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Lucia Helena Nem musa, uic¢ usa (Copysight © 2006 by Lucia Helena Dire desta edigto reservados & EAUFF ~ Edtora da Universidade Federal Fluminense ‘Rus Miguel de Frias, 9 exo -sobreloa eat = CEP 24220:000 - Nir, KU Brasil = TL: (21 2600-587 “Fane (21) 2609-888 parted Ea edutl@vmltby proba a epredugio ttl cu parca desta obra sem autorzacso express drs, Capa, projeto gree, edioracto eletrOnia: Kila M, Macedo DaulosInternacionas de Catalogago-na-fonte - CIP HST Helena, Lacs, ‘Nem muss, nem medusa: tneréros da escita em Clarice Lispector/ Lucia Helena. —2.ed. revista e ampliada. Niet: BJUBP; 2006. 165 p21 em. — (Colegio ensios; 6). Bibliograa:p. 153, ISBN 85:208-0027-3 | Literatura bras. 17 Jo See, 2. cop 99.3, UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, Reitor: Cicero Mauro Fialho Rodrigues Vice-Reitor: Antbnio José dos Santos Pegana Pri-Reitor de Pesquisa ¢ Pés-Graduagio: Luiz Attonio Botelho Dietora da EAUFF: Livia Rele Diretor da Divisao de Edioracio e Produedu: Ricardo Borges Diretora da Divisio de Desenvolvimento ¢ Mercado: Laciene Patera de Moraes ‘Assessoria de Comunicagao e Eventos: Ana Paula Campos Comissto Eatorat Cis Faas Linares ‘gre reels ob helo Hess de Araujo Ivan Ramalho de Almeida Luis Antonio Boeo Audrade Magra Brasil Barbosa do Nascimento Marco Antonio Teixeira Por Maalene Carmelinda Gomes Mendes ‘Regine Helena Fetes ds Souea ro Haesbact a Costa ae Saat ‘Druck ‘era Regina Salles Sobral Virginia Maria Gomes de Mattos Fortes Ex sou extremanente realista. Has acontece 0 sepuinte: eu “adivinko” a realidade mais do que eu a vejo, Eesse mew relacionamento de adivinhayéo com a realidade é— mii. Eo pensanento? Como é que de um corpo silido nasce @ mais volétil das substincas que & 0 lore pensamento? Portanto, ‘pensar’ é ure ato continuo de magia. Clarice Lispector © CORACAO GROSSO E SUA MARCHA ~ Anda, excomungade, © pintalho nto se mexcu, ¢ Fabiano desejou grosso, queria r ase atilo. Tinka 0 coragioy apie, Som RTO Fee Sean obsticulo miido nio era culpalo, mas diicultava a 8, €0-vaquto precisava chogat, no sabia ane, Graciliano Ramos Fabiano, Sinha Vit6ria, menino mais velho, menino ma tno ram plo eri, mach do que omens. "A sna dele eva correr mundo, andar para cima e para baixo, é toa, como judeu errante” (Ramos, 1978, 20). Parente préxima, Macabéa nasceria anos depois, “inteiramente raquitica, heran- ga do sertéo —ox maus antecedentes de que falei” (HE, 35) j Macabéas ¢ Fabianos (macabeus do nordeste?) trazem no corpo as marcas de um viver A margem, seja dos cédigos insti- tufdos, que nao dominam, seja pela destituigdo das condicdes basieas de sobrevivéncia e de cidadania. A linguagem que usam faz-se parceira de sua forma andarilha de viver, de modo que 0 trago migrante configura o corpo ea alma, Precocementeenve- Ihecidos, remetem a uma organizagio social que faz da exclu: sdo uma forma de tutela, Levas de migrantes, a0 longo da histéla, alam dessa marcha, mascarada‘em destino. Fabiano encontra seus percalgos num tempo em que novo proceso de produgao adentrava o sertao brasileiro. Se em Sao Bernardo as tentativas do protagonista de enriquecer a qual- june prego pram (parle daa armatllhus dal fntrodigio x modermidad entre nbs, fazendlo com que Paulo Honoirio se re- velasse “o emblema complexo e contraditério do capitalismo nascente”,* Fabiano, desde 0 seas, évitima do °° Fabiano, desde o inicio de Vidas secas, é vitima sistema. ae Vilas seeas, 1978, 10. A observacio é de Jodo Luiz Lafeti,em“O mundo a revelia”, posticio 8 vig sélima edigio de Sao Bernardo, de Grail sti 1 de Graviliano Ramos (Rio de Janeiro: Recor, 140 ‘Ao contrério de Paulo Hon6rio, dinamico, empreendedor cruel, Fabiano 6 incapaz.de arquitetar uma sail, fora do ciclico movimento de ir-e-vit em que se instala, na busca de escapar da seca. Sem vocabulirio, nio encontra resposta para as per guntas dos meninos —“Esses capetas tém ideas...” (Ramos, 1978, 21) —, que deve evitar e espreitar, pois The despertam a meméria de que nao sabe como ser homem, proximo que esti ‘dus coisas ¢ dos bichos, num estado de permanente reificagio ‘Como uma das pecas fundamentais de critica dessa questio, @ objetividade e secura da narragio, nos dois romances, faz-se interpenctrar de uma surpreendente subjetividade, o que Pro porciona 0 leitor contato profundo com a densidade daqueles eves marcados pela preméncia e pelo quase desumano modo de sere de estar no mundo, Move Paulo Honério a vontade de poder de transformar o que esti a sua volta pela acumulaca0, Como sufocar da subjetividade. A historia (assim como o con- ceito de Histéria que dela se pode depreender) responde, num primeiro nivel, ao impulso da linearidade: a posse da terra, da mulher e do filho. Fé, ainda, um complicador inicial, na tents tiva de apropriagao do trabalho intelectual alheio — embrido a falhar: a posse do fivro, Opondo-se a essa linearidade, em VF das secas, Fabiano avulta de relato a relato em capitulos fra tmentados ¢ circulares. Nao s6 ele acredita que seu destino € caminhar set saber para onde, de modo a escapar de uma sina no rolar de um eterno retorno ao nada de que partira, como também a forma da narrativa endossa esse contetido, - Bases dois modos —o da repeticéo perpétua de uma fa- talidade tragica (Fabiano) € 0 de um ethos que tudo sacrifica pela marcha inexorivel do progresso (Paulo Hondrio)— esto postos em xeque pela narrativa de Graciliano Ramos, que nao opta nem por um, nem por outro, antes sublinhando 0 estrata- gema aprisionante que urde essa (aparentemente j wevitavel) struindo duas modalidades de her6i problematico. antitese, €0 Se a oposicao que se estabelece em Graciliano & como jé dissemos, da ordem de uma polémica entre duas esferas com- 141 a LE es plementares — 0 destino tragico e a consciéncia humana em Lispector a tensdo binéria (como forma de se conceber estoria ¢ « Hist6ria) encontra-se rasurada, pela quebra tanto da concepcio linear de tempo, quanto pela ruptura com a Jinearidade do que se vai ler. Conforme ja se destacou anterior mente, a construgio das peripécias de Macabéa debruca-se s0- bre o soliléquio do narrador, que indaga como e por quem o relato deve/nio deve ser contado. A série de cogitacdes sobre a morte de Macabséa é uma outra dobra no texto, a complicar ¢ impedir a linearidade do desenrolar da acdo. O narrador hesita em matar sua personagem, paradiando forgas do destino: as da fatalidade e as da pera a que subterraneamente se refere, u dindo uma “6pera bufa” em que Macabéa nasce e morro na lrajet6ria da escrita ¢ ndo mais pela concepgio de que o ato de narrar possa transerever um mundo que o antecede. A dimen. Sio do her6i problemitico ganha outra configuracao nessa per- sonagem, Apesar das diferengas entre os textos, 20 percorrer essas narrativas especificas, as duas de Graciliano Ramos (Vidas se- cas e Sao Bernardo) ¢ a tle Clarice Lispector (A hora da estre- {a), 0 leitor assiste & migracdo de uma idéia: « do ato de narra a vida de um personagem pobre e nordestino em mais de uma modalidade, Acompanha, igualmente, a movimentagiio, no tem- Poe no espaco, da figura do migrante como tema e personagem narrativo. O texto de Lispector, ao reclamar de modo sutil as narrativas de Graciliano Ramos em que se destacava a figura do migrante, reinscreve-a noutro patamar, pois a coloca em confronto com outras formas de se conceituar a Histéria e a estOria. Processa-se, nessa migragio de sentidos, uma releitura do modemismo de Graciliano Ramos pela modernidade tardia €m que se encontra o tempo da escrita de Clarice Lispector. Produzida na fronteira da década de 1970 para ade 1980, Macabéa 6 de um tempo em que a estrutura do capitalismo he muito deixou seu estégio primitivo e agora da cartas de modo bem mais sofisticado, apenas deixando a cartomante a tarefa 142, dos vaticinios. Mas, em ambos os textos, o outro nfo esti nun- ca além ou fora de nds. Emerge, com forga, na complexidade dindmica da migragio ¢ aparece como uma forma de dissemi- nar novos sentidos para o exilio e a errancia, Diz Edward Said que em outras épocas os exilados (¢ os migrantes) sofreram as mesmas frustragées e afligbes que os da atualidade. Mas a dife- renca entre os exilados de outrora e os de nosso tempo, diz Said (2003, 47) “é de escala: nossa época, com a guerra moderna, 0 imperialismo, as anbigdes quase teleoldgicas dos governantes totalitivios, é com efeito, a era do refugiado, da pessoa deslucudu, da imigracdo em massa.” E outro o movimento de Fabiano ¢ de sua familia, de um lugar para outro, fugindo da seca, parecendo tomar impulso na fora do destino que Ihes parece hostil. Mas em um texto que busca provocar @ consciéncia critica para o problema socia que se agrava no nordeste dos anos 30, gradativamente, a nar- rativa vai transmudando esse destino em algo que frutifica ngo da natureza, mas do ato consciente que emana de um sistema de dominantes ¢ dominados. E como se, mantendo a natureza agresic, 0 circuito de repetigao do poder retivesse o comando nas mos dos que detém a posse da terra, Migrar, fenbmieno que assola a gente mitida e vitimada, pa a fora do destino, mas um fenémeno social forjado pela falta de objet ‘vos politicos de transformar o panorama hostil. Mas a migra- cdo nao é um dado apenas tematico. Do ponto de vista formal, cla indicia um dialogismo cultural em que o processo de signi- ficagio ¢ de constituicao da subjetividade produz sentidos mé veis, instiveis, em que 0 quem soulquem és permanece como problema. O descjo de falar como Seu Tomas da bolandeira, sem 0 ser, € a tentativa de dar forma ao que ainda ndo é idéia levam Fabiano a construir frases semanticamente impossiveis, das quais o sentido também se encontra exilado: “—Como é cama- rada? Vamos jogar wn trinta-e-um lé dentro? —Fabiano aten- touna farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras M3 de Seu Tomds da bolandeira: —Isto é. Vamos ¢ nio vamos Quer dizer. Enfim, contanto, etc. E. conforme” (Ramos, 1978 29). O deslocamento do subalterno nao é apenas um tema, mas algo que se a prdpria forma narrativa, algo qu se instala na linguagem, ja que o migrante torna-se, em Clarice em Graciliano, incompetente, como Fabiano Macabéa, part formular sentido. Meio bicho, meio coisa, pertencente a terra tém a fala entrecortada de siléncios e sussurros. A dificuldade de Lidar cou a linguayeu que neles se entrevé coincide com 0 seu desabrigo fisico e material. Assim, dois (mas que condu- zem a um niicleo comum) problemas aproximam Fabiano de Macabéa: 0 deslocamento inglério em busca de uma saida que se nega para eles € a pouca habilidade para 0 uso da lingua. issemina Para Fabiano, a dificuldade de expressar-se é demonstra- da pela estranha utilizagao da lingua em frases que se apdiam em excessos de conectivos para dar énfase ao elemento incum- bido de promover as inter-relagbes, dese modo revelando que no consegue se conectar com 0 mundo, nem dispor, de modo cficiente, da linguagem verbal. Macabéa, por seu turno, tenta extrair de sua enciclopédia, a Ridio Relégio Federal, informa- Ges que a fagam nao sé parecer inteligente aos olhos do umado_ Olimpico como também Ihe permitam procurar nele apoio para compreender aqucle mundo de palavras dificeis, como “ilge- bra” e“mimetismo”, cujo sentido demonstra nao compreender. Nada disso é passivel de ser esquematizado sem perdas para os nossos propésitos de argumentagiio. O fragmento posto como epigrafe nese texto diz da complexidude dessa estraté- a, que se realiza entre o deslocamento ¢ 0 repouso. A lingt ‘gem romanesca mostra-se em plena posse do transito entre dizer e silenciar. A tradicio neo-realista e a fresta que nela se abre criam a diferenca, fundamental, entre cumprir um destino e tra- car um rumo. Entre 0 acaso, 0 destino © a vontade: “Onde estamos, quando pensamos?” (Arendt, 1993, 195). A narrativa 144 de Clarice Lispector traz, no seu ser em dobradiga, a citagao subten (Vidas secas ¢ Sdo Bernardo) como também a da série social do romance nordestino de 30. Rodrigo S. M. vai deixar de bar- bear-se, vai vestit como se procedesse & maneira de Zola. 1ea nao s6 dos dois romances de Graciliano Ramos .e mal, para simular ser um dos desvalidos, Outras formas de narrativas produzidas por personagens migrantes so postas em dialogismo, no caso de Clarice, como 0 treze titulos alternativos de A hora da estrela, pendurados na folha de rosto, mostrando que o notictario de Macabéa se pr de também as tradig feiras nordestinas nao apenas is da midia (no caso 0 ridio) da cidade grande por onde est vagando. | s da oralidade do ABC c do corde! das ‘Tanto no texto de Graciliano Ramos como no de Lispector | relé-se uma questao antiga: a do impasse dos homens dian- te de seu des clos dle uma tradigdo que se encontra recalcada, por exemplo, ‘no nordeste do inicio do século XX, quando se tenta uma mo- derniza passa como uma ceifadeira por sobre a lavoura e os homens que nela trabalham e o agreste desprotegido pelo poder, & min- 10, ou do que chamam como tal, em face dos inadequada. Entre a modernizagao que os umeaca e eis uma caminhada tragica, renitente, que se repete ¢ reine Macabéa ¢ seus antecedentes, Graciliano ¢ Clarice retomam, essa questdo segurando-a com vigor. Ela, pescando a entrelinha, jogando com a ponta dos de- dos, na feliz expressio de Vilma Aréas (2005). Ele, com 0 pu- nho em riste, com a escrita q pio da coruja que obsessivamente repete a troca de sentido, oportunista e ideol6gica, entre o que se costuma chamar desti- 1no e, por vezes, moira, acaso ou fatalidade, ¢ aquilo que de fato 6,a mao dos homens, a de cescava, risca até fazer sangrar 0 sa de espoliar. sto pol Esbarramos, nessas narrativas, na figuragio da morte. E mortal a caminhada dessa errancia entre a precariedade do ho- mem abandonado pela lei que o devia proteger, ¢ a voracidade 145 eee do poder que sobre ele se abate sem defendé-lo. Desgracados ou por forca de lei discricionéria ou por falta de qualquer lei, cis o papel que Ihes resta cumprir. Tornam-se, assim, fcones de uma visio tragica da existéncia, Migrantes, Fabiano e Macabéa ganham vida numa literatura que, em seu poder de meméri deles nos fala a partir da possibilidade que espirito tem de tornar presentes os invisiveis (Arendt, 1993, 195), Como dissemos em nosso Nem musa, nem medusa, 0 texto de A hora da estrela descortina para Macabéa 0 encontro com a cartomante ¢ o jovem louro — este, o principe lindo e estrangei ro, 0 imigrante doublé de outros vultos verbais textualizados no imaginario cultural, como, por exemplo, 0 “colonizador”, 0 “imperialista” ou 0 “capital estrangeiro”. Macabéa queria rea- lizar seu sonho de ser estrela, embora, a seguir, a personagem venha a ser atropelada por um carro cam a esticla da Mercedes Benz. Ao lidar com a matéria rarefeita desse imaginar da esirela aciona e desmonta a concepgio de Historia ¢ entidade que se mova de forma linear em diregio a um telus Ao destruir © vaticinio da cartomante, contribui para questio- nar 0 conceito principal e novo da Era Moderna — a nogio de progresso como forga que governa a historia humana —, que Culocou uma énfase sem precedentes no futuro (Arendt, 1993, 201). Expondo 0 logro da promessa de progresso, o texto recu- sa-se a referendiar uma forma de se refletir sobre o mundo, que faria da Vontade 0 dinamo do futnro, Um dos mitos do cap lismo nascente, estudado por Ian Watt (1997), € 0 homo economicus: 0 individuo que, pela ambigio inexorivel ¢ pela vontade de acumulagio, ter scu futuro garantido. A visio tré- gica que orienta a construct do perfil de Fabiano e de Macabéa, € questiona 0 muncio em que estio inseridos, é conduzida por outra forma de se pensar a Historia, fora da égide do progresso e de qualquer modalidade de ufanismo. 146 Sentidos diversos no diciondrio, migrar ¢ imigrar tém no deslocamento um ponto em comum: a agio de ir e vir, mesmo contra a vontadle, em busca do que falta. O migrante ¢ o imi- grante, quando no sertao, sao regidos por lei nao escrita, vincu- Jam-se ao solo e dele derivam a substincia ¢ a vida ao movimento a0 tempo que Thes resta. Talvez por isso caminhar parega im- perioso a Fabiano, que sente insuportivel a recusa do fillto em continuar a marcha, Despossutdo, resta-the continuar sua pro- cura, deambulando no espaco. Por sua vez, deslocada para a cidade, Macabéa se torna, toviavia, um ser no tempo. Retira da ‘marca das horas cla Rédio Rel6gio Federal 0 viver ¢ o saber que néio tem, Mas seja no tempo, como Macabéa, seja no espaco, como Fabiano, ambos se encaminham para lugar nenhum. Na sociedade contemporanea, 0 projeto de felicidade, progresso ¢ justica social, elaborado no Huminismo, ainda pro- mete impulsionar para adiante, No entanto parecem ter ficado esmaecidas as poucas luzes de suas promessas, pelo menos 208 que, sob o impulso dos que buscam a arreme ial para cima, sustentam-na, levados para baixo. Idealizando mudangas ¢ tendo executado algumas, a pro- messa do progresso, com sua seta teleolégica, como a sorte Jangada pela carlomante ou a seca de eterno retorno, traz em seu bojo a cadeia de um virus supostamente domado. Estudan- do o holocausto, hoje se considera até que ponto & eticamente cega a busca burocritica da eficiéncia. Estaria no bojo da modernidade uma vontade de construir 2 Historia a qualquer reco, sem que se conseguisse romper com a estrutura de do- minantes e dominados, Graciliano Ramos ¢ Clarice Lispector trataram do problema com agudeza. Na deriva do projeto de intervengio dos roménticos re~ vohuciondtios, eriticos da moderna sociedade burguesa c da ci- vilizagio criada pela Revolucio Industrial, Gracitiano Ramos configurou personagens migrantes que apontam para uma cs- trutura narrativa urdida a partir da categoria do her6i proble- 147

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