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São Paulo
2016
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE PROJETOS
São Paulo
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
Tabela 1 Relação dos comércios entrevistados, nome fictício e ramo de atuação ......... 42
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 14
2.1 Gestão dos stakeholders em projetos ..................................................................... 14
2.1.1 Identificação dos stakeholders ............................................................................. 18
2.1.2 Planejamento do gerenciamento dos stakeholder ................................................ 19
2.1.3 Gerenciamento do engajamento dos stakeholders ............................................... 20
2.1.4 Controle do engajamento dos stakeholders ......................................................... 21
2.2 Critérios de Sucesso em Projetos ........................................................................... 21
2.3 Critérios de Sucesso e Stakeholders ....................................................................... 24
2.4 Gestão e obras públicas .......................................................................................... 25
2.4.1 Gestão pública ..................................................................................................... 25
2.4.2 Obras públicas ..................................................................................................... 27
2.4.3 Gestão pública e os stakeholders ......................................................................... 28
3 MÉTODO DE PESQUISA ...................................................................................... 30
3.1 Apresentação do Estudo de Caso ........................................................................... 32
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................... 33
4.1 Apresentação e análise documental ....................................................................... 33
4.2 Apresentação e análise das entrevistas ................................................................... 42
4.2.1 Entrevistas com comerciantes da Vilaboim ......................................................... 42
4.2.2 Entrevista com a CET .......................................................................................... 51
4.3 Análise dos resultados ............................................................................................ 52
5 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 54
REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 57
APÊNDICE A – ENTREVISTA VILABOIM ............................................................... 64
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO ENVIADO PARA CET ........................................ 66
10
1 INTRODUÇÃO
O progresso de um país está diretamente ligado ao desenvolvimento das cidades.
O crescimento acelerado, somado a falta de planejamento nos principais centros urbanos,
caracteriza o cenário da evolução brasileira, marcada por uma política urbana deficiente.
Obras de infraestrutura são projetos de alta complexidade pois utilizam verbas públicas,
devem promover a qualidade de vida da população e alteram o meio ambiente, sendo que
nem sempre essas alterações favorecem a todos os grupos da sociedade (DADA, 2013;
RIBEIRO; LONGO, 2013; TABISH; JHA, 2011).
Dentre as diversas modalidades de obras de infraestrutura, como saneamento
básico, energia elétrica, sistema viário, transporte, etc.; a mobilidade urbana responde
pelo intercâmbio econômico do país devido ao fluxo de pessoas, mercadorias e
informações. No principal centro financeiro da América do Sul, a cidade de São Paulo,
esse fluxo está impedido pelo trânsito, carência do transporte público e falta de
alternativas de locomoção (SCARINGELLA, 2001). Um tema atual nesta capital são as
medidas públicas de mobilidade urbana, como a implementação das faixas de ônibus,
faixa para pedestres e as ciclofaixa, ciclovias e ciclorrotas.
As ciclovias, ciclofaixas, ciclofaixas de lazer e ciclorrotas possuem diferentes
definições, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego [2011?]. As ciclovias são
vias exclusivas para os ciclistas, com separação física do tráfego comum e dos pedestres.
Já as ciclofaixas não tem delimitação física, apenas visual, sendo uma faixa pintada que
distingue os ciclistas dos demais modais. A ciclofaixa de lazer, ou operacional, é uma
faixa temporária para os ciclistas, sendo demarcada por cones, fitas, etc. Finalmente, as
ciclorrotas são vias compartilhadas com os demais modais, apenas com a sinalização
específica de que fazem parte de uma rota indicada para ciclistas (CET, 2016a;
CONVIVA, 2015). Para delimitação da pesquisa, utilizar-se-á o termo ciclofaixa. A
realização das ciclofaixas é o escopo deste trabalho em razão da contemporaneidade do
assunto na mídia e crescente utilização deste modal no deslocamento urbano.
O Plano Diretor Estratégico (SÃO PAULO, 2014a) define o uso da bicicleta como
um modal de transporte, sendo uma alternativa vantajosa aos meios de transporte
individuais. Plano de Mobilidade do Município de São Paulo de 2015 (SÃO PAULO,
2015a), e posteriormente o Decreto nº 56.834/2016 (SÃO PAULO, 2016), apresentam a
proposta do uso da bicicleta no planejamento da mobilidade, com a devida implantação
de um sistema cicloviário, como uma das estratégias para melhorar a mobilidade
priorizando o transporte coletivo em relação ao individual motorizado. Até o ano de 2013,
11
resultados ou nas metas finais" ou Yang et al (2009) que aborda a gestão dos stakeholders
nos fatores críticos de sucesso para projetos de construção. O sucesso de um projeto
apresenta como variáveis mais comuns o custo, escopo, qualidade e prazo. Uma vez que
a qualidade é uma variável subjetiva e depende da satisfação do consumidor (JURAN;
GODFREY, 1999), o sucesso de um projeto está ligado as expectativas dos stakeholders.
Portanto, é de fundamental importância o gerenciamento dos stakeholders para o sucesso
de um projeto, e, tratando-se de órgãos públicos, o apoio ao governo.
Em projetos de obras públicas, a preocupação de identificar os stakeholders deve
estar presente em todas as fases do projeto, assim como seu monitoramento, para que o
projeto satisfaça a qualidade especificada. Porém, Tabish; Jha (2011) ressalta a alta
complexidade dos projetos públicos, por abrangerem uma variedade de pessoas passíveis
de serem stakeholders no projeto, com seus critérios individuais de sucesso, sendo
potenciais stakeholders a serem geridos em planos de comunicação e gestão.
O objetivo deste trabalho é identificar a importância da gestão dos stakeholders
nos projetos de obras públicas, correlacionar a gestão dos stakeholders com o sucesso do
projeto, assim como identificar boas práticas de gestão de stakeholders. Como orientação
deste trabalho, buscou-se o referencial teórico da gestão de stakeholders, fatores de
sucesso em projetos e gestão pública.
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi adotado o estudo de caso único de
natureza qualitativa da implementação da ciclofaixa na cidade de São Paulo; analisou-se
os dados secundários que norteiam o assunto, presentes em livros, artigos de revistas e
internet; além dos dados primários obtidos por meio de entrevistas com comerciantes que
foram impactados pela implementação da ciclofaixa no bairro de Higienópolis, zona oeste
da cidade de São Paulo, e um questionário sobre o projeto das ciclofaixas enviado para a
CET.
O trabalho foi estruturado em cinco principais capítulos, quais sejam, Introdução
(1) onde é apresentada uma breve descrição do problema de pesquisa, seu cenário
contemporâneo, como o trabalho, em termos científicos, foi estruturado e a metodologia
aplicada ao objeto de problema; o Referencial Teórico (2) que fundamenta o tema
proposto, apresentando as práticas de gestão de projetos, abordagem das teorias de gestão
dos stakeholders, critérios de sucesso em projetos e gestão de obras públicas; a
Metodologia (3) científica que consubstancia a descrição da abordagem e técnicas
utilizadas para a descrição do estudo de caso; a Apresentação e Discussão dos Resultados
(4), tendo como objetivo interpretar e analisar as informações pesquisadas referentes a
13
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Gestão dos stakeholders em projetos
As definições sobre o que é projeto e o que é o gerenciamento de projetos são
objeto de pesquisa nos últimos anos e, embora sejam diversos os conceitos, eles são
convergentes em sua maioria. Segundo o PMI (2013) um projeto é um esforço temporário
para a criação de um novo produto, sendo este sempre único.
O gerenciamento de projetos é a coordenação das atividades utilizando áreas do
conhecimento com um único objetivo de realizar o escopo, atendendo as expectativas das
partes interessadas com a melhor alocação de recursos, dentro do custo e prazo
estabelecidos. (PMI, 2013)
Segundo Kerzner (2009), a gestão de projetos é um fator crítico de sucesso, tanto
para atendimento dos objetivos com mudanças adequadas, quanto para o ambiente das
organizações. Dessa forma, uma gestão de sucesso deve atender o escopo do projeto,
prazo e custo, segundo o triângulo de ferro (CARVALHO; RABECHINI, 2011). Os
critérios de sucesso serão apresentados no item 2.3 “Critérios de sucesso em projetos”.
De acordo com as boas práticas de gerenciamento de projetos apresentados pelo
guia PMBOK do PMI (2013), o gerenciamento de projetos ocorre por diversos processos,
ferramentas e técnicas. Observa-se que não é necessária a utilização de todos os artifícios
para os projetos, devido as diversas naturezas.
O guia PMBOK define cinco grupos de processos em gerenciamento: Iniciação,
Planejamento, Execução, Monitoramento e Controle, e Encerramento. Entre a 4ª e a 5ª
edição do guia PMBOK, ocorreu um incremento de 5 processos, na versão anterior eram
42 processos, na revisada são 47. Além disso, ocorre a criação de uma nova área do
conhecimento, o Gerenciamento das Partes Interessadas do Projeto.
A gestão dos stakeholders, ou das partes interessadas, aparece como uma área do
conhecimento apenas na 5ª edição do PMBOK, onde é fundamental a identificação e
gerenciamento das partes interessadas para o sucesso do projeto (PMI, 2013). Porém, o
tema está presente na literatura há, aproximadamente, 20 anos e surge pela primeira vez
em 1984 na obra de Richard Edward Freeman, conforme já mencionado. A definição de
stakeholders e sua gestão, segundo Freeman é “a ideia dos stakeholders, ou
gerenciamento de stakeholder, ou a abordagem dos stakeholders para o gerenciamento
estratégico, sugere que os gestores devem formular e implementar processos que
satisfaçam todos e apenas aqueles grupos que possuam algum interesse no negócio. O
objetivo nesse processo é gerenciar e integrar as relações e os interesses dos acionistas,
15
Segundo Müller; Jugdev (2012); os autores Pinto e Slevin (1988) apresentam uma
grande contribuição ao estudo de fatores críticos de sucesso. Pinto e Slevin (1988)
consideram sucesso em projetos se este ocorre dentro do prazo (critério de tempo);
orçamento (critério de custo); atinge todos os objetivos inicialmente definidos para o
projeto (critério de eficácia/desempenho) e está dentro da expectativa do cliente (critério
de satisfação do cliente). Portanto, os autores comtemplam o triângulo de ferro e a
satisfação do cliente. Em outro estudo, Pinto; Slevin (1988b) adicionam a validade
técnica, organizacional e eficácia; e conceituam que os medidores de sucesso dependem
do período e fase de análise de um projeto.
O PMI (2013) reitera o opinião do triangulo de ferro para medição de sucesso de
um projeto, porém inclui a avaliação de outros indicadores, como risco, qualidade e
recursos disponíveis. Uma abordagem ampla formulada por Toor; Ogunlana (2009) e
Kerzner (2009), os quais reforçam o tradicional triangulo de ferro, porém ressaltam a
igual importância de outros parâmetros relevantes para os envolvidos na verificação de
sucesso em projetos, como eficiência, segurança e eficácia (fazer a coisa certa).
Além disso, a satisfação/aceitação dos stakeholders, a redução de conflitos e
disputas no projeto, e minimização da ocorrência de defeitos ou mudanças do escopo são
considerados fatores na avaliação de sucesso para esta referência, conforme a Figura 4 a
seguir. Este novo conjunto de fatores limitam a análise de projetos para excelência de
resultados, que não só dependem dos tradicionais custo, tempo e escopo, mas também
dos envolvidos (segurança dos trabalhadores, atendimentos dos stakeholders;
minimização de conflitos entre os envolvidos) e no desempenho do projeto (qualidade,
23
planejamento é realizado apenas para ser apresentado, porém, sua execução é totalmente
alheia ao planejado. São vários os casos brasileiros de experiências fracassadas devido à
falta de planejamento e ao imediatismo à execução como a rodovia Transamazônica, o
evento da Copa do Mundo em 2014, o Trem-bala Rio-São Paulo, a despoluição do rio
Tietê em São Paulo e da bacia do Guanabara no Rio de Janeiro, o metrô de São Paulo.
Silva; Niero; Mazzali (2009) também reitera a ideia do não uso do planejamento
no Brasil, e o amplo uso do improviso na implementação de políticas públicas. O autor
defende a importância do plano e do processo de planejamento, com objetivos e
mecanismo de execução bem definidos, pois assim é criado um vínculo entre a política e
a gestão.
O planejamento nos setores públicos brasileiros, como um governo centralizado,
é responsável pela distribuição de recursos para projetos. Giron (2012) defende que “é
papel do Estado definir através das políticas públicas, a produção e/ou distribuição de
bens e serviços coletivos, criando com isso condições para que a população tenha acesso,
ou não, ao usufruto desses direitos”. Portanto, as políticas públicas implementadas em
uma determinada época dependem dos interesses do governo vigente e da economia,
definindo assim, a aplicação dos recursos públicos de acordo com seus interesses. As
políticas sempre serão criadas e interpretadas de acordo com a história, experiência,
valores, e interesses das pessoas envolvidas num determinado contexto. Porém,
considerando este um processo integrativo e de caráter político, o planejamento e as
políticas públicas devem ser pautados em fatos, multiplicidade de opiniões, ética, e
democracia, de maneira que as ideias devem ser negociadas com o intuito de serem aceitas
por todos. (OLIVEIRA, 2006). O mesmo autor afirma que:
“(...) o estudo de implementação requer um entendimento de sua
complexidade e de sua interação com o processo de planejamento. O
resultado de um processo de planejamento, incluindo sua
implementação, tem que ser visto como uma série de eventos
aparentemente simples, mas que dependem de uma cadeia complexa de
interações recíprocas para que obtenham o resultado esperado, e muitas
vezes esta cadeia não pode ser prevista ou controlada.” (OLIVEIRA,
2006; p. 277).
Um dos principais documentos para o planejamento das cidades é o Plano Diretor
Estratégico, o qual é obrigatório para todas as cidades com mais de 20.000 habitantes, e
deve propor pareceres sobre o município e suas propostas/orientações para o
desenvolvimento urbano futuro, seja nos quesitos socioeconômicos ou uso espacial do
solo, sendo este aprovado pela Câmara Municipal (BRASIL, 2001; VILLAÇA, 1999).
27
Além disso, o Plano Diretor, segundo o Artigo 40º da Lei nº 10257/2001 (BRASIL,
2001), deve ser elaborado contando com audiências públicas, debates com a participação
popular, divulgação e publicidade dos documentos produzidos.
Villaça (2005) ressalta que a legislação brasileira determina a elaboração de
diversos planos, como o Plano Diretor Estratégico, Planos Regionais, Planos Municipais
de Saneamento Básico, Saúde, Cultura, Educação, Habitação, Circulação Viária e
Transportes; Revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo, entre outros. Dessa forma, o
autor cita o caso de São Paulo, onde a abundância de planos regulamentados pela
legislação “muito contribui para sua desmoralização e da própria lei, pois frequentemente
a prática acaba por revelar que a lei não é para valer” (VILLAÇA, 2005, p.19).
A elaboração do Plano Diretor com a participação popular agrega a este
documento diagnósticos mais realistas dos problemas da cidade, criação de um projeto de
planejamento coerente e autentico, além de promover o acompanhamento das políticas
sociais e fiscalização da sua implementação pela sociedade (PINHEIRO, 2012). Sobre a
elaboração do Plano Diretor participativo Pinheiro (2012) afirma:
“Construir processos efetivamente participativos é um grande desafio e
encontra grandes resistências. Exige conhecimento, muita organização
e vontade política. Mas a ausência de participação comunitária é um
dos principais fatores de insucessos de planos, programas e projetos.”
(PINHEIRO, 2012, p.74)
Villaça (2005) defende que a participação da população não existe, e sim a atuação
de grupos, setores sociais, ou seja, uma minoria. O autor ainda ressalta que os grupos
participativos são as classes sociais com maior poder aquisitivo, os quais apresentam
métodos de atuação com acesso e influência no governo e interesses diferentes da
sociedade (maioria).
2.4.2 Obras públicas
Entre os níveis de planejamento de um governo estão os projetos econômicos,
como o controle da inflação, os programas sociais, a exemplo do Bolsa Família no Brasil,
projetos militares, obras de infraestrutura, entre outros. As obras de infraestrutura são
projetos de alta complexidade pois utilizam verbas públicas, devem promover a qualidade
de vida da população e alteram o meio ambiente, sendo que nem sempre essas alterações
favorecem a todos os grupos da sociedade (DADA, 2013; RIBEIRO; LONGO, 2013;
TABISH; JHA, 2011).
A execução de obras públicas no Brasil deve ser precedida de um estudo de
viabilidade, projeto básico e executivo, os quais possibilitam a fiscalização pelos órgãos
28
públicos. A Lei Federal nº 8666 (BRASIL, 1993) estabelece normas para licitações e
contratos administrativos de obras e serviços públicos no âmbito dos três níveis de
poderes: União, Estado e Município:
“As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações,
concessões, permissões e locações da Administração Pública, quando
contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de
licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei.” (Art. 2º, Lei
Federal nº 8666, de 21 de Junho de 1993)
A contratação de obras públicas, segundo a Lei 8666 é caracterizada pela etapa de
planejamento, licitação, contrato e execução do contrato. O planejamento e o projeto
básico são as etapas mais importantes do processo de contratação e desenvolvimento de
projetos por caracterizar a obra ou serviço a ser prestado, possibilitando a avaliação do
custo, prazo e métodos de execução. É nesta etapa que são tomadas as principais decisões,
como as que afetam a economia, escopo, eficiência, prazo, desempenho e população
atingida (TAKIM, 2009). O projeto executivo é importante para a compatibilização entre
os projetos, de modo otimizar a utilização dos recursos públicos. Segundo a Lei Federal
8.666 (BRASIL, 1993):
“As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando: I-houver
projeto básico aprovado pela autoridade competente e disponível para
exame dos interessados em participar do processo licitatório.” (Art. 7º,
III, § 2º. Lei Federal nº 8666, de 21 de Junho de 1993)
Alguns fatores de sucesso medidos em obras públicas são a implementação da
obra dentro do orçamento, prazo e qualidade previstos; sem afetar severamente o meio
ambiente, prestação de contas clara do projeto, geração de empregos, promoção da
sustentabilidade e diminuição da desigualdade social. (DADA, 2013). Observa-se que os
fatores variam entre projetos e o período de execução.
2.4.3 Gestão pública e os stakeholders
A maneira como são conduzidas e executadas as políticas públicas são de interesse
dos cidadãos e determinam a popularidade dos governos que as executam. Porém, atender
as expectativas e necessidades de toda a população é uma tarefa improvável. (DADA,
2013; TAKIM, 2009). Os interesses e expectativas dos stakeholders devem ser de
conhecimento do governo, o qual possui o compromisso de abrange-los em um
planejamento amplo. (YANG et al., 2009).
O dever de um governo está ligado a responsabilidade social corporativa, onde,
de acordo com Carroll (1991), compreende o cumprimento das responsabilidades
econômicas (ser lucrativo, base de todas as outras fundações), legais (obedecer a lei),
éticas (fazer o que é certo, ser justo) e filantrópicas (melhorar a qualidade de vida), os
29
quais são expectativas da sociedade, pois esta elegeu seus representantes para assim fazê-
lo.
Pisa; Oliveira (2014) observam o esforço no Brasil do setor público em realizar
serviços com qualidade e recursos disponíveis em seus programas e projetos. O mesmo
autor ainda lista diferenças importantes na comparação entre empreendimento públicos e
privados, os quais, frequentemente, inviabilizam ou dificultam o andamento dos projetos,
como os projetos sociais do governo; o cumprimento de leis, como a Lei Orçamentária
Anual e a Lei 8666/93 – a “Lei das Licitações”; excesso de normas gerando burocracia;
existência de inúmeros órgãos reguladores; prestação de contas à sociedade e
divergências políticas e sociais. Finalmente, ressalta-se que um governo é um prestador
de serviços, os quais devem ter qualidade e atender as necessidades coletivas, ao invés de
buscar atender interesses individuais ou lucro.
30
3 MÉTODO DE PESQUISA
A palavra método tem origem etimológica do grego, methodos, composto por
méta, que significa reflexão, raciocínio, e hódos, caminho, direção, ou seja, o caminho
para chegar a um fim; dessa forma, metodologia cientifica pode ser considerada como
procedimentos para atingir o conhecimento. (CRISTIANO; FREITAS, 2013)
Como metodologia escolhida para abordagem do tema, foi o estudo de caso de
natureza qualitativa. Yin (2001) indica que o estudo de caso é adequado para eventos
contemporâneos e ressalta que o estudo de caso é uma investigação empírica em casos de
difícil quantificação. Gil (1999) apresenta que o estudo de caso é adequado para preservar
o caráter único do evento e explicar casos onde não é possível o uso de levantamentos ou
experimentos. Gil (1999) e Eisenhardt (1989) observam que a aplicação do estudo de caso
é apropriado para as ciências sociais, eventos contemporâneos e deve ser baseado no
planejamento para a coleta de dados e análise. O estudo qualitativo, segundo Dalfovo;
Lana; Silveira, (2008), não busca a quantificação de dados, dessa forma, este pode ser
realizado por coleta e análise de texto, observação, entrevistas, estudo de caso, etc.
Assim, para o atendimento dos objetivos propostos neste trabalho, foi realizada
uma busca sobre o tema e identificação das disciplinas a serem tratadas. Desse modo, foi
possível realizar uma revisão bibliográfica sobre os temas relevantes, quais sejam, gestão
de stakeholders, gestão pública e fator de sucesso em projetos, tentativa de correlação das
disciplinas tratadas e busca por notícias sobre o assunto para ilustrar o universo de
pesquisa. A partir da revisão efetuada, foi planejada a coleta e, posteriormente, análise de
dados, a serem correlacionados com a literatura levantada sobre o assunto. Para a
realização da pesquisa, foram adotados dois métodos: a pesquisa documental sobre o
assunto, e entrevistas, presentes nos Apêndices A e B.
Como documentos, entende-se materiais escritos (jornais, revistas, relatórios,
informativos), estatísticas e elementos iconográficos (imagens, filmes). A pesquisa
documental pode ser dividida em duas fontes: as primárias e as secundárias. As primárias
são correspondentes a dados originais, provenientes de documentos oficiais ou autores
que vivenciaram o evento descrito. As secundárias são referentes a dados não oficiais ou
descrito por terceiros não presentes no evento (GODOY, 1995; MARCONI; LAKATOS,
2003).
A vantagem da pesquisa documental é permitir o estudo de eventos aos quais não
há acesso, seja por eventos passados ou pessoas não acessíveis. São considerados uma
fonte inalterada, já que o documentado não pode ser alterado, e natural de informações já
31
2010
CET desenvolve o Plano de Ciclofaixas para o Município de São Paulo.
(MALATESTA, 2012)
Projeto de Lei 561/2010 - acrescenta Parágrafo Único ao art. 2º da lei nº 14.488,
que instituiu o fundo municipal de desenvolvimento de transito – FMDT, para
destinar recursos ao sistema cicloviário municipal. (MALATESTA, 2012)
Conclusão da ligação da Cidade Universitária à região do Butantã pela Ciclofaixa
do Butantã e à região sul pela Ciclofaixa do Rio Pinheiros. (MALATESTA, 2012)
A SEME e o Instituto CEBRAP – Centro Brasileiro de Planejamento – contratam
diversos ciclistas urbanos para mapeamento dos trajetos utilizados por ciclistas.
Este mapeamento foi utilizado pela prefeitura para sinalização destes caminhos e
o mapeamento disponibilizado na internet. (MALATESTA, 2012)
2011
A ciclofaixa operacional recreativa foi ampliada mais 10 km por sentido e 4 meses
depois mais 7,5 km por sentido. O horário foi ampliado às 16 horas, incluindo a
operação em feriados nacionais. (MALATESTA, 2012)
Inauguração da Rota de Bicicleta do Brooklin, com extensão de 15 km.
(MALATESTA, 2012)
2012
Inauguração de duas ciclofaixas operacionais. Posteriormente, as ciclofaixas
totalizam 65 km nos dois sentidos e público estimado de 40 mil pessoas.
(MALATESTA, 2012)
Lei Federal 12587/12 – Lei de mobilidade urbana. Esta lei reforça o CTB em
relação a bicicleta como modal de transporte e prioriza as políticas urbanas de
mobilidade não motorizada por meio de incentivos. (MALATESTA, 2012)
Criação do movimento “Vá de bike – Bikesampa” pelo Banco Itaú através do
empréstimo de bikes em diversos pontos da cidade próximos ao parque Ibirapuera.
Posteriormente, este movimento foi ampliado pelo “Ciclosampa” da Bradesco
Seguradora. (MALATESTA, 2012)
Criação do Programa de Proteção ao Ciclista, caracterizado pela intensificação da
fiscalização de transito de motoristas ao tráfego cicloviário. (MALATESTA,
2012)
38
2013
O Instituto CEBRAP realizou o mapeamento do eixo Leste a pedido do
movimento Bikesampa. (BIKE, 2013; CEBRAP, 2013; MALATESTA, 2014)
A cidade de São Paulo conta com uma rede de 125,3 km composta de ciclofaixas,
ciclofaixas e ciclorrotas, além dos 120 km de ciclofaixas operacionais de lazer.
(MALATESTA, 2014)
2014
Revisado o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, onde determina
a implantação de ciclofaixas em parques, áreas verdes, fundos de vale; e propõe a
integração deste modal ao transporte público coletivo. (BERTOLINI, 2015;
GLOBO, 2014a; SÃO PAULO, 2014a)
O Secretário Municipal de Transportes, Jilmar Tato, anuncia a construção de 400
km de vias cicláveis na cidade de São Paulo até final de 2015. O projeto faz parte
do Programa de Metas do prefeito Fernando Haddad (meta 97). (SÃO PAULO,
2013, 2014c)
Inaugurado o Projeto Piloto no Centro de São Paulo. (SANTIAGO, 2014)
Segundo pesquisa do Datafolha, 80% dos paulistanos são a favor da implantação
das ciclofaixas.(CET, 2014b; GLOBO, 2014b)
Após pressão de comerciantes na Praça Vilaboim, em Higienópolis, a CET apaga
e remaneja um trecho da ciclofaixa que passa pelo local. (GLOBO, 2014c;
VALLE, 2014)
2015
Ano é marcado por diversos pedidos do Ministério Público de paralisação das
obras das ciclofaixas devido as alegações de falta de projeto básico, projeto
executivo e orçamento do projeto. (GLOBO, 2015a, 2015b, 2015c; SÃO PAULO,
2015b)
Repercussão da reportagem “O Valor das Pedaladas”, e de diversas outras, faz
com que a Prefeitura se pronuncie a respeito do custo das ciclofaixas. (DANTAS,
2015; SÃO PAULO, 2015c; YARAK; COLOMBO, 2015)
Em junho, a ciclofaixa da Avenida Paulista, uma das mais polêmicas, foi
inaugurada.(GLOBO, 2015d)
Morte por atropelamento de um pedestre (idoso) próximo a ciclofaixa do
Minhocão. Após divulgação e grande repercussão pela mídia que o atropelamento
39
Até 31 de dezembro deste ano, foram realizados 277 km de vias cicláveis desde o
lançamento da meta “SP 400 km” (LOPES, 2016)
2016
Em janeiro são totalizadas 328,2 km de ciclofaixas. Segundo a Prefeitura, o não
atingimento da meta foi devido aos questionamentos realizados pelo Tribunal de
Contas do Município (TCM) e pelo Ministério Público Estadual
(MPE).(RIBEIRO, 2016)
Prefeitura instala totens para contagem dos ciclistas em algumas ciclofaixas
permanentes para planejamento estratégico.(GODOY, 2016)
Até maio deste ano, a cidade possui 120,8 km de ciclofaixas operacionais de lazer
e 378,4 km de ciclofaixas, dos quais 313,7 km foram realizadas pela PMSP da
Meta 97; 64,7 km são infraestrutura existente; 31,9 km de ciclorrotas
existentes.(CET, 2016b, 2016c, 2016d)
Observa-se ao longo de 3 décadas o planejamento realizado por diferentes
entidades ligadas à prefeitura de São Paulo para a implantação da ciclofaixa. A execução
das ações planejadas pró-ciclismo é mais intensa nos anos 2000 devida a organização dos
movimentos pró ciclistas e do ativismo ambiental, fortemente marcado nesta década no
40
11
Traçado adjacente
10
Traçado não adjacente
9
Não afetou o movimento
8 Afetou o movimento
7 Não aprova
COMÉRCIO
Aprova Parcialmente
6
Aprova
5 Participou da manifestação
satisfeitos e fizeram parte das manifestações contrárias a ciclofaixa em seu projeto inicial,
sendo, portanto, contrários a ciclofaixa; e 3 entre os 11 entrevistados possuem o perfil
ameno: a ciclofaixa afetou o comércio, porém não era adjacente ao local, aprovavam
parcialmente o projeto, o achavam suportável e não participou das manifestações. Dos
não afetados pela ciclofaixa, apenas 1 dos entrevistados estava satisfeito com as condições
atuais e era contrário às manifestações contra a ciclofaixa.
11
10
9
Traçado adjacente
8 Traçado não adjacente
Não afetou o movimento
7
COMÉRCIO
Afetou o movimento
6 Não aprova
Aprova Parcialmente
5
Aprova
4 Não satisfeito
Suportável
3
Satisfeito
A Figura 9 expõe que a ciclofaixa afetou 36% dos entrevistados, sendo que o
traçado é adjacente a 27% dos entrevistados (100% afetados). Dos entrevistados, 55%
aprovam parcialmente a ciclofaixa, 9% aprovam a ciclofaixa e 36% não aprovam. Além
disso, 55% suportam a condição atual da ciclofaixa, 36% não estão satisfeitos com a
condição atual e 9% estão satisfeitos com ciclofaixa.
É possível verificar que 6 entre os 11 entrevistados possuem o mesmo perfil: a
ciclofaixa não mais é adjacente ao local, nem afeta o comércio, aprovam parcialmente o
projeto e suportam o traçado atual. Possuem o mesmo perfil também dos comerciantes
com o traçado adjacente ao comércio, 3 entre 11 entrevistados possuem a mesma
representação: a ciclofaixa afetou o movimento, não aprovam o projeto e não estão
satisfeitos.
46
Mesmo assim, o sucesso do projeto na primeira etapa foi comprometido pela ação dos
stakeholders: o escopo do projeto foi protestado e alterado; ocorreu a paralização das
obras e a reestruturação do traçado acarretou em um custo adicional. Da mesma forma,
critérios como eficácia e eficiência da ciclofaixa na praça são questionados devido à falta
de utilidade da ciclofaixa no local. Baseando-se ainda nos critérios de sucesso de Toor;
Ogunlana (2009), em nenhuma das fases de projeto os stakeholders foram totalmente
satisfeitos, porém, a alteração do projeto minimizou os conflitos provocados pela
articulação do grupo durante a primeira etapa do projeto. Assim, conforme apontado por
Kerzner (2009), Yang et al. (2011); Tabish; Jha (2011) e Borges; Carvalho (2015), o
atendimento de um stakeholder não significa agradar a todos; a definição de sucesso é
variável e subjetiva de acordo com a percepção de cada stakeholder e período de análise.
Em relação a opinião dos entrevistados em projetos futuros, 10 dos 11
entrevistados apoiam a ideia que os projetos devem ser claramente notificados a
população em geral, mas os afetados localmente devem ser notificados e gostaria de fazer
parte no planejamento, conforme a opinião a seguir “A população em geral deveria ser
notificada. Mas se houver comércio no local, o comércio deve ser o primeiro notificado
até porque é quem gera empregos. Acredito que o comércio local deva ser o primeiro,
mas a população como um todo né” (Entrevistado do Comércio 5). A falta de informação
direcionada aos comerciantes foi uma das queixas dos entrevistados. Apenas o
entrevistado do Comércio 7 acredita que a informação deve ser divulgada a todos, porém,
sem o enfoque em um determinado grupo como preconizado pelos demais: “A
informação deve ser aberta a todos, todo mundo tem que procurar saber o que acontece
na sua cidade” (entrevistado do Comércio 7). Sobre a exposição do projeto, Yang et al.
(2009) e Bourne (2012) defendem que a divulgação da informação deve ser realizada de
acordo com cada projeto e com a sensibilidade da equipe de projeto para cada grupo de
stakeholders.
Observa-se que a condução do projeto e o envolvimento dos órgãos responsáveis
foi diferenciado durante as fases do projeto e com os grupos envolvidos. A identificação
de um grupo de stakeholders com os atributos de poder, legitimidade, urgência e
influencia no projeto fez com que esta parcela fosse atendida, de forma a atenuar suas
reinvindicações. Em relação ao sucesso do projeto, o grupo, como previsto, divide-se nas
mais diversas opiniões, sendo que não consideram o projeto como um sucesso, sem levar
em consideração o triangulo de ferro, devido à falta de eficácia do projeto na região.
51
5 CONCLUSÃO
O objetivo proposto para este trabalho foi atingido, uma vez que foi verificada a
importância da gestão dos stakeholders nos projetos de obras públicas, a correlação da
gestão dos stakeholders com o sucesso do projeto, no estudo de caso da ciclofaixa da
Praça Vilaboim em Higienópolis, contrapor as entrevistas realizadas com os comerciantes
da Praça Vilaboim com os esclarecimentos obtidos com a CET, e, finalmente, a
identificação de boas práticas de gestão de stakeholders.
O estudo de caso foi importante e assertivo para o atingimento dos objetivos
propostos, por se trata de um evento recente, com questões de difícil quantificação, sendo
a natureza das respostas mais relevantes do que a quantificação. O levantamento da
bibliografia para análise da história das ciclofaixas e as entrevistas realizadas foram
essenciais para a análise devido ao caráter qualitativo da pesquisa.
A análise documental permitiu avaliar que a prefeitura tem tomado medidas,
sejam leis, regulamentos ou projetos, para implementar o uso das bicicletas ao longo dos
últimos 30 anos. Ressalta-se que a implementação das ciclofaixas ganhou força apenas
nos anos 2000, com a participação da “Iniciativa do Ar Limpo para a América Latina”,
sendo este programa financiado pelo Banco Mundial, ou seja, apenas com as
regulamentações rígidas do financiamento, os projetos foram praticados. Posteriormente,
a campanha política do prefeito Fernando Haddad voltada para a mobilidade e a revisão
do Plano Diretor, fundamentaram a ampliação das ciclofaixas e ciclofaixas na cidade de
São Paulo. Portanto, é cabível afirmar que houve um planejamento das ciclofaixas da
cidade nos últimos anos, porém, sem evidências de gestão de stakeholders,
principalmente nos eventos de implantação da Meta 97 e fortemente saliente na queda de
37% do índice de favorabilidade da ciclofaixa entre os anos 2014 e 2015. Ressalta-se que
o Plano Diretor de 2014 foi realizado com a participação popular, entretanto, não são
todos os grupos da sociedade que tem conhecimento ou participam deste evento. O Plano
Diretor e seu respectivo Plano de Mobilidade abrangem a cidade como um todo, sendo
esse um estudo de concepção para metrópole, sem definição, neste momento, de projetos
básicos.
As entrevistas realizadas na Praça Vilaboim tiveram resultados marcantes na
análise da influência dos stakeholders no projeto. Primeiramente, constatou-se que a
mobilização dos stakeholders provocou a alteração do projeto, sendo fundamental a
gestão dos stakeholders no planejamento do projeto para evitar alterações de escopo, que
comprometem o sucesso do projeto. Em segundo lugar, verificou-se a oscilação dos perfis
55
dos entrevistados após a alteração do projeto. Fica assim evidenciado que a análise dos
stakeholders e sua classificação é dinâmica e mutável ao longo do projeto. Finalmente,
gestão dos stakeholders pelos órgãos responsáveis se deu apenas para os stakeholders
reivindicantes, considerados aqui como stakeholders chave do projeto. Percebe-se que o
atendimento para apenas este grupo consolida a ideia de que a equipe do projeto avalia a
influência e relevância dos stakeholders, para o atendimento, ou não, de suas solicitações.
A análise de sucesso do projeto varia ao longo do período de levantamento dos
fatos. Inicialmente, devido a insatisfação dos afetados no local, o projeto era considerado
inapropriado. Porém, com a alteração do projeto, a ciclofaixa conquista uma maior
concordância dos afetados; com prejuízo de aumento de custos no projeto devido a
alteração do escopo, detrimento do prazo e, ainda, questionamentos sobre a efetividade
da ciclofaixa no local. Assim sendo, neste estudo, a ciclofaixa ainda não pode ser
considerada um projeto de sucesso por ferir diversos critérios de análise de sucesso. Como
boas práticas observadas de gestão de stakeholders em projetos tem-se a gestão do grupo
que se mobilizou pela alteração da ciclofaixa. Observa-se que os órgãos responsáveis
avaliariam a influência do grupo em questão, realizaram reuniões para identificação dos
interesses e mediaram uma solução em conjunto com este grupo. Em relação ao
questionário respondido pela CET, não fica claro se a companhia aplica alguma
metodologia de gestão de projetos, como as boas práticas do PMI, para gestão de projetos.
Foi possível confrontar as respostas dadas sobre a participação popular e comunicação
com os stakeholders, uma vez que esta não ocorre na Vilaboim.
O trabalho contribui para uma avaliação não só dos órgãos públicos, como
também, de todos os envolvidos em projetos, a respeito da gestão de stakeholders em
projetos. O estudo amplia o conhecimento na literatura sobre a influência dos
stakeholders em projetos e de como o julgamento dos stakeholders sobre o projeto é
alterado em relação ao tempo. Além disso, contribui para os estudos, ainda
contemporâneos, sobre gestão de stakeholders em obras públicas e sobre a análise dos
stakeholders na implementação da ciclofaixa na cidade de São Paulo.
Salienta-se nesse estudo as diferentes visões sobre o sucesso do projeto entre os
entrevistados. A CET considerou em sua argumentação a implementação e o
cumprimento das exigências do Plano Diretor e do Plano de Mobilidade. Já os
comerciantes avaliam os prejuízos causados no comércio, os transtornos decorrentes de
sua implantação e a falta de uso da ciclofaixa no local. Observa-se que a companhia
apenas verifica a execução do escopo do plano, porém, de acordo com os conceitos
56
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64
Fase: Controle
11)A companhia possui algum plano para controle dos stakeholders contrários ao
projeto?
12)É realizada a identificação e análise dos envolvidos no projeto durante
execução para controle de possíveis manifestações contrárias?
13)A empresa considera a ciclofaixa como um projeto de sucesso?