e a inluência da frequência do estímulo sobre a resistência
diminuição do limiar álgico do paciente [3]. elétrica dos mesmos.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 151

Material e métodos tempo de estimulação proposto pelo programa de tratamento


(20 min) e a partir desses, calculada a resistência elétrica,
Trata-se de um estudo experimental, realizado no período indiretamente, pela Lei de Ohm (V= R x I, onde V = tensão
de setembro de 2011 a março de 2012 no Núcleo de Estudos elétrica, R = resistência e I = intensidade).
e Tecnologia em Engenharia Biomédica (NETEB) localizado A avaliação dos valores de tensão elétrica para cada gel
no Campus I da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/ foi realizada inicialmente no modo de inibição do detrusor
PB. Foram analisados seis géis lubriicantes à base de água e e posteriormente no modo de fortalecimento muscular. Para
um gel condutor recomendado para uso em eletroterapia e cada nova amostra os eletrodos foram lavados com esponja
ultrassom, todos disponíveis comercialmente e passíveis de e água corrente para remover os resíduos e posteriormente
serem empregados na reabilitação uroginecológica através secados com papel absorvente. A Figura 1 mostra o sistema
do emprego de estimulação elétrica de baixa frequência. Os de aferição, o local de deposição do agente de acoplamento
dados comerciais e composição química dos produtos são e o gerador de corrente elétrica utilizado.
demonstrados na Tabela I. As amostras encontravam-se den-
tro do prazo de validade e foram seguidas as recomendações Figura 1 - Sistema de mensuração da resistência elétrica.
de armazenamento indicadas pelo fabricante, mantendo os
produtos à temperatura ambiente e abrigados da luz.
O experimento seguiu o protocolo descrito por Ward
(1984) e Bolfe e Guirro (2009) que constou de um sistema
para a avaliação da tensão elétrica (voltagem) através de um
osciloscópio analógico (2205 GM – Tektronix, 40MHz pico
a pico), um gerador de corrente elétrica (Dualpex 961) com
intensidade constante, e parâmetros elétricos ixados através dos
programas de inibição do detrusor (F=20Hz, T=300µs, I=10mA)
e fortalecimento muscular (F=50Hz, T=250µs, I=10mA) e dois Para a análise estatística adotou-se o nível de signii-
eletrodos metálicos. O agente de acoplamento foi depositado cância de 5%. Foi aplicado o teste de Kolmogorov-Smirnov
na área circunscrita de PVC (36 mm de diâmetro e 5 mm para constatar a normalidade dos dados. Como os dados
de altura) colocada sobre um dos eletrodos, sendo o circuito não apresentam distribuição normal foi utilizado o teste de
fechado em série com outro eletrodo sobre o qual era aplicado Mann-Whitney para veriicar se houve diferença signiicativa
uma força constante de 5,5 N para uniformizar o acoplamento. entre os protocolos da eletroestimulação.
Foram coletados os valores instantâneos da tensão elétrica O teste de Kruskal-Wallis foi usado para veriicar se
observados no osciloscópio a cada cinco minutos durante o houve diferença signiicativa entre as resistências dos géis e

Tabela I Identiicação do nome comercial, composição e fabricante dos géis lubriicantes analisados.
GEL NOME COMPOSIÇÃO FABRICANTE
G1 K-Y ® Água, Glicerina, Propilenoglicol, Hidroxietilcelulose,
Fosfato monobásico de sódio, Metilparabeno, fosfato JOHNSON & JOHNSON, Rod. Presidente
dibásico de sódio e Propilparabeno Dutra, Km 156, São José dos Campos – SP
G2 EROS ® Hidrocietilcelulose, EDTA, Propilenoglicol, Glycereth-26, TRADE CENTER COMERCIAL, Estrada do Enca-
Metilparabeno, Água, Glycereth-26, Metilparabeno, namento, 1379, Casa Forte – Recife/PE
Água, Propilparabeno.
G3 K-MED ® Água, Glicerol, Propilenoglicol, Hietelose, Fosfato de CIMED- INDÚSTRIA DE MEDICAMENTOS.
sódio dibásico, Fosfato de Sódio monobásico, Metilpara-
beno, Propilparabeno
G4 AMORÁVEL® Água, Glicerina, Propilenoglicol Sorbitol, Óleo de BIOMÁTIKA IND. COM. PROD. NATURAIS, Av.
mamona hidrogenada, PEG-40,Hidroxietilcelulose, Eusébio de Queiroz, 4969, Eusébio/CE
Metil-parabeno, Orbignya oleífera, Óleo de semente de
Babaçu, Propilparabeno
G5 Gel Condutor Polímero vinílico, TEA (trietanolamina), PPG (poli glicol MERCUR S.A.
Mercur ® propilênico) e conservante
G6 INTRAGEL ® Extrato de Aloe Vera, Extrato de Camomila, Glicerina, Me- EUROFARMA, Av Ver. José Diniz, 3465, São
tilparabeno, Hidroxietilcelulose, Água e Propilparabeno. Paulo/SP.
G7 OLLAGEL ® Água Desmineralizada, Propilenoglicol, Hidroxietilcelulo- INDÚSTRIA NACIONAL DE ARTEFATOS DE
se, Sequestrante e Conservante. LÁTEX S/A Caixa Postal – 213, CEP 18130-170
– São Roque – SP

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


152 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

posteriormente o teste de Mann-Whitney foi aplicado como Discussão


pós-teste para identiicar os géis responsáveis pela diferença.
Com base nos valores de resistência elétrica dos géis
Resultados testados neste estudo, pôde-se constatar que o gel condutor
de eletroterapia e ultrassom da marca MERCUR® foi o mais
Os valores da resistência elétrica dos géis lubriicantes e eiciente na transmissão da corrente elétrica em relação a
do gel condutor de eletroterapia e ultrassom, mensurados a maioria dos géis lubriicantes.
cada cinco minutos durante o tempo de terapia estabelecido Bolfe e Guirro [5] ao testar diversos agentes de acoplamen-
nos dois tipos de programa de tratamento estão descritos nas to usados em eletroterapia constataram uma menor resistência
Tabelas II e III. entre os géis condutores de eletroterapia e ultrassom. Baseado
Durante a realização do teste não paramétrico observa- nesta airmativa, testamos apenas uma marca de gel disponível
mos que o gel KY® apresentou a menor média dos postos e comercialmente e bastante utilizada em nosso meio.
o Olla gel ® a maior média. Ao comparar as resistências dos Para os autores acima citados, a menor oposição o luxo
géis lubriicantes, veriicamos uma diferença estatisticamente elétrico deve-se a característica garantida pela presença de
signiicativa entre os mesmos (p-valor < 0,01) os quais são um ou mais agentes ionizantes na sua composição como, por
demonstrados através da Tabela IV. exemplo, a dibromoglutatonitrila, o carbopolímero (carboxi-
A resistência do gel condutor de eletroterapia e ultrassom metil celulose sódica), o metilparabeno, o agente sequestrante,
Mercur® foi comparada com os demais géis lubriicantes entre outros. As diferentes concentrações destas substâncias
sendo veriicada a diferença entre eles através do teste de podem conferir diferentes valores de resistência que foram
Mann Whitney. A resistência do gel condutor Mercur® é encontrados por eles para cada tipo de gel condutor as quais
maior apenas do que a resistência do lubriicante Ky®. Esta podem ser modiicadas ao longo do tempo de acordo com a
constatação é observada por meio das médias dos postos. Ao polaridade da corrente elétrica utilizada. A corrente contínua
nível de 5% de signiicância, apenas o lubriicante Kmed® aumenta a resistência nos géis de acoplamento ao longo do
não diferencia signiicativamente do gel condutor da eletro- tempo, bem como na água potável, mineral e água deionizada
terapia em relação à resistência elétrica (p-valor = 0,075). devido à ionização dos seus componentes [5].
Observamos que o gel Mercur® tem resistência menor que Veriicamos que apenas o lubriicante KY® apresentou
os géis: Eros®, Amorável®, Intragel® e Olla® ambos com p- menor oposição a corrente elétrica que o gel condutor MER-
-valor = 0,004. CUR®. Acreditamos que a presença dos sais fosfato de sódio
A resistência dos géis testados neste estudo não sofreu em concentração maior que os outros lubriicantes íntimos
inluência da frequência do estímulo elétrico dos protocolos podem ser os responsáveis por este achado, contudo, esta
escolhidos para análise (Tabela V). Não houve diferença esta- informação não pode ser testada neste estudo.
tisticamente signiicativa entre as resistências dos protocolos Embora cada fabricante tenha sua própria fórmula para
da eletroestimulação (p-valor = 0,459). aumentar a condutibilidade, os géis são compostos, basica-

Tabela II - Programa de Inibição do Detrusor – Paramêtros F = 20 Hz :T = 300 µs I = 10mA.


Géis/Nome comercial T0 T5 T10 T15 T20 Média Mediana
G1 – KY 20 20 24 24 24 22,4 24
G2 – EROS 240 235 235 235 235 236 275
G3 – KMED 70 70 70 60 60 66 70
G4 – AMORAVEL 100 100 110 110 110 106 110
G5 – GEL CONDUTOR MERCUR 50 70 75 75 75 69 75
G6 – INTRAGEL 380 390 390 390 390 388 390
G7 – OLLA 500 550 560 560 560 546 560

Tabela III - Programa de Fortalecimento Muscular – Parâmetros: F = 50 Hz T = 250 µs I = 10mA.


Géis/Nome comercial T0 T5 T10 T15 T20 Média Mediana
G1 – KY 32 30 29 29 29 29,8 29
G2 - EROS 85 85 85 85 84 84,8 85
G3 - KMED 100 95 80 80 80 87 80
G4 - AMORAVEL 110 114 114 120 120 115,6 114
G5 – GEL CONDUTOR MERCUR 39 39 40 40 40 39,6 40
G6 - INTRAGEL 250 275 275 275 275 270 275
G7 - OLLA 300 250 275 300 275 280 275

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 153

Tabela IV - Veriicação da diferença entre as resistências dos géis testados no estudo.


Tipo de Gel N Média dos postos Teste estatístico a,b
KY 10 5,5 Chi-square 63,887
EROS 10 39,50 df 6
KMED 10 24,75 p- valor 0,000
Resistência dos AMORÁVEL 10 40,40
Géis GEL CONDUTOR MERCUR 10 17,35
INTRAGEL 10 58,85
OLLA 10 62,15
Total 70
Teste de Kruskal Wallis; b. Agrupamento das variáveis: tipo de gel.

Tabela V - Efeito da frequência do estímulo sobre as resistências dos géis testados no estudo.
Média dos a
Protocolo de tratamento N Soma dos postos Teste estatístico
postos
ID – 20 Hz 35 37,30 1305,50 Mann-Whitney U 549,500
Resistência FM – 50 HZ 35 33,70 1179,50 Wilcoxon W 1179,500
dos Géis Total 70 Z -0,741
p- valor 0,459
a = Agrupamento das variáveis: Protocolo de tratamento; ID = Inibição do detrusor, FM = Fortalecimento muscular.

mente, por água desionizada e íons [7]. Normalmente, esses Referências


íons são cloreto de potássio e de sódio, por não desencadearem
reações tóxicas na pele [10]. Estes componentes podem ser 1. Correia GN, Bossini PS, Driusso P. Eletroestimulação intrava-
encontrados nos géis lubriicantes e confere de certa forma, ginal para o tratamento da incontinência urinária de esforço :
a permissão de sua utilização como agente de acoplamento revisão sistemática. Femina. 2011;39(4):223–30.
no tratamento das disfunções do assoalho pélvico através da 2. Leriche B, Conquy S. [Guidelines for rehabilitation manage-
ment of non-neurological urinary incontinence in women].
eletroterapia.
Prog Urol 2010;20 (Suppl2):S104–8.
O tipo e a concentração de cada composto presente na 3. Moreno AL. Fisioterapia em uroginecologia. 2a. ed. São Paulo:
fórmula dos géis lubriicantes também atribui a cada produto Manole; 2009. p. 240.
uma resistência elétrica diferenciada, fato que pode ser com- 4. Bajd T. Surface Electrostimulation Electrodes. In: Akay M, ed.
provado em nosso estudo em um valor estabelecido para 5% Wiley Encyclopedia of Biomedical Engineering. 1st ed. India-
de signiicância. napolis, USA: Wiley; 2006. p. 4152.
Os parâmetros elétricos aplicados durante a terapia po- 5. Bolfe VJ, Guirro RRJ. Resistência elétrica dos géis e líquidos
dem inluenciar a absorção da corrente elétrica pelos tecidos utilizados em eletroterapia no acoplamento eletrodo-pele. Rev
biológicos [7,10,11]. Alguns autores destacam a frequência Bras Fisioter 2009;13(6):499–505.
do estímulo como modiicadores da impedância tecidual. Ve- 6. Ward AR. Electode coupling media for transcutaneous electrical
nerve stimulation. Aust J Physiother 1984;30(3):82–5.
riicamos que a frequência utilizada pelos parâmetros elétricos
7. Robinson AJ, Snyder-Mackler L. Clinical Electrophysiology:
estabelecidos na literatura [8] para fortalecimento muscular e Electrotherapy and Electrophysiologic Testing. 1st ed. Penn-
inibição do detrusor não inluenciaram os resultados encon- sylvania, USA: Lippincott Williams & Wilkins; 2007. p. 555.
trados nas resistências dos géis testados neste estudo. 8. Grosse D, Sengler A. Reeducação perineal. 1a ed. São Paulo:
Manole; 2002. p. 146.
Conclusão 9. Palma P. Uroisioterapia: Aplicações clínicas das técnicas isio-
terapêuticas nas disfunções miccionais e do assoalho pélvico.
Géis de acoplamento para eletroterapia possuem menor 1a edição. Palma PCR, editor. Campinas, São Paulo: Personal
resistência que a maioria dos lubriicantes íntimos devendo Link Comunicações; 2009. p. 524.
ser recomendado seu uso. Os géis testados não se opõem ao 10. Gerleman DG, Barr JO. Instrumentação e segurança do produ-
to. In: Nelson R, Hayes K, Currier D, eds. Eletroterapia Clínica.
luxo de corrente elétrica sob inluência da frequência do
3a ed. São Paulo: Manole; 2003. p. 15–53.
estímulo empregado. 11. Olson W. Electrical safety. In: Webster J, editor. Medical In-
strumentation Applications and Design. 1st ed. Boston, EUA:
Houghton Milin; 1978. p.667–707.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


154 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 28

Associação da hipertensão arterial com


as medidas antropométricas em mulheres assistidas
no programa Hiperdia
Association of hypertension with anthropometric parameters
in women assisted by the Hiperdia program
Iza Neves de Araújo Nascimento*, Iara Medeiros de Araújo**, Maria Elma Souza Maciel Soares***, Neir Antunes Paes****

*Docente de Fisioterapia do UNIPÊ/JP, **Doutoranda de Ciências da Saúde da UFRN, ***Docente de Fisioterapia do UNIPÊ,
****Docente da UFPB

Resumo Abstract
Introdução: A hipertensão atualmente é considerada um dos Background: Hypertension is currently considered one of the
maiores problemas da Saúde Pública no Brasil e no mundo. Fatores biggest problems in Public Health in Brazil and worldwide. Genetic,
genéticos, ambientais e comportamentais, estão intimamente ligados environmental and behavioral factors, are closely linked to their
a sua evolução. Entre eles, a obesidade tem sido investigada pelos evolution. Among them, obesity has been investigated by researchers
pesquisadores como um indicador de risco a hipertensão. Objetivo: as an indicator of hypertension risk. Objective: his study aimed to
O presente trabalho procurou investigar a associação da hipertensão investigate the association of hypertension with anthropometric
arterial com as medidas antropométricas em mulheres no progra- measurements in women in the program Hiperdia. Methods: he
ma Hiperdia. Metodologia: A amostra constou de 270 hipertensas sample consisted of 270 hypertensive registered residents in the
cadastradas residentes no município João Pessoa/PB no período city of João Pessoa/PB in 2011. Anthropometric measurements
de 2011. As medidas antropométricas aferidas foram: peso, altura, were taken: weight, height, waist circumference, hip circumferen-
circunferência da cintura, circunferência do quadril, IMC, RCQ. ce, IMC, RCQ. It was considered blood pressure as a dependent
Considerou-se a pressão arterial como variável dependente. Os dados variable. Data were collected through interviews, processed and
foram coletados através de entrevistas, processados e analisados pelo analyzed using SPSS version 13.0. Used a logistic regression model
programa SPSS versão 13.0. Utilizou um modelo de regressão logís- of obesity indicators with blood pressure and signiicance level p <
tica dos indicadores de obesidade com a pressão arterial e nível de 0.05. Results: he estimated relative risk of hypertension associated
signiicância p<0,05. Resultados: O risco relativo estimado da hiper- with anthropometric measurements showed that the women’s body
tensão arterial associado às medidas antropométricas das mulheres mass index increased by 4,23 times the odds of hypertension (p <
mostraram que o Índice de Massa Corpórea aumentou em 4,23 vezes 0,001), as did the waist and hips with 4,27 (p < 0,002). To the waist,
a chance de hipertensão arterial (p < 0,001), o mesmo acontecendo chances increased 10,51 (p < 0,001). Conclusion: he results showed
com a razão cintura e quadril com 4,27 (p < 0,002). Para a cintura, a high association of anthropometric measures with PA, reinforcing
as chances aumentaram 10,51 (p < 0,001). Conclusão: Os resultados a need for performance of the team involved in the program about
mostraram uma alta associação das medidas antropométricas com a the importance of these indicators of obesity and its relationship to
PA, reforçando uma necessidade de atuação da equipe envolvida no hypertension of users served by the basic health units.
programa acerca da importância destes indicadores de obesidade e Key-words: women, obesity, hypertension
sua relação com a hipertensão das usuárias atendidas pelo hiperdia
nas unidades básicas de saúde.
Palavras-chave: mulheres, obesidade, hipertensão.

Endereço para correspondência: Iza Neves de Araújo Nascimento, E-mail: iza_neves@yahoo.com.br

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Introdução d) O Programa Hiperdia tem controlado as hipertensas na


Estratégia Saúde da Família?
A Hipertensão é considerada mundialmente um dos agra-
vos mais existentes na população. Tem sido responsável por Material e métodos
contribuir com aumento da hospitalização e aumento no uso
de medicamentos adquiridos para seu controle como forma Trata-se de um estudo transversal, de caráter descritivo
de evitar o aparecimento de doenças cardiovasculares [1]. exploratório e abordagem quantitativa.
Fatores genéticos, ambientais e comportamentais, estão Os participantes da pesquisa consistiram em hipertensos
intimamente ligados a sua evolução. O uso do sal, má ali- cadastrados no Programa Hiperdia inseridos nas Unidades de
mentação, ausência de atividade física, álcool e tabagismo, são Saúde da Família do município de João Pessoa no período
frequentemente associados como fortes fatores para o apareci- de fevereiro a julho de 2011. Das 180 equipes de Saúde, 36
mento da hipertensão, que se não tratada, conseqüentemente izeram parte da amostra. A base de dados utilizada neste tra-
levará ao quadro de problemas relacionadas a este agravo [2-4]. balho foi produzida por Paes [9] a partir do projeto intitulado:
Recentes estudos acerca das medidas antropométricas têm “Avaliação da efetividade no controle da hipertensão arterial
sido usados principalmente por ser considerada uma técnica sistêmica e associação com fatores de risco comparando a
simples de ser aplicada no cotidiano dos serviços de saúde [5]. atenção do Programa de Saúde da Família e de Unidades
Para controlar a hipertensão, o Ministério da Saúde, em Básicas de Saúde de municípios do Nordeste do Brasil”.
parceria com diversas Instituições referentes à área cardioló- Foram realizados sorteios aleatórios com todos os hiper-
gica, inseriu na atenção Primária em Saúde o cadastramento tensos a partir de uma amostra probabilística dos usuários
de Hipertensos e diabéticos, no Programa Hiperdia, como hipertensos femininos, pelo SIAB, totalizando 270 mulheres.
forma fornecer medicamentos aos cadastrados. Tal programa Os critérios de inclusão foram: ter idade superior de 20
visa orientar e monitorar os pacientes acometidos por esses anos, ser hipertenso, apresentar um bom nível de cognição
fatores de risco [6]. e de locomoção.
É de responsabilidade da Estratégia de Saúde da Família Foram excluídos do estudo pacientes diabéticos, falecidos,
(ESF), cuidar e acompanhar seus hipertensos, tendo em vista com déicit cognitivo e que se mudaram da área de cobertura
que, as atualizações dos cadastros e dos prontuários médicos da Estratégia de Saúde da Família. Tal exclusão foi feita no
passam a ser os elementos cruciais no controle da situação de período em que se buscaram os cadastros na própria unidade,
risco em que sua comunidade encontra-se [7]. sendo o usuário substituído automaticamente na pesquisa.
No Hiperdia, informações sobre Pressão Arterial (PA), glice- As medidas antropométricas aferidas foram: peso, altura,
mia, peso, altura, cintura, medicação, doenças concomitantes e circunferência da cintura, circunferência do quadril, IMC
fatores socioeconômico, são utilizadas como proposta de obser- (Índice de Massa Corporal) e RCQ (Relação Cintura/Qua-
var o comportamento de tais variáveis ao longo dos anos, além dril). Tais medidas são essenciais para investigar sua associação
de permitir a avaliação da eicácia, eiciência e inluencia dos como fator de risco para doenças coronarianas.
serviços prestados aos usuários acometidos por esse agravo [8]. Considerou-se a Pressão Arterial (PA) como variável de-
Pesquisa envolvendo o acompanhamento dos hipertensos pendente e crucial para a análise do controle dessas usuárias
assistidos pelo programa necessita ser mais aprofundada como escritas no programa.
medida de entendimento acerca da proposta do programa e Cada participante, no momento da entrevista, foi pesado
sua atuação em campo. em posição ortostática com braços estendidos ao longo do
Dessa forma, o presente estudo se propõe investigar o corpo, sem sapatos e com roupas leves. Foi utilizada a balança
controle da hipertensão e sua associação com a obesidade da marca Lider, aprovada pelo Inmetro e cedida pela Secretaria
através de indicadores antropométricos em mulheres inseridas da Saúde do Estado da Paraíba, modelo P200, com capacidade
nas atividades do Hiperdia. máxima de 200 kg e precisão de 100 g.
Para a variável altura, utilizou-se estadiômetro da marca
Objetivo Seca, modelo 206, com precisão de 0,1 cm. A medição da es-
tatura foi feita com a adulta/idosa descalça e com a cabeça livre
Avaliar a Hipertensão e as medidas antropométricas em de adereços, no centro do equipamento, mantendo-se de pé,
mulheres assistidas no programa Hiperdia no período de 2011. tronco ereto, braços estendidos ao longo do corpo, com a cabeça
Como hipóteses investigativas a pesquisa enumera: erguida e os calcanhares, ombros e nádegas em contato com a
a) As medidas antropométricas encontram-se signiicativa- parede, unindo os pés, fazendo um ângulo reto com as pernas.
mente associadas com a pressão arterial sistêmica? A obesidade e sobrepeso foram avaliados mediante o cálculo
b) A obesidade é um dos fatores que diicultam o controle da do Índice de Massa Corporal (IMC), obtido pela divisão do
hipertensão arterial sistêmica? peso em quilogramas pela altura em metros elevada ao qua-
c) A circunferência abdominal alterada favorece o aumento drado, o qual relete a proporção do tecido adiposo na massa
do risco para as doenças cardiovasculares? corporal, independente de localização. A classiicação dos indi-

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156 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

víduos foi feita com níveis de corte usuais do IMC de acordo tropométricos e a prevalência de hipertensão arterial sistêmica
com o gênero. Esses valores corresponderam, respectivamente foi analisada através de regressão logística.
para adultos: menor que 18,5 kg/m2 - baixo peso; igual ou mais Este estudo seguiu a Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de 18,5 e menos de 25 kg/m2 – adequado ou eutróico; igual de Saúde para pesquisa envolvendo seres humanos [12], incluindo
ou maior que 25 e menor que 30 kg/m2 – sobrepeso; mais de e garantindo o sigilo das informações, privacidade e seu consenti-
30 kg/m2 –obesidade; e para idoso: igual ou menor de 22 kg/ mento livre e esclarecido. Foi apresentado e aprovado pelo Comitê
m2 -baixo peso, mais de 22 e menos de 27 kg/m2 – adequado de Ética da Faculdade de Medicina Nova Esperança, em sua 8a
ou eutróico; igual ou maior de 27 kg/m2 – sobrepeso [10]. Reunião Extraordinária realizada em 10/09/2009, protocolo CEP
As circunferências da cintura e quadril foram obtidas FACENE/FAMENE 174/2009, CAAE n.5001.0.000.351-09.
com uma ita métrica inextensível, segundo técnica seguida
pelo Manual do Sisvan [10]. Para medir a circunferência da Resultados
cintura colocou-se a ita ao redor da cintura normal ou na
menor curvatura localizada entre a última costela e a crista Foram entrevistadas 270 mulheres com idade média de
ilíaca, mantendo-a justa, sem comprimir os tecidos. 58,64 ± 13,85. Foram encontradas informações importantes
A leitura foi feita entre uma expiração e uma inspiração. sobre hipertensão e obesidade, tendo em vista, ser o sexo fe-
A circunferência do quadril foi obtida colocando- se a ita ao minino considerado mais presente nos consultórios médicos
redor da região do quadril, na área de maior protuberância, e por cuidar mais da saúde em relação ao sexo masculino.
sem comprimir a pele. É possível observar que valores médios da idade, IMC,
A circunferência da cintura foi analisada a partir dos pon- RCQ, CC e PA apresentaram dados acima do considerado
tos de corte sugeridos pela Organização Mundial de Saúde normal. Ao analisar as informações relativas aos antecedentes
(OMS). Mulheres com valores de CC (circunferência da cin- cardiovasculares familiar e a falta de atividade física, observa-se
tura) acima de 80 cm foram classiicadas como apresentando um percentual elevado, compatível ao aumento da pressão
um acúmulo de gordura abdominal considerado como risco arterial das mulheres pesquisadas como mostra a Tabela I.
associado ao desenvolvimento de doenças ligadas à obesidade,
tornando esse risco aumentado CC > 88 cm. Tabela I - Médias, desvio-padrão, número e percentagem das vari-
Para identiicação do tipo de distribuição de gordura se- áveis selecionadas das mulheres, João Pessoa/PB 2011.
gundo a RCQ (relação cintura/quadril), utilizaram-se níveis Características Mulheres (n = 270)
de corte para risco de doenças cardiovasculares, acima do Idade (anos) 58,64 ± 13,85
recomendado, o gênero feminino ≥ 0,85. Peso (kg) 68,75 ±14,45
A classiicação da medida da pressão arterial foi segundo a Altura (m) 151,9 ± 6,67
OMS: indivíduos com pressão arterial sistólica (PAS) menor IMC (kg/m2) 29,7 ± 5,78
que 120 mmHg e pressão arterial diastólica (PAD) menor Razão Cintura-quadril 0,96 ± 0,07
que 80 mmHg – normal; (PAS) 120-139 mmHg e (PAD) Circunferência da cintura (cm) 98,98 ± 12,2
80-89 mmHg - pré-hipertensão; acima desses valores denotam Antecedente cardiovascular (n e %) 151 (60,2)
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) [11]. Escolaridade < 5 anos (n e %) 166 (66,4)
Foram realizadas duas aferições da pressão arterial no Não pratica atividade física (n e %) 172 (69,1)
inicio da entrevista com as pessoas sentadas, sendo repetido PAS (mmHg) 143 ± 23,5
após cinco minutos de repouso e admitido a média dessas PAD (mmHG) 85,8 ± 14,0
medidas. A aferição da PA em mmHg foi obtida com um HAS (maior ou igual 130/90) (n e %) 207 (69,1)
esignomanômetro com coluna de mercúrio, modelo DS44 IMC = Índice de massa corporal; PAS = Pressão arterial sistólica; PAD –
e marca Welch Allyn. Os aparelhos foram aferidos periodi- Pressão arterial diastólica; HAS = Hipertensão arterial sistêmica.
camente para comprovação da precisão.
Os dados foram processados e analisados pelo programa Dados da Tabela II, a seguir, mostram a associação dos
SPSS versão 13.0. A associação entre os diferentes índices an- indicadores de obesidade com a pressão e idade das mulheres.

Tabela II - Diferença entre as Médias, Desvio-Padrão das variáveis antropométricas e a pressão arterial e a prevalência do peso e a idade
entre as mulheres. João Pessoa/PB 2011.
IMC (kg/m2) Cintura/Quadril Cintura
(≥ 26) (< 25) (≥ 0,80) (< 80) (≥ 90) (< 90)
PAS (mmHg) 144 ± 23* 140 ± 22 144 ± 23* 141 ± 30 144 ± 23* 137 ± 33
PAD (mmHG) 87 ± 14* 81 ± 13 86 ± 14* 83 ± 14 86 ± 14* 77 ± 13
HAS (%) 81,6* 18,4 81,9* 18,1 81,9* 18,1
Idade (anos) 58,1 ± 13,4* 60,2 ± 15,2 59,3 ± 13,8* 50,3 ± 13,1 58,6 ± 13,8* 59,2 ± 13,4
IMC = Índice de massa corporal; PAS = Pressão arterial sistólica; PAD = Pressão arterial diastólica; HAS = Hipertensão arterial sistêmica; * p < 0,05.

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Nota-se elevada associação entre o IMC, RCQ, CC com a usuária do serviço questões relativas sobre as diiculdades
hipertensão arterial. do controle.
Em se tratando de chances de acometimento da presença Estudos longitudinais são sugestivos para avaliar com mais
da hipertensão, a Tabela III identiica o risco relativo estimado clareza tais parâmetros assistenciais.
da hipertensão arterial associado às medidas antropométricas
das mulheres. Na análise, o Índice de massa corpórea aumen- Conclusão
tou em 4,23 vezes a chance de hipertensão arterial, o mesmo
acontecendo com a razão cintura e quadril com 4,27. Para a As medidas antropométricas apresentaram alta associação
cintura, as chances aumentaram 10,51. com a pressão arterial sistêmica, onde os indicadores de obe-
sidade, entre eles: índice de massa corporal, relação cintura/
Tabela III - Risco relativo estimado de hipertensão arterial associado quadril e circunferência da cintura alterada podem favorecer
às medidas antropométricas das mulheres. João Pessoa/PB 2009. um aumento do risco para as doenças cardiovasculares, o que
Hipertensão arterial sugere um maior envolvimento das autoridades acerca deste
Beta P Exp B (IC) agravo e um maior incentivo aos pesquisadores no desenvol-
IMC 1,442 0,001 4,23 ( 2,12 - 12,26) vimento de estudos que visem à compreensão e melhoria da
RCQ 1,453 0,002 4,27 (1,65 - 14,58) saúde pública, especialmente no combate a hipertensão e a
Cintura 2,353 0,001 10,51 (2,39 - 54,59) obesidade.
IMC = Índice de massa corporal; RCQ = Relação cintura/quadril. Apesar dos programas oriundos do Ministério da Saúde
proporcionar acesso as medicações especiicam para o controle
da PA, as formas executadas pelas equipes de saúde demons-
Discussão tram a necessidade de discutir melhorias no atendimento a
esta população. Valores como observação e escuta do público
O presente estudo permitiu avaliar o controle da hiperten- assistido para este agravo deve produzir melhorias no atendi-
são e obesidade das usuárias cadastradas nos serviços primários mento e na avaliação do tratamento previsto.
de saúde no município de João Pessoa.
Sabendo-se da extrema importância do reconhecimento de Referencias
que hipertensão apresenta-se como uma das principais doen-
ças mais prevalentes no Brasil, a obesidade torna-se um fator 1. Dallacosta FM, Dallacosta H, Nunes AD. Peril de hipertensos
mais relevante para sua evolução, principalmente por conter no programa Hiperdia de uma Unidade básica de saúde. Uno-
características padrão como ausência de sintomatologia e esc& Ciência- ACBS, 2010;1(1):45-52.
2. Feliciano AB, Moraes AS. Demanda por doenças crônico-dege-
cronicidade, diicultando o tratamento o mais prévio possível.
nerativas entre adultos matriculados em uma unidade básica de
Trabalhos consideram que características como idade
saúde de São Carlos- SP. Rev Latino-Am enferm 1999;7(3):41-7.
avançada, gênero feminino, nível de escolaridade baixo e falta 3. Sanches CG, Pierin AMG. Peril do paciente hipertenso aten-
de atividade física contribuem para o aumento da hipertensão dido em pronto socorro: comparação com hipertensos em tra-
arterial [13-15]. tamento ambulatorial. Rev ESC Enferm USP 2004;38(1):90-8.
O presente estudo identiicou diferenças entre as médias 4. Strelec MAAM, Pierim AMG, Mion Júnior D. A inluência
e desvio padrão dos valores antropométricos e a hipertensão do conhecimento sobre doença e a atitude frente a tomada de
nas mulheres com aumento de peso estatisticamente signi- remédios no controle da hipertensão arterial. Arq Bras Cardiol
icante. Consumo exagerado de alimentos calóricos, fatores 2003;81(4):349-54.
psicológicos (estresse, depressão, ansiedade, insônia, solidão, 5. Sarno, Flávio; Monteiro, Carlos Augusto. Importância relativa
do Índice de Massa Corporal e da Circunferência abdomi-
ociosidade) também tem contribuído para elevação da Pressão
nal na predição da hipertensão arterial. Rev Saúde Pública
arterial [16,17]. 2007;41(5):788-96.
As medidas do IMC, RCQ e a circunferência da cintura 6. Ministério da Saúde. Plano de reorganização da atenção à hi-
permitiram avaliar a real magnitude da associação com a hi- pertensão arterial ao diabetes mellitus, Brasília: Ed. Ministério
pertensão. O risco relativo mostrou-se como uma estimativa da Saúde; 2001.101p.
negativa para aumentos pressóricos. Estudos airmam a im- 7. Departamento de Atenção Básica, Secretaria de políticas de
portância da análise da circunferência abdominal aumentada, Saúde. Programa de Saúde da Família. Rev Saúde Pública
CC e IMC com a PA, pois sua associação representa risco para 2000;34:316-9.
agravos coronarianos [18-22]. 8. Branco, M A F. Sistema de informação em saúde no nível local.
Cad Saúde Pública 1996;12(2):267-70.
Diante dos resultados, puderam-se perceber fragilida-
9. Paes NA. Projeto: avaliação da efetividade no controle da
des na dinâmica proposta pelo Hiperdia. Fornecimento
hipertensão arterial sistêmica e associação com fatores de risco
da medicação e orientação proissional acerca de hábitos comparando a atenção do Programa de Saúde da Família e de
saudáveis não estão apresentando valores satisfatórios para Unidades Básicas de Saúde de municípios do nordeste do Brasil.
o controle da hipertensão. Não se esquecendo de avaliar na UFPB; 2008.

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158 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

10. Ministério da Saúde (BR). Vigilância Alimentar e Nutricio- 16. Ferreira SRG, Moura EC, Malta DC, Sarno F. Freqüência de
nal- SISVAN: Orientações básicas para coleta, processamento, hipertensão arterial e fatores associados: Brasil, 2006. Cad Saúde
analise de dados e informações em serviços de saúde. Brasília Pública 2009;43 (Supl2): 98-106.
(DF): MS; 2004. 17. Siqueira FPC, Veiga EV. Hipertensão arterial e fatores de risco.
11. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, De- Enfermagem Brasil 2004;3(2):101-16.
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para o Sistema Único de Saúde. Cadernos de Atenção Básica. incidence of hypertension: an estimation from a Brazilian popu-
Número 15. Brasília (DF): MS; 2006. lation based cohort. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2009;19:15-9.
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pões sobre diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa and Aging Study (BHAS0: factores associated with the treatment
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15. Lima-Costa MF, Barreto SM, Giatti L. Condições de saúde, Neto A, Souza AD et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia: VI
capacidade funcional, uso de serviços de saúde e gastos com me- Diretriz brasileira sobre dislipidemias e prevenção da ateroscle-
dicamentos da população idosa brasileira: um estudo descritivo rose: Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de
baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Cad Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2007; 88(supl1):2-19.
Saúde Pública 2003;19 (3):735-43.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 159

Artigo 29

Avaliação isioterapêutica do comportamento


ventilatório de parturientes durante a fase de dilatação
ativa do trabalho de parto
Physiotherapeutic evaluation of ventilatory behavior of pregnant
women during active expansion phase of labor
hâmara Pequeno de Paiva*, Emília Sampaio Rocha, Ft.**, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.***,
Marília Sampaio Rocha Campos de Souza, Esp.****, João Paulo Campos de Souza, M.Sc.*****,
Edilânia Cristina Féliz de Souza, Ft.**, Italo Morais Torres, Esp.******

*Discente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciência Médicas (FCM), **Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da
Mulher (PRASM), ***Docente do Curso de Fisioterapia e coordenadora da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da
Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Gran-
de, Coordenadora do PRASM, ****Fisioterapeuta Especialista em Dermato-Funcional pela Gama Filho, *****Docente do Curso de
Fisioterapia e coordenador da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia em Traumo-ortopédica funcional e desportiva da Faculdade
de Ciências Médicas, Doutorando em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, ******Mestrando em
Saúde Materno-Infantil do IMIP

Resumo Abstract
O trabalho de parto inicia-se com o período de dilatação, com ele Labor begins with the period of dilation, with it a number of
uma série de alterações podem ocasionar disfunções cardio-respira- changes can cause cardio-respiratory dysfunction and impaired
tórias maternas e comprometimento da circulação útero-placentária, maternal uteroplacental circulation, which can lead to fetal dis-
o que pode favorecer o sofrimento fetal. Avaliar o comportamento tress. To assess the ventilatory behavior during the dilation phase
ventilatório durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto, of active labor, socio demographic proil and evaluating oxygen
traçar o peril sócio demográico e avaliar a saturação de oxigênio saturation (SaO2) by pulse oximetry. he population consisted of
(SaO2) através da oximetria de pulso. A população foi composta 21 pregnant women in the active phase of labor admitted to the
por 21 parturientes na fase ativa do trabalho de parto admitidas no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA) - Campina Grande/
Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA) - Campina Grande/ PB in the period April-May 2012. hese were assessed using the
PB, no período de abril a maio de 2012. Estas foram avaliadas Assessment Protocol Functional Kinetic-in Labor, throughout the
através do Protocolo de Avaliação Cinético-Funcional no Trabalho active phase, and a physical examination performed every hour, until
de Parto, durante toda a fase ativa, sendo realizado o exame físico a the early expulsive phase. he socio-demographic proile had high
cada hora, até o início da fase expulsiva. O peril sócio-demográico rate of teenage pregnancy, low educational level and single-parent
teve índice elevado de gravidez na adolescência, baixo nível de es- families. here was a slight decrease in SaO2, increased heart rate
colaridade e famílias uniparentais. Ocorreu discreta diminuição da (HR), respiratory rate (RR) reduction of maternal and fetal heart
SaO2, aumento da frequência cardíaca (FC) e frequência respiratória rate (FHR). Knowledge of ventilatory behavior during the active
(FR) materna e diminuição da frequência cardíaca fetal (FCF). O phase of dilatation of labor allows better understanding of the
conhecimento do comportamento ventilatório durante a fase de di- functionality of the respiratory system at this stage.
latação ativa do trabalho de parto permite uma melhor compreensão Key-words: childbirth, physical therapy, ventilation.
da funcionalidade do sistema respiratório nesta fase.
Palavras-chave: parto, isioterapia, ventilação.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47, Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail:
gabi.bcampos@gmail.com

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160 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução muitos já contam a SaO2 como quinto sinal vital e um indica-


dor clinicamente signiicativo da oxigenação dos doentes [7].
Durante a evolução do ciclo grávido-puerperal, são inú- A isioterapia obstétrica é a mais nova área da saúde dis-
meras as alterações e adaptações anatômicas, isiológicas e ponível para as mulheres que querem se preparar para uma
bioquímicas que se realizam para a perfeita interação entre gestação e pós-parto saudáveis. Possui como objetivo cuidar
a formação do embrião e o desenvolvimento do feto e, o do corpo da mulher, que sofre transformações isiológicas,
relacionamento isiológico dos mesmos, com o organismo estruturais e emocionais durante os nove meses oferecendo
materno que os mantêm. Essas trocas funcionais iniciam-se uma melhor qualidade de vida nesse período tão importante
com a fertilização do ovócito materno, interagem durante na vida da mulher [8].
toda a gravidez, desaparecendo de forma quase completa após Com a escassez de textos e estudos sobre o tema partu-
o término da lactação. rientes e os desconfortos ventilatórios, surge à necessidade de
O organismo da mulher desenvolve, com a fecundação e maiores informações, pelo motivo desta etapa ser importan-
a implantação do ovo durante todo o ciclo, uma verdadeira tíssima na vida de uma mulher e serem inúmeras as dúvidas
síndrome de adaptação e regulação circulatória e metabólica clínicas, tanto teóricas quanto práticas.
funcional, através de modiicações gerais e locais, para prover É notório, portanto, que com a chegada do momento
o relacionamento harmônico, anatômico, imunológico e fun- do parto, o organismo materno sofre alterações para dar
cional com o alo-enxerto embrionário em desenvolvimento condições favoráveis de desenvolvimento ao bebê. E, dentre
e, mesmo até a sua completa expulsão da cavidade uterina ao estas condições pode-se destacar a elevação do diafragma, o
se ultimar o parto [1]. que reduz sua capacidade de ação/contração, ocasionando
O ciclo grávido-puerperal normal compreende três fases: desconfortos ventilatórios.
a primeira evolutiva representada pela gestação, a segunda é a Apesar de a respiração ser uma atividade normalmente
resolutiva através do trabalho de parto ou expulsão fetal e de involuntária, que varia dependendo da tarefa que se esteja
seus anexos e, inalmente, a última é representada pelo puer- realizando ou até mesmo em repouso, ela pode ser uma ferra-
pério ou fase involutiva, durando até o retorno às condições menta voluntária podendo ser utilizada de forma consciente na
maternas pré-gravídicas [2]. melhora do padrão ventilatório, e consequentemente na SaO2.
Durante a gestação ocorrem modiicações isiológicas que Além de promover o acompanhamento isioterapêutico da
envolvem todos os sistemas temporariamente. Tais alterações parturiente nessa hora tão dolorosa, mas tão grandiosa, que é o
são suicientes para criar situações biológicas, corporais, nascimento de um ser que a habitou durante semanas, tem-se
mentais e sociais que devem ser diferenciadas entre achados a possibilidade de discutir os desconfortos ventilatórios, e sua
normais e patológicos, que necessitam ser diagnosticados e repercussão sobre a saturação de oxigênio, vivenciados pela
tratados durante a gravidez [3]. parturiente na fase de dilatação ativa do trabalho de parto.
As alterações anatômicas do sistema respiratório durante Portanto, pretendendo-se contribuir com as pesquisas
a gravidez, provocadas pelo crescimento uterino em dire- voltadas para a assistência obstétrica no trabalho de parto,
ção cranial, alteram a posição de repouso do diafragma e a o presente trabalho possui como objetivo geral: avaliar fun-
coniguração da caixa torácica. Mecanismos bioquímicos e cionalmente o comportamento ventilatório de parturientes
mecânicos promovem alterações isiológicas, no sistema res- durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto e como
piratório da mulher, induzidas pela gravidez. Estas alterações objetivos especíicos: traçar o peril sócio-demográico e obs-
visam promover maior aporte de nutrientes e de oxigênio ao tétrico das parturientes pesquisadas, avaliar a SaO2 através
embrião/feto [4]. da oximetria de pulso durante a fase de dilatação ativa do
O oxigênio (O2) é transportado combinado à hemoglobina trabalho de parto e avaliar comparativamente a dor durante
e dissolvido no plasma sanguíneo. Na curva de dissociação o trabalho de parto e as repercussões ventilatórias.
da hemoglobina, ocorre um aumento da porcentagem da
saturação à medida que o O2 se combina com a hemoglobina. Material e métodos
Esse percentual é conhecido como percentual de saturação da
hemoglobina ou, simplesmente, saturação de O2 (SaO2) [5]. A pesquisa foi realizada nas dependências do Instituto de
A ainidade da hemoglobina pelo oxigênio e um fenôme- Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), localizado na cidade de
no dinâmico que pode ser afetado por diversos mecanismos Campina Grande – PB, durante o período de abril a maio de
levando a alterações da saturação e da liberação do oxigênio 2012. A população selecionada para este estudo foi composta
nos tecidos [6]. por parturientes na fase ativa do trabalho de parto, admitidas
A oximetria de pulso é reconhecida como um método no ISEA, onde estas receberam os devidos esclarecimentos
preciso, simples e não invasivo de avaliar a saturação de oxi- sobre a inalidade e o trajeto metodológico que o estudo
gênio (SaO2), tida por isso como um dos maiores avanços visou seguir. A amostra foi do tipo não-probabilística e por
médicos em monitorização da função respiratória, dada a acessibilidade, composta por 21 gestantes, que aceitaram
simplicidade e coniança de como este método a determina, participar da pesquisa.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 161

Os critérios de inclusão do presente estudo foram: parturien- Perfil sócio-demográfico


tes admitidas no serviço no período da coleta de dados, na fase
ativa do trabalho de parto, de baixo risco, com idade gestacional Através da identiicação das gestantes em estudo, pôde-se
entre 38 e 42 semanas, e que aceitaram constituir a amostra. analisar o peril sócio-demográico das mesmas, apresentado
Foram adotados como critério de exclusão: gestantes com na Tabela I.
estado clínico que direta ou indiretamente diicultasse ou
contra-indicasse a avaliação proposta e histórico de doença Tabela I - Peril Sócio-demográico das parturientes avaliadas.
cardiopulmonar. Variável Frequência Frequência
Para coleta de dados foram utilizados como instrumentos Absoluta (N) Relativa (%)
o Protocolo de Avaliação Cinético-Funcional no Trabalho de Idade
15 |—| 20
Parto, para obtenção dos dados pertinentes a pesquisa, estetos- 6 28,57%
cópio marca Premium e esigmomanômetro da marca Becton
21 |—| 26 9 42,85%
Dickinson para mensuração da pressão arterial, oxímetro de
pulso marca DigitTM para veriicação da SaO2 e FC. 27 |—| 32 4 19,05%
O projeto foi submetido à apreciação do Comitê de 33 |—| 38 2 9,53%
Ética em Pesquisa (CEP) do Centro de Ensino Superior e Estado civil
Desenvolvimento – CESED. Após aprovado, autorizado e Casadas 8 38,09%
obtendo parecer sob CAAE 00709212.0.0000.5175 a pes- Solteiras 13 61,91%
quisa foi iniciada. Ocupação/Proissão
As gestantes admitidas no ISEA que atenderam aos crité- Do lar 16 76,19%
rios de inclusão do presente estudo foram esclarecidas quanto Estudante 1 4,76%
aos objetivos, importância e procedimentos da pesquisa, e Outros 4 19,05%
mediante aceitação foram solicitadas a assinar o Termo de Grau de Instrução
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo garantida Ensino F. incompleto 12 57,15%
a participação voluntária, sem danos e prejuízos, o sigilo, o Ensino F. completo 3 14,28%
anonimato e a privacidade dos dados dos sujeitos envolvidos Ensino M. incompleto 2 9,52%
na pesquisa. Ensino Médio completo 4 19,05%
Em seguida, a parturiente foi avaliada através do Proto- Procedência
colo de Avaliação Cinético-Funcional no Trabalho de Parto, Campina Grande 9 42,85%
durante toda a fase ativa do trabalho de parto, sendo sequen- Munic. circuvizinhos 12 57,15%
cialmente realizado o exame físico destas a cada hora, até o Fonte: Dados da Pesquisa, 2012.
início da fase expulsiva, por meio do protocolo proposto, a
partir do qual foram coletadas as informações pertinentes aos Em relação à idade das gestantes, foi possível analisar
objetivos do estudo. que 28,57% da amostra inserem-se na faixa etária entre 15 a
Para mensuração dos parâmetros de avaliação do exame 20 anos, 42,85% entre 21 e 26 anos, 19,05% entre 27 a 32
físico, PA, FC, FR, SaO2 mensuração da altura de fundo de anos e com mais de 33 anos de idade 9,53% (Tabela I). Desta
útero, circunferência abdominal, Manobra de Leopold e FCF forma, pode-se observar uma predominância de gestantes
as gestantes foram posicionadas adequadamente em decúbito com idade entre 21 e 26 anos que participaram da amostra
dorsal e decúbito lateral esquerdo, respeitando a vontade da da pesquisa. No entanto, outro dado relevante refere-se à
gestante no momento da avaliação. Tais mensurações foram alta porcentagem de mulheres com idade inferior a 20 anos,
realizadas no intervalo entre as contrações uterinas, bem em relação às demais faixas etárias, o que sugere um índice
como, durante essas contrações. signiicativo de gravidez na adolescência.
Os resultados foram apresentados através da análise A gravidez na adolescência tem sérias implicações biológi-
descritiva de números absolutos e percentuais, aplicando e cas, familiares, emocionais e econômicas, além das jurídico-
apresentando-os por meio de tabelas e gráicos. -sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade,
limitando ou mesmo adiando as possibilidades de desenvolvi-
Resultados e discussão mento e engajamento dessas jovens na sociedade [9].
Para Silva [10] a gestação nessa fase da vida pode trazer
Este capítulo apresenta os resultados e as discussões dos repercussões de ordem variável, com complicações para a mãe
dados da pesquisa, distribuídos e dispostos por meio de grá- e ilho; pode ocorrer hipertensão especíica da gravidez, ane-
icos e tabelas, ressaltando o peril sócio demográico, o peril mia, sofrimento fetal crônico, desproporção entre o tamanho
gineco-obstétrico, e o comportamento ventilatório durante do feto e a bacia materna, parto prematuro e cesárea. Existem
a fase de dilatação ativa do trabalho de parto das gestantes evidências de que a gestação nesse período interrompe o
atendidas no ISEA, onde os respectivos dados foram coletados. crescimento pessoal e proissional da jovem e de seu parceiro.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


162 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Dados sobre a gravidez na adolescência vêm mostrando Analisando comparativamente os resultados supracitados,
um aumento na taxa de fecundidade para esta população estes sugerem um baixo nível de escolaridade associado a
quando comparada a mulheres adultas, especialmente nos uma alta taxa de evasão escolar. Este fato, segundo Oliveira
países mais pobres, como é o caso da América Latina. A [14], justiica-se, devido à gestação favorecer fatores como a
gravidez nesse momento da vida oferece implicações no de- vergonha e o preconceito, os quais inluenciam a adolescente
senvolvimento tanto para o adolescente quanto para aqueles a deixar de frequentar a escola, ato que após o nascimento
envolvidos nessa situação, como: pais, avós, tios, irmãos. A do bebê é justiicado pela necessidade de trabalho para o
literatura tem tratado a gravidez na adolescência como um sustento do ilho, uma vez que, em geral, a paternidade não
problema de saúde pública, especialmente pelo fato de pro- é assumida, e quando é, submetem pai e mãe ao abandono
piciar riscos para o desenvolvimento da criança gerada e para escolar e ingresso no mercado informal e mal remunerado.
a própria adolescente gestante [11]. A dedicação total que exige um bebê leva muitas mulheres
O aumento da gravidez na adolescência em países em a deixarem a escola, e até mesmo não retornarem às atividades
desenvolvimento como o Brasil tem despertado o interesse escolares após o nascimento do bebê, ou seja, ocorre a evasão
de pesquisadores e proissionais de saúde, tendo em vista a escolar como consequência da gravidez. Embora existam leis
associação desse evento com pobreza, baixa escolaridade e e respaldos legais que garantam o direito à amamentação,
piores resultados perinatais. O assunto é polêmico, e discute-se ainda há ineiciência da escola em relação a esse novo ritmo
a possibilidade de que os efeitos de um pré-natal inadequado de vida da adolescente. Muitas não se sentem à vontade e nem
nesse grupo sejam mais pronunciados porque a gravidez na motivadas a continuar os estudos [15].
adolescência é um fenômeno muito mais presente nas jovens Já em relação à procedência 42,85% residem em Campina
de grupos sociais excluídos, frequentemente desprovidas do Grande enquanto que 57,15% em cidades circunvizinhas
apoio da família, do pai do bebê e da sociedade. É preciso, (TABELA I), o que demonstra a importância da maternidade
pois, orientar as adolescentes sobre o signiicado da gravidez e pública da cidade como referência também para parturientes
o momento de planejá-la. Diante da necessidade de interven- de cidades próximas que não apresentam tal serviço.
ção para redução da gravidez na adolescência, os proissionais
devem adotar ações educativas para mudar esta realidade [12]. Comportamento ventilatório durante a fase
No que se refere ao estado civil, os resultados mostram que de dilatação ativa do trabalho de parto
61,91% das gestantes que compuseram a amostra são solteiras
e 38,09%, são casadas, demonstrando ainda um alto índice Com base nos dados obtidos nesta pesquisa, o Gráico 1
de ausência de companheiro durante a evolução da gravidez apresenta os valores médios referentes à Frequência Respira-
(TABELA I). Estes dados corroboram com os estudos de tória (FR) Materna, fora e durante as contrações no decorrer
Ribeiro et al [13] que mostram que a proporção de gestantes das avaliações realizadas durante a fase de dilatação ativa do
sem um companheiro estável atualmente é crescente, o que trabalho de parto.
pode tornar a gestação pouco aceita socialmente e diicultar
a evolução da gestação e até mesmo a aceitação da futura mãe Gráico 1 - Frequência Respiratória Materna apresentada pelas
à nova condição, podendo ser um fator desfavorável a saúde parturientes no decorrer das avaliações, fora e durante as contrações.
materno-fetal. 30
Constata-se, nas sociedades ocidentais, um número cada 27 26,26
FR (ipm)

vez maior de famílias uniparentais, que tem, na maioria dos 24


19,6
casos, a mãe como progenitor responsável. Tal fato pode 21 18 18 20,73
18
ser explicado em função dos altos índices de divórcio e da
15 17,26 17 16,13
opção de mulheres por terem um ilho enquanto solteiras.
12
Aproximadamente 25% dos lares brasileiros estão sob a res- 1ª 2ª 3ª 4ª
ponsabilidade de mulheres, sendo estas solteiras, separadas, Avaliações
divorciadas ou viúvas. Independente das razões, a mudança Fora Durante
que deixa a família a cargo de um só progenitor constitui um Os dados referentes a FR materna na primeira avaliação
signiicativo reordenamento do sistema familiar [1]. fora da contração mostram uma média de 18irpm, na se-
Os dados obtidos, e expressos na Tabela 4.1 mostram, gunda avaliação 18 irpm, na terceira avaliação 19,6irpm e
quanto à proissão/ocupação, que 76,19% das mulheres da na quarta avaliação uma média de 26,26 irpm. Já em relação
amostra são do lar, 4,76% são estudantes e 19,05% outros. à FR durante a contração, a média na primeira avaliação foi
Bem como, em relação ao grau de instrução, 57,15% apre- de 17,26 irpm, na segunda de 17irpm, na terceira 16,13irpm
sentam ensino fundamental incompleto, 14,28% ensino e a média na quarta avaliação foi de 20,73 irpm (Gráico 1).
fundamental completo, 9,52% ensino médio incompleto e Os resultados demonstram que a FR materna aumentou no
19,05% ensino médio completo, não sendo referido o ensino decorrer das avaliações ao longo da fase de dilatação ativa, tanto
superior. fora quanto durante as contrações. Porém, analisando compa-

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 163

rativamente, essa hiperventilação ocorreu mais evidentemente Destarte, é possível observar, ainda, através de análise com-
fora da contração, com uma diferença média de 5,53irpm ao parativa, que o comportamento da SaO2 tende a ser menor
inal da fase, o que pode ser explicado pela realização de apnéias durante a contração (0,6%), ao longo da fase de dilatação ativa
durante a contração uterina, em detrimento da dor, bem como, do trabalho de parto, do que fora da contração.
devido ao ínicio do puxo e relexo de Ferguson, ao inal da fase Machado, Machado e Zin [4] explicam que durante o
de dilatação ativa e início da fase expulsiva. trabalho de parto pode ocorrer um aumento acentuado da
Os dados corroboram com Carli et al. [16] ao veriicar ventilação minuto de até 300%, de maneira voluntária (como
em seus estudos que o estímulo doloroso durante o trabalho método de autocontrole da dor e relaxamento) e involuntária
de parto leva a repercussões no binômio materno-fetal, como (em resposta a dor e a ansiedade). A hiperventilação resulta
hiperventilação materna e consequente aumento do consumo em hipocapnia e alcalose respiratória. Provoca também
de oxigênio pela mãe, além de diminuição do luxo sanguíneo desvio para a esquerda na curva de dissociação de oxigênio
útero-placentário e períodos de apnéia materna associados à que propicia aumento da ainidade de hemoglobina pelo
hipóxia do binômio e, com aumento da ainidade da hemo- oxigênio e menor oxigenação materna. Após os episódios de
globina pelo oxigênio. hiperventilação, podem sobrevir períodos de hipoventilação
A hiperventilação acentuada pela dor durante o traba- com retorno ao normal de taxas de PaCO2.
lho de parto determina alcalose respiratória, o que reduz o O Gráico 3 apresenta os valores médios referentes à Fre-
luxo sanguíneo uterino e desvia a curva de dissociação da quência Cardíaca (FC) Materna, fora e durante as contrações
hemoglobina para a esquerda, fatores que contribuem para no decorrer das avaliações realizadas durante a fase de dilatação
hipoxemia fetal [17]. ativa do trabalho de parto.
O Gráico 2 apresenta os valores médios referentes à
Saturação de Oxigênio (SaO2) Materna, fora e durante as Gráico 3 - Frequência Cardíaca Materna apresentada pelas
contrações no decorrer das avaliações realizadas durante a gestantes no decorrer das avaliações, fora e durante as contrações.
fase de dilatação ativa do trabalho de parto. 106 101,93 102,93
100,33
102 99,13
Gráico 2 - Saturação de Oxigênio Materna apresentada pelas
FC (bpm)

98
parturientes no decorrer das avaliações, fora e durante as contrações. 94 90,13
97,5
97 90 85,73
96,93 96,93 89,66
97 86
SaO2 (%)

88,06
96,4 82
96,5 96,66 1ª 2ª 3ª 4ª
96,66
Avaliações
96 96,4
Fora Durante
96
95,5
1ª 2ª 3ª 4ª No que se refere a FC materna fora da contração observou-
Avaliações -se na primeira avaliação uma média de 89,66 bpm, na segun-
Fora Durante da avaliação 90,13 bpm, na terceira avaliação 85,73bpm e na
quarta avaliação uma média de 88,06 bpm. Já em relação à
Em relação ao comportamento da SaO2 nas parturientes FC durante a contração, a média na primeira avaliação foi de
avaliadas, os resultados mostraram valor médio de 96,66% 100,33bpm, na segunda de 99,13bpm, na terceira 101,93bpm
na primeira avaliação fora da contração, na segunda avaliação e a média na quarta avaliação foi de 102,93bpm (Gráico 3).
96,66%, na terceira avaliação 96,4% e na quarta avaliação Os resultados encontrados estabelecem que durante as
média de 97%. Já em relação à SaO2 durante a contração, a contrações ocorreu um aumento signiicativo da FC em
média na primeira avaliação foi de 96,93%, na segunda de comparação com a FC fora da contração. Observou-se que
96,93%, na terceira 96% e a média na quarta avaliação foi em vários momentos, durante a contração, conigurou-se
de 97% (Gráico 2). taquicardia nas parturientes.
Baseado nos dados obtidos após análise, veriicou-se que Com relação ao sistema cardiovascular, então, ocorre um
os percentuais de saturação no decorrer das avaliações, tanto estado hiperdinâmico no organismo materno, com aumento
durante quanto fora das contrações, apresentaram discretas do volume de sangue, na água corpórea total e no sódio, de-
alterações. Durante as avaliações foi observado que as ges- vido à elevação de concentração de estrogênio e decorrente
tantes variam sua ventilação minuto, com certos momentos retenção daqueles. Isso gera um débito cardíaco em torno de
de hipoventilação e em outros com hiperventilação, porém a 30% maior, com maior volume de ejeção e posterior aumento
saturação permanece constante e dentro dos parâmetros de de frequência cardíaca [19].
normalidade. De acordo com Carrara [18] os valores normais Nas mulheres grávidas, por razões isiológicas, a frequência
para a saturação de oxigênio se encontram entre 95% e 100%. cardíaca aumenta em média cerca de 15 batimentos/minuto

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


164 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

(bpm) (ou aproximadamente 20% acima da frequência cardí- com as avaliações posteriores identiicou-se uma diminuição
aca basal), atingindo seu máximo a partir da 32ª semana, até o progressiva. Segundo Ralph [23], isso ocorre devido a dimi-
inal da gestação. Já durante o trabalho de parto, as contrações nuição da oxigenação fetal que se inicia e o feto começa uma
uterinas, ocasionam alterações da FC materna durante e na taquicardia compensatória a im de continuar a perfundir os
ausência de contrações uterinas [20]. tecidos. É uma fase muito rápida e difícil de ser percebida
A mais importante modiicação funcional sobre o sistema porque, como a hipóxia continua, o achado seguinte passa a
cardio-circulatório produzida durante o trabalho de parto é, ser uma queda da FCF.
sem dúvida, o signiicativo aumento do débito cardíaco. A Durante o trabalho de parto a monitorização da FCF
elevação do débito cardíaco deve-se a um aumento conjunto deve ser feita de forma intermitente, antes, durante e por pelo
da frequência cardíaca e do volume sistólico. Cada contra- menos 30 segundos após a contração. É considerado sinal
ção uterina eleva o débito em torno de 10 - 25%. Durante de alarme valores de FCF, entre as contrações, inferiores a
o trabalho de parto ocorre aumento do débito em torno de l00bpm e taquicardia (FCF > l60bpm) durante três ou mais
30% durante a fase ativa e 45% no período expulsivo, quando contrações [24].
comparado aos valores iniciais [21]. De acordo com Misodor [25] o sofrimento fetal agudo
Com base nos dados obtidos nesta pesquisa, o Gráico é uma injuria fetal que ocorre durante o trabalho de parto.
4 apresenta os valores médios referentes à Frequência Car- Tem como principais alterações bioquímicas: a hipoxia, a
díaca Fetal (FCF), fora e durante as contrações no decorrer acidose e a hipercapnia. Qualquer fator que interira nas
das avaliações realizadas durante a fase de dilatação ativa do trocas metabólicas materno-fetais pode virar uma causa de
trabalho de parto. sofrimento fetal agudo. Na maioria dos casos isso acontece
durante o trabalho de parto, quando as mudanças anatômicas
Gráico 4 - Frequência Cardíaca Fetal apresentada no decorrer das e isiológicas acabam inluenciando negativamente as circu-
avaliações, fora e durante as contrações. lações uteroplacentária e fetoplacentaria.
141 139 138,66 O acompanhamento da FCF é um bom teste para acom-
139 panhar um possível sofrimento fetal, principalmente através
BCF (bpm)

137 da cardiotocograia (CTG) [23], uma vez que, de acordo


133,86 com [24] a CTG permite o registro contínuo e simultâneo
135
133 135,33
132,13 da FCF, contratilidade uterina e movimentação fetal, no pe-
131
ríodo anteparto ou intra-parto, podendo ser de repouso ou
132,8
130,2 131,33 de esforço. Assim, possibilita a avaliação da integridade dos
129
1ª 2ª 3ª 4ª mecanismos do sistema nervoso central (SNC) envolvidos no
Avaliações controle da FC e da cinética fetal.
Fora Durante
Conclusão
Os resultados mostram para a FCF, na primeira avaliação
fora da contração uma média de 139 bpm, na segunda avaliação O ciclo gravídico-puerperal compreende três fases, dentre
138,66 bpm, na terceira avaliação 133,86 bpm e na quarta ava- elas, o trabalho de parto. Essa fase é marcada pelas contrações
liação uma média de 132,13 bpm. Já em relação à FCF durante uterinas dolorosas e pela alteração cervical, que evidencia
a contração, a média na primeira avaliação foi de 130,2 bpm, o início do período de dilatação, e com ele uma série de
na segunda de 135,33 bpm, na terceira 132,8 bpm e a média alterações isiológicas, envolvendo diversos aparelhos e sis-
na quarta avaliação foi de 131,33 bpm (Gráico 4). temas, destacando-se o respiratório. Tais alterações podem
Analisando o gráico pode-se observar que ocorreu uma ocasionar disfunção cardiorrespiratória materna, bem como,
diminuição dos batimentos cardio-fetais nas avaliações ao o comprometimento da circulação útero-placentária, o que
longo da fase de dilatação ativa do trabalho de parto, tanto pode favorecer o sofrimento fetal. Nesta perspectiva, avaliar
fora quanto durante as contrações. No entanto, durante a adequadamente e conhecer os parâmetros de vitalidade, du-
contração uterina estes parâmetros de avaliação fetal se mostra- rante o trabalho de parto, fornecem subsídios para a atuação
ram inferiores quando comparados ao período de ausência de da isioterapia nesse período na busca da minimização dos
contração, com maior e signiicativa diferença no ínicio da fase transtornos e consequente saúde materno-fetal.
(8,8bpm) do que no inal (0,8 bpm), possivelmente explicada De acordo com os resultados obtidos, o peril sócio-de-
devido a evolução da dinâmica das metrossístoles. Porém, os mográico caracteriza-se com um elevado índice de gravidez
valores obtidos, mesmo com a involução, encontram-se dentro na adolescência, baixo nível de escolaridade e famílias unipa-
dos parâmetros de normalidade (120 – 160 bpm), segundo rentais. Esses fatores possivelmente causam sérias implicações
Ranciaro e Mauad Filho [22]. biológicas, familiares, emocionais e econômicas; fazendo com
Observou-se também que durante a contração, na 2ª que a gestante abandone a escola, com vergonha da sociedade
avaliação, ocorreu um aumento da FCF em relação a 1ª, e e/ou por falta de um parceiro. Com relação ao comportamento

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 165

ventilatório e a SaO2, foi possível observar que ocorreu uma 8. Barboza DG. Gestação saudável e isioterapia. [citado 2011 set
discreta diminuição da SaO2, aumento da FC e FR materna 03]. Disponível em URL: http://www.guiainfantil. com.br/
e diminuição da FCF, ao longo da fase de dilatação ativa. artigos/gestacao-saudavel-e-isioterapia.
O conhecimento do comportamento ventilatório durante 9. Vitalle MSS, Amancio OMS. Gravidez na adolescência. São
Paulo; 2012.
a fase de dilatação ativa do trabalho de parto permite uma
10. Silva PR. Gravidez na adolescência. Rio de Janeiro; 2003.
melhor compreensão da funcionalidade do sistema respira- 11. Santos et al. Gravidez na adolescência: análise contextual de
tório nesta fase, possibilitando assim o surgimento de mais risco e proteção. Psicologia Em Estudo 2010;15(1).
estudos que venham a colaborar nesse sentindo, melhorando 12. Arcanjo CM, Oliveira MIV, Bezerra MGA. Gravidez em ado-
a abordagem isioterapêutica voltada para tais alterações, no lescentes de uma unidade municipal de saúde em Fortaleza.
intuito de minimizar os desconfortos ventilatórios e propor- Ceará; 2007.
cionar melhor qualidade de vida ao binômio mãe-ilho. 13. Ribeiro E et al. Comparação entre duas coortes de mães adoles-
Entretanto há necessidade de mais estudos voltados à te- centes do sudeste do Brasil.Rev Saúde Pública 2000.
mática abordada na intenção de favorecer a melhor adaptação 14. Oliveira NS et al. Conhecimento e Promoção do uso de pre-
servativo feminino por roissionais de unidades de referencia
da gestante as alterações isiológicas promovidas, de forma a
para Dst/Hiv de Fortaleza. Revista Saúde e Sociedade 2008;17.
atenuar desconfortos instalados.
15. Monico AGF. Gravidez na adolescência e evasão escolar: o que
Por im, acredita-se ter contribuído para uma melhor a escola tem a ver com isso? Revista Facevv 2010.
avaliação do comportamento ventilatório durante o trabalho 16. Carli D et al. Analgesia em trabalho de parto: estudo comparati-
de parto, objetivando tornar a gestação e o trabalho de parto, vo entre peridural contínua e bloqueio subaracnóideo associado
fases ainda mais prazerosas. a cateter peridural contínuo. Perspectivas Médicas 2006;17.
17. Souza GN et al. Analgesia e anestesia durante o trabalho de
Referências parto. Femina 2010;38(12).
18. Carrara D et al. Oximetria de pulso arterial. São Paulo; 2009.
1. Rozas AA, Wey JMP, Novo JLVG. Estudo do trabalho de parto 19. Portão CPB. Comparação da força muscular inspiratória e
(períodos de dilatação, expulsão, dequitação e de Greenberg) em expiratória e suas repercussões entre gestantes do último tri-
pacientes obesas no conjunto hospitalar de Sorocaba: aspectos mestre gestacional e puérperas em até 10 dias de pós-parto.
maternos, fetais e perinatais. Revista Da Faculdade De Ciências Santa Catarina; 2008.
Médicas De Sorocaba 2011. 20. Barcellos GA. Achados Eletrocardiográicos na gravidez normal.
2. Neme B. Obstetrícia Básica. 3 Ed. São Paulo: Sarvier; 2006. Revista Da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande Do Sul
3. Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia 2005.
e aspectos de mastologia. Rio De Janeiro: Guanabara Koogan; 21. Reis GFF. Alterações isiológicas maternas da gravidez. Rev Bras
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


166 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 30

Peril clínico, qualidade de vida e nível de independência


funcional de pacientes submetidas à mastectomia
radical modiicada
Clinical proile, quality of life and functional level of independence of
patients submitted to the modiied radical mastectomy
Leila Maria Alvares Barbosa*, Camilla Carneiro Leão Sampaio Carvalho**, Caroline Wanderley Souto Ferreira, D.Sc.***

*Mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), **Professora substituta da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), ***Fisioterapeuta graduada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ****Professora adjunta da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Resumo Abstract
A mastectomia radical modiicada é a conduta terapêutica mais Modiied radical mastectomy is the most used therapeutic ap-
utilizada para o câncer de mama, porém pode causar sequelas físicas e proach for breast cancer, but it can cause physical and psychological
psicológicas que interferem na qualidade de vida (QV) das mulheres. disorders that afect women’s quality of life (QOL). he aim of this
O objetivo deste estudo foi avaliar o peril clínico (amplitude de study was to evaluate the clinical proile (range of motion - ROM
movimento - ADM e presença de linfedema no membro superior and presence of lymphedema in the ipsilateral upper limb surgery),
homolateral à cirurgia), a QV e o nível de independência funcional QOL and level of functional independence of patients who un-
de pacientes submetidas à mastectomia radical modiicada, atendi- derwent modiied radical mastectomy, treated at the Department
das no Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de of Physical herapy, Federal University of Pernambuco. his is a
Pernambuco. Trata-se de um estudo de corte transversal, no qual cross-sectional study in which 14 volunteers were subjected to a
14 voluntárias foram submetidas a uma avaliação isioterapêutica physical therapy evaluation and responded to Health Survey Short
e responderam aos questionários Health Survey Short Form – 36 e Form - 36 and Katz Index. here was no signiicant limitation of
Índice de Katz. Não foi observado déicit signiicativo da ADM do shoulder ROM (p > 0.05). It was veriied the presence of lym-
ombro (p > 0,05). Veriicou-se presença de linfedema (p < 0,05) na phedema (p < 0.05) in the distal upper limb ipsilateral to surgery.
extremidade distal do membro superior homolateral à cirurgia. Os he best QOL scores were obtained in areas related to social and
melhores escores de QV foram obtidos nos domínios relacionados mental health, with averages of 77.67 and 73.71, respectively. Most
aos aspectos sociais e saúde mental, com médias de 77,67 e 73,71, women (92.85%) were considered fully independent in activities
respectivamente. A maioria das mulheres (92,85%) foi considerada evaluated. We concluded that physiotherapy plays a key role in the
totalmente independente nas atividades avaliadas. Conclui-se que functional recovery of the upper limb ipsilateral to surgery and in the
a isioterapia desempenha um papel fundamental na recuperação prophylaxis of complications of surgical treatment for breast cancer.
funcional do membro superior homolateral à cirurgia e na proi- Key-words: Breast neoplasms, mastectomy, modiied radical,
laxia de complicações decorrentes do tratamento cirúrgico para o quality of life, functional independence, physical therapy modalities.
câncer de mama.
Palavras-chave: Neoplasias da mama, mastectomia radical
modiicada, qualidade de vida, independência funcional,
modalidades de isioterapia.

Endereço para correspondência: Caroline Wanderley Souto Ferreira, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal
de Pernambuco, Avenida Professor Moraes Rego, 1235 Cidade Universitária 50670-901 Recife PE, E-mail: caroline.wanderley@ufpe.br

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 167

Introdução Departamento de Fisioterapia (DEFISIO) da Universidade


Federal de Pernambuco (UFPE).
O câncer de mama (CM) é uma doença complexa e he-
terogênea, que consiste na formação de um tumor maligno Material e métodos
a partir da multiplicação exagerada e desordenada de células
anormais que invadem o tecido mamário, podendo se espalhar Trata-se de um estudo descritivo, observacional, de corte
para outras regiões do corpo [1]. Segundo tipo mais frequente transversal, realizado no período de agosto a outubro de 2010,
no mundo, o câncer de mama é o mais comum entre as mu- após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo
lheres. Estima-se que entre os anos de 2012/2013, no Brasil, seres humanos do Centro de Ciências da Saúde da UFPE,
o número de novos casos de CM seja de aproximadamente sob CAAE – 0304.0.172.000-09.
52.680 [2]. As mulheres mastectomizadas que participaram do estudo
Atualmente, existem várias opções de tratamento para foram selecionadas pela consulta às ichas de avaliação das
o câncer de mama, e a sobrevida dessas mulheres tem au- pacientes que tinham sido submetidas à mastectomia radical
mentado devido ao avanço tecnológico e ao tratamento. O modiicada e atendidas no ambulatório de isioterapia do
tratamento envolve uma abordagem múltipla, que inclui ra- DEFISIO da UFPE, no período de 2006 a 2010.
dioterapia, quimioterapia, reposição hormonal e intervenção Se encaixaram nos critérios de inclusão, as pacientes sub-
cirúrgica [3]. A cirurgia ainda é o processo mais comum para metidas à mastectomia radical modiicada após tratamento
prevenir a disseminação da doença e a técnica a ser utilizada de radioterapia e quimioterapia. Foram excluídas aquelas
dependerá da gravidade do quadro, podendo ser desde uma portadoras de doenças musculotendíneas, osteoarticulares
técnica mutiladora, como a mastectomia radical, até técnicas ou neurológicas de membros superiores e as submetidas à
chamadas de conservadoras, como as quadrantectomias [4]. reconstrução mamária.
A mastectomia radical modiicada é o procedimento cirúr- Foram identiicadas sessenta pacientes, porém apenas
gico mais utilizado para o tratamento do câncer de mama. Esse vinte e nove foram contatadas. As demais pacientes (n = 33)
tipo de tratamento, principalmente associado à radioterapia, não foram informadas sobre a realização do estudo devido à
pode acarretar em complicações físicas, imediatas ou tardias, mudança de residência ou número de telefone e falecimento.
tais como limitação da amplitude de movimento (ADM) do Das vinte e sete pacientes contatadas, quatorze participaram
ombro e do cotovelo, linfedema, fraqueza muscular, infecção, da pesquisa obedecendo aos critérios de inclusão. Treze pacien-
dor e parestesia, alterações da sensibilidade e funcionalidade tes foram excluídas por: não comparecer ao departamento de
homolateral à cirurgia, colocando em risco o desempenho das Fisioterapia da UFPE (n = 8), negar-se a participar (n = 2), ser
atividades de vida diária (AVD) da mulher [5,6]. portadora de ibromialgia (n = 2) e ter realizado reconstrução
A capacidade funcional, conceituada como a habilidade mamária (n = 1).
para a realização de atividades que permitam ao indivíduo Inicialmente a paciente recebeu esclarecimentos sobre o
cuidar de si próprio e viver independentemente, pode estudo e após concordar em participar da pesquisa deveria
encontrar-se comprometida nessas mulheres [7]. Além disso, assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em
a ausência ou alteração da mama traz efeitos psicossociais, se- seguida, foi realizada avaliação isioterapêutica elaborada
xuais e emocionais que irão afetar diretamente a qualidade de pelas pesquisadoras contendo anamnese, análise da ADM da
vida (QV) da mulher mastectomizada, produzindo impacto articulação do ombro [11] com a utilização de goniômetro
negativo na sua autoestima e autoimagem por se tratar de (CARCI ®) e avaliação da perimetria nos membros superiores,
um órgão repleto de simbolismo – feminilidade, sexualidade com a ita métrica (CARCI ®), em 7 pontos: região axilar,
e maternidade. As consequências dessas disfunções superam 7cm e 14 cm acima e abaixo do olécrano, punho e articulação
o marco individual e estendem-se aos familiares, amigos e metacarpofalangeana.
relações proissionais e isso implica em uma sobrecarga emo- Em seguida, a QV foi avaliada através do questionário
cional para a paciente [8,9]. Health Survey Short Form – 36 (SF-36), traduzido e validado
Considerando-se a alta incidência do câncer de mama, a para o português [12]. O SF-36 é composto por 11 questões e
grande possibilidade de uma longa sobrevida e a desestrutu- 36 itens que englobam oito domínios: capacidade funcional,
ração que o diagnóstico e o tratamento de CM acarretam na aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos
vida da mulher, maior ênfase tem sido dada às pesquisas de sociais, aspectos emocionais, saúde mental e percepção atual
medidas da QV e capacidade funcional relacionada à saúde da saúde. O indivíduo recebe um escore em cada domínio,
de mulheres com CM nos últimos anos [10]. que varia de 0 a 100, sendo zero o pior escore e cem o melhor.
Este estudo teve como objetivo avaliar o peril clínico Por im, foi aplicada a Escala de Katz, traduzida para o
(amplitude de movimento e presença de linfedema do mem- português [13] e composta pela avaliação de seis atividades:
bro superior homolateral à cirurgia), bem como a qualidade tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro, transferência, conti-
de vida e o nível de independência funcional das pacientes nência e alimentar-se. Para a análise foi utilizado o Índice de
submetidas à mastectomia radical modiicada, atendidas no Katz e a escala de 0 a 6 de independência.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


168 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Os dados sociodemográicos, a ADM da articulação do à cirurgia. Apenas nos pontos 5 e 6 (14 cm abaixo do olécrano
ombro, a perimetria dos membros superiores e os escores dos e punho, respectivamente) houve diferença estatística (Tabela I).
questionários foram inseridos no programa SPSS versão 13.0 Com relação à QV, de acordo com as respostas obtidas
e submetidos à análise descritiva, por meio dos cálculos das através do questionário SF-36, os escores mais altos foram
médias e dos desvios-padrões. Na análise estatística da ADM e observados nos domínios relacionados aos aspectos sociais
da perimetria foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para e saúde mental, enquanto que o pior escore foi obtido na
veriicar a distribuição das variáveis. No caso de distribuição variável referente à limitação física (Tabela II).
normal, foi utilizado o teste t-Student e no caso de não nor- Ao avaliar o nível de independência funcional pelo Índice
mal, foi realizado o teste de Wilcoxon, ambos para comparar de Katz, 13 pacientes (92,85%) apresentaram índice 0, que
o membro superior homolateral e o contralateral à cirurgia. corresponde a completa independência nas seis atividades
Adotou-se um nível de signiicância de p < 0,05. estudadas e apenas uma paciente (7,15%) obteve índice 1,
que corresponde a dependência em uma atividade (diiculdade
Resultados ao se vestir) e independência nas outras cinco.

Dentre as 14 voluntárias que participaram do estudo, veri- Tabela II - Valores dos domínios do Health Survey Short Form – 36
icou-se que a maioria (71,42%) foi submetida à mastectomia (SF-36) na amostra das mulheres mastectomizadas.
radical modiicada no lado direito. A média e o desvio-padrão Domínio Média Desvio-
da idade dessas mulheres foi de 56,14 ± 8,91 anos, com idade -padrão
mínima de 42 e máxima de 69 anos. Com relação ao estado Capacidade funcional 58,92 27,18
civil, no período da pesquisa, sete eram casadas (50%), seis Limitação física 25* 41,27
eram solteiras (42,85%) e apenas uma era viúva (7,14%). Dor 48,21 25,15
Em relação às ocupações, 35,71% das mulheres entrevistadas Estado geral de saúde 64,14 25,90
continuavam exercendo atividades extradomiciliares, seguida Vitalidade 62,14 27,08
daquelas que realizavam trabalhos domésticos. Aspectos sociais 77,67 32,58
As médias e os desvios-padrões da ADM foram analisados Limitação emocional 69,04 40,22
separadamente, de acordo com o ombro homolateral e o Saúde mental 73,71 22,22
ombro contralateral à cirurgia. Em nenhum dos movimentos *mediana.
analisados foi encontrada diferença estatística entre o membro
superior homolateral e o contralateral à cirurgia (Tabela I). Discussão
As médias e os desvios-padrões das medidas da perimetria dos
membros superiores também foram analisados separadamente, A maioria das mulheres do presente estudo foi submetida à
de acordo com o membro superior homolateral e o contralateral mastectomia radical modiicada no lado direito, corroborando

Tabela I - Caracterização da amostra das mulheres mastectomizadas quanto à amplitude de movimento e perimetria dos membros superiores
homolateral e contralateral à cirurgia.
Variável Membro superior
Homolateral à cirurgia Contralateral à cirurgia p-valor
Média (DP) Média (DP)
Flexão 145,21 (22,77) 157,07 (21,23) 0,113*
Extensão 53,07 (8,59) 53,14 (12,64) 0,985*
Goniometria
Abdução 145,42 (35,80) 157,92 (21,66) 0,157*
(graus)
Rotação interna 84,57 (9,46) 85,14 (12,44) 0,892**
Rotação externa 85,42 (11,85) 84,85 (13,36) 0,715**
Ponto 1 42,97 (5,74) 43,22 (6,54) 0,460*
Ponto 2 32,72 (6,67) 32,15 (6,89) 0,129*
Ponto 3 30,10 (5,88) 29,59 (5,94) 0,070*
Perimetria
Ponto 4 26,47 (3,50) 25,76 (3,68) 0,069*
(cm)
Ponto 5 22,03 (3,33) 21,03 (3,14) 0,013*
Ponto 6 17,87 (1,76) 17,37 (1,67) 0,047*
Ponto 7 20,25 (1,45) 20,15 (1,46) 0,723*
Ponto 1 = região axilar; ponto 2 = 14 cm acima do olecrano; ponto 3 = 7 cm acima do olecrano; ponto 4 = 7cm abaixo do olecrano; ponto 5 = 14
cm abaixo do olécran; ponto 6= punho e ponto 7 = articulação metacarpofalangeana; *Teste t-Student; **Teste de Wilcoxon.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 169

com os estudos de Gouveia et al. [14] e Greve et al. [15]. A alteração biomecânica do ombro, com limitação do arco de
média de idade das mastectomizadas foi de 56,14 anos, con- movimento, ao passo de que as pacientes do presente estudo
cordando com dados do Ministério da Saúde de que o CM não apresentaram alterações na mobilidade do ombro.
é relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima
desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressiva- Conclusão
mente. Isto ocorre, provavelmente, porque o envelhecimento
desencadeia mudanças celulares que elevam a suscetibilidade à A idade mínima das mulheres mastectomizadas foi de
transformação maligna, além do fato das pessoas idosas terem 42 anos e a maior parte foi submetida à mastectomia radical
sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco modiicada no lado direito.
preditores do câncer [16]. Não foi encontrada alteração signiicativa na amplitude de
Não foi observada diminuição da ADM do ombro movimento do ombro e a presença de linfedema só ocorreu
homolateral à cirurgia, fato que discorda de outros estudos na extremidade distal do membro superior homolateral à
que mostram que dentre as complicações pós-operatórias, a cirurgia. Além disso, a maioria das pacientes foi considerada
de maior ocorrência é a restrição da ADM desta articulação como totalmente independente na execução das seis atividades
[6,17]. Isto pode ser o resultado do encaminhamento precoce avaliadas.
ao setor de isioterapia, uma vez que todas as pacientes que Diante do exposto, percebe-se a importância que o trata-
participaram do estudo haviam realizado ou estavam em mento isioterapêutico precoce desempenhou na reabilitação
atendimento isioterapêutico. O tratamento isioterapêutico funcional do membro homolateral à cirurgia e na prevenção
desempenha um papel fundamental por proporcionar desde a de complicações tardias que podem interferir na qualidade de
recuperação funcional da cintura escapular e membro superior vida e independência funcional das pacientes mastectomizadas.
até a proilaxia de complicações como aderência cicatricial,
ibrose, linfedema, que são responsáveis pela diiculdade de Referências
realização das atividades de vida diária [18,19].
Veriicou-se que as pacientes apresentavam linfedema ape- 1. Chaves E. Câncer de mama: diagnóstico, tratamento e prognós-
nas na extremidade distal do membro superior homolateral à tico. 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1994.
cirurgia, discordando dos achados de Panobianco e Mamede 2. Instituto Nacional de Câncer. [citado 2012 set 28]. Disponível
em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/
[20]. Provavelmente isso ocorreu pelo fato das pacientes terem
site/home/mama.
sido submetidas ao tratamento isioterapêutico precoce e por
3. Goldhirsch A, Wood WC, Coates AS, Gelber RD, hürlimann
seguirem as orientações quanto aos cuidados com o membro B, Senn HJ et al. Strategies for subtypes--dealing with the diver-
superior, além de não apresentarem limitação na ADM do sity of breast cancer: highlights of the St. Gallen International
ombro, enquanto que as pacientes estudadas por Panobianco e Expert Consensus on the Primary herapy of Early Breast
Mamede [20], não possuíam informações para a prevenção do Cancer 2011. Ann Oncol 2011;22;1736-47.
linfedema e apresentavam limitação de amplitude do membro 4. Gadelha MIP, Costa MR, Almeida RT. Estadiamento de tumo-
edemaciado, adicionando-se o fato de que não realizavam res malignos - análise e sugestões a partir de dados da APAC.
exercícios com o braço do lado operado. Rev Bras Cancerol 2005;51;193-9.
Com relação à QV geral, os domínios que tiveram me- 5. Deo SV, Ray S, Rath GK, Shukla NK, Kar M, Asthana S et al.
Prevalence and risk factors for development of lymphedema
lhores escores foram os referentes aos aspectos sociais e saúde
following breast cancer treatment. Indian J Cancer 2004;41;8-
mental. Lee et al. [21] veriicaram que o fator social, mais 12.
especiicamente, o apoio familiar, foi o maior escore obtido, 6. Blomgvist L, Stark B, Engler N, Malm M. Evaluation of arm
representando o domínio de maior importância e satisfação and shoulder mobility and strength after modiied radical mas-
na QV de mastectomizadas. Isto pode ser resultado de um tectomy and radiotherapy. Acta Oncol 2004;43;280-3.
suporte adequado oferecido pela família e amigos à paciente. 7. Fiedler MM, Peres KG. Capacidade funcional e fatores associa-
O pior escore foi veriicado no domínio limitação física, o que dos em idosos do Sul do Brasil: um estudo de base populacional.
pode estar relacionado ao receio que as pacientes tenham em Cad. Saúde Pública 2008;24;409-15.
desenvolver complicações em decorrência do esforço empre- 8. Krishnan L, Stanton AL, Collins CA, Liston VE, Jewell WR.
Form or function? Part 2. Objective cosmetic and functional cor-
gado em atividades com o membro superior.
relates of quality of life in women treated with breast-conserving
Em relação à independência funcional, 92,85% das mu-
surgical procedures and radiotherapy. Cancer 2001;15;2282-7.
lheres foram consideradas totalmente independentes, o que 9. Medina-Franco H, García-Alvarez MN, Rojas-García P, Traba-
contraria o estudo realizado por Granja [22]. Esta autora cons- nino C, Drucker-Zertucha M, Arcila D. Body image perception
tatou que 91,67% das 12 pacientes avaliadas referiam algum and quality of life in patients who underwent breast surgery.
grau de limitação na execução de atividades proissionais ou Am Surg 2010;76:1000-5.
pessoais, com um quinto das mulheres pesquisadas referindo 10. Goodwin PJ, Black JT, Ganz PA. Health-Related quality-of-life
diiculdade em vestir-se. Provavelmente, isso se deve ao fato measurement in randomized clinical trials in breast câncer-
de que as mulheres avaliadas por Granja [22] apresentavam -taking stock. J Natl Cancer Inst 2003;95;263-81.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


170 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

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Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1994. isioterapêutica. [TCC]. Paraná: Universidade Estadual do Oeste
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 171

Artigo 31

Repercussões ventilatórias impostas pelo


ciclo gestatório: uma abordagem isioterapêutica
sobre a saturação de oxigênio
Repercussions ventilatory obstetrical imposed by pregnancy:
physical therappy approach on oxygen saturation
Pâmella Carolline Araújo Batista*, Karenn Araújo Barros, Esp.**, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.***,
Juliana Carvalho Cordeiro****, Aliuska Souza Santos ****, Denise Almeida Santos, Esp.*,
Ângela Maria Targino de Alcântara*****

*Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba, **Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da
Mulher (PRASM), ***Docente do Curso de Fisioterapia e coordenadora da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da
Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Gran-
de, Coordenadora do PRASM, ****Discente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciência Médicas (FCM), *****Docente do
Curso de Medicina da Faculdade de Ciência Médicas (FCM)

Resumo Abstract
A gravidez distingue-se por vários ajustes isiológicos e endó- Pregnancy is characterized by various endocrine and physiolo-
crinos direcionados à criação do ambiente ideal para o feto. Uma gical adjustments aimed at creating an ideal environment for the
das adaptações decorrentes da gravidez esta no sistema respiratório fetus. One of the most important adjustments resulting from the
e consequentemente na função pulmonar. O objetivo foi analisar pregnancy is on the respiratory system and consequently on lung
as repercussões ventilatórias sobre a saturação de oxigênio durante function. he objective was to analyze the efects on ventilatory
o período gestacional. Os dados foram coletados no Instituto de oxygen saturation during pregnancy. Data were collected at the
Saúde Elpídio de Almeida, em 2011. As gestantes foram esclarecidas Institute of Health Elpidio de Almeida in 2011. Pregnant women
sobre os procedimentos a serem realizados, foi realizada anamese e were informed about the procedures to be performed, was achieved
em seguida o exame físico, composto desde sinais vitais, até medidas anamnese and physical examination, life signs and measures of
de altura do fundo uterino e circunferência abdominal. Os dados uterus and abdominal circumference. he data analyzed show that
analisados mostram que as modiicações na altura do fundo de changes in the height of the bottom of the uterus and abdominal
útero e na circunferência abdominal apresentam uma correlação circumference have a correlation with decreased oxygen saturation,
com a diminuição da saturação de oxigênio, e que as alterações na and changes in heart rate and respiratory demonstrate the attempt to
frequência cardíaca e respiratória demonstram a tentativa de manter maintain the balance of oxygen supply needed to the fetal and ma-
o equilíbrio da oferta de oxigênio necessária para a vitalidade fetal e ternal well-being. Knowing that physical therapy has an important
bem-estar materno. Sabendo que a Fisioterapia tem uma importante contribution for the prevention and improves the postural changes
contribuição no sentido de prevenir e melhorar as alterações previstas occurring in the pregnancy, this research will contribute to improve
nessa mudança de comportamento postural, isiológico e social, care for pregnant women and the quality of life of the same.
essa pesquisa contribuirá para uma melhor assistência a gestante e Key-words: pregnancy, oxygen saturation, ventilatory effects.
melhorar a qualidade de vida da mesma.
Palavras-chave: gestação, saturação de oxigênio, repercussões
ventilatórias.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47 Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail:
gabi.bcampos@gmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


172 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução A pesquisa realizou-se durante o período de maio a junho


de 2011, nas dependências do Instituto de Saúde Elpídio de
A gestação está associada a adaptações isiológicas e ana- Almeida (ISEA), localizado na cidade de Campina Grande/
tômicas, acarretando acentuadas mudanças no organismo PB, em parceria com Programa de Atenção à Saúde da Mu-
materno, algumas delas iniciando no momento da nidação, lher – PRASM.
acompanhando todo o período gestacional até o inal da A população escolhida para esta pesquisa foi composta
lactação. Essas modiicações decorrem de uma intensa trans- por gestantes atendidas pelo serviço de pré-natal do ISEA.
formação como resposta às demandas hormonais próprias As mesmas receberam esclarecimentos sobre a inalidade e o
dessa fase, em especial, o alto nível de progesterona, que curso metodológico que o estudo visou adotar. A amostra foi
deve ser mantido, para dar condições isiológicas para o de- composta por 30 gestantes assistidas pelo serviço de pré-natal
senvolvimento do feto e preparar o corpo feminino, criando do ISEA, que aceitaram participar da pesquisa.
condições físicas adequadas para o parto [1]. Foram inclusas as gestantes no período da coleta de dados,
Nessa perspectiva, esse conjunto das alterações pode levar admitidas pelo PRASM, que se apresentaram sem restrições
a incapacidades funcionais, bem como a evoluções patológicas de qualquer caráter para a realização da avaliação proposta e
limitantes, interferindo na realização das atividades de vida que aceitaram constituir a amostra.
diárias (AVD´s) e assim diminuindo a qualidade de vida Foram exclusas as gestantes, que participam de acompa-
da gestante. As alterações isiológicas impostas pelo ciclo nhamento isioterapêutico aplicada à obstetrícia anterior-
gestatório ocorrem em nível micro e macroestrutural reper- mente ao inicio do estudo, com estado clínico que direta ou
cutindo sistêmica e funcionalmente, destaque-se as principais indiretamente diicultaram ou contraindiquem a avaliação
adaptações do sistema respiratório. O sistema respiratório é proposta, histórico de doença cardiopulmonar, fumo e índi-
responsável pela expiração, caracterizada pelo transporte do ce de massa corpórea (IMC) acima de 40 kg/m2, ou que se
oxigênio e do gás carbônico, fazendo as trocas gasosas destes recusaram a participar da pesquisa.
gases no sangue, o qual depende da integridade das diversas Os instrumentos utilizados foram: Protocolo de Avaliação
estruturas anatômicas envolvidas [2]. Cinético-Funcional na Gestação para obtenção dos dados
O crescimento contínuo do útero comprime o diafragma pertinentes a pesquisa, oxímetro de pulso OX P10 da marca
aumentando sua atividade, que associado ao aumento de EMAI para avaliação da saturação de oxigênio e frequência
5 a 7,5 cm da cavidade torácica, tornam a respiração mais cardíaca, ita métrica para avaliação de circunferência abdomi-
abdominal que diafragmática. Além disso, a gestante respira nal e altura do fundo de útero e cronômetro para mensuração
mais rápido de forma compensatória as necessidades materno- da frequência respiratória. A modalidade exploratória exigiu
-fetais, favorecendo o aumento da frequência respiratória [3]. técnica constituída por observação e através da icha de avalia-
Tais alterações advindas desse período de transição para ção que foi montada de acordo com os questionamentos mais
a maternidade necessitam de uma atenção qualiicada por relevantes enfatizados nos objetivos da pesquisa e presentes
parte dos proissionais de saúde que devem identiicar essas no formulário para coleta de dados.
adaptações bem como suas consequências já que estas podem As gestantes admitidas no PRASM que atenderam aos
tornar-se fontes de limitação para a mulher [4]. critérios de inclusão da pesquisa foram informadas quanto
Destarte, visando uma melhora na qualidade de vida das aos objetivos, importância e procedimentos da pesquisa, e
gestantes no período gravídico e evitar complicações maternas mediante aceitação foram requeridas a assinar o Termo de
e neonatais, o presente estudo tem como objetivo analisar as Consentimento Livre e Esclarecido.
repercussões ventilatórias sobre a saturação de oxigênio du- Em seguida, realizou-se a avaliação da gestante através do
rante o período gestacional, propiciando aos proissionais da Protocolo proposto, no qual foram coletadas as informações
área de saúde uma melhor visão a respeito dos desconfortos pertinentes aos objetivos da pesquisa.
respiratórios apresentados durante a gestação, favorecendo Para coleta de dados as gestantes foram posicionadas adequa-
uma assistência pré-natal de alta qualidade e assim garantindo damente sentadas - com os pés e as costas apoiados no chão e no
o bem-estar materno-fetal. encosto da cadeira, respectivamente, os MMSS apoiados sobre os
MMII, para a realização da oximetria e veriicação da frequência
Material e métodos respiratória. Em decúbito dorsal foram avaliadas a mensuração
da altura de fundo de útero e circunferência abdominal.
Esta pesquisa tratou-se de um estudo de natureza aplicada, Os dados coletados nesta pesquisa foram direcionados
descritiva exploratória, por observar, registrar, analisar, des- para a quantiicação estatística no software Excel 2007,
crever e correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los, possibilitando além do cálculo de médias e percentagens, a
buscando descobrir com exatidão a frequência em que um investigação da correlação estatística entre os dados coletados
fenômeno ocorre e sua relação com outros fatores, descreven- e os resultados obtidos.
do as características, propriedades ou relações existentes no Por se tratar de uma pesquisa envolvendo seres humanos,
grupo ou da realidade em que foi realizada a pesquisa. o estudo seguiu a recomendação da Comissão Nacional de

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 173

Ética em Pesquisa – CONEP, expresso na Resolução 196/96 Os resultados mostraram que 60% da amostra eram pri-
(Conselho Nacional de Saúde). migestas, acredita-se que isto esteja associado a faixa etária
Antes de dar início à pesquisa, o projeto foi submetido à entre 14 e 19 anos. Destas 60% encontrando-se no primeiro
apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Saú- trimestre, 40% no segundo e 80% no terceiro trimestre. Já
de Elpídio de Almeida – ISEA, e posteriormente apreciação 33,3% eram classiicadas como multigestas, se encontrando
pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Estadual 40% no primeiro trimestre, 40% no segundo e 20% no ter-
da Paraíba – UEPB, que aprovou a pesquisa com CAAE Nº ceiro trimestre. Ainda 6,6% foram classiicadas como grande
0173.0.133.000-11, pois constatou a relevância do estudo multigesta, sendo todas encontradas no segundo trimestre
no âmbito de mulheres gestantes e atendeu ao check-list do gestacional.
protocolo do CEP/UEPB. Os resultados supracitados mostram que no primeiro
O responsável pelo local de desenvolvimento da pesquisa trimestre gestacional 40% das gestantes adotaram um padrão
assinou o termo de autorização institucional, assim como o ventilatório do tipo misto, 30% diafragmático e 30% torácico.
pesquisador responsável assinou o termo de compromisso No segundo trimestre, por sua vez, 60% das gestantes apre-
do pesquisador. sentaram o padrão misto para ventilação, 20% diafragmático
Atendendo as determinações da Resolução 196/96 para e 20% torácico. No terceiro trimestre gestacional, 30% da
pesquisa em seres humanos, foram solicitadas as participantes amostra apresentaram um padrão misto, 20% diafragmático
a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e 50% padrão torácico.
através do qual são informados sobre os riscos e benefícios da Os dados mencionados possibilitam observar que, para
pesquisa e tendo preservada sua participação voluntária, tendo a amostra em estudo, ao longo dos trimestres gestacionais
a liberdade de se retirar do estudo, antes, durante ou após a há uma modiicação da predominância do tipo de padrão
inalização da coleta de dados, sem risco de qualquer penalidade. ventilatório adotado pelas gestantes, notando-se que inicial-
mente no primeiro trimestre ocorre uma regularidade entre os
Resultados e discussão percentuais dos padrões, já no segundo trimestre não ocorre,
sendo perceptível a predominância do padrão ventilatório
Através da identificação das gestantes em estudo, misto, seguido no terceiro trimestre gestacional do maior
pôde-se analisar o peril de distribuição etária das gestantes percentual para o padrão ventilatório do tipo torácico.
avaliadas na pesquisa por trimestre gestacional. A maioria No que se refere à medida de AFU, os resultados mos-
das gestantes avaliadas encontra-se na faixa etária da ado- traram que, no primeiro trimestre média de 12±1,7cm, no
lescência, fato este preocupante pela falta de informação e segundo média de 24±4,4cm e no terceiro trimestre média de
orientação sexual, imaturidade, falta de desejo pela gravidez, 31±2,7cm. Em relação à FR, foi possível observar no primeiro
instabilidade emocional e inanceira, predominantes nesta trimestre uma média de 19,7±2,3irpm, durante o segundo
fase. O que pode ser conirmado através dos resultados de trimestre uma média de 19,5±2,1irpm e no terceiro trimestre
Quadros et al. [5], que ao realizar sua pesquisa composta uma média de 20,2±2irpm.
por 76 gestantes com idades entre 14 e 19 anos mostrou Analisando os dados estatisticamente, foi possível observar
que 72,3% das adolescentes entrevistadas airmaram que a que houve um aumento gradativo das duas variáveis avaliadas
gravidez não foi planejada e 52,6% delas não faziam uso de durante os três trimestres gestacionais, com exceção de uma
métodos contraceptivos. pequena redução média da FR entre o primeiro e segundo
A maioria de a amostra ser estudante faz referência ao trimestre gestacional, pouco signiicativa baseado no desvio
grande número de adolescentes no estudo, onde cerca de padrão.
70% das gestantes avaliadas encontrava-se em idade escolar, Os dados analisados foram submetidos ao teste estatístico
dado que corrobora com pesquisas realizadas pelo Ministério de Pearson, para avaliar a correlação entre as variáveis, de-
da Saúde que mostram que 81% dos adolescentes com idades monstrando de acordo com Santos [6] uma forte correlação
entre 15-17 anos encontram-se matriculadas na escola. positiva uma vez que apresentou um valor de ρ = 0,74 (0,5 ≤ ρ
50% das gestantes estão solteiras e 50% apresentam-se < 0,8) entre AFU e a FR. O que sugere que o aumento da AFU
casadas. Analisando comparativamente, sugere-se que a si- inluencia no aumento da FR ao longo dos trimestres, pos-
tuação conjugal das gestantes avaliadas tem correlação com sivelmente como uma forma compensatória na manutenção
a ocupação das mesmas, onde mostra que no segundo e ter- da SatO2 e, consequentemente, do bem-estar materno-fetal.
ceiro trimestres os valores se invertem, no segundo trimestre Com o aumento do tamanho do útero a capacidade residu-
a maioria delas são solteiras, por esse motivo a maioria delas al funcional e o volume residual diminuem e essas alterações
ou são estudantes ou tem emprego remunerado, no terceiro podem resultar no rápido desenvolvimento de hipoxemia em
trimestre os valores se invertem passando a maioria ser casada, consequência da hipoventilação [7].
por esse motivo os valores referidos a ocupação estão bem A correlação média da altura de fundo de útero (cm)
divididos a 60% das gestantes são estudantes e 20% do lar e e media de saturação de oxigênio (%), as médias da AFU
20% emprego remunerado. encontradas no primeiro, segundo e terceiro trimestres, res-

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174 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

pectivamente, foram de 12 ± 1,6 cm, 24 ± 4,3 cm, 31 ± 2,6 Aplicado o teste estatístico de Pearson foi possível detectar
cm. Já no que diz respeito à média da SatO2, nos mesmos uma moderada correlação positiva inicialmente (ρ = 0,53), (0,5
trimestres, foram de 98% no primeiro trimestre, 97% no ≤ ρ < 0,8), ou seja, no primeiro trimestre, no segundo essa relação
segundo e 98% no terceiro trimestre gestacional . passa a ser moderada negativa apresentando uma relação inversa
Analisando os dados acima citados, veriica-se o aumento demonstrando que com o aumento da circunferência abdominal
contínuo da AFU e a adaptação discreta da SatO2 na tentativa ocorre uma diminuição pouco signiicante da saturação de oxi-
de manter uma boa troca gasosa necessária para a vitalidade gênio (ρ = - 0,57) (-0,8 < ρ ≤ 0,5), e no terceiro trimestre gesta-
fetal e bem-estar materno. Os valores indicam que com o cional essa relação é considerada ínima negativa, que sugere que
aumento da AFU ocorre uma leve queda na SatO2 durante o a relação tem uma mínima chance de ter correlação (ρ = -0,07),
segundo trimestre, mas que isso é corrigido de tal forma que pois se apresenta no intervalo de coniança de -0,1 < ρ < -0,5.
no terceiro trimestre ocorre um aumento da mesma. Assim é possível veriicar que inicialmente essa correlação
No decorrer da gestação, ocorre um aumento do volume tem um grau de signiicância moderado, mas que ao inal da
abdominal, reduzindo a eiciência dos movimentos respira- gestação ela não é mais signiicante, pois provavelmente as
tórios e diminuindo a expansibilidade pulmonar, levando adaptações isiológicas ocorridas na gestante tenta minimizar
a modificações importantes no sistema respiratório [8], essa alteração, promovendo o bem-estar materno-fetal.
destaque-se a SatO2. As modiicações pulmonares anatômicas e isiológicas nas
Estes dados demonstram o aumento da circunferência pacientes gestantes conduzem basicamente a um aumento da
abdominal observada de forma comparativa entre os três capacidade inspiratória às custas de um decréscimo do volume
trimestres gestacionais, ocasionada pelo crescimento uterino e residual funcional, como necessidade crescente para facilitar o
consequente distensão abdominal. No que se refere à dinâmica maior transporte de oxigênio para a unidade feto-placentária [1].
respiratória, é possível constatar um aumento signiicativo A circunferência abdominal aumenta devido ao cresci-
entre o inicio e inal da gestação, de 2 incursões por minuto, mento fetal dessa forma a altura de fundo uterino também
possivelmente causado pela diminuição do espaço de expansão sofre alterações, os altos níveis de hormônio como estrógeno
pulmonar pela contração do diafragma durante o movimento e progesterona fazem com que haja o crescimento uterino
de inspiração. no primeiro trimestre, isso porque o útero dá início às suas
De acordo com o teste de Pearson, existe uma fraca cor- modiicações juntamente com a concepção, estas relacionadas
relação entre as variáveis analisadas, (ρ = 0,16) que segundo à consistência, volume, peso, forma, posição e coloração [10].
Santos [6] essa correlação se enquadra em fraca correlação Com a necessidade de absorver mais oxigênio a gestante
positiva, pois se apresenta entre o intervalo de coniança 0,1 ≤ passa a respirar mais vezes por minuto, devido aos níveis de
ρ < 0,5, o que representa que a MCA não apresenta correlação hormônios secretados no corpo da mesma, ocorrendo uma
signiicativa com a FR. sensibilização que estimula a ventilação, acrescendo um ligeiro
Essa fraca correlação pode estar associada às adaptações isio- aumento da frequência respiratória [11].
lógicas ocorridas no corpo da gestante durante esta fase. Machado Quanto a correlação das medias de saturação de oxigênio
et al. [9] corroboram com o estudo, nesse sentido, airmando que e frequência cardíaca dos trimestres gestacionais resultados
com o útero em crescimento ocorre modiicação na posição de obtidos demonstram uma média de 79 ± 7,6bpm para a FC
repouso do diafragma e na coniguração do tórax. O diafragma e 98% de SatO2 no primeiro trimestre. No segundo trimestre
eleva-se cerca de 4 a 5 cm acima da posição de repouso habitual, apresenta uma média de FC de 83,2 ± 7,2 bpm e 97% de
enquanto a caixa torácica, para acomodar esse músculo, se amplia SatO2, e no terceiro trimestre gestacional uma média de 83,7
nos diâmetros ântero-posterior e transverso em torno de 2 cm., ± 6,3 bpm para a FC e 98% de SatO2.
aumentando também o ângulo subcostal de 68,5º para 103,5º, A manutenção da SatO2 durante o período gestacional,
resultando em aumento de 5 a 7 cm na circunferência torácica. enquanto a FC apresenta um discreto aumento. Sugere-se que
Foram vistos as medias trimestrais das circunferências esse aumento demonstrado durante os trimestres gestacionais
abdominais e da saturação de oxigênio. Durante os três está relacionado com a manutenção da vitalidade materno-fetal
trimestres as variáveis apresentaram as seguintes médias, 80 através da concentração adequada de oxigênio na corrente
± 7,7cm de circunferência abdominal e 98% de SatO2 no sanguínea, em decorrência do aumento do débito cardíaco que
primeiro trimestre, 91 ± 9,2 cm de circunferência e 97% de favorece o transporte de oxigênio pela hemoglobina circulante,
SatO2 no segundo e, no terceiro trimestre gestacional 96 ± 6 em detrimento da hemodiluição sanguínea gestacional.
cm de circunferência abdominal e 98% de SatO2. Com o crescimento do útero e o aumento do consumo
Os resultados demonstram o comportamento das variáveis de oxigênio, a gravidez induz a uma hipervolemia, sendo
analisadas, possibilitando a visualização de um decréscimo na necessária para proteger a mãe e consequentemente o feto
saturação de oxigênio durante o segundo trimestre e logo em dos efeitos deletérios da diminuição do retorno venoso na
seguida um aumento no terceiro trimestre da mesma variável, posição supina e ereta, e os efeitos do parto [11].
em detrimento da MCA que segue uma evolução crescente Corroborando com os resultados Wolfe et al. [12] relata
durante todo o período gestacional. que a frequência cardíaca de repouso aumenta abruptamente

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 175

no primeiro trimestre de gestação, seguido de aumento apesar das modiicações do corpo materno tentarem promover
moderado até o inal da gestação. um equilíbrio materno-fetal adaptando o corpo para receber o
Os valores médios obtidos para FR durante o primeiro, feto, de modo a promover o bem-estar do binômio.
segundo e terceiro trimestres foram de 19,7 ± 1,7 irpm, 19,5 Assim, foi possível observar que as alterações isiológicas
± 2 irpm e 21 ± 1,8 irpm, respectivamente. A média de SatO2 impostas pela gestação geram repercussões ventilatórias que
apresentou-se em 98% para primeiro e terceiro trimestre e interferem no comportamento da SatO2, imprescindível para
97% para o segundo trimestre gestacional. manutenção da vitalidade materno-fetal, de modo a predispor
Os dados mostram que ocorre um aumento gradual na possíveis intercorrências.
média da frequência respiratória durante o período gestacional Essas alterações apesar de ser uma tentativa de manter a ho-
e que a manutenção da SatO2 é mantida entre 97% e 98%, sa- meostase, provocam nas gestantes desconfortos respiratórios, e
turação essa, eicaz para uma boa manutenção da vitalidade fetal isso mostra que a atuação da isioterapia é de grande relevância
Submetendo os dados a teste estatístico de Pearson, foi na tentativa de diminuir esses desconfortos, favorecendo uma
possível veriicar moderada correlação positiva (ρ = 0,68 0,62; melhor qualidade de vida para a gestante.
0,73; variando 0,5 ≤ ρ < 0,8), airmando que existe uma Espera-se que os resultados forneçam subsídios para a
relação de dependência entre as variáveis, observando que avaliação do comportamento ventilatório gestacional e para
o aumento da FR favorece uma boa manutenção da SatO2. identiicação de pontos estratégicos para possíveis interven-
Guyton et al. [13] airmam que devido ao aumento da taxa ções, contribuindo para a redução das situações indesejadas
metabólica basal da gestante ela necessita de mais oxigênio, de sofrimento, morbidade e mortalidade que se contrapõem
aumentando a FR, de forma que uma quantidade de dióxido à alegria esperada do nascimento.
de carbono é proporcionalmente formada. Destarte, se faz necessário mais estudos referentes ao as-
Leocadio [14] descreve que o trabalho respiratório é au- sunto para que demonstre a importância da atuação isiotera-
mentado e por volta da 20° semana de gestação a dispnéia é pêutica nesse período tão sublime para maioria das mulheres.
frequente durante exercícios leves, os valores de progesterona
circulantes aumentam durante a gestação ocasionando uma Referências
sensibilidade do centro respiratório na medula para o dióxido
de carbono agindo em conjunto com a maior necessidade de 1. Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, urologia e aspectos
oxigênio agem como leves estimulantes à ventilação da gestante. de mastologia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
2. Silva LCC et al. Condutas em pneumologia. Rio de Janeiro:
Revista internacional de pneumologia; 2001.
Conclusão
3. Ricci SS. Enfermagem materno-neonatal e saúde da mulher. 1ª
edição, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008.
Os resultados mostraram um peril sócio-demográico com 4. Silva SCF. Ansiedade da mulher durante o último trimestre de
alto índice de gravidez na adolescência. Em relação às pressões gravidez. [TCC]. Porto; 2008.
respiratórias máximas foi possível observar, possivelmente que 5. Quadros VF, Terra AC, Ramos CV. Peril sócio demográico de
as alterações anatômicas e isiológicas impostas pelo período parturientes adolescentes atendidas no hospital universitário de
gestatório levaram a diminuição das pressões respiratórias Rio Grande/RS. X Salão de Iniciação Cientíica – PUCRS; 2009.
máximas, além do surgimento de desconfortos ventilatórios, 6. Santos C.  Estatística descritiva - Manual deauto aprendiza-
tal como a dispnéia, que esteve frequente na maioria das ge. Lisbo: Sílabo; 2007.
gestantes e comprovadas através da Escala de Borg. 7. Lapinsky S. Cardiopulmonary complications of pregnancy. Crit
Care Med 2005.
A correlação entre os dados mostrou que existe correlação
8. Yeomans ER, Gilstrap LC: Physiologic changes in pregnancy and
positiva entre a AFU e a MCA e AFU e FR. Em relação à FR, their impact on critical care. Crit Care Med 2005. In:Chicayban
que esteve aumentada em poucas incursões, esta, teve uma LM, Dias SAAN. Análise da função pulmonar em gestantes e
correlação positiva com a SatO2 normal. A PImáx teve uma não-gestantes. Perspectivas online 2010;4(15).
correlação negativa com a AFU, sugerindo que as alterações 9. Machado MGR, Aroeia RMC. Alterações no sistema respiratório na
anatômicas do útero favorecem a diminuição da força mus- gravidez. In Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia. Aspectos
cular inspiratória. Além disso, a PEmáx mostrou-se correlação de ginecologia e neonatologia. 3a ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2002.
inversa positiva quando relacionada com o aumento da MCA. 10. Barros SMO. Enfermagem no ciclo gravídico puerperal. 1ª ed.
Ainda foi possível veriicar diminuição da cirtometria, indi- São Paulo: Manole; 2006.
11. Soare S, Fortunato S, Moreira AL. Adaptações morfo-funcionais
cando que as alterações impostas pela gestação predispõem a
na mulher grávida. Porto; 2002.
diminuição da complacência pulmonar.
12. Wolfe LA, Davies GAL. Canadian guidelines for exercise in
Com base no estudo realizado a partir da coleta de alguns pregnancy. Clin Obstet Gynecol 2003.
dados que possivelmente teriam correlação com a saturação de 13. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica - 11ª Ed.
oxigênio, pode-se observar que, a altura do fundo de útero, a Editora Elsevier. 2006.
circunferência abdominal, a frequência respiratória e cardíaca, 14. Leocadio AS. Enfoque respiratório no período gestacional.
demonstram correlação com os valores de saturação de oxigênio, [TCC]. Rio de Janeiro: Curso de Fisioterapia da Universidade
Veiga de Almeida Rio de Janeiro; 2007.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


176 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 32

Incontinência urinária na prática esportiva:


uma revisão sistemática
Urinary incontinence in sports: a systematic review
Priscylla Helouyse Melo Angelo*, Rossânia Bezerra*, Maria hereza Barbosa Cabral Micussi, D.Sc.**,
Rodrigo Pegado de Abreu Freitas***

*Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Doutora pelo Programa de Ciências da
Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Bolsista CAPES, ***Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – Campus Santa Cruz

Resumo Abstract
A incontinência urinária (IU) é deinida como a perda involun- Urinary incontinence (UI) is deined as the involuntary loss
tária de urina pela falta de controle da bexiga, que não retém a urina of urine due to lack of bladder control, which does not retain the
adequadamente, sendo considerado um problema social e higiênico. urine properly, is considered a social and hygienic problem. his
A pesquisa consistiu em uma revisão sistemática, abordando a rela- study consisted of a systematic review addressing the relationship
ção de perda urinária com exercício físico. Os artigos encontrados of urinary loss with exercise. Articles found between the years 1992
entre os anos de 1992 e 2012, foram procurados através do bando and 2012 were searched through Pubmed, Scielo and PEDro using
eletrônico do Pubmed, Scielo e PEDro, utilizando os descritores the keywords ‘urinary incontinence’ and relating with ‘exercises’, ‘it-
‘urinary incontinence’ e relacionando com ‘exercises’, ‘itness’, ‘phy- ness’, ‘physical activity’, ‘sports’ and ‘woman’. Were found 25 articles
sical activity’, ‘sports’ e ‘woman’. Foram encontrados 25 artigos e and after the inclusion criteria were selected studies, eight clinical
após os critérios de inclusão foram selecionados estudos, sendo oito study and six trials type. he papers maintain a strong relationship
trabalhos clínicos e 6 do tipo experimental. Os artigos cientíicos between exercise and UI, especially in high-impact activities. he
mantém uma forte relação entre exercício físico e IU, principalmente efort urinary incontinence can be found in female athletes at gre-
em atividades de alto impacto. A incontinência urinária de esforço ater frequency in gymnasts, probably due to increase in abdominal
pode ser encontrada em mulheres atletas, em maior frequência strength applied to the structural components of the pelvic loor.
nas ginastas, provavelmente, devido a elevação da força abdominal Key-words: urinary incontinence, physical exercise, woman.
aplicada nos componentes estruturais do assoalho pélvico.
Palavras-chave: incontinência urinária, exercício físico, mulher.

Endereço para correspondência: Maria hereza Albuquerque Barbosa Cabral Micussi, Avenida General Gustavo Cordeiro de Farias, s/n Petropólis
59010-180 Natal RN, E-mail: therezamicussi@yahoo.com.br

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 177

Introdução delineamento do estudo. Todos os artigos encontrados foram


lidos e analisados.
A International Continent Society (ICS) [1] deine a
incontinência urinária (IU) como a perda involuntária de Resultados
urina pela falta de controle da bexiga, que não retém a urina
adequadamente, sendo considerado um problema social e Os dados foram coletados dos bancos de dados do Pubmed
higiênico. A prevalência da IU ocorre entre 17 e 55% das e Scielo. Foram encontrados 25 artigos e após os critérios de
mulheres com mais de 30 anos de idade. Contudo, acredita-se inclusão, foram selecionados 14 artigos no período de 1992
que a IU seja subdiagnosticada, visto que muitas mulheres não a 2012 (Fluxograma 1).
relatam a perda de urina, por constrangimento ou por consi-
derarem parte do processo natural de envelhecimento [2-4]. Fluxograma 1 - Seleção dos artigos cientíicos encontrados na base
De acordo com as diretrizes da ICS [1], a IU pode ser clas- da dados do Pubmed e Scielo.
siicada conforme os critérios sintomáticos ou urodinâmicos,
na forma de urgência, de esforço e mista. A IU de urgência 25 artigos
(IUU) é deinida como a incapacidade de postergar a micção
por mais alguns minutos, ocasionada pela hiperatividade vesi- Excluído: 1
(Publicação antes de 1992)
cal e doenças neurológicas, as quais interferem na capacidade
do cérebro de inibir a contração vesical inapropriada.
Onur et al. [5], através de estudo de base populacional 24 artigos
realizado na Turquia, observou que a prevalência da IU em
Excluído: 10
mulheres com idade entre 17 e 80 anos foi equivalente a (Não abordava a IU)
46,3% (n = 2275). Dessas mulheres que apresentaram a queixa
da perda de urina, 46% apresentavam IU em decorrência de
14 artigos
esforços físicos e 43% IU considerada de urgência. A média
de idade das mulheres com IU nesse estudo foi de 44,57 anos
(DP ± 11,04). Dentre os 14 artigos selecionados, seis trabalhos são do
Alguns fatores podem contribuir para o surgimento e tipo de revisão e oito são estudos clínicos. Os nove estudos
agravamento no quadro da perda urinária. Esses representam, clínicos relacionaram a perda urinária em atletas como sendo
na realidade, fatores de risco e incluem a idade avançada, do tipo de esforço. Desses, apenas um estudo abordou a reper-
partos vaginais, deiciência estrogênica, constipação intestinal, cussão da incontinência urinária em mulheres ex-atletas e o
doença pulmonar crônica, obesidade, doenças do colágeno, tipo de exercício variou em diversas modalidades (Quadro 1).
histerectomia, uso de alguns medicamentos e exercícios
físicos [6]. Discussão
A IU em mulheres atletas é bastante frequente devido a alta
intensidade da prática de exercícios físicos, entretanto pouco Foi possível observar que a IU do tipo de esforço é a forma
discutida. Além da perda de urina, a presença dessa sintoma- mais frequente em mulheres atletas e ex-atletas. Corroborando
tologia implica num impacto negativo na qualidade de vida com um estudo de inquérito populacional realizado em São
das atletas jovens, devido às situações de constrangimento que Paulo, Guarisi et al. [14] concluíram que a IUE é a forma
afetam o convívio social e geram transtornos emocionais [7- mais comum entre as mulheres, mostrando uma prevalência
13]. Assim, diante da importância desta disfunção, essa revisão equivalente a 35% de mulheres incontinentes.
teve o propósito de examinar as publicações mais recentes A fuga de urina denominada “IU de esforço” (IUE) ou
relacionadas a IU em atletas do sexo feminino, levantando os de estresse consiste na perda involuntária da urina resultan-
aspectos mais relevantes que envolvem essa afecção. te de qualquer atividade que gere um aumento da pressão
intra-abdominal excedendo a pressão de fechamento uretral
Material e métodos [1]. A principal causa da IUE é o aumento súbito da pressão
abdominal. Parazzini et al. [15] descrevem que o aumento
Esta pesquisa consiste em uma revisão de literatura, abor- crônico na pressão intra-abdominal predispõe ao surgimento
dando a relação da perda urinária em mulheres atletas. Através das disfunções no assoalho pélvico, uma vez que sobrecarrega
do banco eletrônico do Pubmed e Scielo, foi realizado um bus- os tecidos, principalmente, os ligamentares e musculares.
ca em publicações nos idiomas português, inglês e espanhol Outra causa de importante relevância para o surgimento
utilizando o descritor ‘urinary incontinence’ e relacionando da IUE é representada pela realização de exercícios físicos
com ‘exercises’, ‘itness’, ‘physical activity’, ‘sports’ e ‘woman’. sem ativação da musculatura do assoalho pélvico. A IUE está
Foram inclusos os artigos publicados no período entre 1992 presente em esportistas cujas atividades envolvem aumento
e 2012, independente da modalidade esportiva e do tipo de abrupto da pressão intra-abdominal em contraposição à

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


178 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Quadro 1 - Investigação sobre a ocorrência da incontinência urinária em mulheres atletas baseado em artigos clínicos publicados no período
de 1992-2012.
Nº Autores Atletas Exercício Resultados
1 Nygaard et 156 universitárias atletas Ginástica 28% apresentaram algum episódio de perda urinária
al. [13] IM = 19,9 anos Tenistas durante
Basquete A prática ou competição esportiva
Hockey 42% apresentaram perda de urina durante as atividades diárias
Voleibol Atletas que referiram perda durante o esporte:
Natação - 67% ginastas
- 50% tenistas
- 44% jogadoras de basquete
- 32% jogadoras de hockey
- 9% jogadoras de voleibol
- 6% nadadoras
2 Nygaard [14] 104 Ex-atletas olímpicas Grupo 1 – natação Continentes 50% Grupo 1, 41,1% Grupo 2
Grupo 1 = baixo impacto Grupo 2 – ginastas e Incontinente 8,3% Grupo 1, 10,7% Grupo 2
IM = 42,4 anos Corrida cross
Grupo 2 = alto impacto
IM = 46,2 anos
3 Bø e Borgen Atletas do time nacional G1 Técnico Grupo 1 – IUE 41%
[15] da Noruega G2 Endurance Grupo 2 – IUE 39%
IM = 27 anos G3 Atlético
Grupo 1 – atletas (660) G4 Peso
Grupo 2 – controle (765) G5 Jogos de bola
G6 Força
G7 Gravidade
4 Thyssen et al. 291 frequentadoras de 08 Ginástica 51,9% afirmam ter algum episódio de perda de urina
[16] clubes na Dinamarca Ballet 43% apresentaram IU durante a prática esportiva
IM = 22,8 anos Atividades aeróbicas 42% apresentaram IU durante as atividades diárias
Badminton Atletas que referiram perda durante o esporte:
Voleibol - 56% ginastas,
Handebol - 43% ballet
Basquete - 40% atividades aeróbicas
- 31% badminton
- 30% voleibol
- 21% handebol
- 17% basquetebol
5 Eliasson et al. 35 ex-atletas Trampolim 80% apresentaram IUE durante o treinamento
[17] IM = 15 anos
6 Carls [18] Basquete 25% apresentaram IU durante a prática esportiva
421 atletas jovens de Corrida 11,6 % afirmaram IU durante a tosse
esportes de alto impacto Softball 9,3% afirmaram a IU durante a corrida
IM = 17,5 anos Voleibol 6,9% afirmaram a IU durante o espirro
Cheerleading* 6,9% afirmaram a IU durante o pulo
Levantar de peso 2,3% afirmaram a IU durante o levantamento de peso
Dança
7 Caylet [19] Grupo 1 – atletas (127) NI Grupo 1 – 28% apresentaram IUE
Grupo 2 – controle (426) Grupo 2 – 9,8% apresentaram IUE
IM = 26,5 anos
8 Araújo et al. 37 atletas Corrida de longa 62,2% (n=23) apresentaram IU
[17] IM = 35,4 anos distância
IM – Idade média; NI – não informado; IU – incontinência urinária; IUE – incontinência urinária de esforço; *líder de torcida – Grupo de mulheres que
dançam seguindo uma coreografia para torcer por um time; G1 Técnico (Golfe, snowboard); G2 Endurance (natação, corrida); G3 Estético (dança,
ginástica, aeróbica); G4 Peso (Karate, judô, levantamento de peso); G5 Jogos de bola (voleibol, basquete, handebol, futebol); G6 Força (corrida de
velocidade); G7 Gravidade (escalada).

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 179

resistência do assoalho pélvico, componente do denomi- de oito clubes esportivos com o intuito de conhecer a pre-
nado selo uretral, o qual não está sendo contraído [5,16]. valência da IU durante a prática esportiva e nas atividades
Esportes competitivos de alto impacto como, por exemplo, diárias. Foi observado que, no momento da realização dos
a ginástica olímpica, demonstram ter um efeito negativo exercícios, as fugas de urina ocorreram “às vezes” em 44%
no aparelho urogenital feminino, como foi encontrado nos e “frequentemente” em 9,6% das mulheres. Já durante as
estudos de Nygaard [7] e hyssen [10] com seus respectivos atividades diárias, a IU mostrou-se presente “ás vezes” em
colaboradores. 61,7% e “frequentemente” em 0,8% dessas atletas. Em
Nygaard et al. [7] tiveram como objetivo investigar a perda decorrência do sintoma, 60% das incontinentes airmaram
urinária aos devida a esforços durante a prática de esportes, utilizar um protetor higiênico.
em episódios de espirro e tosse, e durante o levantamento de Em seu trabalho, Eliasson et al. [11] estudou a IU de 35
peso. Os resultados mostraram que a IU está presente durante ex-atletas de trampolim durante o treinamento, competição
o treino de esportes como também nas atividades de vida ou atividades diárias. Os dados mostraram que a perda de
diária, numa fração de 28% e 42%, respectivamente, e que urina ocorreu em 80% das atletas apenas durante o treino e
38% das mulheres se sentiam constrangidas devido a perda que 51,4% delas airmaram isto representar a incontinência
de urina. Os autores deiniram o quadro como um problema uma situação de constrangimento. Foi encontrado também,
comum em mulheres jovens nulíparas, principalmente nas a partir do relato dessas mulheres, que o primeiro episódio de
que realizam atividade de alto-impacto. fuga urinária ocorreu, em média, 2,5 anos após treinamento,
Para determinar a relação da prática de exercícios físicos sendo este valor estatisticamente signiicativo.
com IUE, Nygaard [8] comparou ex-atletas que realizavam Para avaliar a prevalência da IUE em mulheres atletas e
trabalhos de alto-impacto (ginástica) com aquelas que em sedentárias, Caylet [12] aplicou um questionário auto-
participaram de atividades de baixo-impacto (natação). Os -avaliativo abordando às queixas da incontinência. Os resul-
resultados mostraram uma maior frequência de mulheres tados, embora sem signiicância estatística, apresentaram uma
incontinentes (10,7%) praticantes de atividades de alto- tendência para signiicância entre exercícios com impacto e
-impacto, entretanto não houve signiicância estatística ao perda urinária (28%).
comparar as atividades, ginástica e natação. Ainda, os da- Um estudo mais recente buscando a prevalência da IUE
dos relativos à prevalência do sintoma foram confrontados em um grupo de 421 atletas de esportes de alto impacto
com as idades, índices de massa corporal e com a paridade. mostrou que 25% das pesquisadas airmaram ter apresentado
Concluiu-se que essas variáveis são fatores de risco para o o sintoma durante a prática de exercícios. Além disso, 90%
desenvolvimento da IU. delas nunca comentaram com outra pessoa sobre o problema
Na abordagem das atletas de natação Nygaard et al. [7] e desconhecem sobre medidas preventivas para o problema,
sugeriram que esse esporte de baixo-impacto não é um fator e 16% airmaram que a IU inluencia negativamente na
de risco para o surgimento da IUE, uma vez que a pressão qualidade de vida [13].
intra-abdominal não ultrapassa a pressão vesical, porém, Através da avaliação de corredoras de longa distância,
esta modalidade poderia estar relacionada com a IUU. Além Araújo et al. [17] encontraram que 62,2% das atletas apre-
disso, normalmente essas atletas exercitam a musculatura sentavam IU. Os principais episódios da perda de urina ocor-
abdominal, por vezes de modo inadequado, e essa atividade, reriam em 65,2% dos casos durante as competições, 60,9%
quando não realizada apropriadamente, pode ocasionar uma nos treinos e 47,8% nas atividades diárias. Os autores alegam
fraqueza dos músculos do assoalho pélvico produzindo a IUE que essa modalidade esportiva não representa grande impacto
aos grandes esforços. Os autores sugerem que a continência nas estruturas do assoalho pélvico, atribuindo a presença de
nessas atletas mostra-se no limiar e qualquer esforço adicional IU à fadiga muscular. Esse tipo de atividade ocasiona um
pode ocasionar a perda urinária. catabolismo muscular generalizado, principalmente quando
Bø e Borgen [8] avaliaram a prevalência da IUE em há treinos longos, em solo acidentado, repetidas várias vezes
atletas de elite (n = 660) de várias modalidades esportivas, e sem tempo de repouso.
comparando com um grupo controle (n = 765). Os resulta- Zhang et al. (2009) desenvolveram um modelo com-
dos mostraram que a perda de urina variou entre 37,5% em putadorizado com o objetivo de correlacionar os padrões
esportes técnicos e de peso a 52% em esportes atléticos, o qual de atividade muscular da pelve feminina com a presença de
inclui a ginástica. Não foi identiicada diferença estatistica- IUE em suas atividades diárias e esportivas. Nesse estudo,
mente signiicativa entre a frequência do sintoma no grupo foi observado que saltos abaixo de 1 metro de altura não são
de atletas e essa frequência no controle. Ainda, foi analisada a capazes de promover perda urinária em mulheres saudáveis.
interferência negativa da IU na qualidade de vida das atletas: No entanto, os mesmos testes mostraram ainda que os saltos
15% das participantes da pesquisa apontaram a perda urinária com altura superior a 1 metro podem promover a deformação
como um problema de ordem social e higiênico. da porção anterior e posterior da pelve, e desta forma causar
Em um estudo realizado por hyssen et al. [10], na a abertura da uretra, favorecendo a fuga de urina.
Dinamarca, foram entrevistadas 291 atletas participantes

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


180 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Conclusão 6. Bø K. Urinary incontinence, pelvic loor dysfunction, exercise


and sport. Sports Med 2004;34(7):451-64.
Os artigos cientíicos apontam uma forte relação entre 7. Nygaard I, hompson FL, Svengalis SL, Albright JP. Urina-
ry incontinence in elite nulliparous athletes. Obst Gynecol
exercício físico e IU, principalmente em atividades de alto
1994;84(2):183-7.
impacto. A incontinência urinária de esforço pode ser encon- 8. Nygaard IE. Does prolonged high-impact activity contribute
trada em mulheres atletas, em maior frequência nas ginastas, to later urinary incontinence? A retrospective cohort study of
sendo a principal causa à elevação da força abdominal aplicada female Olympians. Obst Gynecol 1997;90(5):718-22.
nos componentes estruturais do assoalho pélvico. 9. Bø K. Borgen JS. Prevalence of stress and urge urinary incon-
A faixa etária das atletas pesquisadas nos estudos descritos tinence in elite athletes and controls. Med Sci  Sports  Exerc
revela que a idade parece não ser um fator determinante para 2001;33(11):1797-802.
o surgimento da IU, e sim um agravante para o quadro da 10. hyssen H, Clevin L, Olesen S, Lose G. Urinary incontinence
perda involuntária de urina. in elite female athletes and dancers. Int Urogynecol J Pelvic
As formas preventivas e reabilitadoras da IU são desco- Floor Dysfunct 2002;13(1):15-7.
11. Eliasson K, Larsson T, Mattson E. Prevalence of stress inconti-
nhecidas e/ou não praticadas. É importante conscientizar
nence in nulliparous elite trampolinists. Scand J Med Sci Sports
sobre o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, 2002;12:106-10.
ou seja, do selo uretral, sendo efetuado concomitantemente 12. Carls C. he prevalence of stress urinary incontinence in high
aos exercícios físicos. school and college-age female athletes in the midwest: implica-
tions for education and prevention. Urol Nurs 2007;27(1):21-4.
Referências 13. Caylet N, Fabbro-Peray P, Marès P, Dauzat M, Prat-Pradal D,
Corcos J. Prevalence and occurrence of stress urinary inconti-
1. Abrams P, Cardozo L, Fall M, Griiths D, Rosier P, Ulmsten nence in elite women athletes. CJU 2006;13(4):3174-9.
U, Kerrebroeck P, Victor A, Wein A. he standardisation of 14. Guarisi T, Pinto Neto AM, Osis MJ, Pedro AO, Paiva LHC,
terminology of lower urinary tract function: report fron the Faúndes A. Incontinência urinária entre mulheres climatéricas
standardisation sub-committee of the International Continence brasileiras: inquérito domiciliar. RSP 2001;35(5):428-35.
Society. Neurourol Urodyn 2002;21:167-78. 15. Parazzini F, Chiafarino F, Lavezzari M, Giambanco V. Study
2. Auge AP, Zucchi CM, Costa FMP, Nunes K, Cunha LPM et al. Group. Risk factors for stress, urge or mixed urinary inconti-
Comparações entre os índices de qualidade de vida em mulheres nence in Italy. BJOG 2003;110(10):927-33.
com incontinência urinária submetidas ou não ao tratamento 16. Crepin G, Biserte J, Cosson M, Duchene F. The female
cirúrgico. RBGO 28(6):352-7. urogenital system and high level sports. Bull Acad Natl Med
3. Milsom I. Lower urinary tract symptoms in women. Curr Opin 2006;190(7):1479-91.
Urol 19(4):337-41. 17. Araújo MP, Oliveira E, Zucchi EV, Trevisiani VF, Girão MJ,
4. hom D. Variation in estimates of urinary incontinence pre- Sartori MG. he relationship between urinary incontinence
valence in the community: efects of diferences in deinition, and eating disorders in female long-distance runners. AMB
population characteristics, and study type. J Am Geriatr Soc 2008;54(2):146-9.
1998;46(4):473-80.
5. Onur R, Deveci SE, Rahman S, Sevindick F, Acik Y. Prevalence
and risk factors of female urinary incontinence in eastern Turkey.
Int J Urol 2009;16(6):566-9.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 181

Artigo 33

Mortalidade materna: peril sociodemográico


do Brasil no ano de 2010
Maternal mortality: socio demographic proile of the year 2010 in Brazil
Érika Rayane de Medeiros Silva*, Jéssica Danielle Medeiros da Fonsêca*, Camila Maria Medeiros de Araújo*,
Maria José Medeiros da Fonsêca**

*Discente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, **Preceptora do Projeto de Educação pelo Trabalho e para
Saúde (PET/PróSaúde)

Resumo Abstract
Introdução: A mortalidade materna se apresenta como violação Background: Maternal mortality is presented as a human rights
dos direitos humanos e poderia ser evitada em 92% dos casos. Es- violation and could be avoided in 92% of cases. hese deaths are
sas mortes são consideradas como um bom indicador da realidade considered a good indicator of the socio economic reality of the
socioeconômica da população e da sua qualidade de vida. Objetivo: population and its quality of life. Objective: To analyze and construct
Analisar e construir o peril sociodemográico de óbitos materno, no the sociodemographic proile of maternal deaths in the year 2010.
ano de 2010. Metodologia: Trata-se de um estudo ecológico de preva- Methodology: he research is treated of an ecological study with
lência com caráter descritivo quantitativo de corte retrospectivo. Os quantitative descriptive character of retrospective cut. he analyzed
dados analisados foram obtidos pelo Datasus/2012 - Banco de dados data were obtained by Datasus/2012 - database of the unique system
do Sistema Único de Saúde, referente ao ano 2010, analisando esses of Health - regarding the year 2010, analyzing the data through
dados através das informações oferecidas pelo Ministério da Saúde/ information of the Ministry of Health/Cenepi through the SIM
Cenepi através do SIM (Sistema de Informações de Mortalidade) e (Systems of information about Mortality) and of Sinasc (System of
do Sinasc (Sistema de Informações de Nascidos Vivos). Resultados: Information on been Born Alive). Results: his work showed that
Esse trabalho mostrou que ocorreram 1.719 óbitos maternos no ano there were 1,719 maternal deaths in 2010 and these showed a per-
de 2010 e destes apresentaram uma porcentagem dessas mulheres, centage of these women, being unmarried (60%), aged 20-39 years
sendo solteiras (60%), com faixa etária de 20 a 39 anos (77%), de (77%), color/Caucasian (48%) and with schooling below 8 years
cor/raça branca (48%) e com escolaridade abaixo de 8 anos (45%). (45%). Conclusion: he study shows the sociodemographic proile
Conclusão: O estudo evidencia o peril sociodemográico da mulher of Brazilian women during 2010, this fact is of great importance to
brasileira no período de 2010, esse fato é de grande relevância para the state organizations so that they can implement health policies
as organizações estatais, para que possam implementar políticas de directed to this condition.
saúde direcionada para esse agravo. Key-words: mortality, woman’s health, epidemiology.
Palavras-chave: mortalidade, saúde da mulher, epidemiologia.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


182 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução analisados foram obtidos pelo Datasus/2012 - Banco de dados


do Sistema Único de Saúde, referente ao ano de 2010 [6].
O surgimento da globalização e o aparecimento de novas A pesquisa teve inicio com a investigação de dados sobre os
tecnologias facilitaram e capacitaram proissionais da área da índices de mortalidade materna através do DATASUS, respei-
saúde a realizar seu trabalho de maneira eicaz, sem prejuízo tando os seguintes passos: Informações de Saúde < Estatísticas
para vida das pessoas. Entretanto, os índices de mortalidade Vitais < Mortalidade de óbitos de mulheres em idade fértil
materna e neonatal continuam em crescimento abundante e óbitos maternos, pela CID-10 (Classiicação Internacional
preocupando ainda mais as instituições governamentais [1]. de Doenças – 10ª Revisão) < Abrangência Geográica (Brasil
Segundo CID-10, a mortalidade materna pode ser de- por região e Unidade de Federação), selecionando os seguintes
inida como: ‘’Morte de uma mulher durante a gestação ou pontos (Linha por região; coluna por faixa-etária, cor/raça,
dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, escolaridade e estado civil; e conteúdo por óbitos maternos),
independentemente da duração ou da localização da gravidez, todos referentes ao ano de 2010; e por im, eleger ‘’mostrar’’.
devida a qualquer causa relacionada com ou agravada pela Esses passos nos deram a tabela de informação necessária para
gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devida o incremento da pesquisa.
a causas acidentais ou incidentais’’ [2]. A relevância da coleta desses dados é para que a partir deles
O índice de mortalidade materna nos países subdesenvol- possamos estimar o quanto os fatores sócio-demográicos in-
vidos é expressivamente maior do que nos países desenvolvi- luenciam na porcentagem da mortalidade materna referentes
dos. Tal fato pode ser explicado devido à má distribuição de ao ano de 2010, no Brasil.
renda entre os países e baixa qualidade de vida nesses países.
Nota-se também que em países desenvolvidos a locação dos Resultados
sistemas saúde público são melhores distribuídos de acordo
com a gravidade da doença e dessa forma, não há supersa- No Brasil no ano de 2010 foram notiicados 1.719 óbitos
turação durante a indigência de atendimento, abordando a maternos – Mortalidade Materna (MM), caracterizando a
todos os necessitados [3]. Razão de Mortalidade Materna (RMM) de 60,07 óbitos
Atualmente, o Ministério da Saúde vem adotando uma maternos para cada 100.000 nascidos vivos (NC), dados
série de medidas preventivas em relação à mortalidade mater- estes encontrados no DATASUS. Esse estudo apresenta a
na, promovendo uma atenção especializada na obstetrícia a divisão das características desses óbitos a im de observar o
im de melhorar a atenção na saúde da mulher, aumentando peril do mesmo.
a qualidade de vida da mesma durante o seu período pré e O Gráico 1 mostra a MM relacionada ao estado civil
pós-gestacional [14]. dessas mulheres, onde se tem que, 60% (n = 1036) era sol-
No Brasil há uma preocupação extrema por partes das or- teira, 30% (n = 560) casada, 0,5% (n = 8) viúva, 2% (n =
ganizações governamentais tanto no âmbito federal, estadual 28) separada judicialmente, 1% (n = 17) outro e 7% (n =
e municipal quanto aos serviços de saúde devido ao elevado 117) ignorado.
crescimento da morte materna, constituindo-se como uma
grave questão de saúde pública [4]. Gráico 1 - MM relacionada ao estado cível dessas mulheres no
Segundo Laurenti, o Brasil (2004): “No primeiro semestre Brasil, ano de 2010.
de 2002, constou 7.332 mortes de mulheres de 10 a 49 anos 1200
Nº de mortes maternas

de idade, das quais 458 (6,2%) ocorreram no ciclo gravídico 1000


puerperal ampliado, com mortes ocorridas na gestação, no
800
parto e até um ano depois deste. O maior número de óbi-
600
tos ocorreu nas Regiões Norte (8,4%) e Nordeste (8,2%),
400
em relação ao Sul (6,4%), Centro-Oeste (6,4%) e Sudeste
200
(5,1%)” [5].
Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar e construir 0
Separado
Solteira Casada Viúva judicial-
mente Outro Ignorado
um peril sociodemográico em relação aos índices de mor-
talidade materna levando em consideração as sub-regiões Série 1 1036 513 8 28 17 117
brasileiras, no ano de 2010. Fonte: DataSUS 2012.

Metodologia Quando relacionamos a MM no mesmo período, com a


faixa etária dessas mulheres, observamos que de 10 a 14 anos
A pesquisa trata-se de um estudo ecológico de prevalência se teve 2% (n = 26) de MM, de 15 a 19 anos 14% (n = 247),
com caráter descritivo quantitativo de corte retrospectivo, vi- de 20 a 29 anos 43% (n = 731), 30 a 39 anos 34% (n = 583),
sando analisar a inluência dos fatores sociodemográicos sobre de 40 a 49 anos 7% (n = 128), de 50 a 59 anos 0,2% (n = 3)
a mortalidade materna do Brasil no ano de 2010. Os dados e idade ignorada 0,06% (n = 1). (Gráico 2).

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 183

Gráico 2 - MM relacionada à faixa etária dessas mulheres no razão de mortalidade materna (RMM) no Brasil em 75,9 por
Brasil, ano 2010. 100.000 NV [8]. Em nosso estudo que avaliou a RMM no
800 ano de 2010 foi observado à redução dessa taxa, chegando a
Nº de mortes maternas

700 60,07 por 100.000 NV.


600
Quando relacionamos o estado civil aos óbitos maternos,
500
400 as mulheres solteiras apresentam elevados índices nessas
300 mortes. Foi observado no município do Rio de Janeiro, no
200 intervalo de tempo de 1996 a 2004, que 67,3% dos óbi-
100 tos maternos, foram mulheres solteiras [9]. Outro estudo
0
10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 Ignorada realizado em Sorocaba/SP no ano de 2000 mostrou que
anos anos anos anos anos anos
61,5% dos óbitos maternas eram mulheres solteiras [10].
Série 1 26 247 731 583 128 3 1 Essa mesmo relação foi observada em nosso estudo que
fonte: datasus 2012. mostrou a porcentagem de 60% dos óbitos maternos como
sendo de solteiras.
Quando selecionamos o dado da MM relacionada à cor/ Estudo realizado sobre a mortalidade materna nos anos
raça, observamos que a parda apresenta o maior índice com se 2000 a 2004, no estado da Paraíba, observou os óbitos
48%, seguindo-se pela branca, preta, ignorada, indígena e maternos relacionados à faixa etária e apresentou porcentagem
amarela, que tem valores respectivos de: 35%, 11%, 5%, 1% de 16,5% para mulheres ≤ 19 anos, de 59,7% entre 20 e 34
e 0,2%. Esse mesmo dado em relação ao nível de escolaridade anos e 23,8% para ≥ 35 anos [11]. Em outro estudo também
apresentou mulheres que não tiveram nenhuma escolaridade foi observada a ocorrência de uma elevada porcentagem de
com 4% desses óbitos, as que estudaram de 1 a 3 anos 11%, mortes maternas 40,8% na faixa etária de 30 a 39 anos [9].
de 1 a 7 anos 30%, 8 a 11 anos 23%, de 12 anos a mais 10% Esses autores vêm a corroborar nosso estudo, que aponta que
e essa característica estava ignorado 22% dessa população no ano de 2010 óbitos de mulheres com idade ≤ 19 anos re-
(Tabela I). trata 16%, entre 20 e 34 anos, 77% e ≥ 35 anos 7%, valendo
salientar que apesar da faixa etária de 20 a 34 anos nos dois
Tabela I - MM no ano de 2000, no Brasil, relacionada à cor/raça estudos se apresentou bastante elevados, no ano de 2010 esse
e anos de escolaridade. aumento foi expressivamente maior. Já na pesquisa em que
Características n° de mortes maternas (%) realizou a investigação de óbitos maternos no Distrito Federal
Cor/Raça nos anos de 2001 a 2005 [12], refuta nosso estudo, mostrando
Branca 595 (35%) que a maior número de mortalidade materna ocorre quando
Preta 181 (11%) em faixas etárias mais elevadas de 40 a 49 anos.
Amarela 4 (0,2%) Em relação à variável cor/raça, autores relataram haver
Parda 831 (48%) signiicante prevalência de morte materna em mulheres
Indígena 18 (1%) não brancas (parda e negra) [12]. Sendo observado esse
Ignorada 90 (5%) mesmo dado no presente estudo, onde a prevalência de
Escolaridade cor/raça de morenas e negras somadas representam 59%.
Nenhuma 65 (4%) Também foram observadas que 76,9% de mortes maternas
1 a 3 anos 186 (11%) eram mulheres brancas [10]. Outros autores relataram não
4 a 7 anos 510 (30%) observaram diferenças na distribuição das mortes maternas
8 a 11 anos 399 (23%) nessa variável [9]. O Ministério da Saúde apresentou essa
12 anos e mais 175 (10%) relação por região relatando que no Sul o número de óbitos
Ignorado 384 (22%) maternas em mulheres se sobressaiu, no Norte e Nordeste
Fonte: DataSUS 2012. o número de mortes maternas em mulheres pardas foram
maiores e no Sul e Sudeste apresentou em maior proporção
Discussão as mulheres negras Isso aponta que a relação da cor/raça
com os óbitos maternos, apresenta-se de forma bastante
Considera-se a média do Coeiciente de Mortalidade controversa na literatura e sofrem dentre outras inluência
Materna de 20 a 49 óbitos para cada 100.000 Nascidos Vivos o fator regional [13].
(NV), sendo considerado elevado quando este parâmetro No que se referi à escolaridade, as referências apontam ha-
estiver entre 50 a 149. Quando o número ultrapassa os 150 ver uma maior taxa de mortes em mulheres com escolaridade
óbitos por 100.000 NV, diz-se que o Coeiciente de Morta- abaixo de 8 anos [11,12]. Esses autores corroboram o presente
lidade Materna é muito alto [7] estudo, que obteve que 45% dos óbitos maternas foram em
No ano de 2002, o Centro Brasileiro de Classiicação mulheres com escolaridade abaixo de 8 anos, valendo salientar
de Doenças da Organização Mundial de Saúde, estimou a que 22% desse dados foi informado.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


184 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Conclusão 4. Ministério da Saúde/Secretaria de Políticas de Saúde/ Área Téc-


nica de Saúde da Mulher. Manual dos Comitês de Mortalidade
Com base no que foi discutido esse estudo evidencia o Materna, 2a ed. Brasília; 2002.
5. Laurenti R, Jorge MHP, Gotlieb SLD. A mortalidade materna
peril sociodemográico da mulher brasileira no período de
nas capitais brasileiras: algumas características e estimativa de
2010, onde se observa que a maioria das mulheres concentra- um fator de ajuste. Rev Bras Epidemiol 2004;7:449-60.
va-se entre 20 a 29 anos de idade, a grande parte era solteira, 6. Departamento de Informática do SUS (DATASUS). [citado
apresentava coloração parda e estudaram apenas oito anos. 2012 jul]. Disponível em URL: < http://www2.datasus.gov.br/
Tal fato é de grande relevância para as organizações estatais, DATASUS/index.php.
tanto as municipais quanto estaduais e federal; pois há uma 7. Andrada AAC, Vitorello DA, Saab Neto JA. Mortalidade mater-
limitação de renda desperta principalmente nas regiões mais na no Estado de Santa Catarina durante o ano de 2001. ACM
pobres, onde os índices de escolaridade e o suporte a infor- Arq Catar Medicina 2003;32:56-64.
mação é mais obstado. Portanto, é necessária a participação 8. Leal MC. Desaio do milênio: a mortalidade materna no Brasil.
dos mesmos na formação de estratégias de intervenção que Cad Saúde Pública 2008;24:1724-5.
9. Melo ECP, Knupp VMAO. Mortalidade materna no município
busquem amenizar o quadro de mortalidade materna brasi-
do rio de janeiro: magnitude e distribuição. Esc Anna Nery Rev
leira e fornecer mais orientação em saúde para as mulheres Enferm 2008;12(4):773-9.
com baixo nível estudantil e baixa renda. 10. Moraes AQ, Lima APB, Barros AP, Ferreira JP, Castro MC,
Santoro LVO, Cavalcante MAA. Morte materna – abordagem
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 185

Artigo 34

Análise da relação entre idade gestacional e qualidade


de vida em gestantes atendidas em unidades básicas
de saúde da cidade do Natal/RN
Analysis of relationship between gestational age and quality of life
in pregnant women attended at Basic Health Units of Natal/RN
Laiane Santos Eufrásio, Acd*, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Ft., M.Sc.**, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Ft., D.Sc.

*Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), **Professora Assistente do Curso de
Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (UFRN/FACISA), ***Pro-
fessora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da UFRN

Resumo Abstract
Introdução: A gravidez corresponde a um período de inúmeras Introduction: Pregnancy is a period of many changes that afect
transformações que interferem na qualidade vida das gestantes, the quality of life of the pregnant women, and may be inluenced
podendo ser inluenciada por diversos fatores. Objetivo: Analisar by several factors. Objective: To analyze the relationship between
a relação entre idade gestacional e qualidade de vida de gestantes gestational age and quality of life of pregnant women attended at
atendidas em Unidades Básicas de Saúde do município de Natal/ Basic Health Units of Natal/RN. Material and methods: he study
RN. Material e métodos: Participaram do estudo 82 gestantes, com included 82 pregnant women, 18 to 37 years old and gestational
faixa etária entre 18 e 37 anos e idade gestacional entre a 2ª e a age between 2 and 40 weeks. Quality of life was assessed using the
40ª semana. A qualidade de vida foi avaliada através do Índice de Quality of Life Index (QLI) of Ferrans and Powers. For statistical
Qualidade de Vida (IQV) de Ferrans e Powers. Para análise estatística analysis we used the Kolmogorov-Smirnov test and Pearson corre-
utilizaram-se os testes de Kolmogorov-Smirnov e o de correlação de lation. Results: he mean chronological age of the sample was 24.5
Pearson. Resultados: A média da idade cronológica da amostra foi (± 5.6) years and gestational 25.3 (± 10.4) weeks. Analyzing the
de 24,5 (± 5,6) anos e da gestacional 25,3 (± 10,4) semanas. Ana- relationship between IQVFP and gestational age (GA) in the 1st
lisando a relação entre o IQVFP e a idade gestacional (IG), no 1° quarter there was a moderate correlation (r = 0.571, p = 0.03) and
trimestre houve correlação moderada (r = 0,571; p = 0,03) e positiva positive indicating better quality of life with advancing gestational
indicando melhora da qualidade de vida com o avançar da IG, e no age, and in 3th quarter a weak correlation (r = -, 371, p = 0.01) and
3° trimestre, correlação fraca (r = -,371; p = 0,01) e negativa entre negative correlation between the variables, suggesting a decreasing
as variáveis, sugerindo uma diminuição da qualidade de vida com o quality of life with advanced gestation. Conclusion: In irst quarter
progredir da gestação. Conclusão: Durante o primeiro trimestre há there was improvement in QL, whereas in third, there was decrease
melhora da QV, enquanto que no terceiro, observou-se diminuição in scores of this variable.
nos escores desta variável. Key-words: pregnant women, prenatal care, quality of life.
Palavras-chave: gestantes, cuidado pré-natal, qualidade de vida.

Endereço para correspondência: Laiane Santos Eufrásio, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento
de Fisioterapia, Av. Senador Salgado Filho, 3000 caixa postal: 1524, 59072-970 Natal RN, E-mail: laieufrasio@hotmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


186 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução de instrução, antecedentes pessoais patológicos e obstétricos,


antecedentes familiares, nível socioeconômico e até com a
A gravidez corresponde a um período de inúmeras trans- personalidade de cada uma [7].
formações no corpo da mulher, tanto isicamente, consideran- Assim, é importante considerar que a qualidade de vida,
do as alterações hormonais e estruturais, quanto psicológica conceituada como a percepção subjetiva de cada indivíduo,
e socialmente, uma vez que a mulher deixa de ser, apenas, está relacionada ao estado de saúde em que a pessoa se en-
ilha e passa a ser mãe. Certamente, em nenhuma outra fase contra, reletindo ou não em seus comportamentos relacio-
do ciclo vital, haja maior mudança na forma e no funciona- nados à sua funcionalidade, sua socialização e suas atividades
mento do corpo humano, em tão curto espaço de tempo. habituais [8].
Tais mudanças vão desde o momento da nidação até todo o Sendo assim, o presente estudo busca investigar a qualida-
período da gestação e o inal da lactação [1]. de de vida e sua relação com a idade gestacional. A necessidade
Como airma Souza [2], desde o início da gravidez, o orga- de maior aprofundamento sobre o tema é reforçada pela
nismo materno sofre mudanças que afetam o funcionamento escassez de estudos na literatura que contemplem o assunto.
habitual dos sistemas digestivo, circulatório, respiratório e da
biomecânica postural. Enim, ocorre um processo de trans- Material e métodos
formações e adaptações, necessárias ao perfeito crescimento
e desenvolvimento fetal. Essas mudanças geralmente vêm O estudo realizado foi analítico, descritivo e transversal
acompanhadas de medos, dúvidas, angústias, insegurança com gestantes em atendimento pré-natal de quatro Unidades
e fantasias. Básicas de Saúde (UBS) de Natal/RN, com dados coletados
A gestação dura normalmente cerca de 280 dias, o que em agosto de 2012.
equivale a 40 semanas após a última menstruação, e pode ser O processo de amostragem foi do tipo não-probabilístico,
dividida em três trimestres, sendo o 1° trimestre abaixo de 13 gerando, assim, uma amostra por conveniência. O grupo
semanas, o 2° trimestre de 14 a 27 semanas e o 3° trimestre amostral foi composto por gestantes usuárias do serviço de
acima de 28 semanas. Nesse período, faz-se necessário um atendimento pré-natal de quatro Unidades Básicas de Saúde
acompanhamento médico especíico, o pré-natal, com o (UBS) do município de Natal/RN, escolhidas aleatoriamen-
objetivo de avaliar a evolução da gravidez, bem como pro- te. A amostra foi composta por 82 mulheres, que aderiram
mover a saúde da gestante e do seu concepto, por meio de voluntariamente ao estudo.
procedimentos clínicos e educativos [3]. Como critérios de inclusão, adotou-se que as grávidas
O serviço pré-natal tem fundamental importância uma estivessem em acompanhamento pré-natal nas UBS’s esco-
vez que prevê possíveis complicações que possam existir no lhidas, tivessem capacidade de leitura e entendimento da
período gestacional e no parto. Além disso, permite traçar língua portuguesa. A recusa da participante em responder o
medidas preventivas por meio de informações e assistência questionário e/ou concluir seu preenchimento foi considerada
interdisciplinar à gestante, e ainda prepará-la para o parto e o como critério de exclusão.
nascimento humanizado sem intercorrências. Nesse período, O referido estudo foi submetido e aprovado pelo comitê
as trocas de informações sobre as diferentes vivências são ideais de ética em pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Ono-
que aconteçam entre as mulheres e os proissionais de saúde, fre Lopes sob protocolo 329/09. Além disso, foi solicitada
uma vez que essa possibilidade de intercâmbio de experiências autorização formal aos diretores de cada Unidade Básica
e conhecimentos é considerada a melhor forma de promover para a realização da coleta de dados. Todas as voluntárias
a compreensão do processo de gestação. Tudo isso contribui foram informadas a respeito dos objetivos e procedimentos
para a redução da mortalidade materno-infantil e garante à da pesquisa e assinaram um Termo de Consentimento Livre
gestante uma maternidade mais segura, com uma melhor e Esclarecido (TCLE) de acordo com a resolução 196/96 do
qualidade de vida [4]. Conselho Nacional de Saúde.
Dessa forma, é aconselhável que o controle pré-natal Para caracterização da amostra foi utilizada uma icha
seja iniciado o mais precocemente possível e que a mulher de identiicação sócio-demográica e clínica, composta pelas
se consulte com frequência determinada por seu obstetra, seguintes variáveis: idade, ocupação, renda familiar, escola-
sendo bem mais rigorosa em casos de gravidez de alto risco ridade, situação conjugal, planejamento gestacional, idade
ou em gestações múltiplas. Nota-se assim, que toda a rotina gestacional, histórico obstétrico, hábitos e vícios.
da mulher precisa ser adaptada à nova realidade em que se Para análise da qualidade de vida das gestantes foi utiliza-
encontra [5]. do o instrumento de Ferrans & Powers. Este questionário foi
A gestante está sujeita a vários fatores que interferem traduzido para a língua portuguesa e validado por Kimura
em sua qualidade de vida, como: alterações hormonais, de [9] e adaptado para aplicação com gestantes por Fernan-
humor, grau de aptidão física, distúrbios no sono, mudanças des; Narchi; Cianciarrullo [10]. O Índice de Qualidade de
na aparência, cuidados com dieta e imunidade [6]. O nível de Vida (IQV) de Ferrans e Powers é um instrumento genérico
interferência destes fatores pode variar de acordo com o grau de avaliação de qualidade de vida que agrupa 34 itens em

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 187

quatro domínios inter-relacionados: saúde e funcionamento Renda familiar (Salários mínimos)


composto por 14 itens, psicológico e espiritual composto 1a2 70 85,4
por 7 itens, socioeconômico composto por 9 itens e famí- 3a4 8 9,8
lia composto por 4 itens. O instrumento utilizado nessa Mais de 4 3 3,7
pesquisa, adaptado para gestantes, icou constituído de 36 Não respondeu 1 1,2
itens distribuídos nos quatro domínios da seguinte forma: Trimestre gestacional
saúde e funcionamento com 17 itens, psicológico e espiritual Primeiro 14 17,1
com 6 itens, socioeconômico com 9 itens e família com 4 Segundo 22 26,8
itens, mensurando satisfação e importância nas várias áreas Terceiro 46 56,1
da vida da grávida. Paridade
Os escores do Índice de Qualidade de Vida (IQV) de Fer- Multípara 38 46,3
rans e Powers, em cada item varia de uma escala de 6 pontos, Nulípara 44 53,7
sendo na parte I de 1 a 3 níveis decrescentes de insatisfação Gravidez planejada
e de 4 a 6 níveis crescentes de satisfação, variando de “muito Sim 29 35,4
insatisfeito” (1) a “muito satisfeito” (6), e na parte II de “sem Não 53 64,6
nenhuma importância” a “muito importante”. A pontuação
total pode variar de 0 a 30 pontos, sendo ponderado cada item A média e desvio-padrão do Índice de Qualidade de Vida de
de satisfação com o seu correspondente de importância. Os Ferrans e Powers para a amostra estudada encontram-se na Tabela II.
maiores escores correspondem à alta satisfação e importância,
e os menores escores a baixa satisfação e importância. Com Tabela II – Média, desvio-padrão, p-valor e mínimo – máximo
isso, pressupõe-se que as gestantes que estão satisfeitas com do escore total e dos domínios do IQVFP para a amostra estudada
áreas que consideram importantes desfrutam de uma melhor (n = 82).
qualidade de vida. Variáveis média (DP) Min – Máx (0 - 30)
A análise estatística foi de caráter descritivo, com os IQVFP 22,7 (± 4,6) 6,2 – 29,7
respectivos valores absolutos e relativos, através das medidas Saúde e f unção 21,1 (± 4,7) 7,3 – 29,5
de tendência central e de dispersão e os respectivos intervalos Socioeconômico 21,8 (± 5,4) 7,4 – 30
de coniança. Psicológico e espiritual 24,4 (± 5,4) 2,5 – 30
Para análise estatística dos dados foi utilizado o software Família 24,5 (± 6,0) 3 - 30
Statistical Pachage for the Social Science (SPSS) for Windows, IQVP – Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers.
versão 17.0. Foram utilizados os Testes de Kolmogorov-
-Smirnov para avaliar a normalidade dos dados e o teste Dividindo-se a amostra por trimestre, analisou-se a rela-
de correlação de Pearson para analisar a associação entre as ção entre a idade gestacional (IG) e a média dos escores do
variáveis estudadas. Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers (IQVFP).
Obteve-se uma correlação moderada (r = 0,571; p = 0,03) e
Resultados positiva entre a IG e o IQVFP, indicando que há uma melhora
da qualidade de vida com o avançar da gestação durante o
As médias das idades cronológica e gestacional na amos- primeiro trimestre (Figura 1).
tra estudada foram, respectivamente, de 24,5 (± 5,6) e 25,3
(± 10,4). Os demais dados socioeconômicos e obstétricos Figura 1 - Correlação entre os escores do Índice de Qualidade de
encontram-se apresentados na Tabela I. Vida de Ferrans e Powers e a idade gestacional, considerando o
primeiro trimestre (n = 14).
Tabela I - Frequências absoluta e reativa das variáveis socioeconô-
Índice de qualidade de vida de Ferrans e Powers

30,00
micas e obstétricas para a amostra estudada (n = 82).
(n = 82)
Variáveis 25,00
N %
Estado civil
20,00
Não tem companheiro 6 7,3
Casada 18 22
Tem companheiro 58 70,7 15,00
Escolaridade
Ensino fundamental 24 29,3 10,00
Ensino médio 54 65,9
5,00 R2 Linear = 0,326
Ensino superior 3 3,7
Pós-graduação 1 1,2 2 4 6 8 10 12
Idade Gestacional (em semanas)

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


188 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Para o terceiro trimestre, observou-se correlação fraca (r = Os resultados desse estudo mostram que há relação entre
-,371; p = 0,01) e negativa entre as variáveis, sugerindo que a idade gestacional e a qualidade de vida durante o primeiro
há uma diminuição da qualidade de vida com o avançar da e terceiro trimestres. No primeiro, observou-se melhora da
IG durante o terceiro trimestre (Figura 2). Para o segundo qualidade de vida com o avançar da gestação. Esse resultado
trimestre, não foram observadas relações signiicativas. é corroborado por Fernandes [15] que, utilizando o mesmo
instrumento adaptado, relata que houve diferença estatística
Figura 2 - Correlação entre os escores do Índice de Qualidade de entre essas mesmas variáveis comparando as gestantes do 1°
Vida de Ferrans e Powers e a idade gestacional, considerando o trimestre com às do 2°, notando que as gestantes do 1° trimes-
terceiro trimestre (n = 46). tre apresentaram índices maiores de qualidade de vida. Já no
terceiro trimestre, houve diminuição da QV, contradizendo
Índice de qualidade de vida de Ferrans e Powers

os resultados da pesquisa realizada por Fernandes [16] que


30,00 comparou a média dos escores do IQVFP e, por domínio,
no 2° e 3° trimestres gestacionais não observando diferença
25,00
estatisticamente signiicativa, concluindo que a média da
20,00
qualidade de vida nos três trimestres gestacionais foi relati-
vamente a mesma.
15,00 Enquanto que um estudo realizado em São Paulo com
202 gestantes, relacionando idade gestacional com domínios
10,00 de qualidade de vida, como capacidade funcional, aspectos
físicos e dor, apresentou que quanto mais avançada a gestação
R2 Linear = 0,137
5,00 menor os escores desses domínios [17]. Permitindo concordar
26 28 30 32 34 36 38 40 com o que o presente estudo apontou no último trimestre
Idade Gestacional (em semanas)
da gestação.
Diante dos resultados desta pesquisa, pode-se inferir que
Discussão as gestantes do terceiro trimestre apresentam um declínio da
qualidade de vida, devido a proximidade do parto, o aumento
O início e o desenvolvimento de uma gestação são perce- dos seios e da barriga, limitações físicas, distúrbios do sono,
bidos como fenômenos complexos, por ser esta uma fase do ganho de peso, mudanças na marcha, alterações respiratórias,
ciclo vital feminino em que a mulher desfruta do privilégio de dor lombar e inchaços. O fator psicológico relacionado à es-
gerar um novo ser. Durante esse estágio, ocorrem profundas pera do bebê, ansiedade e preocupação para o parto também
alterações psicológicas, orgânicas e isiológicas, repercutindo pode interferir na qualidade de vida [18].
psíquica e socialmente na vida da mulher e de seus familia- No primeiro trimestre, mesmo com a ocorrência de enjoos
res. Isto pode ser considerado um episódio de crise no ciclo e náuseas, a felicidade e a euforia de poder gerar uma nova vida
evolutivo de muitas mulheres [11]. e as modiicações corporais menos marcantes podem justiicar
Alterações como aumento de peso, das mamas e do a melhora da qualidade de vida neste período [18,19].
abdômen são as modiicações corporais mais relatadas pelas Este estudo destacou a importância de se avaliar a quali-
mulheres no período gravídico, porém experimentadas de dade de vida das gestantes durante cada período gestacional,
maneira distinta por cada uma de acordo com o período levando em consideração as várias alterações comuns e nor-
gestacional. Nesse contexto, o segundo e terceiro trimestres mais que sofre o corpo dessa gestante, assim como outros
são ressaltados como períodos em que essas alterações são fatores emocionais e sociais.
mais signiicativas [11]. Logo, entende-se que os níveis de qualidade de vida das
A qualidade de vida, de acordo com a Organização gestantes muitas vezes decaem por essas grandes alterações
Mundial de Saúde (OMS) [12], é conceituada como sendo modiicarem seus sentimentos, suas ações, seus relacionamen-
a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no tos interpessoais, e sua relação com seu próprio corpo. Em
contexto da cultura e do sistema de valores nos quais ele vive consequência disto, a qualidade de vida da gestante se altera
e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preo- com a progressão da idade gestacional, podendo até diminuir
cupações. Considerando as alterações do período gravídico, signiicativamente [17].
a qualidade de vida das mulheres parece ser inluenciada por
tais modiicações [13]. Observou-se, através dos resultados Conclusão
dessa pesquisa, que as gestantes apresentam boa qualidade
de vida, contradizendo estudo realizado nos EUA, com 125 Devido à importância do tema, tornam-se cada vez
gestantes, conirma que as mudanças da gravidez alteram a mais necessários estudos que avaliem a qualidade de vida
qualidade de vida, principalmente no estado funcional dessas dessa população, considerando um maior número amostral.
gestantes [14]. Adicionalmente, devem-se analisar os vários fatores que

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 189

interferem na qualidade de vida das gestantes de modo que 14. Hueston WJ, Kasik-Miller S. Changes in Functional health sta-
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durante a gestação. Rev Rene Fortaleza 2010;11(2):86-93. 26. Vilarta R, Gutierrez GL, Monteiro MI. Qualidade de vida: evo-
12. he WHOQOL group. he World Health Organization quality lução dos conceitos e práticas no século XXI. 1. ed. Campinas:
of life assessment (WHOQOL): position paper from the World Ipes, 2010, 206p.
Health Organization. Soc Sci Med 1995;41:1403-10.
13. Lima MOP. Qualidade de vida relacionada à saúde de mulheres
grávidas com sintomas depressivos. [Tese] São Paulo: Universi-
dade de São Paulo, Escola de Enfermagem; 2011.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


190 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 35

Avaliação do desconforto respiratório em gestantes:


uma abordagem isioterapêutica
Assessment of respiratory distress in pregnancy:
physical therapy approach
Jéssica Costa Leite*; Saulo Patrício Gonçalves, Ft.**, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.***,
Denise Almeida Santos, Esp.**, Maíra Creusa Farias Belo, D.Sc.****, Tércio de Sousa Mota, M.Sc.*****,
Matheus Brasileiro Campos**

*Discente de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba e Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher
(PRASM), **Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), ***Docente do Curso de Fisioterapia e co-
ordenadora da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda
em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, Coordenadora do PRASM, ****Docente do Curso de
Fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas, **** Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Maurício de Nassau/Unesc
Faculdades/Universidade Estadual da Paraíba, *****Docente do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Socias e Aplicadas,
Doutorando em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande, Pesquisador do Programa de Atenção à Saúde da
Mulher (PRASM)

Resumo Abstract
Na gestação há adaptações no sistema respiratório, decorrentes During pregnancy there are signiicant adjustments in the respi-
das mudanças mecânicas e bioquímicas que afetam a função ratory system, resulting from mechanical and biochemical changes
respiratória. O objetivo deste estudo foi avaliar a mobilidade to- that interact and afect respiratory function. herefore, the aim of
rácica e grau de dispneia em gestantes, como também identiicar this study is to evaluate the thoracic mobility and degree of dyspnea
os principais desconfortos ventilatórios inerentes a este período. in pregnant women, as well as identify key discomforts inherent
Trata-se de um estudo tranversal, de caráter descritivo exploratório, ventilatory this period. his was a transversal, exploratory, descrip-
com abordagem quantitativa realizado com 45 gestantes admitidas tive and quantitative study conducted with 45 pregnant women
no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, no período de outubro admitted at the Institute for Health Elpidio de Almeida, Campina
a novembro de 2011. O processamento dos dados foi feito através Grande/PB in the period October-November 2011. Data processing
do Oice Excel 2000 bem como a utilização do Teste de Pearson was done using Oice Excel 2000 and the use of the Pearson test
para veriicação do grau de correlação linear entre as variáveis to determine the degree of linear correlation between continuous
contínuas. A presença da dispneia foi a maior queixa referida pelas variables. he presence of dyspnea was the most frequent complaint
gestantes, conirmada através da Escala de Borg, onde 74% tinham among pregnant women, conirmed by Borg scale, where 74% had
seu desempenho ventilatório prejudicado e também pela moderada impaired ventilatory performance and also by moderate correlation
correlação existente entre altura do fundo uterino (AFU) e frequência between the height of the uterine fundus and respiratory rate (RR),
respiratória (FR), fazendo com que no decorrer dos trimestres pelo suggesting a compensatory mechanism between the increase in
aumento da AFU haja um aumento da FR, como mecanismo com- height of the fundus and the increase in FR. It is suggested further
pensatório. Sugere-se novas pesquisas com esta temática na intenção research on this topic in an attempt to adapt the pregnant women
de favorecer a melhor adaptação da gestante às alterações existentes, to the existing changes, thereby decreasing the discomforts installed
atenuando assim os desconfortos instalados e promovendo uma and promoting a better quality of life.
melhor qualidade de vida. Key-words: physical therapy, pregnancy, dyspnea.
Palavras-chave: isioterapia, gravidez, dispnéia.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47 Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail:
gabi.bcampos@gmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 191

Introdução nova situação, a pesquisa apresentou como objetivo ava-


liar a mobilidade torácica e grau de dispneia em gestantes
A gravidez tem uma duração de 40 semanas, sendo ao longo dos trimestres, como também identificar os
esta dividida em três trimestres, onde a mulher passa por principais desconfortos ventilatórios inerentes ao período
diversas adaptações anatômicas, isiológicas e bioquímicas. gravídico.
Muitas alterações começam logo após a fertilização e con-
tinuam durante a gestação, sendo a maioria em resposta Material e métodos
de estímulos isiológicos produzidos pelo feto ou pelos
tecidos fetais [1]. Trata-se de um estudo tranversal, de caráter descritivo
O sistema respiratório, dentre outros, sofre alterações exploratório, com abordagem quantitativa. A amostra foi
signiicativas, modiicando a função respiratória e o inter- composta por gestantes admitidas pelo serviço de pré-natal
câmbio gasoso [2]. E devido às modiicações anatômicas há do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), localizado
o aumento da capacidade inspiratória, por diminuição do na cidade de Campina Grande/PB, em parceria com o Pro-
volume residual funcional, como meio de promover maior grama de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), realizado
suporte de oxigênio para feto-placenta [1]. no período de outubro a novembro de 2011.
O diafragma é uma musculatura responsável por grande A amostra foi do tipo não-probabilística e por acessibi-
parte do processo respiratório, cerca de 70% da capacidade lidade, composta por 45 gestantes admitidas no PRASM,
vital [3]. Durante o processo gravídico, o mesmo se desloca que aceitaram participar da pesquisa e que se adequaram aos
aproximadamente quatro centímetros a cima da sua orienta- critérios de inclusão da mesma, sendo divididas em três grupos
ção normal, sendo isto em decorrência do crescimento uterino correnpondentes ao trimestre de 15 grávidas.
e do alargamento das costelas inferiores. O mesmo favorece
uma distensão do diâmetros ântero-posterior e transverso do Critérios de inclusão e exclusão
tórax da gestante em cerca de 2 cm, além de elevar o ângulo
subcostal, que passa de 68°, no início da gestação para 103° De acordo com os critérios de inclusão, participaram as
no decorrer dela [4]. gestantes admitidas no PRASM durante o período da coleta de
Devido a tais adaptações isiológicas, a dispnéia tem sido dados, sem restrições de qualquer caráter para a realização da
relatada como o principal desconforto vivenciado pela mu- avaliação, que não houvessem realizado nenhum tratamento
lher durante o processo gestatório, ocorrendo em cerca de isioterapêutico anterior a avaliação, e que aceitem constituir
60%-70% das gestantes, de forma mais intensa no terceiro a amostra. Sendo excluídas, aquelas com estado clínico que
trimestre [5]. direta ou indiretamente diiculte ou contra-indique a avalia-
A diiculdade ou desconforto respiratório é provavelmente ção proposta, histórico de doença cardiopulmonar, fumo e
o fator isolado mais importante, na limitação da capacidade índice de massa corpórea (IMC) acima de 40 kg/m2, e que
do indivíduo nas funções básicas do dia-a-dia, existindo di- se recusem a participar.
versos instrumentos destinados para avaliação da intensidade Antes de dar início à pesquisa, o projeto foi submetido
da dispnéia, dentre eles a Escala Modiicada de Borg, onde à apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa do ISEA e da
sua aplicação é feita de forma direta, no momento em que o Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, sendo aprovado
paciente está apresentando a dispnéia [6]. e tendo CAEE 0651.0.133.000-11, e ulterior assinatura do
Para a avaliação das disfunções torácicas com o objetivo Termo de Autorização Institucional pelo responsável pelo
de fornecer o diagnóstico cinético-funcional para atuação local de desenvolvimento da pesquisa.
terapêutica preventiva ou curativa e provável prognóstico Atendendo as determinações da Resolução 196/96 para
do paciente, torna-se necessário um exame especíico que pesquisa em seres humanos, foi solicitada as participantes a
inclui a avaliação da mobilidade torácica, conhecido como assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
cirtometria [7]. Sendo as gestantes que compuseram a amostra avaliadas
Desta forma, torna-se importante compreender as alte7ra- de acordo com o protocolo de avaliação cinético-funcional
ções que acometem o sistema respiratório, no que se refere à da gestação, para obtenção dos dados sócio-demográicos
isiologia e mecânica ventilatória da mulher durante o perí- e referentes a gestação, como medida da Altura do Fundo
odo gestacional [8], uma vez que, a isioterapia surge como Uterino (AFU) e circunferência abdominal, idade gestacional,
alternativa, no intuito de favorecer a saúde materno-fetal e dentre outros.
atenuar os desconfortos decorrentes da gestação, uma vez Posteriormente, foi realizada a cirtometria como técnica
que, têm se mostrado um excelente proposta terapêutica na de avaliação da mobilidade torácica a partir na mensuração de
prevenção e tratamento das disfunções ventilatórias inerentes três regiões: axilar, xifóide e basal. Ainda durante a avaliação
ao processo gestatório. foi veriicado a saturação de O2 das pacientes, como também
Destarte, frente às modificações corporais vivenciadas questionamentos sobre o nível de esforço percebido por elas
pelas gestantes para que a função pulmonar se ajuste à nas atividades diárias relacionando com a fadiga e dispneia

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


192 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

após o referido esforço, utilizando para este im a Escala de Figura 2 - Avaliação da Escala Modiicada de Borg, ao longo dos
Borg Modiicada. trimestres.
Os dados coletados nesta pesquisa forma direcionados 44%
para a quantiicação estatística, possibilitando além do cál- 0,40
culo de médias e percentagens, através do método estatístico 0,35
30%
descritivo do Programa Oice Excel 2000 e apresentados 0,30
em forma de gráicos, o cálculo do desvio padrão para aná- 0,25
20%
lise da dispersão, bem como, realizado o Teste de Pearson 0,20
para veriicar o grau de correlação linear entre as variáveis 0,15
contínuas em estudo.
0,10 6%
0,05
Resultados
0,00
Muito Leve Moderado Pouco
Sobre o peril das gestantes, foi possível analisar sobre leve severo
a idade que 23% da amostra insere-se na faixa etária entre Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.
13 a 15 anos, 65% entre 16 e 18 anos, 12% com mais de
19 anos de idade. Desta forma, podendo-se observar uma Os valores da relação entre a evolução do crescimento da
predominância de gestantes com idade entre 16 e 18 anos Altura do Fundo Uterino (AFU) e da Frequência Respiratória
de idade que realizam pré-natal e participaram da amostra (FR), ao longo dos trimestres gestacionais presente na Figura
da pesquisa. 3 indica que à AFU, para as gestantes que se correspondiam
Referente aos valores dos desconfortos ventilatórios ao 1º trimestre da gestação a média foi de 13,6 ± 1,2 cm, das
relatados pelas gestantes ao longo dos três trimestres ges- gestantes que se encontravam entre no 2º trimestre a média
tacionais, a Figura 1, mostra que dentre as gestantes que se foi de 24,4 ± 2,8 cm e para as gestantes que se encontravam
encontravam no 1º trimestre de gestação, apenas 40% delas no terceiro trimestre da gestação a média foi 32,4 ± 2,5 cm.
relataram que não queixava-se de desconforto ventilatório, Já em relação à FR, para as gestantes do primeiro trimestre
enquanto que 60% relataram. Nas pacientes enquadradas a média foi de 14,53 ± 0,5 irpm, para as gestantes represen-
no segundo trimestre, 30% não relataram queixa de des- tantes do segundo trimestre a média foi também de 17,6 ±
conforto e 70% relataram alguma queixa de desconforto. 0,9 irpm e para as gestantes do terceiro trimestre a média foi
E nas pacientes que se encontravam no terceiro trimestre de 19,06 ± 0,79 irpm.
de gestação, apenas 15% relataram nenhuma queixa de
desconforto, enquanto que 85% relataram alguma queixa Figura 3 - Correlação entre AFU e FR.
de desconforto ventilatório.
Número de incursões (irpm)

25
32,4 35

Mensuração (cm)
Figura 1 - Desconfortos ventilatórios apresentados pelas gestantes 20 30
14,53 19,06 25
no decorrer dos três trimestres. 15 24,7
17,6 20
100,00% 15
10
85,00% 13,6 10
80,00% 5 5
70,00%
Amostra (%)

60,00% 0
60,00% 0
1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre
40,00% Idade gestacional
40,00% 30,00%
15,00% FR AFU
20,00%
Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.
0,00
1 2 3
Idade Gestaacional (Trimestres) A Figura 4 apresenta os dados referentes aos valores médios
Apresentam Não apresentam da Saturação de Oxigênio (SatO2) e FR das gestantes, durante
Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. os trimestres, de maneira a possibilitar a correlação entre as
respectivas variáveis.
Quando aplicada a Escala Modiicada de Borg nestas
gestantes, os dados mostram que 6% da amostra relataram
esforço muito leve, 20% relataram esforço leve, 30% relata-
ram esforço moderado e 44% das gestantes relataram esforço
pouco severo (Figura 2).

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 193

Figura 4 - Correlação entre FR e SatO2. Discussão


Número de incursões (irpm)

25
97,86 98 Por meio dos resultados expostos pode-se observar uma
17,6
19,06 97,8 predominância de gestantes com idade variando entre 13 e 18

Saturação (%)
20
15 97,53
97,6 anos de idade, o que sugere a ocorrência, em maior percen-
14,53 97,4
10 tual da amostra em estudo, de gravidez na adolescência. Isto
97,2 97,2
5
torna-se um dado preocupante em relação a saúde materno-
97
96,8
-fetal, pois até os 21 anos de idade observa-se a maturação
0
1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre dos órgãos sexuais [9].
Idade gestacional Quanto ao questionamento sobre o desconforto respira-
FR SaT. DE o2 tório (Figura 1), conhecido cientiicamente como dispnéia,
tanto sua mensuração quanto sua interpretação são de forma
Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.
subjetiva [6]. Os dados encontrados na presente pesquisa
corroboram com os achados de Moretti [10] quando airma
Os resultados explicitam para a SatO2 no primeiro que a dispneia é uma queixa referida de 60 a 70% das grávidas
trimestre uma média de 97,8±0,3%, para as gestantes no durante o período gestacional. A mesma ainda acrescenta que
segundo trimestre, 97,5 ± 0,7% para as gestantes dentre o isiologicamente ocorre um aumento de 20 a 30% no con-
terceiro trimestre estabelece uma média de 97,2 ± 0,6%. Já sumo de oxigênio, sendo dessa forma compensado por uma
em relação à FR, para as gestantes no primeiro trimestre a respiração mais profunda, que aumenta o esforço respiratório.
média foi de 14,53 ± 0,5 irpm, para as gestantes referentes ao Por sua vez, Lemos et al. [5] discutem que a presença
segundo trimestre a média foi também de 17,6 ± 0,9 irpm e da dispnéia é signiicativamente presente na população de
para as gestante no terceiro trimestre de gestação a média foi gestantes, estando associada às alterações da caixa torácica e
de 19,06 ± 0,7 irpm. da musculatura abdominal, podendo sugerir interferência no
A Figura 5 apresenta os dados referentes à cirtometria, funcionamento biomecânico da bomba muscular respiratória
ao longo dos trimestres gestacionais, analisando comparati- durante este periodo. Em contra partida, alterações na função
vamente a variação média entre a inspiração e expiração das pulmonar são provavelmente pequenas demais para explicar o
gestantes avaliadas, e a correlação entre tais variáveis. surgimento da dispnéia, mas que as alterações da caixa torácica
poderiam inluenciar o surgimento desse sintoma/queixa [11].
Figura 5 - Cirtometria Torácica. Quando aplicada a Escala de Borg Modiicada (Figura 2),
83 82,6 os resultados direcionam que a maioria das pacientes 74%,
82 relataram esforço de moderado a pouco severo, sugerindo que
Mensuração (cm)

80,5 80,8 o desempenho ventilatório das mesmas apresenta-se prejudica-


81 80,3
80 do decorrentes das adaptações do período gestatório, levando
79 78,8 assim a desconfortos ventilatórios como a queixa de dispneia
79
78 veriicada através da escala modiicada de Borg.
77 Analisando a Figura 3 podemos observar uma correlação
76
crescente entre a AFU e a FR, uma vez que com o avançar
1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre dos trimestres gestacional houve um crescimento paralelo de
Idade Gestacional (Trimestres) ambas. De acordo com o Teste de Pearson (p = 0,9), existe
Inspiratória Expiratória uma moderada correlação entre estas, sugerindo que com
Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.
o aumento gradativo da AFU, no decorrer dos trimestres e
mais acentuado no terceiro trimestre, há uma diminuição
da expansibilidade e complacência pulmonar, levando a um
Na mensuração das medidas pela cirtometria torácica aumento consequente da frequência respiratória, na tentativa
obteve-se que a média para as gestantes comprieendidas no de manter a SatO2. Já que o útero ganha aproximadamente
primeiro trimestre foi de 82,6 ± 6,7 cm para inspiração e 6 Kg até o im da gestação, levando a consequências como o
80,5 ± 6,4 cm para expiração, para as gestantes do segundo deslocamento superior do diafragma [1].
trimestre a média foi 80,8 ± 4,6 cm para inspiração e 79 ± 4,7 A gestante de forma compensatória respira mais profunda-
cm para expiração, já para as gestantes do terceiro trimestre mente, e sua frequência respiratória aumenta aproximadamente
a média foi de 80,3 ± 3,3 cm para inspiração e 78,8 ± 3,5 em duas respirações por minuto ao mais, causando um aumento
cm para expiração. de 40% no volume respiratório por minuto [12], clinicamente
ocorrendo uma hiperventilação, para o isso o hormônio pelo
qual contribui relevantemente para este efeito é a progesterona
que se apresenta aumentada [5].

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194 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Alguns pesquisadores [13] consideram que o volume total Existindo a necessidade de mais estudos voltados à temá-
da frequência respiratória é aumentado durante a gestação, tica abordada na intenção de favorecer a melhor adaptação
e há uma diminuição cerca de 25% da tensão de dióxido de da gestante as alterações isiológicas promovidas, de forma a
carbono do sangue materno, favorecendo consequentemente atenuar desconfortos instalados e assim proporcionar uma
a sensação de dispnéia referida pelas gestantes principalmente melhor qualidade de vida ao binômio mãe-ilho.
no último trimestre e durante atividade, corroborando com
os dados da pesquisa. Referencias
Os dados relacionados na Figura 4 demonstram que a
frequência respiratória aumenta em poucas incursões por 1. Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia
minuto, garantindo assim valores normais para saturação de e aspectos de mastologia. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara
oxigênio. Ao serem analisados estatisticamente, através do Koogan; 2007.
2. Machado MGR, Aroeira RMC, Assumpção JA. Alteração do
teste de Pearson (p=-0,9) os dados mostram uma correlação
sistema respiratório na gravidez. In: Baracho E. Fisioterapia
positiva, apesar de pequena, entre as variáveis.
aplicada à obstetrícia. Aspectos de ginecologia e neonatologia.
Os valores encontrados sugerem que este evento venha a 3a ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2002.
ser justiicado, conforme a literatura, pelo fato de que a maior 3. Tarantino AB. Doenças pulmonares. 5a ed. Rio de Janeiro:
demanda de oxigênio (cerca de 20% no terceiro trimestre) Guanabara Koogan; 2002.
mantenha os níveis normais de sua saturação. Os altos níveis 4. Guyton AC, Hall JE. Tratado de isiologia médica. 9 ed. Rio de
de progesterona aumentam a sensibilidade do centro respira- Janeiro: Guanabara Koogan; 1997.
tório ao gás carbônico, resultando num aumento da ventilação 5. Lemos A, Caminha MA, Melo Jr EF, Andrade AD. Avaliação
minuto em cerca de 50% e uma diminuição da pressão de gás da força muscular respiratória no terceiro trimestre de gestação.
carbônico arterial. A frequência respiratória não se altera, mas Rev Bras Fisioter 2005;9(2):151-6.
6. Cavallazzi TGL, Cavallazzi RS, Cavalcante TMC, Bettencourt
a profundidade da respiração é aumenta [14].
ARC, Diccini S. Avaliação do uso da Escala Modiicada de Borg
Em detrimento da cirtometria, os dados apresentados na crise asmátia. Acta Paul Enferm 2005;18(1):39-45.
demonstram uma elevação da cirtometria realizada durante 7. Okoshi MP, Campana AO, Godoy I. Exame Físico do Tórax
o movimento inspiratório, analisando comparativamente a – Aparelho Respiratório. A Rev Clín Méd 1997;30(9):33-53.
evolução dos trimestres, bem como, o aumento gradual da 8. Almeida LGD, Constâncio FL, Santos CVS. Análise compara-
cirtometria durante a expiração. Isto sugere a diminuição tiva das pe e pi máximas entre mulheres grávidas e não-grávidas
da expansibilidade pulmonar, tanto inspiratória quanto e entre grávidas de diferentes períodos gestacionais. Rev Saúde
expiratória, favorecendo o aumento da FR como possível Com 2005;1(1):91-7.
compensação para suprir a demanda de oxigênio necessária 9. Guimarães EB. Gravidez na adolescência: fatores de risco. In:
Saito MI, Silva EV. Adolescência – Prevenção e Risco. São Paulo:
para a saúde materno-fetal.
Atheneu; 2001.
10. Moretti E. Problemas comuns da gravidez: cuidados planejados.
Conclusão 2a ed. Passo Fundo:UPF; 2000.
11. Field SK, Bell SG, Cenaiko DF, Whitelaw WA. Relationship
De acordo com os resultados obtidos, notou-se que o co- between inspiratory efort and breathlessness in pregnancy. J
nhecimento das alterações decorrentes do período gestatório Appl Physiol 1991;71:1897-902.
permite um uma melhor compreensão da funcionalidade da 12. Barros SMO. Enfermagem no ciclo gravídico puerperal. 1a ed.
musculatura respiratória, possibilitando assim o surgimento São Paulo: Manole; 2006.
de mais estudos que venham a colaborar nesse sentindo, 13. Polden M, Mantle J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia.
melhorando a abordagem isioterapêutica voltada para tais São Paulo: Santos; 2002.
14. Konkler CA, Kisner BS. Princípios de exercícios para a paciente
alterações.
obstétrica. In:, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos
e técnicas. 3a ed. São Paulo: Manole; 1998

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 195

Artigo 36

Avaliação do grau de satisfação de gestantes usuárias


do serviço de isioterapia de uma maternidade pública
Evaluation of satisfaction of pregnant women using
a physical therapy service in a public hospital
André Gustavo Marcolino Leal*, Lidyane Ferreira de Oliveira, Esp.**, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.***,
hâmara Pequeno de Paiva****, Denise Almeida Santos, Esp.**, Matheus Brasileiro Campos**,
Tércio de Sousa Mota, M.Sc.*****

*Discente de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba e Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher
(PRASM), **Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), **Docente do Curso de Fisioterapia e coor-
denadora da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda em
Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, Coordenadora do PRASM, ****Discente de Fisioterapia
da Faculdade de Ciências Médicas e Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), *****Docente do Curso
de Direito da Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas, Doutorando em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina
Grande, Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM)

Resumo Abstract
A inadequada qualidade dos serviços públicos de saúde reper- he inadequate quality of public health services directly afects
cute diretamente no nível de satisfação. O objetivo desta pesquisa the level of satisfaction. he objective of this study was to identify
foi identiicar o grau de satisfação de gestantes usuárias do serviço the degree of satisfaction of pregnant women who received service
de Fisioterapia de uma maternidade pública. O estudo foi trans- from a physical therapy service of a public hospital.  his study
versal, quantitativo e descritivo exploratório, não-probabilístico (cross-sectional, exploratory, descriptive, quantitative, probabilistic
e intencional, composto por 30 gestantes que admitidas no Pro- and non-intentional), included 30 pregnant women who were part
grama de Atenção a Saúde da Mulher- PRASM desenvolvido no of the Program for Women’s Health (PRASM) conducted at the
Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, de outubro a novembro Health Institute Elpidio de Almeida, from October to November
de 2011. A avaliação foi feita através do questionário e os dados 2011. he evaluation was performed using the questionnaire. Data
analisados e distribuídos através de variáveis numéricas. Os resul- were analyzed and distributed via numeric variables. he results
tados caracterizaram a amostra com faixa etária de 12 a 36 anos, characterized the sample aged 12-36 years with low socioeconomic
com baixo nível sócio-econômico (53,3%), baixa escolaridade status (53.3%), low education (43.3%) with incomplete primary
(43,3%) com ensino fundamental incompleto e que nunca realizou education (76.7%) never performed physical therapy prior. On
tratamento isioterapêutico prévio (76,7%). Sobre a avaliação do the evaluation of the degree of satisfaction of the therapist-patient
grau de satisfação da relação terapeuta-paciente a amostra relatou reported no dissatisfaction. For the location of the unit, the patients
inexistência de insatisfação. Quanto á localização da unidade, as showed negative responses. (63.3%) would recommend the service
gestantes apresentaram respostas negativas, porém 63,3% com for sure. We concluded that is high level of the satisfaction with the
certeza recomendaria o serviço. Pode-se concluir que é alto o received physical therapy, suggesting that, besides the improvement,
nível de satisfação perante o atendimento isioterapêutico recebido, a good therapist-patient relationship promotes physical well being
sugerindo, que uma boa relação terapeuta-paciente propicia bem and intervene positively in patient satisfaction in order to foster the
estar físico intervindo positivamente na satisfação das pacientes, development of treatment.
de modo a favorecer o desenvolvimento do tratamento. Key-words: pregnancy, satisfaction, physical therapy.
Palavras-chave: gestação, satisfação, isioterapia.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47 Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail:
gabi.bcampos@gmail.com

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196 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução Faz-se necessário avaliar a satisfação do usuário, pois pa-


cientes insatisfeitos apresentam menor adesão ao tratamento,
A gravidez vista como processo isiológico é compre- diicultando a melhora do quadro e possível sucesso do tra-
endida pela sequencia de adaptações ocorridas no corpo tamento. Apesar da prevalência dessas alterações isiológicas
da mulher a partir da fertilização, que são necessárias ao na gestação existem poucos dados que constatam a satisfação
desenvolvimento fetal [1]. Tais alterações ocorrem em todos das gestantes sobre a eicácia da atuação isioterapêutica
os sistemas corporais maternos, tais como o sistema genital, aplicada à fase gestacional, justiicando a valia de maiores
endócrino, tegumentar, urinário, hematológico, músculo- estudos sobre o tema. Acredita-se, assim, que o planejamento
-esquelético, gastrointestinal, respiratório, cardiovascular e e o redirecionamento das políticas públicas, particularmente
nas mamas [2]. daquelas relacionas à saúde, tenderão mais ao acerto quanto
Ao longo da história os benefícios de um estilo de vida mais estiverem justiicados pelo respeito às perspectivas e
mais ativo durante o período gestacional foram sendo reco- às necessidades dos usuários, as quais parecem passíveis de
nhecidos, despertando o interesse de muitos proissionais da detecção e análise.
área de saúde. Um grande número de gestantes tem procurado Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo geral
diversos meios para obtenção de uma gravidez mais segura e avaliar o grau de satisfação de gestantes usuárias do serviço de
saudável, visando o bem-estar próprio e do feto. A isioterapia Fisioterapia de uma maternidade pública. E como objetivos
aplicada à obstetrícia se encaixa nesse tipo de abordagem, pois especíicos traçar o peril sócio-demográico das gestantes
trabalha a qualidade de vida das mulheres em atividades pré e avaliadas e estabelecer quais os aspectos mais importantes
pós-natais, com condutas especíicas de suporte às gestantes que determinam a satisfação do paciente.
e puérperas [3]
 Na perspectiva de favorecer a qualidade de vida materno- Material e métodos
-fetal, de forma indiscriminada as gestantes de todas as classes
sociais e com níveis de renda distintos, o Sistema Único de Trata-se de um estudo transversal de natureza aplicada, que
Saúde (SUS) vem, de forma crescente, disponibilizando objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigido
serviços de atenção a Saúde da Mulher, destaque-se a obste- a solução de problemas especíicos; do tipo quantitativo, por
trícia. Atualmente, o SUS representa o maior empregador de traduzir em números, opiniões e informações para classiicá-
trabalhadores em saúde e pelo Ministério da Saúde, mais de -las e analisá-las, requerendo o uso de recursos e de técnicas
90% da população brasileira é usuária de alguma forma dos estatísticas; e descritivo exploratório tratamento dos dados
serviços de saúde do SUS [4]. através de técnicas estatísticas.
Entretanto, reconhece-se a baixa qualidade dos serviços Inicialmente, o projeto foi submetido à apreciação do
oferecidos em termos de equipamentos e proissionais, a au- Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual
sência de participação da população na formulação e gestão da Paraíba (UEPB), obtendo aprovação e parecer sob CAAE
das políticas de saúde e a falta de mecanismos de acompa- 0640.0.133.000-11, a partir da qual se deu inicio a pesquisa.
nhamento, controle e avaliação dos serviços. A inadequada A referida pesquisa foi realizada nas dependências do
qualidade de tais serviços repercute diretamente no nível de Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), localizado na
satisfação de seus quanto aos sistemas e serviços de saúde e cidade de Campina Grande/PB, em parceria com Programa de
políticas públicas [5]. Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), em 2011. O respon-
A satisfação está totalmente relacionada à qualidade téc- sável pelo local assinou o Termo de Autorização Institucional.
nica e relete na adesão e sucesso do tratamento. Pacientes A população selecionada para este estudo foi composta por
insatisfeitos oferecem menor adesão ao tratamento prestado. gestantes admitidas pelo serviço de pré-natal do ISEA, onde
Com relação ao domínio da saúde, satisfação entende-se as estas receberam os devidos esclarecimentos sobre a inalidade
reações do usuário de serviços de saúde aos aspectos do serviço e o trajeto metodológico que o estudo visava seguir.
recebido. Sendo assim, a satisfação é caracterizada como de A amostra foi do tipo não-probabilística e por acessibi-
natureza multidimensional uma vez que o mesmo sujeito lidade, composta por 30 gestantes admitidas no PRASM,
pode mostrar-se insatisfeito com alguns aspectos em torno que aceitaram participar da pesquisa e que se adequaram aos
do seu tratamento e, no entanto, mostrar-se extremamente critérios de inclusão e exclusão.
satisfeito com outros [6]. Foram adotados como critério de inclusão: gestantes
A avaliação da satisfação do usuário sobre a assistência admitidas no Programa no período da coleta de dados, sem
de saúde oferecida é um componente muito importante de restrições de qualquer caráter para a realização da avaliação,
ser avaliado, no que se refere à qualidade de atendimento que estivessem realizando ou realizado tratamento isiote-
recebido. A participação do usuário na avaliação da satisfação rapêutico na gestação no serviço anterior a avaliação, e que
relaciona-se à maior adequação na utilização dos serviços de aceitassem constituir a amostra. Foram adotados como critério
saúde, englobando tanto à estrutura, como com relação ao de exclusão: gestantes com estado clínico que direta ou indire-
processo do cuidado da saúde [7]. tamente diicultasse ou contra indicasse a avaliação proposta.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 197

Foi utilizado na coleta de dados, um questionário composto Analisando os dados obtidos foi possível observar o predo-
por questões objetivas, o “Questionário sobre a satisfação dos mínio das gestantes avaliadas na faixa etária da adolescência,
usuários com a Fisioterapia na rede pública de saúde” validado fato este preocupante pela falta de informação e orientação
por Moreira et al. [5]. O questionário contém 32 questões e sexual, imaturidade, falta de desejo pela gravidez, instabilidade
está dividido em 2 partes: uma descritiva, com 11 questões para emocional e inanceira, predominantes nesta fase. Corrobo-
caracterizar a amostra, e outra objetiva, para avaliar a satisfação rando com dados do Ministério da Saúde que mostram que
do usuário. Este está dividido em 6 dimensões: relação terapeuta- 408.400 partos foram realizados de janeiro a outubro de 2009
-paciente (16 questões), marcação de consulta (2), ambiente físico em mulheres na faixa de 10 a 19 anos de idade, o que tem
(8), acesso (2), e estrutura física (2) questões. Todas apresentavam chamado a atenção dos pesquisadores, proissionais da saúde
5 opções de respostas: péssimo, ruim, bom, ótimo e excelente. e poder público, uma vez que a gravidez na adolescência é
As 2 últimas questões objetivas avaliavam: se o usuário retornaria fator de risco para a mortalidade materno-fetal [4].
ao serviço e se ele o recomendaria. Também com 5 opções de De acordo com os resultados é possível veriicar que 43,3%
respostas: nunca, não, talvez, sim, e com certeza. Para analisar as da amostra ainda não tinha concluído o ensino fundamental,
respostas atribuiu-se valores a elas: péssimo/nunca valor 1, ruim/ 6,7% possuíam 1° grau completo, 23,3% 2° grau incompleto,
não 2, bom/talvez 3, ótimo/sim 4 e excelente/com certeza 5; e 23,3% 2° grau completo, e 3,3% apresentou ensino superior
atribuiu- se um descritor para a satisfação incompleto e nenhuma destas relatou possui ensino superior
As gestantes admitidas no PRASM que atenderam aos completo. Pode-se observar o baixo nível de escolaridade das
critérios de inclusão do presente estudo foram esclarecidas gestantes, o que possivelmente está relacionado ao fato da
quanto aos objetivos, importância e procedimentos da pesqui- faixa etária predominante ser a da adolescência, estando a
sa, e mediante aceitação foram solicitadas a assinar o Termo de maioria da amostra em fase escolar.
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo garantida O baixo nível de escolaridade é um dos fatores de risco
a participação voluntária, sem danos e prejuízos, o sigilo, para a gravidez na adolescência, com altas proporções de
anonimato e privacidade dos dados envolvidos na pesquisa. evasão e de abandono escolar. Tornou-se comum adolescentes
Em seguida, as gestantes que compuseram a amostra foram grávidas interromperem seus estudos, uma vez que a gravidez
avaliadas individualmente através do “Questionário sobre a funciona como uma passagem para a idade adulta, até os
satisfação dos usuários com a Fisioterapia na rede pública próprios familiares desencorajam a adolescente a continuar
de saúde”, com perguntas pertinentes ao objeto do estudo. na escola, justiicando esse índice relevante de baixo nível de
A coleta dos dados se deu na forma de entrevista, mediada escolaridade [8].
pelas pesquisadoras. No que se refere à renda familiar das entrevistadas, é pos-
Os dados foram analisados de forma estatística descritiva sível observar que 53,3% apresentou até 3 salários mínimos,
e inferencial, através do software Microsoft Oice Exel, sendo 36,7% 4 a 6 salários e 10% entre 7 e 10 salários mínimos,
adotado um valor de p<0,05 para signiicância estatística e demonstrando a baixa renda familiar da maioria da amostra.
rejeição da hipótese de nulidade. A análise quantitativa dos Estes dados que descrevem o peril epidemiológico mostra-
dados foi realizada através de variáveis categóricas e numéricas, ram-se semelhantes com estudos realizados anteriormente no
distribuídas por meio de frequência absoluta e relativa, e os que se refere à média de idade, e predominância de baixos
valores obtidos expressos em frequência e percentil, dispostas níveis de escolaridade e de renda familiar [5,9]. Concordando
por meio de gráicos e tabelas. com Suda et al. [10] em que 49% das entrevistadas apresen-
Os pesquisadores assumiram a responsabilidade, em todas tavam o primeiro grau incompleto e 77% da renda familiar
as etapas da pesquisa, em cumprir as diretrizes da Resolução era de até três salários mínimos.
nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – CNS e suas O baixo nível socioeconômico pode inluenciar de forma
Complementares, outorgada pelo Decreto nº. 93833, de 24 positiva no índice de satisfação de gestantes em relação aos
de janeiro de 1987. atendimentos dos serviços de saúde, uma vez que devido à es-
cassez de recursos inanceiros, a população dessa faixa não tem
Resultados e Discussão outras oportunidades ou alternativas. Dessa forma qualquer
oportunidade que surja que possivelmente lhe propicie aten-
O presente estudo apresenta resultados que ressaltam a ção e cuidado de saúde é recebido com muita satisfação [11].
caracterização da amostra em estudo, bem como a avaliação Em relação à primeira experiência com a isioterapia,
do grau de satisfação de gestantes usuárias do serviço de 76,7% das gestantes referiram nunca ter realizado tratamento
isioterapia. isioterapêutico prévio, enquanto que 23,3% airmaram não
Os dados referentes à distribuição etária das gestantes ter sido o primeiro contato o proissional e os procedimentos
avaliadas apresentou uma amostra composta por 30 gestantes (Figura 1).
com variação de faixa etária entre 12 e 36 anos, distribuída Os dados sugerem que a maioria da amostra teve sua pri-
em intervalos de 3 anos, sendo possível observar maior por- meira experiência com a isioterapia no tratamento durante a
centagem entre 15, 17, 35 anos (56,7%). gestação, agora realizado no serviço, o que pode ser justiicado

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


198 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

pelo fato de que embora a proissão de isioterapeuta não seja avaliadas, no que se refere à sensação de segurança transmitida
relativamente nova, muitos ainda não conhecem o papel da pelo isioterapeuta na realização de suas condutas terapêuticas.
isioterapia e sua de atuação. Dado este bastante relevante para a credibilidade transmiti-
A isioterapia vem crescendo muito desde o seu reconheci- da pelos proissionais da área aos pacientes, destaque-se em
mento pelo Decreto – lei 938/69, atualmente, o isioterapeuta obstetrícia, possivelmente devido ao domínio teórico-prático
vem ampliando sua área de atuação. Mas apesar do isiote- dos procedimentos e adequada condução dos casos clínicos,
rapeuta ser reconhecido como proissional indispensável na de modo a favorecer o processo de evolução do tratamento.
área da saúde, este ainda é visto, muitas vezes, como tratador/ Nesta perspectiva, os estudos de Monnin et al. [14]
reabilitador [12]. demonstram a importância dos resultados obtidos, ao veri-
icarem que o item “sensação de segurança” deve ser levado
Figura 1 - Primeira experiência com a isioterapia. em conta, no processo de avaliação do grau de satisfação
90% no atendimento, pois quando o paciente sente-se seguro
80% 76,7%
com atendimento recebido as chances de cura e reabilitação
70%
aumentam notoriamente, ou seja, quando o proissional em
60%
50% suas técnicas relete segurança, o usuário automaticamente
Amostra (%)

40% doa-se de fato ao tratamento proporcionando ao mesmo,


30% 23,3% resultados satisfatórios.
20% Quanto ao esclarecimento de dúvidas pelo isioterapeu-
10%
0%
ta a metade dos pacientes (50,0%) considerou excelente,
Sim Não 43,3% ótimo, 6,7% bom, também não houve negatividade
Esperiência diante das explicações e informações fornecidas aos usuários,
portanto não existiram as respostas ruins e péssimas. Pode-se
Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.
constatar que as usuárias do serviço público de isioterapia
na unidade avaliada estão satisfeitas perante a atenção do
A média de sessões isioterapêuticas realizadas pelas ges- isioterapeuta ao atender suas dúvidas e prestar-lhes es-
tantes entrevistadas foi de 4 sessões ± 1,5. Apesar de ser uma clarecimentos clínico e terapêutico. Os dados reletem tal
quantidade relativamente baixa de sessões, em fase inicial de satisfação possivelmente devido a diiculdade de acesso do
tratamento, foi possível questionar a avaliação do usuário, usuário a informações pertinentes ao tratamento realizado
pois nesse contato ele já estabeleceu toda a dimensão quanto em serviços públicos de saúde, mesmo sendo este um direito
à relação terapeuta-paciente além de analisar a qualidade do de todo e qualquer cidadão.
atendimento e acessibilidade do serviço de saúde. Beattie et al. [15] observaram, em um estudo anterior,
Ao comparar com outros estudos esses dados mostram-se corroborando com os resultados atuais, que a satisfação do
inferiores, pois foram encontrados com médias de 15 sessões paciente está relacionada com o grau com que o isioterapeuta
em estudos precedentes. Podendo sugestionar outros resul- responde às perguntas do paciente, fornece informações e se
tados satisfatórios ou não [5,9]. mostra respeitoso, revelando mais uma vez a importância da
Em se tratando da satisfação dos usuários quanto à clare- interação entre o terapeuta e o paciente.
za das explicações prestadas pelo isioterapeuta no primeiro Quando questionadas quanto a habilidade do isiotera-
contato as entrevistadas relataram que foram 43,3% ótimo, peuta durante o tratamento, os resultados mostram que 46,7
33,3% excelente, 23,3% bom. Pode-se identiicar um elevado % das gestantes avaliadas avaliam como excelente, 33,3%
grau de satisfação das gestantes no primeiro contato, onde é como ótimo e 20% como boa no serviço. Nesta perspectiva,
papel do isioterapeuta fornecer orientações antes da conduta Gouveia et. al [16], garante que é importante ter domínio
ser realizada de forma clara, de fácil entendimento para assim não apenas do “que” é feito, mas também “como” o mesmo
manter a assiduidade do paciente e resultados esperados. o serviço é realizado, o proissional deve ter habilidade e
Estudos mencionam que o conhecimento prévio que o segurança ao realizar o atendimento, assim o cliente aceitará
cliente possui acerca do serviço tem um efeito mediador na qualquer procedimento coniante. Havendo equilíbrio entre
formação das expectativas, aproximando os níveis de desem- estes dois elementos é que possibilitaria proporcionar satis-
penho esperado e percebido e, portanto, exercendo inluência fação aos clientes.
direta nos níveis de satisfação [13]. No que se refere à satisfação dos usuários quanto à loca-
Em relação à satisfação mediante a segurança demons- lização conveniente da unidade de saúde 30,0% analisaram
trada pelo isioterapeuta em exercício durante o tratamento como bom, 23,3% excelente, 20,0% ótimo, 20,0% ruim e
realizado pelas gestantes, 46,7% airmaram apresentar nível 6,7% péssimo, sendo um número de insatisfação considerável
excelente, semelhantemente 46,7% da amostra em estudo comparando as outras questões previamente avaliadas. Dos
descreveram este como ótimo, e os outros 6,7% como bom. entrevistados que analisaram a localização inconveniente
Nota-se o predomínio do alto nível de satisfação das gestantes houve aqueles que verbalizaram relatando difícil acesso, e

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 199

insatisfação perante o transporte para o serviço, ressaltou-se no serviço, com o intuito de readequá-lo as necessidades das
o tempo que era empregado para se deslocar até a unidade pacientes.
de saúde, os problemas com o transporte, como atraso e a Através dos resultados obtidos observou-se que os usu-
superlotação por ser o transporte coletivo o mais utilizado, ários apresentaram-se satisfeitos perante o atendimento
também indagaram a ausência do atendimento isioterapêu- isioterapêutico recebido, no que se diz respeito aos recursos
tico próximo as suas residências. humanos onde se enquadrou: a quantidade de sessões reali-
Contrapondo com Trad et al. [17] que em uma das suas zadas, a clareza das explicações, esclarecimento de dúvidas,
pesquisas constatou que os participantes relataram que a loca- a coniança nas orientações, e à habilidade do isioterapeuta,
lização das Unidades de Saúde da Família eram de fácil acesso, nesses aspectos todas as participantes relataram a inexistência
no bairro em que residem, na maior parte dos municípios de fatos geradores de insatisfação.
avaliados, e estes mostraram-se mais satisfeitos e tranquilos Já em relação ao quesito localização conveniente da
com a localização próximo as suas residências, tornando assim unidade de saúde recebeu respostas negativas sendo assim
mais fácil o acesso com os proissionais de saúde. Portanto considerados eventos insatisfatórios.
é considerado um fato relevante associado à satisfação dos Portanto, conclui-se ao inal deste estudo, um alto nível de
usuários que necessitam de um acompanhamento neste caso satisfação dos entrevistados, provando que além da melhoria
as gestantes. consequente do tratamento, uma boa relação terapeuta-pa-
Ao serem questionadas se as mesmas recomendariam esse ciente em sua amplitude propicia bem estar físico e intervém
serviço de saúde a outras gestantes, a resposta foi satisfatória, positivamente na satisfação dos pacientes.
onde 63,3 % das entrevistadas responderam que com certeza
indicariam e 36,7% que sim (Figura 2). Referências
Dessa forma, baseado nos resultados, pode-se sugerir que
as usuárias avaliadas possivelmente apresentam-se satisfeitas 1. De Conti M, Calderon I, Consonni E, Predel T, Dalbem I,
com o serviço prestado no setor de isioterapia da unidade Rudge M. Efeitos de técnicas isioterápicas sobre os desconfortos
pública no qual estão inseridas, uma vez que a indicação ou músculo esqueléticos da gestação. Rev Bras Ginecol Obstetr
2003;25(9).
recomendação de um serviço está diretamente relacionada
2. Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia
com o grau de satisfação com o que disponibilizado para o
e aspectos de mastologia. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara
indivíduo enquanto usuário, bem como com a qualidade do Koogan; 2007.
que é oferecido. 3. Zucco F, Barreto SJ. Fisioterapia na gravidez de risco.
Dados de acordo com Beattie et al. [15] em um estudo Fisio&Terapia 2001;6(29).
prévio, que comprovou que os usuários entrevistados reco- 4. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência
mendariam a outras pessoas que carecessem o tratamento humanizada à mulher. Brasília; 2009.
recebido, sendo a interação terapeuta-paciente e a qualidade 5. Moreira FM, Borba JAM, Mendonça KMPP. Instrumento para
no atendimento prestado os quesitos mais relacionados com aferir a satisfação do paciente com a assistência isioterapêutica
a satisfação do paciente avaliado. na rede pública de saúde. Fisioter Pesq 2007;14(3):37-43.
6. Goldstein MS, Elliott SD, Guccione AA. he development of
an instrument to measure satisfaction with physical therapy.
Figura 2 - Resposta dos entrevistados sobre recomendação deste Phys her 2000;80(9):853-63.
serviço. 7. Donabedian, A. he seven pillars of quality. Arch Pathol Lab
70% Med 1990;114(11):1115-8.
63,3%
60% 8. Carniel EF, Zanolli ML, Almeida CAA, Morcillo AM. Caracte-
50% rísticas das mães adolescentes e seus RN e fatores de risco para
Amostra (%)

40% 36,7% a gravidez na adolescência em Campinas, SP, Brasil. Rev Brás


Saúde Matern Infant 2006;6(4):419-26.
30%
9. Mendonça KMPP. Satisfação do paciente com a Fisioterapia:
20% tradução, adequação cultural e validação de um instrumento.
10% [Dissertação]. Natal: Programa de Pós Graduação em Ciências da
0,0% 0,0% 0,0%
0% Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; 2004.
Com Sim Talvez Não Nunca 10. Suda EY, Uemura MD, Velasco E. Avaliação da satisfação dos
certeza
Esperiência pacientes atendidos em uma clínica-escola de Fisioterapia de
Santo André, SP. Fisioter Pesqui 2009;16(2):126-31.
Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.
11. Oliveira D, Arieta C, Temporini E, Kara-José N. Quality of
health care: patient satisfaction in a university hospital. Arq
Conclusão Bras Oftalmol 2006;69(5):731-6.
12. Mendes EC, Morais MIDM. O Papel do Fisioterapeuta em Saú-
O instrumento para avaliar satisfação do paciente possi- de Pública no Século XXI – Uma Abordagem em Parasitologia.
In: Barros FBM, ed. O Fisioterapeuta na Saúde da População:
bilitou medir e comparar a satisfação dos usuários atendidos
Atuação Transformadora. Rio de Janeiro: Fisiobrasil 2002

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


200 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

13. Uchimura KY, Bosi MLM. Qualidade e subjetividade na ava- 16. Gouveia GC, Souza WV, Luna CF, Souza-Júnior PRB, Szwar-
liação de programas e serviços em saúde. Cad Saúde Pública cwald CL. Satisfação dos usuários do sistema de saúde brasileiro:
2002;18(6):1561-9. fatores associados e diferenças regionais. Rev Bras Epidemiol
14. Monnin D, Perneger TV. Scale to measure patient satisfaction 2009;12(3):281-96.
with physical therapy. Phys her 2002;82(7):682-91. 17. Trad LAB, Bastos ACS, Santana EM, Nunes MO. Estudo
15. Beattie PF, Pinto MB, Nelson MK, Nelson R. Patient satisfaction etnográico da satisfação do usuário do Programa de Saúde da
with outpatient physical therapy: Instrument validation. Phys Família (PSF) na Bahia. Cienc Saude Coletiva 2002;7(3):581-9.
her 2002;82:557-65.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 201

Artigo 37

Avaliação da qualidade de vida e dos sintomas de


depressão em mulheres com incontinência urinária
Evaluation of quality of life and symptoms of depression
in women with urinary incontinence
Clécio Gabriel de Souza*, Isabelle Eunice de Albuquerque Pontes**, Karolinne Souza Monteiro***,
Maria do Carmo Pinto Lima**, Maíra Creusa Farias Belo****, José Roberto da Silva Júnior*****,
Maria de Lourdes Fernandes Oliveira******

*Fisioterapeuta, Mestrando em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Professor de Fisioterapia em
Saúde da Mulher na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. **Fisioterapeuta, Mestranda em Saúde Materno Infantil pelo
Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), ***Fisioterapeuta, Especialização em Fisioterapia Intensiva (Facul-
dades Maurício de Nassau), Campina Grande, Professora de Saúde da Criança na Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
****Fisioterapeuta, Especialização em Fisioterapia em Urologia e Obstetrícia pela Faculdade Maurício de Nassau (Recife), Professora
de Fisioterapia na Saúde da Mulher da Universidade Estadual da Paraíba, *****Fisioterapeuta, Doutorando em Saúde Materno
Infantil pelo Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), Professor tutor da pós-graduação stricto sensu em Saúde
Materno Infantil do IMIP e Professor da Faculdade IBGM (Recife/PE), ******Fisioterapeuta, Professora das disciplinas de Fisiotera-
pia na Saúde da Mulher e Reabilitação do Assoalho Pélvico da Universidade Estadual da Paraíba

Resumo Abstract
Introdução: A incontinência urinária é a queixa de qualquer Introduction: Urinary incontinence is any loss of urine reported
perda involuntária de urina. É uma condição que afeta a população by the patient. It is a condition that afects the worldwide popula-
mundial, principalmente feminina, levando a implicações na vida tion, mainly the female sex, leading to several implications in social,
social, ocupacional, doméstica e sexual. Objetivo: Avaliar a repercus- occupational, domestic and sexual life. Objective: To assess the
são da incontinência urinária na qualidade de vida de usuárias de impact of urinary incontinence on quality of life of user of a uro-
um serviço de uroginecologia. Métodos: Participaram do estudo 14 gynecology service. Methods: he sample was formed by 14 women,
mulheres, idade média de 64,14 ± 13,57 anos, atendidas no serviço 64.14 ± 13.57 years old, treated at the service of urogynecology
de uroginecologia da Clínica Escola de Fisioterapia da UEPB. As vo- of Clínica Escola de Fisioterapia of UEPB. he volunteers were
luntárias foram submetidas a uma anamnese, responderam o “King’s submitted to an anamnesis and answered the KHQ that approach
Health Questionnaire”, que aborda as principais temáticas da vida life’s areas afected by the incontinence and the Beck Depression
feminina afetadas pela incontinência e o Inventário de Depressão Inventory. Results: he predominant symptoms were: frequency,
de Beck. Resultados: Os sintomas predominantes foram frequência, urgency, urgeincontinence and loss of urine on exertion. According
urgência, urgeincontinência e perda aos esforços. Analisando os to the analysis of KHQ domains, the general perception of health
domínios do KHQ, a percepção geral da saúde e o impacto da in- and the impact of incontinence stand out when compared to others
continência sobressaem-se quando comparado aos outros aspectos aspects of women’s life. he average of Beck Inventory was 7,7 ±
da vida da mulher. A média do Inventário de Beck foi de 7,7± 5,2, 5,2, wich does not indicate depression. Conclusion: he percep-
não indicando depressão. Conclusão: A percepção que a mulher tem tion that women have about their general health and the impact
sobre seu estado geral e o impacto da incontinência na sua saúde of incontinence on health reveal the negative impact of UI on the
revela uma inluência negativa da IU sobre a qualidade de vida das quality of life of the women studied, although no igures have been
mulheres estudadas, embora não tenham sido encontrados valores found referring to depression.
que remetam à depressão. Key-words: quality of life, woman, urinary incontinence.
Palavras-chave: qualidade de vida, saúde da mulher,
incontinência urinária.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


202 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução um alto índice de depressão [18]. A IU afeta o psicológico


feminino, levando à perda da autoestima, o que pode causar
De acordo com a Sociedade Internacional de Continência a temida depressão. Mais que a frequência ou a extensão da
(ICS), deine-se incontinência urinária (IU) como sendo a IU, o fato de ser incontinente se relete de forma mais negativa
queixa de qualquer perda involuntária de urina [1]. Quando sobre a qualidade de vida [20].
essa perda acontece ao tossir, espirrar, pular, gargalhar ou dian- Um estudo de análise secundária de dados mostrou que
te de qualquer esforço que provoque um aumento da pressão mulheres com IU tem sua rotina diária alterada e o sono
intra-abdominal, caracteriza-se a incontinência urinária de perturbado em função das limitações físicas e psicológicas
esforço (IUE). A urgeincontinência é o tipo de IU que vem impostas por esse distúrbio, gerando indisposição e afetando
acompanhada com a urgência em urinar. Há também a IU diretamente em seu estilo de vida [17]. Isso gera uma série
mista, que apresenta uma combinação de sinais e sintomas de custos no cuidado com a saúde, tanto ao indivíduo e sua
dos dois tipos anteriores [2]. família quanto ao sistema público de saúde.
Existem inúmeros fatores de risco para o desenvolvimento Atualmente dois terços dos gastos relacionados à IU
da IU, dentre os principais estão idade avançada, sexo femini- estão associados à população idosa, sendo que o custo total
no, diabetes mellitus, multiparidade, parto por via vaginal e tende a aumentar com o aumento da proporção de idosos na
tabagismo [3]. Nesse contexto, destaca-se o avançar da idade, população [16], conigurando-se assim como um problema
haja vista que a instalação da IU não é regra para o envelhe- de saúde pública, fato que requer atenção especializada dos
cimento, entretanto a prevalência desse problema aumenta proissionais de saúde e da gestão pública [1].
com a idade, devido ao declínio das funções isiológicas desse O estigma da IU associado à falta de atenção proissional
processo e a hipotroia muscular ou substituição das ibras adequada em relação às opções de intervenção resultam em
musculares por adipócitos [4]. um tratamento deiciente, o que leva a graves consequências,
Além disso, o envelhecimento traz para a mulher uma interferindo diretamente na qualidade de vida dessa popula-
espécie de falência hormonal, resultando em hipoestrogenis- ção [5]. Com isso, a ICS tem recomendado que medidas de
mo, o que prejudica a coaptação da mucosa uretral, levando avaliação da qualidade de vida sejam levadas em consideração,
à atroia da mesma e redução da vascularização local [5,6]. por constituir uma forma complementar das medidas clíni-
A perda involuntária de urina é uma situação desagradável cas [15]. Avaliar as alterações no estilo de vida serve como
e estressante que pode afetar 50% das mulheres em alguma parâmetro para direcionar os procedimentos ideais a serem
fase da vida, sendo que em mulheres acima de 60 anos, essa adotados para cada indivíduo de forma especíica, guiando
chance sobe para 60% [9]. uma intervenção multidimensional [9]. Auxilia também, na
No Brasil, a IU não é bem descrita. Sabe-se que de 15 busca de alternativas concretas para o entendimento da IU
a 30% das mulheres de qualquer idade podem ser afetadas em uma equipe multidisciplinar [15].
[10]. Um estudo com dados ainda incipientes da população Levando-se em consideração a alta incidência e prevalência
brasileira estimou uma prevalência de mulheres com IU de da IU na população, principalmente entre os idosos e com
30 a 43%, sendo a IUE o tipo mais prevalente [11]. Há os impactos que esse acometimento tem sobre a qualidade
evidências de que 26% das mulheres no período reproduti- de vida dos indivíduos, atentando para a necessidade de uma
vo apresentam perda urinária, elevando-se para 40% após a abordagem criteriosa e multidisciplinar no tratamento dessa
menopausa. Contudo, esse valor pode variar por não haver disfunção, este estudo objetivou avaliar a repercussão da IU
uma padronização quanto ao volume e à frequência dessa na qualidade de vida de usuárias do serviço de uroginecologia
perda urinária [2]. de uma Clínica Escola de Fisioterapia.
Dados revelam que cerca de 60% das mulheres com IU
não procuram auxílio médico, a maioria delas julgam o pro- Material e métodos
blema como parte do processo natural do envelhecimento,
além disso, tal situação é encarada como constrangedora por Trata-se de um estudo de corte transversal de caráter
aquelas que apresentam a perda urinária [1]. descritivo e exploratório, realizado na Clínica Escola de Fi-
Dessa forma, está estabelecido que a IU afeta negativamen- sioterapia da UEPB, no período compreendido entre agosto
te a qualidade de vida, resultando em problemas psicológicos, e outubro de 2011. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê
sociais, físicos, econômicos, de relacionamento pessoal e sexu- de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba
al, podendo afetar não somente a autoestima como também (UEPB), através do protocolo de nº: 0330.0.133.000-11 e
resultar em isolamento social e depressão [15]. todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento
A IU causa sentimentos de baixa da autoestima na mu- Livre e Esclarecido (TCLE), atendendo aos critérios éticos
lher e interfere na sua vida sexual, diiculta a sociabilização, da pesquisa.
prejudica nas atividades habituais em casa ou no trabalho. Foram incluídas no estudo 14 mulheres com diagnóstico
Pode também levar a problemas econômicos por impedir clínico de incontinência urinária. A amostra foi do tipo não-
ou diicultar o trabalho remunerado fora de casa, levando a -probabilística por conveniência. Foram adotados os seguintes

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 203

critérios de inclusão: idade entre 40 e 80 anos; usuária da Clínica das mulheres apresentaram ensino fundamental completo ou
Escola do setor de Uroginecologia submetida a tratamento isio- incompleto, a maioria era casada (71,6%) e de raça branca
terapêutico; diagnóstico clínico de qualquer tipo de IU. Foram (57,2%).
excluídas da pesquisa usuárias que se recusassem a participar da A Tabela I apresenta o peril clínico da amostra, onde traz
pesquisa ou que não atendessem aos critérios de elegibilidade. o tempo de apresentação da disfunção, a classiicação da IU
Inicialmente as participantes foram informadas sobre e o tipo de parto das mulheres do estudo. Mostra ainda, de
os objetivos da pesquisa e garantia de sigilo, em seguida foi acordo com o KHQ, a distribuição dos sintomas para IU.
preenchido um formulário versando questões sobre os as-
pectos sócio-demográicos e clínicos das pacientes, contendo Tabela I - Características clínicas das mulheres com diagnóstico de
as seguintes variáveis: idade, raça, estado civil, escolaridade, IU atendidas na Clínica Escola de Fisioterapia – UEPB.
ocupação, tabagismo, alcoolismo, índice de massa corpórea Variável N %
(IMC), início da apresentação dos sintomas, classiicação da Início da apresentação da IU
incontinência (diagnóstico clínico e cinético-funcional), uso 3-6 meses 1 7,2%
de protetores (quantidade - dia/noite) e histórico obstétrico 7-12 meses 1 7,2%
como número e tipo de partos. >13 meses 12 85,6%
Em seguida, foi aplicado o King’s Health Questionnaire Classiicação da IU
(KHQ). Trata-se de um questionário especíico para avaliação IUE 5 35,7%
da qualidade de vida de mulheres com IU, validado para o Urgeincontinência 4 28,6%
português, qu contém propriedades psicométricas. O KHQ IU mista 5 35,7%
é composto por 21 questões, divididas em 8 domínios: (1) IMC
percepção geral de saúde (1 item), (2) impacto da inconti- Normal 2 14,2%
nência urinária (1 item), (3) limitações de atividades diárias Sobrepeso 10 71,6%
(2 itens), (4) limitações físicas (2 itens), (5) limitações sociais Obesidade grau I 2 14,2%
(2 itens), (6) relacionamento pessoal (3 itens), (7) emoções Tipo de parto
(3 itens), (8) sono/disposição (2 itens) [15]. Vaginal 9 64,4%
Além destes domínios, existem duas outras escalas inde- Cesariana 1 7,2%
pendentes: a primeira avalia a gravidade da IU (medidas de Vaginal e cesariana 2 14,2%
gravidade) e a segunda, a presença e intensidade dos sintomas Nenhum 2 14,2%
urinários (escala de sintomas urinários). Este instrumento é Legenda: IU = Incontinência urinária; IUE = Incontinência Urinária de
pontuado pelos seus domínios individualmente, não havendo, Esforço; IMC: normal (entre 18,5 e 24,9 kg/m2); sobrepeso (25-29,9
portanto, escore geral. Os escores variam de 0 a 100 e quanto kg/m2); Obesidade grau I (30-34,9 kg/m2).
maior a pontuação obtida, maior é o impacto negativo sobre
a qualidade de vida relacionada àquele domínio. A Tabela II apresenta os valores médios dos escores obti-
Por último, foi aplicado o Inventário de depressão de dos para os domínios da KHQ individualmente. A média de
Beck, que apesar de não ser especíico para IU é um dos mais valores obtida a partir do Inventário de Depressão de Beck
utilizados para a identiicação do quadro depressivo. Este foi de 7,7 ± 5,2.
instrumento possui 21 categorias de sintomas e atividades,
com quatro opções cada, em ordem crescente do nível de Tabela II - Valores dos escores obtidos para os domínios do King’s
depressão e apresentando a seguinte classiicação: 0 a 11 – Health Questionnaire (média – DP).
mínima, 12 a 19 – leve, 20 a 35 – moderada, 36 a 63 – grave, Domínios do KHQ Média DP
sendo a depressão considerada importante a partir do nível Percepção geral de saúde 42,8 18,1
leve. Essa escala é bem utilizada na literatura e já foi validada Impacto da incontinência urinária 35,6 30,5
no Brasil [24]. Limitações de atividades diárias 7,1 6,5
Assim como o KHQ, o Inventário de Beck foi aplicado Limitações físicas 14,2 7,1
na forma de entrevista para garantir homogeneidade nas res- Limitações sociais 6,3 5,2
postas [25]. Os dados foram expressos em frequência relativa Relacionamento pessoal 6,6 4,8
e absoluta para as variáveis categóricas. Foi utilizada média e Emoções 21,4 19,3
desvio padrão para as variáveis numéricas, através do software Sono/disposição 10,6 6,8
Graph Pad Prism 4.0. Medida de gravidade 22,8 17,1

Resultados Discussão

A amostra do estudo apresentou média de idade de 64,14 Com relação à idade, os dados do presente estudo corro-
± 13,57 anos. Quanto aos aspectos sóciodemográicos, 57,2% boram com outro trabalho que mostrou em seus resultados

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204 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

média de idade acima dos 59 anos entre as mulheres com IU e nas relações pessoais, a maioria das mulheres relatou não
[3]. Isto decorre do processo de envelhecimento, em que a afetar ou ter a vida pouco comprometida pela disfunção [1].
força de contração do músculo detrusor, a capacidade vesical e O impacto que a incontinência causa na vida social, pro-
habilidade de adiar a micção encontram-se diminuídas. Além voca restrições quanto à ação de frequentar lugares públicos,
do que é comum observar a diminuição das ibras colágenas, viajar, dormir fora de casa e até mesmo fazer visitas aos amigos.
a substituição de tecido muscular por tecido adiposo e a Isto está relacionado ao fato de as mulheres evitarem sair de
diminuição de estrógeno, hormônio este que é responsável casa, pois além de icarem constrangidas e com medo do
pela coaptação da mucosa uretral [3,6]. odor que a urina pode causar, sentem-se inseguras quando
A escolaridade da maior parte da amostra concentrou-se cogitam a possibilidade de não ter disponível local adequado
entre o ensino fundamental completo ou incompleto e há para realizar a micçãol [32].
evidências de que a baixa escolaridade é considerada um fator Esses problemas não foram relatados de forma relevante
de risco para o desenvolvimento da IU [26]. Quanto à raça, a no presente estudo, acredita-se que o escore reduzido para
maior parte da amostra foi composta por mulheres brancas. É este domínio deve-se ao tratamento isioterapêutico oferecido
provável que existam diferenças anatômicas ou na resistência as participantes da pesquisa pelo serviço onde foi realizado o
uretral e nas estruturas de suporte do assoalho pélvico que estudo. Essa hipótese apoia-se nos resultados de um estudo
causem essa diferença entre brancas e negras [12,27]. que objetivou avaliar a qualidade de vida em mulheres após
Quanto ao início da apresentação dos sintomas, 85,6% tratamento da incontinência urinária de esforço com isiote-
das mulheres tiveram os primeiros indícios de IU há mais de rapia, obtendo melhora signiicativa para as atividades sociais
um ano, fato esse que também ocorreu em outro estudo, no associadas ao tratamento [31].
qual o tempo variou de 1 a 23 anos [28]. Esse achado revela a Quando considerado o domínio das emoções, a pesquisa
diiculdade das mulheres com IU em relação ao acesso à infor- apresentou um escore negativo relevante. Pode-se perceber
mação sobre o assunto e até mesmo atendimento proissional que a qualidade de vida com relação a este aspecto é conside-
especializado, e esse tempo de acometimento é diretamente ravelmente afetada, quando comparada aos demais avaliados,
proporcional ao desgaste físico e psíquico. conforme relatado em estudo anterior [15].
Observou-se que a maioria da amostra apresentou so- Quanto às medidas de proteção e higiene relacionadas a
brepeso. Existem indícios de que a IU é uma situação que se severidade da IU (uso de forros ou absorventes e troca de rou-
associa com o grau de obesidade. Um estudo mostrou que pas), veriicou-se que as mulheres referiram uma diminuição
30,7% das mulheres com sobrepeso, referiram IU, assim como da qualidade de vida quando necessitavam fazer uso dessas
37,5% das que tinham obesidade grau I, devido ao aumento desses artifícios. No estudo citado anteriormente, encontrou-
da sobrecarga sobre o assoalho pélvico [29]. -se resultado semelhante, sendo a qualidade de vida pior em
Estudos sugerem que quanto maior o número de partos, mulheres que utilizavam absorventes e forros [15].
maior o risco de desenvolver IU [4,26]. O tipo de parto Infere-se, dessa forma, que o impacto sobre o estilo de vida
também interfere neste processo e o parto vaginal pode estar varia muito entre as mulheres, visto que o desvio-padrão das
associado a um aumento do número de casos de IU, apesar médias dos escores avaliados manteve-se elevado em todos
de não poder ser considerado isoladamente como um fator de os domínios, fato semelhante ao que aconteceu em uma pes-
risco, mas quando relacionado a traumas e lesões do assoalho quisa que avaliou também a qualidade de vida em mulheres
pélvico [30]. com IU [31], sugerindo o caráter subjetivo da avaliação da
Com relação aos sintomas urinários, as mulheres que qualidade de vida.
apresentam sintomas de urgeincontinência tornam-se inca- Com relação ao quadro depressivo, ao aplicar o Inventário
pazes de exercer o controle sobre a micção; já um sintoma de Depressão de Beck, não foram encontrados valores que
como a noctúria, apesar de presente não afeta tanto a vida indicassem depressão, justiicado pelo fato de o questionário
da população [15]. ser inespecíico para o problema ou por expressar níveis de
Quando avaliada a percepção geral da saúde através da depressão e não de ansiedade e nervosismo, sendo estes últi-
KHQ, foi veriicado um maior escore, demonstrando o déicit mos mais comuns na mulher incontinente.
de satisfação com a saúde das mulheres com IU no momento Quanto as limitações do estudo, apesar das variadas
da avaliação e estando de acordo com pesquisas anteriores. repercussões sobre qualidade de vida das mulheres com IU,
Outro resultado notório é o impacto da IU, onde revela que envolvendo alterações físicas, econômicas e psicossociais e
a disfunção afeta diretamente a qualidade de vida da pacien- que interferem no dia-a-dia, nos âmbitos social, proissio-
te. Esses resultados concordam com estudo semelhante que nal, sexual e familiar, no presente estudo estas airmações
também avaliou a qualidade de vida de mulheres com IU [1]. apresentam-se restritas, assim como a conclusão deinitiva
A avaliação dos domínios especíicos de qualidade de vida, acerca da qualidade de vida dessa população, já que a pesquisa
segundo o KHQ, permitiu observar uma variação de resultados teve um caráter transversal e descritivo. Além de constituir
nos diversos aspectos avaliados. Em relação à interferência dos uma amostra reduzida, fazendo com que os dados expressem
sintomas da IU nas atividades da vida diária, atividades sociais resultados incipientes.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 205

Conclusão 15. Tamanini JTN, Dambros M, D’ancona CAL, Palma PCR,


Netto Jr NR. Validação para o português do “International
Nesse estudo, a IU apresentou inluência negativa sobre a Consultation on Incontinence Questionnarie – Short Form”
(ICIQ-SF). Rev Saúde Pública 2004;38:38-44.
qualidade de vida das mulheres, com destaque para a percep-
16. Marinho AR, Leal BB, Flister JS, Bernardes NO, Rett MT.
ção geral de saúde e o impacto da IU como fatores relevantes Incontinência urinária feminina e fatores de risco. Fisioter Bras
para a amostra estudada, apesar da subjetividade encontrada 2006;7:301-6.
em torno do tema. Quanto à avaliação de depressão não foi 17. Caetano AS. Proposta de atividades físicas para mulheres com
expresso resultado que indicasse alerta acerca da instalação incontinência urinária de esforço. Rev Digital 2004;76:28-36.
clínica da depressão. 18. Lopes MH, Higa R. Restrições causadas pela continência uri-
Sugere-se que novos estudos sejam realizados com uma nária na vida da mulher. Rev Esc Enferm USP 2006;40:34-41.
amostra mais homogênea e robusta e que seja feita a compa- 19. Simonetti R, Truzzi JC, Bruschini H, Glashan R. Incontinência
ração entre grupos diferentes submetidos e não submetidos a urinária em idosos: impacto social e tratamento. A Terceira
tratamento isioterapêutico, a im de se estabelecer a concreta Idade 2001;12:53-69.
20. Grosse D, Sengler J. Reeducação perineal. São Paulo: Manole;
importância desse tratamento.
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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


206 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 38

Inluência de um protocolo de exercícios


cinesioterapêuticos sobre a qualidade do sono de
mulheres grávidas: ensaio clínico randomizado
controlado
Inluence of an exercise protocol on sleep quality in pregnant women:
randomized controlled trial
Silvia Oliveira Ribeiro, Acd*, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Ft., M.Sc..**, Dayse Aleixo Bezerra, Ft.***,
Bárbara Emmily Cavalcanti Vale, Acd****, Gabriele Natane de Medeiros Cirne, Acd****,
Elizabel de Souza Ramalho Viana, Ft., D.Sc.*****

*Aluna de Iniciação Cientíica do Curso de Fisioterapia da UFRN, **Professora Assistente do Curso de Fisioterapia da Universida-
de Federal do Rio Grande do Norte/ Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (UFRN/FACISA), ***Fisioterapeuta do Centro de
Reabilitação Infantil, Natal/RN, ****Acadêmicas do curso de Fisioterapia da UFRN/FACISA, *****Professora Adjunta do Departa-
mento de Fisioterapia da UFRN

Resumo Abstract
Introdução: A gravidez é um período em que o corpo da mulher Introduction: Pregnancy is a period in which the woman’s body
passa transformações as quais podem inluenciar na qualidade do is transformed which can inluence the quality of sleep during
sono durante a gestação. O exercício físico parece beneiciar a mulher pregnancy. Exercise seems to beneit pregnant women, promoting
grávida, promovendo sensação de bem estar, da qualidade de sono a sense of well being, improving quality of sleep and pain. Objective:
e de dores. Objetivo: Analisar a inluência de exercícios cinesiote- To analyze the inluence of exercise sleep quality of pregnant women.
rapêuticos sobre a qualidade do sono de gestantes. Metodologia: Methodology: his survey was a randomized controlled trial with a
A pesquisa caracterizou-se por ser um ensaio clínico controlado sample of 44 pregnant women divided into experimental group
randomizado, com amostra de 44 grávidas, divididas em Grupo (EG - n = 20) and control group (CG - n = 22). Both groups were
Experimental (GE – n=20) e Grupo Controle (GC – n = 22). Ambos assessed using the Pittsburgh Quality Sleep Index (PSQI) before
os grupos foram avaliados através do Índice de Qualidade do Sono and after 12 sessions of physiotherapy. he GE was submitted to a
de Pittsburgh (IQPS) antes e após 12 sessões de Fisioterapia. O GE speciic exercise protocol. Statistical analysis used the Shapiro-Wilk
foi submetido a um protocolo de exercícios especíicos. Na análise test and Student’s t paired and independent samples. Results: he
estatística utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk e os Testes T de Student GE, before exercise, obtained PSQI average of 7.3 and, inally, 5.2
pareado e para amostras independentes. Resultados: Para o GE, antes (p = 0.001). he averages for the PSQI, after 12 sessions, for EG
dos exercícios, obteve-se média do IQPS de 7,3 e, ao inal, 5,2 (p and CG were, respectively, 5.2 and 8.9 (p = 0.001). Conclusion: he
= 0,001). As médias para o IQPS, após as 12 sessões, para os GC e results of this study suggest that exercise during pregnancy promotes
GE foram, respectivamente, 5,2 e 8,9 (p = 0,001). Conclusão: Os improvement in subjective sleep quality.
resultados deste estudo sugerem que o exercício durante a gravidez Key-words: sleep, pregnancy, physiotherapy
promove melhora da qualidade subjetiva do sono.
Palavras-chave: sono, gestação, isioterapia.

Endereço para correspondência: Vanessa Patrícia S. de Sousa, Departamento de Fisioterapia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, Av. Senador Salgado Filho, 3000 Caixa postal: 1524, 59072-970 Natal RN, E-mail: vanessaisio@gmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 207

Introdução exercício, o estágio 4 é ampliado, propiciando um sono mais


profundo e restaurador isicamente [13].
A gravidez é um período em que o corpo da mulher passa Apesar dos benefícios decorrentes do exercício físico sobre
por profundas transformações hormonais e biomecânicas [1]. a qualidade do sono, ainda é escasso o número de ensaios
Estas, por sua vez, resultam em modiicações nos sistemas clínicos controlados randomizados, avaliando os efeitos da
corporais, que ocorrem para permitir o desenvolvimento atividade física sobre o sono em populações de gestantes.
normal e seguro do feto [2]. O aumento do peso corporal da Dessa forma, esta pesquisa objetivou analisar a inluência
gestante, mudanças no centro de gravidade e estabilidade arti- de um protocolo de exercícios cinesioterapêuticos sobre a
cular, além de alterações no alinhamento musculoesquelético, qualidade do sono de mulheres grávidas.
podem resultar no aparecimento de sintomatologia dolorosa
e inluenciar na qualidade do sono durante a gestação [3]. Material e Métodos
O sono é uma atividade altamente estruturada e bem
organizada, que segue um ritmo circadiano e é regulada O estudo realizado tratou-se de um Ensaio Clínico Con-
pela interação entre fatores biológicos e ambientais. Este trolado Randomizado e teve como objetivo avaliar a inluência
processo é dividido em: a) sono não-REM (rapid eye move- de protocolo de exercícios isioterápicos sobre a qualidade
ment), caracterizado pela diminuição progressiva do tônus subjetiva do sono em mulheres grávidas. A pesquisa foi re-
muscular, inatividade cerebral e relativa regulação da ativi- alizada no laboratório de Atendimento Materno-Infantil da
dade corporal e b) sono REM, momento no qual ocorrem Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no período
os movimentos rápidos dos olhos e representa 20% do ciclo de jul/2007 a jul/2008, sendo aprovado pelo Comitê de Ética
total do sono que é de 90 minutos. Atualmente, atribui-se em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes, sob o
o controle do ciclo sono-vigília aos sistemas hipotalâmicos protocolo de número 157/07.
e suas respectivas interações funcionais com o sistema tem- A população do estudo constituiu-se de gestantes inscri-
porizador circadiano [4]. tas no Curso Preparatório para a Gestação, Parto e Pós-parto
As alterações do sono são prevalentes em mulheres grávi- (CPGPP), promovido semestralmente pelo Departamento
das. No entanto, estas têm sido consideradas características de Fisioterapia da UFRN. O processo de amostragem
normais da gestação, não sendo alvo de avaliação e/ou tra- caracterizou-se por ser do tipo não-probabilístico, resultando
tamento por parte dos proissionais da saúde [5]. Dentre os em número amostral de 44 voluntárias, divididas (aleato-
principais distúrbios, característicos do período gravídico, riamente, por meio de sorteio simples) em duas condições
destacam-se: modiicações na arquitetura e padrão do sono, experimentais: (1) Participação no CPGPP associada a reali-
insônia, sonolência diurna excessiva, distúrbios respiratórios zação do protocolo de exercícios cinesioterapêuticos - Grupo
e síndrome das pernas inquietas [6]. Pesquisas analisando as Experimental (GE = 20) e (2) Participação no CPGPP –
características do ciclo sono-vigília, ao longo da gestação, Grupo Controle (GC = 24), dispostos no luxograma do
sugerem que há diminuição da duração média e qualidade estudo (Figura 1).
do sono com o avançar da gravidez [7,8], que, por sua vez, As voluntárias foram selecionadas de acordo com os
podem inluenciar no tipo de parto, duração da parturição seguintes critérios: (1) está entre a 16ª e 37ª semanas ges-
[9] e surgimento de depressão pós-parto [10]. tacionais; (2) ter entre 19 e 38 anos; (3) não apresentar
Na literatura estão relatados os benefícios físicos decorri- complicações obstétricas, tais como: risco de aborto, hiper-
dos da prática de exercício na gravidez. Dentre os benefícios tensão arterial grave induzida pela gravidez (HAIG), toxemia
do exercício na gestação, destacam-se: a sensação de bem gravídica, anemia grave e placenta prévia; (4) apresentarem
estar, melhora do cansaço, da qualidade de sono e de dores qualidade subjetiva do sono ruim, reletida por escores aci-
nas costas [11], melhor controle de peso, além do melhor ma de 5, de acordo com o Índice de Qualidade do Sono de
controle glicêmico em gestantes diabéticas [12]. Pittsburgh (IQSP).
Quanto à melhoria da qualidade de sono através do exercí- Foram excluídas do estudo gestantes que se desligaram vo-
cio, três hipóteses podem explicar esta questão: a) o aumento luntariamente da pesquisa e aquelas que excederam o número
da temperatura corporal, em virtude do exercício, facilitaria o de três faltas durante a aplicação do protocolo de treinamento.
disparo do início do sono, através dos mecanismos de dissipa- Todas as voluntárias assinaram o Termo de Consentimento
ção do calor e de indução do sono, ambos controlados pelo Livre e Esclarecido.
o hipotálamo; b) o aumento do gasto energético promovido Inicialmente, foi realizada a divulgação do Curso Prepa-
pelo exercício durante a vigília aumentaria a necessidade de ratório para a Gestação, Parto e Pós-parto (CPGPP) através
sono para alcançar um balanço energético positivo e c) a alta da mídia escrita e visual. As gestantes interessadas entravam
atividade catabólica durante a vigília reduz as reservas ener- em contato direto com as pesquisadoras responsáveis e,
géticas, aumentando a necessidade de sono e contribuindo então, eram inscritas no curso. Posteriormente, foi realizada
para a atividade anabólica. É importante ressaltar que, em a aplicação do Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh
virtude desse aumento do gasto energético promovido pelo o (IQPS). Este questionário contém 19 questões, divididas em

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208 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

7 domínios, pontuados separadamente. A soma destes escores exercícios para a musculatura do assoalho pélvico na bola
(variação: 0-21) provê uma medida global da qualidade do suíça, exercícios respiratórios (padrões diafragmático, costal e
sono, com altas pontuações indicando sono insuiciente (> misto), alongamento e fortalecimento de membros superiores
5 é indicativo de distúrbios do sono). Os domínios avaliam (MMSS) e membros inferiores (MMII).
vários componentes relacionados à qualidade do sono, tais Para fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico,
como: duração, latência, frequência e gravidade de problemas as gestantes foram orientadas a sentar sobre a bola suíça
especíicos relacionados ao sono e impacto do sono ruim so- e realizarem anterversão, retroversão, inclinação lateral e
bre a funcionalidade durante o dia [14]. As voluntárias que circundução da pelve, associadas a contrações rápidas e,
apresentaram escores maiores do que 5 foram selecionadas posteriormente, lentas. Realizou-se 3 séries de 10 repetições
e randomizadas por meio de um sorteio simples. Após esse e, estabeleceu-se um tempo médio de 6 segundos para as
procedimento, todas passaram por uma avaliação clínica e contrações sustentadas.
obstétrica, realizada por meio de icha de avaliação previa- Para a musculatura de MMSS e tronco, foram realizados
mente estruturada. exercícios de alongamento para deltóide posterior, tríceps
braquial, peitoral e grande dorsal, sendo realizadas 3 repetições
Figura 1 - Fluxograma do estudo. com 15 segundos de sustentação, para cada exercício. Para
Gestantes inscritas fortalecimento da musculatura, foram feitas 3 séries de 10
no CPGPP repetições para os músculos: tríceps braquial, bíceps braquial,
(n=50) Excluídas (n=3): peitoral e deltóide, com as gestantes na posição sentada na
Voluntárias
- Inelegíveis (3) bola suíça ou colchonete durante a atividade. A carga variou
selecionadas de 1 a 2 kg, selecionados de acordo com a resistência indivi-
(n=47)
dual das voluntárias. O tempo de repouso entre as séries foi
Randomização
de 1 minuto.
Os exercícios de alongamento e fortalecimento de MMII
(n=47)
e tronco enfocaram os seguintes músculos: cadeias anterior
Avaliação e posterior, grupo adutor e paravertebrais, sendo mantida a
mesma metodologia utilizada para MMSS e tronco. Os exer-
(n=47)
cícios foram realizados em ambiente ventilado e iluminado.
A pressão arterial das gestantes foi veriicada antes, durante e
após os exercícios. Após os 12 encontros, todas as gestantes
Grupo Experimental Grupo Controle foram reavaliadas.
(GE) (GC) Para a análise estatística, utilizou-se o programa Statistical
n=23 n=24
Package for Social Science for Windows (SPSS) versão 17.0,
Excluídas sendo realizada a análise descritiva, com seus respectivos va-
(n=3)
Excesso de falta lores absolutos e relativos, através de medidas de tendência
central e dispersão. Foram selecionadas as seguintes variáveis
Grupo Experimental Grupo Controle para análise: (1) categóricas – estado civil, escolaridade, pa-
(GE) (GC)
n=20 n=24 ridade e trimestre gestacional; (2) quantitativa – qualidade
do sono, representada pelo escore do Índice de Qualidade do
Sono de Pittsburgh, antes (IQPSA) e após (IQPSD) as 12 ses-
As gestantes participaram de 12 encontros, que acontece- sões CPGPP. Foi realizado o teste de Shapiro-Wilk para testar
ram 3 vezes por semana, ao longo de um mês, com a duração a normalidade das variáveis quantitativas. Para a comparação
de 1h30min. Em tais ocasiões eram ministradas palestras das médias, antes e após o programa de exercícios pré-natais
com temas relacionados à gestação, parto e pós-parto. As no GE, foi utilizado o teste t de Student para amostras pare-
voluntárias do GC foram orientadas a realizarem exercícios adas. Para comparar a média do IQPSD entre o GE e o GC
domiciliares de alongamento e fortalecimento para membros foi usado o teste t de Student para amostras independentes.
superiores (MMSS) e inferiores (MMII), respiratórios e de Adotou-se um nível de signiicância de 5% de probabilidade
mobilidade pélvica. As gestantes do grupo de experimental (p < 0,05). Para o cálculo do tamanho da amostra foram uti-
(GE), além de participaram das palestras, realizaram um pro- lizados dados obtidos do estudo-piloto, considerando como
grama de exercícios que seguiu uma sequencia pré-estabelecida variável principal a qualidade do sono nos grupos de estudo,
para dias alternados, preservando o mesmo horário para todos a saber: média e desvio-padrão do GE = 5,2 ±1,9; média e
os encontros e grupos formados, com a inalidade de evitar desvio-padrão do GC = 8,9 ± 2,9; poder do teste = 0,8 e nível
alterações no ritmo circadiano das gestantes. Esta sequencia alfa = 0,05. Esses valores foram adicionados ao programa
era realizada a cada encontro, de forma a contemplar todas Bioestat, versão 5.3, e, assim determinou-se uma amostra de
as atividades físicas durante o programa. Foram realizados 14 sujeitos para cada grupo (n total = 28).

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 209

Resultados Discussão

As médias das idades cronológica e gestacional da amostra Este estudo de intervenção se propôs a avaliar a efetividade
estudada foram, respectivamente, 27,9 (± 4,1) anos e 23, 5 da cinesioterapia sobre a qualidade do sono em gestantes. Em
(± 6,7) semanas. Os dados sócio-demográicos e clínicos são décadas passadas, as gestantes eram aconselhadas a reduzirem
apresentados na Tabela I, de acordo com os grupos de estudo suas atividades, especialmente durante os meses inais da
(GE – Grupo Experimental e GC – Grupo Controle). gestação, por acreditar-se que o exercício aumentaria o risco
de trabalho de parto prematuro por meio de estimulação
Tabela I - Valores absolutos e relativos das variáveis sócio-demo- da atividade uterina. No entanto, em meados da década de
gráicas e obstétricas para a amostra estudada (n=44), divididas de 90, o American College of Obstetricians and Gynecologists
acordo com as condições experimentais. (ACOG) reconheceu que a prática da atividade física regular
Variáveis GE (n = 20) GC (n = 24) no período gestacional pode ser desenvolvida desde que a
n % n % gestante apresente condições apropriadas [11].
Estado Civil Na amostra estudada, observou-se que as gestantes subme-
Solteira 8 40 5 28 tidas ao protocolo de exercícios, apresentam melhor qualidade
Casada 11 55 16 66 do sono, quando comparada ao período anterior ao começo
Divorciada 1 5 - - da cinesioterapia. Estudo de revisão conduzido por Babbar et
União estável - - 3 12,5 al. [18] mostrou que a yoga é eicaz na atenuação de descon-
Escolaridade fortos gestacionais e distúrbios do sono. Essa modalidade de
Ensino Fundamental 1 5 - - exercício apresenta semelhanças com o protocolo proposto
Ensino Médio 9 45 10 41,7 nesta pesquisa.
Ensino Superior 10 50 14 58,3 Sabe-se que os distúrbios do sono podem começar já no
Paridade primeiro trimestre gestacional e, ao inal do segundo, observa-
Nulípara 18 90 19 79,2 -se alteração na quantidade do sono [5]. Desta forma, tais
Primípara 2 10 5 20,8 modiicações parecem aumentar signiicativamente com o
Trimestre gestacional avançar da gestação [6] e acabam sendo queixas frequentes
Segundo 13 65 15 62,5 nesse público [8]. Os distúrbios do sono podem culminar em
Terceiro 7 35 9 37,5 desfechos obstétricos negativos, a saber: aumento do risco de
GE- Crupo Experimental; GC – Grupo Controle. parto pré-termo, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional [17].
Porém, os resultados desta pesquisa sugerem que a prática de
Com relação à qualidade subjetiva do sono, medida atividade física especíica e orientada exerce um efeito protetor
por meio do IQPS, observou-se melhora do sono no GE, contra as modiicações na qualidade do sono.
após as sessões de cinesioterapia, sendo esta, estatistica- Nesta pesquisa, quando comparadas as gestantes do GE
mente significativa. No GC, obteve-se médias superio- e GC, observou-se melhora signiicativa da qualidade do
res a 5, indicando qualidade do sono ruim. As médias, sono no GE. Isto pode ser explicado por dados da literatura
desvio-padrão e significância do IQPS são apresentados que airmam que o sono de pessoas ativas é melhor quando
na Tabela II. comparadas as inativas. Além disso, o exercício físico melhora
o sono da população em geral, principalmente de indivíduos
Tabela II – Média, desvio-padrão e nível de signiicância da sedentários [13]. Estudo de revisão conduzido por Uchida
qualidade subjetiva do sono na amostra estudada (n = 44), divididas et al. [19] mostrou que o exercício inluencia positivamente
de acordo com as condições experimentais. as funções dos sistemas somático, autônomo e endócrino,
IQPSA IQPSD p-valor levando a melhora na qualidade do sono.
GE (n = 20) 7,3 (± 2,1) 5,2 (± 1,9) 0,001* Embora a eicácia do exercício físico sobre o sono tenha
GC (n = 24) 8,8 (± 3,0) 8,9 (± 2,9) 0,32 sido demonstrada e aceita pela American Sleep Disorders
GE- Crupo Experimental; GC – Grupo Controle; *estatisticamente Association como uma intervenção não-farmacológica para
significativo (p<0,001) a melhoria do sono, poucos proissionais da área de saúde
têm recomendado e prescrito o exercício físico com este
Quando comparadas as médias do IQPS após as 12 intuito [13]. Entretanto, ainda são escassos os estudos que
sessões de Fisioterapia, entre os GE e GC, observou-se analisem a inluência da prática da atividade física e do sono
melhora significativa no grupo submetido aos exercícios em mulheres grávidas. Variáveis relacionadas ao exercício
cinesioterapêuticos. A média do IQPSD para o GC foi físico, tais como: a intensidade e o volume, são extremamente
de 5,2, enquanto que, para o GE foi de 8,9. Esta dife- importantes, pois quando a sobrecarga é aumentada até um
rença entre os grupos foi estatisticamente significativa nível ideal, existe uma melhor resposta na qualidade do sono.
(p = 0,001). Por outro lado, quando a sobrecarga imposta pelo exercício é

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


210 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

demasiadamente alta, ocorre uma inluência negativa direta 4. Aloé F, Azevedo AP, Hasan R. Mecanismos do ciclo sono-vigília.
sobre tal variável [13]. Rev Bras Psiquiatr 2005;27:33-42.
Os resultados deste estudo mostram que, após a interven- 5. Sloan EP. Sleep disruption during pregnancy. Sleep Med Clin
ção isioterapêutica, o GE apresentou melhora da qualidade 2008;3:73-80.
6. Neau JP, Teixer B, Ingrand P. Sleep and vigilance disorders in
subjetiva do sono quando comparado ao GC. A análise do
pregnancy. Eur Neurol 2009;62:23-29.
IQSP antes e após a intervenção também permitiu observar 7. Facco FL, Kramer J, Ho KH, Zee PC Grobman WA. Sleep
que houve melhora da qualidade do sono dentro do próprio disturbances in pregnancy. Obstet Gynecol 2010;115:77-83.
GE. Esses dados demonstram que, a prática de um protocolo 8. Borodulin K, Evenson KR, Monda K,Wen F, Herring AH,
de exercícios cinesioterapêuticos inluencia positivamente na Dole N. Physical activity and sleep among pregnant women.
qualidade subjetiva do sono em mulheres grávidas. Paediatric and Perin Epidemio 2010; 24: 45–52.
Os dados obtidos por meio desta pesquisa apontam para 9. Lee KA, Gay CL. Sleep in late pregnancy predicts length of labor
inluência da atividade física sobre um aspecto importante and type of delivery. Am J Obstet Gynecol 2004;191:2041-6.
durante a gestação, porém subestimado pelos isioterapeutas: 10. Okun ML, Roberts JM, Marsland AL, Hall M. How disturbed
sleep may be a risk factor for adverse pregnancy outcomes: a
a qualidade e quantidade do sono. A gestação em si resulta
hypothesis. Obstret and Gynecolog Surv 2009;64:273-8.
em alterações importantes do sono e os presentes resultados
11. Batista DC et al. Atividade física e gestação: saúde da gestante
sugerem que o protocolo de exercícios pode ser um poten- não atleta e crescimento fetal. Rev Braz Saude Mater Infant
cializador para um sono de melhor qualidade. Dessa forma, 2003;3:151-8.
as alterações do sono devem ser consideradas na avaliação e 12. Dertkigil MSJ et al. Líquido amniótico, atividade física e
desenvolvimento de condutas isioterapêuticas direcionadas imersão em água na gestação. Rev Braz Saude Mater Infant
à mulher grávida. 2005;5:403-10.
Entretanto, vale ressaltar algumas limitações deste estudo 13. Mello MT et al. O exercício físico e os aspectos psicobiológicos.
tais como a curta duração do programa terapêutico e a au- Ver Braz Mwed Esporte 2005;11(3).
sência de follow-up a im de avaliar a permanência dos efeitos 14. Bertolazi AN, Fagondes SC, Perin C, Schonwald SV, John AB,
Miozzo ICS. Validation of the Pittsburgh Sleep Quality Index
do exercício após a inalização do protocolo. Por estas razões,
in the brazilian portuguese language. In: Sleep 2008. 22nd
torna-se necessária a realização de mais estudos, direcionados Annual meeting of the associated professional sleep societies;
ao assunto qualidade do sono e cinesioterapia, para melhor 2008; Baltimore. Sleep. Westchester: APSS; 2008. v. 31. p. a347
avaliação dos efeitos do exercício terapêutico envolvendo 15. Löf M. Physical activity pattern and activity energy expenditure
esta temática. in healthy pregnant and non-pregnant Swedish women. Eur J
Clin Nutr 2011;65(12):1295-301.
Referências 16. Pires GN, Andersen ML, Giovenardi M, Tuik S. Sleep impair-
ment during pregnancy: possible implications on mother-infant
1. Fuller PM, Gooley JJ, Saper CB. Neurobiology of the sleep-wake relationship. Med Hypotheses 2010;75(6):578-82.
cycle: sleep architecture, circadian regulation, and regulatory 17. August EM, Salihu HM, Biroscak BK, Rahman S, Bruder, K,
feedback. J Biol Rhythms 2006;21:482-93. Whiteman VE. Systematic review on sleep disorders and obs-
2. Goodin BR, Fillingim RB, McGuire L, Machala S, Buenaver tetric outcomes: scope of current knowledge. Amer J Perinatol
LF, Campbell CM, Smith MT. Subjective sleep quality and eth- 2012;14.
nicity are interactively related to standard and situation-speciic 18. Babbar S, Parks-Savage AG, Chauhan SP . Yoga during Preg-
measures of pain catastrophizing. Pain Medic 2011;12: 913-22. nancy: A Review. Amer J Perinatol 2012;29(6):459-64.
3. Gregory AM, Buysse DJ, Willis TA, Rijsdijk FV, Maughan 19. Uchida S, Shioda K, Morita Y, Kubota C, Ganeko M, Take-
B, Rowe R, Cartwright S, Barclay NL, Eley TC. Associations da N. Exercise effects on sleep physiology. Front Neurol
between sleep quality and anxiety and depression symptoms in 2012;3(48):1-5.
a sample of young adult twins and siblings. J Psychosom Res
2011;71:250-5.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 211

Artigo 39

Conhecimento de mulheres com lesão medular


traumática sobre sexualidade pós-lesão: relato de caso
Knowledge of women with traumatic spinal cord injury
on sexuality after injury: a case report
Mariana Carmem Apolinário Vieira*, Lorenna Marques de Melo Santiago**, Livane Caldas dos Santos Barbosa***, S
ilvia Oliveira Ribeiro*, Raquel da Silva Ferreira*, Elizabel de Souza Ramalho Viana****,
Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo****

*Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Mestranda do Programa de Pós-graduação
em Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ***Fisioterapeuta formada pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, ****Docente adjunto de Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Traba-
lho realizado no Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal/RN

Resumo Abstract
A lesão medular acarreta, dentre outros distúrbios, alteração da Spinal cord injury leads, among other disorders, abnormal se-
função sexual o que sinaliza para a importância do aconselhamento xual function which indicates the importance of sexual counseling.
sexual. As informações sobre as alterações e potencialidades ainda Information about the changes and potentialities still remaining can
remanescentes podem auxiliar no retorno às atividades sexuais. aid in return for sexual activities. his study aimed to investigate
Este estudo objetivou investigar o retorno de mulheres acometidas the return of women afected by the injury to sexual activities,
pela lesão às atividades sexuais, se receberam aconselhamento após whether they received counseling after trauma and their level of
o trauma e o seu nível de conhecimento sobre aspectos relaciona- knowledge about issues related to sexuality post-injury. his is a case
dos à sexualidade pós-lesão. Trata-se de um relato de caso com 3 report with 3 women with traumatic spinal cord injury for which a
mulheres com lesão medular traumática para as quais foi utilizado questionnaire was adapted. he data were described and analyzed
um questionário adaptado. Os dados foram descritos e analisados qualitatively. None of the participants were sexually active during the
qualitativamente. Nenhuma das participantes era sexualmente ativa study period and only one of them had received any kind of sexual
no período da pesquisa e apenas uma delas havia recebido algum orientation by a health professional. Regarding knowledge about
tipo de orientação sexual por um proissional da saúde. Quanto ao sexuality after trauma, only the information about contraception
conhecimento sobre sexualidade após o trauma, apenas as informa- and sexual positions were cited by at least one of them. hus, sexual
ções sobre métodos contraceptivos e posições sexuais foram citadas counseling is important, requiring better training of professionals
por pelo menos uma delas. Assim, o aconselhamento sexual é im- who work with these patients.
portante, sendo necessária uma melhor preparação dos proissionais Key-words: spinal cord injuries, women’s health, sexuality, sexual
que atuam junto a esse público. counseling.
Palavras-chave: lesões da medula espinal, saúde da mulher,
sexualidade. aconselhamento sexual.

Endereço para correspondência: Lorenna Marques de Melo Santiago, Rua Praia de Muriú, 202 Nova Parnamirim 59151-427 Parnamirim RN,
E-mail: mcarmem_@hotmail.com

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212 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução Os dados foram analisados de forma qualitativa descritiva.


A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
O conceito social negativo da impossibilidade de sexua- da Universidade Federal do Rio Grande do Norte de acordo
lidade nas pessoas com deiciência persiste atualmente [1]. com o parecer nº 142/2011. Todas as voluntárias assinaram
No que diz respeito à lesão medular (LM), poucos são os o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
estudos que investigam a sexualidade diante desta condição,
especialmente quando compete à realidade feminina [2]. Resultados
Quando existem, detêm-se às alterações funcionais, psicoló-
gicas e à investigação da vida sexual, mostrando a diiculdade • Caso 1: F.D., 30 anos, antes da lesão era solteira (namo-
encontrada por lesados medulares em retomar a sua vida se- rando) e no período do estudo continuava solteira (porém
xual. Percebe-se, portanto, a necessidade da orientação desses sem namorado). Tinha paraplegia incompleta há 1 ano
indivíduos quanto às alterações sexuais decorrentes da lesão devido projétil de arma de fogo, mas não soube informar
e suas potencialidades existentes. As informações fornecidas o nível de sua lesão.
através do aconselhamento sexual poderiam atuar como • Caso 2: M.S.F.S, 24 anos, antes da lesão era solteira
estímulo permitindo um processo de autoconhecimento e (namorando) e no período do estudo continuava solteira
desmistiicação de uma vida assexuada após a LM [3]. (porém sem namorado). Tinha paraplegia completa há 7
Estudos atuais relatam a importância do aconselhamento anos devido acidente de carro, mas não soube informar o
sexual [3,4], porém poucos mostram a efetividade desse tipo nível de sua lesão.
de orientação com a aquisição de conhecimento sobre suas • Caso 3: R.F.R., 28 anos, antes da lesão era casada e no
potencialidades remanescentes facilitando, assim, o retorno período do estudo estava separada. Tinha tetraplegia
à vida sexual satisfatória [5]. Esse é um aspecto importante a completa, nível C5, há 4 anos devido projétil de arma
se investigar, pelo fato de servir de base para a formulação de de fogo.
políticas de educação sexual focadas nas necessidades dessa
população. Porém, pouco se investiga sobre o aconselhamento Apenas os casos 1 e 3 eram sexualmente ativas antes da
ou informações obtidas a respeito da sexualidade. Além disso, LM e apenas o caso 3 teve experiência sexual após a lesão.
não há estudos que investiguem o nível de informação que No período da pesquisa, nenhuma delas encontrava-se com
mulheres com LM possuem sobre aspectos relacionados a vida sexual ativa.
essa temática. Dados referentes ao aconselhamento sexual recebido após
Nesse contexto, esse estudo investigou o aconselhamento a lesão e ao conhecimento sobre sexualidade encontram-se
sexual recebido, o nível de conhecimento sobre aspectos en- nas Tabelas I e II, respectivamente.
volvidos com a sexualidade e o retorno às atividades sexuais
em mulheres pós LM traumática (LMT). Tabela I - Aspectos relacionados ao aconselhamento sexual na
amostra estudada.
Metodologia Caso 1 Caso 2 Caso 3
Aconselhamento sexual Não Não Sim
Relato de caso com 3 mulheres com LMT, residentes na após a LM?
cidade de Natal/RN, Brasil, realizado em março de 2011. De quem recebeu? - - Médico
A amostra deveria estar fora da fase de choque medular, ter (não
cognição preservada e idade mínima de 18 anos. soube
Os dados foram coletados na Clínica-escola do Centro informar a
Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN), no Centro especiali-
de Reabilitação de Adultos (CRA) e no Centro de Atenção dade)
Integrada à Criança (CAIC), sendo este também frequentado Aconselhamento sexual - - Não
por atletas adultos com deiciência. ao parceiro(a)?
Utilizou-se um questionário adaptado e autoaplicável com Você acha que o aconse- Sim Sim Não
questões sobre aspectos sociodemográicos e clínicos, acon- lhamento sexual melhora-
selhamento sexual, atividade sexual e nível de conhecimento ria sua qualidade de vida
sobre aspectos da sexualidade feminina após a LM. As questões sexual?
sobre aconselhamento sexual foram baseadas e adaptadas do Você considera impor- Sim Sim Sim
Questionário de Sexualidade Humana na Lesão Medular tante a abordagem da
(QSH-LM) de Baasch [6]. As questões sobre nível de conhe- sexualidade durante a
cimento foram baseadas e adaptadas do Knowledge, Comfort, avaliação e tratamento
Approach and Attitudes towards Sexuality Scale (KCAASS), gerais?
desenvolvida por Kendall et al. [7].

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 213

Tabela II - Aspectos relacionados ao conhecimento sobre aspectos da baixa prevalência de satisfação por parte dos pacientes com
sexualidade na amostra estudada. relação às informações recebidas indicam um baixo nível de
Caso 1 Caso 2 Caso 3 conhecimento e de adaptação sexual por parte das pessoas
Quanto de conhecimento você acha que tem sobre: acometidas. Dados esses que são observados em nosso estudo.
Cuidados com a bexiga e Pouco Nenhum Nenhum Em conclusão, enfatiza-se a necessidade de abordar de
intestino antes da relação forma global e integrada o paciente com LM e a importância
sexual dessas informações para suas vidas, considerando que melho-
Métodos contraceptivos Excelente Pouco Excelente rariam a qualidade de sua vida sexual e o tratamento geral das
Diferentes áreas erógenas Nenhum Nenhum Nenhum mulheres com LM. Esse estudo mostrou que poucas mulheres
que podem ser estimu- recebem aconselhamento sexual, embora demonstrem anseio
ladas por esse tipo de orientação. As mulheres desconhecem muitos
Dispositivos acessórios Pouco Nenhum Nenhum dos meios para melhorar a vida sexual diante de uma LM,
para facilitar a excitação sendo apenas as informações sobre métodos contraceptivos
Posições sexuais facilita- Excelente Nenhum Nenhum e sobre posições sexuais as mais referidas Este estudo conclui
doras que as mulheres são demasiadamente afetadas com a LM,
Controle de espasticida- Nenhum Nenhum Nenhum dentre outros aspectos, no que diz respeito à sexualidade.
de/clônus
Fertilidade Nenhum Nenhum Nenhum Referências

Discussão 1. Burton G. Aspectos psicossociais e ajustamento durante as


várias fases da incapacidade neurológica. In: Umphered DA.
A incidência da LM em mulheres é baixa comparada aos Fisioterapia Neurológica. 2 ed. São Paulo: Manole; 1994. 867
homens [2]. Contudo, a realidade feminina, sociodemográ- p. Cap. 7, p. 161-77.
2. Carvalho APF, Costa VSP, Costa Filho RM, Oliveira LD, Oli-
ica e clinicamente, não difere muito do que é encontrado
veira PS. Gravidez em mulheres com trauma medular prévio.
em pesquisas realizadas com homens [8]. Isso mostra que Femina 2010;38(1):7-11
os órgãos públicos devem focar em ações preventivas e de 3. Fisher TL, Laude PW, Byield MG, Brown TT, Hayat MJ,
atenção à saúde levando em consideração o crescimento de Fiedler IG. Sexual health after SCI: A longitudinal study. Arch
mulheres com LM. Phys Med Rehabil 2002;83(8):1043-51.
A sexualidade é afetada em seus aspectos funcionais e psi- 4. Garret A, Martins F, Teixeira Z. Programa de Intervenção para a
cológicos. O ajustamento à nova condição é importante já que Reabilitação da Sexualidade numa População Portuguesa de Le-
a deiciência física não incapacita a expressão da sexualidade sionados Medulares. In: Simpósio Nacional de Investigação em
[9]. Diversos estudos relatam a importância da sexualidade no Psicologia da Universidade do Minho. Braga; 2010. p1410-21.
contexto geral da reabilitação [4,10]. O isioterapeuta como 5. Tepper M. Sexual education in spinal cord injury rehabilitation:
Current trends and recommendations. Sexuality and Disability
proissional da equipe multiproissional é um dos responsá-
1992;10(1):15-31.
veis por orientar quanto ao retorno à prática sexual, pois lida 6. Baasch AKM. Sexualidade na Lesão Medular. [Dissertação].
diretamente e por um maior período de intervenção com LM. Florianopolis: Universidade do Estado de Santa Catarina;
Um estudo de 1985 [11] comparou entre os proissionais 2008. 267 p.
de saúde, o nível de conhecimento sobre o aconselhamento 7. Kendall M, Booth S, Fronek P, Miller D, Geraghty T. he deve-
sexual para pessoas com deiciência física. Observou-se que lopment of a scale to assess the training needs of professionals in
todos os grupos de proissionais pesquisados apresentaram providing sexuality rehabilitation following spinal cord injury.
pouco conhecimento sobre sexualidade e deiciência, o que Sexuality and Disability 2003;21(1):49-64.
aponta para a necessidade de mais competência por parte 8. Brito LMO, Chein MBC, Marinho SC, Duarte TB. Avaliação
epidemiológica dos pacientes vítimas de traumatismo raquime-
desses proissionais no aconselhamento sobre sexualidade e
dular. Rev Col Bras Cir 2011;38(5):304-9.
deiciência. Outro estudo [6] não encontrou diferença sig- 9. Carneiro VMB. Vivências da sexualidade: atualizações e persis-
niicativa no nível de conhecimento sobre sexualidade após tências nos discursos de mulheres com lesão na medula espinhal.
a LM entre os proissionais, porém, estes apresentam níveis [Dissertação] São Luís: Programa de Pós-graduação em Saúde
baixos de conhecimento. Materno-infantil; 2007. 120 p.
Tepper [5] investigou 458 lesados medulares, os quais 10. Lima MCP. Aspectos psicossociais da sexualidade de pessoas por-
45% receberam aconselhamento sexual e destes, apenas 48% tadoras de lesão medular. Revista de Psicologia 1997;5(2):14-20.
consideraram as informações suicientes para satisfazer suas 11. Molloy GL, Herold ES. Sexual Counselling for the Physically
necessidades. De certo modo, embora esses estudos supraci- Disabled: A Comparison of Health Care Professionals’ Attitudes
tados não tenham investigado o nível de conhecimento sobre and Practices. Can Fam Physician 1985;31: 2277-86.
aspectos da sexualidade em pessoas com LM, o baixo nível de
conhecimento encontrado entre os proissionais da saúde e a

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


214 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Artigo 39

Tratamento isioterapêutico com exercícios do


assoalho pélvico associados ou não ao biofeedback
ou à eletroestimulação em mulheres portadoras de
Incontinência Urinária de Esforço: um estudo piloto
Physical Therapy treatment with pelvic loor exercises associated or not
to biofeedback or to electrical stimulation in women with stress urinary
incontinence: a pilot study
Daphne Gilly, M.Sc.*, Leila Maria Alves Barbosa, M.Sc.**, Deniele Bezerra Lós***, Ivson Bezerra da Silva***, Mallison da
Silva Vasconcelos, M.Sc.****, Caroline Wanderley Souto Ferreira, D.Sc*****

*Mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), **Professora substituta da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), ***Fisioterapeuta graduado(a) na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ****Professor assistente I da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, ****Professora adjunta da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Resumo Abstract
Introdução: A Incontinência Urinária de Esforço (IUE), deinida Introduction: Stress Urinary Incontinence (SUI), deined as invo-
como a perda involuntária de urina durante esforço físico, espirro luntary loss of urine during physical exertion, sneezing or coughing,
ou tosse, é o tipo de incontinência urinária (IU) mais prevalente, is the urinary incontinence type more prevalent, especially during
principalmente durante o climatério. Objetivo: Veriicar se os exer- climacteric. Objective: To determine if the pelvic loor muscles
cícios para a musculatura do assoalho pélvico (MAP) associados (PFM) exercises associated to biofeedback or to electrical stimula-
ao biofeedback ou à eletroestimulação promovem maior eicácia no tion are more efective in the treatment of SUI in women, when
tratamento da IUE em mulheres, quando comparados à cinesiote- compared to isolated PFM exercises. Methods: Seventeen women
rapia isolada. Metodologia: Foram incluídas 17 mulheres portadoras with proven genuine SUI by the urodynamic study were included
de IUE genuína comprovada pelo exame urodinâmico, alocadas randomly allocated into 5 groups: kinesiotherapy for PFM alone or
aleatoriamente em 5 grupos: cinesioterapia para a MAP isolada ou combined with biofeedback electromyographic biofeedback to pres-
associada ao biofeedback eletromiográico, ao biofeedback pressórico, sure, transcutaneous electrical stimulation or perineal intravaginal
à eletroestimulação transcutânea perineal ou à eletroestimulação electrical stimulation. he evaluation was composed by measuring
intravaginal. A avaliaçao foi composta pela mensuração da força of PFM strength, PFM contraction electromyographic activity, uri-
da MAP, da atividade eletromigráica de contração da MAP, do nary loss volume and quality of life (QoL). Results: After treatment,
volume de perda urinária e da qualidade de vida (QV). Resultados: 29.4% of patients had increased PFM electromyographic activity.
Após o tratamento, 29,4% das pacientes apresentaram aumento Majority incontinent women increased strength of MAP (76.5%)
da atividade eletromiográica da MAP. A maioria das incontinentes and reached the pad test at minimum value (88.2%). All subjects
apresentou aumento da força da MAP (76,5%) e atingiu o valor reported improvement of QoL. Conclusion: he results of this pilot
mínimo no pad test (88,2%). Todas as voluntárias referiram melhora study indicate that conservative treatment by physiotherapy may be
da QV. Conclusão: Os resultados deste estudo piloto indicam que recommended for women with SUI.
o tratamento conservador pela isioterapia pode ser recomendado Key-words: urinary incontinence, stress, exercise therapy,
para mulheres portadoras de IUE. biofeedback, psychology, electrical stimulation therapy.
Palavras-chave: incontinência urinária de esforço, terapia por
exercício, biorretroalimentação psicológica, terapia por estimulação
elétrica.

Endereço para correspondência: Caroline Wanderley Souto Ferreira, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal
de Pernambuco, Avenida Professor Moraes Rego, 1235 Cidade Universitária 50670-901 Recife PE, E-mail: caroline.wanderley@ufpe.br

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 215

Introdução grupo D (cinesioterapia associada à eletroestimulação transcu-


tânea) e grupo E (cinesioterapia associada à eletroestimulação
A Incontinência Urinária (IU) pode acometer até 50% intravaginal).
das mulheres em alguma fase de suas vidas. A Incontinência Após a divisão dos grupos, as pacientes responderam a uma
Urinária de Esforço (IUE), deinida como a perda involuntá- icha de avaliação composta pelos dados sócio-demográicos,
ria de urina durante esforço físico, espirro ou tosse, é a mais antecedentes obstétricos, ginecológicos e fecais, frequência e
prevalente, principalmente durante o climatério [1,2]. mecanismo de perda urinária. Para avaliar a qualidade de vida
Um dos principais fatores etiopatogênicos da IUE é o (QV) foi utilizado o International Consultation on Incontinence
comprometimento anatomofuncional do assoalho pélvico, Questionnaire – Short Form (ICIQ-SF) traduzido e validado
que pode ser causado por uma diminuição da força e da para o português [5]. A pontuação do ICIQ-SF varia entre 0
espessura deste grupo muscular em mulheres incontinentes. e 21 pontos, sendo que quanto maior a pontuação, pior a QV
A Sociedade Internacional de Continência (SIC) e o Comitê da paciente. O exame físico foi composto pela avaliação da
Internacional de Doenças Urológicas (CIDU) sugeriram que força da MAP através do Esquema Oxford[11], do quantita-
o tratamento inicial para a IU fosse realizado através de mu- tivo de perda urinária aferido pelo pad test [6] e da avaliação
danças nos hábitos da vida diária e reeducação vesical [3-7]. da amplitude do sinal eletromiográico da MAP.
Assim sendo, várias técnicas de tratamento isioterapêutico A avaliação eletromiográfica do assoalho pélvico foi
têm sido aplicadas para o fortalecimento e a reeducação desta realizada com a paciente em decúbito dorsal com o uso de
musculatura. Esse fortalecimento pode ser atingido através sensor intravaginal individual, conectado ao equipamento
dos exercícios do assoalho pélvico isolados, associados ao Myotrac 3G (hought Technology, Montreal, Canadá). O
biofeedback ou à eletroestimulação [8-10]. sensor intravaginal foi acoplado ao canal 1, com o eletrodo
Diante do exposto, veriicamos que existem divergências de superfície (MEDITRACE@) de referência posicionado
metodológicas – parâmetros utilizados nos aparelhos, proto- sobre da sínise púbica. No canal 2, os eletrodos de superfície
colo de tratamento, instrumentos de avaliação da qualidade de (MEDITRACE@) foram posicionados na região do músculo
vida e força muscular do assoalho pélvico – que comprometem oblíquo externo com o eletrodo de referência sobre a espinha
a comparação dos estudos encontrados. Este estudo teve como ilíaca anterossuperior [7]. Toda a avaliação foi feita antes do
objetivo avaliar a eicácia do tratamento isioterapêutico com início e após o tratamento.
exercícios do assoalho pélvico associados ao biofeedback ele- As pacientes foram tratadas individualmente, duas vezes
tromiográico, ao biofeedback pressórico, à eletroestimulação por semana, por 16 sessões. Antes da aplicação do protocolo
transcutânea e à eletroestimulação intravaginal em mulheres todas passaram por uma sessão de conscientização da muscula-
com IUE. A partir destes dados, será possível preencher la- tura do assoalho pélvico com feedback visual através do espelho
cunas de conhecimento que precisam ser esclarecidas nesta para os grupos A, D e E, e com o aparelho de biofeedback para
área de investigação, servindo como base para futuros estudos. os grupos B e C. Os exercícios foram supervisionados por
isioterapeutas treinados, mediante a instrução verbal, fazendo
Material e métodos uso de uma linguagem adaptada para facilitar a compreensão
do comando voluntário e dar à paciente conscientização da
O presente estudo foi realizado no período de novembro contração da MAP. As contrações dos músculos perineais fo-
de 2009 a novembro de 2011 no Departamento de Fisiote- ram associadas à respiração abdomino-diafragmática seguindo
rapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com o comando de voz do terapeuta que solicitava a inspiração
17 mulheres portadoras de IUE. diafragmática e, no momento da expiração, instruía a paciente
Para ser incluída no estudo a paciente deveria ser porta- a contrair o períneo.
dora de IUE por hipermobilidade do colo vesical, conirmada A progressão dos exercícios ocorreu através do aumen-
através de estudo urodinâmico. Foram excluídas as voluntárias to do tempo de manutenção das contrações perineais. As
que apresentaram as seguintes condições: IUE por deiciência modiicações aconteceram de forma gradual, com o intuito
esincteriana intrínseca da uretra, hiperatividade do detrusor, de facilitar a adaptação da paciente e assim promover uma
obstrução infravesical, distopia genital maior que grau II, grau contração adequada da MAP e minimizar as contrações dos
de força muscular do assoalho pélvico superior a três, gesta- músculos parasitas (abdominais, adutores e glúteos).
ção, infecção urinária, câncer pélvico, doenças degenerativas As incontinentes do grupo A realizaram o treinamento res-
e/ou neurológicas. Todas as pacientes incluídas na pesquisa peitando um tempo de contração e relaxamento para as ibras
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. tônicas com relação inicial de 1:2, sendo modiicado de forma
As pacientes foram divididas aleatoriamente em cinco progressiva, objetivando uma relação inal de 1:1. No caso das
grupos de tratamento: grupo A (cinesioterapia para a muscu- ibras fásicas a relação entre contração e repouso foi de 1:2.
latura do assoalho pélvico – MAP, de forma isolada), grupo Cada sessão foi constituída por três séries de 20 contrações para
B (cinesioterapia associada ao biofeedback eletromiográico), ibras fásicas e tônicas, totalizando 120 contrações. O tempo de
grupo C (cinesioterapia associada ao biofeedback pressórico), repouso entre as séries foi de 2 minutos. Os exercícios foram

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


216 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

realizados nas posições decúbito dorsal, sentada e ortostática, O grupo E também realizou os exercícios perineais ao
de acordo com a semana de tratamento (Tabela I). mesmo tempo em que a eletroestimulação, com sondas
O grupo D realizou os exercícios perineais ao mesmo intravaginais individuais. Foi utilizado o eletroestimulador
tempo em que a eletroestimulação transcutânea, com eletro- Dualpex 961 (Quark @), corrente bifásica assimétrica ba-
dos autoadesivos (3 cm) posicionados um de cada lado do lanceada, com frequência de 50 Hz, largura de pulso de
corpo perineal. Foi utilizado o eletroestimulador Dualpex 961 200µs, com intensidade de corrente estabelecida conforme
(Quark@), corrente bifásica assimétrica balanceada, com frequ- sensibilidade particular de cada indivíduo, sendo mantida a
ência de 50 Hz, largura de pulso de 200µs, com intensidade maior intensidade suportada confortavelmente pela paciente.
de corrente estabelecida conforme sensibilidade particular de Esta intensidade variou entre 13 e 60 mA e o tempo de con-
cada indivíduo, sendo mantida a maior intensidade suportada tração foi de 3 segundos na primeira e segunda semana, 5
confortavelmente pela paciente. Esta intensidade variou entre segundos na terceira e quarta, 8 segundos na quinta e sexta e
6 e 55 mA e o tempo de contração foi de 3 segundos na pri- 10 segundos na sétima e oitava semana, tempo de subida de
meira e segunda semana, 5 segundos na terceira e quarta, 8 2s, tempo de repouso duas vezes o tempo de contração, por
segundos na quinta e sexta e 10 segundos na sétima e oitava 15 minutos [9,10].
semana, com tempo de subida de 2s, tempo de repouso duas Todas as pacientes receberam orientações quanto à reali-
vezes o tempo de contração, por 15 minutos [9]. zação de exercícios em casa. Esta pesquisa foi aprovada pelo

Tabela I - Descrição do protocolo de exercícios e das posições para realização dos exercícios de acordo com a semana de tratamento.
Semana Fibras Tônicas Fibras Fásicas Posição
TC (s) TR (s) TC (s) TR (s) 1ª série 2ª série 3ª série
1ª 5 10 2 4 Decúbito dorsal Decúbito dorsal Decúbito dorsal
2ª 5 10 2 4 Decúbito dorsal Decúbito dorsal Decúbito dorsal
3ª 6 10 2 4 Decúbito dorsal Decúbito dorsal Sentada
4ª 6 10 2 4 Decúbito dorsal Sentada Sentada
5ª 8 10 1 2 Sentada Sentada Sentada
6ª 8 10 1 2 Sentada Sentada Ortostática
7ª 10 10 1 2 Sentada Ortostática Ortostática
8ª 10 10 1 2 Ortostática Ortostática Ortostática
TC = tempo de contração; s = segundos; TR = tempo de relaxamento.

Tabela II - Dados sócio-demográicos das voluntárias atendidas no DEFISIO/UFPE.


Dados Grupos de Tratamento TOTAL n(%)
Sócio-demográicos Grupo A n(%) Grupo B n(%) Grupo C n(%) Grupo D n(%) Grupo E n(%)
Naturalidade
Pernambuco 2(50) 4(100) 2(66,7) 2(66,7) 3(100) 13(76,5)
Outros Estados 2(50) 0 1(33,3) 1(33,3) 0 4(23,5)
Escolaridade
Semi-analfabeta 0 0 1(33,3) 0 0 1(5,9)
Ensino Fundamental 3(75) 4(100) 2(66,7) 1(33,3) 3(100) 13(76,5)
Ensino Médio 1(25) 0 0 2(66,7) 0 3(17,6)
Estado Civil
Solteira 1(25) 0 0 0 1(33,3) 2(11,8)
Casada 3(75) 4(100) 1(33,3) 3(100) 2(66,7) 13(76,5)
Viúva 0 0 1(33,3) 0 0 1(5,9)
Separada 0 0 1(33,3) 0 0 1(5,9)
Proissão
Doméstica ou dona de casa 4(100) 0 3(100) 3(100) 1(33,3) 11(64,7)
Outros 0 4(100) 0 0 2(66,7) 6(35,3)
Renda Familiar
< 1 salário 1(25) 1(25) 0 0 1(33,3) 3(17,6)
Entre 1 e 3 salários 3(75) 2(50) 2(66,7) 3(100) 2(66,7) 12(70,6)
Acima de 3 salários 0 1(25) 1(33,3) 0 0 2(11,8)
DEFISIO: Departamento de Fisioterapia. UFPE: Universidade Federal de Pernambuco. Fonte: Coleta de Dados.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 217

Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos Em relação aos sintomas urinários (Tabela III), destaca-
do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, sob o protocolo -se que o sintoma de armazenamento mais relatado foi a
CAAE 0339.0.172.000-08. noctúria e o sintoma de esvaziamento mais comum foi o
gotejamento pós-miccional, referidos por 12 (70,6%) e 11
Resultados (64,7%) pacientes, respectivamente.A frequência miccional
de 16 pacientes (perda amostral de uma paciente do grupo
Foram incluídas no estudo 17 pacientes (grupo A = 4; D que não respondeu a essa pergunta durante a avaliação)
grupo B = 4; grupo C = 3; grupo D = 3; grupo E = 3) com variou entre 5 e 12 vezes ao dia, com mediana de 7 ve-
mediana de idade de 55 anos e tempo médio de IUE de 5,20 zes. Onze (64,7%) incontinentes utilizavam protetores e
± 6,50 anos. De acordo com os dados sócio demográicos mencionaram uma frequência de troca entre 1 e 3 vezes ao
(Tabela II), 13 (76,5%) pacientes eram naturais do Estado dia. Quanto aos tipos de perda urinária mais frequentes,
de Pernambuco, 13 (76,5%) cursaram o ensino fundamental, todas as voluntárias queixaram a perda urinária ao tossir e
13 (76,5%) eram casadas, 11 (64,75%) eram domésticas ou espirrar. No que se refere aos sintomas fecais, 10 (58,82%)
donas de casa e 12 (70,6%) possuíam renda familiar entre 1 voluntárias apresentaram queixas de incontinência a gases
e 3 salários mínimos. e constipação intestinal.

Tabela III - Dados Uroginecológicos, Obstétricos e Fecais das voluntárias atendidas no DEFISIO/UFPE.
Dados Uroginecológicos, TOTAL
Grupos de Tratamento
Obstétricos e Fecais (N/%)
Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D Grupo E
(N/%) (N/%) (N/%) (N/%) (N/%)
Sintomas urinários /Fecais
Urgência 2 (50) 1(25) 2(66,7) 2(66,7) 3(100) 10 (58,8)
Urge-incontinência 1(25) 2(50) 2(66,7) 2(66,7) 3(100) 10(58,8)
Disúria 0 1(25) 0 1(33,3) 0 2(11,8)
Hesitação 1(25) 1(25) 0 1(33,3) 1(33,3) 4(23,5)
SEVI 2(50) 1(25) 2(66,7) 2(66,7) 2(66,7) 9(52,9)
Gotejamento pós-miccional 3(75) 1(25) 3(100) 1(33,3) 3(100) 11(64,7)
Esforço urinário 1(25) 1(25) 1(33,3) 0 0 3(17,6)
Enurese 1(25) 2(50) 0 2(66,7) 1(33,3) 6(35,3)
Noctúria 3(75) 1(25) 3(66,7) 3(100) 3(100) 12(70,6)
ITU repetição 0 1(25) 0 1(33,3) 0 2(11,8)
IU ao coito 1(25) 1(25) 2(66,7) 1(33,3) 1(33,3) 6(35,3)
Incontinência gasosa 3(75) 1(25) 2(66,7) 1(33,3) 3(100) 10(58,8)
Constipação 3(75) 1(25) 2(66,7) 1(33,3) 3(100) 10(58,8)
Tipo de perda urinária
Tosse 4(100) 4(100) 3(100) 3(100) 3(100) 17(100)
Espirro 4(100) 4(100) 3(100) 3(100) 3(100) 17(100)
Agachar 2(50) 0 1(33,3) 2(66,7) 2(66,7) 7(41,2)
Erguer peso 3(75) 0 1(33,3) 2(66,7) 2(66,7) 8(47,1)
Riso 3(75) 3(75) 3(100) 3(100) 3(100) 15(88,2)
Caminhando 0 2(50) 1(33,3) 2(66,7) 1(33,3) 6(35,3)
Mudança de posição 1(25) 1(25) 1(33,3) 1(33,3) 0 4(23,5)
Antecedentes Obstétricos/
Ginecológicos
Parto Normal 1(25) 2(50) 2(66,7) 0 1(33,3) 6(35,3)
Parto Cesáreo 1(25) 0 0 1(33,3) 0 2(11,8)
Parto Misto 2(50) 2(50) 1(33,3) 1(33,3) 0 6(35,3)
Cirurgia Uroginecológica 2(50) 3(75) 2(66,7) 2(66,7) 3(100) 12(70,6)
Menopausa 3(75) 3(75) 2(66,7) 2(66,7) 3(100) 13(76,5)
TRH 1(25) 1(25) 0 1(33,3) 0 3(17,6)
RMS - Root Mean Square; A = pacientes do grupo A (cinesioterapia para a musculatura do assoalho pélvico de forma isolada); B = pacientes do grupo
B (cinesioterapia associada ao biofeedback eletromiográfico); C = pacientes do grupo C (cinesioterapia associada ao biofeedback pressórico); D = pa-
cientes do grupo D (cinesioterapia associada à eletroestimulação transcutânea); E = pacientes do grupo E (cinesioterapia associada à eletroestimulação
intravaginal). Fonte: Coleta de Dados.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


218 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

A média de gestações foi de 3,76 ± 1,64, e a média de Figura 2 - Força muscular perineal antes e após o tratamento, por
partos foi 2,94 ± 1,51, sendo que 9 (52,94%) pacientes grupos.
tiveram partos mistos (vaginais e cesarianos). Além disso, 12 Força muscular perineal

Grau de Força (Escala de Oxford)


(70,59%) mulheres haviam realizado algum tipo de cirurgia
urológica ou ginecológica, 13 (76,47%) estavam na meno-
pausa e apenas 3 (17,65%) realizavam terapia de reposição
hormonal (Tabela III).
A média do índice de massa corporal (IMC) foi 29,99 ±
5,72 kg/cm2, porém houve uma perda amostral de 3 pacientes,
que não foram avaliadas quanto aos dados antropométricos.
Na avaliação inicial dos grupos controle e intervenção, a
atividade eletromiográica da MAP variou entre 0,63 e 9,45
µV. Na reavaliação após o tratamento, esta variação foi de
0,6 e 12,17 µV, estando aumentada em apenas 5 pacientes, Avaliação Reavaliação
sendo 2 pertencentes ao grupo A (cinesioterapia - controle) 1-4=A; 5-8=B; 9-11=C; 12-14=D; 15-17=E
e 3 ao grupo E (eletroestimulação intravaginal) (Figura 1). Obs.: Paciente 13 não realizou a reavaliação
devido a uma infecção vaginal ativa.
Figura 1 - Amplitude de contração muscular eletromiográica antes A = pacientes do grupo A (cinesioterapia para a musculatura do assoa-
e após o tratamento, por grupos. lho pélvico de forma isolada); B = pacientes do grupo B (cinesioterapia

Eletromiografia associada ao biofeedback eletromiográfico); C = pacientes do grupo C


Média de RMS do Eletrodo Intravaginal (µV)

(cinesioterapia associada ao biofeedback pressórico); D = pacientes do


grupo D (cinesioterapia associada à eletroestimulação transcutânea); E
= pacientes do grupo E (cinesioterapia associada à eletroestimulação
intravaginal). Fonte: Coleta de Dados.

Foi observada uma melhora no quantitativo de perda


urinária veriicado pelo Pad Test modiicado em todas as
pacientes. Os valores variaram entre 1 g e 36 g na avaliação e
entre 0 g e 12 g na reavaliação. Apenas duas pacientes (1 do
grupo A e 1 do grupo B) não atingiram o valor mínimo de
0g na reavaliação, o que indicaria que o teste seria negativo,
ou seja, ausência de perda urinária. Porém, o grau de perda
Avaliação Reavaliação melhorou, diminuindo 2 g na paciente do grupo A e 17g na
1-4=A; 5-8=B; 9-11=C; 12-14=D; 15-17=E paciente do grupo B (Figura 3).
Obs.: Paciente 13 não realizou a reavaliação
eletromiográfica devido a uma infecção vaginal ativa. Figura 3 - Volume de perda urinária antes e após o tratamento,
RMS - Root Mean Square; A = pacientes do grupo A (cinesiotera- por grupos.
pia para a musculatura do assoalho pélvico de forma isolada); B Perda urinária
= pacientes do grupo B (cinesioterapia associada ao biofeedback
Volume de Perda (Pad Test) (g)

eletromiográfico); C = pacientes do grupo C (cinesioterapia associada


ao biofeedback pressórico); D = pacientes do grupo D (cinesioterapia
associada à eletroestimulação transcutânea); E = pacientes do grupo
E (cinesioterapia associada à eletroestimulação intravaginal). Fonte:
Coleta de Dados.

O grau de força muscular perineal variou entre 1 e 3


durante a avaliação inicial, tendo um aumento signiicati-
vo na maioria das pacientes de todos os grupos. Somente
4 pacientes (2 do grupo A; 1 do grupo C e 1 do grupo E)
não apresentaram alteração no grau de força muscular e
houve perda amostral de uma paciente (grupo D) que não
pôde realizar a reavaliação devido a uma infecção vaginal
ativa (Figura 2). Avaliação Reavaliação
1-4=A; 5-8=B; 9-11=C; 12-14=D; 15-17=E

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 219

A = pacientes do grupo A (cinesioterapia para a musculatura do assoa- metria como instrumento de avaliação para medir a pressão
lho pélvico de forma isolada); B = pacientes do grupo B (cinesioterapia desenvolvida pela contração da musculatura do assoalho
associada ao biofeedback eletromiográfico); C = pacientes do grupo C pélvico [12]. Castro et al. [10] utilizaram a Escala de Força
(cinesioterapia associada ao biofeedback pressórico); D = pacientes do de Oxford, instrumento validado para medir força muscular
grupo D (cinesioterapia associada à eletroestimulação transcutânea); E propriamente dita e que pode ser modiicada para avaliar o
= pacientes do grupo E (cinesioterapia associada à eletroestimulação assoalho pélvico, como foi realizado neste estudo.
intravaginal). Fonte: Coleta de Dados. O objetivo principal do biofeedback é transformar a ati-
vidade muscular em um evento compreensível e melhorar a
A QV também melhorou em todas as pacientes. O índice coordenação e utilização correta do músculo desejado. Além
do questionário especíico aplicado (ICIQ-SF) varia entre 0 disso, torna-se um ótimo instrumento de avaliação da ampli-
e 21 pontos, sendo que quanto maior a pontuação, pior a tude da contração muscular do assoalho pélvico [13,14]. De
QV da paciente. Durante a avaliação inicial, a pontuação acordo com nossos resultados, durante a reavaliação eletro-
do questionário variou entre 3 e 20 pontos e na reavaliação miográica houve um aumento dessa amplitude de contração
houve uma diminuição desta pontuação, que icou entre 0 e após o tratamento em apenas 5 voluntárias. As incontinentes
13 pontos (Figura 4). do grupo B (biofeedback eletromiográico com eletrodo intra-
vaginal) apresentaram melhora no relato dos sintomas uriná-
Figura 4 - Pontuação do questionário International Consultation rios, QV e força muscular, porém não foi observado aumento
on Incontinence Questionnaire – Short Form (ICIQ-SF) antes e da amplitude eletromiográica. Estes resultados divergem de
após o tratamento, por grupos. outros estudos [14-16] nos quais foi realizado biofeedback
Qualidade de vida eletromiográico com eletrodos de superfície no tratamento
de mulheres portadoras de IUE. Tais autores observaram
redução dos sintomas urinários, melhora da QV (avaliada
através do ICIQ-SF), assim como aumento da força de
ICIQ-SF Score

contração e da amplitude do sinal eletromiográico da MAP.


Segundo Capelini et al. [16], o sinal eletromiográico pode
ser comprometido em virtude das interferências de algumas
variáveis, como a impedância vaginal que varia de uma mulher
para outra devido ao ciclo menstrual e ao status hormonal.
Esta interferência provavelmente ocorreu nas pacientes do
presente estudo, diicultando a interpretação desta variável.
Todas pacientes do grupo C (biofeedback pressórico)
Avaliação Reavaliação apresentaram aumento ou manutenção da força muscular da
MAP, ausência de perda urinária no pad test e melhora da QV.
1-4=A; 5-8=B; 9-11=C; 12-14=D; 15-17=E Corroborando com alguns desses dados, alguns autores [17]
A = pacientes do grupo A (cinesioterapia para a musculatura do assoa- também utilizaram o biofeedback pressórico em mulheres com
lho pélvico de forma isolada); B = pacientes do grupo B (cinesioterapia IUE e veriicaram, dentre as variáveis analisadas, a diminuição
associada ao biofeedback eletromiográfico); C = pacientes do grupo C da perda urinária no pad test e melhora da força muscular
(cinesioterapia associada ao biofeedback pressórico); D = pacientes do (avaliada através de um transdutor pressórico).
grupo D (cinesioterapia associada à eletroestimulação transcutânea); E Estudos feitos com eletroestimulação transcutânea pe-
= pacientes do grupo E (cinesioterapia associada à eletroestimulação rineal (Grupo D) e intravaginal (Grupo E) indicam que os
intravaginal). Fonte: Coleta de Dados. índices de cura variam de 30% a 50%, ocorrendo melhora
dos sintomas em 6% a 90% das pacientes [18-20]. Porém,
alguns autores airmam que a estimulação endocavitária
Discussão por via vaginal ou anal é mais eicaz [8]. De acordo com os
resultados, a maioria dos estudos que utilizaram a eletroes-
Com o avanço da engenharia biomédica e das ciências timulação intravaginal no tratamento da IUE mostra que
da saúde, o tratamento não invasivo da IU feminina vem ga- há uma melhora signiicativa nos sintomas urinários e QV
nhando espaço nas investigações na área de Saúde da Mulher. das pacientes, quando comparadas a outros grupos que não
Entretanto, por se tratar de uma patologia que possui vários realizaram a técnica. Somente um estudo [21] encontrado
fatores etiopatogênicos, existe discussão acerca da escolha da concluiu que não houve diferença estatisticamente signiicante
melhor técnica e protocolo de tratamento para a IUE. entre os grupos controle e intervenção. Porém isso ocorreu por
Um grande desaio para os pesquisadores é obter um ins- falta de poder estatístico para avaliá-los, já que houve perda
trumento coniável e válido para mensurar a força muscular importante do número de pacientes por motivos diferencia-
do assoalho pélvico. Alguns autores utilizaram a perineo- dos, e não foi possível coletar dados subjetivos por escassez

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


220 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

de instrumentos adequados. Estes dados parecem corroborar Agradecimentos


com os do nosso estudo, pois ocorreu perda amostral de uma
paciente do Grupo D e uma paciente do Grupo E permaneceu À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado
com a mesma força muscular perineal após o tratamento. de Pernambuco (FACEPE) - edital do Programa de Pesquisa
Porém, todas as pacientes dos dois grupos tiveram diminuição para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS).
da perda urinária e melhora na QV.
No presente estudo também ocorreu perda amostral, visto Referências
que uma paciente do grupo D não foi reavaliada. Quanto
à força da MAP, todas as pacientes apresentaram aumento 1. Abrams P, Cardozo L, Fall M, Griiths D, Rosier P, Ulmsten U,
de pelo menos 1 grau na escala OXFORD, com exceção de van Kerrebroeck P, et al. he standardization of terminology of
1 incontinente do grupo E que permaneceu com a mesma lower urinary tract function: report from the Standardization
força muscular. Todas as pacientes submetidas à cinesiotera- Sub-committee of the International Continence Society. Neu-
rourol Urodyn 2002;26;757-760.
pia associada à eletroestimulação tiveram uma melhora no
2. Dubeau CE. The Aging Lower Urinary Tract. J Urol
índice de QV e não apresentaram perda urinária no pad test. 2006;175;S11-S15.
Estes dados corroboram com resultados dos estudos citados 3. Borello-France DF, Downey PA, Zyczynski HM, Rause CR.
anteriormente, visto que traduzem a melhora dos sintomas Continence and Quality-of-Life Outcomes 6 Months Following
urinários com possibilidade de cura em algumas pacientes. an Intensive Pelvic-Floor Muscle Exercise Program for Female
Alguns autores demonstraram que com a utilização da ci- Stress Urinary Incontinence: A Randomized Trial Comparing
nesioterapia como protocolo de tratamento da IUE feminina, Low- and High-Frequency Maintenance Exercise. Phys her
ocorre uma melhora dos sintomas clínicos, da perda urinária 2008;88;1545-1553.
no pad test e da força muscular do assoalho pélvico, variando 4. Feldner Jr PC, Sartori MGF, Lima GR, Baracat EC, Girão
entre 30% a 85% dos casos [9,22-25]. Isso também pareceu MJBC. Diagnóstico Clínico e Subsidiário da Incontinência
Urinária. Rev bras ginecol obstet 2006;28;54-62. 
ocorrer no presente estudo, pois 12 pacientes (70,6%) tive-
5. Tamanini JTN, Dambros M, Dáncona CAL, Palma PCR,
ram aumento da força muscular perineal após o tratamento, Netto-Junior NR. Validação para o português do “Internacional
e todas as 17 pacientes tiveram diminuição da perda urinária Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form”
avaliada pelo pad test, na reavaliação. (ICIQ-SF). Rev Saúde Pública 2004;38;438-44.
ional de Continência sobre a importância de utilizar 6. Abdel-Fattah M, Barrington JW, Youssef M. he Standard
questionários de QV em todos os estudos sobre incontinência 1-hour pad test: Does it have any value in clinical practice? Eur
urinária, ainda existem estudos que não utilizam ou que fazem Urol 2004;46;377-380.
uso de questionários que não são especíicos [21]. Isso diiculta 7. Glazer HI, Jantos M, Hartmann EH, Swencionis C. Elec-
a análise subjetiva dos sintomas urinários, fator importante tromyographic comparisons of the pelvic loor in women with
dysesthetic vulvodynia and asymptomatic women. J Reprod
para determinar os efeitos do tratamento. Um estudo que
Med 1998;43;959-962.
também utilizou o questionário especíico ICIQ-SF com 72 8. Grosse D, Sengler J. Reeducação Perineal: Concepção, realização
mulheres submetidas ao tratamento isioterapêutico para IU e transcrição em prática liberal e hospitalar. 1ed. São Paulo:
com eletroestimulação, treinamento muscular do assoalho pél- Manole, 2002.
vico e treinamento comportamental conseguiu obter melhores 9. Bo K, Talseth T, Holme I. Single blind, randomized controlled
informações sobre a QV das pacientes incontinentes, tendo trial of pelvic loor exercise, electrical stimulation, vaginal cones,
como resultado uma melhora no impacto da incontinência and no treatment in management of genuine stress incontinence.
urinária na QV [3]. Esta melhora também foi observada na BMJ 1999;318;487-493.
reavaliação do presente estudo, pois todas as pacientes (100%) 10. Castro RA, Arruda RM, Zanetti MRD, Santos PD, Sartori
obtiveram diminuição da pontuação no questionário, sendo MGF, Girão MJBC. Single blind, randomized, controlled trial
of pelvic loor muscle training, electrical stimulation, vaginal
que 3 (17,64%) pacientes zeraram este índice, indicando
cones, and no active treatment in the management of stress
melhora de 100% na QV após o tratamento. urinary incontinence. Clinics 2008;64;465-472.
11. Moreno AL. Fisioterapia em Uroginecologia. 2ed. São Paulo:
Conclusão Manole, 2004.
12. Bo K, Finckenhagen HB. Vaginal palpation of pelvic loor mus-
Devido ao limitado número amostral deste projeto piloto cle strength: inter-test reproducibility and comparison between
não foi possível identiicar qual técnica terapêutica apresenta palpation and vaginal squeeze pressure. Acta Obstet Gynecol
maior eicácia na melhora dos sinais e sintomas da IUE. En- Scand 2001;80;883-887.
tretanto foi observado que todas as pacientes apresentaram 13. Rett MT, SimõesJA, Herrmann V, Marques AA, Morais SS.
Existe diferença na contratilidade da musculatura do assoalho
melhora em pelo menos dois dos desfechos avaliados. São
pélvico feminino em diversas posições? Rev Bras Ginecol Obstet
necessários futuros estudos, com um maior número amostral, 2005;27;20-23.
para identiicar qual a técnica isioterapêutica mais eicaz no 14. Rett MT. Incontinência urinária de esforço em mulheres no
tratamento da IUE feminina. menacme: Tratamento com exercícios do assoalho pélvico asso-

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Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 221

ciados ao biofeedback eletromiográico. 2004. 74f. Dissertação 20. Yamanishi T, Yasuda K. Electrical stimulation for stress incon-
(Mestrado em Tocoginecologia) – Curso de Pós-graduação em tinence. Int Urogynecol J 1998;9;281-290. 
Tocoginecologia, Universidade Estadual de Campinas, Cam- 21. Brubaker L, Benson JT, Bent A, Clark A, Shott S.Transvaginal
pinas, 2004. electrical stimulation for female urinary incontinence. Am J
15. Rett MT, Simões JA, Herrmann V, Pinto CLB, Marques AA, Obstet Gynecol 1997;177;536-540.
Morais SS. Management of Stress Urinary Incontinence With 22. Amaro JA, Gameiro MO, Moreira EH. Exercícios Perineais.
Surface Electromyography–Assisted Biofeedback in Women of In:Ribeiro RM, Rossi P, Pinotti JA. Uroginecologia e cirurgia
Reproductive Age. Phys her 2007;87;136-142. vaginal. 1ed. São Paulo: Roca; 2001.
16. Capelini MV, Riccetto CL, Dambros M, Tamanini JT, Herr- 23. Amaro JL, Oliveira MO, Padovani CR. Treatment of urinary
mann V, Muller V. Pelvic Floor Exercises with Biofeedback for stress incontinence by intravaginal electrical stimulation and
Stress Urinary Incontinence. Int braz j urol 2006;32;462-469. pelvic loor physiotherapy. Int Urogynecol J 2003;14;204-208.
17. Morkved S, Bo K, Fjortoft T. Efect of adding biofeedback to 24. Bo, K. Pelvic loor muscle training is efective in treatment of
pelvic loor muscle training to treat urodynamic stress inconti- female stress urinary incontinence, but how does it work? Int
nence. Obstet Gynecol 2002;100;730-739. Urogynecol J 2004;15;76-84.
18. Bent AE, Sand PK, Ostergard DR, Bribaker LT. Transvaginal 25. Burgio K. Behavioral treatment options for urinary incontinen-
electrical stimulation in the treatment of genuine stress incon- ce. Gastroenterology 2004;126;S82- S89.
tinence and detrusor instability. Int Urogynecol J 1993;4;9-13.
19. Wilson PD, George M, Imrie JJ. Vaginal electrostimulation for
the treatment of genuine stress incontinence. Aust N Z J Obstet
Gynecol 1997;37;446-449.

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


222 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Resumos

Percepção da parturiente quanto à intervenção visto que comprometem a musculatura dos esfíncteres ou do assoalho
isioterapêutica durante o trabalho de parto e pélvico. Objetivos: Veriicar a prevalência de indivíduos com inconti-
parto nência urinária tendo como patologia associada doenças neurológicas
Jedna Amanda Brasileiro Oliveira*, Eliane Cristina de assistidos na clínica escola de isioterapia da Universidade Estadual
Alvarenga Melo*, Sara Sampaio da Silva*, Carine Oliveira da Paraíba. Metodologia: A pesquisa consiste em um estudo quan-
Santos** titativo e descritivo, tendo como base os prontuários dos usuários
*Graduandas do Curso de Fisioterapia da Faculdade atendidos na clinica escola de isioterapia. Durante todo o estudo
Adventista da Bahia, **Supervisora de Estágio do Curso de foi preservado os dados pessoais do indivíduo, conforme as orien-
Fisioterapia da Faculdade Adventista da Bahia tações do termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos
Faculdade Adventista da Bahia, BR-101, km 197, Capoeiruçu mesmos. Resultados: Na amostra composta por 28 indivíduos, 12
Caixa Postal 18, 44300-000 Cachoeira BA, apresentam incontinência urinária associada à doença neurológica,
E-mail: jejeh.mandik@hotmail.com representando um percentual de 42,85%, sendo o AVE a patologia
neurológica mais evidenciada dentre: trauma medular, doença de pa-
Introdução: O parto é um acontecimento incomparável na vida rkinson, esclerose múltipla e miastenia grave. Conclusão: Os achados
da mulher, estabelecendo um momento único entre mãe e ilho. revelam uma correlação bem evidente entre incontinência urinária
Nesse sentido, o isioterapeuta atua proporcionando conforto, rela- e doenças neurológicas, sendo essa associação um fator agravante
xamento e alívio da dor, facilitando a liberdade corporal preservando no prognóstico e na qualidade de vida do paciente. Sabendo das
a privacidade e a autonomia da mesma. Objetivo: Foi proposto nesse limitações tanto neurológicas quanto do trato geniturinário se faz
estudo identiicar as vivências maternas quanto ao parto, à atuação necessário um olhar direcionado a esses acometimentos, visando
isioterapêutica no trabalho de parto, bem como descrever a impor- assim, futuros estudos direcionado a essa área.
tância desse proissional neste processo. Metodologia: Realizou-se um Palavras-chave: Incontinência urinária; saúde; prevalência.
estudo de caso do tipo qualitativo descritivo com três parturientes
que receberam acompanhamento isioterapêutico, durante o proces-
so parturitivo. O questionário apresentou como categorias o trabalho Prevalência da incontinência urinária em
de parto, a assistência isioterapêutica, a atenção prestada pela equipe mulheres que praticam corrida de rua
de saúde, o parto e pós-parto. Resultados: Evidenciou-se a satisfação Neyliane Sales Chaves Onofre, MSc*; Ana Débora Cruz
das mulheres, quanto ao suporte prestado durante o trabalho de Santos**
parto e parto bem como segurança, os relatos destacam o isiotera- *Docente Mestre da FANOR/DeVry (CE), Especialista
peuta como essencial no processo parturitivo. Conclusão: A prática em Fisioterapia na Saúde da Mulher, **Graduada em
do cuidado isioterapêutico na assistência parturitiva mostrou-se Fisioterapia da Fanor/DeVry (CE)
essencial, esse apoio deve respeitar, orientar e valorizar o momento E-mail: neyliane.sales@hotmail.com
vivido pela parturiente. Aponta também para a necessidade de rever
a assistência prestada às mulheres neste processo. Introdução: A incontinência urinária de esforço caracteriza-se
Palavras-chave: parto, isioterapia, vivência, humanização. como perda involuntária de urina ao realizar alguns esforços. Em
atletas a força da musculatura abdominal tende a ser alta, podendo
decorrer da modalidade esportiva que exija essa musculatura ou
Prevalencia de pacientes com incontinência em razão do treinamento físico, quanto à força do assoalho pélvico
urinária associada a doenças neurológicas tende a enfraquecer devido ao aumento da pressão intra-abdominal,
atendidos na clínica escola de isioterapia da podendo assim ocasionar episódios de perda urinária durante um
Universidade Estadual da Paraíba esforço. Objetivos: A pesquisa quantitativa, exploratória e transversal
Camilla Isis Rodrigues dos Santos*, Eujessika Katielly com 30 mulheres acima de 18 anos objetivou investigar a prevalência
Rodrigues Silva*, Marília Amorim de Souza*, Renata Priscila da incontinência urinária em mulheres que praticam corrida de rua
Beserra de Lima*, Maria de Lourdes F. de Oliveira** superior a seis meses. Resultados: Os resultados apontam que 10%
*Acadêmica da Universidade Estadual da Paraíba,**Docente (n = 3) das corredoras eram incontinentes, estas tinham a idade
da Universidade Estadual da Paraíba, Departamento de média de 37,7 anos, não estavam no climatério. Sendo, duas da raça
Fisioterapia/Universidade Estadual da Paraíba parda e uma de etnia branca, não tabagistas, nulíparas e realizavam
camilla_isis105@hotmail.com outra atividade física além da modalidade esportiva, o que nos faz
reletir sobre a associação estatística signiicativa entre a presença da
Introdução: As patologias neurológicas constituem um importan- incontinência urinária de esforço com a prática da corrida de rua,
te fator de risco para o desenvolvimento de incontinência urinária, pois as mesmas não apresentam outros fatores etiológicos. Conclusão:

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM 223

É fundamental criar estratégias e políticas públicas para orientar as de parto. Material e métodos: Estudo randomizado e controlado
mulheres sobre o tema, tanto no prisma preventivo como curativo com 20 primigestas divididas em grupo controle (GC) e grupo bola
da incontinência esforço em atletas. (GB) - que realizaram exercícios de mobilidade pélvica durante 30
Palavras-chave: incontinência urinária, mulher, corrida de rua. minutos na fase ativa do trabalho de parto. Resultados: Na análise
após a intervenção da escala categórica numérica foi observada
redução signiicativa da dor do GC (8,5 dp 1,0) para o GB (5,5 dp
Eletrocondicionador para enurese noturna: uma 1,5) com p<0,001, no entanto quando avaliada duração do trabalho
nova abordagem terapêutica de parto, não houve diferença entre os grupos (p = 0,47). Conclusão:
Alcina Teles, Patrícia Lordêlo, Ubirajara Barroso Jr Apesar de não alterar a duração desta fase, a bola suíça foi um recurso
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Humana efetivo no alívio da dor das parturientes no início da fase ativa do
V. Tancredo Neves, 620, apt. 2712, Caminho das Árvores 41820- trabalho de parto, devendo ser incentivada pelos proissionais de
020 Salvador BA, E-mail: alcina_teles@hotmail.com saúde que assistem as mulheres nesta fase.
Palavras-chave: dor, trabalho de parto, isioterapia.
Introdução: O alarme noturno é tratamento padrão ouro para
crianças que urinam durante o sono; o eletrocondicionador associa
seus benefícios aos da eletroestimulação, interrompendo a micção A idade materna não interfere na percepção da
noturna pela contração perineal. Objetivo: Testar a eicácia do eletro- intensidade da dor na fase ativa do trabalho de
condicionador em crianças com enurese noturna monossintomática. parto
Metodologia: O estudo será uma série de casos prospectiva em 20 Rubneide Barreto Silva Gallo, Licia Santos Santana, Daniella
crianças com enurese noturna monossintomática, que utilizarão Leiros Cunha Cavalcanti Aita, Cristine Homsi Jorge Ferreira,
o eletrocondicionador em casa diariamente por até 3 meses, asso- Alessandra Cristina Marcolin, Silvana Maria Quintana
ciado às orientações alimentares e miccionais. Antes de dormir, o Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de
eletrocondicionador deverá ser colocado na criança e as orientações São Paulo (FMRP-USP)
comportamentais deverão ser seguidas. O critério para avaliação de
sucesso será a diminuição no número de episódios de enurese. Re-
sultados Preliminares: sete crianças já participaram do estudo, sendo Introdução: A intensidade da dor pode ser inluenciada por
cinco meninos e duas meninas, com idade média de 9,8 anos de diversos fatores sociais, culturais e fisiológicos, contudo não
idade (6-17 anos). Dessas, três encontram-se em uso do aparelho, foram encontrados estudos relacionando a idade de parturientes à
uma está seca há um mês, uma parou de usar por defeito do apare- intensidade da dor no trabalho de parto, o que motivou a realização
lho, uma desistiu por diiculdade com o manejo e dois deixaram de deste estudo. Objetivo: Avaliar se a idade da parturiente altera a
fazer o acompanhamento por enfermidades das responsáveis, mas percepção da intensidade da dor na fase ativa do trabalho de parto.
todas apresentaram diminuição do número de episódios. Conclusão: Material e métodos: Trata-se de um estudo descritivo arrolando 189
O eletrocondicionador parece reduzir o número de episódios de parturientes divididas em dois grupos: grupo I (menor ou igual a 19
enurese noturna, apesar de algumas diiculdades encontradas na anos) e grupo II (maior que 19 anos). Foram selecionadas primigestas
adesão e no funcionamento. em trabalho de parto espontâneo, com membranas corioamnióticas
Palavras-chave: enurese noturna, alarme noturno, terapia íntegras, entre 4 a 5 cm de dilatação, sem uso de medicamentos ou
comportamental, eletrocondicionador. recurso que interferiam na intensidade da dor. Para avaliação da
dor foi utilizada a escala categórica numérica. Resultados: A análise
da escala categórica numérica no grupo I apresentou escore de dor
O efeito da bola suíça em primigestas na fase médio 7,6 dp 1,5 e o grupo II 7,3 dp 1,8, não demonstrando dife-
ativa do trabalho de parto rença estatística signiicativa entre os grupos (p = 0,17). Conclusão:
Rubneide Barreto Silva Gallo, Licia Santos Santana, Daniella A idade de primigestas adolescentes ou adultas não interfere na
Leiros Cunha Cavalcanti Aita, Cristine Homsi Jorge Ferreira, percepção da intensidade da dor na fase ativa do trabalho de parto.
Alessandra Cristina Marcolin, Silvana Maria Quintana Palavras-chave: idade materna, dor, trabalho de parto.
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo (FMRP-USP)
E-mail: rubneidegallo@gmail.com Análise morfométrica da distância entre os
músculos retos do abdome no terceiro trimestre
Introdução: A bola suíça tem sido amplamente utilizada nos gestacional
diversos setores da saúde, no entanto durante o processo de nas- Lucas Ithamar Silva Santos, Sâmya Pires Batista, Andrea
cimento esta ainda tem sido pouco explorada, apesar de descrita Lemos
como eiciente no alívio da dor e evolução do trabalho de parto. Faculdade Redentor – RJ, Rua Glória de Goitá, 601 Janga,
Objetivo: Avaliar o efeito da bola suíça no alívio da dor e duração do Paulista PE
trabalho de parto em primigestas no início da fase ativa do trabalho E-mail: lucas.ithamar@gmail.com

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


224 Suplemento Fisioterapia Brasil - I Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM

Introdução: Durante a gestação, o afastamento dos feixes do Palavras-chave: gestantes, força muscular, músculos
reto abdominal em resposta ao crescimento uterino pode provocar respiratórios.
complicações biomecânicas. Objetivos: Realizar uma análise morfo-
métrica da distância entre os músculos retos do abdome, comparar
a mensuração ativa e passiva e correlacionar os valores obtidos com Abordagem isioterapêutica em reconstrução
a idade, altura de fundo uterino, índice de massa corpórea e idade mamária (skin-sparing) com biópsia do linfonodo
gestacional. Metodologia: Trata-se de um corte transversal que avaliou sentinela – relato de caso
gestantes primíparas com idade entre 18 e 35 anos. Foi realizada Fabiana de Almeida Lima Marcon, Tatiana Fernandes
uma avaliação morfométrica, com um paquímetro, da distância entre Donzelli, Maria Teresa Pace do Amaral, Mariana Maia Freire
os músculos retos do abdome, de forma ativa e passiva. Resultados: de Oliveira
Participaram do estudo 45 mulheres. Houve diferença estatística Curso de Especialização em Saúde da Mulher, do Centro de
quanto ao afastamento durante as manobras ativa e passiva apenas Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) - Universidade
no nível infraumbilical (p = 0,008), e foi observado diferenças Estadual de Campinas (UNICAMP)
quanto aos valores obtidos em cada nível anatômico avaliado, sendo Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Av.Dr Julio
os maiores valores apresentados em ordem crescente nos níveis: in- Soares de Arruda 772 Pq São Quirino, Campinas SP
fraumbilical (2,64 ± 0,89), umbilical (2,87 ± 0,89) e supraumbilical E-mail: faby_marcon@hotmail.com
(3,04 ± 0,880). Conclusão: Os achados evidenciaram que em todas
as gestantes, a separação entre os músculos retos do abdome esteve Introdução: Skin-sparing, técnica cirúrgica que remove glândula
presente, prevalecendo a variação considerada isiológica. mamária preservando a pele, proposta para proilaxia e tratamento
Palavras-chave: gestantes, músculos abdominais, reto do do câncer mamário. Associa-se a risco de complicações físicas no
abdome. pós-operatório (PO) precoce. Entretanto, não há consenso sobre
momento adequado para iniciar isioterapia. Objetivo: Avaliar
isioterapia no PO de skin-sparing. Metodologia: Relato de caso,
Força muscular respiratória em primigestas nos MHBL, 65 anos, mastectomia radical esquerda por carcinoma
diferentes volumes pulmonares ductal invasivo (2003). Mamograia (janeiro/2012) evidenciou
Lucas Ithamar Silva Santos; Ana Corina Veloso de Oliveira microcalciicações retroareolares à direita sendo realizado exérese
Lima Costa; Helaine Cibelle Tolentino de Souza; Andrea dos ductos principais. Em maio/2012, realizou mastectomia total
Lemos com biópsia de linfonodo sentinela e reconstrução imediata à di-
Faculdade Redentor – RJ, Rua Glória de Goitá, 601 Janga, reita (skin-sparing, com prótese de silicone e reconstrução tardia à
Paulista PE esquerda). Após cirurgia, recebeu orientação médica para manter
E-mail: lucas.ithamar@gmail.com membros superiores imobilizados por 30 dias. No 26° PO iniciou
isioterapia. Realizou 3 sessões, sendo orientada a realizar exercícios
Introdução: Estudos que avaliam a força dos músculos respirató- ativos e alongamentos em domicílio diariamente. Resultados: No
rios durante a gravidez são escassos. Objetivo: Descrever os valores primeiro retorno ambulatorial, sem queixas álgicas, amplitude de
médios da pressão inspiratória (PImáx) e expiratória (PEmáx) máxi- movimento (ADM) de ombros, limitada. Segundo retorno, dor em
mas nos diferentes volumes pulmonares em primigestas e determinar regiões escapular e cervical, sendo realizado terapia manual, com
a relação entre variáveis antropométricas (peso, altura, índice de mas- alívio do sintoma. Terceiro retorno, ADM funcional, sem queixas
sa corpórea), morfológicas (altura de fundo de útero) e clínicas (idade álgicas, recebendo alta isioterapêutica. Conclusão: Acompanha-
gestacional, frequência respiratória). Metodologia: Foi realizado um mento isioterapêutico tardio contribuiu para recuperação ADM e
corte transversal envolvendo 120 primigestas eutróicas. Os valores retorno às atividades diárias, sem aumentar o risco de complicações
de PImax e PEmax foram obtidos através de um manovacuômetro relacionadas a esta técnica cirúrgica.
digital. Resultados: As gestantes apresentaram idade média de 23,34 Palavras-chave: isioterapia, mastectomia, neoplasias da mama.
(DP = 2,07) anos e idade gestacional variando da 5ª a 40ª semana.
As médias dos valores obtidos para PImáx em volume residual (VR)
e capacidade residual funcional (CRF) foram, respectivamente: 88,5 Frequencia da incontinência urinária em
e 84,1 cmH2O. PEmáx pela capacidade pulmonar total (CPT) e gestantes: análise no município de Parnamirim/
CRF foram, respectivamente: 99,8 e 89,6 cmH2O. Houve diferença RN
signiicativa em relação à PImáx (p = 0,036) e PEmáx (p < 0,001). Lívia Narelli*, Rafaela Patrício Martins*, Elizabel de Souza
Não houve associação entre as variáveis independentes estudadas e Ramalho Viana**, Rodrigo Pegado de Abreu Freitas**,
as pressões respiratórias. Apenas a altura mostrou uma associação Maria Thereza Albuquerque Barbosa Cabral Micussi***
signiicativa com a PImáx em VR (r = 0,20, p = 0,02). Conclusão: *Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade
As pressões respiratórias mantiveram-se constantes nos diferentes Federal do Rio Grande do Norte, **Docente do
períodos gestacionais apesar de apresentarem valores maiores nos departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio
volumes pulmonares máximos. Grande do Norte, ***Doutoranda pelo Programa de Pós-

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012


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graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do encontrado, conirma-se que as mulheres no período do climatério
Rio Grande do Norte são sujeitas a fatores que comprometem a qualidade de vida, sendo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Avenida necessário um olhar especializado e voltado para uma intervenção
General Gustavo Cordeiro de Farias, s/n, Petropólis 59010- de forma a prevenir os agravos futuros. Os dados também apontam
180 Natal RN a necessidade de um acompanhamento prévio e continuo, visto que
E-mail: therezamicussi@yahoo.com.br 48% dessas mulheres tiveram como patologia associada no período
do climatério a hipertensão deinindo assim, uma alta prevalência
Introdução: A incontinência urinária (IU) é deinida como entre essas mulheres.
perda involuntária da urina, decorrente de múltiplas etiologias que Palavras-chave: peril epidemiológico; hipertensão; isioterapia.
inluencia negativamente na condição física, emocional e social dos
que sofrem desse problema. As mulheres são afetadas em dobro
quando comparados com os homens, sendo muito frequente em Peril da saúde funcional das mulheres
grávidas. Objetivos: analisar a frequência da IU em mulheres ges- cadastradas nas estratégias de saúde da família
tantes. Metodologia: Através de um estudo descritivo transversal, 72 do município de Muritiba/BA
gestantes foram divididas em três grupos: Grupo 1 (G1) – gestantes Brasileiro JÁ*, Silva DS*, Barbosa MF*, Melo ECA**
no primeiro trimestre; Grupo 2 (G2) – no segundo trimestre e Grupo *Graduandas do Curso de Fisioterapia da Faculdade
3 (G3) no terceiro trimestre. Aplicou-se um questionário sociode- Adventista da Bahia, **Supervisora de Estágio do Curso de
mográico, icha de avaliação clínica ginecológica e obstétrica e o Fisioterapia da Faculdade Adventista da Bahia
questionário King’s Health Questionnaire-KHQ. Resultados: A análise
descritiva demonstrou que 20,83% das gestantes encontravam-se no
1º trimestre, 31,95% no segundo trimestre e 47,22% no terceiro Introdução: A inserção do isioterapeuta nos programas de saúde
trimestre gestacional. Em relação aos antecedentes ginecológicos possibilita melhor adequação da população aos serviços de saúde,
e obstétricos, 45,83% das voluntárias eram primigestas e 54,17% favorecendo a participação ativa dos usuários do SUS na constru-
multigestas. Ao total, 38,89% relatavam ser incontinentes e a perda ção de projetos terapêuticos e na identiicação das práticas a serem
urinária foi mais frequente no terceiro trimestre, em uma prevalência desenvolvidas em determinada área. Para se estabelecer metas de
de 67,0%. Conclusão: Com esses resultados, sugere-se que a gestação abrangência em relação á saúde da população, deve se conhecer suas
é um fator predisponente para IU e a prevalência de IU no grupo reais necessidades e direcionar o atendimento focado nas suas prio-
estudado foi de 38,89%. ridades, podendo ser tanto a nível primário, secundário e terciário.
Palavras-chave: incontinência urinária, gestação, peril de saúde. Metodologia: Foi realizado um estudo transversal, com amostragem
estratiicada proporcional por conglomerados. Resultados: Variável
primária foi peril da saúde funcional das mulheres cadastradas nas
Prevalência de hipertensão em mulheres Estratégias de Saúde da Família do município de Muritiba- BA,
no climatério atendidas na cliníca escola de como variáveis secundárias peril socioeconômico e demográico.
isioterapia da Universidade Estadual da Paraíba São vários os aspectos que envolvem as condições da atenção, ten-
Marília Amorim de Souza, Camilla Isis Rodrigues dos Santos, do como base desmistiicar o enfoque conservador nos serviços de
Eujessika Katielly Rodrigues Silva, Renata Priscila Beserra de saúde, e incrementando o conceito de saúde integral a experiência
Lima, Maria de Lourdes de F. Oliveira da população feminina. Conclusão: A importância desse trabalho
Departamento de Fisioterapia, Universidade Estadual da justiica-se pelo fato de esta ser uma área de atuação da isioterapia
Paraíba ainda pouco explorada pelos seus proissionais, pouco utilizando de
recursos que promovam ações de maneira interdisciplinar, conhe-
cendo o peril da saúde funcional desta população.
Introdução: Devido às alterações hormonais durante o período do Palavras-chave: saúde pública, saúde funcional, saúde da mulher.
climatério, as mulheres são sujeitas a desenvolverem complicações,
dentre elas a hipertensão arterial sistêmica. Objetivos: Veriicar a
prevalência de mulheres no período do climatério acometidas por Avaliação da relação entre função dos músculos
hipertensão do setor de ginecologia da Clínica Escola de Fisioterapia do assoalho pélvico e relato de perda urinária em
da Universidade Estadual da Paraíba. Metodologia: O estudo consiste mulheres grávidas no segundo trimestre
em uma pesquisa do tipo documental, descritiva, exploratória e ana- Daniella Leiros Cunha Cavalcanti Aita, Silvana Maria
lítica, com abordagem quantitativa. Foram analisados prontuários Quintana, Rubneide Silva Gallo, Santos Santana, Geraldo
do setor de ginecologia, onde estiveram inclusos na pesquisa ichas Duarte, Cristine Homsi Jorge Ferreira
que continham a hipertensão arterial como patologia associada ao
climatério. Resultados: Foram veriicados 50 prontuários de mulheres
no período do climatério, no qual 24 eram hipertensas represen- Introdução: A integridade dos músculos do assoalho pélvico
tando um percentual de 48%. Conclusão: A partir do percentual (MAP) e sua contração adequada são fundamentais na manutenção

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das continências urinária e fecal. Estes músculos durante a gravidez Palavras-chave: gestante; edema; isioterapia; vulva
devem estar tônicos para sustentar o útero gravídico e elásticos para
permitir a saída fetal, sofrendo distensão máxima durante o parto e
também participam da função sexual. A relação entre a sua função e Avaliação da qualidade de vida em pacientes
a continência urinária já está bem descrita na literatura, entretanto, mastectomizadas em uma unidade de saúde de
a maior parte dos estudos investigou mulheres fora do período ges- Campina Grande/PB
tacional. Objetivo: Avaliar a relação entre função dos músculos do Raíssa Poliana de Sousa Oliveira, Kátia Lúcia de Lima
assoalho pélvico e o relato de perda urinária em mulheres grávidas Gomes, Jane Carine de Lima Azevedo, Lisânia Kedma de
no segundo trimestre. Metodologia: Foram avaliadas 42 gestantes Araújo, Maíra Creusa Farias Belo, Silmara Marques França
com idade gestacional de 20 semanas por meio da perineometria e
da palpação digital (escala de Oxford modiicada) e questionadas
quanto a presença de perda urinária no último mês. Resultados: Não Introdução: Câncer de mama é a segunda neoplasia frequente
houve diferença estatística em relação a perineometria e a escala de nas mulheres,afetando assim várias áreas da sua vida. Objetivo: Ava-
Oxford em relação ao relato de perda urinária (p = 0,17), assim liar a QV de pacientes mastectomizadas submetidas a tratamento
como, quanto maior a função dos MAP, maior a porcentagem de isioterapêutico. Metodologia: estudo exploratório, quantitativo,
relato positivo de perda urinária (p = 0,16). Conclusão: Nas gestantes transversal e descritivo. Realizado entre Agosto e Setembro de
avaliadas, não foi veriicada a relação entre função dos MAP e relato 2012 em Unidade de Saúde. A amostra do tipo intencional, não-
de perda urinária. -probabilística, feitas com 10 mulheres mastectomizadas e que
Palavras-chave: assoalho pélvico, relato de perda urinária, realizavam isioterapia. Utilizou-se 2 questionários, sóciodemográ-
perineometria, gravidez ico e o SF-36. Resultados: Idade média de 59,7 anos, maioria de
C.Grande (60%), domésticas (70%), casadas (60%), média de 4,8
ilhos. Tiveram seu primeiro ilho em média aos 19,6 anos, 80%
Complexo descongestivo isioterápico no edema amamentou e fazem isioterapia em média há 4 anos.Os domínios
vulvar em gestante: relato de caso mais afetados foram o EGS(13,1),aspectos físicos (41,5). Aspectos
Natachie Furlan Santos, Tatiana Fernandes Donzelli, Jennifer Sociais foi o menos afetado (65,0), seguido da saúde mental (56,8).
Marcella de Moraes Coimbra, Iza de Andrade Maciel, Camila Conclusão: Percebe-se que a QV afeta as mulheres mastectomizadas,
Stein Montalti, Marcela Ponzio Pinto e Silva e Maria Amelia mesmo após isioterapia.
Miquelutti Palavras-chave: câncer de mama, qualidade de vida, fisioterapia.
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Rua Músico
Ageo Caldeira, 93 Jardim Lauro Bueno de Camargo 13348-
651 Indaiatuba SP A cinesioterapia reduz a dor e melhora a
E-mail: natachie@hotmail.com movimentação do membro superior de mulheres
submetidas à mastectomia ou quadrantectomia
Introdução: O edema vulvar é uma complicação rara, que pode Andreza Carvalho Rabelo Mendonça, Danielly Pereira
estar relacionado a etiologias diferentes e seu tratamento deve ser Moura, Mariana Tirolli Rett, Maíra Dantas Silva, Iris Alves de
baseado na causa. Objetivo: Descrever o tratamento isioterapêutico Oliveira, Josimari Melo De Santana
no edema vulvar de uma gestante admitida no Centro de Atenção Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Universidade Estadual de E-mail: marianatrb@gmail.com
Campinas. Método: Primigesta, 17 anos, 36 semanas gestacional,
internada por edema vulvar súbito associado à hipertensão arterial, Introdução: a isioterapia é fundamental para reabilitação das
oligoâmnio severo e optado pela cesárea. No primeiro dia pós-parto, complicações após a cirurgia para câncer de mama. Objetivos: com-
na avaliação isioterapêutica observou-se persistência do edema parar a amplitude de movimento (ADM) e a intensidade de dor no
vulvar e incapacidade da paciente em deambular, sensação de peso membro superior (MS) e, correlacionar estas variáveis. Metodologia:
e dor. Foram realizados quatro atendimentos, uma vez ao dia, que Foram incluídas 39 mulheres submetidas ao protocolo de isioterapia
consistiram do Complexo Descongestivo (CDF) Fisioterápico: (alongamento, exercícios ativo-livres e ativo-assistidos) durante 20
Drenagem Linfática Manual (DLM), enfaixamento compressivo, sessões. A ADM foi avaliada pela goniometria, a intensidade de dor
exercícios e cuidados com a pele. Resultados: No primeiro dia, os pela escala analógica visual (EAV) e caracterizada pelo questionário
curativos foram removidos após quatro horas e o alívio do paciente de dor de McGill no início, após 10 e 20 sessões. Do McGill, foi
referido. No segundo, terceiro e quarto dias de tratamento, ela foi obtido o número de palavras escolhidas (NWC), índice de avalia-
capaz de se sentar e deambular além de manter o enfaixamento ção da dor (PRI) e suas categorias. Resultados: a intensidade de
por aproximadamente 24 horas. No quinto dia, houve resolução dor diminuiu signiicativamente de 3,8 ± 1,7 para 3,0 ± 1,9 da 1ª
completa do edema e o paciente teve alta do hospital. Conclusão: O para a 10ª sessão (p = 0,03). Os escores PRI e NWC diminuíram
tratamento isioterapêutico baseado no CDF possibilitou a regressão signiicativamente da 1ª para a 10ª sessão (p = 0,0021 e p = 0,0159)
completa do edema vulvar. e, da 1ª para a 20ª sessão (p = 0,0001 e p = 0,0003). Os escores das

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categorias do PRI diminuíram após a 10ª sessão, exceto a categoria Realidade virtual na reabilitação física e
afetiva. A amplitude de movimento (ADM) aumentou signiicati- funcional de pacientes mastectomizadas
vamente e não foi encontrada correlação entre ADM, EAV, NWC Eujessika Katielly Rodrigues Silva, Camilla Isis Rodrigues dos
e PRI. Conclusão: a cinesioterapia melhorou a ADM e reduziu a Santos, Marília Amorim de Souza, Renata Priscila Beserra de
dor no MS. Lima, Lorena Carneiro de Macedo
Palavras-chave: mastectomia, isioterapia. Departamento de Fisioterapia,Universidade Estadual da
Paraíba

Desempenho funcional do membro superior após


a isioterapia no pós-operatório de câncer de Introdução: Pacientes mastectomizadas devem passar por pro-
mama cesso de reabilitação isioterapêutica para recuperar a integridade
Danielly Pereira Moura, Mariana Tirolli Rett, Maíra Dantas física e funcional. A realidade virtual, através dos serious games,
Silva, Iris Alves de Oliveira, Andreza Carvalho Rabelo vem apresentando como alternativa complementar e inovadora para
Mendonça, Grayca Kelly Santos de Jesus, Ana Karine Gois auxiliar na terapia e no treinamento. Objetivos: Veriicar atuação da
dos Santos, Josimari Melo DeSantana realidade virtual na reabilitação física e funcional de mulheres mas-
Universidade Federal de Sergipe (UFS) tectomizadas, propondo a utilização de jogos virtuais como forma
E-mail: marianatrb@gmail.com de tratamento para essas pacientes. Metodologia: Trata-se de uma
revisão de literatura em bancos de dados como PubMed (MEDLI-
Resumo: Objetivos: Comparar a amplitude de movimento NE), Lilacs/SciELO e Cochrane Libary, utilizando como descrito-
(ADM) e o desempenho funcional do membro superior (MS) res “realidade virtual”, “reabilitação” e “mastectomia”. Resultados:
homolateral à cirurgia de câncer de mama, e correlacionar estas Não foram encontrados estudos associando terapia com realidade
variáveis. Material e métodos: Estudo de casos envolvendo mulheres virtual e a reabilitação em mastectomizadas, porém foi veriicado
submetidas à cirurgia para tratamento do câncer de mama, associado que os serious games ultrapassam os conceitos do entretenimento e
à linfadenectomia axilar e que foram encaminhadas para isioterapia. oferecem experiências, com propósito especíico, voltadas ao apren-
Para mensurar a ADM foi utilizado o goniômetro e para avaliação dizado e ao treinamento. Sendo assim, os jogos virtuais podem ser
do desempenho funcional foi aplicado o questionário “deiciência utilizados na reabilitação física e funcional em mastectomizadas com
do ombro, braço e mão” (DASH). O protocolo de isioterapia foi objetivo de melhorar a amplitude de movimento, fortalecimento,
de 10 sessões composto por alongamentos e exercícios ativo-livres coordenação motora e propriocepção nos membros superiores,
do MS. A goniometria e os escores do DASH foram comparados além de promover melhora no controle postural e no equilíbrio.
pelo Wilcoxon signed rank test e para correlacionar estas variáveis foi Conclusão: A realidade virtual pode ser utilizada no tratamento de
utilizado o teste de correlação de Spearman, adotando signiicância pacientes mastectomizadas, podendo contribuir para a motivação
de p ≤ 0,05. Resultados: Foram incluídas 10 mulheres com média de do aprendizado em ambientes virtuais, favorecendo a adesão das
idade de 50,3 (± 11,03) anos, sendo sete submetidas à mastectomia pacientes ao tratamento.
radi cal e três à quadrandectomia. Encontrou-se aumento signii- Palavras-chave: reabilitação, mastectomia, realidade virtual.
cativo da ADM de todos movimento avaliadas, principalmente da
lexão, abdução e rotação externa (p = 0,005). O escore total do
DASH reduziu signiicativamente de 40,5 (± 6,3) para 19,1 (± 9,7),
(p = 0,005). Não foi observada nenhuma associação entre a ADM e
o escore total do DASH. Conclusão: Veriicou-se após 10 sessões de
isioterapia, melhora signiicativa da amplitude de movimento e do
desempenho funcional do membro superior homolateral à cirurgia.
Nenhuma correlação foi encontrada entre as variáveis estudadas.

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