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REPORTAGEM
Maristela Girotto
O processo de adoção do IFRS trações destinam-se a usuários ex- de usuários que não estão em posi-
para PMEs no Brasil teve início com ternos, incluindo-se, dentre outros, ção de solicitar relatórios adaptados
a publicação da Resolução CFC n.º proprietários que não estão envol- para atender às suas necessidades
1.255, de 10 de dezembro de 2009, vidos na administração do negócio, particulares de informação.
que aprovou da Norma Brasileira de credores existentes e potenciais e Diante da relevância das PMEs
Contabilidade Técnica (NBC T) 19.41 agências de avaliação de crédito. para a economia brasileira e da
– Contabilidade para Pequenas e No universo brasileiro de apro- abrangência dos impactos da ado-
Médias Empresas, com vigência a ximadamente seis milhões de em- ção do IFRS no desenvolvimento
partir dos exercícios iniciados a par- presas – entre micros, pequenas e dos pequenos negócios, a RBC
tir de 1º de janeiro de 2010. médias –, as demonstrações contá- discute o tema sob diferentes pers-
Essa Norma se aplica às demons- beis preparadas de acordo com o pectivas – do regulador, do finan-
trações contábeis para fins gerais de IFRS para PMEs objetiva evidenciar ciador, do pequeno empresário, do
empresas de pequeno e de médio de forma transparente informações contabilista e dos educadores que
portes, segmentos compostos por sobre a posição financeira, o desem- preparam os futuros contadores –,
sociedades fechadas e por empresas penho e os fluxos de caixa dessas com ponderações quanto aos desa-
que não têm obrigação pública de entidades. Esses dados são úteis, fios, às dificuldades e às vantagens
prestação de contas. Essas demons- especialmente, a um amplo número do processo em curso.
Rogson Sesco
contabilidade do setor público. Para Mobiliários (CVM); as so-
incluir todas as entidades do País ciedades de grande porte,
nessa convergência internacional – o como definido na Lei n.º
Juarez Domingues Carneiro
IFRS é um padrão utilizado atualmen- 11.638/07; e as socieda-
te por cerca de 140 países –, o Conse- des reguladas pelo Banco
lho Federal de Contabilidade editou Central do Brasil, pela Superinten- entidades representem, atualmente,
a NBC T 19.41 – Contabilidade para dência de Seguros Privados (Susep) e 99% das empresas brasileiras.
Pequenas e Médias Empresas. aquelas cuja prática contábil é ditada Para o presidente do Conselho
Essa Norma tem origem no por órgão regulador específico. Federal de Contabilidade, Juarez Do-
Pronunciamento Técnico emitido Versão simplificada dos IFRS mingues Carneiro, essa regulamenta-
pelo Comitê de Pronunciamentos emitidos pelo Iasb, a Norma visa ção, no âmbito da contabilidade das
Contábeis (CPC), que, por sua vez, facilitar a adoção e o entendimen- PMEs, será bastante benéfica para
tem como base o International to dos profissionais contábeis que o ambiente econômico brasileiro,
Financial Reporting Standard (IFRS) atuam em micros, pequenas e mé- podendo, inclusive, ajudar na redu-
for Small and Medium-sized Entities dias empresas. Estima-se que essas ção da taxa de mortalidade dessas
empresas. “O padrão este ano, com a meta lizando esforços para implementar a
IFRS possibilita maior de chegar a todos os convergência relacionada às micros,
transparência às in- Estados. pequenas e médias empresas”.
formações e ajuda Juarez Carneiro Em relação à exigência da ado-
na gestão dos ne- ressalta a neces- ção da NBC T 19.41 na contabilidade
gócios”, argumenta sidade de os pro- das PMEs, o presidente do CFC lem-
o contador. fissionais da Con- bra que o Código Civil Brasileiro es-
Por iniciativa do tabilidade estarem tabelece que todas as empresas são
Sistema CFC/CRCs – devidamente qualifi- obrigadas a manter a Contabilidade
que reúne os Conselhos cados para elaborar as conforme os princípios de Contabi-
Federal e os 27 Conselhos demonstrações contábeis lidade regulamente estabelecidos.
Regionais –, a NBC T 19.41 vem de acordo com a Norma. “Num Por força da Lei n.º 12.249, de 11
sendo tema de treinamentos destina- primeiro momento, o compromisso de junho de 2010, regular acerca
dos aos profissionais da Contabilida- de adesão ao IFRS estava voltado às dos princípios de Contabilidade é
de. Os seminários regionais come- grandes empresas, mas, a partir de uma das atribuições do Conselho
çaram em 2010 e continuam agora, também estamos rea- Federal de Contabilidade.
Regulador internacional
analisa a adoção da Norma
O Brasil vem se o ambiente empresarial rios regionais estão demonstrando
destacando no cenário brasileiro, o CFC organizou grande interesse e rápida assimila-
internacional quanto à um extenso programa de ção dos conceitos introduzidos pela
implementação das normas contá- divulgação, iniciado em Norma – como, por exemplo, valor
beis expedidas pelo Iasb, processo parceria com o BNDES, justo e impairment.
no qual se encontram atualmente em agosto de 2010, e que Em relação aos impactos que
mais de 130 países, com destaque vem sendo desenvolvido a adoção da Norma deverá causar
para os da União Europeia. Na em seminários regionais”, no ambiente de negócios das PMEs
opinião de Amaro Luiz de Oliveira ressalta Gomes, que rea- brasileiras, o diretor do Comitê de
Gomes, único brasileiro entre os liza palestras em alguns Normas Internacionais de Conta-
15 membros da Diretoria do Iasb, desses eventos, ministra- bilidade garante que eles serão
o País está apresentando particular dos pelo professor Ricardo positivos. “O uso do IFRS para PMEs
agilidade na adoção da IFRS para Lopes Cardoso (leia entre- potencializa a atração de capitais e
PMEs, trabalho que envolveu ini- vista na página 20).
cialmente a tradução do conteúdo O diretor do Iasb acre-
para o português (veja na página dita que a transição da
8), audiência pública de contabilidade das PMEs
minuta elaborada brasileiras para o IFRS
pelo Comitê de será tranquila, mas
Pronuncia- ressalva que existirão
mentos Con- desafios a serem su-
tábeis (CPC) perados, fato que,
e posterior em sua avaliação,
aprovação trará resultados
pelo CPC e benéficos à pro-
Robson Sesco
investimentos por utilizar lingua- alta qualidade será ferramenta fato de as PMEs, normalmente, não
gem comum e permitir a compa- importante para o desenvolvimen- terem pessoal suficiente ou treinado
ração de informações contábeis de to dessas organizações”, avalia o para uma efetiva adoção das novas
maneira ágil”, afirma. diretor do Iasb. práticas contábeis internacionais.
Gomes lembra que os usuários O SMEIG é coordenado por
de informações contábeis de PMEs, Implementation Group Paul Pacter, considerado o “pai”
como proprietários não envolvidos Em meados de 2010, o Iasb do IFRS for SMEs. O Iasb recolhe
diretamente com os negócios diá- formou um grupo, integrado por as dúvidas e sugestões enviadas
rios, credores (existentes e poten- 20 profissionais de vários países, por profissionais e empresários ao
ciais) e fornecedores, têm interes- com a finalidade de constituir redor do mundo e as encaminha à
ses específicos e estão usualmente uma força-tarefa para auxiliar na equipe técnica do próprio Comitê
focados na liquidez, solvência e implantação das novas práticas, de Normas Internacionais de Con-
especificamente nas tabilidade. “Os técnicos do Iasb
pequenas e médias analisam as questões e as remete
empresas. O grupo, aos membros do Grupo, propon-
chamado de SMEIG (do do, ou não, a emissão de um do-
nome em inglês Small cumento de esclarecimentos sob a
and Medium-Sized En- forma de ‘Perguntas e Respostas’.
tities Implementation É importante ressaltar que esses
Group) conta com a documentos, que serão depois
participação dos con- emitidos oficialmente pelo Iasb,
Rogson Sesco
guntas e Respostas (P&R) ou se a partir da NBC T 19.41, editada pelo possam vir
norma é suficientemente clara e Conselho Federal de Contabilidade a aperfei-
a dúvida ou comentário pode ser em 2009, com aplicação para o çoar esse
solucionado a partir da norma em exercício de 2010 –, é importante que conjunto
si; e (ii) em caso de a emissão de os administradores e contadores de de normas
P&R ser considerada necessária, PMEs e as empresas de serviços con- que com-
qual seria o conteúdo técnico dos tábeis que atendem a essas empresas põem o IFRS
lineamentos oferecidos ao pessoal se conscientizem de que há uma im- para PMEs.
encarregado de implantar essas portante fonte de esclarecimento de O contador
práticas nas empresas. dúvidas. O grupo do Iasb, segundo defen de qu e a s
Para Rodil, neste momento em o brasileiro, também pode ser enca- pequenas e médias empresas
que inúmeras empresas do Brasil rado como porta-voz das PMEs no brasileiras que escolherem seguir
estão adotando essas normas – a encaminhamento de sugestões que os lineamentos das práticas esta-
belecidas na NBC T 19.41 estarão,
necessariamente, em vantagem
competitiva em relação àque-
Iasb leva cinco anos para aprovar las que não adotarem, porque,
ação facilitada se apresentar ao po- auditadas com base em normas que contingente menor do que em re-
tencial parceiro, sócio ou financiador lhe são familiares. A possibilidade lação às pequenas e médias. “Suas
um jogo de demonstrações contá- de o negócio se concretizar se am- necessidades de financiamento
beis preparado em IFRS e auditado pliam significativamente”, explica o são supridas, usualmente, dentro
com base em normas internacionais. membro do Implementation Group do grupo familiar ou do relacio-
Nesse caso, o potencial parceiro do Iasb. namento pessoal; de outro lado,
vai ler demonstrações contábeis Já em relação à adoção da as normas contábeis não têm inci-
inteligíveis, que ele entende, e vai norma por microempresas, o con- dência na determinação de efeitos
saber que as demonstrações foram tador acredita que haverá um tributários”, opina.
Entrevista:
RBC - Qual a relevância de as PMEs elaborarem demonstrações contábeis de acordo com o IFRS
para PMEs?
Malan – A relevância é que a adoção de um padrão de demonstrações financeiras comum, transpa-
rente, de alta qualidade e que permita comparações entre empresas é absolutamente fundamental para
que elas tenham melhor acesso ao mercado de capitais e de instrumentos de dívida; possam pensar em
futuras associações; e atrair investidores estratégicos ou se tornarem empresas listadas em bolsa, am-
pliando sua base de acionistas. Ainda, eventualmente, possam participar como polos ativos de processos
de consolidação em seus respectivos setores.
RBC - Como um dos mais respeitados economistas brasileiros, qual a expectativa do sr. quanto
aos impactos da adoção do IFRS para PMEs no Brasil?
Malan – Nada acontecerá da noite para o dia. Será um processo gradual, que se desdobrará no tempo.
Mas o impacto poderá ser significativo, por razões expostas na resposta à pergunta anterior, à medida
que um número crescente de empresas vá adotando o IFRS para PMEs, e outras forem percebendo que é
de seu interesse fazê-lo. O apoio do BNDES à adoção do IFRS para PMEs é fundamental neste processo.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, tem sido enfático, de público, expressando seu apoio e da
instituição que preside a esta iniciativa.
O IFRS e a concessão de
crédito para PMEs
Além dos gestores abrangente e confiável sobre o negó- médias empresas compreenderem
das PMEs, que terão em cio da empresa e sobre os possíveis mais adequadamente sua situação
mão informações de me- impactos do projeto a ser financiado. econômico-financeira, propiciando
lhor qualidade, as quais poderão se “Quando o risco é conhecido, ele maior segurança na comparabilida-
reverter em decisões mais acertadas pode ser mais facilmente compen- de das demonstrações contábeis
a respeito do futuro da empresa, as sado. Por outro lado, quando há das empresas de um ano para
instituições brasileiras da área de incerteza, os agentes financeiros outro, entre organizações do mes-
concessão de crédito também têm costumam cobrar um spread a mais mo mercado ou até entre as de
a ganhar com a adoção do IFRS para para cobrir algum tipo de eventuali- mercados diferentes”, diz, acres-
pequenas e médias empresas. dade ainda não percebida”. centando que, quando uma PME
No entanto, a chefe adota o modelo IFRS, significa que
de Contabilidade do está utilizando normas conhecidas,
BNDES reconhece que confiáveis e transparentes.
ainda há muito a ser Quanto aos impactos esperados
feito, no Brasil, para pelo setor bancário, em relação
se difundir o conhe- ao processo de análise e avaliação
cimento sobre o IFRS de crédito das pequenas e médias
para PMEs. Segundo empresas, Liberati afirma que,
Vânia, esse é um desa- primeiramente, é preciso que os
Robson Sesco
A Febraban faz parte do Comitê regras específicas para as PMEs não vêm sendo desenvolvidas desde
de Pronunciamentos Contábeis são de aplicação direta por parte de 2006, quando houve a edição do
(CPC), como entidade convidada, entidades que fazem intermediação Comunicado n.º 14.259, que divul-
desde 2009, por representar rele- financeira, e o próprio International gou o compromisso da Diretoria
vantes usuários das demonstrações Accounting Standards Board (Iasb) Colegiada do Banco Central com
contábeis, e vem participando ativa- exclui do escopo de aplicação des- esse processo. Conforme o BCB, o
mente das reuniões, embora sem di- sas regras simplificadas as institui- marco regulatório da convergência
reito a voto. O diretor da entidade ções financeiras e ou- foi a edição da Resolução n.º 3.786,
lembra que o Banco Central de 24 de setembro de 2009, a qual
do Brasil foi o primeiro determinou que as instituições
regulador brasileiro a financeiras e demais entidades
exigir demonstrações autorizadas pelo Banco Central
contábeis consolida- do Brasil a funcionar – constituí-
das no padrão inter- das sob a forma de companhias
nacional, o que ocor- abertas ou que sejam obrigadas
reu em 2006. a constituir comitê de auditoria
“As regras emana- –, devem, a partir da data-
das do regulador deter- base de 31 de dezembro de
minam a elaboração das 2010, elaborar e divulgar
demonstrações contábeis anualmente demonstrações
consolidadas em IFRS, utilizando tros tipos contábeis consolidadas ado-
as normas do Iasb, traduzidas para de empresas, a tando o padrão IFRS.
o português pelo Ibracon, e, adi- exemplo das so- Ainda de acordo com infor-
cionalmente, continuam exigindo ciedades anônimas de mações do Banco Central, as
demonstrações contábeis individuais capital aberto, que pos- próximas ações normativas que
no padrão Cosif (normas do Conselho suam o chamado Public serão realizadas dizem respeito
Monetário Nacional e do Banco Cen- Accountability. à redução gradual das assi-
tral), as quais servem de base para o Dessa forma, como não existe metrias entre as demonstrações
pagamento de remunerações a em- norma do BCB sobre o tema, cabe contábeis individuais, que ainda
pregados, impostos aos governos das às instituições contábeis elegerem as não incorporam totalmente as
três esferas e dividendos aos acionis- melhores fontes de informações para normas internacionais (IFRS), com
tas”, afirma Liberati. Ainda segundo a avaliação do risco das operações. a demonstração consolidada.
ele, até o final de 2010, o Banco Cen- Nesse contexto, o Banco Central Além da vertente de regulação,
tral aprovou quatro pronunciamentos brasileiro destaca que a análise de o Banco Central faz questão de
emitidos pelo CPC: Impairment; demonstrações financeiras constitui ressaltar que, por meio da partici-
Demonstração dos Fluxos de Caixa; uma parcela dos fatores que devem pação em diversos fóruns, a insti-
Divulgação de Partes Relacionadas; ser considerados, existindo outros tuição vem atuando ativamente no
e Provisões, Passivos Contingentes e dados relevantes, como situação ca- processo de divulgação das normas
Ativos Contingentes. dastral, setor de atividade econômi- internacionais de contabilidade e
ca, garantia, natureza e finalidade do da importância da convergência
Regulação e convergência crédito e valor do financiamento. para o sistema financeiro, em parti-
De acordo com o Banco Central As ações do BCB para a con- cular, e para a economia brasileira,
do Brasil (BCB), em princípio, as vergência contábil ao padrão IFRS em geral.
Divulgação
senso entre os contadores ouvidos da empresarial, e está aí a grande
pela RBC – Paulo Schnorr, Pedro Co- oportunidade”, afirma.
elho Neto e Laiz Teixeira Pontes. Eles Atuando no Espírito Santo,
Laiz Pontes
concordam também que a ampliação a contadora Laiz Teixeira Pontes
da utilidade das demonstrações con- considera que adotar o IFRS é es- te se enquadra como financeiro ou
tábeis é um dos pontos principais da sencial para o contador que procura operacional? Esta propriedade que
norma que introduz o modelo IFRS na oferecer o melhor serviço para seu meu cliente comprou é para investi-
contabilidade das PMEs brasileiras. cliente – seja ele de pequeno, mé- mento ou uso nas operações?”.
“Vamos finalmente poder dizer dio ou grande porte. “A mudança Ainda se referindo às dificuldades
aos usuários da informação contábil nas normas contábeis visa gerar do processo em curso, a contadora
a realidade econômica e financeira de demonstrações contábeis mais rele- afirma que esse tipo de mudança
nosso cliente”, comemora o contador vantes e, portanto, mais úteis para gera custos adicionais para as em-
Paulo Schnorr, do Rio Grande do Sul. auxiliar os usuários na tomada de presas que prestam serviços con-
Para ele, a utilização da Norma traz decisões”, argumenta. tábeis. Segundo ela, esses custos
ainda outra vantagem aos contabilis- vão desde a adaptação de plano de
tas: “Não teremos de nos ater simples- Desafios contas e sistema utilizado a gastos
mente aos aspectos fiscais, mas, sim, Laiz Pontes concorda, no entan- com treinamento. Além disso, Laiz
poderemos proporcionar informações to, que o processo de adoção não acrescenta que o tempo gasto para
relevantes e traduzir nosso trabalho será fácil. “Inserir mudanças em um fazer a contabilidade de cada cliente
em informações realmente úteis. Para ambiente empresarial nunca é fácil, irá aumentar, demandando mais pes-
nós, é um avanço significativo em principalmente quando se trata de soal. “É importante lembrar, é claro,
nossa imagem perante a sociedade”. uma inovação tão grande, porque o que esses custos adicionais trarão
O contador Pedro Coelho Neto, modelo IFRS traz não apenas novas benefícios futuros”, pondera.
diretor de organização contábil do regras, mas uma nova forma de pen- Outro grande desafio, na ava-
sar na Contabilidade”. liação da contadora do Espírito
Diante desse desafio, Santo, “é buscar o entendimento
ela recomenda que os do pequeno empresário, que com
profissionais pensem a adoção das novas normas deve
duas vezes antes de usar fornecer mais informações ao seu
a “receita de bolo” que contador. A relação cliente-contador
usavam antes e se ques- deve ser intensificada”.
tionem: “Será que, de Paulo Schnorr é da mesma opi-
fato, este procedimento nião. “O maior desafio tem sido obter
representa a realidade do empresário o relatório contendo
Divulgação
Residual do Imobilizado. Também dos serviços recebidos”, defende o vistados, é a preparação dos con-
tem sido difícil a aplicação do teste contador cearense. tabilistas brasileiros para elaborar
de recuperabilidade do ativo, tendo Já Paulo Schnorr considera a devidamente as demonstrações
em vista a falta de ferramentas de maior interlocução com os empre- contábeis das PMEs de acordo com
mensuração, que precisam ser desen- sários uma oportunidade para os a NBC T 19.41 – Contabilidade para
volvidas”, explica o contador gaúcho. contabilistas. Segundo ele, como é Pequenas e Médias Empresas.
Ele cita ainda que alguns pequenos necessário o julgamento do empre- “A formação acadêmica da gran-
empresários desconhecem as vanta- sário sobre questões como riscos, de maioria dos contadores não dá
gens da adoção da Norma e, por isso, perdas, provisões e outras questões base suficiente para o entendimento
estão reticentes em adotá-la. relativas ao futuro da empresa, tem completo de seções da norma que
Pedro Coelho Neto também men- havido um diálogo muito mais pró- requerem um conhecimento mínimo
ciona a relação cliente-contador ximo entre os contabilistas e os seus de matemática financeira e economia,
como um desafio do processo de clientes. “Precisamos estar ao lado como, por exemplo, as seções 11 e 12
implementação do IFRS para PMEs. “O do gestor da empresa para que ele de Instrumentos Financeiros e a seção
mais complicado é convencer 16 – Propriedade para Inves-
a administração das pequenas timento”, explica Laiz Pontes,
e médias empresas da neces- para quem a solução é investir
sidade de avaliação dos bens em treinamento.
e determinação da vida útil Paulo Schnorr concorda
quando da implantação da nor- que a maioria dos profissio-
ma”, diz o contador cearense. nais não está preparada. “Há
Ele ressalta, no entanto, que na muita resistência por parte dos
maioria das PMEs que têm seus colegas, especialmente porque
serviços contábeis terceirizados, estávamos acostumados com
Divulgação
Bernardo Rebello
qualificadas para assegurar maior fenômeno da globalização dos mer-
seriedade e confiança nas suas re- cados de produtos, serviços e capi-
lações com os mercados, buscando tais, o estabelecimento de padrões
melhoria da gestão e da formação internacionais facilita a avaliação
Carlos Alberto dos Santos
de preços. “Independentemente e a comparação, em especial, por
do porte, as empresas fazem a para uma contabilidade fiscal mais investidores. “Esses padrões con-
contabilidade fiscal, destinada ao simplificada e outra, gerencial, mais tribuem para alterar a forma como
governo, principalmente, estadual; apurada”, defende. a empresa percebe o seu próprio
e a contabilidade gerencial, para Apesar do fato de 70% das em- desempenho e facilitam uma per-
ela própria. O Brasil deve caminhar presas brasileiras serem optantes cepção mais objetiva desse desem-
Pesquisa e disseminação do
conhecimento do padrão IFRS
As escolas de Conta- se trata da NBC T 19.41, em especial, de maior parte das ementas de disci-
bilidade, em geral, neces- porque a maioria das empresas do plinas ligadas à Contabilidade. Isso
sitam sempre disseminar qualquer Brasil é formada por PMEs e grande decorre, segundo Valcemiro Nossa,
conhecimento novo que surja na área, parte dos profissionais de Contabili- da necessidade de adequação dos
para que os futuros profissionais es- dade acaba atuando nessas organi- conteúdos relacionados aos pro-
tejam realmente preparados para o zações, diretamente ou por meio de nunciamentos emitidos pelo CPC e
mercado de trabalho. Essa regra não suas organizações contábeis. aprovados pelo CFC como Normas
pode ser ignorada, segundo o pro- “A disseminação dessa norma Brasileiras de Contabilidade.
fessor Valcemiro Nossa, coordenador é muito relevante, principalmente Em relação ao impacto do IFRS
pedagógico da graduação e coorde- porque a contabilidade feita para para PMEs na tendência de pesquisa
nador-adjunto da pós-graduação em as pequenas e médias empresas em contabilidade financeira, o pro-
Ciências Contábeis da Fucape Busi- sempre esteve um pouco fragili- fessor considera que é natural que o
ness School, de Vitória (ES), quando zada, pela falta de visão útil para foco da pesquisa comece a se voltar
a contabilidade, por para esse aspecto. “É claro que, ini-
parte dos pequenos cialmente, podemos ter mais uma
empresários, e também pesquisa exploratória, especulativa,
pela ausência de dedi- mas que, com o passar dos anos, vai
cação e compromisso se formando massa crítica que per-
de muitos contadores”, mite o desenvolvimento de pesquisas
afirma o professor. mais robustas e com resultados mais
Ele acredita que, em confiáveis”, Valcemiro Nossa.
Acácio Pinheiro
Acácio Pinheiro
monstrações contábeis das empre- não permitem inferências
sas. A partir dessas demonstrações, mais amplas, apenas ob-
segundo ele, é possível analisar tidas a partir da análise
comportamentos das variáveis (mé- de um conjunto mais José Francisco Ribeiro
tricas contábeis), testar hipóteses amplo de dados.
e projetar comportamentos dessas “Quando focamos em contabilidade financeira com
variáveis para o futuro. “No Brasil, nas PMEs do Brasil, o acesso mais foco nas PMEs brasileiras”.
dispomos quase que exclusivamen- amplo aos seus dados contábeis é Dentro desse contexto, Francisco
te de demonstrações das compa- bastante difícil. A cultura é de que Ribeiro opina que, provavelmente,
nhias abertas, que publicam os seus as pequenas e médias empresas será preciso avançar na questão
demonstrativos contábeis. Isto é, a ‘não precisam de contabilidade’, do papel social das empresas e na
pesquisa contábil alcança, apenas, um absurdo, por certo, mas que interação delas com a sociedade,
a minoria das empresas no Brasil, tem impactado negativamente no relatando sua contribuição social
se consideramos todo o universo acesso às demonstrações contábeis e econômica, com a publicação de
das companhias”, explica. deste conjunto importantíssimo de suas demonstrações contábeis.
Francisco Ribeiro argumenta empresas brasileiras”, afirma. No entanto, o professor da
que, na verdade, os dados contábeis O professor apresenta um ques- UFPE diz que o processo de con-
ainda são muito restritos, quando tionamento: “A convergência às vergência às normas internacionais
considerado o potencial de vanta- normas internacionais no âmbito de contabilidade, com os impactos
gens, tanto para a academia (pes- também das médias e pequenas culturais daí advindos, certamente
quisa) quanto para as próprias em- empresas (IFRS para PMEs) alterará estimularão as pesquisas com foco
presas, que poderiam sempre se be- a visão de que disponibilizar volun- nas PMEs. “Essas pesquisas, por
neficiar das análises e estudos base- tariamente as demonstrações contá- sua vez, poderão alimentar um am-
beis desse grupo de empresas é im- biente de atuação mais sofisticado,
portante para o avanço econômico em termos de melhor qualidade,
do País e agrega valor às próprias formatando um ciclo virtuoso das
empresas?”. E responde: “En- melhores PMEs em interação com o
quanto o principal usuário ambiente onde atuam, fornecendo
dessas informações for o dados sobre o valor econômico e
governo (fisco), provavel- social que produzem e estimulando
mente, tal fluxo de infor- o controle social e a fidelidade dos
mações não ocorrerá a clientes e consumidores”, conclui
ponto de impactar po- o coordenador do Mestrado em
sitivamente a pesquisa Ciências Contábeis da UFPE.