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MARIA CHRISTINA FELIX

PROGRAMA DE CONDIÇÕES E MEIO AMBIENTE DE TRABALHO NA


INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO – PCMAT: PROPOSTA DE ESTRUTURA DE
MODELO

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado


Profissional em Sistemas de Gestão da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração:
Gestão de Segurança.

Orientador:
Prof. GILSON BRITO ALVES LIMA, D.Sc.

Niterói
2005
2

MARIA CHRISTINA FELIX

PROGRAMA DE CONDIÇÕES E MEIO AMBIENTE DE TRABALHO NA


INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO – PCMAT: Proposta de estrutura de modelo

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado


Profissional em Sistemas de Gestão da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração:
Gestão de Segurança.

Aprovado em ___ de __________ de 2005.

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________________
Prof. Gilson Brito Alves Lima, D. Sc. - Orientador
Universidade Federal Fluminense

_______________________________________________________
Prof. Fernando Toledo Ferraz, D. Sc.
Universidade Federal Fluminense

_______________________________________________________
Prof. Sonia José Maria Bombardi, D. Sc.
FUNDACENTRO – SP

_______________________________________________________
Prof. Maria Egle Cordeiro Sitti, D. Sc.
Pontifícia Universidade Católica – PUC/Rio

Niterói
2005
3

DEDICATÓRIA

À minha querida Edméa, amiga em todas as horas, pelo seu amor eterno, ao
meu filho Diego, pelo tempo dele roubado e ao meu esposo Mario pela
compreensão e estímulo.
4

AGRADECIMENTOS

A Deus, criador magnífico, por idealizar meu espírito eterno.

Aos Arashas, arquitetos divinos, por concretizá-lo.

Aos meus pais, ausentes, amigos queridos, por viabilizarem minha viagem nesta
existência.

A Edwiges Helena – cunhada, amiga e companheira, pela força para continuar e não
desistir,

Aos meus amigos, pela paciência e ausência e incentivo constantes,

Ao meu orientador Professor Gilson Brito Alves Lima, pela competência e dedicação
principalmente pelos ensinamentos repassados.

Ao amigo James Hall, pela inestimável paciência e ajuda ao ler e reler este trabalho.

Ao colega Jófilo Moreira Lima Junior, que com sua experiência profissional,
contribuiu muito para esse estudo.

Aos colegas da FUNDACENTRO, pela paciência e respeito a minha dedicação neste


trabalho.
5

“Excelência é uma habilidade conquistada


através de treinamento e prática. Nós somos
aquilo que fazemos repetidamente. Excelência,
então, não é um ato, mas um hábito”.

Aristóteles / 384-322 a.C.


6

RESUMO

A indústria da Construção Civil é considerada atrasada tanto


tecnologicamente como gerencialmente, quando comparada a outros setores. No
desejo de se modernizar o setor das edificações tem-se demonstrado grandes
avanços através da incorporação, às suas atividades tradicionais, de novas
tecnologias de processo. O gerenciamento da segurança e saúde ocupacional,
porém, gera grandes problemas, principalmente devido à dificuldade da gerência em
utilizar abordagens mais modernas na concepção de ferramentas de apoio a gestão,
acrescida da inexistência de suporte teórico, dirigido ao setor, e a existência de uma
cultura de negação do risco amplamente difundida entre o pessoal. Dentro deste
contexto, o presente trabalho visa proporcionar o desenvolvimento de uma nova
visão da segurança e saúde ocupacional para a indústria da construção civil, através
de abordagens sistêmicas, que possam ser utilizadas por profissionais da área,
apresentando, neste contexto a implementação de um programa de condições e
meio ambiente de trabalho na indústria da construção – PCMAT, através da
proposição de uma estrutura de modelo, que sistematize a implementação de
programas de segurança e saúde no trabalho, relativos a estratégias para a melhoria
do desempenho da segurança. Com isto, buscou-se levantar elementos que
possibilitem a construção das bases para a implementação de sistemas de gestão
da segurança e saúde ocupacional nas empresas de construção civil.
7

ABSTRACT

The Civil Construction Industry is considered been slow in such a way


technology as managemental, when compared with other sectors. In the desire of it´s
modernizing the construction sector has demonstrated great advances through the
incorporation, to its traditional activities, of new technologies of process. The
management of safety and occupational health, however, generates great problems,
mainly due the difficulty of the management in using more modern boardings in the
conception of support tools the management, increased of the inexistence of
theoretical support, directed to the sector, and the existence of a culture of negation
of the widely spread out risk between the staff. Inside of this context, the present
work aims at to provide to the development of a new vision of the safety and
occupational health for the civil construction industry, through a systematic boarding,
that can be used by professionals of the area, presenting, in this context the
implementation of one program of conditions and environment of work in the
construction industry - PCMAT, through the proposal of a structure of model, that
systemize the implementation of security programs and health in the work, relative
the strategies for the improvement of the safety performance. With this, one searched
to raise elements that make possible the construction of the bases for the
implementation of systems of management of the safety and occupational health in
the companies of civil construction.
8

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas


BNH – Banco Nacional de Habitação
CA - Certificado de Aprovação
CEE – Comunidade dos Estados Europeus
CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
CPN – Comitê Permanente Nacional
CPR – Comitê Permanente Regional
DC – Diretiva Canteiros
DRT - Delegacia Regional do Trabalho
EPC - Equipamento de Proteção Coletiva
EPI - Equipamento de Proteção Individual
EUROSTAT – European Statistical System
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho
JICSHA – Japan Industry Construction Safety and Health Association
JISHA – Japan Industrial Safety and Health Association
MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e do Comércio Exterior
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
NB - Norma Brasileira
NR - Norma Regulamentadora
NSC – National Safety Council
OIT – Organização Internacional do Trabalho
OMS – Organização Mundial da Saúde
PCMAT - Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção
PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PEA – População Economicamente Ativa
PGP – Princípios Gerais de Prevenção
PIB – Produto Interno Bruto
9

PIP – Plano de Intervenções Posteriores


PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
PSS – Plano de Segurança e Saúde no Trabalho
RAIS – Relação Anual de Informações Sociais
SGSST – Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho
SIG – Sistema de Informação Gerencial
SIPAT - Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho
SST – Segurança e Saúde no Trabalho
10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Estrutura de Programa de SST para o Setor da Construção 77


Tabela 1: Valor Bruto da Produção 14
Tabela 2: Quadro das Principais Tarefas do Canteiro de Obras 41
Tabela 3: Acidente de Trabalho no Setor 43
Tabela 4: Número de Doenças do Trabalho no Setor 43
Tabela 5: Distribuição de Freqüência e de Coeficiência de Acidentes de Trabalho Fatais,
Segundo as Classes de Atividades Econômicas 44
Quadro1: Princípios Gerais de Segurança 54
11

SUMÁRIO

1 O PROBLEMA 13
1.1 Introdução 13
1.2 A Situação-Problema 17
1.3 Objetivos 18
1.3.1 Objetivo Geral 18
1.3.2 Objetivos Específicos 19
1.4 Delimitação do Trabalho 19
1.5 Importância e Justificativa do Estudo 20
1.6 Questões do Trabalho 22
1.7 Organização do Estudo 23
2 REFERENCIAL TEÓRICO 25
2.1 Caracterização do Setor da Construção Civil 25
2.2 Importância Sócio-Econômica do Setor 27
2.3 A Organização Empresarial do Setor da Construção 28
2.4 O Processo de Trabalho na Construção Civil 30
2.5 Inovação Tecnológica na Construção Civil 34
2.6 O Sub-Setor de Edificações 37
2.7 O Gerenciamento do Canteiro de Obras 39
2.8 Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho 42
2.9 Segurança e Saúde no Trabalho da Construção no Brasil 43
2.10 Norma Regulamentadora 18 46
2.10.1 Principais Avanços da NR 18 47
2.11 A Comunidade Européia e a Indústria da Construção 50
2.11.1 A Diretiva Canteiros sobre SST 50
2.11.2 Intervenientes do Processo de Construção 51
2.11.3 Atribuições Competências em SST 51
2.11.4 Princípios Gerais de Segurança 54
2.11.5 Documentos Integrantes da Diretiva 55
2.12 Japão e a Indústria da Construção 56
2.12.1 Característica do Setor da Construção no Japão 57
12

2.12.2 Dificuldades Encontradas no Setor Quanto a Segurança e Saúde no Trabalho 57


2.12.3 Estratégias para Implementação na Norma de Sistemas de Gestão em SST para o
Setor da Indústria da Construção Japonês 58
2.12.4 A Norma de Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional Japonês para a
Indústria da Construção 59
2.12.5 Quesitos Gerais para um Escritório Empresarial 60
2.12.6 Quesitos Gerais para Canteiro de Obras 63
3 METODOLOGIA 64
3.1 Estratégia da Pesquisa 64
3.2 Técnicas de Coleta de Evidências 65
3.2.1 Análise de Documentos 65
3.2.2 Análise de Registros em Arquivos 66
3.2.3 Observações Diretas 66
3.2.4 A Observação Participante 67
4 ESTRUTURANDO UM MODELO DE PROGRAMA DE SST 70
4.1 Modelos Analisados 70
4.2 A Sistematização das Antecipações no Processo da Segurança na Construção 74
4.3 Modelo Proposto 75
4.3.1 Responsabilidades e Competências em SST 75
4.3.2 Elaboração de um Programa de SST 76
4.3.2.1 Plano de Segurança e Saúde para Escritório 78
4.3.2.2 Projeto de SST para Canteiros de Obra 78
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 80
5.1 Conclusões 80
5.2 Considerações sobre Questões Formuladas 81
5.3 Sugestões para Futuros Trabalhos 82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 83
ANEXO 87
MODELOS PCMAT 1 89
MODELOS PCMAT 2 111
MODELOS PCMAT 3 119
MODELOS PCMAT 4 134
Norma Regulamentadora 161
13

1 O PROBLEMA

1.1 INTRODUÇÃO

A indústria da construção é uma das mais antigas do mundo e vem passando


por uma grande transformação nestas últimas décadas. Projetos arrojados, novas
técnicas construtivas, competitividade, etc, levam esta indústria à busca de novas
tecnologias.
A indústria da construção exerce um importante papel na economia do país.
O setor é responsável pela construção de equipamentos e edificações requeridos,
tanto por atividades ligadas à produção e à circulação (indústrias e centros
comerciais, por exemplo), como por atividades e serviços associados à reprodução
da força de trabalho. Escolas, hospitais, creches, equipamentos de lazer e
habitações são produtos da indústria da construção destinada a uma função
reprodutiva.
A indústria da construção mantém ainda um outro tipo de vínculo com as
questões habitacionais, menos imediatos, mas não menos relevante. Trata-se dos
impactos sobre a produção informal e autoprodução das mudanças tecnológicas e
organizacionais ocorridas no âmbito do setor formal. Diversas inovações em
materiais e componentes de construção, assim como alterações no processo
construtivo difundiram-se para a construção popular, promovida pelos próprios
usuários (Espinoza, 2002).
Por outro lado sabemos que a indústria da construção, mesmo com o
aparecimento de grande desenvolvimento tecnológico, pouco mostra mudanças em
suas atividades rudimentares e artesanais, adotando trabalhadores em sua maioria
14

desqualificados (Souza, 1999) e que sempre a questão produtividade tem


predomínio em detrimento da observação das normas de segurança.
Outra característica singular é que esta indústria se difere das outras por
conter especificidades e peculiaridades que refletem uma estrutura dinâmica e
complexa destacando-se as relativas a curta duração das obras, diversidade e
rotatividade da mão de obra, diferenciação pelo porte das empresas, etc.
Quanto ao aspecto econômico, esta indústria ocupa um papel de destaque,
mesmo a nível internacional, pois absorve grande parte de trabalhadores envolvidos
em atividades industriais e tem grande representatividade na composição do Produto
Interno Bruto (PIB).
Segundo Araújo (2002), um estudo encomendado pela Federação das
Indústrias de São Paulo-FIESP em 1996 mostrou que a construção civil do país
respondia por 66% do investimento bruto brasileiro na formação do capital fixo, ou
seja, US$ 83 bilhões e a um percentual de 13,5% do PIB. Com relação ainda ao
sub-setor de edificações o mesmo teve um aumento de 5,4% em relação aos anos
de 1994 e 1995, como mostra a tabela 1, em termo de valor bruto de produção.

Tabela 1: Valor Bruto da Produção, segundo grandes grupos de atividades e grupos


da Indústria da Construção (em R$ 1.000), 1994 a 1995.

Grandes Grupos e
Grupos da Construção 1994 1995
OBRAS 12.908.816 12.988.528
Edificações 4.084.075 4.987.394
Obras Viárias 6.028.407 3.303.221
Grandes Estruturas e 1.126.935 2.595.240
Obras de Arte
Montagens Industriais 879.528 1.292.289
Obras de Urbanização 753.282 660.730
Obras de outro tipo 36.590 149.655
Serviços de Construção 1.477.436 1.748.324
Construção de etapas 1.084.132 1.315.282
específicas de obras
Serviços diversos 282.134 325.545
Outros serviços 111.170 107.497
Total 14.386.252 14.736.853
Participação de
edificações na 28,4 33,8
construção (%)

Fonte: IBGE (Anuários Estatísticos do Brasil, 1997).


15

Considerando os aspectos de segurança no trabalho referentes aos diferentes


setores industriais, a indústria da construção civil encontra-se como um dos setores
mais deficitários, levando-se em conta os altos índices de acidentes do trabalho,
apresentando assim uma alta taxa de acidentes, lesões graves e óbitos. É também
considerado como um dos setores industriais mais atrasados em termos de
melhorias e qualidade de vida de seus colaboradores. O setor apresenta um elevado
índice de acidentes de trabalho graves e fatais e doenças ocupacionais, fazendo
com que milhares de vidas sejam perdidas decorrentes principalmente da falta de
controle do processo produtivo e dos riscos ambientais presentes constantemente
nos ambientes de trabalho, cuja natureza e intensidade variam de acordo com a fase
da obra potencializando a ocorrência de acidentes e doenças.
O número de infortúnios é alarmante, representando perdas consideráveis do
ponto de vista social e econômico. Em 1994, o Brasil, preocupado em reduzir os
altos índices de acidentes de trabalho, principalmente os gerados por este setor
industrial, estimula em caráter tripartite, conforme recomendação da Organização
Internacional do Trabalho - OIT, uma discussão a nível nacional para a revisão da
Norma Regulamentadora nº 18 (NR-18), com o objetivo de fazer com que esta
norma passasse a ser um modelo comparado aos modelos internacionais. Esta
norma tem por objetivo controlar os riscos ocupacionais através de uma gestão dos
ambientes de trabalho decorrentes da proposta de um programa sobre condições e
meio ambiente de trabalho na indústria da construção – PCMAT e é hoje uma das
mais avançadas do mundo.
Mesmo considerada uma das mais avançadas, esta norma não consegue ser
implementada em sua grande parte nos canteiros de obra, e portanto não
proporciona, de maneira eficaz, a redução dos acidentes de trabalho no setor.
Inúmeras são as razões que as partes envolvidas destacam para justificar a
não implantação da norma, tais como o despreparo dos trabalhadores, rotatividade,
custo alto, porte das empresas sem diferenciação para a aplicação das normas,
tempo de obra, etc.
Quanto aos profissionais de segurança e saúde, os mesmos encontram
dificuldades técnicas e operacionais para implantar programas de gestão de
segurança e saúde no trabalho, com qualidade e resultados satisfatórios.
Assim como em programas de qualidade e meio ambiente, as organizações
adotam sistemas que não se preocupam com a mudança cultural na organização,
16

implantando-os principalmente sem a colaboração de seus funcionários em todo o


processo (Geller apud Hall, 2001).
As construtoras vêm trabalhando em um mercado altamente competitivo e os
avanços da tecnologia associados às mudanças de ambiente, economia e
legislação, exigem cada vez mais que as empresas do setor busquem
constantemente melhorias nas técnicas construtivas, maquinário e imagem no
mercado.
A segurança e a saúde dos trabalhadores deveria ser considerada como uma
das missões da organização, alcançada e mantida pelas mesmas pessoas que dela
se beneficiarão e não simplesmente como uma submissão a regulamentos e
procedimentos.
A partir desta realidade, o Programa sobre Condições e Meio Ambiente de
Trabalho na Indústria da Construção, o PCMAT, vem sendo apresentado pelas
empresas apenas como forma de cumprir a legislação e não como forma de
apresentação e implantação de um programa de gestão de segurança e saúde
ocupacional para o controle de riscos dos ambientes de trabalho.
Em comparação as demais legislações adotadas a nível internacional, como
por exemplo, a Diretiva Européia 92/57/CEE, que apresenta as prescrições mínimas
de Segurança e Saúde serem aplicadas em canteiros móveis e temporários, também
exige um plano de segurança similar ao PCMAT.
É importante registrar a experiência do Japão, que no começo da década de
60, em franco desenvolvimento econômico marca em seus registros um dos maiores
índices de acidentes de trabalho originados do setor da indústria da construção, com
28% do total de acidentes de trabalho, 40% do total de acidentes fatais, quando
comparados aos demais setores industriais.
Para a diminuição dos quadros estatísticos de acidentes do setor, o Japão
adotou sistemas eficientes de gestão, utilizando ferramentas da qualidade com o
objetivo de retroceder os índices de acidentes e mudar os conceitos de
produtividade e competitividade neste setor industrial, com modelo de gestão similar
ao PCMAT.
Ter uma política de segurança e saúde ocupacional é assegurar claramente a
intenção do empregador em resguardar a integridade física e mental de seus
trabalhadores.
17

Competitividade e a qualidade são fatores cruciais para o crescimento


empresarial.
O custo da prevenção também é um investimento empresarial como a
qualidade, necessários ao combate às despesas com o custo de falhas durante seu
processo administrativo e produtivo.
A segurança e saúde ocupacional, hoje é uma função empresarial. As
empresas deveriam minimizar os riscos aos quais estão expostos seus
colaboradores. A inexistência de um sistema eficaz de segurança e saúde
ocupacional interfere em todo o processo administrativo, inclusive nos
relacionamentos humanos, qualidade dos produtos e de serviços e no aumento de
custos diretos e indiretos.

1.2 A SITUAÇÃO–PROBLEMA

Não é preciso que se faça uso de extensas estatísticas para comprovar a


importância da indústria da construção para o desenvolvimento sócio-econômico do
país. Somente os dados de que esta movimenta cerca de 60% do capital bruto do
país e emprega aproximadamente 1/3 dos trabalhadores envolvidos em atividades
industriais já bastam para demonstrar sua importância. Se a esta constatação,
somar-se o fato de que a qualidade de vida dos trabalhadores envolvidos neste setor
é bastante deficitária, faz-se grande a importância da realização de estudos
aprofundados na área da segurança e do ambiente do trabalho na indústria da
construção civil (Cruz, 1998).
Ao analisar o setor da Construção Civil, observa-se que ela requer para
análise, uma visão maior, voltada ao seu macro-ambiente, pois a natureza do seu
processo produtivo é substancialmente diferenciada da maioria dos processos
industriais contemporâneos. Esta diferenciação diz respeito às relações entre os
níveis hierárquicos, à tecnologia requerida pelo processo produtivo, à quantidade e
às características dos bens intermediários envolvidos na produção, a organização
industrial e ao valor agregado aos produtos finais.
Considerando que o ambiente de trabalho é visto por todos os processos
administrativos, por sua importância e responsabilidade, sua disposição construtiva,
bem como a organizacional, são fatores determinantes até mesmo para o fracasso
de alguns empreendimentos e que a indústria da construção sofre muito a
18

intervenção desses fatores, por ser um dos segmentos mais antigos e


conservadores a mudanças, detendo paradigmas, os quais estatisticamente vem
comprometendo a qualidade, que vai da criação de um canteiro com pontos
estratégicos para otimização da produtividade, a técnicas de controle e gestão de
suprimentos e mão-de-obra, através de métodos administrativos individuais.
O programa sobre condições e meio ambiente de trabalho na indústria da
construção – PCMAT, foi concebido nesta norma com o objetivo de prevenir
acidentes e doenças ocupacionais. É um programa que contém ações preventivas
de segurança e saúde do trabalho com o objetivo de antecipação de riscos inerentes
a cada atividade a ser desenvolvida nos canteiros, determinando medidas de
proteção e definindo responsabilidades e autoridades a todo o pessoal que
administra o empreendimento. Neste programa consta o planejamento dos canteiros,
bem como capacitação e treinamento dos trabalhadores. Embora a revisão da NR
18 tenha garantido avanços nas questões de segurança e saúde do trabalho na
indústria da construção, o programa de gestão definido nesta norma não avançou
muito nos quesitos de controle dos ambientes de trabalho, comparado aos sistemas
internacionais.
Os modelos dos PCMAT encontrados hoje nas construtoras não revelam um
programa de gestão propriamente dito.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Dada a natureza e as características intrínsecas da indústria da construção


civil, há necessidade de criar e adaptar novas formas de gerenciamento para a
segurança ocupacional, de modo a permitir a estas empresas não só a garantia de
sobrevivência, mas também a melhoria da qualidade de seus produtos e sua melhor
adequação aos novos valores sociais emergentes.
Através da análise de propostas de implantação do planejamento da segurança,
objetiva-se com este trabalho estabelecer elementos que sirvam de fundamentação para
a implantação de sistemas de gestão de segurança e saúde ocupacional-SGSST, em
empresas da construção civil, através da proposição de uma estrutura de modelo para o
desenvolvimento e implantação de conceitos, metodologias e ferramentas voltadas
19

para sistema de gestão em segurança e saúde ocupacional, visando o avanço e a


melhoria do programa de condições e meio ambiente de trabalho na indústria da
construção – PCMAT, prescrito na norma regulamentadora 18 do Ministério do
Trabalho e Emprego.

1.3.2 Objetivos Específicos

De um modo geral, podemos destacar os seguintes objetivos intermediários:

¾ Revisão de conceitos de gerenciamento de segurança e saúde nos canteiros


de obras;

¾ Avaliar modelos de PCMAT elaborados por empresas do setor da construção


civil;

¾ Propor um modelo de programa de gestão de segurança e saúde ocupacional


para o setor da indústria da construção, a partir do PCMAT prescrito na
Norma Regulamentadora 18, visando a melhoria das condições e meio
ambiente de trabalho nos canteiros de obras.

1.4 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, portanto traz como
limitação a impossibilidade do levantamento da totalidade das pesquisas realizadas
com relação à implantação de gerenciamento da segurança e saúde ocupacional em
empresas das indústrias da construção civil.
Não se pretende, ainda, definir, conceituar ou individualizar o assunto, mas
servir como fonte de informação a outros trabalhos de pesquisa.
Espera-se contribuir, através dos conhecimentos práticos do autor e da
bibliografia pesquisada, para a melhoria das condições de trabalho nas indústrias de
construção civil através da sistematização e estímulo a formação de uma
consciência crítica de seus gerenciadores.
A proposta aqui apresentada servirá como base para estruturação de um
programa de gestão para o setor da construção tomando como ponto de partida a
20

discussão do PCMAT, no que diz respeito particularmente à elaboração de um plano


de Segurança e Saúde do Trabalho – SST em nível de escritório e um projeto de
SST a ser implementado nos canteiros de obras.
Uma outra questão importante é a de que não se quer com este trabalho
engessar uma estrutura básica, conforme preconizada na NR 18 e nem propor um
modelo rígido que não permita à criação e a adoção de modelos de sucesso de
gestão já empregados por alguns países.

1.5 IMPORTÂNCIA E JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

A segurança e a saúde no trabalho vêm durante estas últimas décadas sendo


tratada como um recurso paliativo para a redução dos índices de acidentes de
trabalho, que acarreta ao país milhões de reais anuais. Em muitas organizações a
maioria de seus dirigentes, gerentes e supervisores, mesmo tendo intenção de fazer
alguma coisa pela segurança, em muitos casos não possuem conhecimentos,
metodologias e técnicas para implementá-las (Cardella, 1999).
No enfoque de segurança e saúde no trabalho, quaisquer que sejam as
ferramentas adotadas, haverá sempre a preocupação de dar consistência ao
processo de aprendizado, (Cardella, 1999).
O aprendizado é desenvolvido na medida que se percebe a utilidade de
aplicação do mesmo (Burlandy apud Hall, 2001).
O sub-setor de edificações, responsável por obras habitacionais, comerciais,
industriais, obras do tipo social e obras destinadas a atividades culturais, esportivas
e de lazer, possui grande importância para a economia, por ser fundamental para as
demais atividades e para o conjunto da população. Contudo, este sub-setor é
caracterizado pelo uso de processos tradicionais apresentando uma série de
peculiaridades que o diferencia das demais atividades produtivas. Algumas destas,
segundo Lima apud Cruz (1998), são fontes permanentes de dificuldades para a
gestão dos recursos humanos, fazendo com que o setor destaque-se como um dos
mais necessitados de atenção, ao analisar aspectos voltados a melhoria da
qualidade de vida no trabalho tais como saúde, higiene, segurança, benefícios,
relações interpessoais e autonomia. Algumas características do sub-setor
edificações têm influência marcante na questão da gerência dos recursos humanos
21

e de acordo com Heinek apud Cruz (1998), conseqüentemente, na sua qualidade e


produtividade:

¾ Heterogeneidade do produto, como cada obra gera um produto único, não há


possibilidade de elaboração detalhada de um plano fixo de segurança e
saúde na empresa;

¾ Emprego de grande variedade de materiais e componentes no processo


produtivo, repercutindo na grande variabilidade de medidas de segurança
exigidas;

¾ Predominância de empresas de pequeno porte, com poucas possibilidades de


investimento;

¾ Uso intensivo de mão-de-obra no processo produtivo, o que gera riscos


inerentes às funções;

¾ Alta rotatividade da mão-de-obra, dificultando um processo de treinamento


contínuo;

¾ Mão-de-obra com baixa qualificação, alta proporção de trabalhadores com


baixa escolaridade e nenhuma formação profissional, qualificação por meio de
treinamentos em canteiros de obras;

¾ Os riscos das funções não são evidenciados. É adotada uma atitude


psicológica de não falar sobre o assunto, como se esta pudesse evitar os
acidentes.

Além disto, conforme Lima (1993) o trabalhador em geral, é o que menos


atenção e importância recebem, com os administradores e empresários
subestimando a necessidade de uma preparação adequada para geri-lo. O resultado
deste descaso mostra-se na baixa produtividade, alto índice de acidentes de
trabalho e absenteísmo.
22

O custo dos acidentes aumenta evidentemente o custo de qualquer atividade


produtora. Mediante uma avaliação adequada dos custos dos acidentes, a gerência
de uma empresa pode dar-se conta que, mais que um gasto do ponto de vista
financeiro, um programa de segurança adequado e eficiente intervém
favoravelmente na produtividade.
É nesse sentido que o trabalho se justifica, devido à urgência das
necessidades de melhorias no gerenciamento da segurança e saúde ocupacional,
aliadas a inexistência de trabalhos mais aprofundados, sobre esta matéria, no setor
da indústria da construção civil.
O Japão conseguiu reduzir os acidentes de trabalho graves e fatais no setor
da indústria da construção, adotando medidas simples, mais eficazes, trazendo a
qualidade como resultado do trabalho de pessoas e os aspectos da importância
desta percepção está sendo levado a sério por administradores e engenheiros de
produção, quando pensam na forma de operacionalizar as ações para alcançar os
resultados pretendidos.
Os altos índices de acidentes de trabalho graves e fatais no setor da indústria
da construção no Brasil determinam que procedimentos e instrumentos mais
eficazes de gestão de segurança e saúde no trabalho sejam adotados em nossa
cultura prevencionista.

1.6 QUESTÕES DO TRABALHO

Para uma melhor avaliação do modelo proposto em Norma e a efetiva


elaboração de um novo instrumento será importante analisar:

¾ A Norma Regulamentadora 18 poderá por si só propor um programa de


gestão de segurança e saúde no trabalho para o setor da construção?

¾ Até que ponto o programa preconizado na Norma Regulamentadora 18 traduz


uma política de segurança e saúde no trabalho?

¾ Como assegurar a eficácia de um programa de gestão em segurança e saúde


no trabalho focando apenas o canteiro de obras?
23

1.7 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Este trabalho desenvolveu-se em cinco capítulos, no primeiro capítulo


apresentamos os aspectos introdutórios gerais sobre o assunto a ser abordado no
trabalho, citando inclusive pontos de importância social e empresarial.
No segundo capítulo a intenção foi o aprofundamento de uma revisão
bibliográfica que veio constatar o problema levantado e orientar a metodologia
aplicada durante este trabalho.
No terceiro capítulo apresentamos a metodologia aplicada no estudo e no
desenvolvimento desta dissertação.
No quarto capítulo inicia-se o estudo do estado da arte do assunto,
apresentando um enfoque abrangente em relação ao problema levantado, buscando
comentar e avaliar as principais abordagens e metodologias relacionadas e a
implementação de programas de gestão em segurança e saúde no trabalho no setor
da indústria da construção na comunidade européia, Japão e constatados no Brasil.
Apresentaremos a proposta de um modelo de programa de SST para o
aperfeiçoamento e melhoria do PCMAT.
No quinto e último capítulo, então, apresentaremos as análises conclusivas e
sugestões para trabalhos futuros com o objetivo de dar seqüência à discussão e
pesquisa nesta área.
Como ilustração e enriquecimento deste trabalho, incluímos no anexo quatro
modelos de PCMATs encontrados nos canteiros de obras visitados que refletem a
razão de nossa preocupação com a percepção e a compreensão do Programa de
Segurança e Saúde estabelecido na Norma Regulamentadora 18.
O primeiro modelo trata-se de um documento elaborado pelo SESMT da
empresa composto por um técnico de segurança e um auxiliar de enfermagem do
trabalho. Este modelo consta de um PPRA, um mapa de risco e medidas corretivas
com alguns procedimentos de segurança.
No segundo modelo, elaborado por um técnico de segurança, contratado para
esta finalidade, é composto por uma descrição das etapas da obra e recomendações
gerais de segurança para cada etapa.
O terceiro modelo, chamado de genérico foi elaborado por uma empresa de
segurança, para ser aplicado em qualquer obra de construção.
24

O quarto e último modelo é oferecido por um banco de dados online, para ser
preenchido pelo dono da obra ou engenheiro residente, ou técnico de segurança, em
formato de checklist.
25

2 REFERENCIAL TEORICO

2.1 CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Segundo Franco (2001), a Indústria da Construção é de grande importância


para o desenvolvimento do país, tanto do ponto de vista econômico, destacando-se
pela quantidade de atividades que intervêm em seu ciclo de produção, gerando
consumo de bens e serviços de outros setores, como do ponto de vista social, pela
capacidade de absorção da mão-de-obra.
Para Calaça (2002), a construção civil possui características próprias que a
distinguem dos demais setores industriais, desde a concepção e produção, até as
relações comerciais que são estabelecidas entre clientes e empresas. Cada produto
possui características de projeto e especificações técnicas únicas para atender às
necessidades dos clientes, são complexos desde a fase de projeto até a construção.
São imóveis no espaço, fazendo com que o canteiro de produção se estabeleça
local mente e por determinado período de tempo. Possuem grande durabilidade e
alto custo de produção, com grande mobilização de recursos humanos, financeiros e
técnicos. As atividades de administração e planejamento, normalmente são
desenvolvidas fora do canteiro de obras, o que dificulta o acompanhamento da
produção.
As atividades desenvolvidas, de caráter técnico ou comercial, são regidas por
uma série de normas e leis comuns às diversas empresas do setor como: normas
técnicas, códigos comerciais, tributários, trabalhistas, lei de licitações, códigos de
obras municipais, etc.
O setor é altamente dependente das políticas e investimentos públicos, seja
para a obtenção de créditos para a construção habitacional ou para a construção de
26

obras públicas de infra-estrutura, seja para investimentos de cunho social como


escolas, hospitais, asilos, ginásios, etc.
Neste aspecto, muitos setores da economia vêem a construção civil como
uma atividade atrasada, que emprega um grande contingente de mão-de-obra e
adota procedimentos obsoletos para a realização de seus produtos. Sabe-se que ela
é responsável por grande desperdício de materiais, tem deficiência de mão-de-obra
qualificada, as condições de trabalho são precárias e há uma grande incidência de
acidentes e de doenças ocupacionais.
Por outro lado, também é verdade afirmar que a construção civil encontra-se
em rápido processo de industrialização, status já alcançado nos países
desenvolvidos. Apesar de já ser responsável por construções suntuosas, tais como:
pontes, viadutos e edifícios inteligentes, ainda hoje se verifica uma enorme
diferenciação entre a fase de projeto e as condições em que se realiza sua
execução (Franco, 2001).
Enquanto os projetos, a especificação de materiais e as técnicas construtivas
tendem a se sofisticar dia-a-dia, a execução, as ferramentas e as condições de
trabalho nos canteiros de obras permanecem, em muitos casos, rudimentares,
sendo empregados métodos e formas de trabalho improvisado (Silva et al. apud
Franco, 2001).
No Brasil algumas mudanças ocorreram na cultura da construção civil. Em
primeiro lugar, a lógica das construtoras para ganhar dinheiro se modificou, seja na
área imobiliária, seja na de obras públicas. Entre os anos de 1950 e 1970, quando
houve um boom da construção civil – a partir das grandes obras estatais e dos
financiamentos do Banco Nacional de Habitação – BNH, a mais avançada tecnologia
para conquistar as melhores fatias do mercado era o lobby com o governo. Depois
com a inflação em alta, com uma jogada financeira ou uma boa negociação com os
fornecedores, as empresas chegavam a diminuir seus custos em 10%, 20% (Vargas,
1996). E seria necessário um esforço gigantesco para se conseguir aumentar a
produtividade nesses níveis percentuais. Sendo assim, a lógica da racionalização e
da produtividade não era levada em consideração no setor.
As mudanças ocorridas foram marcadas a partir da suspensão dos
financiamentos pelo BNH, que tinha grande importância para a demanda da
indústria da construção civil.
27

Ainda segundo (Franco, 2001), além disso, a abertura ao mercado


estrangeiro, a nova lei de licitação baseada no preço mínimo e o fim da inflação
levaram o setor da construção civil a repensar sobre sua forma de trabalho,
passando a dar uma importância fundamental aos custos e buscando alternativas
para reduzi-los, uma vez que a diminuição destes custos se tornou fator
determinante para a sobrevivência no mercado.

2.2 IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA DO SETOR

O setor da Construção Civil tem desempenhado um papel importante no


crescimento das economias industriais em países em desenvolvimento. Constitui-se
em um dos elementos chave na geração de emprego e na articulação de diferentes
setores industriais que produzem insumos, equipamentos e serviços para seus
diferentes sub-setores (SENAI apud Franco, 2001).
Segundo Calaça (2002), a indústria da construção civil destaca-se pela
importância que possui no contexto econômico nacional. É um setor complexo, que
envolve diversas atividades periféricas ou correlatas, formando uma grande cadeia
econômica que pode ser chamada de construbusiness, ou seja, a cadeia produtiva
do setor da construção, organizado em cinco segmentos: materiais de construção,
bens de capital para a construção (equipamentos, ferramentas, etc.), edificações,
construção pesada e serviços diversos (imobiliárias, condomínios, serviços técnicos,
etc).
No Brasil, cerca de 70% de todos os investimentos feitos no País passam
pela cadeia da construção civil, sendo que em 1995 esse valor atingiu a cifra de US$
83 bilhões. A atividade definida como construbusiness participa na formação do PIB
(Produto Interno Bruto) do país com aproximadamente 13,5%, dos quais 8% são da
construção propriamente dita. Essa atividade abrange desde o segmento de
materiais de construção, passando pela construção propriamente dita de edificações
e construções pesadas, e chegando aos diversos serviços de imobiliária, serviços
técnicos de construção e atividades de manutenção de imóveis (MICT, apud Franco,
2001).
No âmbito nacional, a mão-de-obra empregada na construção civil apresenta
forte componente migratório. Observa-se que, uma parcela significativa de
trabalhadores que deixa suas regiões de origem em busca de melhores condições
28

de vida acaba vindo ingressar neste setor. Isto se deve em parte, ao fato da
reprodução do trabalho na construção civil não ser realizada por meio de uma
seleção e treinamento formal. As empresas de construção acabam sendo o acesso
mais fácil para aqueles trabalhadores que não possuem uma formação profissional.
Conseqüentemente, o setor passa a ser um dos principais geradores de empregos,
com capacidade de absorção de um grande contingente de mão-de-obra,
representando 6,1% da PEA, ou seja, empregando quatro milhões de trabalhadores
(IBGE, apud Franco, 2001).

2.3 A ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL DO SETOR DA CONSTRUÇÃO

O setor da construção é composto por empresas extremamente


diferenciadas. Segundo Souza (1990), as várias empresas apresentam contrastes
significativos em relação ao seu produto principal que varia desde uma unidade
residencial até hidrelétricas e usinas nucleares complexas e neste setor ainda
convivem empresas de variados portes, desde micro até grande porte.
O setor industrial da construção apresenta algumas peculiaridades
importantes como produção nômade, ou seja, a matéria prima e os trabalhadores é
que se deslocam e o produto acabado fica instalado. Segundo Lima (1993),
diferenciado do processo industrial tradicional, caracterizado por pela passagem de
seus produtos nos respectivos postos de trabalho, agregando valores até o produto
final, na construção o produto é fixo e único e os postos de trabalho é que passam
até sua conclusão final. Talvez esta seja a razão pela qual fica difícil a aplicação de
conceitos de produção destinados ao processo industrial convencional.
Outra característica do setor é a mão de obra, muitas vezes, rotativa, de baixa
qualificação, sem treinamento e mal remunerada e quase sempre sem
possibilidades de crescimento profissional. Maslow (1954), garante que o
trabalhador necessita de outros fatores que completam sua satisfação pessoal além
do trabalho, que são reconhecimento no ambiente de trabalho, crescimento
profissional, treinamento etc, portanto este perfil influencia muito quando da
participação dos trabalhadores no diagnóstico para um eficaz gerenciamento.
Cruz (1998) nos mostra a importância dos acidentes que ocorrem no setor da
construção, em todo o mundo e que a segurança não é somente resultado das
medidas preventivas adotadas mais também pela prática diária de segurança nos
29

locais das obras, fazendo parte de uma cultura organizacional. \ainda segundo Cruz
(1998), para o desenvolvimento de uma cultura de segurança é preciso a
estimulação da gerência dando incentivos diretos e indiretos para a motivação do
grupo.
Segundo Hall (2001), o setor é muito conservador quanto à implantação de
mudanças organizacionais, mantendo dispersas as responsabilidades pouco
definidas e pouco controle de prazos, medidas, orçamento e etc.
Um outro fator importante é a terceirização praticada cada vez mais,
invadindo o setor de micro e pequenas empresas, muitas delas sem capital para a
modernização e aparelhamento de sua mão de obra.
A precarização da mão de obra também vem ao longo desses últimos anos
afetando as questões de SST. O emprego precário afeta, segundo Dinis (2000), a
todos os trabalhadores e tem como causas as questões econômicas e sociais. A
precarização do emprego também está associada aos processos de
descentralização produtiva na sub-contratação.
Uma questão preocupante no setor da construção, sem dúvida um fator
diferencial na organização de segurança e saúde são as chamadas pequenas e
médias empresas, onde está concentrado o maior número de trabalhadores. As
dificuldades encontradas são diversas, desde a questão de sua própria capacidade
financeira, daí as ações SST apenas atendem à fiscalização, como também a falta
de conhecimento técnico (falta de pessoal capacitado em SST), acarretando com
isso a não implementação de projetos em SST e impossibilitando uma cooperação
maior face às outras empresas.
As atividades relacionadas com o setor da construção, segundo Jobim (2002),
causam enorme impacto ao meio ambiente, pois é considerado o setor que mais
utiliza recursos naturais e gera poluição.
As atividades desenvolvidas nos canteiros de obras acontecem de uma
maneira desorganizada, conflitante e geram riscos acima dos já existentes e
inerentes as atividades. Muitos canteiros representam um verdadeiro caos
administrativo e produtivo.
Souza (1999) analisa que na construção o processo de modernização e
inovação tecnológica deixa uma lacuna significante entre a fase de projeto
(concepção e elaboração), a execução deste projeto (produção) e as condições que
30

o mesmo é executado (procedimentos), considerando que no setor da construção, a


produção tem domínio sobre a observância das normas de segurança.
Lima (1993) reforça que o ciclo de vida de uma obra nada mais é que a
materialização de suas fases conceitual, estrutural, executiva e terminal. Cada fase
determina sua própria característica, bem como produz seus próprios riscos.
Acredita-se que através de um gerenciamento pró-ativo dessas fases é que se
podem racionalizar as funções de produção e planejamento reduzindo a
desorganização dos canteiros, objetivando otimizar os recursos empregados e
diminuir os conflitos existentes entre qualidade, custo e mão de obra.
Cardoso (1999) constata um aumento na competição entre as empresas do
setor da indústria da construção, daí a busca atual pela melhor organização, gestão,
qualidade, produtividade, melhor emprego de recursos, maior motivação dos
trabalhadores, menor impacto ambiental, menores custos etc. Hoje o setor da
construção não pode mais apresentar uma realidade na qual venha a se permitir
negligenciar a eficiência técnico-econômica, pois só poderão se impor no mercado
se tornando eficientes técnica e economicamente e uma das estratégias é a questão
da SST, propondo ainda segundo Cardoso (1999), novas formas organizacionais
privilegiando a racionalização dos processos, a cooperação, a comunicação e a
responsabilização.

2.4 O PROCESSO DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Processo de trabalho é o processo pelo quais matérias-primas e/ou insumos


são transformados em produtos com valor de uso. Neste processo, intervêm três
elementos ou fatores: as atividades humanas, que constitui a força de trabalho; o
objeto sobre o qual atua a força de trabalho (matéria-prima e insumos) e os meios
disponíveis (local de trabalho, os maquinários e as ferramentas) que irão auxiliar a
força de trabalho (Palloix, apud Farah, apud Franco, 2001).
O ramo da indústria da construção civil agrega um conjunto de atividades
complexas, ligadas entre si por uma gama diversificada de produtos, cujos
processos produtivos e de trabalho mantêm elevado grau de originalidade e se
vinculam a diferentes tipos de demanda
31

Em função da grande heterogeneidade que caracteriza este ramo de


atividade, é importante considerar sua classificação nos diferentes sub-setores:
construção pesada, montagem industrial e edificações.

¾ Construção pesada – o sub-setor inclui entre suas atividades a


construção de infra-estrutura viária, urbana e industrial (terraplanagem,
pavimentação, obras ligadas à construção de rodovias, de aeroportos e de
infra-estrutura ferroviária, vias urbanas, etc.), a construção de obras
estruturais e de arte (pontes, viadutos, contenção de encostas, túneis), de
obras de saneamento (redes de água e esgoto), de barragens hidrelétricas
e a perfuração de poços de petróleo.

¾ Montagem industrial – o sub-setor, por sua vez, é responsável pela


montagem de estruturas para instalação de indústrias, pela montagem de
sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, de
sistemas de telecomunicações, pela montagem de sistemas de exploração
de recursos naturais.

¾ Edificações – o sub-setor de edificações tem como atividade principal à


construção de edifícios – residenciais, comerciais, institucionais e
industriais; a construção de conjuntos habitacionais; a realização de partes
de obras, por especialização, tais como fundações, estruturas e
instalações e, ainda, a execução de serviços complementares, como
reformas.

O sub-setor de edificações é marcado pela heterogeneidade no porte e na


capacidade tecnológica e empresarial de suas empresas, variando de empresas de
grande porte, com estruturas administrativas complexas, a pequenas e
microempresas sem organização empresarial, sendo que, cerca de 58% das
empresas do sub-setor concentram-se na faixa das microempresas (entre zero e 9
empregados), seguido do grupo de pequenas empresas com
33% (entre 10 e 99 empregados).
Dados estatísticos do ano de 1991 contidos na RAIS (Relação Anual de
Informações Sociais) mostram que, o sub-setor de edificações representa 90,3% do
32

número de estabelecimentos do segmento da construção civil e emprega 82% dos


empregados do setor (SENAI, apud Franco, 2001).
A construção civil caracteriza-se por possuir uma produção manufatureira, em
função das dificuldades em imobilizar máquinas e equipamentos. Grande parte dos
trabalhos é feita pelas próprias mãos dos trabalhadores, com uso de ferramentas e
pequenos equipamentos ficando este trabalho dependente da habilidade, do
conhecimento técnico e dos hábitos do trabalhador. Essas variabilidades, peculiares
ao setor, levam a um processo de trabalho bastante complexo, provocando
dificuldades para se estabelecer uma solução padrão na organização do trabalho.
Além destas particularidades, o setor da construção civil, se diferencia dos demais
tanto pelo seu produto, quanto pelo processo produtivo utilizado. No que se refere
ao produto, ele é sempre diferente, cada obra é única, caracterizado como imóvel de
grande porte e alto valor monetário. Como resultado desta extrema individualidade
dos produtos, a construção já foi chamada de indústria de protótipos, sendo
comparada com os processos de construção dos navios nos estaleiros.
Outra característica distintiva do processo é diversidade dos materiais de
base na construção (concreto, cerâmica e madeira) que não possuem, pela
tecnologia disponível, meios de produção que alcancem o grau de precisão dos
metais e dos plásticos que suprem as outras indústrias, devido ao porte de seu
produto e a uma menor exigência nos limites de suas dimensões (Vargas apud
Franco, 2001).
Os locais de trabalho no processo produtivo são variados e temporários – os
canteiros possuem arranjos diferentes, peculiares a cada obra – e o trabalho se
apóia numa produção quase sempre com bases artesanais, que tende a ser
parcelada em função das diferentes fases da obra. Os processos construtivos estão
intimamente ligados aos métodos empregados na sua produção e ao estágio
tecnológico em que se encontra, podendo ser classificados como: processo
artesanal; tradicional e industrializado.
No processo artesanal, o artesão conduz todas as fases de produção, da
concepção à execução. Este processo predominou durante o século XIX. Apesar
das modificações ocorridas até hoje, este processo ainda é observado em obras de
pequeno porte, principalmente, em construções habitacionais unifamiliares.
Durante a construção, no processo tradicional, verifica-se um parcelamento
do trabalho, onde aquelas funções que exigiam um longo tempo de aprendizado, na
33

atividade artesanal, eram separadas de forma que pudessem ser realizadas por
diferentes pessoas. Neste processo ocorre uma separação entre a concepção e a
execução, os trabalhadores passam a executar projetos que não sabem ler e cuja
tradução é feita na seqüência: engenheiro-mestre e encarregado.
Embora parcelado, os ofícios na construção requerem da mão-de-obra o
domínio de um saber-fazer, relativo ao processo de trabalho, que envolvem
habilidades no exercício das atividades e sua interferência decisiva na definição de
como executar as tarefas. Tal habilidade corresponde, na verdade, a um saber
parcial, relativo às frações do processo de produção, especialização dos
trabalhadores na execução de determinadas atividades, no manuseio e na
transformação de materiais e componentes específicos, associados à execução de
partes da edificação.
No processo tradicional, os projetos indicam apenas a forma final do edifício
(projeto arquitetônico) ou as características tradicionais dos elementos da edificação
(projeto estrutural, de fundações, de instalações), não definindo os detalhes de
execução, nem estabelecendo prescrições relativas ao modo de executar e à
sucessão das etapas de trabalho
Na construção tradicional, é normal não se deter com precisão aos projetos,
mantêm-se somente alguns pontos de referência que vão servir para o ajuste dos
demais, e deixando para encobrir os defeitos no final da obra. Esses vários ajustes
resultam, evidentemente, num maior desperdício de material. De modo geral, falta
aos profissionais responsáveis pela concepção do produto, uma visão sobre as
atividades realizadas nos canteiros de obra. Cabe aos operários tomar as decisões
quanto à maneira de executar o trabalho para chegar ao que foi projetado.
Para aumentar a qualidade de uma habitação é necessário, entre outras
mudanças, o aperfeiçoamento do maquinário envolvido, como é feito nos processos
industrializados. Esse processo se caracteriza pela utilização de inovações
tecnológicas (pré-moldados), exigindo projetos minuciosos (mais detalhes de
execução) e conhecimentos específicos dos trabalhadores. No geral, os
trabalhadores envolvidos nos novos processos continuam utilizando parte de seus
conhecimentos e habilidades convencionais, mas novos conhecimentos e novas
habilidades são requeridos.
34

2.5 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Segundo Ofori apud Franco (2001), a tecnologia pode ser definida como o
conhecimento existente (ciências) e sua aplicação na produção de bens e serviços.
A tecnologia não se restringe, apenas, à parte hardware, ou seja, as máquinas,
fábricas completas, mas também à parte software, os treinamentos, as técnicas de
produção e de gestão, as informações concernentes à utilização e ao funcionamento
das máquinas e o saber-fazer.
Distinguem-se basicamente dois tipos de tecnologia: a tecnologia de produto
e a tecnologia de processo. A primeira refere-se à mercadoria com função
específica, seja esta de consumo, de capital ou intermediária – insumo. A tecnologia
de processo por sua vez, compreende as técnicas e sua utilização que interferem no
processo de trabalho/produção, de maneira a modificá-lo, organizá-lo e racionalizá-
lo.
O termo tecnologia é muitas vezes empregado como sinônimo de técnica. Por
vezes ele significa o conjunto dos conhecimentos sobre a técnica, considerando que
o conceito de técnica designa as máquinas, as instalações e os processos sobre os
quais estão estabelecidos essas máquinas ou esses automatismos. Mas, o conceito
de técnica também concerne às aplicações do conhecimento teórico no domínio da
produção e da economia (Dejours, apud Franco, 2001).
Em uma outra abordagem, mais voltada para recursos humanos, o conceito
de técnica remete às habilidades, ao savoir-faire, ao manejo dos instrumentos e
ferramentas e, portanto implica essencialmente o uso do corpo no trabalho – sejam
esses usos relacionados diretamente ao corpo ou a uma atividade de pensamento
que empresta o corpo para efetuá-la.
Para Jong et al apud Franco (2001) as inovações ocorridas no setor da
construção significam não apenas novos produtos, mas também novos processos
que são desenvolvidos para serem usados pelos trabalhadores no processo da
construção. A adaptação de uma inovação depende de diversos fatores
relacionados a diferentes níveis na organização. Estes fatores começam pela
decisão de adquirir as inovações tecnológicas, que é feita pelo alto nível dentro da
organização, sendo o interesse principal o custo: aumentar a produtividade e lucrar
com a redução de tempo. Em nível médio, o planejamento daria mais atenção à
35

força de trabalho, aos materiais e às máquinas, assim como ao método de trabalho e


à disciplina. Finalmente, os trabalhadores decidem se eles usarão ou não a
inovação, dependendo de suas habilidades, entre outros fatores.
A exemplo dessas transformações tecnológicas que estão ocorrendo no setor,
temos:

¾ No Processo Tecnológico – têm sido incorporados ao setor novos


meios para projetar e novos materiais, ressaltando que os próprios
processos de produção e a melhoria dos meios de execução das
obras estão levando a uma nova tecnologia.

¾ Na Qualidade – começa se a criar um compromisso com a


qualidade dos produtos e dos processos de execução. A qualidade
deve ser contemplada em cada uma das fases: (i) em nível de
projeto, especificações e prescrições técnicas do projeto; durante a
execução da obra e o controle da gestão – tempo, custos e
qualidade do produto final.

¾ Na Formação, na Segurança e na Saúde no Trabalho – admitir


mudanças de tecnologia no setor compreende necessariamente
uma formação. A formação deve ser um fator dinamizador no
sentido de uma nova concepção da imagem do setor. A
possibilidade de obter-se um trabalho mais qualificado e, portanto
mais atrativo passa pela realização de uma boa qualificação e uma
melhoria continuada. Finalmente, e não menos importante, pode-se
citar a segurança e a saúde no trabalho. Cabe esperar que em um
setor mais com o aporte tecnológico e, possivelmente, com um
nível de formação mais elevado, tenha-se uma maior garantia de
efetividade nos aspectos acima citados, o que será objeto de
discussão nos capítulos seguintes.

Ainda com relação ao setor da construção civil, atenta-se para o seu


desenvolvimento tecnológico, a fim de encontrar melhores soluções para os
problemas que rodeiam as obras.
36

O panorama atual do setor industrial brasileiro, e mais especificamente da


indústria da construção, está caracterizado pela relação dinâmica entre a
permanência de características tradicionais por um lado, e rupturas recentes que se
manifestam em diversas dimensões do setor, por outro lado (SENAI, apud Franco,
2001).
Nesse processo de modernização, as empresas adotam dois tipos de
posturas:

¾ A tática, centrada em inovações pontuais e desprovida de


uma abordagem mais abrangente;
¾ A estratégica, geralmente estruturada em fases e com
tratamento sistêmico.

A evolução recente da construção civil revela uma modificação no caráter da


industrialização da construção e a emergência em adotar novas formas de
racionalização, baseada na flexibilidade da produção e na participação dos
trabalhadores no controle do processo de trabalho. A racionalização, nestes casos,
consiste, essencialmente, na busca de ganhos de produtividade através da
introdução de modificações na organização do trabalho.
Ao incorporar tecnologia inovadora e, conseqüentemente, diminuir o tempo
necessário à produção dos bens a que se dedicam, as empresas melhoraram suas
condições de concorrência em seus mercados específicos. Com isso, a autora quer
afirmar que, independente da forma que as mudanças técnicas assumam, seu
motivo principal é econômico.
A racionalização do processo produtivo não representa, no entanto, uma
alteração significativa no que diz respeito à autonomia do trabalhador na condução
do trabalho. As empresas continuam tendo dificuldade no controle do processo de
trabalho e dependentes do trabalhador, principalmente quanto aos aspectos de:
qualidade dos serviços e dos produtos, da produtividade e da economia quanto à
utilização dos insumos materiais.
Observa-se que a inovação tecnológica que passa pela introdução de novos
materiais acarreta mudanças físicas e organizacionais no setor, uma vez que a
modernização também afeta o perfil da mão-de-obra, incrementando a sua
qualificação. Esta maior qualificação dos trabalhadores decorre em função dos
37

treinamentos, aperfeiçoamentos e especializações que se fazem necessários para a


assimilação das inovações. Esse novo perfil da mão-de-obra surgido com as
inovações levou algumas empresas a incluir no seu quadro de pessoal novas
ocupações, em função das habilidades criadas (SENAI, apud Franco, 2001).
Além das inovações anteriormente citadas, as empresas de construção civil
desenvolvem iniciativas na área da qualidade, concentrando suas atividades mais na
área de Qualidade Total e produção. Enquanto que, os programas voltados à
implantação da ISO 9000 e às intervenções ergonômicas ainda são bastante
restritos neste setor. As principais motivações para a modernização repousam no
tripé custo, qualidade e produtividade, como era de se prever. Mas as empresas que
utilizam algum tipo de inovação tecnológica acabam constatando uma melhoria
também das condições de trabalho.

2.6 O SUB-SETOR DE EDIFICAÇÕES

No do setor de construção civil, o sub-setor de edificações é um dos mais


importantes e competitivos, e suas características próprias tornam-no extremamente
dependente do contexto macroeconômico, das políticas governamentais e das
relações entre os vários níveis de stakeholders. O produto é complexo e envolvem
uma série de interesses por parte dos fornecedores, clientes, governos e
investidores. O ambiente externo no sub-setor de edificações é altamente nocivo, ou
seja, exerce fortes barreiras para a atividade empresarial, e exigem das empresas
um alto nível de adaptabilidade, flexibilidade e mudança (Calaça, 2002).
As peculiaridades dos produtos desse sub-setor fazem com que as
dificuldades de produção e comercialização sejam maiores do que em outros setores
industriais. O produto edifício não é comum, pois cada obra necessita de projetos e
especificações próprias; o produto está imóvel no espaço, ao passo que a produção
se desloca até o local, é longa e complexa, envolvendo uma grande variedade de
insumos, devendo cada um deles ser aplicado em seu tempo, exigindo uma série de
tarefas encadeadas. O custo de produção é alto, com uma grande imobilização de
capital, e os créditos, normalmente, ocorrem em longo prazo.
As principais características desse sub-setor são a alta intensidade de mão-
de-obra e a demanda dependente da capacidade de renda e crédito da população.
O ponto forte é a sua importância na economia nacional, e a procura pela melhoria
38

dos índices de produtividade tem sido a grande preocupação no desenvolvimento do


setor.
Diferentemente da construção pesada, o sub-setor de edificações possui um
número elevado de empresas atuantes, de todos os tamanhos. Essas empresas
apresentam diferenças quanto ao porte, capacidades técnicas e gerenciais,
apresentando um ciclo de vida curta e mobilidade para atuar em outras áreas.
Convivem neste sub-setor empresas de grande porte com estruturas administrativas
complexas e micro e pequenas empresas sem qualquer organização empresarial.
Além disso, a incorporação de novas tecnologias construtivas e
gerenciais ocorre de forma lenta, se comparadas a outras atividades industriais.
Empresas grandes e pequenas disputam um cliente exigente. A disputa no
setor ainda é mais intensa em virtude da falta de diferenciação de produtos e da
tecnologia construtiva ser amplamente difundida, não oferecendo barreiras de
entradas para novas empresas.
O sub-setor é altamente influenciado pelas variações na economia. Com o
crescimento econômico, a demanda tende a aumentar, fazendo com que as
empresas procurem colocar no mercado imobiliário lançamentos para atender a
essa demanda que surge com o aquecimento da economia. Contudo, o ciclo de
construção é bastante longo, e, em caso de crise econômica, poderá gerar perdas
para as construtoras que não conseguirem comercializar seus produtos no pico da
demanda.
A demanda por habitações também é bastante influenciada pela política
habitacional do governo federal. O sub-setor ainda é muito dependente da oferta de
crédito pelo sistema de financiamento habitacional, promovido, sobretudo, pelo
governo federal. A disponibilidade de financiamentos faz com que a demanda cresça
e por conseqüência, também, a oferta de produtos. Por outro lado quando o governo
não disponibiliza meios de financiamento, o sub-setor sofre um desaquecimento em
suas atividades.
As principais características da indústria de construção civil – sub-setor
edificações - são comuns a todas as empresas do setor, como por exemplo:

¾ A alta demanda reprimida, mas efetiva baixa, sobretudo pela falta de


mecanismos de financiamento eficientes;
39

¾ A falta de investimentos públicos em infra-estrutura;

¾ O acesso universal à tecnologia;

¾ Os altos índices de desperdício de insumos;

¾ O Baixo índice de produtividade da mão-de-obra;

¾ A alta competitividade entre as empresas do setor.

O ambiente geral é comum a todas as empresas do setor e a estratégia de


cada uma poderá fazer com que algumas fiquem mais protegidas das
conseqüências das mudanças ambientais. Quanto ao ambiente de tarefa
(produção), percebe-se pouca variação entre as empresas, sobretudo pelo caráter
cíclico de suas atividades, pela baixa qualificação da mão-de-obra e pela tecnologia
de construção empregada, que é amplamente difundida.
As empresas, portanto, precisam estar atentas às mudanças ambientais, pois
o ambiente é bastante vulnerável à forte influência governamental e de outros
agentes. Para garantir sua sobrevivência, as organizações necessitam de estruturas
flexíveis, de fácil adaptação e a adoção de estratégias que visem ao alcance de
posições sustentáveis e menos suscetíveis às variações ambientais.

2.7 O GERENCIAMENTO DO CANTEIRO DE OBRAS

Diferentemente das outras indústrias de transformação, a produtividade na


construção é muito mais sensível e dependente do braço operário e de seu saber
difundido na estrutura dos ofícios. Em particular, as comunicações no processo
produtivo são na maioria das vezes do tipo homem-homem, onde a gestão humana
no trabalho é mais determinante do que a gestão técnica do trabalho. Isto quer dizer
que o ritmo e a qualidade do trabalho dependem quase que exclusivamente do
trabalhador.
Como resultado dessa gestão humana, a estrutura hierárquica do ofício
tornou-se, assim, o instrumento mais eficiente de controle da produção. Na
construção habitacional, a base técnica e organizacional é, geralmente, rudimentar,
40

o trabalho precariamente organizado e o controle e o nível de produtividade baixo.


As operações, os métodos e os produtos não são padronizados, levando um esforço
renovado para cada obra, o que confere à habitação o status de artesanato de luxo
(Vargas apud Franco, 2001).
Um dos fatores que dificulta este controle é o caráter manufatureiro do
processo construtivo, onde predomina a utilização de mão-de-obra e a pouca
decodificação em normas e procedimentos de serviços, com uma grande parte do
conhecimento necessário à execução das tarefas ainda sob o domínio exclusivo dos
operadores (Leuzin apud Franco, 2001).
Por outro lado, no setor da construção, as características sociais e culturais
são mais marcantes. A cultura organizacional, que pode ser definida como os
pressupostos básicos e crenças que são compartilhados pelos membros de uma
organização existente dentro dos canteiros é bastante forte e reflete os problemas e
as situações vivenciadas pelo grupo.
Para que essa cultura se mantenha viva é preciso que haja forças de coesão
dentro da organização (representada pela socialização), onde os membros da
organização não são somente selecionados e recrutados, mas são também
doutrinados, para que a aceitem. Isto ocorre em função de uma estrutura hierárquica
bastante rígida, onde o mestre-de-obras desempenha a função central da gestão da
força de trabalho.
Para Vargas apud Franco (2001), se é verdade que os operários da
construção desenvolvem saber prático do trabalho e de seu ofício, pode-se também
afirmar que os mestres desenvolvem o saber prático do poder técnico-social na
produção. Sua habilidade específica consiste em gerenciar interesses, relações e
conflitos gerados por uma produção onde a divisão do trabalho se apóia nos ofícios.
Isto é, ter capacidade de utilizar os mecanismos informais de poder, presente no
canteiro de obras, bem como gerir os limites entre o formal e o informal no processo
produtivo.
O mestre comanda a produção, determina a melhor forma de organizar o
trabalho, fiscaliza e impede demoras. Aos operários resta a execução da obra.
Formoso apud Franco (2001) observaram que o mestre-de-obras controla, sozinho,
a produção de serviços em 15,6% das firmas, e divide sua responsabilidade com
outros profissionais em 24,5%. Mas na prática, os gerentes de canteiros de obras
são bem mais ocupados, assumem o comando de diferentes tarefas realizadas nos
41

canteiros de obras, muitas delas simultâneas, por equipes distintas.


Freqüentemente, muitos problemas inesperados ocorrem, requerendo improvisação,
habilidade e perícia.
Observa-se que a produção na construção passa por uma seqüência de
etapas, cada uma sob a responsabilidade e comando diferente, cabendo unicamente
ao projeto, a função de dar um sentido a todos esses esforços. Normalmente, mais
de 20 (vinte) atividades ocorrem dentro do processo de construção, envolvendo
profissionais diferentes que se distribuem fazendo sua parte do trabalho, conforme
Tabela 2, abaixo:

Tabela 2: Quadro das principais tarefas do canteiro de obras.

Tarefa Função
Administração Mestre-de-obras
Almoxarifado Almoxarife
Alvenaria Pedreiro
Betoneira – preparo da argamassa Operador da betoneira
Forras e vista das aberturas Carpinteiro
Colocação de pisos em madeira Carpinteiro
Colocação de revestimento cerâmico Azulejista
Concretagem Equipe de concretagem
Transporte Mecânico Operador de empilhadeira
Corte e dobra de ferro Armador
Guincho, grua (montagem e operação) Operador de guincho
Instalações elétricas Eletricista
Instalações hidro-sanitárias Encanador
Movimento de terra Motorista de máquinas
Pilares e vigas (colocação das formas) Carpinteiro
Pintura Pintor
Corte de madeira Operador de serra
Revestimento (chapisco/massa) Pedreiro
Confecção de telhado Carpinteiro
Transporte/abastecimento de materiais Servente

Fonte: Adaptado de Franco,(2001)

Um dos princípios fundamentais para melhorar a qualidade da construção é o


planejamento dos projetos. Os projetos de construção civil necessitam de vários
planejamentos feitos por pessoas diferentes, em setores distintos da organização e
em momentos também diferentes. A direção da organização enfoca os objetivos
globais do projeto, que norteiam os processos de planejamento dos demais níveis
da empresa. Estes, por sua vez, procuram trabalhar no detalhamento dos meios
42

para alcançar os objetivos estabelecidos. O gerenciamento de projetos é uma das


áreas mais abandonadas na construção civil. O planejamento e o controle na
construção é considerado como uma área onde impera o caos e a improvisação. As
pesquisas destacam que as causas mais significativas para esses problemas de
gerenciamento são:

¾ Deficiência nas especificações e nas comunicações dos detalhes do


projeto;

¾ Conhecimento técnico insuficiente dos projetistas; e

¾ Falta de confiança no planejamento prévio para os trabalhos com base


nos projetos.

2.8 GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

Segundo Hall (2001), a atividade de gerenciar SST é muito importante para


uma organização, agregando valor, fazendo parte de sua política e estratégias
corporativa.
A Política de SST tem por objetivo divulgar um tipo de compromisso pelas
empresas. Nos objetivos a empresa terá que definir metas específicas. Na
elaboração do plano deverá ser considerado todo o objetivo já traçado.
Pacheco (2000), define política como uma representação formal das
empresas apresentarem as linhas gerais de conduta e comprometimento quanto aos
objetivos e metas organizacionais.
Segundo Cruz (1998), o comprometimento da gerência é um pré-requisito
para se atingir uma gestão satisfatória de SST, pois os gerentes são os
responsáveis pelo estabelecimento dos objetivos, estratégias, pelos recursos e
alocação dos mesmos e pelo desenvolvimento e implementação da gestão. Portanto
para Hall (2001) os gerentes devem estar inteiramente comprometidos com as
questões de SST assim como está em oferecer menores custos e maior qualidade
para seus clientes.
Ainda segundo Hall (2001), a gestão em SST contribui para a melhoria da
qualidade, mesmo assim dirigida preferencialmente para sua clientela interna, o
43

trabalhador, levando a um fator importante no diferencial para uma vantagem


competitiva.
Cabe a alta administração a responsabilidade pela concepção, implantação e
manutenção de um sistema de gestão em SST. Porém a participação dos
trabalhadores é de fundamental importância para o sucesso da gestão.
Segundo a OIT (2001):

O empregador deveria assegurar que os trabalhadores e seus


representantes em matéria de SST, sejam consultados, informados e
capacitados em todos os aspectos de SST relacionados com seu trabalho,
incluídas as disposições relativas.

2.9 SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DA CONSTRUÇÃO NO BRASIL

Segundo Felix (2004) a indústria da construção destaca-se por apresentar


uma grande diversidade de riscos, e de acordo com estatísticas oficiais um elevado
índice de acidentes de trabalho graves e fatais.
O número de infortúnios registrados é alarmante, representando perdas
consideráveis do ponto de vista econômico e social, tanto para a empresa quanto
para os trabalhadores, como também para o país.

Tabela 3: Quantidade de Acidentes de Trabalho no setor da Construção, 1997 a


2000.

Ano Total Construção Participação


Civil (%)
1997 384.965 32.180 11,95
1998 383.852 31.959 12,01
1999 358.333 26.176 13,61
2000 141.461 27.273 12,52
(estimado)

Fonte: MTE, 2000.

Tabela 4: Quantidade de Doenças do Trabalho no setor da Construção, 1997 a


1999.
44

Anos Total Típico Trajeto Doenças do


Trabalho
1997 32.180 28.827 2.184 1.169
1998 31.959 29.060 1.963 936
1999 26.176 23.495 1.890 791

Fonte: MTE, 2000.

O número de óbitos no setor da construção no ano de 1998 e 1999 foi de 448


e 390, respectivamente, tendo como média em 1998 um valor de 39,40%, em 1999
um valor de 38,29%, e como média nacional 19,73%.
Isto, sem considerar aqueles acidentes cuja comunicação é negligenciada,
como, por exemplo, acidentes de pequeno porte, onde o trabalhador é atendido no
ambulatório da própria empresa.
Outro tipo de acidente não registrado é o que ocorre com o trabalhador sem
registro, pois existe grande número deles nas sub-empreiteiras, visto que, muitos
serviços além de penosos, perigosos e insalubres, são de curta duração,
acarretando altos encargos na admissão e demissão destes trabalhadores.
Segundo os dados da fiscalização do setor da construção em relação aos
demais setores temos a constatar.

Tabela 5: Distribuição de freqüência e do coeficiente dos acidentes de trabalho


fatais no Brasil, segundo as classes de atividades econômicas, em 1999. 1

Coeficiente
Classes de Atividades Econômicas Freqüência 1/100. 000
Indústria da transformação 739 15,32
Transporte, armazenagem e comunicação 580 560
Comércio, reparo de veículos automotivos, objetos 502 15,10
pessoais e domésticos
Construção 437 44,50
Atividade Imobiliária, aluguel e serviços prestados 245 13,15
às empresas
Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração 97 21,89
florestal

1
Coeficiente calculado sobre o número de trabalhadores na classe trabalhadora.
45

Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 92 11,03


Produção e distribuição de eletricidade, gás e água 71 26,73
Indústria Extrativa 62 57,20
Administrações públicas, defesas e seguridade 59 1,10
social
Alojamento e alimentação 50 8,06
Intermediação financeira 31 4,49
Saúde e serviços sociais 16 1,81
Educação 12 1,35
Pesca 1 12,07
Organismos internacionais 1 0,64
Serviços domésticos 0 0
CNAE não Informado 406 -
Total 3381 -

Fonte: ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO / 00 (2001)

Dados divulgados pelo MTE em 2000 (MTE, 2003) indicam que a construção
no Brasil ocupa a segunda posição quanto ao número total de acidentes, totalizando
25.429 ocorrências e registra o maior índice de óbitos em acidentes de trabalho
(13% do total de óbitos decorrentes de acidentes) no país.
Em outros países, em sua maioria, também este setor apresenta taxas
maiores de acidentes fatais. Nos Estados Unidos, segundo o National Safety Council
(NSC, 2003), o setor da construção emprega 5% da mão de obra no país e
apresenta uma taxa de 11% do total de acidentes incapacitantes e 18% do total de
acidentes fatais.
Na Europa, segundo o European Statistical System (EUROSTAT, 2003), o
setor é responsável por um terço dos acidentes fatais e no Japão, segundo a Japan
Industrial Safety and Health Association (JISHA, 2002), o índice é de 25,7% do total
de mortes em acidentes de trabalho.
Isto, sem considerar aqueles acidentes cuja comunicação é negligenciada,
caso comum no Brasil como, por exemplo, acidentes de pequeno porte, onde o
trabalhador é atendido no ambulatório da própria empresa.
46

Outro tipo de acidente não registrado é o que ocorre com o trabalhador sem
registro, pois existe grande número deles nas sub-empreiteiras, visto que, muitos
serviços além de penosos, perigosos e insalubres, são de curta duração,
acarretando altos encargos na admissão e demissão destes trabalhadores.
Segundo Espinoza (2002) todos esses acidentes poderiam ser evitados se as
empresas tivessem o compromisso de desenvolverem e implementando programas
de segurança e saúde no trabalho, dando maior enfoque no controle do meio
ambiente de trabalho e treinamento e a educação de seus trabalhadores em todos
os níveis.

2.10 NORMA REGULAMENTADORA 18

Diante de um cenário não muito desejável, o setor da construção vem


propondo sistemas de gestão em SST ao longo desses últimos anos, vindo alcançar
sua maior intenção nas discussões tripartites realizadas quando da revisão das
normas regulamentadoras. A partir daí então surgiram dentro da legislação de SST
no Brasil os programas que fazem parte das normas, como o Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional (PCMSO) e o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na
Indústria da Construção (PCMAT).
A legislação de SST no Brasil teve um salto qualitativo, segundo Espinoza
(2002) no ano de 1978 com a elaboração e a publicação das Normas
Regulamentadoras, tendo como específica para o setor da construção a NR 18.
A primeira alteração na NR 18, segundo Espinoza (2002) ocorreu em 1983
ampliando mais seus conceitos, porém a alteração da Norma Regumanetadora nº
18, deu-se início em meados de 1994, através de 10 (dez) grupos de trabalho
formado por técnicos do governo – Delegacia Regional do Trabalho e
FUNDACENTRO.
A partir de um modelo técnico, várias reuniões foram realizadas com o
objetivo de consolidar todas as propostas de alteração encaminhadas pela
sociedade, representada por entidades de classe, empresas e profissionais.
Em atendimento a recomendação da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), estas propostas foram rediscutidas em caráter tripartite, onde trabalhadores,
empregadores e governo apresentaram o texto final para publicação, sendo então
47

publicada em julho de 1995. Pela 1ª vez no Brasil, uma norma é toda negociada com
a participação de 03 das 03 bancadas, trabalhadores, empregadores e governo, com
o objetivo comum pela melhoria das condições e meio ambiente de trabalho nos
canteiros de obras, contribuindo assim para melhorar a qualidade de vida de seus
trabalhadores.
Segundo Espinoza (2002), o PCMAT, tratado na atual norma, pode gerar uma
grande contribuição para a padronização das instalações de segurança e um
excelente ponto de partida para a elaboração e implementação de programas de
SST para o setor da construção.

2.10.1 PRINCIPAIS AVANÇOS DA NORMA REGULAMENTADORA 18

Como avanços conquistados na revisão da Norma Regulamentadora 18,


destacamos como principais:

a) Abrangência de Conceitos:

Com a reformulação da nova NR-18, a mesma deixa de se chamar “Obras de


Demolição, Construção e Reparos” e passa a ser denominada “Condições de Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção”, tendo uma abordagem mais
ampla, incluindo os setores da construção pesada, instalações industriais e demais
setores industriais de apoio à indústria da construção. O conceito “meio ambiente” é
introduzido acompanhando os novos paradigmas das ISO série 9000 e ISO 14.000.

b) Setores Delimitados:

Outro ponto considerado avanço é a delimitação dos dois principais setores


nos canteiros de obras, que se confundiam um pouco, a área da produção, onde são
desenvolvidas tarefas e atividades e a área de vivência, esta última destinada ao
conforto, higiene e saúde dos trabalhadores.

c) Recomendações Técnicas de Procedimentos:


48

Acompanhando modelos europeus, a norma regulamentadora nº 18,


recomenda, em separado, através de publicações de livretos técnicos
complementares, procedimentos técnicos de segurança para manuseio de máquinas
e equipamentos, bem como, procedimentos seguros para execução de tarefas
perigosas e complexas, como trabalho em altura, instalações elétricas e outros,
orientando e conduzindo os trabalhadores às condições mais seguras.

d) Programa sobre Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria


da Construção – PCMAT:

O programa sobre condições e meio ambiente de trabalho na indústria da


construção – PCMAT, concebido nesta norma para prevenir acidentes e doenças
ocupacionais, é um programa que contém ações preventivas de segurança e saúde
do trabalho com o objetivo de antecipação de riscos inerentes a cada atividade a ser
desenvolvida nos canteiros, determinando medidas de proteção e definindo
responsabilidades a todo o pessoal que administra e participa do empreendimento.
A Norma exige a elaboração de um PCMAT para canteiros com 20 ou mais
trabalhadores, contemplando os aspectos desta NR 18 e outros dispositivos
complementares de segurança (18.3.1) e onde deverão ser considerados como
trabalhadores todos os empregados de todos os empregadores que estiverem em
atividade no canteiro mesmo em períodos diversos.
Os demais itens sobre o PCMAT, segunda a norma são:
O PCMAT deve contemplar as exigências contidas na NR 9 – Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (18.2.1.1);
O PCMAT dever ser mantido no estabelecimento à disposição do órgão
regional do Ministério do Trabalho e Emprego (18.3.1.2);
O PCMAT deve ser elaborado e executado por profissional legalmente
habilitado na área de Segurança do Trabalho (18.3.2);
A implementação do PCMAT nos estabelecimentos é de responsabilidade do
empregador ou condomínio (18.3.3);
Os documentos que integram o PCMAT são: (18.3.4):
a) memorial sobre condições e meio ambiente de trabalho nas
atividades e operações, levando-se em consideração os riscos de
49

acidentes e de doenças do trabalho e suas respectivas medidas


preventivas;
b) projeto de execução das proteções coletivas em conformidade com
as etapas da execução da obra;
c) especificação técnica das proteções coletivas e individuais a serem
utilizadas;
d) cronograma de implantação das medidas preventivas definidas no
PCMAT;
e) layout inicial do canteiro de obra, contemplando, inclusive, previsão
de dimensionamento das áreas de vivência;
f) programa educativo contemplando a temática de prevenção de
acidentes e doenças do trabalho, com carga horária.

O PCMAT tem que ser entendido como um programa de SST para o canteiro
de obras, contendo projetos de segurança e saúde para a prevenção de acidentes e
doenças em seus trabalhadores. Portanto, o PCMAT é único no canteiro e deverá
ser elaborado pela empresa principal.
Segundo Lima (2001), a implementação deste programa permitiria um efetivo
gerenciamento do ambiente de trabalho, do processo produtivo e de orientação aos
trabalhadores. Neste programa consta o planejamento dos canteiros, bem como
capacitação e treinamento dos trabalhadores. Com o desdobramento podem surgir
vários projetos que devem estar vinculados entre si e a uma proposta de ação, a
qual, segundo Lima (2001), deverá efetivamente melhorar as condições de trabalho,
de tal forma que os projetos possam ser avaliados quantitativa e qualitativamente,
sejam limitados a um tempo e sempre poderem representar expansão,
modernização e melhoria continuada.Neste programa é recomendada à integração
com os demais programas que constam das outras Normas Regulamentadoras,
PPRA – Programa de Prevenção aos Riscos Ambientais – NR – 09 e PCMSO –
Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional – NR –7.

d) Comitês Tripartites:
50

Criou-se também através desta norma os Comitês Permanentes, CPN –


Comitê Permanente Nacional e CPRs – Comitês Permanentes Regionais, de caráter
tripartite também, para garantir que esta norma esteja continuamente em alteração e
atualização em função de avanços tecnológicos e mudanças de paradigmas.

e) Soluções Alternativas:

Este item da norma permite que idéias novas em substituição de tecnologias


ultrapassadas possam ser analisadas por especialistas e depois de aprovadas
possam ser aplicadas nos canteiros de obras, contribuindo para a racionalização de
custos.
Todos esses avanços não foram suficientes para melhorar em grande escala
as condições de trabalho e segurança dos trabalhadores nos canteiros de obras até
o momento.

2.11 A COMUNIDADE EUROPÉIA E A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

O setor da indústria da construção tem uma produção total de 900 bilhões de


euros (2002), emprega uma força de trabalho de cerca de 11 milhões de
trabalhadores. Quanto aos índices de acidente de trabalho, este setor representa um
total de 18% (850.000) acidentes de trabalho e 24% de acidentes fatais. Com a
publicação desta diretiva, que na atualidade é conhecida como a Diretiva Canteiros
(DC), a segurança e saúde na indústria da construção nos países da União Européia
vem sendo tratado como uma questão conhecida por todos os intervenientes e
levada em grande consideração.

2.11.1 A DIRETIVA CANTEIROS SOBRE SST

A nível mundial, a atividade da indústria da construção também é uma


atividade de grande importância, e está caracterizada por um grande número de
pequenas e médias empresas, com grande número de sub-contratadas.
Em 1992 foi publicada a Diretiva Canteiros (92/57/CEE) e com ela foi
introduzida um conceito novo de coordenação de segurança e saúde baseado em
uma nova cadeia de responsabilidade, novos documentos de segurança e saúde e
51

os novos intervenientes em matéria de segurança e saúde. Segundo Dias (2003),


esta nova abordagem abrange as fases de concepção, execução física dos
trabalhos e a manutenção, juntando assim todos os intervenientes de construção.
Tradicionalmente as responsabilidades pela implementação das medidas de
segurança e saúde para a prevenção de acidentes estavam apenas configuradas
para os empreiteiros com base na legislação ou designados em contratos entre os
donos de obras e empreiteiros. Com a publicação desta Diretiva passou-se então a
ampliação desta responsabilidade agora estendida aos demais intervenientes do
processo como, projetistas, gestores, supervisores e trabalhadores.

2.11.2 INTERVENIENTES DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO

Consideraremos aqui os principais intervenientes, os proprietários dos


empreendimentos (dono da obra), os supervisores (gestor do empreendimento ou
gestor da construção), os autores de projetos, os empreiteiros, sub-empreiteiros e
trabalhadores e cada um destes terá responsabilidades de acordo com suas
funções, experiências e conhecimentos.
Segundo Dias (2003) esta Diretiva é a principal linha de força para a maioria
dos países da União Européia na melhoria das condições de trabalho nos canteiros
de obras.Esta Diretiva, que é um sistema de gestão da segurança e saúde no
trabalho da construção, certamente contribuirá para uma redução significativa nos
acidentes ocorridos no setor da construção.

2.11.3 ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS EM SST

A) Dono da Obra e a SST:

É normal o dono da obra não possuir conhecimentos de construção, por isso


são destinadas a ele obrigações simples e não técnicas relativas a SST. Cabe a
ele:

a) Designar um ou mais coordenadores de segurança e saúde, tanto para a fase


de projeto como para a fase de execução;
52

b) Apresentar a comunicação prévia às autoridades competentes de SST;

c) Garantir a elaboração e a implementação de um plano de segurança e saúde


antes da abertura e instalação do canteiro.

B) Coordenadores de Segurança e Saúde e a SST:

Os coordenadores de segurança e saúde são designados pelo dono da obra


para então coordenar o empreendimento ou obra em todas as questões relativas a
segurança e a saúde, que podem ser pessoas singulares ou coletivas.
O coordenador de segurança e saúde na fase de projeto tem que assegurar
a identificação e a avaliação de riscos em potencial que podem ser evitados durante
as fases iniciais de elaboração dos projetos através de adoção de medidas
alternativas como base de prevenção.
Esta coordenação deverá ser responsável por:

a) Assessorar o dono da obra em todos os assuntos relacionados com a


segurança e saúde para a fase de projeto, incluindo a elaboração da
política de SST para o empreendimento;

b) Preparação da implementação dos PGP que os autores dos projetos


devem aplicar durante o processo de elaboração dos projetos;

c) Elaboração do PIP que deverá incluir toda a informação relevante, bem


como as medidas preventivas durante qualquer trabalho pós-obra;

d) Preparação, sempre que aplicável, das exigências sobre SST, a incluir no


processo de concurso e participação na avaliação e seleção de outros
intervenientes no processo de construção e na elaboração dos contratos;

e) Transmissão ao coordenador de segurança e saúde para a fase de


construção de toda a informação importante sobre SST, ou seja, PSS e o
PIP, sempre que a pessoa responsável pela coordenação de segurança e
saúde seja diferente.
53

O coordenador de segurança e saúde na fase construção também terá que


assegurar a identificação e a avaliação dos riscos em potencial na fase de execução
da obra. Esta coordenação deverá ser responsável por:

a) Coordenar a aplicação dos princípios gerais de prevenção e de segurança


nas opções técnicas e gerenciais para planificar os diferentes trabalhos ou
fases de trabalho que irão se desenvolver simultaneamente ou
sucessivamente e prazos para a execução destes trabalhos;

b) Coordenar a aplicação das disposições pertinentes, a fim de garantir que as


entidades patronais apliquem de forma coerente os princípios indicados na
Diretiva;

c) Proceder, ou encomendar as eventuais modificações no plano de segurança


e de saúde e no plano de intervenções pós-obra, em função da evolução dos
trabalhos e das modificações eventualmente efetuadas;

d) Organizar ao nível de entidades patronais, incluindo as que se sucedem no


canteiro, a cooperação e coordenação das atividades visando à proteção dos
trabalhadores a prevenção de acidentes e riscos profissionais;

e) Coordenar a fiscalização da correta aplicação dos métodos de trabalho;

f) Tomar medidas necessárias para que o acesso ao canteiro seja reservado a


pessoas autorizadas.

C) Autor do Projeto e a SST:

Os autores de projetos deverão dar conta dos princípios gerais de prevenção


(PGP) conforme Diretiva, Quadro da SST, quando aspectos arquitetônicos, técnicos
e/ou organizacionais são decididos e o prazo para a execução do empreendimento
ou obra ou para as suas fases.
54

D) Empreiteiros e a SST:

Os empreiteiros deverão cumprir com as regras designadas na legislação e


no contrato com o dono da obra. Todas as cadeias de sub-contratação devem seguir
também estas mesmas regras.

E) Trabalhadores e a SST:

É claro que os trabalhadores também têm deveres em relação a SST,


principalmente quanto ao cumprimento das disposições da legislação e do plano de
segurança e saúde que lhe forem determinados.

2.11.4 PRINCÍPIOS GERAIS DE SEGURANÇA

Segundo Dias (2003), a Diretiva Canteiros baseia-se em Princípios Gerais de


Prevenção (PGP), apresentados no Quadro 1 a seguir, que são usados por todos os
autores de projetos e empreiteiros e os coordenadores de segurança garantem sua
aplicabilidade durante as fases de projeto e de construção.

Quadro 1: Os princípios gerais de segurança que se baseia a Diretiva são:

1. Evitar os Riscos

A atividade da construção é perigosa, porém muitos dos riscos podem e

devem ser evitados, como aplicação de uma proteção coletiva, substituição de

produtos e equipamentos mais seguros, etc.

2. Avaliar os Riscos que não possam ser Evitados

Prepara planos de monitoramento dos riscos que não puderam ser evitados e

aplicar sistemas de proteção coletivas e individuais.

3. Combater os Riscos na Origem

Considerar formas de confinar e neutralizar os riscos na fonte, como redução

de ruído e etc.
55

4. Adaptar o Trabalho ao Homem, especialmente no que se refere à

concepção dos postos de trabalho, bem como a escolha dos

equipamentos de trabalho e dos métodos de trabalho e de produção,

levando em consideração, atenuar o trabalho monótono e reduzir os

efeitos destes sobre a saúde.

5. Ter em conta o estado de evolução da Técnica

Utilizar equipamentos certificados em acordo com a legislação.

6. Substituir o que é perigoso pelo que é isento de perigo ou menos

perigoso.

7. Planificar a prevenção com um sistema que integre a técnica, a

organização do trabalho, as condições de trabalho, as relações

sociais e a influência dos fatores ambientais no trabalho.

Considerar uma política de segurança e saúde elaborada por cada empreiteiro

no canteiro, assegurar a cooperação entre empregadores e trabalhadores,

considerar a interação entre a comunidade próxima ao canteiro com as

atividades industriais.

8. Dar Prioridade as Medidas de Proteção Coletiva em Relação às

Medidas de Proteção Individual.

9. Dar Instruções Adequadas aos Trabalhadores

Considerar vários aspectos, comunicação visual, DDSs etc.

Fonte: Dias, 2003.

2.11.5 DOCUMENTOS INTEGRANTES DA DIRETIVA

Os seguintes documentos foram introduzidos na Diretiva Canteiro, como:


56

¾ Comunicação Prévia (CP);

¾ Plano de Segurança e Saúde (PSS);

¾ Plano de Intervenções Posteriores (PIP).

A Comunicação prévia tende a informar as autoridades competentes em SST


que um canteiro vai começar. Este documento é obrigatório sempre que o
empreendimento ultrapassar a 30 dias de trabalho e nele sejam envolvidos mais que
20 trabalhadores.
O Plano de Segurança, principal documento de prevenção de riscos
profissionais para a fase de execução da obra, tem por objetivo identificar, avaliar e
propor medidas preventivas.
E o Plano de Intervenções Posteriores é um importante documento para a
prevenção de riscos pós-obra.

2.12 JAPÃO E A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

O investimento na indústria da construção no Japão hoje é da ordem de 70


trilhões de yenes, ou seja, 636 bilhões de dólares, 15% do PIB. Esta indústria
emprega cerca de 6,5 milhões de trabalhadores, ou 10% do total da massa
trabalhadora do país.
Na década de 60, em pleno desenvolvimento econômico, o Japão apresentou
o mais alto índice de acidentes do trabalho, conseqüentemente a indústria da
construção registrou sua mais alta taxa. De 500.000 acidentes de trabalho
registrados no Japão, 134552, ou seja, 28% deveu-se à indústria da construção e
das 7000 mortes, esta mesma indústria foi responsável por 2652 acidentes fatais,
40% do total registrado.
Em 1999, o Ministro do Trabalho criou uma Norma Nacional de Sistemas de
Gestão em Segurança e Saúde do Trabalho ( Guideline on Occupational Health and
Safety Manegement Systems) para atenuar as estatísticas assustadoras.
A partir desta Norma então a JCSHA, Japan Construction Safety and Health
Association, elabora e introduz na indústria da construção sua norma específica para
o setor industrial da construção.
57

Com a adoção desta norma, o Japão começa a reduzir os índices de


acidentes do trabalho, principalmente os acidentes fatais que em 2002 registram na
indústria da construção, o valor de 607 mortes, 23% do total.
As principais razões para a diminuição dos acidentes do trabalho no setor
foram à elaboração da Norma e a introdução do ciclo voluntariado, ou seja, a norma
é de caráter voluntário e não obrigatório, porém quem não aderir à mesma não terá
financiamento facilitado.

2.12.1 CARACTERÍSTICA DO SETOR DA CONSTRUÇÃO NO JAPÃO

As características do setor da construção no Japão não diferem de outros


países, apresentam a mesma configuração:

a) Tempo limitado do empreendimento;

b) Condições variáveis dia a dia;

c) Sistemas de sub-contratação;

d) Cooperação entre o principal contratante e as sub-contratadas;

e) Projeto integrando escritório e canteiro de obras.

2.12.2 DIFICULDADES ENCONTRADAS NO SETOR QUANTO A SEGURANÇA


E SAÚDE NO TRABALHO

Os problemas em SST também não diferem dos demais, o que se encontra


são:

a) Risco potencial crescente;

b) Aproximação do limite de atividade de prevenção convencional;

c) Dificuldade de encontrar técnico com experiência no setor.


58

2.12.3 ESTRATÉGIAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA NORMA DE SISTEMA DE


GESTÃO EM SST PARA O SETOR DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO JAPONÊS

A estratégia a princípio foi introduzida para atender um universo de 530.000


empresas, onde 99% são de pequeno e médio porte e que nas grandes empresas a
preocupação com a segurança e saúde no trabalho é bem maior que nas de
pequeno e médio porte.
Baseado nesta dificuldade, a Norma teve como principal cliente às pequenas
e médias empresas, adotando-se a seguinte estratégia de introdução:

a) Desenvolvimento de um manual de Segurança e Saúde para a indústria da


construção;

b) Promover a expansão do manual;

c) Implementação de cursos de treinamento para pessoas responsáveis pela


estrutura do sistema;

d) Preparação de livros de ensino para entendimento da Norma;

e) Avaliação e registro.

Para a implementação dessas ações a JCSHA atuou de abril a dezembro de


2000 na realização de 48 seminários, com qualificação de 5.200 pessoas e 4.117
empresas. O curso de treinamento prático teve seu inicio também em dezembro de
2000, no Centro de Treinamento da JCSHA, com conteúdo programático principal
para a prática do sistema de gestão em SST estruturada na Norma, com duração de
03 dias.
O manual de SST foi desenvolvido para uma leitura mais fácil da Norma, com
conteúdo técnico de identificação de riscos e perigos e incluindo um manual de
auditoria (avaliação).
Esta avaliação é feita através do sistema para a melhoria contínua – PDCA
(plan, do, check e act).
59

2.12.4 A NORMA DE SISTEMA DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE


OCUPACIONAL JAPONÊS PARA A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO:

O Japão, tal como o Brasil, ainda não referendou a Convenção 167 da OIT, e
utiliza uma legislação baseada em Norma Nacional, porém voluntária quanto à
adesão.
Esta Norma tem por finalidade dar diretrizes de um sistema de gestão em
segurança e saúde no trabalho para a indústria da construção, reconhecendo suas
características especiais. Baseada na Norma Nacional de Sistemas de Gestão de
SST, equivale ao ILO-OSH 2001 de junho de 2001, e por objetivo elevar o nível de
segurança e saúde nos canteiros de obras, encorajando os empregadores a adotá-la
em conjunto com seus trabalhadores com o escritório empresarial e os canteiros de
obras como uma organização integrada, obedecendo aos quatro passos do “Plan –
Do – Check – Act” (PDCA).Através deste ininterrupto e contínuo trabalho voluntário
de segurança e saúde, eles poderão reduzir os riscos em potencial,
conseqüentemente os índices de acidentes de trabalho e construir um ambiente
confortável e seguro nos canteiros de obras.
A Norma poderá ser conduzida sem dificuldades com os demais sistemas de
gestão já implantados, como os de qualidade e meio ambiente.Ela tem por
exigências legais os seguintes quesitos:

a) Política de SST;

b) Adoção de objetivos em SST;

c) Formulação, implementação e operação de um plano em SST;

d) Inspeção de rotina e não programável para implementação do Plano de SST.

e) Situação de emergência;

f) Sistema de auditoria;
60

g) Avaliação do Sistema de Gestão.

A Política de SST tem por objetivo divulgar um tipo de compromisso pelas


empresas. Nos objetivos a empresa terá que definir metas específicas. Na
elaboração do plano deverá ser considerado todo o objetivo já traçado.
Na situação de emergência deverá ser previsto arranjos contra o potencial de
acidentes e as diversas situações de emergência que poderão ocorrer.
No sistema de auditoria as empresas terão sistemas próprios.
A Norma é estendida e aplicada para todo contratante indiferentemente do
tamanho de sua empresa.

2.12.5 QUESITOS GERAIS PARA UM ESCRITÓRIO EMPRESARIAL

Os quesitos gerais nos quais a norma estabelece para os escritórios são:

a) Declaração de uma política de SST:

A principal recomendação é de os contratantes deverão anunciar sua política


de segurança e saúde no trabalho assegurando aos seus trabalhadores a
integridade física e mental e em conjunto com os mesmos.

b) Identificação dos riscos, perigos e medidas de controle:

Criação de procedimentos para a identificação de riscos e perigos existentes


nos locais de trabalho, bem como as respectivas medidas de controle.

c) Adoção de Objetivos de SST:

A norma recomenda que os contratantes deverão adotar objetivos de


segurança baseado na sua política de SST levando em conta os riscos e
perigos identificados especificamente.

d) Formulação de um Plano de SST:


61

Os contratantes formularão um plano de SST contendo medidas de controle


de riscos e perigos.

e) Resposta dos trabalhadores sobre as medidas de controle de riscos e


perigos:

Neste item um exemplo é a criação de um comitê se Segurança e saúde no


trabalho e deverão contar com a ajuda desses trabalhadores na
implementação e operação do plano.

f) Implementação e Operação do Plano de SST:

Implementação de um plano de SST contínuo e apropriado.

g) Estabelecimento de procedimentos gerais para os canteiros de obras:

Elaboração de procedimentos para os canteiros de obras objetivando que os


mesmos implementem o seu próprio sistema de gestão em SST.

h) Organização do Sistema de Gestão de SST:

Estabelecimento de um controle global nos sistemas de gestão em SST dos


escritórios e canteiros, designando as leis e os responsáveis, autoridades,
comitês de trabalhadores e etc.

i) Sistemas de Educação e Treinamento:

Estabelecimento de procedimentos para a educação e treinamento dos seus


empregados sobre o sistema de gestão em SST.

j) Sistema de Avaliação dos Sub-contratados no Sistema de Gestão em


SST:
62

Estabelecimento de um procedimento de avaliação dos sub-contratados, a


partir daí ele poderá selecionar seus colaboradores, se ele quiser, criando
uma carteira de clientes internos.

k) Documentação:

Os documentos deverão constar dos seguintes itens:

1. Política de SST;

2. Objetivos de SST;

3. Plano de SST;

4. Leis, responsabilidades e a autoridade responsável pelo


gerenciamento em SST;

5. Procedimentos estabelecidos para garantir a segurança e saúde dos


trabalhadores em seus estabelecimentos.

l) Situações de Emergência:

Estabelecer também procedimentos para as situações de emergência.

m) Inspeções:

Estabelecimento de procedimentos de inspeções rotineiras e não


programadas e estes deverão estar em seu plano de SST.

n) Investigação e análise dos acidentes do trabalho:

Estabelecimento de procedimentos para a investigação e análise de


acidentes ocorridos em seus estabelecimentos.
63

o) Sistemas de Auditorias:

Formulação de um plano de auditoria interna e avaliação do sistema de


gestão em SST implantado.

2.12.6 QUESITOS GERAIS PARA OS CANTEIROS DE OBRAS

Serão adotados os mesmos quesitos do escritório empresarial para os


canteiros de obras, apenas o gerente de SST do canteiro será submetido ao controle
do contratante.
64

3 METODOLOGIA

3.1 ESTRATÉGIA DA PESQUISA

Segundo Machado (2003) o capítulo introdutório de uma dissertação, em


geral, apresenta o problema de pesquisa investigado envolvendo, genericamente, a
realização do levantamento, organização e avaliação de informações destinadas à
proposição do modelo objeto do estudo.
Como delimitação do problema de pesquisa, a investigação foi direcionada
para os obstáculos que se interpõem aos fluxos normais dos processos produtivos
existentes nos canteiros de obras. Para resolver um problema dessa natureza torna-
se necessário desenvolver um método de pesquisa que identifique fenômenos reais,
presentes nos sistemas produtivos da construção (civil), e posteriormente converta
as situações observadas em informações estruturadas, na forma de ações
gerenciais a serem incluídas na proposta de uma estrutura de modelo.
É inerente ao problema de pesquisa levantado anteriormente, a construção de
uma abordagem baseada na interpretação de fatos ocorridos ou relatados no mundo
real dos canteiros de obras da construção. Nesse sentido, a estratégia de pesquisa
deve adotar uma abordagem fenomenológica baseada em estudos de caso. Essa
abordagem de pesquisa, segundo Santos apud Machado (2003), busca
compreender e explicar um fenômeno, ao invés de procurar por causas externas ou
leis fundamentais que o expliquem.
Yin (2001) complementa a definição de estudo de caso, sustentando que
constitui uma investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto
real, onde os limites entre o fenômeno e seu contexto não são claramente evidentes.
Para Yin (op. cit.), o estudo de caso é a estratégia escolhida quando acontecimentos
65

contemporâneos são investigados em um contexto em que não se podem manipular


comportamentos relevantes.
Nesse sentido, a estratégia de pesquisa adotada consistiu em observar
fenômenos reais ocorridos nos canteiros de obras com o intuito de interpretá-los
criticamente. Essas observações foram feitas sem a interferência do pesquisador no
fenômeno observado, de modo a evidenciar na dinâmica dos processos analisados
para subsidiar a análise das questões inicialmente estabelecidas neste trabalho.

3.2 TECNICAS DE COLETA DE EVIDÊNCIAS

Diversas técnicas de coletas de dados foram utilizadas ao longo da pesquisa.


Segundo Yin apud Machado (2003), a utilização de fontes múltiplas de coletas de
evidências (como ocorreu neste trabalho) constitui-se um dos princípios
fundamentais do desenvolvimento de estudos de casos bem sucedidos. Para Yin,
isto se deve à necessidade de viabilização do fundamento de pesquisa da
triangulação, que consiste na investigação em fontes distintas em busca de
evidências associadas a um mesmo fenômeno.
Yin (2001) sustenta que a triangulação é um princípio importante para reforçar
as conclusões de uma pesquisa científica porque provê várias fontes de evidências
fornecendo diversas avaliações do mesmo fenômeno. Tais avaliações podem
corroborar o mesmo fato ou fenômeno, permitindo a verificação de hipóteses do
trabalho.
Serão apresentadas a seguir algumas técnicas típicas da abordagem de
estudo de caso que foram utilizadas nesta pesquisa.

3.2.1 ANÁLISE DE DOCUMENTOS

Segundo Yin (2001) as informações documentais são relevantes a


provavelmente todos os tipos de estudos de caso. O uso mais importante de
documentos é corroborar e validar as evidências oriundas de outras fontes na
pesquisa (como aconteceu nesta pesquisa quando se recorreu à análise documental
para auxiliar a estruturação dos dados obtidos nas pesquisas de campo e consolidar
a sistematização das informações constantes nos instrumentos do PCMAT
avaliados). Além disso, também é possível fazer inferências a partir da análise
66

documental. Um dos pontos fortes desta análise consiste na possibilidade de


realização de inúmeras revisões sobre os documentos obtidos.
A análise de documentos foi utilizada em todos os estudos de casos
realizados ao longo do desenvolvimento da dissertação. Como será apresentado em
detalhes posteriormente, não houve um protocolo único de busca de documentos
em todos os estudos de casos realizados. Isto aconteceu em decorrência do caráter
exploratório dos estudos, além das diferenças organizacionais existentes entre as
empresas que serviram como objetos de pesquisa.

3.2.2 ANÁLISE DE REGISTROS EM ARQUIVOS

Segundo Machado (2003), os registros em arquivos podem ser encontrados


na forma de anotações sobre serviços realizados, tabelas e listas de itens
importantes, dados oriundos de levantamentos e notas pessoais. Em alguns
estudos, os registros podem ser tão importantes que acabam se transformando no
objeto de restauração e análise de fenômenos ocorridos. Em outros pode ser
apenas de importância superficial. Quando se julga como importantes os registros
internos armazenados em arquivos das organizações estudadas, o pesquisador
deve tomar o cuidado de verificar sob quais condições eles foram produzidos e qual
é o seu grau de precisão.

3.2.3 OBSERVAÇÕES DIRETAS

As observações podem variar de atividades formais a atividades informais de


coletas de dados. Mais formalmente, podem ser desenvolvidas rotinas de
observação como parte do protocolo do estudo de caso (Yin apud Machado, 2003).
As provas observacionais são, em geral, úteis para fornecer informações adicionais
sobre o tópico que está sendo estudado. As observações podem ser documentadas
através de fotografias, que ajudarão a transmitir as características importantes do
caso a observadores externos. Este tipo de observação constituiu um dos elementos
mais importantes de coleta de evidências para este trabalho. Isto ocorreu em função
das especificidades observadas nos canteiros de obras submetidos aos estudos de
caso.
67

3.2.4 A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

A observação participante é uma modalidade especial de observação, na qual


o pesquisador deixa de ser passivo (como no caso da observação direta) e assume
uma variedade de funções dentro do estudo de caso, podendo, inclusive, participar
dos eventos que estão sendo estudados.
Segundo Yin apud Machado (2003), existem vantagens e desvantagens
associadas à abordagem da observação participante. Dentre os aspectos positivos
destacam-se:

¾ A possibilidade de participar de eventos ou de grupos, que são, de outro


modo, inacessíveis à investigação científica;

¾ A possibilidade de perceber a realidade do ponto de vista de alguém de


dentro do estudo de caso;

¾ A capacidade de manipular eventos menos importantes, como, por exemplo,


marcar uma reunião de um grupo de pessoas no estudo de caso.

Como limitações associadas à observação participante podem-se identificar


(Machado, 2003):

¾ A redução da capacidade do pesquisador em trabalhar como observador


externo e ser obrigado a advogar funções contrárias aos interesses da boa
prática científica;

¾ A possibilidade de o pesquisador ser induzido a apoiar o grupo ou a


organização que está sendo estudada;

¾ O comprometimento da função de observador em decorrência da função de


participante exigir muita atenção.

A observação participante foi utilizada no estudo de caso de duas empresas


japonesas. A primeira experiência aconteceu com a participação da autora deste
68

trabalho em um grupo de pesquisadores envolvidos com uma pesquisa em Tóquio e


Kioto, no Japão, com o apoio da FUNDACENTRO.
A segunda experiência, ocorrida na etapa intermediária da pesquisa, foi
conduzida individualmente pela autora deste trabalho em 15 canteiros de obras de
empresas brasileiras localizada em Belo Horizonte, Recife, Florianópolis e Rio de
Janeiro, na Comissão Técnica do IV Congresso Sobre Condições e Meio Ambiente
de Trabalho na Indústria da Construção realizado em Goiânia em 2001 para
avaliação de experiências de sucesso no setor e como membro do Comitê
Permanente Regional do Rio de Janeiro (NR - 18) em visitas técnicas aos canteiros
de obras no município do Rio de Janeiro.
Das empresas visitadas no Brasil, 11 canteiros se localizavam no Município
do Rio de Janeiro. Dentre estes canteiros 4 deles eram de empresas de grande
porte, com média de 300 a 500 trabalhadores no pico máximo da obra, na
construção de prédios residenciais em diferentes fases, desde fundações,
instalações de dray wall, instalações definitivas (hidráulica e elétrica), fechamento de
periferia de laje e acabamento de fachada.Estas empresas apresentavam 5% de
trabalhadores contratados pela empresa principal e 95% de trabalhadores em
quadro de empresas terceirizadas.Apesar de um número grande de terceirizados,
estes canteiros tinham SESMT constituído e CIPA instalada e funcionando. Os
PCMATs apresentados eram de responsabilidade da empresa principal, porém a
confecção do programa era terceirizado na parte dos projetos de proteções
coletivas.
Nos canteiros restantes visitados, o porte das empresas era médio,
apresentando o número de trabalhadores em pico máximo da obra em média de 50
a 70 empregados. Os canteiros destinavam-se a prédios residenciais e comerciais.
Estes canteiros apresentavam PCMATs terceirizados por empresas especializadas,
com responsabilidade do técnico de segurança na execução e implementação dos
mesmos nas obras.
Quanto aos canteiros visitados em Florianópolis, recife e Belo Horizonte, as
empresas eram de médio porte com média de 120 trabalhadores no pico máximo da
obra.Com exceção do canteiro de Recife que os trabalhadores eram todos
contratados pela empresa construtora, ficando apenas a confecção de formas e
ferragens terceirizadas fora do canteiro. Nestes canteiros foram encontrados
PCMATs terceirizados e executados pelos técnicos das empresas principais.As
69

fases destes canteiros variavam de estrutura, instalações e acabamento e os


empreendimentos destinavam-se a prédios residenciais.
Durante estas visitas eram observadas a s conformidade e não conformidade
com a NR 18 e analisado os PCMATs através da constatação da implementação dos
mesmos, verificado no cronograma de execução e implementação das etapas
estabelecidas.
Nas visitas a Kioto as empresas foram de empreendimentos diferentes, uma
na confecção de um complexo de shopping e hotel e outra de galerias subterrâneas
para serviços públicos de telefonia, luz e água. Nestas obras a média de
trabalhadores variava de 300 a 900 trabalhadores. Estas visitas foram monitoradas
por engenheiros responsáveis pelo empreendimento e pela gestão de segurança e
saúde no trabalho dos empreendimentos, tanto dos escritórios como dos canteiros.
70

4 ESTRUTURANDO UM MODELO DE PROGRAMA DE SST

4.1 MODELOS ANALISADOS

Para a elaboração de nossa proposta de modelo de programa de gestão de


SST para o setor da indústria da construção nos baseamos em dois modelos
internacionais e no próprio PCMAT apresentado conforme está na legislação.
O modelo apresentado pela Diretiva Canteiros (92/57/CEE), publicada em
1992, traz uma abordagem nova que determina três fases principais para a
implementação do programa de gestão em SST:

¾ Fase de concepção de projetos, nesta fase são projetados junto com o


projeto de arquitetura, os quesitos de SST que serão incorporados ao
empreendimento, Tanto para o canteiro de obras, como para a fase de pós-obra;

¾ Execução física da obra ou das atividades já em canteiro é a fase de


implementação dos quesitos de SST projetados na concepção do empreendimento
nos canteiros de obras;

¾ Fase de manutenção ligada diretamente ao pós-obra, esta é a fase


pós-obra, utilização dos dispositivos previstos na concepção do empreendimento e
implementados na fase dos canteiros para que os serviços de manutenção sejam
realizados com segurança.

Esta Diretiva é calcada na Convenção 167 da OIT, ainda não referendada


pelo Brasil.
71

Tradicionalmente as responsabilidades pela implementação das medidas de


segurança e saúde para a prevenção de acidentes estavam apenas configuradas
para os empreiteiros com base na legislação ou designados em contratos entre os
donos da obra e empreiteiros. Com a publicação desta Diretiva passou-se a
ampliação desta agora estendida aos demais intervenientes do processo como;
projetistas (autores de projetos), gestores, supervisores (empreendimento ou da
construção) e trabalhadores.
Segundo Dias (2003), esta Diretiva, é a principal linha de força para a maioria
dos países da União Européia na melhoria das condições de trabalho nos canteiros
de obras.
Outro modelo de gestão analisado é o apresentado pelo Japão equivalente a
ILO – OSH 2001 de junho de 2001, que traz como objetivo elevar o nível de
segurança e saúde ocupacional nos canteiros de obras, encorajando os
empregadores a adotá-la em conjunto com seus trabalhadores, com o escritório
empresarial e o canteiro de obras como uma organização integrada. Esta Norma tem
por finalidade dar diretrizes de um sistema de gestão em segurança e saúde no
trabalho para a indústria da construção, reconhecendo suas características
especiais. Baseada na Norma Nacional de Sistemas de Gestão de SST equivale ao
ILO-OSH 2001 de junho de 2001, e por objetivo elevar o nível de segurança e saúde
nos canteiros de obras, encorajando os empregadores a adotá-la em conjunto com
seus trabalhadores com o escritório empresarial e os canteiros de obras como uma
organização integrada, obedecendo aos quatro passos do “Plan – Do – Check – Act”
(PDCA). Através deste ininterrupto e contínuo trabalho voluntário de segurança e
saúde, eles poderão reduzir os riscos em potencial, conseqüentemente os índices
de acidentes de trabalho e construir um ambiente confortável nos canteiros de obra
A Norma poderá ser conduzida sem dificuldades, integrada com os demais
sistemas de gestão já implantados, como qualidade e meio ambiente.Ela tem por
exigências legais:

a) Política de SST;

b) Adoção de objetivos em SST;

c) Formulação, implementação e operação de um plano em SST;


72

d) Inspeção de rotina e não programável para implementação do Plano de SST;

e) Situação de emergência;

f) Sistema de auditoria;

g) Avaliação do Sistema de Gestão.

Esses dois modelos vieram a contribuir muito com o pensamento desta


proposta de modelo a ser apresentada neste capítulo.
O modelo a ser apresentado deverá estar atrelado a uma estratégia para
implementação que terá como objetivo principal atender as pequenas e médias
empresas, universo este com maiores dificuldades de cumprimento as normas
regulamentadoras. Para isso propomos a adoção de uma estratégia de introdução,
que não foi prevista no PCMAT que constará das seguintes etapas:

¾ Desenvolvimento de um manual de segurança e saúde para o setor


construção, abordando todos os riscos previsíveis, e seu efetivo controle através de
informação sobre medidas corretivas e/ou de controle – Equipamento de Proteção
Coletiva – EPC ou em último caso os Equipamentos de Proteção Individuais – EPIs;

¾ Promoção deste manual, através de campanhas, como foi realizada


com a NR 18, quando da sua publicação, neste caso poderemos utilizar a estrutura
dos Comitês Permanentes Regionais – CPRs;

¾ Implementação de cursos e treinamentos em SST, em todos os níveis


dentro do empreendimento, utilizando matéria instrucional adequado;

¾ Preparação de livretos, cartilhas explicativas para o entendimento da


norma e avaliação e melhoria constante, conforme necessidade em atendimento a
novas tecnologias, sistemas construtivos etc.
73

Os modelos analisados no Brasil, durante as visitas aos canteiros de obras,


mostram que hoje o PCMAT cumpre um papel de atendimento a norma, baseado
nos quesitos pré -definidos no item 18.3 e sub-itens da NR 18, que são:

¾ Descrição da obra, anexada com a Declaração de Instalações


prevista na NR 02, porem nem todos os PCMATs apresentaram este documento;

¾ Programa de prevenção de riscos ambientais – neste item a


qualidade dos PPRAs são inadequadas, com informações apenas de ruído em sua
maioria, inclusive com exames audiométricos anexados retirados do Programa de
Controle Médico em Saúde Ocupacional – PCMSO da NR 07, e aqui são
especificados EPIs e poucas proteções coletivas;

¾ Procedimentos de segurança, através de manual, (raros casos,


poucas quando não apresentam apenas uma descrição dos itens abordados na
norma 18, muitos casos, apresentando como procedimentos de segurança);

¾ E finalmente no programa de treinamento apenas com descrição


de treinamentos de admissão, com carga horária de 06 horas e em alguns casos
Diálogo Diário de Segurança - DDS;

Como documentos base os PCMATs trazem anexados apenas os


documentos prescritos na NR 18.
Os modelos deixam inúmeras dúvidas quanto a sua importância como gestora
dos riscos ocupacionais e dos ambientes de trabalho nos canteiros de obras, pois
muitos destes PCMATs apresentam quesitos de riscos e medidas corretivas
padronizados.
Alguns PCMATs encontrados no mercado, ou seja, nos canteiros de obras a
disposição da fiscalização do MTE, não estão comprometidos como uma política de
segurança e muito menos atrelados às responsabilidades por não definirem em seu
corpo os papéis de cada interveniente. A qualidade técnica deixa muita a desejar,
pois muitos copiam textos e desenhos de livros técnicos e revistas passando por
projetos de proteções coletivas ou ainda, especificando EPIs de acordo com a
função e não com a atividade do trabalhador.
74

O cronograma de implementação do programa é totalmente desconectado do


cronograma físico da obra, tornando-se quase impossível à identificação da fase em
que se encontra a etapa de implementando do mesmo.
Hoje uma das maiores discussões entre os profissionais de SST é se o
planejamento deste programa deverá ser por fases, etapas ou atividades.
Foram escolhidos 04 modelos apresentados e analisados que se encontram
no anexo desta dissertação.

4.2 A SISTEMATIZAÇÃO DAS ANTECIPAÇÕES NO PROCESSO DA


SEGURANÇA NA CONSTRUÇÃO

A antecipação possui o significado que o gerente atua antes da ocorrência de


possíveis complicações aos processos de produção através de ações gerenciais.
Identifica-se um problema em potencial e se antecipa uma ação gerencial de modo a
evitá-lo. Em um sentido contrário, identifica-se um aspecto benéfico ao fluxo de um
processo e toma-se a dianteira, agindo gerencialmente para garantir que aconteça.
A antecipação associa-se à precipitação de uma ação gerencial, mesmo antes do
momento convencionalmente oportuno (quando isto é formalmente considerado),
destinada a garantir que o processo produtivo flua de acordo com aspectos de
produtividade e qualidade esperados.
Olomolayie et al apud Machado (2003), ressaltam a importância dos gerentes
de obras programarem os seus projetos mais sistematicamente visando à
antecipação de problemas. Para estes autores, os gerentes de canteiros deveriam
reconhecer que existem circunstâncias presentes nos canteiros de obras que podem
sair de controle, como, por exemplo, a falta repentina e inesperada de materiais e a
impossibilidade de reparar um equipamento importante.
De acordo com Bernardes apud Machado (2003), muitos dos problemas que
causam interferências no ritmo de produção podem ter seus efeitos minimizados,
caso as restrições existentes no ambiente produtivo sejam analisadas e tomadas às
devidas precauções durante a elaboração dos planos, de forma a reduzir ou eliminar
seus efeitos. Nesse caso, o planejamento de médio prazo cumpre papel
fundamental na medida que facilita a identificação dessas restrições e estabelece
um período necessário para a gerência da obra atuar sobre as mesmas.
75

Para Russel et al apud Machado (2003), o primeiro passo para a melhoria dos
processos produtivos consiste em evitar a ocorrência de problemas. Isto é feito
através da observação e registro de aspectos que podem causar distúrbios
futuramente. Na indústria da construção significa realizar um esforço formal para
reconhecer problemas durante as fases de projeto e planejamento ao invés de
descobri-los somente durante a etapa de construção.
Ainda segundo Alves apud Machado (2003), as antecipações servem como
critério para a liberação de planos, por exemplo, usando uma lista de verificação de
ações gerenciais. Dessa forma, em cada nível do planejamento podem ser
estabelecidos critérios para a liberação de planos, procedimentos ou tarefas. Podem
ser elaboradas listas de verificação, contendo requisitos mínimos, para que os
produtos de cada etapa do planejamento atendam a critérios relacionados ao
combate de perdas nos fluxos físicos.
Podem ser utilizadas ferramentas como Permissão de Trabalho – PT e outras
na confecção de instrumentos eficazes para o controle de riscos nos canteiros de
obras.
Uma das antecipações previstas poderá ser a implementação do Programa
de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, previsto em nossa Norma como a NR
09.

4.3 MODELO PROPOSTO

No modelo proposto destacaremos para a elaboração de um programa de


SST na indústria da construção primeiramente a identificação e a definição das
responsabilidades.

4.3.1 RESPONSABILIDADES E COMPETÊNCIAS EM SST

a) Dono do empreendimento ou construtor

O dono do empreendimento é o principal responsável pela designação dos


gestores em SST e por elaborar uma Política de Segurança e Saúde para ser
implementada em todos os empreendimentos tanto em nível de escritório
(concepção de projetos), quanto ao de canteiros
76

b) Gestores de SST

Os gestores serão identificados por profissionais de SST responsáveis por


assessorarem os donos dos empreendimentos nos assuntos de SST, tanto nos
escritórios como nos canteiros de obras, implementando e divulgando a política de
SST elaborada pelo empreendedor e elaborar um programa de SST a ser
implementado nos escritórios e canteiros.

c) Empreiteiros e sub-Empreiteiros

A eles, caberá o cumprimento dos contratos com as regras designadas na


legislação e na política e programa de SST divulgada pela empresa contratante
principal.
Todas as cadeias de sub-contratação deverão ter as mesmas obrigações.

d) Trabalhadores em geral

Aos trabalhadores cabe cumprir as disposições relacionadas no programa de


SST em obediência a política e plano de SST previamente estipulados pela
empresa.
Todos os colaboradores deverão ter sua importância no desenvolvimento do
programa de SST principalmente nos canteiros de obras, pois a participação em
todos os níveis faz com que todos tenham uma parcela de responsabilidade quanto
aos riscos inerentes ao desempenho das atividades a serem desenvolvidas antes,
durante e no pós-obra.

4.3.2 ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE SST

A proposta nesta dissertação é de estruturar um modelo de programa de SST


para o setor da indústria da construção sem detrimento da melhoria do PCMAT já
existente e obrigatório na NR 18.
Para a elaboração de um programa de SST definiremos alguns quesitos
básicos para sua formatação.
77

¾ Primeiramente é preciso que haja um compromisso por parte do


empreendedor nas questões de SST através de uma declaração de política
de SST, onde o dono do empreendimento assegura aos seus trabalhadores a
proteção contra acidentes e doenças em trabalho em conjunto com os
mesmos;

¾ Em segundo lugar está a antecipação dos riscos, perigos e medidas de


controle dos mesmos, através de programas já adotados nas NRs 07 e 09,
como o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA e o Programa
de Controle Médico de Saúde Ocupacional;

¾ Em terceiro lugar está a adoção de objetivos de SST, recomendando que os


contratantes deverão adotar objetivos de SST, baseados na política da
empresa, no que diz respeito à formulação de um programa de SST, contínuo
e apropriado, onde designarão as medidas de segurança a serem adotados
nos escritórios e canteiros de obras; intercâmbio constante com o SESMT, a
CIPA e Comissões de SST, trocando informações e contando com os
mesmos na implementação do plano de SST e no projeto de SST com
proposta de programa de educação e treinamento e de sistema de avaliação
e melhoria do sistema de gestão em SST, estabelecendo inclusive
procedimentos para as contratadas.

Desenvolveremos o programa de SST em duas etapas: plano e projeto de


SST a partir da estrutura básica como mostra a figura 1. O primeiro é específico para
a fase de concepção do empreendimento e o segundo para ser aplicado no
desenvolvimento das atividades dos canteiros de obras desde sua instalação e
desinstalação.

Figura 1 – Estrutura do programa de SST para o Setor da Construção


78

4.3.2.1 PLANO DE SEGURANÇA E SAÚDE PARA ESCRITÓRIO

Para o desenvolvimento de um plano de SST, o escritório terá que passar por


algumas observações como: caracterização do empreendimento, incluindo aí uma
memória descritiva das técnicas construtivas a serem utilizadas, máquinas e
equipamentos necessários, efetivo máximo da obra e desenvolvimento de projetos
complementares de segurança, como dispositivos de proteção coletiva e individual;
anexar documentação importante, tais como, política de SST, plano de SST,
procedimentos em SST e ações para a prevenção de riscos.
Do plano de segurança deverão constar todas as informações necessárias
para reduzir os infortúnios e sua estrutura, segundo DIAS (1996), deverá ser
constituída de um conjunto de elementos necessários para a promoção da
segurança e saúde de todos os trabalhadores envolvidos.

4.3.2.2 PROJETO DE SST PARA CANTEIROS DE OBRAS

Um projeto de SST para um canteiro de obras é de grande importância para a


implementação de um plano de SST e o mesmo deverá ter como ponto de partida
um bom projeto de layout.
O objetivo do planejamento do layout de um canteiro de obras, além de se
obter uma melhor utilização de espaços, locando e arranjando trabalhadores,
materiais e equipamentos e é também o de melhor preparação dos postos de
trabalho.
Para que se possa projetar um canteiro que atenda às necessidades da
produção e ao mesmo tempo contemple as necessidades das condições adequadas
de trabalho e conforto dos trabalhadores, devemos, além da criatividade, utilizar
técnicas de engenharia que proporcionem um bom layout.
Segundo Espinoza (2002), quando se faz o layout das instalações provisórias
busca-se facilitar o acesso dos trabalhadores às mesmas com segurança da mesma
forma que se planeja a logística com o objetivo de oferecer condições adequadas de
ventilação, iluminação e higiene.
No dimensionamento de um Canteiro de Obras o planejamento deve
determinar espaços destinados às instalações que permanecerão fixas durante o
79

desenvolvimento da obra; estudar a movimentação de máquinas e equipamentos


móveis; analisar cronograma de instalação e início das atividades e dimensionar
instalações de armazenagem.
Ainda no projeto deverão estar estabelecidos: procedimentos para situações
de emergência, procedimentos para inspeções rotineiras, procedimentos de
investigação e análise de acidentes de trabalho, bem como procedimentos para
auditorias internas e externa e um sistema de avaliação de melhoria contínua do
programa.
A gestão de SST nos canteiros de obras deverá estar estabelecida em três
fatores principais:

¾ Envolvimento do dono do empreendimento, enquanto gestor, com


responsabilidade que lhe cabe, desde a concepção do projeto até sua
entrega final;

¾ Envolvimento dos projetistas no programa de segurança, quanto à escolha


dos processos construtivos, materiais e etc;

¾ Estabelecimento de um sistema de prevenção onde todos os responsáveis


estejam envolvidos, assegurando uma gestão global de SST durante todo
o empreendimento, através dos gerentes de segurança.

Uma nova visão da norma NR 18, poderá prever as duas situações propostas
e apresentadas nesta dissertação e ambas poderão estar diferenciadas e
associadas entre si para que uma gestão de SST na indústria da construção seja
eficiente e eficaz. O PCMAT poderia prever quesitos complementares para o
escritório e o canteiro.
80

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

5.1 CONCLUSÕES

Dada a natureza e as características intrínsecas da indústria da construção


civil, há necessidade de criar e adaptar novas formas de gerenciamento para a
segurança ocupacional, de modo a permitir a estas empresas não só a garantia de
sobrevivência, mas também a melhoria da qualidade de seus produtos e sua melhor
adequação aos novos valores sociais emergentes.
Com esta percepção, o presente estudo foi direcionado a desenvolver uma
nova visão da segurança e saúde ocupacional da indústria da construção civil, que
possa ser utilizada por profissionais da área, estabelecendo assim um processo de
modernização da empresa ou setor. Ela apresenta uma nova forma de abordagem
de problemas complexos, migrando da abordagem cartesiana (análise micro-
orientada) para a abordagem sistêmica (análise macro-orientada), buscando definir
um sistema que consiga controlar sua variabilidade. Esta nova abordagem possibilita
a compreensão do sistema analisado e a apresentação de soluções eficazes e
consistentes (Espinoza, 2002).
Verificou-se que a Segurança do Trabalho passou ter importância
fundamental para a consecução dos mais altos índices de qualidade e produtividade.
Muitas empresas têm a segurança e a saúde no trabalho como estratégia
competitiva, buscando diretamente a satisfação dos trabalhadores, ao mesmo tempo
em que priorizam a educação, o treinamento e a motivação.
Verificou-se que os métodos de prevenção de acidentes são análogos aos
métodos requeridos para o controle da qualidade e poucos executivos entendem
81

que os mesmos fatores que ocasionam acidentes no trabalho também causam as


perdas na produção e problemas de qualidade e custo.
Não há fórmulas nem padronização de programas de gestão, pois cada caso
é um caso e não há um canteiro igual ao outro.
Os novos sistemas gerenciais quando da implantação de um programa de
segurança e saúde no trabalho estão além do simples cumprimento de legislação,
portanto é de grande importância à preocupação de eliminação e controle de riscos
e a organização do trabalho, proteção do meio ambiente e recursos naturais.
A NR-18, da Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho, inseriu novos
requisitos, obrigatórios para a área da construção, dentre eles o PCMAT - Programa
de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção, que
apresenta como objetivo principal garantir a saúde e a integridade dos
trabalhadores, pela prevenção dos riscos que derivam do processo de execução de
obras. Isso nos faz concluir com absoluta certeza, que ações devem ser
implementadas em conjunto, pela integração dos procedimentos da qualidade, da
Segurança e Saúde e do Meio Ambiente, dentro de um Sistema de Informação
Integrado que visa à melhoria de vida dos trabalhadores, assim como dos
processos, produtos, serviços e do ambiente.
Neste aspecto, a concepção e a estrutura proposta nesta dissertação
determinar uma maior gestão e maior responsabilidade quanto aos ambientes de
trabalho e conseqüentemente alia-se à tendência mundial, tratando as questões de
SST de forma ampla dentro de um sistema gerencial de uma empresa.
Com o assunto abordado neste trabalho, espera-se haver contribuído para a
melhoria das condições de trabalho e, conseqüentemente, de vida dos trabalhadores
envolvidos com o setor da construção. Cabe-nos contribuir para a redução dos
acidentes de trabalho, principalmente dos graves e fatais e para a implementação
efetiva de um programa de gestão de SST para o setor.

5.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS QUESTÕES FORMULADAS

Mediante os modelos analisados e apresentados pelas empresas, a Norma


Regulamentadora 18, no que se refere ao Programa sobre Condições e Meio
Ambiente de Trabalho – PCMAT, como sendo um programa básico de gestão de
SST, não consegue atender as prerrogativas que existiam no momento da sua
82

concepção, pois o que se encontra é mais um documento para cumprimento da


mesma, comprovadamente constatado através de análises do cronograma das
obras e sua relação com as fases e atividades desenvolvidas no canteiro, projetos
de proteção copiados de livros e manuais, levando com isso a transparecer que o
PCMAT, não determina o comprometimento do dono do empreendimento em
proteger a segurança e a saúde de seus trabalhadores, contribuindo para a
ocorrência de acidentes de trabalho, quase sempre graves e fatais.
E por fim não há como implementar um sistema de gestão em SST para a
indústria da construção focado apenas em canteiro desassociado do escritório ou
mesmo do empreendedor, pois não há como separar na atualidade, as questões de
SST dos objetivos de estratégia empresarial, daí os programas de sistemas de
gestão da qualidade e do meio ambiente se complementarem para a busca do
sucesso mercadológico.

5.3 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS

A partir deste trabalho de dissertação podemos sugerir uma série de temas


para futuras pesquisas:

¾ Análise da qualidade técnica dos PCMATs elaborados em sua maioria por


grandes construtoras;

¾ Implementação de ferramentas de gestão de riscos no programa proposto


neste trabalho;

¾ Aplicação e validação do modelo proposto neste trabalho no aperfeiçoamento


do PCMAT.
83

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ANEXO
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MODELOS PCMAT 1/2/3/4


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