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A importância da entoação na informação radiofónica

Editores

Título do volume

Anexo n ° da Revista QUADERNS DE FILOLOGIA

Facultat De Filologia, Universitário De Tradução E Comunicação De València

Carme de-la-Mota12 e Emma Rodero2 Universidade Autónoma de Barcelona1,


Universidade Pompeu Fabra2

Tradução e adaptação

Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de


Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

O que determina a perceção e o entendimento adequados das notícias no meio


de rádio? Na ausência de estímulos diferentes do som, o público é guiado não
apenas pelo conteúdo, mas principalmente pela forma de apresentação verbal.
Nesse sentido, grande parte da eficácia da comunicação via rádio baseia-se no
uso ideal da entoação, do qual depende, primeiro, que o ouvinte preste atenção
à mensagem e, em segundo lugar, para assimilar e entendê-la, pois contribui
para a perceção estruturada da mensagem (Hirschberg e Pierrehumbert 1986;
Elordieta e Romera, 2004). A prosódia, como destacado por Briz et alii (2008:
128-129), permite "o progresso e o progresso do discurso", uma vez que é
crucial "marcar a progressão temática, contribuindo decisivamente para
delimitar os diferentes tópicos". No caso das notícias de rádio, a forma da
apresentação, configurada através da entoação, é ainda mais importante do
que em outros formatos de rádio, pois é uma mensagem composta
principalmente de dados, o que complica o processamento cognitivo do
discurso
As características prosódicas desempenham um papel diferenciador entre
diferentes partes do discurso informacional; eles distribuem a mensagem de
rádio entre as informações conhecidas pelo ouvinte e, portanto, são menos
notáveis, e entre o que é novo e o que, portanto, é o mais importante nas
notícias. Como indica Hidalgo (1997), sua função fundamental é constituir um
elemento significativo que relaciona expressão e conteúdo. Este trabalho é
relevante não apenas do ponto de vista da produção prosódica, mas também
do ângulo do destinatário.

Foi estabelecido que os grupos melódicos são de suma importância nas fases
de perceção e processamento da cadeia sonora da fala nas sentenças, e que o
ouvinte depende principalmente dessas (e possivelmente outras) unidades
fonológicas para decodificar a fala. mensagem, e não na estrutura sintática das
sentenças” (Sosa, 1999: 35).

Se os recursos prosódicos forem selecionados adequadamente, o ouvinte


perceberá uma modificação acústica que indicará os momentos em que ele
deve prestar mais atenção (Rodero, 2002). Por outro lado, se houver uma
indiferenciação ou se esses recursos forem mal distribuídos, o destinatário
poderá prestar mais atenção aos dados complementares e, portanto, perder as
informações essenciais. Portanto, seria decisivo que os falantes em seus textos
marcassem o conteúdo da mensagem em ordem de relevância - e, portanto, as
informações conhecidas e desconhecidas - e, do mesmo modo, as palavras-
chave de cada um dos grupos prosódicos. Dessa forma, os principais conceitos
de informação, marcados com prosódia, seriam mais facilmente percebidos
pelos ouvintes. Isso aumentaria a certeza do interlocutor de que o público
entendeu a mensagem informativa e que, portanto, o objetivo final da
comunicação foi atingido. Em suma, o locutor precisa dominar a configuração
de entoação da mensagem se pretende alcançar o objetivo final dos ouvintes
de entender e assimilar as informações.

Tendo em mente a importância decisiva da entoação nas informações de rádio,


ao longo das páginas a seguir, tentaremos caracterizar os aspetos mais
comuns da localização da indústria profissional por meio da revisão das
principais pesquisas realizadas nesta área.

I. Monotonia ou cantilena da informação


Se existe uma tendência definidora da entoação que as emissoras de notícias
costumam usar na rádio e na qual existe um consenso geral entre os
pesquisadores, é a realização de um tipo de entoação circunflexa que produz
acusticamente a sensação conhecida como "cantilena" informativa (Brasil,
1978; Tench, 1990; Taylor, 1993; Nihalani e Po Lin, 1998). Às vezes, para dar
vivacidade a uma expressão, ênfase é dada quando não é pragmaticamente
justificada e o discurso se torna o absurdo típico com o qual o falante marca
indevidamente todos os finais de grupos fónicos como ascendentes ou com um
padrão característico (por exemplo, ascendente-descendente). Os ouvintes o
recebem com rejeição (Garrido, 1994: 188).

Ler as frases em vez de se concentrar no sentido é o [...] mais importante a


maneira mais segura de desenvolver maneirismos vocais irritantes, como o
baque de piledriving que alguns apresentadores de notícias conferem nas
últimas palavras de cada frase, sejam importantes ou não importantes (Evans,
1977: 50).

Essa é uma tendência também detetada em outros idiomas: “Atualmente, é


comum os leitores de notícias FM encerrarem uma frase ou um item de notícia
com músicas em ascensão contínua, incluindo HRTs, em vez de uma música
em queda, resultando em um efeito de 'lista'” (Price, 2005 : 3) Da mesma
forma, a entoação circunflexa criticada consiste na reprodução constante de
uma certa melodia por meio de uma sucessão de subidas e descidas tonais em
intervalos quase regulares, independentemente da palavra pronunciada no
momento. Em um estudo em inglês, Price (2005: 12) afirma: "A análise das
músicas em ascensão mostrou que elas podem ser decompostas nos mesmos
tipos de contorno em números muito semelhantes, se não idênticos". A
regularidade, por sua vez, causa uma indiferenciação de conteúdo que, como
tal, dificulta a compreensão do ouvinte. Price (2005: 307) o chama de "modelo
geral de entoação" e o caracteriza como "um arroz agudo no tom mais alto do
alcance de cada falante, seguido de uma queda na mesma palavra". Como
indicado, no discurso da notícia é usado com uma função contínua. Assim, o
público não possui elementos suficientes para reconhecer o que é importante
do que é um acessório e para reconstruir a estrutura textual.
Esse contorno circunflexo na posição final pode ser analisado dentro da
estrutura da fonologia métrica e autossegmentar como a combinação de um
sotaque nuclear ascendente no qual o tom alto está alinhado com a sílaba
tónica seguida por um tom de borda baixo que determina o fim descendente.

De acordo com os resultados de de-la-Mota e Rodero (2010), esse movimento


para cima e para baixo pode ser descrito como um contorno melódico
circunflexo que começa, para vozes masculinas, a 115 Hz em média, sobe
para 175 Hz e desce até 105 Hz. Nas emissoras, inicia em uma média de 158
Hz, sobe para 224 Hz em média e cai para 161 Hz.

Neste estudo, após análise acústica das vozes dos editores de 24 boletins de
rádio obtidos da RNE, Cadena SER, Cadena COPE e Onda Cero, foram
registrados 110 casos de contornos circunflexos. Destes, 81% estavam na
posição declarativa final. Observou-se uso frequente do contorno circunflexo no
final das frases, em que são utilizadas várias unidades entoativas delimitadas
com tons ascendentes ou sustentados fortemente marcados, mesmo
separados por pausas. Importa ressaltar que sua aparência pode ser uma
indicação para o ouvinte de que o fim de uma unidade temática e sintática
ocorre antes da proliferação de unidades de entoação curta hierarquicamente
menores e pode ser uma estratégia para indicar uma mudança de paradoxo ou
macrounit paradoxal (Cfr Fox, 1973; Hidalgo, 2006). É o caso dos seguintes
casos: “A pior parte dos protestos. Paco Pelegrín informa.” (COPE, 29/12/09,
meio dia),“ Abaixo de 12.000 pontos. Bolsa de Madrid:” (COPE, 30-30-09,
18:00), “O processo de falência. Ele nos diz” (COPE, 4-1-10, 17h) e “O impacto
no turismo. Hoje para hoje” (SER, 10-08-09, 10h). Os 21 casos restantes do
corpus estudado destacavam elementos em foco estreito ou apareciam com
menos frequência antes de subordinados ou parágrafos esclarecedores.

A partir do estudo do alinhamento do vale com o qual o acento bitonal começa


e o pico correspondente ao tom alto do acento, conclui-se que em 87,27% dos
casos analisados, o vale inicial era anterior ao início da sílaba acentuado, cerca
de 30 ms, embora houvesse uma certa margem para sua localização
(provavelmente devido ao contexto anterior). Examinados apenas os 89
contornos que apareceram na posição final, observou-se que o movimento
ascendente começou em 29,74 ms em média. Não houve diferença
significativa no comportamento dos contornos final e não final em termos do
início da subida.

Junto com isso, foi detetado que o pico de f0 apareceu antes do final da vogal
acentuada em 92 casos (83,64% do tempo). Dessa forma, levando em
consideração o tempo entre o início da sílaba e o final da vogal, a percentagem
de proximidade que a posição do pico em relação ao final da vogal pode ser
calculada. Na maioria dos 92 casos, o pico foi de 29,2% da duração em relação
ao final da vogal. Os 89 contornos que apareceram na posição final também
mostraram o pico antes do limite da vogal em 85,39% dos casos. A distância
do pico até ao final da vogal não diminui.
Ele não distinguiu os contornos circunflexos final e não final.

A análise dos contornos finais também indicou que a posição do pico dependia
mais da posição do limite da vogal do que da existência de uma coda de sílaba.
Nos casos em que não havia coda (52), o pico era de uma média de 35,89 ms
antes do final da vogal que fecha a sílaba. Dos 10 casos que apresentaram
coda surda, apenas um (produzido com alta taxa de elocução) apresentou o
pico na sílaba seguinte. Nos outros, o pico apareceu antes do término da vogal.
Os 27 casos com coda sonora apresentaram o pico 30,68 ms antes do final da
vogal estressada e 98,57 ms do limite silábico. 70,37% deles apresentaram o
pico antes do final da vogal.

O uso do contorno nuclear circunflexo em sentenças declarativas é


considerado frequente e típico de programas de informação de rádio e
televisão (Seco, 1990; Casado Velarde, 1995), embora alguns autores o
considerem contraproducente, seja em um meio ou em outro.

Eles geralmente ignoram os princípios da segmentação de texto, aplicando


entoação inconsistente com os sinais de pontuação contidos no texto lido.
Apenas essas três características do estilo de declaração de reportagem
preveem que os telespectadores terão problemas em entender o significado
adequado das notícias (Francuz, 2010: 74).

De fato, outras pesquisas aplicadas aos noticiários de televisão também


mostraram que a grande maioria das combinações tonais usadas pelos
apresentadores de noticiários de televisão, no início, no meio e no final de suas
frases, apresentava entoação circunflexa (Rodero, 2006).

Esse contexto está documentado em espanhol peninsular em posição nuclear


em sentenças de diferentes tipos e em diferentes dialetos (Prieto e Rosseano,
no prelo), embora seu uso em declarativos pareça ser mais limitado, ocorrendo
no elemento aprimorado de sentenças com foco estreito (Cf. de-la-Mota, 1995;
Face, 2002; Estebas Vilaplana e Prieto, 2008).

Além das características mencionadas, a análise da entoação por rádio


também revelou uma tendência a reforçar a última parte da configuração tonal
que precede as junções internas (por exemplo, entre sujeito e verbo, ou após
um complemento na posição inicial de frase). Essas são articulações
apropriadas ao conteúdo e à estrutura do texto em que é executado
(dependendo do contorno da articulação) ou um aumento acentuado do tom ou
um alongamento acentuado do tom de demarcação sustentado.

Por exemplo, "O primeiro vice-prefeito de Palma" (Onda Cero, 10-08-09, 10 h)


ocorre com um aumento progressivo (aumento de continuação) em direção a
um tom muito agudo da atitude do orador. Da mesma forma, em “E como
avançamos uma hora atrás, a autópsia já começou. (RNE, 10-08-09, 12h), a
configuração nuclear dá origem a um tom sustentado particularmente longo
(pitch sustentado). Enquanto a vogal tónica [ou] dura 68 milissegundos, a vogal
[a] do ditongo final - que normalmente já está em uma posição propícia ao
alongamento - chega a 125. Essas estratégias, embora possam ser percebidas
como exageradas, contribuem para refletir a estrutura da mensagem de rádio.

III - Na busca de ênfase constante

Tanto o aprimoramento dos acentos primários quanto a ênfase excessiva e o


uso de marcas pronunciadas para destacar a presença de junções entre
unidades de entoação são características que definem o estilo de apresentação
das informações de rádio. São estratégias que aumentam o sentimento
repetitivo de ênfase e a reprodução, portanto, da cantina peculiar. Price
caracteriza essa tendência enfática na rádio como "o uso de hiperacentuação e
uma faixa de tom exagerada, resultando no uso excessivo de destaque local"
(Price, 2005: 308). Da mesma opinião é Van Leeuwen:

Eu acho que os locutores, em geral, costumam fazer com que tudo o


que eles digam pareça importante, independentemente de ser em
sentido real ou por qualquer outro motivo que não seja ouvido por um
número muito grande de pessoas (Van Leeuwen, 1984: 84)

Mas a medida não excede e as recomendações de Tubau seguem nesta


direção:

Fazer sentido é entender o que está sendo lido, pensar no significado do que
está sendo dito e garantir que isso seja claro para quem o ouve. Devemos
sublinhar certas palavras no texto, mas sem exageros. Tornar quase todas as
palavras significativas é como não destacar nenhuma (Tubau, 1993: 52).
Os principais usos relacionados com a ênfase acentuada serão descritos
abaixo. Primeiro, o estresse excessivo leva à criação de sotaques secundários
em sílabas nas quais lexicalmente não existia. É o caso de exemplos como os
seguintes, todos provenientes de boletins de rádio: “Das agências de viagens
alemãs”, Onda Cero, 08-08-09, 19h), “Dez dias atrás em Palmanova” (Onda
Cero, 10 -08-09, 10h), “São dados que fornecem estatísticas” (RNE, 10-08-09,
12h), “Nos quais eles criticam as alterações na ajuda automática para
favorecer” (RNE, 10-08-09, 12h), “Por parte da Polícia” (Cadena Ser, 10-08-09,
10h) e “Dobrar os controlos” (Cadena Ser, 10-08-09, 10h).

De acordo com os resultados de Belda e de-la-Mota (2010), o conhecido


fenómeno da acentuação excessiva, por ser conhecido e marcante, não é tão
comum na leitura de notícias quanto outros fenómenos que afetam a
acentuação. como o aprimoramento do sotaque primário, que pode ser
verificado no exemplo a seguir: “Receita do Modo em que o executivo” (RNE,
7-09-09, 11h). De fato, após a análise de quinze boletins de notícias da Rádio
Nacional Espanhola, foram isolados 43 exemplos de palavras com sotaque
pós-tóxico, enquanto nos dez primeiros boletins da amostra foram produzidos
até 137 casos de aprimoramento de sotaque primário. Após verificar as
produções de um total de 30 palestrantes, verificou-se que 19 deles não
produziram nenhum caso de estresse excessivo em um total de 14 minutos e
20 segundos.

De qualquer forma, essa maneira de oralizar os textos marcando um acento em


posições inicialmente inapropriadas e enfatizando continuamente os acentos
pode ser entendida como uma redução das nuances de entoação que o locutor
imprime nas notícias: “Para um radiodifusor usar apenas 'ênfase' seria como
pintar apenas em preto e branco. A entoação, na verdade, oferece uma paleta
inteira de cores para misturar e usar em muitos tons diferentes e sutis para
aprimorar o significado” (Mills, 2004: 125-126).

No pólo oposto, no entanto, outra particularidade detetada é a atenuação


excessiva de acentos de palavras relevantes, que apenas realçam o acento de
frase melódica, que é a da última sílaba tónica do grupo de entoação, como no
exemplo de Garrido (1994: 188): "Não somos enganados" em vez de "NÃO
somos trapaceados. Por motivos de conteúdo, seria conveniente manter o
primeiro sotaque.

Uma das consequências mais óbvias causadas por essa maneira de acentuar
tão característica do ambiente em que muitos elementos recebem um reforço
acentuado é a segmentação excessiva dos grupos. A pronúncia continuada de
grupos de sotaque em diferentes unidades de entoação causa a sensação
acústica de que a fala é interrompida, uma vez que as unidades são formadas,
repetidamente, por algumas sílabas (de-la-Mota e Rodero, 2010). Essa prática,
portanto, tem uma consequência direta na perceção do ouvinte e em seu grau
de entendimento, se considerarmos a seguinte apreciação de Aguilar et alii.

Certos agrupamentos de palavras não suportam a presença de pausa em sua


pronúncia. O silêncio não deve aparecer atrás de uma palavra não estressada,
nem entre elementos com um alto grau de coesão sintática e semântica. No
entanto, nos discursos dos meios de comunicação, encontramos numerosos
casos em que essa restrição é violada” (Aguilar et al, 2000: 103).

Essa é uma tendência também observada na análise de Rodero e Campos


(2005). Os apresentadores segmentaram excessivamente os grupos,
produzindo em muitos casos uma quebra no significado da mensagem.
Especificamente, nesta investigação, verificou-se que os apresentadores
separavam uma média de vinte por cento das unidades sintáticas que se
esperaria que coincidissem com os grupos fónicos, até juntando-se àqueles
que são divididos por um período na redação.

Uma possível explicação para o uso desse estilo prosódico na apresentação de


notícias pode ser devido à falta de habilidade dos jornalistas quando se trata de
usar recursos prosódicos, embora a razão subjacente esteja na intenção
executiva de enfatizar muitas partes do texto (Aguilar et al, 2002; Strangert,
2005) com o objetivo de capturar e manter a atenção do ouvinte (Price, 2005).
Já para Wheatley (1949: 213), a fala na rádio é caracterizada por uma
ondulação tonal sem sentido ou por padrões de tons usados indevidamente
que talvez surjam do desejo de acentuar a expressão da fala. Porém, longe de
alcançar esse resultado, o uso desse estilo prosódico produz vários efeitos;
envolve uma modificação dos valores atribuídos em outras situações de fala ao
sistema de organização acentuada e envolve uma reação indesejada entre o
público.

IV - Efeitos na perceção de ouvir

Os livros no estilo de rádio e televisão coletam sucintamente esses recursos


prosódicos como defeitos que devem ser evitados. Entre eles, o Telemadrid
Style Book descreve entre os “vícios” mais frequentes a queda, a tolice, o
absurdo, a monotonia e a afetação, e presta atenção especial à “desagradável
modulação da voz no final das palavras ou as frases" e "a repetição constante
do mesmo movimento de entoação". Também no Livro de Estilo do Canal do
Sul, é indicado que “a monotonia, a falta de cadência, os sonsonetes e as
deslocações acentuadas causam confusão” e não são apropriados ao discurso
jornalístico, “cujas principais características são naturalidade e clareza”. Por
fim, o Guia de Estilo de Onda Zero recomenda que "se evite a leitura
monocromática e repetitiva".

É a previsibilidade do padrão vocal que se torna entediante. Uma frase "forma"


muito típica começa em um tom baixo, sobe rapidamente para o topo e desce
gradualmente, chegando ao fundo novamente pelo ponto final. (...) Tais
sentenças (...) confundem porque, com o início e o final na mesma "nota", as
junções dificilmente são percetíveis (McLeish, 1986: 107).

De fato, em duas das pesquisas sobre prosódia realizadas em informações de


rádio (Rodero, 2007) em que uma avaliação qualitativa foi solicitada a uma
amostra de ouvintes, essas práticas foram avaliadas negativamente pela
qualificação da entoação circunflexa como: “um tipo de entoação que não é
grave, cantada, como uma proclamação, é uma canção, um monocórdico, um
tolo, é ridículo.” Em segundo lugar, eles descreveram a acentuação enfática
como "exagerada, antinatural, desequilibrada e causando perda de significado".
Diante dessas práticas, os sujeitos optaram por um tipo de entoação mais
natural, que cumpria as funções linguísticas e modificava os níveis tonais de
acordo com a função sintática e informativa da fala e a intenção comunicativa
do falante.

O problema é que o uso repetitivo de estratégias enfáticas e padrões de


entoação, além de desagradável, pode ser problemático. Nesse sentido,
Garrido (1994: 188) é pronunciado quando indica que os ouvintes o julgam com
rejeição. É assim, alerta, porque "eles não servem para identificar o tipo de
grupo fónico dentro de seu padrão de entoação" (de-la-Mota e Rodero, 2010),
ou seja, porque finalmente afetam o grau de entendimento.

Nesse sentido, tanto a literatura sobre apresentação verbal na rádio quanto


alguns estudos experimentais concordam que existem duas qualidades que
determinam uma entoação adequada: naturalidade e dinamismo adequado.
Por um lado, a naturalidade, como aquela característica do discurso que tenta
reproduzir as condições de uma conversa interpessoal com o objetivo de obter
empatia com o ouvinte. Assim, Guevara e Castarlenas consideram que “o
discurso moderno sempre tende a ser muito natural e simples, tanto na
expressão como na projeção em qualquer uma das diferentes facetas ou
campos em que trabalharemos” (1984: 86). Juntamente com esses achados,
no estudo experimental realizado por Rodero (2007), os ouvintes da amostra
optaram por um tipo de entoação natural porque, caso contrário, o conteúdo da
mensagem perde-se, afastando-se do entendimento ideal.

Juntamente com a naturalidade, a segunda qualidade mais destacada é o


dinamismo, como uma característica que visa principalmente atrair a atenção
do ouvinte e facilitar o entendimento da mensagem. Assim, para Huertas e
Perona (1999: 116), a coisa apreciável "não é a periodicidade matemática
adequada, mas precisamente o elemento que quebra a regularidade do evento
sonoro esperado".

O locutor corre o risco de perder seus ouvintes se ele não conseguir um


contraste prosódico adequado por meio de variações melódicas: “Esses
recursos também fazem parte do discurso australiano comum, mas nas
notícias eles são mais frequentes e extremos, sem dúvida porque o tempo está
chegando. limitada e a concorrência pela atenção do público é feroz” (Price,
2005).

Por esse motivo, vários estudos apontam a monotonia como um dos principais
problemas da apresentação de rádio (Glass, 1994; Knapp, 1982).

Se o falante não possui expressão e musicalidade, o ouvinte vinga-se da


maneira mais simples: pressiona o botão do recetor. O locutor perde sua
audiência se negligenciar o tom melódico, que deve aumentar e diminuir, se
esquecer as mudanças atraentes - rápidas e lentas -, a voz é alta e quieta e
usa a afirmação sem pausas ou dinamismo (Arnheim, 1980: 28 -29).

Mas, como discutimos, além da atenção, uma entoação monótona afeta o


entendimento da mensagem. Nesse sentido, Bolinger (1989) provou que causa
uma perda de inteligibilidade. Em resumo, por essas razões, a entoação deve
tender a ser o mais natural e dinâmica possível, a fim de favorecer o
cumprimento dos objetivos comunicativos. Isso significa que, em última análise,
deve-se evitar a repetição regular e injustificada de padrões acentuados e de
entoação e, consequentemente, os consequentes efeitos que eles causam.

V. Conclusões

A entoação, juntamente com outras características linguísticas e não


linguísticas, desempenha uma função de índice social, pois existe uma maneira
peculiar de falar que permite identificar a variante estilística profissional de
padres, advogados ou emissoras de rádio. Na reportagem isso caracteriza-se
por uma uniformidade e regularidade acentuadas dos recursos tonais, que
predomina, por um lado, o aprimoramento acentuado enfático dos acentos
primários e das palavras funcionais, a acentuação excessiva e a realização
enfática das articulações e, por outro, a repetição de padrões de entoação e o
uso de um contorno circunflexo delimitador. Como esses fenómenos ocorrem
independentemente da estação de rádio analisada e do sexo das emissoras e
são comuns em vários idiomas, é demonstrado que existe um estilo particular
de contar as notícias na rádio.

Grande parte da melodia peculiar atribuída ao noticiário é produzida pelo uso


frequente de estratégias que geram ênfase recorrente, provavelmente devido à
necessidade de manter a atenção do ouvinte viva. Dado o aparecimento
frequente do contorno circunflexo em contextos de fechamento, vale a pena
perguntar até que ponto e em que contextos o uso desse contorno para
delimitar unidades menores com valor de continuação é ou não eficaz do ponto
de vista comunicativo. Nesse sentido, pode-se esperar que emissoras
experientes usem de maneira mais eficiente as estratégias prosódicas para
capturar e manter a atenção do público e facilitar a decodificação da estrutura
linguística da mensagem sem cair na monotonia. O locutor de rádio deve
reforçar com a escolha dos tons o significado dos dados que ele explica (para
notícias mais sérias, tons mais graves; informações mais alegres, níveis
agudos), distinguir com esses níveis os elementos novos ou conhecidos do
discurso e obtenha o contraste acústico certo, capaz de reivindicar e manter a
atenção do ouvinte para atingir o objetivo final de estabelecer uma
comunicação eficaz.

A leitura de notícias na rádio envolve o uso de um código entonativo


profissional, caracterizado pela busca de imparcialidade e assertividade em um
meio em que a novidade já é pressuposta (van Leeuwen, 1984). O Manual de
Estilo RTVE para repórteres de rádio (1980: 83) insiste na transmissão da
imparcialidade, que "também afeta, e às vezes principalmente, a entoação ao
ler uma história". O esforço dos profissionais da leitura, que resulta da
necessidade persistente de recriar uma voz assertiva, clara, viva e imparcial
em todos os momentos, pode ser a causa do resultado se tornar antinatural e
até irritante para o ouvinte:

Uma possibilidade que também pode ser considerada e que já foi sugerida
(Barber, 2000) é que há uma mudança linguística que afeta, entre outros
aspectos, a maneira pela qual o sotaque e a entoação são usados para marcar
os contrastes e ênfase Dada a sua influência e alcance demográfico, a meios
de comunicação estaria se comportando, nesse caso, como plataformas de
difusão para a mudança.

VI BIBLIOGRAFIA

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Tradução e adaptação

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de


Salamanca

e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

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