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MARTINE MÉHEUT
RESUMO
O primeiro aspecto é sobre justificação 'a priori'. Vamos propor um quadro geral que
pode ajudar a tornar os princípios subjacentes ao projeto de uma sequência clara, e assim situar
várias sequências de ensino-aprendizagem sobre o mesmo domínio de conhecimento. Esse
quadro pode ser útil tanto para os investigadores,para fazerem as suas escolhas e hipóteses
mais explícitas,quanto para os professores,que escolherem as abordagens possíveis.
1. INTRODUÇÃO
Voltando aos anos setenta e início dos anos oitenta, podemos lembrar a importância da
investigação sobre concepções espontâneas e formas comuns de raciocínio dos alunos. A
questão então levantada: como levar em conta esses elementos de informações para o ensino?
Na tentativa de dar respostas a esta importante questão, muitas sequências de ensino-
aprendizagem (TLS) foram desenvolvidas e experimentadas em salas de aula.
É possível agora identificar os quadros gerais que poderiam ser utilizados por
pesquisadores para desenvolver essas sequências?
O que estamos fazendo quando experimentamos com essas sequências? Que tipo
de resultados podemos buscar?
Estas são duas perguntas que eu gostaria de discutir agora à luz de numerosos
elementos de trabalhos de investigação que foram desenvolvidos ao longo de um período de
cerca de vinte anos. Estas perguntas formaram os temas de um Simpósio Internacional em Paris
MÉHEUT, M. Teaching-learning sequences tools for learning and/or research. In:
BORESMA, K; et al (eds.) Research and Quality of Science Education. Holanda: Spring,
2005, p. 195-207. Livre tradução de Celso José Viana Barbosa.
(Méheut & Psillos, 2000) e de uma oficina durante a Conferência ESERA em Thessaloniki (Psillos
& Méheut, 2001). Durante essas reuniões contribuições foram apresentadas e discutidas, as
quais foram publicadas em uma edição especial da revista International Journal of Science
Education.
A fim de caracterizar várias abordagens, vamos começar com um modelo muito simples
de situações de ensino-aprendizagem. Este primeiro modelo (Figura 1) implica em quatro
componentes: professor, alunos, mundo material, e conhecimento a ser desenvolvido.
Esta representação pictórica nos permite organizar várias considerações que podemos
colocar em prática quando se projeta uma TLS. O eixo vertical representa uma dimensão
epistêmica, ou seja, como o conhecimento funciona em relação ao mundo material. Ao longo
deste eixo, podemos encontrar pressupostos sobre métodos científicos, processos de
elaboração e validação do conhecimento científico. O eixo horizontal representa a dimensão
pedagógica. Nós encontramos ao longo deste eixo escolhas sobre uma das atuações do
professor, tipos de interações entre professor e alunos, e perto do vértice "estudantes", nós
podemos colocar o que se espera sobre as interações entre os alunos. Usando este quadro,
podemos caracterizar duas abordagens preliminares na concepção de sequências de ensino-
aprendizagem.
Qual pode ser o papel do professor em tal abordagem, e com que tipos de
intervenções?
Alguns suportes podem ser encontrados em estruturas metodológicas gerais, tais como,
por exemplo a "abordagem da problematização", como apresentado por Piet Lijnse neste
volume ou o quadro de "Reconstrução Educacional", apresentado por Kattmann et al. (1995).
Vamos considerar também o quadro da "Engenharia Didática", desenvolvido por pesquisadores
de educação matemática (Artigue, 1988). Três dimensões principais para análise a priori são
sugeridos:
- uma "dimensão epistemológica" que analisa o conteúdo a ser aprendido, os problemas que
eles podem responder, sua gênese histórica;
Estas análises a priori são entrelaçadas, a fim de definir com precisão "problemas" a serem
gerido pelos alunos e antecipar a elaboração do conhecimento pelos alunos por meio desses
"problemas". Uma comparação dos itinerários cognitivos, realmente observados, com aqueles
previstos pode validar ou confrontar as hipóteses envolvidas na construção de situações de
aprendizagem. De acordo com a "Reconstrução Educacional", como a "Engenharia Didática",
grande atenção é dada à análise do conhecimento científico, colocada em jogo de um lado, e
as dificuldades de aprendizagem, concepções e formas de raciocínio dos alunos, do outro lado.
Além disso, percebe-se que o quadro da "Engenharia Didática" inclui restrições institucionais,
enquanto que na "reconstrução educativa" os aspectos motivacionais e significados sociais do
conhecimento são enfatizados.
Devemos lembrar que não encontramos muitos trabalhos de pesquisa que propõe e
analisam, com precisão, as intervenções do professor durante uma determinada TLS. Mais
atenção tem sido dada novamente a este vértice do nosso "losango didático" por alguns
pesquisadores (Dumas-Carré & Weil-Barais, 1998; Leach & Scott, 2002) referentes a uma
abordagem Vygotskyniana, mas esta dimensão parece ser considerada ainda distante de uma
maneira geral que é independente de outras dimensões de uma dada TLS.
Nós podemos agora olhar para diferentes pontos de vista sobre a validação de uma sequência
de ensino-aprendizagem: o primeiro pode ser considerado uma avaliação "externa" ou
"comparativo"; o segundo é um pouco "interno". Ambos os pontos de vista podem ser
considerados como complementares.
Avaliação comparativa
Na maioria dos casos, TLS são avaliadas por um procedimento pré-teste/pós-teste (ver, por
exemplo Minstrell, 1992; Nikolopoulou, 1993; Ravanis & Papamichael, 1995; Kariotoglou,
Koumaras & Psillos, 1995; Psillos, 1998; Chang & Barufaldi, 1999), numa tentativa de comparar
os efeitos de uma pesquisa TLS com aquelas de ensino habitual.
O primeiro refere-se aos objetivos: Nós comparamos duas formas de ensino em relação aos
nossos próprios objetivos, mas são os objetivos do ensino habitual, o mesmo que o nosso? O que
aconteceria se nós avaliássemos ambas as sequências no que diz respeito aos objetivos do ensino
habitual?
Validação interna
Outra abordagem é analisar os resultados das nossas TLS com relação aos nossos objetivos. Isto
pode ser feito de várias maneiras (ver, por exemplo Dekkers, 1993; Mortimer, 1993; Andersson
e Bach, 1996; Asoko, 1996; Boohan, 1996), não só por meio de procedimentos pré-teste/pós-
teste, mas também observando os "caminhos da aprendizagem" dos alunos ao longo da
sequência de ensino-aprendizagem (por exemplo, ver Duit, Goldberg & Niedderer, 1992 (Parte
3); Arnold & Millar, 1996; Petri & Niedderer, 1998; Welzel, 1998; Aufschnaiter & Welzel, 1999;
Psillos & Kariotoglou, 1999).
Vamos agora ilustrar alguns aspectos das considerações anteriores, referindo-se a concepção e
validação de sequências de ensino-aprendizagem que desenvolvemos sobre modelos de
partículas (Méheut & Chomat, 1990; Méheut, 1997).
Podemos considerar a concepção dessa sequência como enraizadas sobre o ponto de vista de
uma abordagem "construtivista integrada".
Vamos agora concentrar a nossa atenção sobre as experiências com a segunda sequência.
O experimento incluiu várias etapas. A primeira etapa consistiu em entrevistas de cinco pares
de estudantes; estas entrevistas foram divididas em duas sequências de quase três quartos de
uma hora cada, e foram gravadas em fita cassete. A segunda etapa foi a implementação de uma
sequência de aprendizagem de nove horas em dezesseis classes de segundo ano em escolas
secundárias francesas. Reunimos dados ao longo de toda a sequência através da recolha do
trabalho escrito: nove folhas para cada aluno. A análise foi feita sobre o trabalho de dez
estudantes, selecionados aleatoriamente de cada classe (ou seja, 160 alunos). Em uma terceira
etapa, dois anos depois de termos experimentado com esta sequência de aprendizagem,
reunimos algumas informações adicionais. Fizemos isso por dois motivos. O primeiro foi para
averiguar e esclarecer alguns resultados obtidos pela análise dos dados recolhidos durante as
entrevistas e a sequência de sala de aula; o segundo foi avaliar a efeitos a longo prazo do
presente processo de aprendizagem.
Alguns resultados
A análise dos dados coletados durante as entrevistas forneceu informações sobre a forma como
os alunos levaram em conta as variáveis do modelo por meio do desenvolvimento de explicações
e previsões em relação aos vários fenômenos e perguntas. Isso nos permitiu elaborar os
percursos de aprendizagem que os alunos seguiram em toda as situações de ensino-
aprendizagem. Alguns passos-chave aparecem nestes percursos de aprendizagem:
- Considerando não só a ação de uma amostra de gás, mas as ações de duas amostras de gás e
comparando-as para explicar os acontecimentos, devido as diferenças de pressão;
- Levando em conta não somente a frequência, mas também a “força” de impacto das partículas
para explicar e prever fenômenos de pressão.
A análise dos dados recolhidos após as sequências de sala de aula dá informações sobre
a eficácia, a curto prazo e a longo prazo, desta sequência de aprendizagem. Por exemplo, a fim
MÉHEUT, M. Teaching-learning sequences tools for learning and/or research. In:
BORESMA, K; et al (eds.) Research and Quality of Science Education. Holanda: Spring,
2005, p. 195-207. Livre tradução de Celso José Viana Barbosa.
de avaliar a eficiência do modelo de partículas construído pelos estudantes como resultado
desta sequência, demos aos alunos experimentos que foram um pouco diferentes daqueles que
eles simularam durante a sequência. Em ambos os experimentos, o número de argumentos dos
alunos que levou em conta a ideia de partícula foi um pouco mais da metade. Entre estes, o
maior número (34%) em comparação com as frequências de impactos. As previsões estavam
corretas para uma grande maioria dos alunos (mais de 80%). Dois anos mais tarde, os alunos
que frequentaram esta sequência de aprendizagem utilizaram um modelo de partículas mais do
que os alunos que não frequentaram (cerca de 20% a mais).
A análise dos dados forneceu evidências sobre as hipóteses subjacentes à escolha dos
fenômenos e das perguntas. Por exemplo, na escolha das perguntas, formulamos a hipótese de
que os estudantes levam em conta e comparam as ações exercidas por dois sistemas mais para
o fim de uma ação do que para uma mudança dela. As análises dos dados estão de acordo com
esta primeira hipótese.
6. CONCLUSÃO
Olhando para trás, o projeto dessas sequências, consideramos que ele se encaixa no quadro
metodológico "engenharia didática" (Artigue, 1988). Dois componentes deste quadro, o psico-
cognitivo e as questões epistemológicas foram desenvolvidos e integrados em um processo não
muito longe de um processo de "reconstrução educativa" (Kattman et al., 1995). Referindo-se a
uma metodologia de "engenharia didática" faz parecer que um componente é mal explicado,
tendo em conta os vínculos institucionais. Em referência a um modelo de "Reconstrução
Educacional", fica claro que, se o sentido cognitivo e epistemológico de conhecimento a ser
desenvolvido pelos alunos é precisamente situado, mais atenção deve ser dada à importância
pragmática e social dos problemas e questões a serem resolvidas.
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