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— ÁGAPE (Amor em grego*) é a


realização de sonho, depois de anos
ensaiando criei coragem de publica-lo
e espero que seja o primeiro de
muitos, entre contos, poesias. Quero
agradecer a todos que me leem, e em
especial minha linda namorada Bruna
Bordin, minha grande incentivadora;
Meus amigos e familiares, obrigado.

HUXCLEY; George.
Cuiabá; 2012

— Ágape
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ÁGAPE

— Agora, pois, permanecem a fé, a esperança


e o amor, estes três, mas o maior destes é o
ágape.
1 Coríntios 13:13 - NVI – Grifo meu.

— Ágape
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Cheguei ofegante da manhã de pedalada,


resolvi tirar a bicicleta de casa, saí ainda de
madrugadinha, com alguns quilinhos a mais, e
meu pai me obrigando a fazer exercícios e tive
que começar, ter pai médico é foda.
Passei pelo seu Jair na portaria do prédio.

— Bom Dia seu Jair!

— Bom dia minha filha, leve o jornal pro teu pai.

— Pode deixar seu Jair.

Fui pegar o Jornal no local de nossas


correspondências, e não estava lá, voltei até a
portaria, e indaguei o seu Jair.
— Seu Jair, o jornal não está lá!

Ele logo me responde.


— Ah minha filha, agora me lembrei, a visita que
chegou agora cedo, levou pra ele.

Perguntei – lhe:

— Quem chegou a essa hora?

E estranhamente ele disse meio desconfiado.

— Não sei não minha filha, tenho que ir até ali;


E saiu pelo saguão.

— Ágape
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Achei um tanto estranho, mas peguei o elevador


e subi até em casa, até iria de escada, mas a
pressa em saber quem era foi uma boa desculpa
para evita-la.
Abri a porta, e levei o susto:

—Toni?
Ele veio meio sem graça me abraçar

— Então era você? Por que não me avisou que


viria, estou fedida, não me abrace. Disse tirando
os braços dele da minha cintura.

Ele se aproxima lentamente me puxa, e me


abraça forte, e diz baixo com a voz de choro,
que me ama, fico sem entender, e logo
pergunto:

— O que tá acontecendo?

Cara! Ele e meu pai estavam conversando, e o


clima estava tenso, comecei a ficar nervosa. Meu
Pai diz:

— Filha, precisamos conversar, sente-se aqui,


falou em tom abatido.

Diante da situação comecei a chorar, sei que


pelo fato do Toni ser meio rebelde, meu pai não
era o maior fã dele, nem se falavam muito, meu
pai é meio fechado, e os brincos e jeito de
rockstar de Toni não ajudava muito a relação dos
dois, sei lá, acho que o fato de Toni ter uma
banda assustava meu pai, já o vi conversando
com minha mãe a respeito, ele temia que Toni

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me deixasse quando fosse fazer diversas turnês,


e tudo mais, mal sabia ele que era apenas uma
banda de garagem.

Quando me sento, Toni senta – se ao lado,


segura minhas mãos e diz:

— Jack, temos algo muito sério a te dizer.


Eu nervosa, nesse momento já estava chorando.

Ele continua a falar:


— Se lembra de há dois meses quando fizemos
exames de rotina?

— Sim!

Eu estava com dores de cabeça fortes, por causa


das noites de estudo por causa do vestibular, e
ele também estava, devia ser stress, meu pai
nos obrigou a fazer exames.

Pergunto: — O que têm eles?

Meu pai nessa hora nos interrompe, e diz:

— Jack, não temos boas noticias...

Fico assustada, e ele continua a dizer:

— Toni está com câncer.

Puta, meu mundo desabou, sentei no sofá juntei


as pernas apoiei meus braços e desabei em
lágrimas, os dois sentam ao meu lado, e tentam
me consolar, irritada, eu levanto e corro pro meu

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quarto, e bato a porta, nunca gostei que me


vissem chorar, principalmente meu pai.

Nossa relação nunca foi tão boa, ele é meio


distante, só pensa em trabalho, trabalho,
sempre foi fechado e reservado, não
demonstrava muito afeto, não podemos dizer
que somos melhores amigos.

Toni imediatamente bate na porta e pede pra eu


abrir, deixo – o entrar.

— Jack...

Ele ameaça dizer algo, mas logo dou um abraço,


e choramos juntos.

Deitamos na cama, e ele começa dizer,

— teu pai me chamou até aqui, para falar sobre


os exames, ele queria dizer diretamente para
mim, pois não conseguiria dizer pra você antes.

Eu pergunto a ele: — Mas o que ele disse sobre


cura?

— Disse que vou ter que passar por longo


processo de quimioterapia, pode durar meses,
mas tenho boas chances de recuperação, só tem
um problema...

Ele abaixa a cabeça, e sua voz começa a ficar


tremula, de muito choro, eu pergunto: — O que
foi?

— Teu pai disse que um dos procedimentos do


tratamento é raspar a cabeça, para evitar
traumas durante a quimio, ver meu cabelo cair

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pode me deixar mais triste e assim a imunidade


baixaria o que prejudicaria muito o tratamento.

Ficamos em longo silêncio, e ele chora; Deixa-


me explicar, a mãe de Toni, é bem religiosa, e
quando ele nasceu quase morreu por
complicações no parto, diante disso, sua mãe,
prometeu que se ele sobrevivesse ela deixaria o
cabelo dele grande até os sete anos.

Inspirou-se em alguma passagem da bíblia, deve


ter sido aquela de Sansão, sei lá, enfim, a
questão é que ele cortou o cabelo poucas vezes
na vida, a maior parte ele apenas deu uma
aparadinha, e por conta da banda ele sempre
deixou grande, é parte dele, ele é muito apegado
ao cabelo, muito vaidoso, sempre cuidando, e
pedindo pra eu ajudar, ele só não é mais vaidoso
que eu, mas é mais que muita mulher nesse
mundo, e agora ele teria que ficar careca, pra
homem não é muito problema, mas fico
imaginando se fosse eu, acho que morreria.

Toni desconsolado não sabe o que fazer, depois


de um dia todo juntos, ele pega sua moto e vai
embora, eu não paro de pensar sobre isso, muito
mal não sei o que fazer, se pudesse, daria a vida
para ele não passar por isso, ele é uma pessoa
incrível, mudou minha vida, nem sei o que seria
de mim se não fosse aquele dia em que resolvi
conhecer aquele cara da internet, que tinha uma
banda, cheio de amigos, e mulheres dando em

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cima dele, parecia até meio metido, não pensei


que pudesse ser tão humilde, e incrível, a
possibilidade de perde-lo me desesperava.
Tinha que convencê-lo a cortar aquele cabelo,
mas ele sempre foi cabeça dura, mas não o julgo
não, eu confesso que sou até mais, por isso
entendo ele.

Meu pai me chama para conversar, esperava que


ele não falasse nenhuma besteira, estava muito
abalada para discutir com ele.

— Fala! Digo a ele.

— Você precisa convencer o Toni a raspar o


cabelo para a quimioterapia.

Começo a chorar, e digo. — Mas como? Ele


passou a vida toda com o cabelo, tem uma
questão religiosa, ele crê que é forma de
agradecer a Deus, por ter salvado a vida dele, e
da mãe dele no parto e tal. Não sei o que fazer.

— Meu pai, me abraça, eu chorando, naquele


momento isso foi importante, nunca fomos muito
próximos, era meio estranho isso, mas foi
importante.

Vou para meu quarto e ligo para Toni.

— Toni

— Oi meu amor, tudo bem?

— Você precisa raspar o cabelo

— Amor, não, se for pra cair que caia sozinho,


eu não vou raspar nada, você sabe de toda

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história, não vou raspar nada, e nem venha


tentar me convencer.

Irritada, eu começo a gritar: — você prefere


morrer por causa da porra de um cabelo?
— Não é um cabelo, tem toda uma história, e
você sabe disso. Diz ele também bravo, àquela
hora as emoções estavam afloradas em nós dois.

— Aff, estamos falando da sua vida, não acredito


que prefere morrer, a cortar a merda de um
cabelo.

— Queria ver se fosse você. Responde Toni.

— Quer saber, então não corta, morre, faz o que


você quiser. Digo a ele, e desligo a ligação,
sento no chão e começo a chorar.

Ele retorna a ligação, mas eu recuso, e assim foi


mais de duas vezes, ele manda uma mensagem,
dizendo pra eu atender ou ele vai vir até minha
casa.

Eu desligo celular, vou até o banheiro da minha


casa, pego a maquina de barbear do meu pai, e
começo a raspar meu cabelo chorando, na frente
do espelho fico chorando vendo meu cabelo cair,
no ato de raiva fiz isso, queria mostrar quando
ele chegasse que é só um cabelo, que pode
crescer, eu que sou mulher não tive problema
em fazer isso, quando estou terminando de
raspar, a campainha toca, falo pro meu pai que
eu vou abrir, vou correndo, quero que ele me
veja careca, e vire homem e raspe logo seu

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cabelo idiota, quando abro a porta, tenho um


choque, solto a maquininha que estava em
minha mão, Toni, estava de cabelo raspado.

Antes de entrar, ele me diz: — Não estou com


câncer... Paro respiro fundo, e pergunto,

— Como assim?
Ele vai entrando e eu vou caminhando em
direção ao sofá: Ele diz:
— Quem tem câncer é você.

Entro em estado de choque, não sei nem o que


dizer meu pai então senta – se ao meu lado me
abraça chorando e diz:

— Minha filha, eu te amo muito, e não sabia


como dizer isso a você, chamei Toni, para me
ajudar a contar isso a você, e te convencer a
raspar o cabelo para o tratamento, mas ele falou
o que eu já sabia.

Toni toma a palavra.

— Que se ele te dissesse isso talvez você não


ouvisse, e resistisse ao tratamento, e como eu
sei que você é vaidosa, talvez não fizesse isso
por você, mas como sei que me ama, tinha
certeza que faria por mim.

Não tinha nem força pra chorar direito, quando


pergunto:

— Mas, seu cabelo, a promessa da sua mãe?

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— Foda – se! Meu amor é maior do que tudo


isso.

Abraço ele e meu pai, choramos, não precisamos


falar nada, não sei o que será do futuro depois
da químio, se vou sobreviver, se vou ficar com
sequelas, ou se... Enfim, mas sei que conheci o
que é amor, é estar disposto a se entregar a dor
do próximo, ou até dar a vida, se preciso for.

— Ágape
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 Ágape (em grego "αγάπη", transliterado para


o latim "agape"), é uma das diversas palavras
gregas para o amor.

A palavra foi usada de maneiras diferentes por uma


variedade de fontes contemporâneas e antigas,
incluindo os autores da Bíblia. Muitos pensaram que
essa palavra representava o amor divino, incondicional,
com autossacrifício ativo, pela vontade e pelo
pensamento, embora esse amor Agape também possa
ser praticado por humanos, mas em grau bem inferior,
obviamente, em função da imperfeição e limitações
humanas. Fonte: Wikipédia.

— Ágape

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