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Memórias
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Saber Viver
Cora Coralina
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Machado – MG , 1927
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Miguel e Catharina, um casal de jovens, se conheceram.
cavalo.
falecer em seguida.
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Miguel Cavini
Catharina Tellini
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Ponta- Grossa – Paraná, 1929
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Eles não tiveram filhos. Resolveram então adotar uma
criança. Por acaso, o casal soube que uma senhora de cor havia
grávida. Ela teve que ir morar com seus pais. Seu pai, ao ser
aceitava criar uma criança que não fosse de seu sangue. Assim
entende hoje. Filhos e filhas que não eram assumidos por suas
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ofereciam para cuidar deles. Como todo recém-nascido, eu
decidida a fazer isso, foi até o seu barraco e lhe disse que ficaria
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Marcenaria e carpintaria de Miguel Cavini
Infância
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Posso dizer que tive uma infância comum. Minhas
filha adotiva.
sua mãe ?”
era bem criada e tinha tudo o que uma criança gostaria de ter
com seus pais. Eu não via, e nem entendia, uma possível diferença
entre filhos adotivos e filhos não adotivos. Para mim, todos eram
meus verdadeiros pais. Minha mãe respondeu que eles não eram
meus pais. Ela disse que eu tinha sido adotada, já que a senhora
nossa casa. Ela queria falar com minha mãe, dizendo desejar me
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conhecer. Minha mãe, irritada com a sua presença, mandou que
minha memória.
me criar.
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Aos poucos fui percebendo a influência que a guerra
pior. É por isso também que posso dizer que ele era um verdadeiro
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Um pouco depois, meu pai conseguiu vender a última casa
capital.
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Casa de Miguel Cavini e Catharina Tellini
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São Paulo, capital – Anos 40
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Chegando em São Paulo, moramos por alguns dias na casa
família grande, com seis filhos que viviam em uma casa grande.
nada. Mas para isso eu teria que ir duas vezes por semana às
nossa casa, o que foi proibido por minha mãe que dizia ser
minha mãe não gostava da cidade, ali ela não tinha amigas ou
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Em São Paulo, meus pais regularizaram os seus
pelo irmão de meu pai, Cesare Cavini, que tinha amigos que
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Encontros da Igreja Presbiteriana, anos 40. 21
Encontro da Igreja Presbiteriana, anos 40.
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Espírito Santo do Pinhal – 1944
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Ocorre que meu pai não gostou de Pinhal, alegando ser
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São Paulo – 1945
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Dessa vez, ficamos dois anos em São Paulo. Meu pai, com
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Com 17 anos, já podia sair com minhas amigas sem a
presença de meus pais. Como até hoje muitos fazem por lá,
Com ele, meu pai passava um bom tempo conversando, visto que
ele ainda não tinha muitos amigos na cidade. Essa farmácia era
muito atencioso. Certa vez, o Nicola disse ao meu pai que caso ele
la em casa.
acompanhava até a nossa casa. Num desses passeios, ele disse que
sobre isso com os seus pais e que poderia ir falar com os meus; ou
Combinamos então uma data para a visita aos meus pais. Como
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O senhor Francesco Martorano era uma pessoa bastante
pois seu filho “não era boa peça” e que talvez fosse me dar
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Francesco Magaldi Martorano, na Itália.
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No final do mesmo ano, o senhor Francesco faleceu
comida, roupa, etc., que antes eram feitas pelo seu marido. Ela
Boa Vista. Ele, como não se dava bem com os padres da Catedral,
em 10 de fevereiro de 1952.
pais, ou seja, três pessoas em casa. Alí passei a conviver com oito
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minha sogra, Adele. Me dei tão bem com a minha sogra que
casado com dona Nenê, vivendo bem próximo dalí. Como a casa
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Farmácia Martorano.
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Nossa primeira filha
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Na farmácia, havia um velho de cor que passava horas e
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ficando de dez a quinze dias no norte do Paraná, em cidades
carregasse.
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Lenita e Rodolfo, 1952, padrinhos de batismo de Gina 42
Gina em frente do sobrado dos Martoranos. 43
As crianças, início dos anos 60.
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As crianças, início dos anos 60. 45
Getúlio Vargas
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Como morávamos numa cidade pequena, não me lembro
indicando que ele, como foi dito acima, “não era boa peça”, a
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quando estávamos sózinhos em nosso quarto. Ainda que parece
padaria dos Florezi. Ali ele ficava até as 22hs, quando voltava
para o sobrado. Aos sábados, ele saia com amigos, como o Rubens
baile uma vez por mês para os seus associados, que poderiam ser
para nós. A nova filha, a exemplo das demais, foi mais um motivo
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também pertencia à família Martorano. Além disso, a minha
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São Paulo, 1958
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Com a montagem da distribuidora, voltei a morar em
quarto maior era ocupado por mim e pelo Nicola; o outro pelas
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dificil notar a sua chegada no trabalho: sentia-se de repente um
quantidade.
muitos remédios que não tinham saída. Sob essa pressão, o Nicola
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- “ Espero um pouco que vamos juntos para casa.”, indo a
seguir ao banheiro.
tempo, ele foi ao banheiro, forçou a porta para poder entrar e viu
foi até o Hospital das Clínicas. Na saída, disse para mim fechar o
informaria.
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Na manhã seguinte, após ter ido ao hospital, o Nicolino
que minha sogra ficasse em nossa casa para ajudar no que fosse
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O Neto
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Num sábado pela tarde, como de costume, a Ana queria
que ela ficasse mas que nada comentasse com a minha sogra,
primeiro filho. Logo a seguir, fui levada para onde estava minha
sogra. Ela chorou de alegria porque era o seu primeiro neto. Disse
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que se chamaria: Franscico Magaldi Martorano Neto. Na manhã,
disse que logo no terceiro dia estaria em casa e que ela não se
não poderia esperar mais. No mesmo dia, por volta das 10hs., eu
mal.”
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A Ana desceu para pegar a sacola de roupas e o nenê. As
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Instituto Bela Vista
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Alguns dias depois, o Nicola voltou de Belo Horizonte. Ele
Sandler, me pediu que fosse até a sua casa com as meninas. Era
lhe disse:
louca.”
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Essa visita dominical me ajudou a ver as coisas sob um ângulo
diferente e novo que me foi muito útil durante toda minha vida.
Nicola e funcionários
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Pinhal, 1960-61
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Ele arrumou uma casa onde havia um ponto comercial
Bruna morava em frente, onde seu marido Álvaro tinha uma loja
de calçados.
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Mas essa impressão durou pouco. O Nicola queria
ajudava muito.
Domingo na cachoeira.
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Caminhão na estrada
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Naturalmente, isso significava aumento das despesas. O
que fez com que o Nicola pensasse em novos negócios para cubrir
notícias dele, além de um bilhete escrito por ele pedindo 200 mil-
réis. Dinheiro que deveria ser entregue ao portador que lhe havia
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tempo depois, o Nicola voltou e, apesar das dificuldades,
uma delas, ele acabou não indo e pediu que o motorista fosse
ainda que ele havia feito carreto para outras pessoas. Com isso, o
da farmácia.
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Os gêmeos
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Para variar, eu estava novamente grávida, esperava o
era de costume, fez os exames tão logo eu dei entrada e disse que
irmã concluiu:
batendo.”
dilatação provocada pelo início do parto. Ela foi até buscar uma
em torno das 20hs. Ela fez o exame e disse que eu iria para a sala
de parto.
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Lá, sem que demorasse muito, nasceu um primeiro
Eu respondi :
sala de operação, para buscar uma pinça. Ela foi correndo. Nesse
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assustara. O primeiro, que nasceu com três quilos, foi batizado de
porque a tirei do berço grande, feito pelo meu pai quando a Gina
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minha cama e, à noite, dava a mão para ela. Caso a retirasse,
Por sorte, não havia acontecido nada. Diante disso, fui com ela
numa consulta com o Dr. João Neves, para entender sobre como
lidar com esse novo imprevisto. Ele me disse que aquilo era
normal, acrescentando:
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Em resumo, os 3 primeiros meses após o nascimento dos
carrinho. Perto dali havia uma praça. Ao certo, não sei o que
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Os filhos após o nascimento dos gêmeos.
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Rua 15 de Novembro, 156
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A casa onde viviamos na época era de cimento na sala e
Independência.
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grande e as maiores já passavam meio período na escola, o
acomodando.
Os três caçulas.
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As crianças brincando na Rua XV. 79
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Um novo empreendimento
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O Nicola tomou a decisão de abrir outra farmácia, bem
dos caminhões que não deu certo, ela foi bastante prejudicada e ,
iam para as suas camas retomar o sono. Numa dessas noites, ele
cama, não respondi. Alterado, ele disse que eu fazia pouco caso e
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muito. Como o sangue não parava, eu queria ir sozinha até o
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Ela poderia andar, desde que amparada, mas ela não queria.
Cerca de oito meses mais tarde, ela também faleceu. Para mim,
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A farmácia
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Naquela tempo, eu passava quase todos os dias na
farmácia: das 8hs até as 22hs, inclusive aos sábados. Além disso,
família.
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com a idéia, fui atrás de informações sobre uma possível viagem.
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casamento, eles se mudaram para Cuiabá, e depois para Cáceres.
ajudar em casa?”
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morávamos, para a família do dentista Waldir Peres, nossos
nome.
queria fazer. Eu pedi a ele que passasse a casa no nome dos nove
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Campinas, 1977
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O começo em Campinas foi um pouco difícil. Eu não
pai, e depois com sua tia Fulvia, até que passou no vestibular da
prestando contas do que vendera. Esse foi o natal mais difícil que
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Depois, acabei vendendo a firma para um rapaz que se
estudos.
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Natal na Rua Waldemar.
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O retorno a Campo Mourão
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Entre uma viagem e outra que fazia ao Paraná, o Nicola
do Iguassu.
bateu à porta, quando foi atendido por uma de suas filhas, que
disse que ele deveria voltar mais tarde. Com isso, o Nicola
No diálogo que transcorreu, ele revelou que sabia que o SR. Kfuri
tinha tido uma filha antes do seu casamento. E que ele era o
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resolveram passar por Pinhal. Ele tinha o meu endereço e queria
Foi uma visita rápida, tinham pouco tempo, pois estavam com a
havia ficado com meu novo telefone, no dia das mães, quando
sim. Em seguida, pedi para falar com ele. Ele muito emocionado
disse:
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- “Não sei como vou ser recebida. Se vou sofrer alguma r
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“Peço que você me chame de mãe!”
pescoço, que até hoje levo comigo. Durante todo o dia, foi uma
descansem em paz!
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A família de Cricre Kfouri, anos 40.
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A família Kfouri, anos 90.
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No meio do caminho
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Naquele período inicial de Campinas, fiz de tudo um
filhos: José Nicola e Iole Maria, que foi a minha primeira neta a
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2008, quando o Luciano se casou com a Maria, de
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mães: a biológica, Tereza que não conheci; a segunda, de
me encantou.
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- È bom evitar fazer alguma coisa, da qual se venha a se
arrempeder depois.
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Os netos.
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Julia
Gabriel
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Os bisnetos
REINAUGURACAO
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JANEIRO 2010, 80 ANOS
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No dia 8 de janeiro de 2010, eu fui para Pinhal para
haviam alugado.
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Minha estranheza aumentou. Subindo a escada que dá
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Como trabalharam bem essas formigas ! Fiquei muito contente
de fora do país !
trabalho e perseverança.
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VIDA, VIDA
Arseni Tarkovski
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EDIÇÕES LIMITE
Rua Waldemar César Silveira, 262
Campinas –13045-270—SP
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