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Sistema computacional para análise não linear

de pilares de concreto armado


Software for nonlinear analysis of reinforced concrete columns

Sander David Cardoso Júnior (1); Alio Ernesto Kimura (2)

(1) M.Sc., Eng. Civil - Prof. Instituto Mauá de Tecnologia - Sócio da EGT Engenharia, São Paulo, Brasil.
(2) Eng. Civil - Sócio da TQS informática, São Paulo, Brasil.
Endereço para correspondência: sander@pcalc.com.br

Resumo
O objetivo principal deste trabalho é apresentar um aplicativo que resolve numericamente o problema da
flexão composta oblíqua e explora todos os métodos que a norma ABNT NBR 6118 dispõe para avaliação
dos efeitos locais de segunda ordem em pilares. O mesmo também está apto a realizar análise de pilares
com resistência característica à compressão do concreto superior a 50 MPa, sendo que, neste caso, foram
adotadas as formulações presentes no Projeto de Revisão da ABNT NBR 6118. Tal aplicativo, denominado
de P-Calc, foi desenvolvido em linguagem Java e está disponibilizado na página da internet
www.pcalc.com.br.
Palavra-Chave: pilares de concreto armado; flexão composta oblíqua; não linearidade física e geométrica.

Abstract
The main goal of this study is to show a software for numerical solution to the biaxial bending and axial load
problem and examine all methods included in Brazilian Code ABNT NBR-6118 (Design of concrete
structures - Procedure) for solving the nonlinear conditions in columns. The software is also able to perform
column analysis with concrete characteristic compressive strength greater than 50 MPa adopting, in this
case, the formulation proposed in the draft revision of ABNT NBR 6118. This software, named P-Calc, uses
Java language and is available in website www.pcalc.com.br.
Keywords: reinforced concrete columns; biaxial bending and axial load; physical and geometric nonlinearity.

1 Introdução
O estudo de pilares de concreto armado submetidos à flexão composta oblíqua,
considerando corretamente a não linearidade física e geométrica, envolve um grande
número de cálculos numéricos e só é viável através de algoritmos computacionais.

Na prática, o que se faz hoje é uma análise oblíqua “simplificada”, onde os efeitos de 2ª
ordem são calculados considerando separadamente as duas direções. Somente ao final,
deve ser verificada se a composição desses momentos fica dentro da envoltória de
momentos resistentes para a armadura escolhida.

Além de passar de forma extremamente sucinta pelos aspectos teóricos já mencionados,


este texto apresenta o sistema computacional desenvolvido para análise de pilares de
concreto armado, onde são mostradas suas principais características, juntamente com
uma breve validação de seus resultados.

ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 1


2 Flexão composta oblíqua
Normalmente, em estruturas de concreto armado, os pilares estão submetidos a
solicitações compostas por um esforço normal agindo fora dos eixos de simetria da seção
transversal. O momento fletor causado por esta excentricidade do esforço normal pode
ser decomposto em duas direções perpendiculares e coincidentes com os eixos de
simetria da seção.

Para uma seção discretizada em n elementos de concreto e m barras de aço, as


equações de equilíbrio da seção submetida à flexão composta oblíqua podem ser
expressas conforme a Figura 1 a seguir:

N    ci Aci    sj   cj  Asj
n m
(Equação 1)
i 1 j 1

M x    ci Aci y ci    sj   cj  Asj y sj
n m
(Equação 2)
i 1 j 1

My    ci Aci xci    sj   cj  Asj xsj


n m
(Equação 3)
i 1 j 1

com:
i = 1, 2,...n elementos de concreto;
j = 1, 2,...m barras de aço.
Figura 1: Discretização da seção de concreto e equações de equilíbrio

Nas equações 1 a 3, os valores de tensões na armadura (sj) e no concreto (ci e cj) são
dados através dos diagramas tensão-deformação dos materiais. Para o aço pode ser
adotado o diagrama bi-linear presente no item 8.3.6 da ABNT NBR 6118:2007. Já para o
concreto, o projeto de revisão da ABNT NBR 6118 incorpora alterações no diagrama
tensão-deformação do concreto, de modo que este passa a considerar também concretos
de alta resistência (CAR), conforme a Figura 2.

Figura 2: Diagrama parábola-retângulo para concreto à compressão


(Projeto de Revisão da ABNT NBR 6118)
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No Estado Limite Último, o esgotamento da capacidade resistente da seção se dá quando
é caracterizada uma distribuição de deformações dada por uma reta que passa
necessariamente por um dos pontos A, B ou C da Figura 3, podendo a ruptura ocorrer
tanto pelo esmagamento do concreto quanto pela deformação plástica excessiva da
armadura.

Figura 3: Domínios de estado limite último de uma seção transversal


(Projeto de Revisão da ABNT NBR 6118)

3 Não linearidade física e geométrica


Considere o pilar indicado na Figura 4, submetido a uma força normal P e a um momento
fletor M. A ação do momento fará com que o pilar sofra um deslocamento w(x). Em uma
análise do pilar em sua configuração deformada, observa-se o surgimento de momentos
adicionais, iguais a força P multiplicada pelo deslocamento w(x). Estes momentos são
denominados de momentos de 2ª ordem.

Figura 4: Momentos de 1ª e 2ª Ordem para pilar em balanço

Uma vez que o equilíbrio deve ser garantido na configuração deformada da barra, o
problema recai em uma análise não linear. Esse comportamento é decorrente da não
linearidade física e da não linearidade geométrica.

A não linearidade física é consequência dos materiais não apresentarem um


comportamento elástico perfeito, como pode ser observado nos diagramas tensão-
deformação dos materiais. Ainda, outros fatores influenciam no comportamento não linear
do concreto, como por exemplo, o efeito da fissuração e da fluência.

Já a não linearidade geométrica, é consequência das deformações provocarem esforços


adicionais à medida que um carregamento é aplicado.
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Na análise de pilares de concreto armado, a consideração da não linearidade física e
geométrica de forma não aproximada envolve um grande número de cálculos numéricos e
só é viável através de algoritmos computacionais. Para contornar esta dificuldade,
diversos métodos que tratam o problema de maneira aproximada são encontrados na
literatura e em normas de projeto.

A norma ABNT NBR 6118 apresenta os seguintes métodos para consideração dos efeitos
locais de 2ª ordem:

 Pilar-padrão com curvatura aproximada;


 Pilar-padrão com rigidez  aproximada;
 Pilar padrão acoplado a diagramas M-N-1/r;
 Método geral.

Cada um desses métodos possui limitações próprias, e por isso, podem ser aplicados
desde que a esbeltez do pilar esteja dentro de determinados limites.

4 Sistema P-Calc
O programa, implementado na linguagem Java®, foi desenvolvido para análise de pilares
submetidos à flexão composta oblíqua com a consideração da não linearidade física e
geométrica. O usuário pode escolher entre os quatro métodos propostos pela ABNT NBR
6118 para consideração destes efeitos locais de 2ª ordem.

4.1 Janela principal


A janela principal do aplicativo, Figura 5, é organizada de uma forma prática, com acesso
rápido a todas as entradas de dados e saída de resultados.

Figura 5: Janela principal do P-Calc

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4.2 Entrada de dados
A entrada de dados do programa está dividida em três partes:

a) Geometria
Nesta janela são informados o tipo de seção transversal, a vinculação do pilar bem como
seu comprimento e a resistência à compressão do pilar fck.

Inicialmente, estão disponíveis as seguintes seções transversais:

Figura 6: Tipos de seções transversais

Os tipos de vinculações disponíveis são: pilar em balanço e pilar biapoiado. Ainda, é


possível fazer uma análise somente da seção transversal, na opção única seção.

b) Armação
A armação é inserida por meio de coordenada, informando seu diâmetro. Esta pode ser
inserida individualmente ou por uma linha de barras, informando a quantidade de barras e
as coordenadas das barras inicial e final da linha.

c) Solicitações
Como entrada de solicitações são informados a força normal e os momentos no topo e na
base segundo as direções x e y. Ainda, é possível resolver de forma simultânea mais de
uma combinação de solicitações, com o programa identificando a combinação mais
desfavorável.

4.3 Saída de resultados


Basicamente, os resultados e verificações do programa são apresentados na seguinte
forma:

a) Diagrama de interação
A verificação quanto ao Estado Limite Último se faz por meio do diagrama de
interação, que são curvas envoltórias resistentes. Se um ponto, representado pelos pares
de momentos solicitantes de cálculo, cair dentro do diagrama, a segurança estará
garantida, pois os esforços solicitantes são inferiores aos esforços resistentes.
Analogamente, se o ponto cair fora do diagrama, a segurança não estará garantida. Um
esquema desta verificação é apresentado na Figura 7.

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Figura 7: Diagrama de interação esforço normal - momento fletor

b) Não linearidade geométrica


Como mencionado anteriormente, o programa calcula os esforços de segunda ordem de
acordo com os quatros métodos presentes na ABNT NBR 6118. A consideração da não
linearidade geométrica pode ser feita através do método pilar padrão ou método geral. As
Figuras 8 e 9 apresentam os esforços para cada um destes métodos, respectivamente.

Figura 8: Esforços com método pilar padrão Figura 9: Esforços com método geral

c) Não linearidade física


Além de considerar a não linearidade por meio da curvatura ou rigidez aproximadas, o
programa traça o diagrama N, M, 1/r, determinando a rigidez do pilar EIsec diretamente no
gráfico. A Figura 10 apresenta este diagrama, juntamente com o valor da rigidez EIsec.

Figura 10: Diagrama N, M, 1/r

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5 Exemplo numérico
Nos próximos subitens serão construídos alguns exemplos numéricos para uma seção de
concreto armado típica, variando a resistência característica à compressão do concreto e
a força normal de cálculo atuante. Em todos os exemplos a geometria da seção
transversal e a armação serão constantes, de tal forma que é possível fazer as seguintes
considerações iniciais:

Figura 11: Seção típica para os exemplos numéricos

5.1 Exemplo numérico: Flexão composta oblíqua


Com o intuito de validar o sistema desenvolvido, foram comparados diagramas de
interação obtidos utilizando os sistemas P-Calc e CAD/TQS. Estes diagramas são
apresentados nas Figuras 12 a 14 e foram obtidos considerando concreto com fck de 30,
60 e 90 MPa, com solicitação normal de cálculo igual a -2000 kN e -4000 kN.

Figura 12: Diagrama de interação para concreto com fck igual a 30 MPa ( P-Calc; CAD/TQS)

Figura 13: Diagrama de interação para concreto com fck igual a 60 MPa ( P-Calc; CAD/TQS)

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Figura 14: Diagrama de interação para concreto com fck igual a 90 MPa ( P-Calc; CAD/TQS)

5.2 Exemplo numérico: Diagrama N, M, 1/r


Novamente com o intuito de validar o sistema desenvolvido, serão comparados diagramas
N, M, 1/r obtidos utilizando os sistemas P-Calc e CAD/TQS. Estes diagramas são
apresentados nas Figuras 15 a 17 e foram obtidos considerando concreto com fck de 30,
60 e 90 MPa com tensão de pico do concreto igual a 0,85 fcd, e solicitação normal de
cálculo igual a -2000 kN e -4000 kN.

Figura 15: Diagrama N, Mx, 1/r para concreto com fck igual a 30 MPa ( P-Calc; CAD/TQS)

Figura 16: Diagrama N, Mx, 1/r para concreto com fck igual a 60 MPa ( P-Calc; CAD/TQS)

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Figura 17: Diagrama N, Mx, 1/r para concreto com fck igual a 90 MPa ( P-Calc; CAD/TQS)

5.3 Exemplo numérico: Análise de um pilar com o sistema P-Calc


A seguir, será feita uma análise de um pilar considerando os efeitos locais de 2ª ordem
através dos quatro métodos propostos pela ANBT NBR 6118. Para maiores detalhes
destes métodos, ver o item 15.8.3.3 desta norma.

A geometria da seção é a mesma apresentada na Figura 11, com concreto de fck igual a
30 MPa. A condição de vinculação, o comprimento do pilar, e os esforços de 1ª ordem
atuante são dados na Figura 18.

Figura 18: Esforços de 1ª Ordem

O pilar apresenta índices de esbeltez x = 69 e y = 35. Para o momento em torno do eixo


y, os esforços locais de segunda ordem podem ser desprezados, pois o índice de
esbeltez y é menor que valor limite 1,y = 66. Desta forma, nos próximos subitens serão
calculados somente os momentos de 2ª ordem em torno do eixo x.

5.3.1 Pilar padrão com curvatura aproximada


Este método pode ser empregado apenas no cálculo de pilares com  ≤ 90, seção
constante e armadura simétrica e constante ao longo de seu eixo.

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O momento total máximo no pilar deve ser calculado pela expressão:
2
1
MSd , tot   b M1d ,A  Nd e
 M1d ,A (Equação 4)
10 r

onde,
b é um coeficiente procura levar em conta o tipo de vinculação nos extremos do
pilar, bem como a forma do diagrama de momentos fletores;

M1d,A =150 kNm, é o maior valor absoluto do momento de 1ª ordem ao longo do


pilar biapoiado;

le = 6 m, é o comprimento equivalente do pilar;

1/r é a curvatura do pilar na seção crítica.

Solução:
- Para pilares biapoiados, o coeficiente b é dado pela seguinte expressão:

MB 50
 b  0,60  0,40  0,60  0,40  0,7333 (Equação 5)
MA 150
Sendo que para pilares biapoiados, MA e MB são os momentos de 1ª ordem nos extremos
do pilar. Sendo MA o maior valor absoluto entre estes momentos e, consequentemente,
MB o outro momento, com sinal positivo se tracionar a mesma face que MA e negativo em
caso contrário.

- A curvatura 1/r pode ser dada de forma aproximada pela seguinte expressão:

1 0,005 0,005
  0,01304   0,01667 (Equação 6)
r h (  0,5) h

Com,
h = 0,3 m, é a altura da seção na direção considerada;
NSd 3.000
   0,7778 , é o esforço normal reduzido.
Ac fcd  0,3  0,6  30.000 / 1,4

- Momento total máximo para o método pilar padrão com curvatura aproximada é dado
pela Equação 4:
2
1
MSd , tot   b M1d ,A  Nd e
 M1d ,A
10 r
62
MSd , tot  0,7333  150  3000 0,01304
10

MSd , tot  250,87 kNm

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A Figura 19 apresenta os resultados obtidos para este exemplo utilizando o sistema
P-Calc.

Figura 19: Resultados do P-Calc com método pilar padrão com curvatura aproximada

5.3.2 Pilar padrão com rigidez  aproximada


Este método pode ser empregado apenas no cálculo de pilares com  ≤ 90, seção
retangular constante, armadura simétrica e constante ao longo de seu eixo.

O momento total máximo no pilar deve ser calculado pela Equação 7:

B  B 2  4.A.C
MSd ,tot   M1d ,A (Equação 7)
2.A

MSd ,tot  238,14 kNm


Onde,
A  5h  5  0,3  1,5 ;
Nd 2e 3000  62
B  h Nd 
2
 5h bM1d ,A = 0,32  3000   5  0,3  0,7333  150  232,5 ;
320 320
C  Nd h2bM1d ,A =  3000  0,32  0,7333  150  29700,0 .

A Figura 20 apresenta os resultados obtidos para este exemplo utilizando o sistema P-


Calc.

Figura 20: Resultados do P-Calc com método pilar padrão com rigidez  aproximada
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5.3.3 Pilar acoplado a diagramas N, M, 1/r
Este método pode ser empregado apenas no cálculo de pilares com  ≤ 140, sendo que
se  > 90, é obrigatória a consideração dos efeitos da fluência.

A determinação dos esforços locais de 2ª ordem no método pilar-padrão é feita através


utilizando para a curvatura da seção crítica valores obtidos do diagrama N, M, 1/r. Desta
forma, o momento total máximo no pilar deve ser calculado pela equação:
 b M1d ,A
MSd ,tot   M1d ,A
2 (Equação 8)
1
120  

sendo a rigidez , dada pela rigidez secante adimensional sec , Equação 9, que é função
da rigidez secante, EIsec, obtida graficamente conforme a Figura 21.

EIsec
 sec   79,76 (Equação 9)
Ac .h2 .fcd

com: EIsec  27687 kN / m² e f3 =1,1

Figura 21: Rigidez secante a partir do diagrama N, Mx,1/r

Determinada a rigidez secante adimensional, o momento total máximo é calculado através


da Equação 8:
 b M1d ,A 0,7333  150
MSd ,tot    179,41 kNm
 2
692
1 1
120   120  79,76 / 0,7778

A Figura 22 apresenta os resultados obtidos para este exemplo utilizando o sistema


P-Calc.

Figura 22: Resultados do P-Calc com método pilar padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r
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5.3.4 Método geral
Este método pode ser empregado no cálculo de pilares com  ≤ 200, sendo obrigatório
para  > 140. Onde, novamente, é obrigatória a consideração dos efeitos da fluência para
 > 90.

No método geral a consideração da não linearidade geométrica deve ser feita de maneira
não aproximada, com a não linearidade física considerada através da relação momento-
curvatura real em cada seção.

Existem diferentes maneiras de considerar a não linearidade geométrica de forma não


aproximada. O sistema P-Calc efetua sucessivas integrações numéricas da linha elástica,
acrescentando a cada iteração os valores de momentos de 2ª ordem. Se o pilar for
estável, esse processo é repetido inúmeras vezes até o acréscimo de esforços e
deslocamentos tender a zero.

Conforme o item 15.3.1 da ABNT NBR 6118, os efeitos de 2ª ordem podem ser
calculados com as cargas majoradas por f / f3, que posteriormente são majoradas por f3.
A Figura 23 apresenta um esquema para o cálculo dos deslocamentos. Já a Tabela 1,
apresenta os resultados em termos de deslocamento e esforços, considerando f3. = 1,1 e
a rigidez obtida na Figura 21 (EIsec = 27687 kN.m²).
Tabela 1: Cálculo dos momentos totais pelo método geral
M Sd,tot =
zi wi M Sd1 M Sd2 = wi .Nsd
i M Sd1 +M Sd2
[m] [m] [kNm] [kNm]
[kNm]
1 6 0 -50 0 -50
2 5.4 -0.0071 -60 -21.3 -81.3
3 4.8 -0.0133 -70 -39.9 -109.9
4 4.2 -0.0182 -80 -54.6 -134.6
5 3.6 -0.0216 -90 -64.8 -154.8
6 3 -0.0231 -100 -69.3 -169.3
7 2.4 -0.0226 -110 -67.8 -177.8
8 1.8 -0.0201 -120 -60.3 -180.3
9 1.2 -0.0154 -130 -46.2 -176.2
10 0.6 -0.0087 -140 -26.1 -166.1
11 0 0 -150 0 -150
Figura 23: Configuração de equilíbrio

A Figura 24 apresenta os resultados obtidos para este exemplo utilizando o sistema


P-Calc.

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Figura 24: Resultados do P-Calc com método geral

6 Considerações finais
Este trabalho apresentou um aplicativo desenvolvido para auxiliar o estudo de pilares de
concreto armado, seja como uma ferramenta auxiliar na atividade profissional de um
Engenheiro ou como uma ferramenta didática no ensino acadêmico. Além de permitir uma
análise da flexão composta oblíqua sem o uso de ábacos, explora a consideração da não
linearidade física e geométrica na avaliação dos efeitos locais de segunda ordem em
pilares de acordo com todos os métodos adotados pela ABNT NBR 6118.

Foram comparados alguns resultados obtidos através deste programa computacional com
os obtidos pelo sistema CAD/TQS, sendo que, tanto para curvas momento resistente
quanto para curvas N, M, 1/r, os programas apresentaram uma excelente correlação.
Porém, ressalta-se que apesar de inicialmente o programa apresentar bons resultados,
este deve ser mais testado.

Em relação ao exemplo 5.3, onde o mesmo pilar foi resolvido por todos os métodos
adotados pela ABNT NBR 6118,verifica-se que existem diferenças significativas entre
seus resultados, sendo que para alguns casos, o pilar chega a não atender a condição de
Estado Limite Último. A Tabela 2 apresenta de forma resumida estes resultados.

Tabela 2: Resumo dos resultados do exemplo 5.3


Método EI [kN.m ²] M sd,tot,x [kN.m ] Msd≤Mrd

Pilar padrão com


19241 250,9 Não
curvatura aproximada

Pilar padrão com


20072 238,1 Não
rigidez  aproximada

Pilar padrão aclopado


27687 179,4 Sim
com diagrama N,M,1/r

Método geral 27687 180,2 Sim

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Note que para este exemplo, a maneira como a não linearidade geométrica é tratada não
trouxe grandes diferenças nos resultados, pois o método pilar padrão acoplado a N, M, 1/r
e método geral apresentaram resultados bem próximos para valores de rigidez EI iguais.
Já, a maneira como a não linearidade física foi tratada teve significativa importância no
resultado final.

Conforme se pôde observar durante a resolução deste exemplo, o uso de processos mais
sofisticados (pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r e método geral) tende a levar a
um dimensionamento mais econômico. Em certos casos, a redução da armadura não é
pequena.

Por isso, é recomendável que o uso de processos mais refinados no dimensionamento de


armaduras de pilares seja feito apenas se o Engenheiro tiver total segurança e controle da
modelagem utilizada para simular a estrutura. Caso contrário, sugere-se sempre o uso de
processos mais conservadores.

7 Referências
ARAÚJO, J. M., “Curso de concreto armado – Vol. 3”, Ed. DUNAS, Rio Grande, 1997.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT), “NBR 6118:2003 - Projeto


de estruturas de concreto – Procedimento”, Rio de Janeiro, 2007.

FRANÇA, R. L. S., “Contribuição ao estudo dos efeitos de segunda ordem em pilares de


concreto-armado”, Tese de doutoramento, São Paulo, 1991.

FRANÇA, R. L. S., “Relações momento-curvatura em peças de concreto-armado


submetidas à flexão oblíqua composta”, Dissertação de mestrado, São Paulo, 1984.

FUSCO, P. B., “Estruturas de Concreto – Solicitações Normais”, LTC - Livros Técnicos


e Científicos Editora, Rio de Janeiro, 1981.

IBRACON, “Comentários Técnicos e Exemplos de Aplicação NB-1”, Comitê Técnico


Concreto Estrutural, São Paulo, 2007.

KIMURA, A. E., “EE05 – Pilares”, curso de pós-graduação FESP, Notas de aula, 2010.

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA (PECE), “GES009 - Estabilidade global e


análise de peças esbeltas”, Universidade São Paulo, Notas de aula, 2003.

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