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A pele e suas extensões: contribuições de Kerckhove para a convergência

da cibercultura

Maria José Baldessar1, Kamil Giglio2

Tradução de Rui de Melo

Sumário

Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise e síntese da obra “A Pele da
Cultura '' (1995) do renomado Derrick De Kerckhove, apresentando as principais
ideias defendidas pelo autor e suas influências na área de comunicação e
comunicação. da cultura em geral. Portanto, foi feito um estudo bibliográfico
sobre a trajetória, a vida, a localização do pensamento de De Kerckhove e seus
vínculos com outros autores, bem como o contexto do trabalho em sua vida.
Como resultado, destaca-se a importância histórica do livro, sua validade atual,
bem como contribuir para os debates e o processo de transformação cultural
mediado por diferentes tecnologias, além de identificar possíveis alterações no
comportamento e na psicologia da sociedade, como é indicado pela tese
defendida no livro.

Apresentação

Vivemos, neste início de século - e milênio, transformações científicas e


tecnológicas que impõem questões práticas para o nosso cotidiano. Numa época
em que o tempo - não significa vida cronológica e espaço - não há mais território
contínuo, tudo é reduzido a bits e não mais a cronômetros, relógios, linhas do
tempo, rotas, trens, aviões e outras invenções -. Dessa forma, nossas
preocupações não estão mais relacionadas com a sobrevivência, mas à maneira
como certas tecnologias podem alterar a nossa vida.

Dessa forma, pode-se dizer que já superamos e não damos mais importância às
tecnologias que nos permitem viver bem como o fogão, a frigorífico (frigorífico),
o carro e o próprio telefone - embora o uso deles suscite outras preocupações.
Nosso próprio instinto animal e, portanto, de guerra, não visualiza a bomba
atómica como uma ameaça - a mais fatal de todas descoberta para alguns. De
facto, o que nos preocupa hoje são as possibilidades de controle, privacidade,
aquecimento global e preservação da natureza. No entanto, não deixamos de
nos associar nas redes sociais, fornecemos nossos dados para compra via
internet, usamos o ar condicionado e o carro como forma de suprimir essas
possibilidades.

Nesse sentido, Derrick de Kerckhove acompanha, como poucos, as mudanças


socioculturais causadas pela popularização da internet e das tecnologias da
informação e comunicação. Doutor em sociologia da arte e língua e literatura
francesa e canadense, nascido na Bélgica em 1944, atualmente é professor do
Departamento de Idiomas da Universidade de Toronto, onde também atua como
diretor do Programa McLuhan em Cultura e Tecnologia. Autor de vários livros,
ele foi ex-assistente e é considerado por muitos o herdeiro inteletual de Marshall
McLuhan. Além de The Skin of Culture (1995), ele também publicou
"Brainframes: Technology, Mind and Business" (1991), Conneteed Intelligence
(1997), A arquitetura da inteligência (2000) e McLuhan para managers (2003).

Polémico, discute o papel do Estado no fortalecimento da comunicação que,


segundo ele, deve ser uma de suas principais responsabilidades, além de
transporte, saúde, segurança e outros serviços básicos. Afirma que, quanto mais
lentos os esforços do Estado para promover a inclusão tecnológica, menor e
mais lento será o crescimento económico. E isso porque a "capacidade inteletual
de um país não está sendo alimentada. É tão contraproducente para um Estado
coibir ou resistir, através de suas leis, maneiras de conetar comunidades, quanto
concentrar todas as energias da nação em uma única indústria, como o petróleo.
Você precisa de músculos e cérebro para colocar um país em movimento.”3

Quando se refere à Internet e suas ferramentas, De Kerckhove é enfático.


Considera o mundo on-line uma extensão e não uma contradição com o mundo
físico. Mas ele defende que, como em todas as coisas, há uma aceleração e
multiplicação dos efeitos de qualquer meio e, no caso específico dele, são
potencializadas as possibilidades de escolher direções erradas.

O autor valoriza o papel da televisão na sociedade e discute as "extensões do


homem" da eletricidade - como McLuhan. Diálogo com autores que incluem esse
papel de extensões, o relógio - nossa extensão de tempo, os óculos -
prolongando nossa visão, até coisas inimagináveis como processador de
alimentos e estéreo - extensões do estômago e de nossos ouvidos. O trabalho
de De Kerckhove conversa não apenas com McLuhan, mas também com
ficcionistas como Phillip Dick, em Do Androids Dream of Eletric Sheep? 4
”(1966), cuja história é de homens que sonham com carneiros elétricos e com a
produção de humanóides, que imaginavam um mundo tecnológico - sem discutir
o mérito daqueles que produzem essas tecnologias e a serviço de quem se
colocam, e o Vulcan's Hammer (1960) - que traz uma máquina imaginária capaz
de governar.

Assim como o guru, que em 1966 já afirmou: “os meios eletrónicos de


comunicação ou contraem ou mundo, reduzindo ou fornecendo proporções de
umas ou tribos em que tudo acontece com todas as pessoas ao mesmo tempo:
todos estão dentro Tudo o que acontece e, portanto, nem um momento no evento
”5 (MCLUHAN e CARPENTER, 1966, p. 47), De Kerckhove, discute a
globalização. Para ele, graças ao progresso técnico - satélites, internet, redes de
dados, entre outros -, suas consequências psicológicas na população e nas
grandes corporações económicas, os países são mais interdependentes do que
nunca. Atualmente, o conjunto de redes eletrónicas tem o potencial de
desenvolver um papel análogo ao de um sistema nervoso que liga milhões de
cérebros individuais a enormes interconexões em uma enorme inteligência
coletiva. “Quando você carrega o mundo no bolso, é global, querendo ou não.”
Estamos globalizados, estamos conetados con el resto del mundo”. Essa é a
pele da cultura proposta por Derrick de Kerckhove.

1. Tecnocultura e suas extensões

A pele da cultura é uma metáfora usada pelo autor para explicar o papel das
tecnologias (internet, eletricidade, computadores, entre outros media) no
contexto atual da humanidade. Para De Kerckhove, as tecnologias funcionam
como uma espécie de extensão de nossos corpos e mentes - sistema nervoso e
psicologia humana, culminando nos chamados campos tecnoculturais -
representados pela cibercultura e pela cultura de massa. Consequentemente,
essas culturas têm contribuído para a crescente dependência da sociedade em
relação à tecnologia, criando um fetiche pelo consumo tecnológico que resulta
em vários impactos e transformações nas esferas individual e coletiva.

Para explicar a complexidade atual - que está fora do caos e os vínculos


socioeconómicos e políticos com a tecnologia, De Kerckhove faz análises,
provocações, reflexões e previsões, que fazem toda a cronologia da inteligência
humana através dos campos da linguagem escrita e oral, do surgimento e
operação do dinheiro, das causas e consequências da globalização, das
peculiaridades de alguns meios de comunicação - principalmente televisão e
computador - e das tendências económicas do setor, do cenário de convergência
tecnológica e cultural, bem como a conceção e prospeção de redes neurais,
inteligência artificial, sistemas especialistas, internet, realidade virtual e dos
cyborgs.

De facto, muitas das análises e pesquisas conduzidas pelo autor, quinze anos
atrás em The Skin of Culture, estão estabelecidas ou em um estado avançado
de maturação. Entre os destaques, o seguidor de McLuhan destaca as
transformações que vêm ocorrendo na cognição humana. Alerta para a
crescente dependência tecnológica de nossas sociedades, que resulta no
aumento exponencial do consumo, criando o que ele classifica como
tecnofetichismo. Outro fator de destaque é a defesa da tese de McLuhiana de
que os objetos são extensões do corpo e da mente humana (1997, p.31) 6. Deste
modo, expõe-se que as súbitas mudanças causadas pela aceleração tecnológica
através da compressão do espaço e do tempo têm entre suas principais
consequências, desapontamentos ideológicos e tecnofetichismo como atores
causadores de confusão psicológica e crescente individualismo. (1997, p.229-
230).

Dessa forma, no contexto atual acentuadamente acelerado pela tecnologia,


“aceitamos que carros, televisão e computadores estejam na nossa vida, não
sem os criticarmos, mais sem que consideremos que cada um desses aparelhos
vai fazer um grande rombo, não só na carteira, mas, mais precisamente, na
psique”9 (DE KERCKHOVE, 1997, p.232). Portanto, toda a extensão tecnológica
admitida no cotidiano das pessoas se torna um fantasma, pois não está
completamente associada às funções do corpo e da mente, e também nunca é
completamente desassociada da interface psicológica.
Assim, nesse contexto, o autor de The Skin of Culture criou um neologismo,
denominado technopsicologia, para designar o estudo da condição psicológica
da população que vive e recebe influência direta das constantes inovações
tecnológicas. Esses estudos, por sua vez, podem ser caracterizados por
pesquisadores da área, como o campo de atividades das psicotecnologias.

2. Psicotecnologias

O termo é outro neologismo criado pelo autor para definir qualquer tecnologia
que emule, amplie ou aumente o poder de nossas mentes (DE KERCKHOVE,
1997, p.34). Nesse contexto, destaca o ambiente multimédia atualmente
configurado - telefone, rádio, televisão, computadores etc. -, que cria um domínio
de processamento de informações, caracterizando-os como psicotecnologias.
Em outras palavras, o estabelecimento de redes de atividades psicotecnológicas
é baseado em telecomunicações (De Kerckhove, 1997, p.281). Como exemplo,
pode-se compreender que a televisão seja a nossa imaginação coletiva, um
espaço público projetado por nós para o mundo exterior que culmina numa
espécie consensual

de teledemocracia eletrónica. Com a web é ainda máis nítido identificar a ideia


defendida por De Kerckhove, pois por meio de aplicativos colaborativos (wikis,
Google Docs, redes sociais) é possível a qualquer pessoa adicionar e modificar
partes do conteúdo, criando assim, uma espécie de inteligência coletiva (Lévy,
1996).

Nesse contexto, cabe ressaltar que, para o autor, "a nossa realidade psicológica
não é natural". Depende parcialmente de como nosso ambiente, incluindo as
próprias extensões tecnológicas, nos afeta”7 (DE KERCKHOVE, 1997, p.33).

Com o advento das tecnologias de rede digital, aumentaram a flexibilidade e a


velocidade (instantaneidade) da comunicação, bem como a expansão no uso do
vídeo. No entanto, a influência dessas tecnologias é muito mais ampla, uma vez
que elas não prolongam apenas as propriedades de enviar e receber
consciência, pois penetram e modificam a consciência de seus usuários (DE
KERCKHOVE, 1997, p.34). Dessa forma, o processamento de informações e
conhecimentos não se restringe ao nosso cérebro, expandindo-se para telas de
dispositivos inteligentes.

[...] As psicotecnologias como as redes de computadores e de vídeo podem estar


a usar as empresas e os governos para proliferar. As psicotecnologias sao
máquinas inteligentes desenvolvidas por coletivos inteligentes e comercializadas
por agressivas forjas de vendas. São inventadas na junção entre a invenção
humana, o apoio institucional e a necessidade básica. Daí que pudéssemos
conceber que a informatização usa as empresas e os governos como meio ideal
para o crescimento e integração (DE KERCKHOVE, 1997, p.195)10.

Portanto, é dedutível que a globalização não é meramente económica. Com o


estabelecimento de uma complexa rede de informações, as notícias de um
determinado local são acompanhadas por todos, em tempo real, como:
Incursões militares contra narcotraficantes na Colômbia, no México, no Rio de
Janeiro - Brasil ou ataques terroristas na Espanha, Afeganistão, Iraque ou
Indonésia. Assim, essa globalização de nossa psicologia pessoal ocorre através
da extensão das psicotecnologias (DE KERCKHOVE, 1997, p.270).

Dessa forma, sistemas de processamento de informações (computadores e


vídeos), “algumas das mais importantes propriedades intelectuais de nossas
mentes” 11 (DE KERCKHOVE, 1997, p.274), que são, portanto, caracterizados
como tecnologias psíquicas ou tecnopsicologias. Assim, os meios de difusão são
tratados como criações baseadas no funcionamento do corpo humano, onde
cada um tem seu referencial em um sistema. Nesta perspetiva, as ondas de
difusão funcionam de maneira semelhante à mente, enquanto o fim estaria mais
próximo dos nervos, por exemplo.

Dessa forma, as psicotecnologias influenciam transformações nas relações do


tecido social e nos aspetos psicológicos, “especialmente aquelas que dependem
da interação entre um corpo linguístico e humano ou entre uma mente e uma
máquina” (DE KERCKHOVE, 1997, p.274 12) Em suma, De Kerckhove afirma
que as tecnologias - especialmente as do vídeo, se referem não apenas ao
cérebro, mas também ao sistema nervoso e aos sentidos, criando condições
para uma nova psicologia (DE KERCKHOVE, 1997, p.35). Note-se que o autor
não acredita na posição exagerada de um meio de comunicação em detrimento
de outro. Ele também destaca o poder da web, que, por meio de aplicativos e
ambientes interativos, potencializa a tendência psicotecnológica da
coletivização. Assim, muitas mudanças e impactos podem ser esperados com o
desenvolvimento atual dos padrões de televisão digital (IPTV, WebTV, ISDB,
DVB, ATSC), que reúnem as variadas características convergentes,
portabilidade/mobilidade, interatividade e diversificação de programação
(GIGLIO, 2010).

Cibercultura e o fascínio pela tela - Design e cultura visual

Para De Kerckhove, o conceito de cibercultura pode ser entendido como um


efeito da globalização socioeconómica e tecnológica alcançada nas últimas
décadas. “Enquanto uma televisão e um rádio nos traz notícias e informações
em massa de todo o mundo, como as tecnologias de sondagem, como as redes
telefónicas ou de computadores, nos permitem ir instantaneamente a qualquer
ponto e integrar-nos nesse ponto” (DE KERCKHOVE, 1997, p.192).13

Portanto, a cibercultura é integrante e atual ápice evolutivo das tecnoculturas -


responsáveis pelas transformações nas políticas empresariais e sociais, nas
décadas de 60, 70 e 80, além de transformações culturais e psicológicas com o
aumento tecnológico nas mesmas décadas. O seu conceito principal é que a
globalização - como forma de expressão da mente e do quadro de referência, é
uma das condições psicológicas da sua existência, pois permite o acesso a
informações que constituem partes de um pensamento e atividade globais (De
Kerckhove , p.193-194).

Dessa forma, pode-se ver que a sua raiz está, portanto, no conceito de Aldeia
Global proposto por McLuhan. Dessa forma, a cibercultura é caracterizada como
um cenário de convergência, onde se destacam os dispositivos tecnológicos
conectados à rede web. Assim, deve-se entender que [...] a cibercultura
procurará e encontrará informações valiosas em outras sociedades. As
tecnologias ocidentais estão a estender-se para ir ao encontro de todas as
culturas do planeta. No entanto, a eletricidade, embora desenvolvida pela
tecnologia ocidental, está, no seu espírito, mas mais próxima da psicologia
oriental do que da ocidental. Daí a importância de explorar os campos
psicológicos de países como o Japão, a China ou a Índia (DE KERCKHOVE,
1997, p.178-179) 14.

O pensamento de De Kerckhove foi e continua a ser explorado, pois é possível


notar a expressividade global (económica e cultural) cada vez mais expressiva
de países do oriente, como Japão e Índia, por exemplo. Dessa maneira, o autor
utiliza a metáfora de que o nosso hardware, isto é, a realidade material da Terra
está em contração, devido à redução dos intervalos espaço-tempo entre as
operações. Por outro lado, destaca-se que o nosso software, isto é, nossa
realidade psicológica e tecnológica, está em constante expansão (De Kerckhove,
1997, p.192).

Nesse ponto, importa destacar as análises e levantamentos simbólicos


realizados pelo autor, afirmando que a arte e seus efeitos são fundamentais para
entender a cronologia das transformações e mudanças na história da
humanidade. Assim, o McLuhiano destaca o papel do design no contexto atual.

Parece que o design faz as relações públicas da tecnologia, embelezando os


seus produtos e apurando a sua imagem no mercado.

O design particular que envolve a tecnologia, por exemplo o nariz em cone e a


forma elegantemente alongada do comboio de alta velocidade francês, o TGV,
representa-a e promove-a, quer direta quer subliminarmente. Contudo, o design
é mais do que uma ideia a posteriori, colada à produção industrial para facilitar
o marketing. Existem claramente mais questões no design além de servir para
conter e seduzir. Num sentido mais amplo, o design desempenha um papel
metafórico, traduzindo benefícios funcionais em modalidades cognitivas e
sensoriais. O design encontra a sua forma e o seu lugar como uma espécie de
som harmónico, um eco da tecnologia. O design geralmente se refere à natureza
específica da tecnologia e corresponde ao seu impulso básico. Sendo visível do
lado de fora, audível ou texturizado dois artefactos que se cultivam, ou o design
surge como aqui poderíamos chamar de "pele da cultura" (DE KERCKHOVE,
1997, p.212). 15

Consequentemente, o design pode ser entendido - de acordo com a perspetiva


do autor, como uma modulação da relação entre o corpo e o ambiente, na
medida em que essa relação é influenciada e modificada pela tecnologia. Dessa
forma, a tecnologia é apresentada ao corpo humano e o design se encarrega de
fazer sentido. Por outro lado, enfatiza-se que “para observar os valores
específicos do design, ele aprende a interpretar as posições de dois corpos
prolongados” 16 (DE KERCKHOVE, 1997, p.214). Com isso, verifica-se que o
design tem a função de provocar / transmitir seus efeitos sensoriais e funcionais
à atenção da pessoa, auxiliando no processo de integração e aceitação do corpo
e da mente.

No entanto, o design também pode refletir agressões criativas nos


consumidores, antes de ser totalmente assimilado. Dessa maneira, é
interessante notar que “ao estendermos dois de nossos seres internos, as
tecnologias eletrónicas produziram objetos que emularam nossos ambientes
internos. Isto tem um impacto interessante ou design. Nenhum boom da era da
televisão, uma tendência da psicologia pessoal era "deixar tudo sair". Décadas
de décadas de repressão não-guerra, expressa linhas finas de arquitetura e
design modernistas, quando as pessoas começaram a recuperar sua libido - ele
queria se abrir e se mostrar (DE KERCKHOVE, 1997, p.216) .17

Portanto, percebe-se que, apesar de não haver estatísticas relacionadas ao


número de câmaras (fotos / vídeos), há um crescimento notável no número de
vídeos e fotos armazenados e publicados na rede web. Esta versão defendida
por De Kerckhove, pode ser verificada pelo número de visualizações e usuários
alcançados pela WebTV mais conhecida atualmente, o YouTube - que
recentemente atingiu a marca de dois bilhões de vídeos assistidos diariamente
em seu site, em cinco anos de existência (YOUTUBE, 2010).

A Skin of Culture mostra que atualmente existe uma predominância da visual


sobre a oralidade. Historicamente, as imagens têm uma grande influência na
maneira como entendemos o mundo e a realidade. Por consequência, Vida
social, sexualidade e agressividade são sobretudo dominadas por componentes
visuais. E talvez seja porque ele esqueceu firmemente que seu comportamento
era severamente controlado por códigos e regimes precisos. Também é
importante que, além disso, existam culturas humanas que criam objetos de
visionamento livre (pintura, escultura, fotografia, filme) e indivíduos de
visionamento livre (esportistas, dançarinos, atores e atrizes, mas também
prostitutas, pais e figuras públicas) livre visionamento espatos (teatros, feiras e
carnavais, áreas vermelhas), onde é permitido ser voyeur (DE KERCKHOVE,
1997, p.44-45) .18

Em suma, pode-se entender que a adoção rápida e universal de dispositivos


conectados à Web é uma resposta na forma de protesto do indivíduo localizado
em uma sociedade dominada pelo vídeo. Por meio desses dispositivos - entre
eles o computador e os smartphones ", foi recuperado parcialmente ou o
equilíbrio entre as formas de pensar alfabética e videográfica, para criar uma
espécie de livro eletrónico" 19 (DE KERCKHOVE, 1997, p.51). No entanto, é
exatamente neste momento que é necessário reavaliar os conceitos sobre os
media e suas funções, questionando se “usaremos um computador, somos
mestres ou escravos - ou um pouco de cada um deles” 20 (DE KERCKHOVE,
1997, p.52). Embora a resposta à pergunta não surja, deve-se reconhecer que
as interfaces do computador se tornaram uma das principais premissas para o
processamento de informações e conhecimentos - criando uma nova cognição
intermediária, uma ponte de interação continua entre o mundo exterior de todos
e o interior de cada um.

Convergência e alusão à sociedade do conhecimento

A convergência apresentada por De Kerckhove, aparentemente, enfoca apenas


aspetos tecnológicos e psicológicos. Enquanto isso, pode-se notar -
implicitamente, que o conceito para o autor é muito mais amplo, semelhante à
ideia explorada e desenvolvida por Jenkins (2008). A esse respeito, o autor
afirma que

Inteligência artificial, sistemas periciais e redes neurais estão invadindo todas os


media, integrando tecnologias eletrónicas - por meio da digitalização universal -
deixando de convergir ou áudio, ou vídeo, telecomunicações e tecnologias de
computador. Falamos dá a digitalização como fossa una coisa nova foss, mas,
de fato, traça mais origens de uma escrita alfabética que corta a realidade em
letras que não eram sentidas em si (DE KERCKHOVE, 1997, p.73) 21.
Essa convergência oferece uma possibilidade sem precedentes, pois possibilita
a ligação entre indivíduos e suas necessidades pessoais com mentes e
demandas coletivas. Esse novo cenário cria poderes que impactam social,
política e economicamente. Como exemplo, pode-se notar que

[...] Uma televisão transforma ou influenciar consumidores, um mundo externo


ou interno dentro de casa, dentro da UE. Desembrulhamos uma de apetite voraz
por imagens e bens. Por outro lado, projetar de dentro com o objetivo de partir
do sistema nervoso central, dando-nos acesso ao poder sobre qualquer
ambiente, a qualquer momento, para qualificação, feito por nossos produtores.
[...] A informação da economia também é umas para todas as outras mudanças,
sendo ou centro nervoso do atual corpo político (DE KERCKHOVE, 1997, p.185-
186) 22.

O contexto da convergência descrito acima é inserido em um panorama


conhecido como Sociedade da Informação, fornecido por McLuhan no artigo “A
Linha de Orvalho”(s.d), - modelo que atua nos anos 90 e início dos anos 2000 -
e é considerado um precursor da atual Sociedade do Conhecimento. Para
esclarecer o conceito, grosso modo, foi um período fortemente marcado pelas
tecnologias da comunicação digital e do comércio cultural (RJFKIN, 2001, p.12),
que juntos criam um novo cenário socioeconómico novo, poderoso e
convergente, cujo principal ativo económicos são ativos intangíveis, isto é,
conhecimento (FOUCAULT, 1979; LYTOARD, 1998).

Note-se que, de acordo com Davenport; Prussak (1998), o “conhecimento é uma


informação? Ao mais valioso, justamente porque alguma informação ou
contexto, ou seja, a uma interpreta” 23. Assim, o conhecimento não pode ser
dissociado do indivíduo, porque, contrariamente à informação, o conhecimento
diz sobre crenças e compromissos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Assim, De Kerckhove aborda grande parte dos conceitos atuais presentes e


trabalhados por pesquisadores nas áreas de engenharia, gerenciamento e
media de conhecimento. Assim, a economia do conhecimento computadorizada
cria - através da web, constantes inovações de mercado, baseadas na conceção
de que, à medida que a tecnologia der mais poder, os consumidores
desenvolverão a necessidade de exercer mais controle sobre seu ambiente
imediato. À medida que avançamos para uma cultura direcionada à uma, um
produtor de cabelos para uma cultura de uma direcionada a um cabelo de
consumidor, é necessário conceder características que reflitam ou poder do
consumidor algo que provavelmente resultará em dois seis produtos. Ao gerar?
Prosumer? Nascido nos anos 80, havia dois yuppies e duas redes de
computadores. Os computadores permitirão um peso mais sério com seus pais,
recuperarão ou controlarão sua vida mental na televisão e participarão
ativamente da organização de seu ambiente, local e global (DE KERCKHOVE,
1997, p.137) 24.

Como resultado da informatização do corpo social, é perceptível que as pessoas


procuram produzir seus próprios bens. O livro "Cultura da convergência" de
Jenkins (2008) retrata muito bem as reflexões que ocorrem na geração que
acompanha essa digitalização - tecnológica, económica e social, demonstrando
que há uma forte demanda pela personalização do produto / serviço e uma
participação

eficaz em sua produção. Assim, é percetível que um princípio de


descentralização da produção - principalmente no que se refere à parte do
conteúdo, onde dispositivos com acesso à web permitiram uma revolução no
modelo jornalístico noticioso, no caso da CNN iReport, por exemplo.

Quanto ao cenário de convergência, De Kerckhove (1997, p.137) afirma que o


que está em causa é, sobretudo, uma questão de poder. Outro fator destacado
pelo autor é que, se a informação é realmente a chave da economia atual, seria
interessante analisar que “a informação é a única substância que cresce com o
uso, em vez de diminuir, como com os recursos naturais” 25 (DE KERCKHOVE,
1997, p. 95).

Consequentemente, a economia atual está em um momento de abundância. No


entanto, enfatiza-se que esse panorama realmente terá efeito quando toda a
infraestrutura permitir acesso universal às pessoas.

Processadores de informação - da oral à internet

A linguagem oral foi a primeira tecnologia criada pelos seres humanos; foi
justamente aí que o processamento da informação começou. Segundo De
Kerckhove, a evolução da inteligência humana é acompanhada pela linguagem
e pelas tecnologias que a apoiam e processam. Nesse contexto, segundo o
autor, a primeira dessas tecnologias é escrita (DE KERCKHOVE, 1997, p.256),
pois permite manipular, arquivar, expandir e explorar os enunciados da situação
de enunciação.

Com a escrita e consequentemente com os alfabetos - ocidental e oriental, uma


influência foi criada na relação com espaço e tempo. Outro fator relevante foi a
invenção da perspetiva, uma projeção direta da consciência letrada que busca
representar o espaço proporcionalmente, dividido em segmentos. Assim, quando
um pintor elabora uma pintura, ele representa uma ordem sucessiva de objetos
em uma realidade espacial, que não é necessariamente real (distâncias) e
temporal (plano, segundo plano, foco). Portanto, deve-se notar que De
Kerckhove responde à realidade, dizendo que muitas das coisas que vemos não
são reais. Para ele, os media distorcem a realidade através da mediação -
enquadramento, foco, edição, narrativa etc. Esse conceito o leva a adaptar a
ideia de McLuhan em que “contexto + media = mensagem” (DE KERCKHOVE,
1997, p.172).

No entanto, voltando à questão do alfabeto, suas propriedades sequenciais


tornaram-se tão importantes para a humanidade que passaram, não apenas
para influenciar a compreensão do mundo, mas também serviram de inspiração
e modelo para vários códigos da humanidade, como cadeia genética de
aminoácidos ou de computadores, por exemplo (De Kerckhove, 1997, p.69).

O autor de The Skin of Culture afirma que o património cultural e tecnológico


ocidental tem uma única fonte, a alfabetização fonética. Até o surgimento da
eletricidade, o alfabeto era, por milênios, o principal sistema de processamento
de informações no Ocidente. Consequentemente, ele tem sido o principal
dispositivo de programação das culturas ocidentais, comportando-se como um
acelerador cultural, criando articulações da linguagem para traduzir o
pensamento em tecnologias (De Kerckhove, 1997, p. 119). Assim, verifica-se
que uma vez que a alfabetização geralmente é adquirida durante um período de
formação, e afeta a organização da linguagem – o mais completo sistema de
processamento de informações .

Existem boas razões para suspeitar que o alfabeto também afeta a organização
do pensamento. Uma linguagem é o software que conduz a psicologia humana.
Qualquer tecnologia que afete significativamente a linguagem também afeta o
seu comportamento físico, emocional e mental. O alfabeto como um programa
de computador mais poderoso, mais preciso, mais versátil e mais completo do
que qualquer software escrito até hoje. [...] O alfabeto encontrou o seu papel no
cérebro: especifica as rotinas que apoiam o software de funcionamento
articulado na frame alfabetizada do quadro cerebral. O alfabeto criou duas
revoluções complementares: uma no cérebro, outra no mundo (DE
KERCKHOVE, 1997, p.61-62) 26.

Assim, de acordo com o ponto de vista do autor, no futuro por meio das
tecnologias de vídeo, a transformação psicológica mais relevante pode ser a
externalização da consciência pessoal comum. O mundo exterior torna-se uma
extensão da consciência - como era o costume das culturas "primitivas". Para o
autor, isso ditará, não o fim, mas o afastamento do Homo theoreticus do centro
da ação, substituído pelo Homo participans (DE KERCKHOVE, 1997, p.85-86).
Essa previsão, de certa forma, é confirmada no trabalho de Jenkins, Culture of
Convergence (2008), onde o autor destaca entre as características que
emergem dessa “nova” cultura, a participação mais ativa do público na
construção de conteúdos colaborativos. Portanto, enfatiza-se que o crescimento
das psicotecnologias e do processamento de informações evoluiu gradualmente
a partir do universo privado da mente, dando atenção ao mundo público do tubo
de raios catódicos. Na medida em que o ecrã de vídeo substituiu a mente,
quando chegamos à imagem e ao processamento de informação, cada época,
juntamente com os media que a dominava, correspondia a mudanças de posição
na nossa relação com o ecrã de vídeo. A nossa relação unidirecional, frontal,
com a tela da televisão trouxe a cultura das massas. O ecrã do computador, ao
introduzir modalidades de interatividade bidirecional, aumentou a velocidade. O
efeito dos hipermédia integrados será a imersão total. Estamos à beira de uma
nova cultura profunda que está a tomar forma durante os anos noventa. De todas
as vezes que, a ênfase dada a um certo meio muda, toda a cultura se move (DE
KERCKHOVE, 1997, p.175-176) 27.

É possível verificar se há uma nova maneira de processar a informação e a sua


arquitetura está dentro e fora dos computadores; é composta de redes de
comunicação baseadas em cabo, fibra ótica, ondas hertzianas e satélites (DE
KERCKHOVE, 1997, p.123). Todos esses sistemas têm uma característica
comum, tributária de uma única tecnologia transversal, que é a eletricidade - a
única linguagem comum entre todas as tecnologias até agora. E sobre ela pode-
se entender que "É por natureza coesa e implosiva, não explosiva como o
alfabeto" 28 (DE KERCKHOVE, 1997, p.123).

Em suma, e finalmente, neste sistema de processadores de informação,


destaca-se a internet, conhecida como estrada da informação. De acordo com o
ponto de vista da autora, ela tem como principal característica ser nativa do
subconsciente da inteligência coletiva. Como o subconsciente, é constituído por
mais informações que podem ser filtradas para um nível consciente (DE
KERCKHOVE, 1997, p.92). Isso requer uma evolução constante das unidades
de processamento e distribuição. Atualmente, a web está em processo de
tratamento semântico, uma vez que a sintaxe atingiu altos níveis evolutivos.

Por fim, De Kerckhove (1997, p.123) afirma que os dispositivos conectados à


web deram às pessoas um poder significativo na tela, permitindo a
personalização do processamento de informações. O que leva o autor a afirmar
que não é o mundo que está em processo de globalização, somos nós mesmos.

O livro e seu contexto

Publicado com o título The Skin of Culture, em 1995, o livro dialoga com uma
série de autores modernos e contemporâneos, com diferentes linhas de
pensamento. Na realidade, a questão das transformações que as tecnologias
causam na cultura, bem como na economia, na vida política e privada, remonta
ao Ion de Platão. A importância da técnica multiplicou-se infinitamente, pois a
sua evolução científica permitiu que ela fosse incorporada em praticamente
todas as esferas da cultura, nos corpos humanos e outros seres vivos, no
pensamento e na produção de objetos.

Na sociologia e na filosofia, o estranhamento e o incómodo que as invenções


técnicas geram são um tema recorrente. Dessa maneira, pode-se pensar em
duas linhas principais que avaliam o emaranhado entre as tecnologias mais
recentes e a produção cultural. Uma, niilista, que sempre aparece em tempos de
crise. Essa linha, por assim dizer, ignora que o contacto constante com as novas
tecnologias pelas pessoas conduz a um processo de internalização que as
transforma em entidades constitutivas das práticas culturais cotidianas. Cita-se
Jean Braudillard como referência contemporânea em The Transparency of Evil
(1990, p.35), onde discute o virtual e afirma que tudo está estabelecido
anteriormente:

“O sistema gira, assim, sem fim nem finalidade”, diz o autor. Devido à sociedade
tecnocrática e ao poder dominante dos media, a vida humana torna-se uma
"realidade virtual".

Uma segunda linha teórica procura entender essa transformação como uma
passagem que traz mudanças culturais positivas. Essa linha tende a ser afirmada
cada vez mais, tanto pela abordagem ao processo inexorável de absorção
cultural em novas tecnologias quanto pela deslegitimação e desqualificação de
discursos antagónicos à tecnologia.

Com base nessas duas visões, pode-se dizer que De Kerchkhove está alinhado
com a segunda e com ele alguns autores contemporâneos como Walter Ong,
Pierre Lévy, Umberto Eco e Castells. Para começar, com Walter Ong (1998),
norte-americano, pesquisador de estudos humanísticos, recuperou vários
estudos sobre o processo de internalização da escrita entre os gregos, para
estudar as diferenças entre culturas orais e culturas escritas. Lembremo-nos,
então, de McLuhan e a sua discussão sobre a importância da escrita e o próprio
De Kerckhove, que o considera um processo "tecnológico". Além disso,
encontramos Pierre Lévy (1994), para quem o espaço do conhecimento é a
essência da produtividade semiótica. Antes de chegar a esse espaço de
conhecimento, havia outras três semióticas correspondentes ao que ele chama
quatro espaços sociológicos: terra, território, mercadoria e conhecimento; ou
Umberto Eco (1996), que faz uma análise crítica da técnica. Para Eco, o
computador é um instrumento alfabético - um tipo ideal de livro.

Com uma conversa mais direta e interessante, De Kerckhove estabelece um


relacionamento voluntariamente ou não, com autores como Steven Johnson em
sua Interface Culture: How New Technology Transforms the Way We Create and
Communicating (1997) and Emergence: The Conneted Lives of Ants, Brains,
Cities e Software (2001), com importantes reflexões sobre arte e informação e,
principalmente, sobre a organização cerebral dos homens e "suas extensões".
Mais recentemente, o trabalho pode ser misto de De Kerckhove com o de Henry
Jenkins, autor do comentado Convergence Culture: Where Old e New Media
(2006), que traz o homem inserido na cultura convergente - conceito básico de
De Kerckhove.

Onde está a importância de The Skin of Culture, que comemora 15 anos de


emergência e está a tornar-se cada vez mais atual? É assumir um caráter
interdisciplinar. Observa uma análise de natureza psicológica, biológica,
linguística, computacional, comunicacional, antropológica e estética. Então,
como deve ser a nossa vida diária. Um exercício de conversação e aceitação de
diferenças. E é essa mistura de diálogos que transforma A Pele da Cultura, em
uma obra de vida longa, que em pouco tempo será o clássico de uma época em
constantes conflitos e transformações.

É, mesmo que temporariamente afastado dos acontecimentos de 11 de


setembro de 2001, reconhecer as diferenças entre oeste e leste. Veja-se que,
apesar das diferenças culturais e locais entre o Ocidente - que prevalece sobre
o individualismo e o Oriente - reconhecidas mais coletivamente, estamos juntos
e separados ao mesmo tempo, somos primitivos em uma cultura nova e global
(DE KERCKHOVE, 1997, p. 115) O mundo é a Aldeia Global prevista por
McLuhan, tomada por um fetichismo direcionado às tecnologias que influenciam
- boas ou más, cultura, psicologia, economia, política e que está presente em
todo o corpo social. Esse lugar "globalizado" tornou-se maior para indivíduos e
menor para entidades coletivas. Então, sempre se deve considerar as
especificidades locais e globais e ter em mente que sempre que uma nova
tecnologia surge, começa uma guerra velada contra a cultura existente.

Ao associar tecnologia e corpo humano - muito mais no nível das sensações e


da psique, que com o próprio físico, ele faz referência explícita ao guru Marshal
McLuhan. O livro é quase uma homenagem a um comunicologista cujas ideias,
durante muito tempo, foram relegadas pela academia a um plano menor e que
só tiveram seu valor devido à realidade que vivemos nos tempos
contemporâneos. Assim, De Kerchkhove revela - em um cenário complexo,
quase caótico, lança um olhar pela sociedade, desenvolvido sobre certas
questões - especialmente o de inclusão e exclusão tecnológica, e aqueles que
acreditam que todos os nossos problemas se vão resolver com o uso ou desuso
da tecnologia.

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