O artigo fala sobre as condições do transporte público coletivo na cidade de Salvador, que sofre com assaltos e sucateamento da frota.
Ano 2019
Autor: JONATHAS GONÇALVES CARDOSO
Título original
Transporte Público em Salvador e Questões de Segurança Pública
O artigo fala sobre as condições do transporte público coletivo na cidade de Salvador, que sofre com assaltos e sucateamento da frota.
Ano 2019
Autor: JONATHAS GONÇALVES CARDOSO
O artigo fala sobre as condições do transporte público coletivo na cidade de Salvador, que sofre com assaltos e sucateamento da frota.
Ano 2019
Autor: JONATHAS GONÇALVES CARDOSO
Não importa o dia da semana, faça chuva ou faça sol, lá estão eles: um rebanho de desgraçados dividindo um pedaço de abrigo no ponto de ônibus ou nas intermináveis filas das estações. Porque para o proletariado brasileiro o trabalho começa muito antes de se chegar na firma/repartição/empresa, é preciso enfrentar todas as dores da penitência, o duro trajeto todos os dias nas metrópoles brasileiras que capengam em mobilidade. Digo desgraçados não para falar de caráter ou honestidade mas sim de destino. Não nasceram em berço de ouro, desgraçados porque como dizia o cético poeta e o carismático letrista: “pobres são como podres” e assim com todo essa nossa podridão vamos levantando os muros dessa nação, engordando os ricos de colarinho branco que não precisam de transporte público. E lá vão eles, o rebanho, espremidos dentro dos coletivos, calor, aperto e medo. Medo do “duplo assalto”. Já não basta trabalhar o mês inteirinho enchendo o bucho das grandes companhias e corporações ganhando uma miséria de salário que a cada ano aumenta dez reais enquanto a cesta básica sobe dezessete. É preciso ter medo dos assaltos dentro dos ônibus, o primeiro assalto começa na catraca com o cobrador. O segundo assalto é na sorte. É preciso ter a sorte de entrar num coletivo e não ser abordado por um assaltante. É revoltante saber que as companhias de transporte público apliquem reajustes em cima das passagens e não invistam em medidas preventivas de redução de danos aos seus passageiros. É transporte público e, tudo que é público neste País costuma andar muito mal das pernas. E não adianta dar consolo: “meia passagem aos domingos!” Pobre não tem dinheiro para se divertir no domingo, é ligar a televisão e se deliciar com as atrações do Domingão do Faustão. Essa coisa de assalto em ônibus está ficando séria. Outro dia voltando de Itapuã num ônibus da linha Integra onde estavam eu e um amigo, um falso vendedor de balas abordou os passageiros com uma pistola e calmamente foi recolhendo celulares e carteiras e colocando-os numa sacolinha. Fez a festa. Homem branco, parecendo ter uns trinta anos. Depois essa elite branca e rechonchuda que escreve nos jornais vai dizer que assalto a ônibus é “coisa de preto”. De acordo com a SSP/BA (Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia) mais de cem ônibus são assaltados por mês em Salvador, o que dá uma média de mais de três assaltos por dia. Segundo os responsáveis pela operação Gêmeos da polícia militar os assaltantes são, na sua maioria, usuários de drogas e roubam os coletivos para comprar entorpecentes. Agora o caldo engrossa. É um problema múltiplo que abarca a falta de segurança nos ônibus, a falta de policiamento nas vias de tráfego e políticas públicas de combate as drogas. Todos nós sabemos que o Brasil enfrenta, desde tempos remotos, uma falida política de combate as drogas. E será que acabando com os traficantes acabamos também com os assaltos nos transporte públicos? Ou vão querer nos roubar ainda mais nas “catracas” de todo dia, dizendo-nos que é o meio de se investir em políticas mais eficazes de segurança? A via não é dupla “pai”. Está cada vez mais “barril”. Outra coisa que me agonia o pensamento é essa falta de bom senso da juventude brasileira. Em dois mil e quatorze milhares de jovens encheram as ruas para reagir contra o aumento de dez centavos na passagem e pedir o passe livre. Do que adianta clamar por tarifas menores e gratuidade se o serviço anda cada vez pior. O ideal seria invadir as ruas e reivindicar uma política de mobilidade nacional. Lei. Que parece ser o mais eficaz meio das coisas acontecerem por aqui. Senão teremos seis por meia dúzia. Do que adianta: você não é assaltado na catraca mas depois que passa dela torna-se alvo fácil dos ladrões. O buraco é mais embaixo. Pensar em mobilidade num país de metrópoles com dimensões continentais como o nosso, é primeiro ter que solucionar uma gama de problemas associados à mobilidade. Mas isso é tema para uma outra discussão. Zuza (Jonathas G. Cardoso)