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mr a & Ae AS r “ae UMA NOVA a HISTORIA DA uh Julian Bell Ri; Road Julian Bell Traduc&o: Roger Maioli Revisdo da traducao: Silvana Vieira com 372 ilustracdes, 267 em cores ‘ wmfmartinsfontes PREFACIO Os seres humanos contatn histéras e fabricar objetos que fascinam os collos. Por vezes suas hist «ativa, a que se chama histéria da arte, é habitualmente motivado pelo dese- jo de uma pessoa de imaginar como seria viver numa outca época ¢ de refle- tic sobre o que outras mis fizeram. Além disso, os historiadores da arte por 2s dizem tespeito a esses objetos. Esse tipo de nar- ‘eres tentam explicar por que os objets si feitos de feents mancias se undo aéyoca¢o lugar fisso que exe livo petende fre Narratvas dese tipo, contudo,encrram um inconvenient inwinseco. A cobra de ate procucacativa ua aengZ0 e manta fxas a hist da arte a impele para a frente, descerrando uma estrada pelos recantos da imaginaci Numa visio gral da histéra da sete, tl como a que vem a sepus a tensfo pode ser aguda. A todo momento ouvinte e narrador sero tentados pelo de- sejo dese dete um pouco mas eolhar por mais tempo, Poc que, entio, nse nese plano? Vivemos sob um bombardeo de ima- sens, Ruase tels pelo mundo aforaexibem urna confusio de fragments d ‘ersos¢disociados deinformasio visual. Nosss lhos captam uma misee- linea de cages artiticas — o Japooitocentsta, a Franga do séulo Xt Roma quinhentit, a Austelia aborigine ~ , no minimo, seria bom conhe- cermos o vocabulicio necessro: de onde veo o qué. Mais do qu iso, seria bom desvendar sua gramétca, Como esas images se rlacionam umas com 48 outras? Como seenraizam aa expeiénia aia? Seré que temos algo em comum com seus riadores? erguntas como esesgeram histrias mais do que certezas cientlficas. A bisa a seguir fo eontada po alguém na Inglaterra do inicio do séeulo XX, sentando abaccar milénios de produgio de objetos pelos sts continents, ma «speranga de oerecer uma hase para que os letores em seguida possam cons- tea suas prprashistrias, Esta narativapretende ser uma introduso ge- rala objetos ¢ temas da histria da arte global, mais do que um conjunto de conclusies a seu respeito, Nao estétdo preocupada em definir ou redefinir 0 4que se pode chamar de arte quanto em deserever a variedade de conteidos que hoje se admitenela. O objetivo é antes oaleance do que a profundidade, mais a abercura do que 0 rigor ‘O método deste livro, porér, pode ser considerado bastante estreito, Traga- ‘ei minha narrativa em torno de objetos que me parecem Suctir bom efeto quan- ¢o reproduzidos na pina, A are nif consist, de modo algum em imagens com- pactase fics de emolduras, mas é essa a impresso que oletor muitas vezesteré aqui, Nisso tenho de admitie um vigs pessoal, Empreendo essa tarefa depois de passara maior parte de minha vida profsional como pntot. Assim sendo, estou habituado a pdeone de pé numa sla diane de um objeto particular que, espero, ‘eri uma vida eum discus préprios mais ou menos assim que encaro as ima- gens aqui reproduzidas. Otpo dear de que wata este lv, portanto, é menos aauele que nos cireunda ~ ambients, eificios, decoragio, utensils, indumen- tiria, adornos ~do que aque que dealgum modo nos confront, de pinturas a estarutas a monumentos. A imobildade de imagens isoladas impor uma outra limiagio a discusio, Nao flare’ muito do que se move dante dos os ou do «que os mantém em movimento, o que implica marginalizarnlo apenas as repre sentages tata sobre caroslegrics 08 videos, mas também as muitase fas cinantes incerageshistricas entre as imagens ea excita ‘Ao escrever esta narrativa,observei tes regras mas ou menos definidas, Primeiro, ¢ de fato no houver neahuma forma de mostrar alguma coisa, é aelhorsilenciar a respito dela. Escolhe cerca de tezenta e cingjena obeas para incroduzie a histria da arte mundial em toda a sua amplitude equivale 4 andar numa taigoeia corda bamba. Muitosficardo desconcertados com 0 ave ficou sem mengio; muitos outros fcario entediados se eu mencionar no- mes demas sem Ihe confer um rosto. Nos casos em que se mostcou abso- Jutamente necessio citar alguma figura ou fensimeno importante impossiv! deilusteas, opti pela politica do “parece meio assim”. Em outros casos, jul ‘ei melhor ignoraro que ado possoapreseatar de verdade. Segundo, mancer as coisas numa seqincia eronolégic. Essa diveiva para faclcar a leitura nem sempre se mostrou exritomente posivel, i que a dis ‘uss transta de um pale para outro, mas espero que até onde vigoe ela pro- «dora uma percepgioesclarecedora tanto dos contrastes eure regidoe regio como das afnidadesinteccultuais. (titulo que escolhi, Uma nova hiseria da are, indica a tercrira de miohas press de erabaho, Vjoahistsia da arte como uma moldura em que a his ‘ia do munclo, em toda a sua amplitude se reflet para nés~mais que como uma janlaabcindo-se para um rein estéico independent, Parto da hipéte- se de que os restos da mudanga artistic se relacionam de algum modo com 0s registzos das mudangas sociais, tenolégicas, poiicase celigosas, por mais invertidos ou reconfigurados que scjam os reflexos. (Os espelhos 6 funciona quando recebem luz, qualquer que sei ela eto- davia podem nos mostrar as coisas de mancieas novas.O titulo também ind ‘a aqulo em que quero crec~ que a obras de arte podem revel reaidades aque de outro modo passariam despercebidas, que podem agit como molducas da verdade. B 0 modo como esses objetos so feitos,contudo, mais que sua apactoca final, qu prevalecerd nesta istra. Se me inveresso pela isa da arte € sobretudo porque ela parece me aproximar de certas cosas extraoedi iris e das pessoas que a izeram. Espero ser capaz de comnicar parte des se interesse ¢prazee HORIZONTE upesire de arqueicoscagando erro, Cavlls, Espanha,s.000"3.000 AEC 2 sta machadinha de pedra,eacontads fm West Tots, Norfall,Ingatrt, tem ‘eo menos cem mil ns, mas alse escinativas he atrbaem mais que © dobro sada, Animal e humano Antes de 31.000 ae Imagine que voce estésegurando um pedago de pedra na mio esquerda. Uma das pontas repousa em sua palma, a outra paira acima do solo, Com a mao dicta, vocé meneia outea pedea paca atingir de viés a ponta solts, golpeandowa firme € ritmadamente. A medida que as lascas de pedtas se desprendem, soa machadina ga nha forma, © nédulo irregular que voc? havia apenhado do chao toma-se algo com umn pontacoctantee egular, com peso distribuido, O treinamento que voréobteve jobservando 08 mais velhos Ihe diz como o objeto precisa ser, mesmo que vot consga expressar esse conhesimeato em palavas. Todavia, a primeza pera que voré apenhou esta man foge a0 modelo daguelas om que lidaca antes. Ela jéapresenta, em pequena escala, 0 tipo de equlro que seus golpesconferio ao conjunto uma de suas faces é marcada por uma concha fos silizada, Voc# marca a posigio da concha com o inicador esquerdoe desbasta uma ponta da outra face, de modo que as lasas, 20 sairm, deixem intocado esse trago especial Ao fim do rabalo, uma sinetria mae eproduz a simetia menor da con- cha comas ponts ecurvs disposts em dieses contra. O objeto que poses sas qualdadesé singular [2 ele em um certo poder de atrago sobre os olhos Vocé seri humano? & discutivel. Essa machadinha foi deixada na Inglaterra hi pelo menos com mil anos. 0 Homo sapiens, ssa espéie, volun na Afia ha vnte ou trae mil anos, e ainda demorara para vagar por esas egies ao norte, Um “ho minideo” ou sino humandide isimamente aparentado, o Homo erectus, teria sido o responsivel. Todavia, a maioe parte do que ocorse na arte estava ocorrendo ali Olascador de pera fasiaaquilo ber, usando 0 melhor de sus abilidades. Os cor tes na pera produsicam arstas, linha claras, onde no hava nenhuma ates, Cri ram relagées defnidas entre a esquerda ea dreta, © ropo ea base, parte de tis a da frente, Em tudo isso ce seguia um precedente animal - eas leis da fica Quando uma outraespéie fabrics coisas ~ nos de pésaro, teas de aranha,d- ques de castor, a ordem no é opcional, mas inerenea seu propésito. Sem ea, es sas coisas nfo fariam o que devern fazer. Olhos,cérebro € membros, ees priprios tend evolu sob restrgesfscas, se unem para produzie 0 que funciona, o que cem forma, o que portanto parece bom. “Mais do que isso, a form como essa pede foi trabalhadasugere que quem a fez viu ala algo especial, algo nico. Mas essa “expesiacia estética”, como poderi ‘mos chamé-la, nfo escapa tampouco aos limites do comportamento animal. As pe 2 Peds tafosuleada, mosificads hi mais dd 250 il anos, do sitio de Berekhat Rem, rel, Um nimero eascene de objets dessa naruceza~ pedras ou osos com forma deibeadamente alteada ~ esti Findo lz, a medida que os arquedlogcs {mpliam seu conhesimento do periodo lic inferior (ou aj, mas ance). Seu etarito permanece conoverso. [ewe cat, € ceo que a peda fot infenconalmente suleadas nfo certo, orem, que inten fose produrira {mmagem de-oma mulher De qoalguer ‘modo, ee ipo de auvidadeceramente Suge que nossosaneestrisdstantes tstavam derenvolvendo 0 hibio de olhar pata os objetose busearsignvicados nls 25 ndo morreriam de fome sem joia; a0 oubi-las, elas devem estar atentas a al- gum tipo de encanto visual. Um caso mais expetacular € 0 dos passaroscaramanchio imelanésios, que recolhem conchas e seixosbrilhantesearranjam seus earamanchies como galeras xpagosas eorganieadas. Qualquer que seja a motivagiobioligica por tris de tas ages, ca eevela que a atragio pelo estranho,o brilhante ¢ 0 formoso é uma possbilidade comum a muitos sistemas visuais (© que afasta a machadinha do interesse dos bidlogos no éseu senso de forma ou seu encanto visual, e sim o teinamento que a precedeu. O comportamento dos ani- tnais transmitido sobreudo genetcamente, por heranga. Quando ocomportamento, por outro lado, étransmitido pelo aprendizado, os pesqisadores 0 consderam no como uma questio de biologia, mas de cultura. A cultura em questio aqui, a dela «ar pedra,vinha se desenvolvendo lentament entre os hominids por mais de dois mlhées de anos antes de surgi ese exemplar. la seria postriormente refinada até pro- duziclirninas quase perfeitas demas para serem usadas como instrumentos de corte, durante o restante do periodo paleoliico a “Ldade da Pedra Lascada”, que se encerrou por volta de 10.000 A&C. Mas talvez esa pritiea, a despeito dos propésios a gue te- nha servdo, ado corresponds iteramente a0 que hoje entendemos por arte. Consi- dere, em vez dela, algo no miaimo tio antigo como a machadinha ~ se bem que muito ‘menos elegante~ ¢ que possivelmenteatende as expectativas que passamos a tee Esse pequeno fragmento de rocha vuleinica conhecida como tufo [3] foi encon- tzado por arquedlogos em Berekhat Ram, um sitio em Israel ocupado por homini- cdeos em algum momento entre 280.000 € 250.000 AEC. Sem saber ao certo 0 que molecular cestavam procurando, os pesquisadores mandaram analisar sua estru 40 microscépio. © padrio dos eisai inceustados no tuo confieou que wma for- tragio rochosa natural semelhante a uma cabega¢ umn tors fora maceada com su cos adicionas, aparentemente para enatizar um pescago e as dabras de bragos pos- tos de encontro a um busto de alr: Para realizar esse trabalho ~se é que se trata realmente de uma forma bastante cemota de ental figurative ~ seria ncesirio que © autor tvesse na mente uma imagem cara de algum dos corpos vivos que ele co: hecia Seria necessrio tansferie esa imagem, com a ajuda dealguma fetramenta, para o cospo de uma peda. Além diso, ele precisaria dealgum incentivo para fa- ee esta extraoedindria assergo: “Que ito se toene aguilo.” Exes fatores no so observados no comporamento de nerhum animal ano. Un ovo fator- no a forma, nem o encanto vistal- precisa ser admitido, Precisamos re conhecee que um produto como est tem um pé no invsivel. Seu ator ita ua ment "Nam espagoinvisve objets vss e ends no mundo exterioe foram organizaos em categoras, como “mulher” ou “homem”, que podem ser aplicadas a outras casts de cbjeos, como pedeas. Tis categoria comportam significado e valores que estimalam csindividuos cers tips decomporamento, Notavelment,atorsar stl aquilo que aponta para. aexstnca de pensamentosinvisieis: ou sa, simbolos O simbolismo visual, neste sentido amplo, sed a principal peocupagio deste l- ro. Ele seré um longo didlogo entre o que os ollios podem ver €o que a mente pre cisa infer, Mas exatamente por que e como o simbolismo surgi, ¢exatamente «quando converg com um senso de ordem e encanto visual paa criar a arte como ‘a conhecemos, io questdes que permanecem em aberto. E perfeitamente possivel que 0s indcios ferecidos pela natueza ~ como a concha na pedra ou a protuberancia do tufo~ tenham contribuido paca 9 process De manera mais geal, parece per suasiva aidéia de que o pensamento absteatoe suas expresses aural visual in- ua © arte) tenham surgido juntameate com a eligi (ou sa, 0 direcionamento do comportamento para o invisivel)aumaevolugio nica e intecdependent Uma hipéteseatraene. Poder ser provada? Aqui eal no registro da Made da Pe- da “Ifeioe”~enecrado mas ao fundo ~ encontramos entalesregulares em oss0s ce pedras que aparentementetegisttam vitios tipo de proceso de pensamento, Mas qualquer nvesigagio precisa eta o foco nas atvdades do Homo sapiens ou si, de pessoas como nés. O Homo sapien foi uma espécie que loresceuinicialmente na Arica, por volta de x30.000 AEC, mas dal se dfunda pela Burisia para soplantar to- das as dermis formas de hominideos no deeorrer dos crm mil anos seguines No si tio de seus acampartentos mas emotes, blocos de ove vermelho formar um Lixo ten tador, Um dels, deixado na Cavern de Blombos, na Attica meridional, por volta de 75.000 AEC, foi marcado com um diagrama eneecruzado, Se nossosancestas sta ‘am desenhando padces dentro da rocha pigmentada,€ cert supor que cambém 2 savam para cic padrBes nas superficie sua volta? A pergunta aos obriga a con- front o limite fundamental da hséra da arte. A maior pare do que as pessoas peo duzem para conremplar dara pouco mais do que as palavas que proferem. Ao longo do tempo, a absolua maioria da atividade visual humana se concenrou provavelmente 1 pele ou n0scabelos humanos ~ouenvolven fra pelga biodegrade, ou for- mas conerida madeira nflamavel ou aga cruaou marcas fétasnaaeia. Amie pare tora as cinzas¢ ao p6. Nés contemplamos sobretudo 0 vaio (0 cegisto artistico dos primccos cem mil ans dessa espécie permanece pro- fundamente nebuloso. Por volta de 50.000 AEC, 0 Homo sapien se haviaespa- thado por toda a Europa ea Asia (se bem que no pelas Américas) etabelecido pre- senga na Austrailia, continente que deve ter sido alcangado com barcos. Na Australia, simbolos simples mas intigantes na face das rochas, como semiciculos,remontam provavelmente a datas como essa, Uma tradigio de arte eupeste igurativa crescen _sradualmente a partic dessa base no seio de uma populacio que perdeu coatato com. 08 continentes a0 norte, Mas 0 que ocorreu do outro lado do mundo é que cativou a imaginagio moderna: pois de epente, ¢ de um inico golpe, vemo-nos face a face ‘com tudo 0 que esperamos encontrar quando falamos de “arte”. A luz de tochas Europa Ocidentel, 31.000-10.000 age Essa estatueta da caverna de Hohlentcin Stade, no sul da Alemanha,é do ta sna de um antbrago foi entalhada em marfim de mate) Ease pots como Aurdetochas + 4 cultura em marfim de om teriaatsopo (Gera humana) de Hotlenstein Stade, Alemanha, © 31.000 AE, 12 Honzonte tum ser humano com cabega de ledo.f enti que a figuracio, como a conhecemos, parece surgr: em algum momento por volta de 31.000 asc. Tao antigos quanto essa figura de ledo sio provavelmente a escultura em jade de uma dansarina esguia en- sda em Galgenberg, na Ausra, ¢ uns poucos cavalos,bisdes¢ pissaros do ta ‘manho de um punho descobertos em cavernas alemis préximas. Blas exibem a mesma graciosidade e a mesma seguranga do trabalho artesanal, Nessa safta de ar tefatos,o senso de forma e a deliadeza que os seres humanoshaviam confetido ao fabrico de machados voltaram-sea um nov fim, ode represent corpos. Os padcdes de produso bisicos da escultara haviam surgido ~simetra, senso de proporgi0, 0 espagamento regular nos sulcos a0 longo dos bragos, 0 polimento fino na modelagio a cabeca. Além disso, em Hohlenstein-Stadel isso tudo esti claramente a servigo da imaginasio, Esse “teriantropo, ou era humana, deve ter extaido seu significado nto simplesmente da natureza observavel, mas da sobsenaturalidade do mito. © surgimento abrupto de entalhes como este nos registroseuzopeus levou os teé- ricos a levantarem a hipétese de uma “explosio criativa” ~ fendmeno que, a partir de entio, teria dado origem aos fundamentos da cultura mundial. Os vestigios de ‘acampamentos cada ver mais organizados para o que era ainda uma existénca nd- made sio também mencionados como prova de que uma significative teansforma ‘40 mental se processou no Homo sapiens durante os dez mil anos que se seguiram 1 40.000 A&C. Tudo isso € uma caracterizasio, no uma explicagio dos eventos. Seu foco ésobreudo a Europa, ¢ sua dinémica continua sendo tema de especulagio e de bare. Qualquerrelato do que ocorceu precisa claramente admis desenvolvimentos independentes na Austilia, se no mesmo em outros lugares, Teremos sem divida cde mudar a seqiéncia dos eventos se descobrirmos mais sobre o que levou & sofis- ticagio do material encontrado nas cavernas alemis ¢ austriacas, Por ora, porém, a “figuca” com que nos defrontamos - 0 corpo vivo reimagi- nado, o primeiro objeto a ser identficado no Ocidente com o termo “arte” = nio ‘raz nenhuma pista sobre 0 modo como se originou, Os achados dos milénios pré historicos da Europa alimentaram um longo debate entre 0s modernos te6ricos da arte européia". Aré que ponto a arte tem origem na idéia das pessoas ~ no que ten- cionam, inventam, imaginam e desenhiam ~ e naquilo que elas apeeendem da “na- rureza” ~ no que véem & sua volta, como os cocpos? Nem é preciso dizer que no hé ‘uma resposta conclusiva. Masa maior das redescobertas peéshistricaspareceu pro- porcionar combustivel aos proponentes do “naturalismo” quando veio a piblico no inicio do século XX, Em 1879 uma menina de sete anos, Maria de Sautola, segindo seu pai numa caga ao tesouro pela caverna espanhola de Altamira, voltou por acaso seu olhar em dices 20 tetoiluminado pela tocha do pai, enquanco este escavava ‘ solo em busca de riquezas enterradas. “Mira, pap, bueyes!" O grito de reconhe- cimento da menina ~ veja, papa, bois - foi gradualmente repeoduzido, e muitas ve- es com relutancia, pelas autoridades céticas,conforme fol ficando claro que essas ses cna Saree 5.6 use) Pinas de nceone Son caverna de Chawet, 00 sul da Hargreaves: Asmar ants pumas cochlea ne ngage gia confine eat mesmo tofu, Os desethor em cario de Ghee sbrepoes dev iinrion uma ra fran ra Ene ose por cove tl sans A cena de do ado ¢ menos con te fares carmen Srenoerotes se agua a Eropa poles de 9.99 see prowvaimet em ‘oulado ds eve poo omen para muito ali do alcance dos egistes esritos. Enquanto os artistas do séeulo XX s flutuantes eh muito ocultas de animais empurravam as origens da pineura Moldando a ewizacéo morta sua volta, aang a pasos argos a despeto da anatomia, com as per 880 votados de ad somes eo pio em leno font Ta iso _ so convengescandnisconhecids dos econ. Mas todo os "ego, as horizontais nas quais a arte anterior inscrevera suas figuras, foram cecolidserepunades deado~porue, ela primeta er ea aig, Nara Sin queria svar a embrana de seu tunfo numa piagem mais ov menos oe ‘estves pa rente. Os dcadesfalavam uma lingua semitica, como os hebreus posteriormente; 4 possivel que o conteido da ese tena sido influenciado pelo gosto, que se per- cube em muitas partes da biblia, por histSrias narradas no estilo de estemunhos uidadosamente especificos. E subimos a montanha: e deparamos os lulubis me meio & mata. E alguns matamos com flechas:e alguns... Bera eu paraftasclo, eu ‘expeculo. A arte natrativa indus tas pensamentos, Esa foi uma guinada sibita em seu desenvolvimento regional, que sé se cepettia mais de um milénio depois ~ quando a estla foi pararno Id, um troféu carregado por invasores das plant e humores express ds peas i Pacece szodve consider 2 pole Soma a mais antiga ancestalconbecia de vitae radigbes locale da Aries octet ‘us acberiam eausunde fassinio Imagens apartadas Nigéria, Peru, Europa, 500 aco-500 Havin tes ees: um na Aftia, ur na America do Sule um na Europa [6,66 67]. Assim pode tee inicio a histétia, Mas primeiro o nactador cespira fundo e faz ‘uma ressalva. O que andou acontecendo neste livro até agora? O Homo sapiens ‘agueou por todos 0s continenesedescobriu varias mancicas de fabricac obj tos que fascinam os olhos. Em todos esses esforgos hd um mesmo fatorinvisivel =o mental, o espritual, ou como quer que odefinamos -, mas, quanto a0 mais, cles se desenvolvern diversamente em lugates diferentes. Passado algum tempo, sociedades maiores crescem aqui ali, e dentro delas a imagistica ganha novas dimensbes: ela interage com a escrita ¢ a construcio, ¢ surgem enti altas cul- tras visuais, cheias de autoridade “canénica”. E, entre 0s virioscentros de po- dere tradigio, intermediscios artisticos emergem, permutando e mesclando es- tilos etéenicas (© que acontece, entio, desse ponto em diante? Sers que a hist prossegue até que esses intermedidcios tenham inexoravelmente urdido o tecido global de imagens que nos rodeia hoje em dia? Nao, no acho que as coisas acontegam as- sim de maneita tio simples. Na verdade, a pact desse ponto o entedo se com plica, Pensar na histria global no milénio que se seguiu a 200 €¢ significa pen ‘sar em mundos culturais que se tornam cada vez mais intricados ¢ cada vez mais ivergentes. Assim sendo, 0 argamento a seguir ser tecido em direges alterna das aqui sumo a dscérdias, ali a armonias, Hoje em dia, & claro, temos algo do modelarent deal, terporariamente em movi ns nos 330 ¥e por our, 20 longo dos séculosseguintes, mas as quests elativas propor alg © preoeupavam muito, Outs aristas pe clisscsseuiiam os insintos de ach eamentoeinciabescurtas do apreiz que trabalhava na tampa; mesmo asin 9 significado podeia sec transmit, E dai, o sistema como um todo esta sus a alterages de siniicado como a troa de cabegas numa esta de imperador,o4 0 novo pane! de inser ona tampa, Por volta dos n0s 30, 0 eacho de was, que por ant empo sig tha verdadir do Senbos. Se users vec onde a trasigo para um novo sistema de siguficados eeligisosorignalmente come, pretsamas nos volta aio para oImpério Romano, mas para a Tada ~ onde grande parte da esculura contemporineaobedecia surpreendestemente a princpos similares. A perm de cala ea de pesca, menconadh co tio apt, nos dé uma id de coma a arte grega foi acolhida depois das invasées de Alexandre na Asia Central. Ela se difundiu dali para Gandhara - onde fica hoje o leste do Afeganistio e 0 norte do Paguisto. J vimos amb quem Saha nin ental imagens sensuis da itlogia ald cercavam o stp, 0 monte cSsmicoabstrato gue fia no cen- tro das devogBes buditas. Niosabems sea novidade de cettatar propio Bada comegou ai, no meio da {ndia, ou em outras pactes, como uma cesposta de Gand. haa estate grega Sci como fo imagens do grande mestecomesaram 2 aprecer em ambas a8 elise muito depos do nastimento de Jesus Aos poucos, mediante procesos que provavelmenteinluiam o ipo de ve ago imcoduida por aprendizes que descrevi, ess imagens se dsenvolveram até aig o ize de refinameno visto no Buda em escala de dos egos de Sc sath (6), esulgio em torao do ano 450. Sarnath isa mais lest, no or «0 do império Gupta, na plancie gangética, a maior wnidade politica que a fa dia testemunhara desde o seino de Asoka, sete séculos antes. A espléndida alternincia entre padres e polimento liso nessa poca de santuario,esulpida em aenito,eflete a sofistcacio conscentee cortesi da cultura Gupta, como tam- bem seu inelectualizado desento geométcco. Um cédigo de gestos manaais, of ‘mudrah, fora adotado no budismo muito antes, e aqui os dedos do Buda deno- tam “ensinamento”, pois foi no pargue de cervos de Sarnath que ele pregou sea primeico sermio. Os ouvines do seemio esto distribufdos no painelabaixo, se tmethantes em formato aos rlevos de um saec6fago. Batee eles se encontra uma toda, ada lei do Buda; em torno da auréla do mestre gira uma outa, a das co Sas que surgem, madam e fenecem, a atribulada ilusio de que sua lei promete lr bertar-nos. Flas si0 movides por apsards, espttos da antiga mitologia indiana. 4 Trabalho eorcs0 + 93 94 * Mundos medieais ‘A realidade interior reside na cabosa incre e totalmente esférica refletida, por um lado, em seu sorriso sulle, por outro, na respiragio que pi riche 0 corpo mais abaixo. £ quase como a planta de um templo erguido num stipa, virada em no- ‘venta graus e posta de encontro a parede. Para tratar desse nove tipo de imagem religiosa, sera preciso falar dos sist. mas de significado — iconogeafas. E também, talvez, da possibilidade de apertei-

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