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318 ouvRo roRuin se are, devon, re, loos, sou odos esses flocs, nzande-s, tunis, semrandse em qualquorhigar que eu x me ren- contro, me abndona, cow para min mesmo, eno de min, sempre seu, uma parcela de mbm, retomada, perdi, esenpa- dd, palaors, sou todas esas palaoras, todas esas estrangims, ‘ess pei de verbo, sem furato onde apoiar-se, sem af onde disspar-se, encontmano-se para dice, esquionndo-se para dt 2er que eu sou todas elas as que se ue, que se separa, as qu’ se ignaram, e no outa coisa, se, qualquer outa coist ‘que sou outa coisa wna coisa muda, num luger duro, vazi, fevlado, seco, niido, negro, onde nada se move, nada faa, ¢ ‘escuto¢ ou, e busc, como st animal nascido em jaula de ‘anna nacido em aula de anmatsmascids em aula dean as nascids em jaula.” capiuLow MORTE DO ULTIMO ESCRITOR Podemas sonhar com 0 timo eseritor, om © qual desapareceria, sem que ninguém 0 percebesse, 0 pequ ‘no mistério da escrita, Para dar um ar fantistico a situagao. podemos imaginar que esse Rimbaud, ainda mais mitico cdo que o verdaclero, ouve calar-senele a fala que com ele "morte, Podemos enfim supor que seria percebido, de cex- ta maneira, no mundo e no citculo das civlizagbes, esse fim definitive, O que resultaria disso? Aparentemente, uum grande silencio. Eo que se diz, polidamente, quando ‘lgum escritor desaparece: uma voz se calou, um pensa. mento se dissipou. Que siléncio, ento, se mais ninguém falasse daquela maneira eminente que éa fala das obras, acompanhadla do rumor de sua reputagio! Sonhemos com isso. Epocas asim exstiram, exstirio, cessas Fegdes so realidade em certo momento da vida de. cada um de ns. Para surpresa do senso comum, no dia fem que essa luz se extinguir, nio seré pelo silencio, mas pelo recuo do siléncio, por um rasgao na espessura do si Iencio e, através cesse rasgo, a aproximagao de um ru do novo, que se anunciaré a era ser palavras. Nada de gra 320 ouvroronvit vera deridon: apenas um muro que nada ares- entadao grande tumult das cides que suprtomes cv Seu nico carter le incessant’ Uma vero dyno poder dear des lazer ous com fe © duvimosverdaderamente, como ecap escul, exa tami ata drag tanto mas presente quarto mals foi dito e jamais o sera, = " A fala secrea sem segredo Nao ¢ um rufdo, embora,& sua aproximagio, tudo se forme ruido & nossa volta (e& preciso lembrar que ignora ‘mos, hoje, 0 que seria um roid). E antes uma fala: iss0 fal, isso nao pia de fala, € como um vazio falante, um leve murmaiio insistente,inderente, que sem divida & 0 mesmo para todos, que é sem segredo eno entanto, isola ‘cada um, separa-o dos outros, do’ mundo e dele mesmo, arrastando-o por labirintos zombet mani : om atindo-o para tm gar cad ver ais lginguo, por ua ascante re Puls, abo do mundo comm das plats eoidianas. ‘Aestranheza dessa fala € que ea parece dizer algo eng talvez no ga nada ind tat paece que profundidade ela alae oincio nla se faz ous. Ev boxa sea expantosament rl, sem ntmidade e sem fe ledade parece falar a cada um, parece dizer Ie 0 que ese ls puao spel eos pee ra or um instante. la no €enganadoa, pos no promete hem diz neda sian sempre para um so mines falando do interior embor xa o propio for, presente ram liga ico onde ovindo-apodeamos cn fu, tas Gm lugar enum em tala arte encows, pots PARA ONDEVALA LTERATURA? a 6 osiléncio que fala, que se tornou essa fas fla que no se ouve, essa fala secreta sem segredo. ‘Como fazé-la cal? Como ouvi-la, camo oa ouvir? la transforma o dia em noite, faz das noites sem sono ‘um sonho vazio e penetrante. Esté ababxo de tudo 0 que ‘se diz, por detrés de cada pensamento familiar, sabmer~ gindo, engolindo imperceptivelmente todas as palavras honestas do homem, como um terceiro em cada didlogo, ‘como tim eco em cada mondlogo. E sua monotonia po- deria fazer erer que ela reina pela paciéncia, que esmaga por sua ligeiteza, que dissipa e dissolve todas as coisas oma o nevoeiro, impedindo os homens de se amarem pelo fascinio sem objeto com que substitui tada paisto. ‘O que ¢ entdo? Uma fala humana? Divina? Uma fala que nao foi pronunciada e que deseja sé-lo? Seré uma fala morta, espécie de fantasma, inocente e atonmentador co- ‘mo 0 830 08 espectros? Serd a propria atséncia de toda fala? Ninguém ousa dscuti-lo, nem mesmo aludira isso. F eada tum, em sua solidio dissimulada, busca um modo proprio de toms: lava, e¢ isso mesmo que ela deseja, ser ‘ie cada vez mais va’ 6 a toma de sua dominagao. Um eseritar ¢ aquele que impie siléncio a essa fla, ‘euma obra literdria€, para aquele que sabe penetrarnela, {uma preciosa morada desilricio, uma defesa firme e uma alta muralha contra essa imensidade falante que se di ‘grands, desviando-nos de nds. Se, nesseTibete imagin- fio onde jé nao se descobririam em ninguém os sina sa- frados, toda literatura cessasse de fala, 0 que fri falta 6 silencio, e€ essa falta de silncio que revelaria, talvez, 0 desaparecimento da fla lteriia ‘Diante de toda grande obra de arte plstica, a evidén cia de um siléncio particular nos atinge, como urna surpre ‘sa que nem sempre é um repouso: um silencio sensivel, ig, as vezes soberanamente indiferen- 32 uo PRU te, 3s vezesagitado, animado e alegre. Eo livro verdadeito tem sempre algo de esttua. Ele se eleva ese organiza co ‘mo uma poténca silenciosa que dé forma e frmeza a0 silencio e pelo silencio. Foderiamos objetar que, no mundo onde faltaré dere Pente osiléncio da arte, e onde se afirmari a nudes obs ‘cara de uma fala nua eestrangeia,capaz de destrar todas as outa, havers ainda, se no houver mais artistas nem es titores novos, tesouro das obras antiga, o silo das Mu seus e das Bibliotecas, onde cada um poeta vir dlandesti- ‘Ramente em busca de um pouco de calmae de ar silencio ‘0. Mas ¢ preciso supor que, no dia em que a fala erante se impuser assistiremosa um desrogramento muito particular de todos os livros a uma reconquista, por ela, das obras que ‘ahaviam momentaneamente dominado, e que si sempre ‘ais ou menos suas cdmplices, pois ela detém 0 segreco dlestas. Existe, em toda Bibliotoca bem-feita, um Inferno ‘onde ficam os livos que mio devem ser idos: Mas ha, em cada grande lvro, um outro infemo, um centro de egiil dau onde ela espera a fore esconda da la que no 6 uma fala, doce halito da eterna repetiga. __ De modo que os mestres daquele tempo, como no ‘muito ousado imaginar,ndo pensarSo em abrigar-se em Alexandria, mas em condenar saa Biblioteca ao fogo. Com certeza, um grande nojo dos livros se apossard de todos: ‘uma eélera contra eles, um desamparo veemente, ea vio léncia miserdvel que observamos em todos 0s periodos de fraqueza que atraem a ditadura, O ditador O ditador, palavra que faz refit, Ble 6 homem do dicare da repetigao imperiosa que, cada vez que se anun vga ONDE va 2TERATURA? 33 ciao pero da pala estrangeira, pretend lutarcontra ela pelo igor eum comando sem replica e sem conte do, Ope, aguilo que é marmirio sem lite, anitidez da pelava de orden, substitu a nsinuagio do que no se Suve pelo git peremptiro, taxa 2 queso errant do fespecto de Hamel, que, como uma velhatoupera sob a tera vagueia de um lugar a outro sem poder esem des- tino pea fala ada da rao rea, que commana e jamais duvida. Mas esse perfeitoadversirio, © homer provi dlencilsuscitado para cobrr,com seus ritos estas ce- ‘inoes de ferro, o evoero da ambiguidae da fala espe tal no ser lea realidad, susctado por ela? Nao cle Sa parodia, sua mascara ainda mais varia, sua replica tnentiesn quando, chamado pelos homens cansadon © infelizes, para fugit ao terve mor da ausénia — tee ‘el, masnio enganador vata separa presenca do id= To categérce ques pede dociidade e promete o grande repous da sudez interior? “Asim, os dtaones vem naturalmente tomar ohigar dios esertres, ds artistas dos pensadores. Maen to_ala varia do comando €0 prolongamento asustado t mentioao do que se prefere ouvir, errando nas pragas pilblicas a acoihé-lo epacifid-lo em si mesmo, por um fande ergo de atengto, esrtor tem uma tala mi {o diferente e também sina responsabilidad muito ‘esa: de entrar mais do que rngém, numa relacio de intimidade com o rumor esencial. Esomente esse pre- oque ele pode impor le osiénco, ouv-o ness tho‘ depots exprimil, metamorioseado ‘No existe eset sem esa aproximagio, sem a pas sagem por essa prova. Cada fala no-falante se parece ‘muito com a inspiraio, mas no se confunde com el Cora somentequelehigat nico para cada um. on a4 ouneo roxvin ferno a0 qual desceu Orfeu lugar da dispersio e da dis- «6rdia, onde de repente é preciso enfrenté-la.e achat, em ‘i mesmo, nelae na experiéncia de toda arte, 0 que trans- forma a impoténcia em poder, 0 erx0 em camino ea fala no-falante num siléncio a partir do qual ela pode ver- dadeiramente falar, e deivar falar nela a origem, sem des. truir os homens. A literatura modema Nio sio coisas simples. A tentagio que a teratura atl sente, dese apeonimar cada vez mas do murmaio solitiro, ests igada muita causa, earoetratics de ‘nosso tempo, da hist, do prprio movimento daar {fem por efeitofaze-nos quase ui, em todas a gan, des obras moderna, « qu estariames expos 8 ouvir se, de repente,ndo houvesse mais ate nem liteatuta. E Por iso que esas obras so nase por iso lamb que las nos parecem perigosas, pois nasceam imediata- mente do perigo e mal contrlam, Ha certamente muitos meis (tanto quanto obras e estls de obra) de dominaeapalava do desert. Att. tica € um dessesmeios de dees, concebido de modo «ficaz,¢ mesmo diabolicamente montado, para cnjurar «perio, mas também para tom-lo necesito eimperio. 0 nos pontosjustos em que as elagbes com ele pxlem tommar-se levee provisos Mas a etirica€ uma pre 0 to perfeita que esquece a azo pela qual fi organ Zarda: no apenas para afastar, mas para ata, deswan do-a, a imensid flant; para ser tm posto avanado no meio da aptago das areas, enfoum pesueno aque de fantasia que 0s paseantesvém via aos domingo. PRA ONDEAYA LrERATURA? 35 Fedemes notar que alguns “grandes” estore tm algo de peremptno na vor no ime do tremor eda cs pasto,qucevoca no mbio date adominagbo do di fae Diao que se apiam soe eles estos, os brealguma creme, sobre sua cnscéni ftme mas ogo fecha clita fim de tmar og do anigo et cols eps coreg ensure eo NC de sua lingua, a atu de sua vor ea firme deiso de su oud ea fan de Gato no tom neta, © apagariento ea tas paren lvemente ua pela qual parce ofescy, 8 Fala soli una rape ernie dug a ecomoum eselo glad, para qu ela ea tena & rele refleti-se="may,feqientementeoepelho perma ‘Admirivel Michaux, estore, no maisntimo de si unas A vor estan «da ropante deacon Ge caiu na arma, e que ago que all expime, cm sobretaoe de snot no agua vox una ‘usw sown Fn tucepns a precoped chp Stn recursos de um hur redobraday ua noc talads devi de xperien rerio abandon 6 Iomentoe que vl pereera porta abl acrad, de tm imagem que ura eu dorunor Combate extrem, ita maravihosa max desperebia, Hi tambem a tagarelice eo qu se chamou de mo- ning interior que no eprdk de nenfuma mania come se ake aqua que homem dias mes, pos 1 hortio nio la conlg, © a imide do he Td alrced anata: pated pa 6 mt edz alguns sins espagaton © mandlog inet cath mo oucin, oc ota co steep rents do hs ninteropt eincssate da fala naa 326 ura nonin le. Nog esquesamos a fry dessa reside em a aqueza, ela nao se ouve,& por sso ue nfo cessamos ds buds el eth o tas pert pone do siinco, 0 por isso que o dest completamente. Enfim, o monélo- ointerior tem um centro, aqule "Ei" que ta tudo paca smo, enquanto a outa fala no tem centro, Gessen mente errantee sempre de fora. E preciso imporlhe slénco.£ preciso reconduzi-la ao silencio que esta nla. E preciso que ela se esquesa de Simesma, por um instante, para poder naseet, por uma tvipla metamor(ose, uma fala verdadeita:a do Live, dh via Mallarmé ‘cariruLoy OLIVRO PORVIR 1. Bece liber (© Livro: 0 que significava essa patavra para Mallarmé? [A partir de 1866, ele sempre pensou ¢ disse a mesina coisa. Entetanto, 0 mesmo nao 6 sempre o mestno, Uma das ta- refs seria ade mostrar por que ¢ como essa repetcao cons: fitui o movimento que the abre, lenfamente, um eaminho. Tudo o-queele tem a dizer parece fbado desde o comeso &, ao mesmo tempo, os tragos comuns 350 so groseiramente. Lioro mumeroso Tragos comuns:olivro, que desde o comegaja éoLi- ‘10, oessenclal da literatura, & também um lve, “simples: mente”, Esse lio nico ¢ feito de varios volumes: cinco. volumes, diz ele em 1866, muitos tomos,afirma ainda em 1885", Por que essa pluralidade? Ela surpreende, vinda de 5. En 867 ei” odesenvolvinario da Oa a prs em very unt potas em psa Em 171, mas ago pensanent

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