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CURITIBA
2018
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EVERTON VIEIRA DOS SANTOS
CURITIBA
2018
i
AGRADECIMENTOS
enfrentei, descritas aqui como os anos da graduação e este trabalho de monografia, seria
injusto não honrar e citar pessoas que foram essenciais para que essa vista – a do futuro,
Agradeço ao meu pai, Renato, e a minha mãe, Maria, por todo o apoio,
sacrifícios, amor e estrutura dada a mim para que esse objetivo pudesse ser alcançado.
Essa não é, de maneira nenhuma, uma conquista apenas minha. Foi o valor e o incentivo
dado por vocês para a minha educação – desde o ensino fundamental - que me permitiu
chegar até aqui. E, muito para além do aspecto educacional, foi com vocês que eu tive
estarem juntos comigo, mesmo quando eu optava por não dividir o que se passava
comigo. Obrigado por me ensinarem a olhar às pessoas de modo mais humano. Eu amo
vocês.
discussões, trocas de ideias e ajudas mútuas que, ao longo desses anos, tivemos e nos
trouxeram até aqui. Vocês são exemplo para mim. Eu me sinto honrado em
compartilhar dessa vida, desses afetos e dos laços sanguíneos com vocês.
caminho como psicólogo e a olhar mais para mim mesmo – fosse mudando e
aprendendo com o que estava ao meu alcance ou aceitando o que eu não poderia mudar.
ii
- Luciana Albanese, não apenas por lecionar uma das disciplinas mais
amizade construída aqui, que transcendeu a relação professora-aluno e hoje aspira por
trilhas, projetos e montanhas. Obrigado por acreditar e incentivar os sonhos que gritam
aqui dentro.
- Bruno Angelo Strapasson, tanto por fazer nascer em mim o fascínio pela
é e me inspira a ser.
olhar humano - extremamente sensível e atento aos seus alunos - que oferece luta e
- Gabriel de Luca, por revelar tantas vezes, para além da face profissional, o ser
humano incrível, divertido e leve que é. Suas interações com os alunos foram, para
mim, um dos maiores exemplos que o contato e os vínculos são as maiores e melhores
concebidas.
demandas dos alunos. Sua forma leve e simpática foi simplesmente uma das coisas mais
sincera – aos alunos, em meio às suas questões e dificuldades. Por ter me ensinado a
importância de dar ouvidos aos mais jovens, aos seus projetos, sonhos e percepções.
iii
Por, de forma brilhante, saber incentivar e promover espaços nunca antes explorados na
graduação em Psicologia na UFPR, de modo que me ensinou a nunca rejeitar uma ideia
sem permitir que a fantasia nos permita explorar e tocar as possibilidades. A solução
Aos amigos e amigas com que tive o prazer de dividir, nestes anos de
com quem convivi durante 3 anos no NAC – e também ao grupo próximo e carinhoso
que se formou a partir disso (Ah, Marilenes!). Agradeço também aos amigos e amigas
do GRR 2014 que, para além da acolhida e carinho, fizeram com que meus dois últimos
em ler, avaliar e discutir, junto comigo, um tema que em meio às minhas abstrações e
reflexões sobre masculinidade, tornou-se tão significativo para mim. Cada uma de vocês
semana, eu tive a maior experiência em psicologia que pude ter até esse momento.
graves, com vocês eu tive as condições concretas de aprender sobre o que de mais
iv
confiança depositada em mim em tantos momentos - fosse na facilitação de grupos ou
nos processos de acolhimento de pacientes - e por ter feito parte dessa equipe, que é
referência naquilo que faz. Agradeço a compreensão e o apoio para que, em alguns
trabalho.
amiga - Ana Paula Viezzer Salvador - sem a qual essa monografia não teria chegado
até aqui (e talvez apenas ela saiba o quanto isso é realmente verdadeiro). Obrigado Ana,
tanto por ter aceitado me orientar neste trabalho, quanto por refletir comigo os caminhos
pelos quais poderíamos seguir. Por ter acreditado na relevância que ele possui e,
principalmente, por ter acreditado em mim – mesmo em meio aos diversos momentos
buscado preservar nossa relação. Por ter agido, em alguns momentos, como a
psicoterapeuta incrível que você é. Você foi indispensável para que isso tudo se tornasse
v
Temos de aceitar a possibilidade de que a
verdadeira energia radiante do homem não
se esconde, não reside e não espera por nós
nem na esfera feminina e nem na esfera do
“macho Jhon Wayne”, e sim no campo
magnético do masculino profundo.
vi
SUMÁRIO
RESUMO ...................................................................................................................................... 1
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 2
2. MÉTODO.................................................................................................................................. 8
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................ 11
4. CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 25
5. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 27
vii
RESUMO
Dentro de nossa sociedade, marcada por uma estrutura machista e patriarcal, a
masculinidade surge como um ideal que valoriza atributos como vigor, força,
dominação, invulnerabilidade e potência sexual. Esta última - a potência sexual - passa
a ser então parte estruturante da concepção de masculinidade. Porém, nos casos em que
disfunções sexuais se fazem presentes, impedindo ou dificultando os homens – de forma
permanente ou temporária – de manter relações sexuais, de que forma isso se relaciona
com a compreensão de masculinidade que essas pessoas possuem? Buscando explorar
essa lacuna, o presente trabalho objetivou realizar uma revisão de literatura sobre
masculinidade e dificuldades sexuais masculinas. Para esta pesquisa, foram acessadas
três bases de dados (Scielo, Pepsic e Banco de Teses da Capes), com o termo
‘masculinidade’ sendo definido como a única palavra-chave. Na leitura dos resumos
(Scielo e Pepsic) e dos títulos (Banco de Teses da Capes), buscou-se encontrar a relação
entre masculinidade e 1) disfunções sexuais masculinas; ou 2) satisfação sexual
masculina; ou 3) algum tipo de dificuldade sexual masculina. Foram selecionados 9
estudos que atendiam a esses critérios de seleção e que dispunham de acesso ao texto
completo. Após a análise, verificou-se que a disfunção erétil foi a dificuldade mais
citada pelos artigos, tendo sido uma queixa frequente em estudos envolvendo homens
idosos e em casos clínicos. Sensações de stress, frustração e ansiedade tendem a ser
comuns em casos com este tipo de dificuldade, havendo indícios de homens que
cometeram suicídio após a perda da função erétil. Os dados discutidos permitem
ressaltar a importância da área da Psicologia para refletir e intervir sobre tais demandas.
1
1. INTRODUÇÃO
Falar sobre sexualidade humana é, reconhecidamente, um tabu. Diversas
ao sexo e ao modo como compreendem sua sexualidade. Há, hoje, inúmeras concepções
a respeito de como a sexualidade deve ser vivida e expressada. Tais concepções podem
ser influenciadas, por exemplo, pela cultura, pelas religiões, pelo discurso médico e
científico e/ou pela própria família ou comunidade em que se vive. No entanto, muitas
dessas concepções podem gerar sofrimento nas pessoas, quando estas não conseguem
Brasil, passou-se a falar, estudar e discutir mais abertamente sobre sexualidade feminina
– uma temática que, até então, carecia de maior visibilidade. Segundo Louro (2008), a
partir dos anos de 1960, diversas categorias minoritárias – tanto no espectro sexual
que, mesmo com distintas caras e expressões, poderia ser sintetizada como a luta pelo
direito de falar por si e de falar de si” (Louro, 2008, p. 20). A partir do processo de
espaços onde mulheres pudessem falar sobre suas questões, suas dificuldades, suas
expressam menos sobre seus sentimentos e dificuldades, sendo que desde a infância “o
pequeno homem deve aprender a aceitar o sofrimento – sem dizer uma palavra e sem
‘amaldiçoar’ – para integrar o círculo restrito dos homens” (Lang, 2011, p. 463). E,
2
quando se trata sobre sua sexualidade e as dificuldades que podem acompanhar esse
particulares na vida de cada ser humano, ligadas ao modo como definições, ideias e
representações sociais, para além de definirem papéis – o que é ser homem e ser mulher
A compreensão que cada indivíduo tem sobre ser homem está ligada a noção de
seguidos para que [os homens] sejam reconhecidos como ‘machos’ e não serem
questionados por aqueles que possuem a mesma crença” (Souza, Silva & Pinheiro,
2011, p. 152). Ser homem passa a ser, então, um constante exercício de negação – muito
consideradas femininas, em prol de uma imagem de homem ideal que foi construída ao
3
longo da vida (Souza et al., 2011). Dentro desse contexto, identificar-se com a figura de
homem ativo sexualmente, viril, potente e dominante torna-se uma questão central para
ser definido como “1. Qualidade ou característica de viril. 2. A idade em que o homem
Desta forma, é possível perceber uma relação estabelecida, à priori, entre ser
homem e estar disponível – de formas específicas – para a atividade sexual: pela ereção
e pela penetração. A ‘potência sexual’ acaba sendo uma das características estruturais
daquilo que se define como masculinidade, algo que ajuda a compreender a dimensão
diversos aspectos da vida de uma pessoa ao longo da vida, ela torna-se, também, um
experimentar prazer sexual. ” (p.423). Das nove categorias elencadas pelo DSM-V
4
como específicas para disfunções sexuais, 3 são exclusivamente femininas e 4
nos homens não é clara. Cerca de 75% dos homens relatam sempre ejacular durante a
entre 66 e 74 anos relatam problemas com o desejo sexual. Essa taxa de prevalência
homens entre 16 e 44 anos relatam a experiência de falta de interesse pelo sexo pelo
2013) aponta que, tanto a prevalência quando a incidência dos casos, aumentam após os
trabalho de Carrara, Russo e Faro (2009, p. 664), “cerca de 50% dos homens adultos,
acima dos 40 anos, teria ‘algum tipo de queixa relacionada à função erétil’”. Para
homens abaixo dos 40 anos, segundo o DSM-V (APA, 2013) são em torno de 2% os
que se queixam de problemas recorrentes com a ereção, enquanto para homens acima
dos 60 anos essa porcentagem sobe para a faixa de 40% a 50%. Sobre a primeira
experiência sexual, 20% dos homens receiam ter problemas relativos a ereção, sendo
que 8% relatou ter vivenciado problemas eréteis que impediram a penetração. Conforme
5
o Manual (APA, 2013), a prevalência da Ejaculação Prematura (ou, Precoce), depende
quinta edição do DSM (APA, 2013) aponta que apenas de 1 a 3% dos homens seriam
diagnosticados com o transtorno. A diferença apontada pelo DSM (APA, 2013) entre as
também, o quanto a velocidade da ejaculação surge como uma fonte de sofrimento para
Todas essas 4 categorias, segundo o DSM-V (APA, 2013), apontam, porém, que
tais como homens que conseguem ejacular com parceiros de um sexo, mas não de outro;
ou homens que conseguem ejacular com um parceiro, mas não com outro do mesmo
a humor e ansiedade indicam ser precedentes ao baixo desejo sexual em homens. Outros
Ejaculação Precoce pode ser mais frequente em homens com transtorno de ansiedade,
6
autoestima diminuída, sensação de falta de controle e consequências adversas para o
parceira.
ser aplicado quando a etiologia da doença não for melhor explicada por outras razões,
tais como: transtorno mental não sexual; consequência de uma perturbação grave de
diagnóstico de disfunção sexual indica que o número de homens que sofrem com
dificuldades sexuais pode ser ainda maior, pois a prevalência descrita no Manual não
transtornos.
significativo de homens que relatam sofrer com questões relacionadas à atividade sexual
levantamento sobre quais as publicações realizadas nos últimos anos que envolvam
esses assuntos. Desse modo, o presente trabalho visou compreender a relação entre
7
2. MÉTODO
O presente trabalho constitui uma revisão de literatura. Desta forma, as
sequências dos procedimentos adotados para realizar esta revisão estão descritas abaixo.
Essa decisão se deu em razão do foco da pesquisa ser avaliar de que forma trabalhos que
A busca foi realizada nas seguintes bases de dados: Scielo, Pepsic e Banco de
Teses da Capes (BTC). Para a definição dessas bases, foi consultado o site BVS-Psi, no
qual foi realizada uma busca em artigos nacionais utilizando a palavra-chave definida.
Este site indica o número de artigos encontrados em cada base de dados, o que permitiu
8
Sobre os critérios referentes ao BTC, foi necessário fazer a primeira seleção
através do título do trabalho por esse banco de dados não oferecer consulta aos resumos
das obras.
online ou que foram obtidos junto ao (s) autor(es), através de contato via e-mail, quando
Brasil.
encontrados 348 trabalhos, dos quais, após a seleção pelos critérios de inclusão,
dificuldade em manter contato com os autores, apenas de uma dissertação foi obtido o
trabalho completo. Dessa forma, somaram-se 9 estudos que foram avaliados nessa
revisão de literatura.
separadamente, conforme o tipo de estudo, tendo sido realizadas análises das seguintes
informações: ano de publicação, área dos autores, metodologias aplicadas nos estudos e
reflexões trazidas por esses trabalhos, naquilo que tange a relação entre dificuldades
9
SCIELO PEPSIC BTC TOTAL
235 5 108 348
Leitura Leitura
dos dos
resumos títulos
8 0 4
Acesso Acesso
ao texto ao texto
completo completo
8 0 1
10
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As nove pesquisas selecionadas e que foram avaliadas no presente trabalho estão
listadas abaixo, orientadas por ano de publicação. Nesta tabela, estão descritos os dados
11
(continuação Tabela 2)
Viviane Xavier
Satisfação sexual entre de Lima e Silva; Psicologia, Saúde Soc. São
A7 2012 homens idosos Ana Paula de Medicina e Paulo
usuários da atenção Oliveira Economia
primária Marques; Jorge
Lyra; Benedito
Medrado;
Márcia Carréra
Campos Leal;
Maria Cristina
Falcão Raposo.
Maria Cecília
de Souza
Minayo; Stela
A8 2012 Suicídio de homens Saúde Ciência &
Nazareth
idosos no Brasil Coletiva e Saúde Coletiva
Meneghel; Psicologia
Fátima Social
Gonçalves
Cavalcanti.
Dos trabalhos selecionados, o item A1 foi o único em que o texto completo foi
obtido via e-mail diretamente com o autor do livro, pois não estava disponível no Banco
de Teses da Capes.
problemas e dificuldades que possam existir referente a sua expressão – são do interesse
de áreas distintas e podem ser exploradas por diferentes áreas de pesquisa e atuação.
desses estudos. Ainda que o campo da Psicologia esteja envolvido em mais da metade
12
Chama a atenção, também, o intervalo de tempo existente entre elas. Nos
últimos 5 anos, por exemplo, através da busca realizada nas referidas bases de dados
envolvendo entrevistas e uma análise sobre medicamentos para disfunção erétil) traziam
a discussão sobre esses eventos em homens mais jovens - sendo que um dos estudos de
caso fazia referência a uma condição específica, o da paraplegia adquirida. Dos nove
trabalhos avaliados, três faziam referência ou tinham o foco nas dificuldades sexuais
masculinas após os 60 anos. Desta forma, 44, 4% das pesquisas incluídas na revisão se
relativos a função sexual. Isso pode indicar que a comunidade científica tem se
destacam, ainda há grande dificuldade para se implantar estudos sobre o homem “como
indicando a necessidade de mais estudos sobre esta temática com homens jovens.
13
Gráfico 1. Número de estudos classificados em cada tipo de pesquisa
14
Ao destacar os valores sob os quais a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)
buscou pautar suas campanhas, o artigo A4 aponta a incoerência de se alicerçar os
cuidados com a saúde em pressupostos como a potência masculina e a
invulnerabilidade. Porém, conforme afirma Souza, Silva e Pinheiro (2011), o exercício
da negação dos atributos e características consideradas femininas é uma das principais
formas de se reafirmar a masculinidade. Desse modo, aproximar o homem da
vulnerabilidade – como é o desejo das políticas públicas mencionadas em A4 - pode ser
considerado, também, aproximar-se de características que se busca rejeitar. Ao tentar
atrair mais homens para as campanhas de saúde pública e ajuda-los a enxergar sentido
no cuidado consigo próprio, a SBU – conforme a discussão do artigo A4 – investe na
própria lógica que está no cerne do problema.
15
(continuação Tabela 4)
Amostra: 1 homem com - O estudo discute que a maior parte dos casos de
quadro de disfunção erétil, disfunção erétil, principalmente quando ocorridas com
identificado como Benedito. homens jovens, possui como principal causa primária
Método: Pesquisa clínica. conflitos intrapsíquicos.
Objetivo: Estudo da questão - Há casos em que, mesmo quando há a recuperação
psicopatológica subjacente mecânica da potência erétil, a dificuldade para obter
ao sintoma da disfunção ou manter a ereção permanece. Segundo o estudo, isso
A2 erétil. mantém relação com uma questão intrapsíquica mais
profunda, uma ferida identitária – o ‘ser homem’.
- A crença na fantasia de que não poderá ter ou
manter a ereção dá força a outra fantasia do paciente
estudado: a que não poderá “fazer uma mulher feliz” e
ter uma família com filhos.
- A disfunção erétil parece ligada a um quadro maior:
a insegurança perante o feminino.
masculinidade, os homens passam a maior parte do tempo negando aquilo que seria
possuía uma necessidade permanente de afirmar-se como homem, o que incluía também
16
Os três estudos de caso (A1, A2 e A3) apontam para uma quebra com a ideia e
distoantes daquilo que conhecem e entendem como sendo típico e esperado dos homens.
Lopes (2005) de que todo adoecimento físico traz consigo algum acometimento
psíquico, também corroboram com o apontado pelo artigo A2, no qual - mesmo após a
A dificuldade para iniciar ou manter a ereção apareceu, nos três casos estudados,
17
Tabela 5. Trabalho Empíricos
Código Método Resultados e Conclusões
Amostra: 12 homens idosos - Sensação de “ameaça à sexualidade” por não
(acima dos 60 anos); conseguir responder sexualmente frente ao desejo da
Método: Entrevistas parceira, o que impulsiona a procura por auxílio
semiestruturadas, gravadas e médico;
analisadas conforme a - A falta de compreensão, por parte de alguns idosos,
análise do discurso proposta acerca das mudanças fisiológicas que ocorrem durante
por Fiorin; a velhice, contribuindo para o receio de não conseguir
A5 Objetivo: Compreender a iniciar ou manter uma ereção, o que ocasiona que as
percepção acerca do corpo relações sejam evitadas, a fim de não serem
envelhecido por parte de confrontados com a frustração;
homens idosos – temática - Fatores que predispõe a arteriosclerose (como a
que engloba a experiência da hipertensão arterial, diabetes, o câncer de próstata e a
disfunção erétil. obesidade), também podem comprometer a função
erétil e impossibilitar o ato sexual;
- Outros fatores que podem levar a uma disfunção
erétil, constituem a qualidade do relacionamento com
a companheira; a excessiva preocupação em satisfaze-
la; o grau de privacidade existente para as
experiências sexuais; a perda da atração; a ansiedade;
estímulos eróticos negativos; o status social, dentre
outros. Condições estas comumente presentes na
vivencia da sexualidade de pessoas idosas.
Amostra: 57 participantes, - As questões que surgiram com os participantes da
entre 16 e 60 anos, de duas pesquisa foram divididas nas categorias “problemas
unidades de saúde de Natal- com IST’s”, “prevenção ao câncer de próstata” e
RN (29 usuários da unidade “problemas relativos a ereção”;
A e 28 da unidade B); - Com relação a dificuldade de ereção, essas questões
Método: análise de diários surgiram sob a denominação de ‘disfunção sexual’ e
de campo produzidos em ‘impotência sexual’, assim como por meio de
A6 pesquisas etnográficas e referências explícitas ou implícitas, por meio de
depoimentos colhidos em descrições ou metáforas, referentes a dificuldade ou
entrevistas com homens impossibilidade de se ter ereção;
usuários das unidades de - Essa dificuldade foi largamente citada pelos
saúde. Foram investigados participantes da pesquisa;
aspectos relativos a - Sendo a ‘potência sexual’ e a penetração símbolos
sexualidade masculina da virilidade, a ‘impotência’ representa um
enquanto questões levadas às contraponto a isso. Como essa dificuldade surgiu,
UBS’s. O procedimento de predominante, nos participantes acima dos 45 anos,
análise de dados foi essa condição também assume o sentido de
qualitativo. deterioração do organismo;
Objetivo: Compreender - Com diversos sentidos e significados coexistindo, os
como a sexualidade problemas relativos à ereção encontram uma
masculina é abordada nos resistência maior que a habitual de serem levados aos
centros de atenção primária a serviços de saúde pública. Quando não permanecem
saúde na cidade de Natal – em silêncio, alguns homens procuram encontrar
RN. formas de lidar que desviem dos serviços de saúde e,
de modo especial, de profissionais mulheres;
(continua)
18
(continuação Tabela 5)
19
(continuação Tabela 5)
(continua)
20
(continuação Tabela 5)
- Folder do medicamento Levitra (BSP): Ênfase da
propaganda na ideia de “modernidade” e de ser um
“novo parâmetro de eficiência” para o transtorno
erétil. Aposta na ideia de prolongar a relação sexual,
através de gráficos que indicam quanto tempo de
duração seria o ‘desejável’. Em seu material, eram
apresentados os resultados de uma pesquisa que
A9 indicava que 93% dos homens se preocupavam tanto
com a rigidez da ereção quanto com a duração da
mesma. Foco em contemplar, também, homens que
sofressem com a ejaculação precoce.
dessa disfunção. A exemplo dos dados analisados referentes aos estudos de caso, a
disfunção erétil destaca-se nos trabalhos empíricos como a alteração que mais incomoda
V (APA, 2013), no qual a disfunção erétil surge como a disfunção com maior
prevalência dentre os quatro transtornos sexuais elencados pelo manual. De acordo com
Galati, Alves Jr., Delmaschio e Horta (2014), a ejaculação precoce aparece, muitas
21
vezes, associada à disfunção erétil, em razão de, na tentativa de buscarem maior
apresenta uma grande resistência, por parte dos homens, em ser levada aos serviços de
saúde pública. Segundo Carrara et al. (2009, p. 664), a Sociedade Brasileira de Urologia
(SBU) aponta que “menos de 10% dos homens que sofrem de ‘algum grau de disfunção
Considerando o baixo incentivo concedido aos homens para falarem sobre aquilo que
possa lhes causar sofrimento (Lang, 2011) e o ideal de potência (Carrara et al., 2009;
de masculinidade, é possível compreender algumas das possíveis razões que torna tão
baixa a procura masculina pelos serviços de saúde – ainda mais quando demandas
relativas à sexualidade estão em questão. O mesmo trabalho (A6), também reflete sobre
a forma como a ereção pode ser considerada, dentro de uma lógica biomédica, como
práticas possíveis para vivência de uma sexualidade satisfatória. Isso vai de encontro ao
sexual, uma vez que a tendência é que essas práticas se tornem menos frequentes com o
avanço da idade dos homens. Isso, porém, não significa que homens idosos não
22
participantes da pesquisa responderam ter mantido relações sexuais nos 12 meses que
mesma pesquisa aponta, entretanto, que nos idosos participantes acima dos 70 anos, a
queixa de insatisfação seria 1,7 maior, em relação aos idosos mais jovens. Isso parece
indicar que, com o avançar da idade, as dificuldades com a ereção vão aumentando a
insatisfação sexual e a falta de prazer nas relações, uma vez que “alterações na
capacidade funcional têm impacto sobre a percepção que o homem tem do prazer vivido
senilidade podem acarretar, o artigo A8 explora, entre outros, casos de suicídio entre
Souza et al. (2011), que apresenta a masculinidade como um dos fatores estruturantes da
virilidade, o que pode desestruturar a identidade masculina – construída a partir dos ideais
de potência, vigor e virilidade. Para alguns homens, essa carga de sofrimento pode ser tão
intensa que pode leva-los, conforme indica a pesquisa A8, a autoagressões e ao suicídio.
tipo de anúncio, porém, apenas contribui para fortalecer o estereótipo do homem viril,
23
ereção, também continuam a contribuir para que o homem sofra com ainda mais
cobranças pelo desempenho sexual, tornando-se, como nomeiam Carrara, Russo e Faro
Diante dos dados analisados até aqui, a concepção adotada pelo DSM-V para
disfunções sexuais (APA, 2013) apresenta algumas limitações que dão espaço a novos
questionamentos. Como visto nos artigos avaliados, grande parte das dificuldades
busca alcançar, reafirmando esse papel de modo constante e afastando-se do que possa ser
considerado feminino. Em meio a esse processo, inúmeras questões podem ser abertas e
dificultar a expressão da sexualidade masculina tal como se espera: pela ereção e para
vida e de como cada homem consegue organizar-se para lidar com essas questões (A1 e
A2), por alguma condição física adquirida ao longo da vida (A3), ou por conta do avanço da
vida e da senilidade (A5, A7 e A8), as dificuldades sexuais podem surgir e ocorrer de forma
masculinas possam ter origem - e/ou serem mantidas, por curto, médio ou longo prazo - em
razão de aspectos muito mais amplos e plurais do que os definidos pelo DSM-V em seus
critérios para o diagnóstico médico desses transtornos. Como visto em Feijó (2007, citado
mais amplo sobre o peso que a queixa sexual pode ter na vida de um indivíduo. A totalidade
de problemas que se relacionam com o espectro da sexualidade, com frequência, vão para
dos dados analisados, destaca-se a relevância desse tema para áreas como a psicologia, a
24
4. CONCLUSÃO
Conforme verificado nesse estudo, o sofrimento masculino com relação a
sexual se entrelaçam com a identidade masculina, faz com que esses elementos sejam
dois dos pilares que sustentam o ideal de homem na sociedade contemporânea. Desta
forma, quando a ereção, a ejaculação ou o desejo não ocorrem da forma como espera-se,
promete uma satisfação muito maior e mais prolongada. Quando o sofrimento por não
stress, ansiedade e depressão podem ser comuns – e de tal forma que, quando
esse é um tema ainda muito pouco explorado no Brasil, fato que se observa pelo número
bases de dados internacionais poderia ter tornado a construção conceitual deste trabalho
25
pudessem ser analisados e explorados, contribuindo para uma compreensão mais clara e
e SBU poderia acarretar em um contato mais próximo entre profissionais e, com isso,
fortalecer o debate nessa área. Estudos futuros que destaquem a compreensão das
26
5. REFERÊNCIAS
blogs.sapo.pt/cloud/file/b37dfc58aad8cd477904b9bb2ba8a75b/obaudoeducador/2015/D
SM%20V.pdf. Acesso em: 23 de maio de 2018.
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287-321.
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27
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A vivência da sexualidade por idosas viúvas e suas percepções quanto à opinião dos
familiares a respeito. Saúde Soc, 24(3), 936-944.
28