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OS MARINHEIROS não eram bem vistos na

Umbanda antiga ou tradicional. Isso quer dizer


que são impopulares até cerca as décadas de
1970 e 80.

Nas Tendas fundadas por Zélio de Moraes


se trabalha tradicionalmente com Caboclo,
Preto Velho e Criança; o mesmo acontecia
nas Tendas de Benjamim Figueiredo e do
Primado de Umbanda, no passado, assim
como na literatura de W.W. da Matta e Sil-
va que marca o seguimento da Umbanda
Esotérica.

Por isso, quase não há literatura umban-


dista sobre os Marinheiros. Vieram da
Umbanda Popular e se destacam tam-
bém no Catimbó (Mestres da Jurema),
Encantaria e estão presentes no Tambor
de Mina. Embora a linha é de “Marinheiros”
inclui pescadores e piratas.

O Marinheiro mais conhecido é o Martim Pescador,


que leva o nome de uma ave muito popular. O Sr.
Martim lembra que o pescador (marinheiro) é o
homem simples que vive no mar com suas rezas e
sua fé popular, vive do que a natureza lhe oferece.
No mar aprende a valorizar a
brisa, o sol, a lua e as estrelas
que lhe norteiam de dia ou de
noite. Da mesma forma, a terra
firme ganha novo sentido a
quem passa dias no mar sem
ver o continente. Esse sentido
e encantamento também é
oferecido por esta linda linha
de trabalhos.

Jesus era considerado o pes-


cador de almas e pescadores
eram deus discípulos, o que
deve nos fornecer uma pista
e um valor relacionado à linha.

Também são pescadores que popularizam o culto de Iemanjá


sincretizado com Nossa Senhora dos Navegantes na Bahia, e da
Bahia para o mundo com a popularização da imagem de Iemanjá
Branca ou Negra presente na Umbanda.

Eles trabalham a força do mar, da água e de Iemanjá, mas não para


por aí. Sua embriaguez é tão Sagrada quanto o vinho dos místicos
sufi ou o nirvana dos hinduístas.

Para o olhar profano estão bêbados, num olhar sagrado ou místico


estão embriagados da energia do mar, brincam com esta embria-
guez e desta forma vão trabalhando o equilíbrio de seu médium.
Equilibram sua água, suas emoções, espírito, mediunidade e etc.
Um amigo e sacerdote de Umbanda,
Ricardo Luiz, que sempre foi muito
curioso, me esclarece que seu Marinheiro o levou ao mar, pediu que
entrasse e colocando ele (Ricardo) dentro da parte de arrebentação
de ondas na altura de seu peito disse: “Aqui é nosso campo de
energia; nem na beira e nem no fundo. Aqui é onde você é levado
para frente e para trás; aqui onde não consegue ficar parado, nós
marinheiros trabalhamos.

Desta forma a movi-


mentação do Marinhei-
ro revela esse “quebra
mar”, “arrebentação”
ou simplesmente o vai e
vem das ondas que “leva
o que tem de levar e traz
o que tem de trazer”.

Sr. João do Mar: Mari-


nheiro que trabalha co-
migo costuma dizer e
repetir que o mar é a vida
(incontrolável), o navio
somos nós (médiuns), o
leme nossa mente, as
velas as emoções que se deixam levar ou não ao “sabor” do vento. E
desta forma, mar bravo, calmo, proa, balanço e navio são metáforas
da vida e da condição do médium diante da vida.

De tudo isso fica a frase final: “Mar calmo nunca fez bom marinhei-
ro”. Há ainda que se falar mais sobre piratas, linha de Marinheiro
como linha “intermediária” da Esquerda para a direita e filosofar
os conceitos de João do Mar.
O USO DE COLARES, pulseiras e ta-
lismãs é tão antigo quanto a própria
humanidade.

Todos os povos antigos pesquisa-


dos adotavam seu uso, seja con-
feccionados com pedras roladas,
seixos, dentes de animais, pérolas,
penas, sementes, pedaços de
ossos ou de madeiras esculpidas,
conchas, unhas de certos animais, cabelos humanos ou crinas de
animais trançados, etc. São tantas as coisas usadas na confecção
de colares que não nos é possível listar todas.

Seu uso com respeito, inclusive das peças confeccionadas de


forma rudimentar se perde no tempo, tendo começado em eras
remotas, quando ainda vivíamos em cavernas ou éramos nômades,
mas precisávamos de protetores contra o mundo sobrenatural
inferior ou contra o perigo de animais e insetos venenosos ou os
malefícios feitos por outras pessoas, etc.

Então, que fique claro aos umbandistas que o uso de colares ou


“guias de proteção” não é uma coisa só da Umbanda ou dos cultos
afros aqui estabelecidos. Inclusive, os índios americanos também
usavam e ainda usam, incluindo braceletes, pulseiras e talismãs,
tal como fazia e faz o resto da humanidade.

Os padres da Igreja Católica usam rosários, crucifixos pendurados


no pescoço (um colar, certo?), escapulários, etc., assim como todos
os sacerdotes da maioria das religiões atuais o fazem com suas
peças consagradas.
Enfim, não há nada de excepcional, incomum ou fetichista no fato
de os médiuns umbandistas usarem colares de proteção ou de
trabalhos espirituais quando incorporados pelos seus Guias.

Seu uso era tão comum na Antiguidade que originou a ourivesaria e


a joalheria como indústrias manufaturadoras de colares, pulseiras,
braceletes, talismãs, tiaras, etc., para atender aos sacerdotes e aos
fiéis mais abastados que preferiam ter objetos de proteção con-
feccionados com pedras e metais preciosos e de difícil aquisição
pelo resto dos membros dos clãs ou tribos do passado.

Reis, rainhas, príncipes, imperadores, ministros, etc., que forma-


vam a elite dos povos antigos, não usavam colares comuns ou
de fácil confecção, mas recorriam a artesãos especializados para
confeccioná-los, tomando a precaução de terem colares únicos
e de mais ninguém.

Cadáveres eram enterrados com colares, talismãs, etc., pois pre-


cisavam proteger seus espíritos no mundo dos “mortos”, assim
como haviam precisado deles aqui no mundo dos “vivos”, e isso
acontece até os dias de hoje na cultura ocidental cristã, na qual o
uso antigo de colares mágicos e protetores perdeu seus funda-
mentos, sendo substituídos por gravatas, lenços, cachecóis, fitas,
etc. que envolvem o pescoço dos vivos e dos cadáveres, certo?

Portanto, irmãs e irmãos umbandistas, não sintam constrangimento


por usar em público colares ou “guias”, pois não é em nada dife-
rente do que todo mundo faz.
corrente. Gordo, brincalhão e alegre,
era muito querido por todos. Dizia coisas desconexas.
Falando sobre preparação espiritual dos médiuns,
deixou escapar uma das suas marcantes falas:
- A gente lê, estuda e
aprende. Quando vem
o espírito, ele faz o que
quer, não adiantando
nada o que se aprendeu.
O Pai de Santo fechou a
cara, demonstrando sua
indignação pelo comen-
tário do festejado gordo,
principalmente por con-
tradizer tudo aquilo que
Fonte: www. paimaneco.org.br | Foto: Rogerio Scheibe ele pregava.
O Ferro costumava berrar, gritar, reclamar por tudo, mas tinha um
coração imenso. Toda aquela postura era mentirosa. Mas, filho de
Ogum não deixava as coisas para depois. Interrompeu e vociferou:
- Domingos, você é um burro! O médium tem que dar condições
ao espírito para poder extrair sua cultura. Na Umbanda chamamos
o médium de cavalo. Um cavalo bem domado, sabendo andar,
trotar e galopar, deixa ser montado e obedece às rédeas, facilita
ao cavaleiro. Quanto mais preparado, cultural e espiritualmente,
mais fácil para o espírito dar sua comunicação. Você é um imbecil!
Apesar da grosseria das palavras, todos, inclusive o Domingos,
acharam graça da forma do Pai de Santo expressar-se. Embora
comum e fundamental para a religião espírita, a incorporação de
um espírito com o médium é um grande mistério.
O Domingos acreditava que não adiantava nada o médium ter
cultura espírita. Já o Pai de Santo, com sua experiência, pregava
o contrário.
que entendi a incorporação
e a necessidade da preparação do médium.
Naquela ocasião ainda não conhecia o Andir de Souza, um expe-
riente Pai de Santo. Gosto de conversar com ele e, principalmente,
trocar ideias sobre a Umbanda. Falávamos sobre a mediunidade,
principalmente no que se refere à diferença da mesma entidade
incorporada em médiuns diferentes.
- É a terceira energia – disse.
- Terceira energia? Explique melhor - pedi.
- O espírito é uma energia e o médium é outra. Cada qual com
sua cultura, sensibilidade e conhecimentos. Um é um e outro é
outro. Entretanto, quando a entidade toma o corpo do médium,
essas energias se unem, formando uma terceira. Ambos estão
ali presentes, reunidos em uma só força. É como dois em um.
- Como o café com leite? - tentei ajudar.
- Sim, boa colocação – elogiou. O café
é uma bebida pura e o leite também. Os
dois juntos criam uma terceira bebida.
- Isso explica bem. Se a entidade incor-
pora em mim, ela fica com uma parte
que sou eu. Se incorpora em outro, fica
com uma parte do outro. Não pode ser
igual em dois médiuns diferentes. Falei,
para esclarecer minha compreensão.
- Isso mesmo, disse o Andir. Vamos imaginar um Exu, incorpora-
do em um médium manso, culto, amoroso, com sua aura limpa
e vibrante. E o mesmo Exu incorporado em um médium menos
preparado, violento, e cheio de ódio. Obviamente, no primeiro ele
vai trazer em sua manifestação toda esta parte boa do médium,
misturada em sua energia.
lutar para não deixar esta parte ruim
do médium se sobrepor à sua vontade.
Vai parecer, para quem conversar com os
dois médiuns, que não é a mesma entidade.
- O princípio do computador -completei. O espírito só pode tirar
do médium o que ele tem programado, como num computador.
Se seus arquivos são de má qualidade, só pode informar coisas
semelhantes. É, está bem esclarecido este ponto!
Enquanto voltava para casa, pensando na proveitosa troca de ideias
com o Andir, lembrei-me do Domingos.
- Pena que o Domingos já desencarnou, senão poderia explicar
para ele o que o Ferro não conseguiu...

O Terreiro do Pai Maneco foi fundado por


Pai Fernando de Ogum, (Fernando Macedo
Guimarães) em 1987 e pratica a Umbanda Pés
no Chão, sem misticismos.
E, mesmo após o seu desencarne em 2012,
a casa continua a ter como premissas a obe-
diência aos espíritos, o respeito à natureza
e ao livre arbítrio. Não permite a cobrança
por atendimentos, não faz amarrações,
adivinhações, tampouco usa sangue em
seus trabalhos.

O texto “Terceira energia” faz parte do excelente livro


“Grifos do Passado” de autoria do Pai Fernando Guimarães
e que pode ser baixado gratuitamente no site:
www.paimaneco.org.br
A GIRA ACABA, todos estão felizes e satisfeitos porque foi um
ótimo trabalho e muitos foram ajudados pela “caridade através
da incorporação do espírito”.

Alguns médiuns, rápido, vão embora, pois ainda têm compro-


missos. Outros também somem instantaneamente, pois estão
bem cansados e só pensam em chegar logo em casa. Ainda
tem aqueles que ficam sentados, relaxando e conversando,
comendo um lanche, pois estão há horas sem comer.

Mas há uns poucos médiuns que,


mesmo cansados, com fome, cheios
de afazeres em casa, nem bem ouvem
as palmas do “salve o fechamento dos
trabalhos” e já vão correndo buscar a
vassoura, pano, balde e rodo... Para eles,
a Gira ainda não acabou!

Todos os momentos do Ritual de Umbanda são sagrados e pos-


suem o seu axé todo especial – a abertura, a defumação, o bater
cabeça no altar, o incorporar o Orixá, o dar consultas incorporado
do Guia, o cambonear, o cantar na curimba, tudo é maravilhoso e
nos faz sentir Pai Olorum mais perto de nós.

Mas o que poucos sabem (e muitos nem querem saber!) é que há


um axé muito especial que só recebe quem limpa o chão de um
solo sagrado! É o “Axé da Gratidão” dos Pais e Mães Orixás e de
todos os Guias que compõem a egrégora do Templo!
Eles sabem todo o esforço que esses filhos fazem para varrer, lim-
par e deixar brilhante e perfumado o chão sagrado que lhes deu
local e oportunidade para fazerem a caridade por tantas horas.

Tenho certeza que se os Guias pudessem, com toda sua humilda-


de, consciência, energia e vontade, fariam eles mesmos a limpeza
física do Terreiro. Mas, impossibilitados pela condição de espíritos
desencarnados, inspiram seus filhos a terem essa iniciativa.

O médium vai limpando


e agradecendo, feliz, por
ter aquela Casa, aqueles
irmãos, aquele Dirigente
Espiritual, aquele traba-
lho lindo que acabou de
realizar...

O “Axé da Gratidão” o
envolve por inteiro num
abraço super protetor e
esse filho vai embora com uma energia extra para sua casa, sua
semana, sua vida!

É uma pena que nem todos enxerguem essa limpeza como um


importante ato devocional. Feliz daqueles que já enxergaram e
sabem trazer mais esse axé para suas vidas!
CERTO DIA um médium
de nossa casa pergun-
tou ao Sr. Tata Caveira
sobre o ritual de fecha-
mento de corpo para o
Carnaval.

Eis que o guardião chefe de nossa egrégora respondeu:

- As entidades que trabalham nessa Casa trazem as orientações


necessárias para que os filhos tenham condições suficientes
de administrarem seus discernimentos pelos caminhos que
percorrem.
A disponibilidade de energia para que as virtudes de cada um
sejam despertadas são suficientes, ou seja, a educação moral
e espiritual é aplicada com muita eficiência. Portanto, lhe digo
que não vou perder meu tempo e nem desperdiçar energias com
quem quer se sujar e se contaminar em lugares demasiadamente
poluídos energeticamente.
Nessa egrégora a qual faço parte, continuamos nosso trabalho
no Carnaval como é realizado em todos os outros dias. Quer se
divertir? Divirta-se e não há problema nenhum nisso. Tenham
cuidado apenas aonde ir e com quem ir. Quer exagerar? Aguente
as consequências. Quer ser radical? Pague o preço.

Laroyê!
31 DE DEZEMBRO, 15 de agosto, 8 de Dezembro, 2 de Fevereiro. Em
cada região e em cada Terreiro Iemanjá é concebida de uma forma.

Em 2 de fevereiro, algumas Casas saúdam o dia da Rainha do Mar


e a Orixá que é conhecida por seu aspecto maternal e gestativo,
reconhece formas de se manifestar por entre as culturas.

Ta m b é m n e s t e d i a a
comemoração mais ex-
pressiva é a Festa do Rio
Vermelho. A colônia loca-
lizada em Salvador (BA)
começa sua história com
Iemanjá, em 1923, quando
um grupo de pescadores
que sofriam com a es-
cassez de peixes decidiu
presentear a Orixá.

Naquela época, a festa era feita em conjunto com a Igreja Católica,


contando com a presença do pároco do bairro. Porém, 37 anos de-
pois, um dos padres regentes se opôs às homenagens, afirmando
que elas simbolizavam um equívoco da comunidade que beiravam
a ignorância ao creditar à Deusa seus ganhos.

Após isso, houve o rompimento dos pescadores com a Igreja Ca-


tólica e a festa passou a ser exclusivamente voltada à Rainha das
Águas salgadas, a quem eles agradeciam anualmente pela pesca
e a tranquilidade do mar.
Iemanjá e Maria
Na Umbanda, a assimilação da Orixá com Maria (santa católica)
tem origem na fundação da religião. Quando Zélio Fernandino
incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas (figurativamente
representante do índio brasileiro) que anunciou o início de uma
nova confissão de fé, ele também apresentou fortes característi-
cas católicas, revelando já ter sido encarnado como Frei Gabriel
Malagrida.

Desde sua anunciação até o que


se concebe hoje da religião, ela
sincretiza com o catolicismo – e
também com outras manifesta-
ções de fé. Isso é evidenciado
nos nomes que os Templos
que sucederam a anunciação
ganharam.

Exemplo: “Tenda Nossa Senho-


ra da Conceição”, “Tenda Nossa
Senhora da Guia”, “Tenda de
Nossa Senhora da Piedade” – dentre outras denominações – e
no altar umbandista que na maioria dos Terreiros é composto por
imagens de Orixás e de santos católicos.

O sacerdote Alexandre Cumino aborda essa questão no curso


Teologia de Umbanda, dissertando em um dos textos a seguinte
percepção:
“A cultura do branco, do negro e do vermelho se encontraram
de forma particularizada em diferentes regiões deste continente.
E assim chegou Maria ao Brasil, onde foi acolhida também pela
religiosidade popular, associada e comparada com divindades e
entidades do mundo mítico afro-indígena. Neste contexto, também
a Umbanda, nascida da miscigenação tão brasileira no seu jeito de
ser, é fruto de mitos, ritos e os mais variados símbolos.”

Isso explica boa parte das várias faces que Iemanjá possui no Brasil,
sendo comemorada de diversas formas, dias, nomes, preceitos
e particularidades. A importância da Orixá dentro da Umbanda
é algo eminente, tanto que ela é a única Orixá que possui uma
imagem própria dentro da religião (os outros Orixás compartilham
de imagens de outras vertentes).

Na Umbanda, Iemanjá veste um longo vestido em tons azuis que


se funde com as ondas do mar, de onde ela vem caminhando com
as mãos espalmadas distribuindo pérolas pelo caminho. Seus ca-
belos são negros e longos, sua pele é clara e a Rainha das Águas
é uma mulher alta e de seios fartos. Mas, como dito, esse é um dos
semblantes em que ela é reproduzida e independente das formas
de se entender e sentir Iemanjá, hoje também é dia de saudar a
Rainhas das águas. O’doyá minha Mãe!
UM DOS FILÓSOFOS mais requisitados
no momento, Leandro Karnal, cunhou o
termo acima: customização da fé. Em um breve vídeo no YouTube
ele trata sobre a maneira singular que nós, brasileiros, lidamos
com as religiões que escolhemos seguir. Para ele, aparentemente
somos incapazes de seguir um dogma à risca e escolhemos o que
nos agrada na religião e simplesmente descartamos o que não
concordamos.

Quer um exemplo simples? O ato de se con-


fessar na Igreja Católica. Hoje muita gente
afirma ser católico, frequenta missas, lê a
Bíblia (em momentos difíceis) e passa longe
de um confessionário. ‘Pra quê se confes-
sar? Vai adiantar contar meus pecados para
o padre? Ele não é Deus!’

Confesso que já ouvi algo similar a isso,


não exatamente com estas palavras... Se
focalizarmos na Umbanda, aí sim é que
o ‘samba do criolo doido’ impera, não é
mesmo? Sim e não. Explico.

A verdade é que a Umbanda não é (e dificilmente será) uma reli-


gião dogmática, doutrinária ou centralista. Desde o princípio, sua
forma livre de se apresentar, seus ensinamentos passados quase
sempre de forma oral, construíram uma religião aberta, agrega-
dora e completamente customizada de acordo com cada novo
Terreiro que surgia.
‘Taí o samba do criolo doido’,
diriam vocês. Sim, é isso
mesmo. Com tanta liberdade
de culto interna, a Umbanda
nasce e se desenvolve livre,
deixando o campo aberto
para que cada umbandista
pratique sua fé da maneira
que quiser.

Por outro lado, a customização da fé na Umbanda é uma dádiva, um


elemento inovador. Sentir e praticar a fé da maneira como melhor
quisermos é uma benção por si mesma.

Orar para este ou aquele Guia ou Orixá de preferência; acender ou


não velas; fazer ou não fazer oferendas; ter ou não ter um altar em
casa; frequentar ou não seu Terreiro predileto; estudar muito ou
pouco sobre a religião e muitas outras escolhas cotidianas mostram
que o umbandista continua sendo livre e faz da Umbanda a sua re-
ligião, viva, customizada e fonte de luz e felicidade para a sua vida.

Em um mundo tão diverso, tão cheio de possibilidades, porque


se prender a um único e engessado modo de professar sua fé?
A Umbanda é um exemplo de religião pulsante, viva e ativa em
cada um de nós que, ainda assim, continuamos seguindo sua
ritualística com muita fé, reunindo-se com os demais irmãos
e irmãs ao som dos atabaques e Pontos Cantados, vibrando a
energia positiva divina que todos carregamos.

O que poderia nos separar, na verdade, nos une.


Iemanjá é mulher forte,
que não se rende a nada.

Iemanjá chora quando


vê o filho perto d`água.

Iemanjá é rainha que


carrega o mar na coroa.

Iemanjá, mulher guerreira,


que não sabe ficar à toa.

Iemanjá é mãe que não


aguenta ver o filho chorar.

Iemanjá o abraça e o
nina até cochilar.

Iemanjá é soberana,
não aceita desaforo.

Iemanjá se rende pelo bem do seu tesouro.

Iemanjá sofre com a dor da humanidade.

Iemanjá reza para que a paz venha de verdade.

Iemanjá canta e com isso me faz cantar.

Iemanjá é a onda que no rochedo se faz ecoar.

Iemanjá quer vida, nunca a morte e a guerra.


povoou toda a Terra.

Iemanjá é mãe de todos os encarnados.

Iemanjá sofre quando o filho lhe é ingrato.

Iemanjá, meu coração é feito de água salgada.

Iemanjá, a ti pertenço e hoje tu és minha morada.

Iemanjá, me deste a sua estrutura.

Iemanjá, sou feito de toda força e doçura.

Iemanjá, não tema nunca vou te abandonar.

Iemanjá, eu te amo e para sempre vou te amar....

Minha declaração de amor


à Mãe que sempre me conteve
nos braços quando eu não
parava de chorar. E que sempre
me diz ‘respira’ quando estou
prestes a me afogar.
Mais que uma força, é parte de
mim. Rainha do oceano de da
minha alma, enfim...

Odociaba!
O PSICANALISTA e teórico suíço Carl Gustav Jung, em suas obras,
trata de um tema que nomeou de inconsciente coletivo: morada
das memórias mais remotas da humanidade como um todo, incluin-
do memórias representadas por símbolos e imagens que recebem
o nome de arquétipos. Animal de Poder é um destes arquétipos.

Diferentemente do inconsciente
pessoal que guarda resquícios
do dia a dia somado a ideias
e sentimentos reprimidos, o
âmbito coletivo da parte des-
conhecida da mente humana
pertence a todos nós, ainda que
não tenhamos consciência disso.
Sendo assim, mesmo sem que-
rer, recebemos esses registros
via universo como uma herança compulsória.

Nossos antepassados da pré-história – e posteriormente da Antigui-


dade – nos deixaram muitos registros de animais e seres mitológicos
em paredes de cavernas.

A relação do homem com o animal naqueles tempos era bastante


diferente, uma vez que conviviam de modo muito próximo e, por
toda a simplicidade do contexto material destes povos, enxergavam
o animal como um irmão e não como um objeto. Era como um irmão
mais velho, com muito a ensinar, cheio de poderes, inteligência e
habilidades, que no contexto do xamanismo damos o nome de
medicinas.
Estas medicinas inerentes aos animais (animal de poder), pouco a
pouco foram sendo integradas pelo homem através da observação
e imitação desses ensinamentos. A proximidade entre homem e
animal os colocou em tamanha comunhão a ponto de conseguirem
se comunicar e fortalecer tal relação.

Há relatos e registros de como nós,


humanos, trazemos a força animal
para nossas vidas. Sem ir muito longe,
dinastias e reinos usaram figuras de
animais em seus brasões; as fábu-
las que ouvimos na escola quando
pequenos; as formas de expressão
que usamos sem perceber durante o
dia como “trabalho de formiguinha”,
“memória de elefante”, “fulano é um
touro”, são evidências de que, no fundo, compreendemos que a
fauna não é tão irracional quanto julgamos.

Nós, sujeitos da contemporaneidade, carregamos o legado deixado


pela sabedoria dos animais sem saber, por estarmos em um nível
profundo de nossa consciência. No entanto, os povos nativos e as
resistências atuais destes grupos codificaram essas forças e as
preservaram através da crença nos Animais de Poder, espíritos
naturais que representam as espécies do Reino Animal, e não o
espírito da águia, ou da onça que morreu, mas o espírito da espécie
águia ou da espécie onça como um todo.
O fato destes espíritos da natureza
representarem uma crença mundial
de tradições primevas faz com que
tais energias sejam compreendidas,
também, como arquétipos, pois com-
põem parte dos registros arcaicos do
inconsciente coletivo.

Contudo, para os povos xamânicos, tais espíritos são mais que isso,
podendo assumir a função de guias, professores, curadores e, é
claro, amigos, que se manifestam com o intuito de dar respaldo ao
xamã em seu trabalho, o protegendo e orientando.

Não só o xamã, mas todos, sem ex-


ceção, possuem um aliado animal.
Tal descoberta chegou até nós
recentemente graças à populari-
zação, muito positiva inclusive, do
xamanismo nos centros urbanos.

O animal de poder, com suas medi-


cinas, não é uma força exterior a nós,
mas algo que faz parte de quem
somos individualmente, as potên-
cias e talentos de nosso animal são
compartilhadas conosco.

Embora muitas pessoas tenham a curiosidade de conhecer seus


animais, nem todas compreendem a importância desta revelação.
Um animal de poder não é um amigo imaginário, tampouco um
atributo para elevação do ego humano; é um aliado, um espirito
natural poderosíssimo que requer respeito e reverência, o que não
configura fanatismo ou adoração.

A melhor forma de honrar seu espírito


animal é invocando-o, sempre res-
peitosa e humildemente, através de
cantos ou mesmo de chamamentos
mentais ou visualizações.

A importância do encontro com esta


forma de vida imaterial se dá pela
possibilidade de autoconhecimento, e
consequente conscientização acerca
de minha natureza mais profunda,
sem falar no sentimento de unidade
que resulta da aproximação com esta
energia, capaz de diluir a segregação
homem-animal, possibilitando a
compreensão da natureza como um
organismo uno, do qual fazemos parte.

Portanto, se você ainda não conhece


seu Animal de Poder, sinta no coração
a possibilidade de agregar esta força a seu campo; e, para aqueles
que já o conhecem, cabe repensar sua relação com esta força,
pois uma boa parceria com seu aliado pode ser a peça do quebra-
cabeça que estava faltando.
“Se você, ao entrar em um Terreiro,
pede licença e saúda os assentamentos
e firmezas da casa;

*Se você, ao ficar diante de um Preto Velho,


se ajoelha e pede sua benção;

*Se você, ao se afastar de um Guia ou do altar,


sai de costas e permanece de frente para o altar;

*Se você, ao conversar com uma entidade,


se curva e abaixa o olhar em sinal de respeito;

*Se você, ao tomar um passe, agradece de


coração a entidade que o atendeu;

*Se você, ao ganhar de um Guia um gole


de sua bebida, pega sempre o copo com as duas mãos;

*Se você, ao ser convocado para um trabalho difícil,


não se envaidece e se prepara com amor;

*Se você, ao ser corrigido por seu Pai/Mãe de Santo


não se enfurece, mas entende que é para sua evolução;

*Se você, ao encontrar seu Pai/Mãe de Santo,


toma sua benção, seja onde for;

*Se você, ao cantar determinados Pontos de


Umbanda ainda se emociona como no início;
*Se você, ao perceber um erro
de alguém, não critica, mas procura
orientar da forma adequada;

*Se você, ao não entender um ensinamento ou doutrina,


questiona, pergunta, ao invés de fingir que entendeu;

*Se você, ao ouvir comentários desnecessários


dentro do Terreiro os ignora e não se envolve;

*Se você, ao faltar à Gira ou em algum trabalho,


pede desculpas aos seus Guias por sua falta;

*Se você, ao fim de um culto ou trabalho


fica feliz e ansioso pelos próximos compromissos;

*Se você, ao invés de priorizar as amizades


com irmãos de santo, prioriza a Casa que o desenvolve;

*Se você, ao se sentir fraco, busca


a ajuda de sua Casa ao invés de se afastar dela;
*Se você, ao presenciar algum
problema em sua Casa, não se omite
e toma as devidas providências, mostrando-se atuante;

*Se você preocupa-se tanto com o


seu próprio desenvolvimento quanto com o dos outros;

*Se você tem respeito e amor verdadeiro


por sua Casa e entende o quão é difícil
em vários momentos mantê-la...

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