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História da Educação

Autora: Profa. Maria Tereza Papa Nabão


Colaboradores: Prof. Nonato de Assis Miranda
Profa. Silmara Maria Machado
Profa. Renata Viana de Barros Thomé
Professora conteudista: Maria Teresa Papa Nabão

Possui bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus
de Marília; licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de
Marília; aperfeiçoamento em Métodos e Técnicas de Pesquisa com auxílio de bolsa do CNPq e mestrado em História,
na área História e Sociedade, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Assis, como
bolsista da FAPESP. Desde 2001 é docente da Universidade Paulista, campus de Assis, com ênfase em Ciências Sociais,
Antropologia e Ciências Humanas.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

N113 Nabão, Maria Tereza Papa

História da Educação. / Maria Tereza Papa Nabão - São Paulo:


Editora Sol.
104 p. il.

Notas: este volume está publicado nos Cadernos de


Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-003/11,
ISSN 1517-9230.

1.História 2.Educação 3.Transformações socioeducacionais


I.Título

CDU 37.01

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
CENTRO UNIVERSITÁRIO PLANALTO DO DISTRITO FEDERAL – UNIPLAN

Reitoria

Reitor: Prof. Yugo Okida

Vice-Reitor: Prof. Fábio Nogueira Carlucci

Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Humberto Venderlino Richter

Pró-Reitor Adminstrativo: Prof. Robson do Nascimento


Sumário
História da Educação

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 O QUE É EDUCAÇÃO?......................................................................................................................................11
1.1 Por que estudar História da Educação?....................................................................................... 13
2 EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E CULTURA ENTRE OS POVOS PRIMITIVOS.......................................... 14
2.1 A distinção entre cultura e civilização.......................................................................................... 14
2.2 A educação informal............................................................................................................................ 16

Unidade II
3 EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E CULTURA NO ANTIGO EGITO: A FORMAÇÃO DO ESCRIBA........ 24
3.1 Egito: berço de todas as civilizações............................................................................................. 24
3.2 Ascensão social por meio do ofício de escriba.......................................................................... 28
4 EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E CULTURA NA ANTIGUIDADE GREGA.................................................. 29
4.1 A Grécia..................................................................................................................................................... 29

Unidade III
5 EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E CULTURA NA IDADE MÉDIA E NO RENASCIMENTO..................... 48
5.1 A Idade Média e o Feudalismo......................................................................................................... 48
5.2 O Conhecimento Científico na Idade Média.............................................................................. 50
5.3 A Educação na Idade Média.............................................................................................................. 52
6 O ILUMINISMO E A EDUCAÇÃO.................................................................................................................. 61

Unidade IV
7 A CATEQUESE E O INÍCIO DA COLONIZAÇÃO: OS JESUÍTAS, A EDUCAÇÃODA ELITE
E A REFORMA POMBALINA.............................................................................................................................. 78
7.1 Os jesuítas no Brasil............................................................................................................................. 78
8 A MODERNIDADE NO BRASIL E O PENSAMENTO EDUCACIONAL: O LIBERALISMO E A
PROPOSTA DA ESCOLA NOVA; O MANIFESTO DOS PIONEIROS......................................................... 82
APRESENTAÇÃO

Prezado aluno,

A disciplina História da Educação está dividida em quatro unidades.

Na primeira, faremos uma reflexão em torno da importância do estudo da História da Educação


e, para tanto, procuraremos entender alguns conceitos fundamentais, tais como: o que é História? O
que é Educação? Quais as relações entre História, Educação e sociedade? Estas reflexões iniciais têm o
objetivo de fazê-lo perceber que a disciplina História da Educação não é algo maçante e monótono,
mas sim algo vibrante e dinâmico, capaz de colaborar com o desenvolvimento da consciência crítica e
de nos proporcionar uma melhor compreensão do mundo em que vivemos. Ainda na primeira unidade,
abordaremos aspectos da educação, da sociedade e da cultura entre os povos primitivos com a intenção
de perceber de que forma as diferentes formações sociais, no tempo e no espaço, elaboram diferentes
sistemas educacionais. Aliás, este objetivo estará presente em todas as unidades.

Na Unidade II, estudaremos a educação, a sociedade e a cultura no Antigo Egito e na Grécia Clássica.
O Antigo Egito, berço de todas as civilizações, nos oferece elementos muito importantes para pensarmos
as transformações nos processos educacionais. Nesta sociedade já poderemos perceber a educação
como forma de ascensão social por meio da formação do escriba. A Grécia Clássica, por sua vez, teve
importância decisiva na formação cultural da civilização ocidental, sendo que os conceitos de educação
elaborados neste período exerceram influência fundamental nos teóricos posteriores e ainda hoje se
fazem sentir em obras clássicas dedicadas à Educação.

Na Unidade III, estudaremos a educação, a sociedade e a cultura da Idade Média ao Iluminismo.


Nesta unidade, perceberemos especialmente a influência da Igreja Católica nos rumos e destinos do
conhecimento, da ciência e da educação. Veremos ainda de que forma a educação é moldada para
atender os interesses da sociedade e como os controles políticos, religiosos e ideológicos começam a
ser abalados pelo Renascimento e Iluminismo, com a finalidade de percebermos como a educação pode
estar comprometida com estes ideais.

Na Unidade IV, abordaremos a História da Educação no Brasil em dois momentos distintos: o primeiro
momento, da colonização, marcada especialmente pela monocultura e pelo modelo econômico agrário,
exportador dependente e a ação pedagógica dos jesuítas; e o segundo momento, o da modernidade no
Brasil e a formação do pensamento educacional brasileiro, especialmente por meio da reflexão em torno
das propostas da Escola Nova e do Manifesto dos Pioneiros

Os tópicos desta disciplina são apresentados de forma didática e trazem indicações de como você
poderá encontrar mais informações acerca das principais ideias abordadas.

Esperamos que você possa tirar o máximo proveito das reflexões contidas neste material!

Bons estudos!

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INTRODUÇÃO

A importância e o entendimento do estudo de história da educação: entendendo conceitos

Estamos prestes a iniciar nossos estudos referentes à História da Educação e você poderia ter
dúvidas quanto à importância de estudar sobre aquilo que já passou e está tão distante da nossa
realidade atual. Primeiramente, vamos pensar um pouco acerca do significado de história. Se você
está pensando numa história maçante, cheia de datas e acontecimentos para serem lidos e decorados,
esqueça!

Agora vamos pensar a história em um sentido mais amplo, mais vibrante e mais vivo.
Inegavelmente a história refere‑se ao passado, mas é muito mais do que isto! Nós somos feitos de
história, somos seres históricos. Sabemos como somos porque conhecemos nossa trajetória ao longo do
tempo. Conhecemos tanto os detalhes quanto os momentos importantes de nossas vidas. Conhecemos
o que nos faz ser como somos e sabemos que nos transformamos ao longo do tempo. Por experiência,
evitamos as circunstâncias que podem nos levar ao sofrimento, bem como trabalhamos para engendrar
situações que possam nos favorecer.

E não são apenas as pessoas que têm  uma história. Tudo o que conhecemos tem uma história
também: o livro que lemos, a moda que vestimos, o celular ou o computador que usamos, a maneira de
fazermos ciência, arte, literatura, religião, enfim, tudo o que compõe a nossa sociedade.

A História, portanto, refere‑se basicamente à vida dos homens em sociedade, à forma como se
organizam, se adaptam e transformam o ambiente em que vivem ao longo do tempo.

Estudar história pode ser uma experiência fascinante, pois nos possibilita refletir sobre a vida dos
seres humanos, ou seja, de pensarmos sobre como o homem viveu e como vive em diversos momentos e
em diversas sociedades. É interessante analisarmos como, ao longo dos anos, os homens pensam, como
oram a Deus, o que consideram sagrado ou profano, como trabalham, se divertem, o que os faz vibrar
de amor ou de ódio, de alegria ou tristeza, de esperança ou desespero.

Enfim, por meio da reflexão histórica entendemos como as diferentes sociedades se formaram, como
se desenvolveram e como se transformaram:

As transformações são a essência da História; quem olhar para trás, na


História de sua própria vida, compreenderá isso facilmente. Nós mudamos
constantemente; isso é válido para o indivíduo e também é válido para a
sociedade. Nada permanece igual e é através do tempo que se percebe as
mudanças” (BORGES, 2003, p. 50).

História, portanto, refere‑se, sobretudo, a uma forma de reflexão e análise que nos permite pensar
os acontecimentos do passado, não como simples narrativa enfadonha e monótona, mas com o objetivo
de entender o desenvolvimento humano atual, de compreender de que forma os acontecimentos
contribuíram na formação de nossas atuais condições de vida.
8
No entanto, conceituar história não é uma tarefa simples. Há diversas perspectivas, tendências
e modelos teóricos. Não temos, portanto, a intenção de elaborar nem de oferecer um conceito que
seja acabado e que contenha esta diversidade. Porém, é fundamental entendermos que, apesar desta
diversidade, a história pode ser considerada uma ciência que estuda tudo que tem relação com a vida
do homem: suas atividades (laboral, lúdica, científica, religiosa etc.), suas preferências, suas maneiras de
ser, fazer e agir. Como podemos perceber no trecho que se segue:

A história é o registro da sociedade humana, ou civilização mundial;


das mudanças que acontecem na natureza dessa sociedade (...); de
revoluções e insurreições de um conjunto de pessoas contra outro (...);
das diferentes atividades e ocupações dos homens, seja para ganharem
seu sustento ou nas várias ciências e artes; e, em geral, de todas as
transformações sofridas pela sociedade (...) (KALDUN, In: HOBSBAWN,
1998, p. 25).

Desta forma, podemos perceber que estudar a história nos leva a uma melhor compreensão do
mundo em que vivemos, proporcionando‑nos o entendimento de que as atuais formações sociais,
políticas, econômicas, jurídicas, educacionais etc. não aconteceram por acaso, mas têm sua origem na
forma como foram sendo organizadas ao longo do tempo. Os acontecimentos atuais, portanto, tem
causas que podem ser identificadas no passado, assim como podem projetar consequências no futuro.
Este conhecimento é fundamental, pois nos faz interpretar melhor a realidade que nos cerca, aguçando
o espírito crítico.

Portanto, estudar história não significa apenas memorizar datas, fatos e nomes. Muito mais do que
isto, os estudos históricos nos possibilitam entender nossa realidade atual, mostrando‑nos que a história
tem relações tanto com o presente quanto com o passado.

Portanto, a disciplina História da Educação tem como preocupação central a reflexão crítica em
torno do processo educativo ao longo do tempo e do espaço. A partir da era primitiva até a idade
contemporânea, do Egito ao Brasil.

Para que possamos provocar tal nível de reflexão, é fundamental que o aluno compreenda o
desenvolvimento da educação através do tempo e de diversos povos e épocas, não apenas como leitura
passiva ou simples relato cronológico acerca das diferentes tradições educativas, mas, sobretudo, que
consiga compreender que a história das sociedades e o processo educativo são inseparáveis.

Portanto, é fundamental que se provoque o questionamento acerca do contexto social, histórico


e cultural em que se formam as diferentes concepções de educação, a fim de provocar a reflexão
em torno das possibilidades que foram engendradas ao longo do tempo e que contribuíram para
a exclusão social das camadas menos favorecidas e dominadas nas diferentes épocas estudadas. A
disciplina deve, ainda, conduzir a percepção de que se a educação pode ser usada para a manutenção
do poder e das relações de dominação social, pode, também, contribuir com a transformação de tais
relações.

9
De tudo que afirmamos até agora, devemos salientar que o entendimento de História deve ser
construído a partir dos seguintes aspectos:

• A História se refere basicamente à vida dos homens em sociedade, à forma como se organizam, se
adaptam e transformam o ambiente em que vivem (social e natural) ao longo do tempo.
• Por meio da reflexão histórica, entendemos como as diferentes sociedades se formam, como se
desenvolvem e como se transformam.
• A História não é simples relato de fatos passados, mas, sobretudo, refere‑se a uma forma específica
de reflexão e análise que nos permite pensar como os fatos e acontecimentos podem contribuir
para a formação das nossas atuais condições de vida.
• A História nos leva a uma melhor compreensão do mundo em que vivemos, proporcionando‑nos
o entendimento de que as atuais formações sociais, políticas, econômicas, jurídicas, educacionais
etc. não aconteceram por acaso, mas têm sua origem na forma como foram sendo organizadas
ao longo do tempo.

• A História não significa apenas memorizar datas, fatos e nomes. Muito mais do que isto,
possibilita‑nos entender nossa realidade atual, mostrando‑nos que a História tem relações tanto
com o presente quanto com o passado.

Se os estudos históricos têm esta potencialidade, é possível que você já tenha percebido o quanto
é importante estudarmos a história da educação. Já podemos, por exemplo, esboçar a ideia de que o
estado atual da educação, em nosso país ou no mundo, tem sido pensado e organizado ao longo do
tempo.

Saiba mais

Para saber mais, você poderá recorrer ao excelente verbete “a história


e o espírito histórico” in: SARAIVA, A. J., Dicionário critico. Martins Fontes:
São Paulo, 2001.

10
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Unidade I
1 O QUE É EDUCAÇÃO?

Mas, para atender os objetivos descritos acima, além de todo o desenvolvimento de um conteúdo
programático cuidadosamente elaborado, precisamos entender não apenas o que é história, mas também
o que é educação.

Por educação entendemos a influência intencional e sistemática sobre o ser juvenil, com o
propósito de formá‑lo e desenvolvê‑lo. Mas significa também a ação genérica e ampla de uma
sociedade sobre as gerações jovens com o objetivo de conservar e transmitir a existência coletiva
(LUZURIAGA, 2001).

Obviamente, a educação constitui o ser humano, ou seja, está presente em sua vida desde o nascimento
até a morte. Não nascemos seres humanos prontos e acabados, ao contrário, precisamos construir nossa
natureza, e o fazemos, sempre e necessariamente, por meio da aprendizagem, em contato com o sentido
de educação presente em determinada ordem cultural e social.

Portanto, não podemos deixar de perceber que o significado de educação está intimamente
ligado à visão de mundo, de sociedade e de homem que são adotados e que permeiam determinada
sociedade em determinado tempo. Portanto, a prática educativa não é uma prática neutra, ou
seja, possui uma inegável natureza política. Não é uma prática desinteressada, desligada das
relações de poder e de dominação. Uma educação comprometida com as relações de poder
pode colaborar para a preservação de uma sociedade injusta, que promove e aprofunda as
desigualdades.

Durkheim, por exemplo, afirma que para cada sociedade existe um tipo de educação. A educação,
portanto, teria suas diferenças nascidas das necessidades próprias de determinado sistema social, ou
seja, dependeria da organização social, política e econômica, estabelecida por uma sociedade ao longo
do tempo:

(...) cada tipo de povo tem um tipo de educação que lhe é próprio, e que
pode servir para defini‑lo, tanto quanto sua organização moral, política e
religiosa (DURKHEIM, 2001, p. 18).

Mas, se a educação pode servir para a manutenção do statu quo, para a conservação da ordem
econômica, social e política, pode, também, ser um instrumento de transformação. A educação,
portanto, pode concorrer para conservar e reproduzir a sociedade, para reformá‑la ou para
transformá‑la.

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Unidade I

Observação

Statu quo é uma expressão latina que designa o estado atual das
coisas, em qualquer momento. Na maioria das vezes em que é utilizada, a
expressão aparece como “manter o statu quo”, “defender o statu quo” ou,
ao contrário, “mudar o statu quo”.

No entanto, não devemos pensar a educação como sendo a “solução mágica” para todos os problemas
sociais, mas devemos estar alertas para a relação de reciprocidade existente entre ambas, ou seja, para o
fato de que uma pode influenciar a outra. Esta reciprocidade nos aponta para o fato de que a educação
pode colaborar com a construção de uma sociedade mais justa e democrática, e é evidente que uma
sociedade mais justa e democrática contribui com o estabelecimento de uma educação de qualidade,
mais sólida e eficiente.

O tema da educação ganhou visibilidade por motivações diversas: por ser um direito humano, por
ser base para o crescimento econômico, por auxiliar na conquista de outros direitos, por melhorar a
distribuição de renda, por permitir alcançar melhores empregos etc. Todas são motivações reais, mas
apenas em parte, pois a educação, por si só, tem suas limitações. Por exemplo: não há, na história da
humanidade, um país cuja população tenha conquistado escolaridade básica de qualidade sem intensa
melhoria nas suas condições de vida (HADAD, 2010).

A educação é algo prioritário em uma sociedade, tanto que compõe o rol dos direitos humanos e é
reconhecida e assegurada tanto em âmbito nacional como internacional. Em 2000, na Conferência Mundial
de Educação, no Senegal, estabeleceu‑se um novo acordo aceito por grande parte dos países presentes,
inclusive pelo Brasil. Esse acordo determinou que, em 2015, todas as crianças deverão ter acesso à escola
primária de qualidade e deverá existir a cobertura das necessidades de aprendizagem para jovens e adultos, a
melhoria dos níveis de alfabetização de adultos em 50% e a conquista da equidade de gênero.

Saiba mais

Você poderá encontrar mais informações em Educação: um tesouro


a descobrir – relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre
Educação para o século XXI, disponível em http://www.dominiopublico.gov.
br/download/texto/ue000009.pdf.

Conforme o que foi exposto acima, podemos entender que Educação pode ser pensada a partir dos
seguintes aspectos:

• O significado de educação está intimamente ligado às visões de mundo, sociedade e homem, que
são adotadas e que permeiam determinada sociedade em determinado tempo.

12
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

• A prática educativa não é uma prática neutra, desinteressada, desligada das relações de poder e
de dominação.
• Uma educação comprometida com as relações de poder pode colaborar para a preservação de
uma sociedade injusta, que promove e aprofunda as desigualdades.
• A educação pode, também, ser um instrumento de transformação e libertação de uma sociedade,
colaborando com a construção de uma sociedade mais justa e democrática.
• Há uma relação de reciprocidade entre educação e sociedade, ou seja, uma pode influenciar a
outra, mas educação não é uma solução mágica para todos os problemas sociais.

Como vimos anteriormente, a educação é um produto histórico, presente na vida humana desde os
primórdios da humanidade, que vem se transformando ao longo do tempo. Portanto, para entendermos
a educação atual, é necessário conhecer a história da educação. De fato, esse conhecimento nos torna
mais capazes de compreender os rumos da educação na atualidade. Mas, além disso, o conhecimento
histórico procura pensar o passado em suas diferenças em relação ao presente e nos auxilia na formação
da dúvida metódica em relação às situações educativas da atualidade, dúvida que é adequada ao
desenvolvimento do espírito científico e da pesquisa.

Observação

O passado como passado não é nosso objetivo. Se fosse completamente


passado, não haveria mais do que uma atitude razoável: deixar que os
mortos enterrassem os mortos. Mas o conhecimento do passado é a chave
para entender o presente (DEWEY, In: LUZURIAGA, 2001, p. 09).

1.1 Por que estudar História da Educação?

Estudar a história da educação é a maneira ideal para contribuir com a melhora da educação atual,
pois, por meio desse estudo podemos conhecer os percalços enfrentados com as reformas já realizadas,
as armadilhas das ideias ilusórias e irrealizáveis e da resistência antidemocrática que as ideias inovadoras
possam ter enfrentado.

É fundamental estudar a história da educação, atentando‑se para alguns pontos fundamentais


no que se refere ao papel desempenhado pela educação nas diferentes organizações da sociedade: a
relação entre Estado e sociedade civil, o papel do Estado e sua representatividade, o modelo educacional
desenvolvido para os trabalhadores, e o modelo desenvolvido para as elites e o ideal de homem cidadão.
O estudo da história deve possibilitar compreender as relações de poder e os mecanismos de exclusão
que se produzem e reproduzem em determinados contextos sociais, para alavancar mudanças que
possibilitem a superação das condições sociais.

O estudo da história da educação se revela extremamente importante à medida que possibilita aos
estudiosos a ampliação do raciocínio, a clareza de ideias e a reflexão crítica.

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Unidade I

Segundo o exposto acima, podemos esquematicamente elencar alguns pontos fundamentais do


estudo de História da Educação:

• Sem os estudos de história da educação não conseguimos entender os processos educacionais atuais.

• Sem os estudos de história da educação não é possível contribuir com a melhoria da educação
atual.
• O estudo da história deve possibilitar a compreensão das relações de poder e os mecanismos de
exclusão que se produzem e reproduzem em determinados contextos sociais.
• O estudo de história da educação possibilita aos estudiosos a ampliação do raciocínio, a clareza
de ideias e a reflexão crítica.

Saiba mais

Para entender mais sobre a importância dos estudos de História


da Educação, consulte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1413-24782006000200011> e GENNARI, E. Um breve passeio
pela História da Educação. Disponível em: <http://www.espacoacademico.
com.br/029/29cgennari.htm>. Acesso em: 24 mai. 2011.

2 EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E CULTURA ENTRE OS POVOS PRIMITIVOS

2.1 A distinção entre cultura e civilização

Refletir sobre educação, sociedade e cultura entre os povos primitivos da Pré‑História pode parecer
estranho. Afinal, como se adquire estas informações? Como estes conhecimentos são recolhidos? Como
chegaram até os dias de hoje? Podemos confiar neste tipo de informação?

Primeiramente, devemos esclarecer que a designação “povos primitivos” se refere muito mais às
características socioculturais destes povos do que à sua localização no tempo. Portanto, “povos primitivos”
existiram na Pré‑História e existem ainda hoje. A diferença é que, na Pré‑História, toda humanidade
era formada por “povos primitivos”, enquanto que hoje estão quase extintos. Os “povos primitivos” da
atualidade são, por exemplo, as tribos indígenas no Brasil e as diversas comunidades tribais na África e
na Oceania, que são assim consideradas em função de sua organização social.

Portanto, uma das melhores fontes para se entender de que forma se processava a educação nas
comunidades primitivas da Pré‑História é por meio do estudo destas comunidades existentes ainda
hoje. Mas também são recolhidas informações pelos estudos feitos por paleontólogos, arqueólogos,
antropólogos e historiadores que se baseiam na análise de documentos não escritos, como restos de
armas, utensílios, pinturas, desenhos e ossos.

14
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Mas uma coisa é certa: a educação existe desde o momento em que os seres humanos existiram. Por
que podemos fazer esta afirmação tão categoricamente? Principalmente porque o homem é um ser que
não nasce pronto, ou seja, ele precisa aprender a tornar‑se homem e este aprendizado só pode ocorrer
no contato social com outros homens. A ordem social e cultural na qual nascemos é que nos ensina a
sermos “seres humanos”. O homem somente é capaz de construir a “condição humana” se estiver em
contato com uma ordem humana, com uma cultura e com outros humanos, por meio de um processo
de socialização ou endoculturação, ou seja, por meio da educação dentro do próprio grupo.

Neste sentido, não apenas a educação existe desde que existe o homem, como também a sociedade
e a cultura.

Assim como é impossível que o homem se desenvolva como homem no


isolamento, igualmente é impossível que o homem isolado, produza um
ambiente humano. (...) logo que observamos fenômenos especificamente
humanos entramos no reino do social (BERGER; LUCKMANN, 2008, p. 75).

Nesta colocação, o termo “cultura” deve ser entendido no sentido mais amplo, como nos ensina
Taylor:
Tomado em seu amplo sentido etnográfico cultura é este complexo que inclui conhecimentos,
crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem
como membro de uma sociedade (TAYLOR, In: LARAIA, 2001, p. 28).

Fica claro, portanto, que educação, sociedade e cultura existem desde o surgimento do homo sapiens,
cujo aparecimento é datado nos livros e compêndios de antropologia e biologia em torno de 35000 a.C.
Mas vamos nos ater ao período denominado por Pré‑História.

A Pré‑História normalmente é identificada como sendo um período histórico anterior ao aparecimento


da escrita, ou ainda, anterior ao aparecimento das civilizações. Ou seja, 4000 a.C, pois foi neste período
que os sumérios desenvolveram a escrita.

Desta forma, não podemos confundir cultura com civilização. Podemos afirmar que cultura é algo
pertencente a toda humanidade, está presente entre todos os grupos humanos, sejam eles considerados
primitivos ou civilizados. A capacidade de fazer cultura é exclusiva dos seres humanos e é esta
característica que nos diferencia dos demais animais. Aprendemos com o antropólogo Edward Taylor que
cultura é este todo intrincado que comporta arte, religião, moral, valores, costumes, crenças, linguagem,
ciência, instituições (Estado, escola, família) etc. É a cultura que nos fornece a rede de significados com
a qual damos sentido ao mundo que nos cerca. Nesse sentido, percebemos que todo grupo humano,
por ser humano, obrigatoriamente tem cultura. Mas, o que podemos entender por civilização? De uma
maneira geral, devemos entender civilização como sendo um determinado estágio de desenvolvimento
cultural em que se encontra determinado povo ou sociedade. Este desenvolvimento é normalmente
representado pelo grau alcançado pela tecnologia, economia, arte e ciência. É comum, por exemplo,
se referir a um povo como sendo “uma civilização” se o mesmo já alcançou o desenvolvimento da
escrita. Assim, o desenvolvimento da escrita, a construção de cidades, o desenvolvimento de artefatos, o
desenvolvimento da arte e da ciência etc. caracterizam o surgimento de uma civilização.

15
Unidade I

Saiba mais

Para saber mais acerca da distinção entre cultura e civilização,


consultar: ELIAS, N. Sociogênese da diferença entre “Kultur” e “zivilisation”
no emprego alemão. In: O processo civilizador: uma história dos costumes.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, p.23-64.

2.2 A educação informal

Podemos dividir a Pré‑História em dois períodos principais: Idade da Pedra Lascada (Paleolítico),
momento em que os homens são nômades e caçadores e Idade da Pedra Polida (Neolítico), momento
em que o homem já domina as técnicas agrícolas e é sedentário.

Estas duas formas de ganhar a vida, pela caça ou pela agricultura, vão modelar sistemas sociais
diferentes, que por sua vez vão precisar de modelos diferentes de educação. Apesar das diferenças que
logo vamos apontar, a educação nestes dois períodos é uma educação para a vida, para a sobrevivência.
É uma educação informal, difusa, natural e espontânea.

Uma educação natural, espontânea, inconsciente, adquirida na convivência


de pais e filhos adultos e menores. Sob a influência ou direção dos maiores, o
ser juvenil aprendia as técnicas elementares necessárias à vida: caça, pesca,
pastoreio, agricultura e fainas domésticas (LUZURIAGA, 2001, p. 14).

Este tipo de educação, presente na Pré‑História, é um tipo que permeia todos os períodos da vida
humana. A educação informal ou primária, ou seja, a socialização que acontece no seio da família, é
sempre uma educação mais livre, difusa e feita por meio de imitação. Entretanto, na Pré‑História esta é
a única forma de educação.

Assim, a educação informal é o processo pelo qual o indivíduo aprende a ser membro de
determinada sociedade, internalizando suas regras, costumes, hábitos, crenças, moral etc. Também
pode ser designada de socialização ou endoculturação. Por meio da educação informal acontece o
aprendizado dos sistemas de valores, dos modos de vida, das representações, dos papéis sociais e dos
modelos de comportamento, enfim, da cultura de uma determinada sociedade. A educação informal
nunca se completa no sentido de ter um final, pois estamos sempre aprendendo. Ela, portanto,
acontece diariamente e sem planejamento específico. Não é um processo direcionado nem conduzido,
de tal forma que todos os momentos da vida podem apresentar situações de aprendizagem. Deste
modo, fica claro que a educação informal é bem diferente da educação formal, que, ao contrário, é
planejada, envolve uma organização formal, é um processo direcionado e conduzido com a função
de prover e monitorar a aprendizagem concentrando‑se em conhecimentos e habilidades específicas
com começo, meio e fim.

16
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

A educação informal existe em todos os tempos e lugares e é extremamente importante não apenas
para a integração dos indivíduos em suas sociedades, mas, também, para a manutenção e preservação
das mesmas. Acontece, preferencialmente, no ambiente do lar, na família, que é considerada a instituição
mais importante neste tipo de aprendizagem, no entanto, esse tipo de educação prossegue com os
vizinhos, amigos ou em grupos de trabalho.

A diferença entre educação informal e formal

Quadro 1

Educação informal Educação formal


Processo contínuo, não institucionalizado nem Educação planejada intencionalmente,
direcionado, de aquisição das regras, costumes, estruturada, organizada e
hábitos, crenças, moral, conhecimentos e sistematizada. Ocorre em espaços
habilidades pertinentes a uma sociedade. organizados.

Saiba mais

Para saber mais sobre educação formal e informal, consultar: GASPAR, A.


A educação formal e a educação informal em ciências. Disponível em: <http://
www.casadaciencia.ufrj.br/Publicacoes/terraincognita/cienciaepublico/
artigos/art14_aeducacaoformal.pdf>. Acesso em 24 mai. 2011.

A transformação social, aos poucos, “pede” uma nova forma de educação e esta também se
transforma. Como já afirmamos anteriormente, existe uma reciprocidade entre sociedade e educação.
Assim, a educação de uma sociedade, em uma determinada época, busca suprir as necessidades e
exigências vividas.

Durante o período Paleolítico, o homem era um caçador nômade que não conhecia a guerra e
vivia livremente coletando frutos, folhas e raízes que a natureza lhe oferecia. Não havia necessidade
de disciplina rígida para este tipo de aprendizado, portanto a educação acontecia basicamente em
nível de socialização e/ou socialização primária, que é, essencialmente, uma educação informal,
espontânea, sem contornos rígidos, cuja finalidade é preparar o indivíduo para a sobrevivência
básica.

Entre os nômades, povo caçador e coletor por excelência, era muito provável que a educação
dos filhos tivesse sido bem livre, sem rigidez e praticamente sem disciplina. Estes povos viviam em
comunidades tribais de forma coletiva, ou seja, não conheciam a propriedade privada nem as riquezas
particulares, portanto não conheciam a arte da guerra. Não conhecendo a guerra, também, não
conheciam a necessidade da disciplina imposta pela mesma. Talvez, por isso, faltava‑lhes disciplina em
outros aspectos da vida, tal como na educação. O próprio gênero de vida (nômade, caçador e coletor)
é por si só um gênero instável que não requer muita ordem ou disciplina, sugerindo que a formação

17
Unidade I

e o estabelecimento de hábitos morais e intelectuais mais rígidos não tenham sido muito cultivados.
No entanto, neste período da Pré‑História, no Paleolítico, as pinturas rupestres são consideradas mais
notáveis, principalmente as da caverna de Altamira, na Espanha.

Os dicionários Aurélio e Houaiss nos informam que o termo rupestre refere‑se às inscrições gravadas
em rochas. Logo, arte ou pintura rupestre significa arte gravada em rocha. É um tipo de pintura feita
pelos homens da época pré‑histórica. Os homens usavam as paredes das cavernas como telas e ali
imprimiam sentimentos variados. Os desenhos podiam ser utilizados como forma de comunicação, já
que não dominavam a escrita. Para colorir usavam aquilo que a natureza podia oferecer, tais como
extrato de folhas, frutos, terra, sangue e carvão. Retratavam cenas da vida diária, tais como as caçadas,
os rituais, os animais etc. Este tipo de arte podia, ainda, representar sonhos, ideias sobre a vida e a morte,
o céu e a terra.

A arte rupestre parece ter sido a primeira forma encontrada pelo ser humano de deixar gravada sua
presença pela terra. Existem vários sítios arqueológicos contendo Arte rupestre pelo mundo (na Europa,
na África, na Ásia, na América e na Oceania). No Brasil, o Parque Nacional da Serra da Capivara, no
município de São Raimundo Nonato, no Piauí, possui um dos maiores exemplos deste tipo de arte.

Locais com pinturas rupestres no Brasil:

• Parque Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (Piauí)

• Parque Nacional Sete Cidades (Piauí)

• Cariris Velhos (Paraíba)

• Lagoa Santa (Minas Gerais)

• Rondonópolis (Mato Grosso)

• Peruaçu (Minas Gerais)

Saiba mais

Para saber mais, você pode consultar a página da Fundação Museu do


Homem Americano, disponível em: http://www.fumdham.org.br/pinturas.asp.

18
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Figura 1 – Pintura rupestre: desenho na caverna de Altamira, na Espanha, feito há 14‑16 mil anos.

No período Neolítico, o homem já dominava as técnicas de agricultura e domesticação de animais.


Este domínio permitiu organizar a vida de forma fundamentalmente diferente da organizada até então.
Isto nos sugere que a educação passou por profundas mudanças. Deixar de ser nômade, fixar residência,
bem como o dominar as técnicas agrícolas e do manejo dos animais imprimiram outro ritmo e outras
necessidades à vida social. Tornou‑se imperioso o aprendizado em relação à construção de residências
mais sólidas, uma vez que necessitavam ser fixas, além de todos os aprendizados necessários em relação
à agricultura e ao pastoreio, tais como o conhecimento dos fenômenos meteorológicos, do cultivo e
da germinação das plantas e do cuidado com os animais. Estes são conhecimentos que deverão ser
rigorosamente transmitidos às novas gerações.

Com este tipo de organização social, estes povos passaram a possuir propriedades privadas, tais
como a roça, os animais, a casa etc., portanto é bem provável que já dominassem a arte do ataque e da
defesa, ou seja, a arte da guerra. Para tanto, tiveram que desenvolver um aprendizado baseado em um
tipo disciplina mais rígida que os preparassem para o uso de armas, como o arco e a lança. Prevaleceu,
ainda, a socialização primária, ou seja, a educação espontânea, informal, centrada no seio familiar, mas
direcionada para o manejo das práticas agrícolas, para o cuidado com os animais e para o uso de armas.
Portanto, esta é uma educação mais rígida e disciplinadora.

É possível que, neste período, tenha ocorrido a iniciação dos efebos (educação de jovens para a
guerra, longe das famílias). Temos a seguinte descrição desta prática:

Os meninos são tomados da família e da aldeia, reunidos em grupo e submetidos


durante semanas, em lugares solitários, em montes e bosques, em cabanas ou em
tendas construídas de propósito, a todo um sistema de exercícios e provas. O sentido
mais profundo destas práticas é a disciplina da alma, cura anímica preparatória
para o renascimento na iniciação; esta serve para a expulsão dos maus demônios
e para a aquisição do caráter masculino. Os exercícios são: danças, ascetismo,
mortificações que provocam estados anímicos e êxtases passageiros. Mas também
se praticam exercícios de toda classe com finalidade racional: caçadas, exercícios
de armas, corporais, de desmonte e plantação. A direção de tudo isto pode ser
19
Unidade I

confiada ao chefe, a um mago sacerdote, ou também a um ancião experimentado


e distinto (KRIECK apud LUZURIAGA, 2001, p. 15).

Podemos perceber, portanto, que cada época possui um tipo de educação, cujo objetivo é atender às
necessidades de cada período da história. A educação foi se modificando de acordo com a organização
social, com as novas exigências da vida em sociedade e com as novas conjunturas históricas. Enquanto a
natureza provê ao homem o seu próprio sustento ou enquanto não há distinção de classes, nem comércio
e nem escrita, a educação permanece no nível da socialização primária, que é uma educação universal e
integral. Adultos e crianças aprendem com a vida e para a vida. Este aprendizado é transmitido para as
futuras gerações de forma difusa e informal, por meio da coparticipação e da imitação.

De forma geral, podemos afirmar que, durante a longa Pré‑História, todo processo educacional foi
calcado na educação informal e na socialização primária. Mesmo com as diferenças surgidas no período
Neolítico, a educação informal é fundamental, pois as diferenças só vão ser acentuadas no final deste
período, provocando novas mudanças. O certo é que ainda não havia a figura do professor ou de alguém
que pudesse exercer função parecida. A educação era exercida por todos os componentes do clã, seja
este clã nômade ou agricultor. Normalmente a responsabilidade maior recaía sobre os anciões, que eram
os mais experientes e sábios, no entanto, todos eram participantes. A educação era feita por meio da
transmissão oral de tudo que era considerado importante para a preservação do grupo.

Podemos perceber que de certa forma já começa a ser delineada a forma como a educação vai se
estabelecer entre os chamados povos civilizados, ou seja, de um lado a educação básica, a socialização
primária no seio da família, e de outro a educação “profissional”, técnica e militar.

Resumo

A história não deve ser entendida como simples relato de fatos passados,
mas, sim, como uma forma específica de reflexão e análise que nos permite
pensar quais fatos e acontecimentos passados podem contribuir para o
entendimento de nossa realidade atual, seja ela política, econômica, jurídica
ou educacional.

Existe uma relação de reciprocidade entre sociedade e educação,


de tal forma que uma pode influenciar a outra. Portanto, cada época e
cada sociedade possuem um tipo de educação, cujo objetivo é atender às
necessidades de cada período da história, ou seja, a educação se modifica
de acordo com as diferentes conjunturas históricas e sociais.

Desta forma, durante toda a Pré‑História, a educação permaneceu no


nível da socialização primária. Sendo considerada uma educação informal,
universal e integral, cujo aprendizado é transmitido para as futuras gerações
de forma difusa, por meio da coparticipação e da imitação. Não havia a
figura do professor ou de alguém que pudesse exercer função parecida.
20
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Exercícios

Questão 1 (ENEM 2010).

“Quem construiu a Tebas de sete portas?

Nos livros estão nomes de reis.

Arrastaram eles os blocos de pedra?

A Babilônia várias vezes destruída. Quem a reconstruiu tantas vezes?

Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?

Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?

A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.

Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os césares?”

(BRECHT, Bertolt. Perguntas de um trabalhador que lê).

Partindo das reflexões de um trabalhador que lê um livro de História, o autor censura a memória
construída sobre determinados monumentos e acontecimentos históricos. A crítica refere‑se ao fato de
que:

A) Os agentes históricos de uma determinada sociedade deveriam ser aqueles que realizaram feitos
históricos ou grandiosos e, por isso, ficaram na memória.

B) A História deveria se preocupar em memorizar os nomes de reis ou governantes das civilizações


que se desenvolveram ao longo do tempo.

C) Os grandes monumentos históricos foram construídos por trabalhadores, mas sua memória está
vinculada aos governantes das sociedades que os construíram.

D) Os trabalhadores consideram que a História é uma ciência de difícil compreensão, pois trata de
sociedades antigas e distantes no tempo.

E) As civilizações citadas no texto, embora muito importantes, permanecem sem terem sido objeto
de pesquisas históricas.

Resposta correta: alternativa C.

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Unidade I

Análise das alternativas:

A) Alternativa incorreta.

Os agentes históricos de uma determinada sociedade deveriam ser aqueles que realizam feitos
históricos ou grandiosos e, por isso, ficaram na memória.

Justificativa:

A resposta não pode ser considerada correta, pois a crítica do autor é justamente à abordagem
ultrapassada de História que privilegiava apenas os grandes feitos históricos. Na concepção atual, a
preocupação é contrária à abordagem tradicional e se ocupa dos fatos do cotidiano.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa:

A resposta não pode ser considerada correta, pois a crítica do autor é justamente à abordagem
ultrapassada de História, que privilegiava apenas os grandes personagens históricos. Na concepção
atual, a preocupação é contrária à abordagem tradicional, se ocupando do dia a dia das pessoas comuns
e dos personagens esquecidos como, por exemplo, trabalhadores, mulheres e crianças.

C) Alternativa correta.

Justificativa:

A alternativa é verdadeira, pois o autor critica a abordagem da História tradicional que estava ligada
apenas à memória dos “vencedores”, governantes, reis etc., defendendo que a História deve ser contada
do ponto de vista dos “vencidos”, ou seja, dos trabalhadores e das pessoas comuns.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa:

A alternativa não pode ser considerada correta, pois, no fragmento do texto de Brecht, não há
referência a essa ideia, mas sim uma crítica à História que privilegia os grandes feitos e personagens.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa:

A alternativa não pode ser considerada correta, pois o fragmento do texto faz referência a civilizações
muito pesquisadas pela História, só que através de uma abordagem dos grandes feitos e personagens e
não na perspectiva do cotidiano do homem comum, como defende Brecht.
22
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Questão 2

Observe a figura a seguir e responda:

Figura 2 – Pintura rupestre

As pinturas rupestres feitas pelos homens primitivos são a origem de que tipo de produção
humana?

A) Produção artística.

B) Produção escrita.

C) Produção religiosa.

D) Produção bélica.

E) Produção econômica.

Resolução desta questão na Plataforma.

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