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Universidade Federal do Pará

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas


Faculdade de Biblioteconomia

Representação temática da informação II

A terminologia como referencial para a construção de


linguagens documentárias

Profa. Dra. Marise Teles Condurú


Sumário

Terminologia
definição
objeto de estudo
termo x descritor

Terminografia
Terminologia

A Terminologia nasceu na década de 1930 com Eugène


Wuster (fundador da Teoria Geral da Terminologia – TGT).

Com foco na precisão da linguagem.

Surge um campo de estudos na tentativa de escapar da


polissemia e das ambiguidades próprias da linguagem
natural. Desta maneira, por descreverem conteúdos
específicos, as terminologias possuem o objetivo de alcançar
a univocidade e a precisão conceitual.
Terminologia

Para a construção das linguagens documentárias, tem-se a


Terminologia como referência, para se evitar a polissemia e
a ambiguidade próprias da linguagem natural.

Krieger e Finatto (2004) afirmam que a terminologia possui o


objetivo de alcançar a univocidade e a precisão conceitual.
Terminologia

O uso da terminologia pode ser de grande auxílio para a


construção das linguagens documentárias, trazendo mais
padronização e coerência para a representação da
informação (VARGAS; VAN DER LANN, 2011).
Terminologia

Terminologia: definição

Pavel et al. (2008):

o conjunto dos termos especializados próprios de uma


ciência, de uma técnica, de um autor e de um grupo social
determinado.
Terminologia

Terminologia: definição

Para Cabré (1995), a terminologia pode ser vista:


a)para a linguística, esses termos são conjuntos de signos
linguísticos que constituem um subconjunto dentro do
componente léxico da gramática do falante;

b)para a Filosofia, é um conjunto de unidades cognitivas que


representam o conhecimento especializado;

c)para as disciplinas técnicas e científicas, é o conjunto das


unidades de expressão e comunicação, que permite
transferir o pensamento especializado.
Terminologia

Terminologia: objeto de estudo

A unidade básica da Terminologia é o termo, enquanto que a


da Documentação é o descritor.

O termo é a unidade lexical que realizam como função


essencial a representação e a transmissão do conhecimento
especializado.

O descritor é a unidade descritiva que sustenta o processo


de indexação das fontes documentais.

Assim, o termo e o descritor são importantes meios para


recuperar a informação (KRIEGER; FINATTO, 2004).
Terminologia

Terminologia: objeto de estudo

A principal tarefa da terminologia, então, é a de se atentar às


unidades da língua natural, da comunicação especializada e
propor a representação de conceitos e sistemas de
conceitos por meio de termos, facilitando a comunicação
entre especialistas e esses com público em geral.

Assume funções de comunicação e representação, procura o


consenso e propõe formas de controle da diversidade de
significação (LARA, 2005).
Termo x Descritor

Terminologia: termo x descritor

Para Dodebei (2002), a unidade informacional das


linguagens documentárias é o conceito, expressa por termos
representados por palavras.
Termo x Descritor

E o que significam as palavras termo e descritor?


Para melhor compreensão também é necessário entender o
que é conceito?
Conceito como a expressão real, objetiva de informações
que recebe forma por meio de palavras (CURRÁS, 1995).

Termo como um conjunto de símbolos com que se expressa


um conceito.

Descritor é a palavra ou expressão que representa um


conceito, ou seja, o termo preferido para indexação (IBICT,
1984).
Termo x Descritor

Os descritores dão suporte à linguagem documentária que


provê os sistemas de recuperação da informação.

É com essa linguagem, que corresponde ao código


comunicacional, que o usuário vai ao encontro das
informações que lhe interessam (KRIEGER; FINATTO, 2004).

Os descritores também são chamados de termos


autorizados.
Termo x Descritor

 Krieger e Finatto (2004) apontam qualidades dos descritores


(vocabulário controlado), o que permite compará-los com os
termos.

 Descritores são denominações que servem de chaves


autorizadas de acesso à pesquisa e os termos são
denominações recomendáveis para otimizar a comunicação
especializada.

 Assim, descritor e termo são elementos de representação e


divulgação do conhecimento, o que explica o uso de
terminologias para a construção de linguagens documentárias.
Termo x Descritor

Descritores apresentam:

 a vantagem de favorecer o acesso aos acervos de


unidades de informação;

 também é obstáculo ao acesso desses acervos, porque o


vocabulário controlado, normalizado é seletivo e não
abrangente, sendo uma estrutura redutora.
Termo x Descritor

O uso das terminologias como descritores tem sido adotado,


em razão de permitir maior coincidência vocabular entre os
sistemas de informação e os usuários que buscam por
informação.

É um desafio na área da Documentação, construir uma


linguagem documentária mais flexível às formas de
expressão dos usuários no uso de sistemas de informação
documental, sem perder o valor referencial da
Terminologia.
Termo x Descritor

Análise do conceito se dá a partir do referente - daquilo a


que o termo se refere - e não da palavra, é a expressão
verbal que se apresenta como elemento de manipulação, ou
seja, tal análise é feita via termo.

Alguns fenômenos da língua podem ocorrer numa área de


assunto. Os mais comuns são:
Sinonímia
Quase-sinonímia
Homonímia
Metonímia
Metáfora
Termos sincategoremáticos
Termo x Descritor

Sinonímia
A identificação dos sinônimos se dá durante a análise e
sistematização dos conceitos.
É mais correto, nos tesauros, identificá-los como termos
equivalentes.
Exemplo: Antídoto e Contraveneno.

Nos tesauros, um deles é o termo preferido (ou descritor); do


outro, faz-se uma remissiva:
ANTÍDOTO
      UP Contraveneno
Contraveneno
      USE ANTÍDOTO
Termo x Descritor

Quase-sinonímia
Diz-se que há quase-sinonímia quando dois conceitos têm
praticamente a mesma intensão. Quando isto ocorre, pode-
se tomar uma das seguintes decisões:

são considerados equivalentes; nos tesauros seleciona-se


um deles como descritor;
são considerados ambos como descritores, com uma
entrada para cada um deles, estabelecendo uma relação
associativa.
Ex: linguagem documentária e tesauro

A decisão deve levar em conta fatores como objetivos do


tesauro, características da clientela, volume da literatura.
Termo x Descritor

Homonímia
Via de regra, não ocorre porque a atividade terminológica se
dá sempre numa área de assunto específica.
Excepcionalmente isso pode acontecer; neste caso, um
qualificador pode resolver a questão.

Exemplo 1:
      Tênis (calçado)
      Tênis (esporte)

Exemplo 2:
      Análise gramatical
      Análise lógica
Termo x Descritor

Metonímia
Na Agroecologia - expressão 'cobertura morta' definida ora
como material, ora como técnica.

Temos um homônimo? Não.

Temos um termo que designa a técnica e 'material de


cobertura morta' que designa a palha, as pedras, areias, etc.,
empregados para cobrir o solo.
Termo x Descritor

Metonímia
Quando se usa apenas a expressão 'cobertura morta' para
designar o material e a técnica. Isolados, os termos ficam
ambíguos.

Então é preciso estabelecer uma diferença entre eles.

Por exemplo, 'cobertura morta' e 'material de cobertura


morta', estabelecendo-se uma relação associativa entre os
dois, para guiar indexador e usuário para o termo mais
adequado à indexação/busca.
Termo x Descritor

Metonímia
Outros exemplos:

1) Na área de Doces:

'Bala de goma' é referida por 'Goma'.

2) Na área de Tintas:

'Tinta esmaltada' é referida por 'Esmalte'.


Termo x Descritor

Metáfora
É muito comum usar uma palavra com sentido figurado,
inclusive na língua técnica.
Exemplo:
Vinagre. Depois que surgiram outros 'vinagres', como o
'vinagre de maçã', 'vinagre de arroz', o 'vinagre‘, inicalmente
de vinho, precisa ser agora qualificado como 'vinagre de
vinho' (temos até o vinagre de vinho tinto e o vinagre de
vinho branco), o que parece uma redundância, mas que se
justifica para clareza da comunicação.

No caso do vinagre tem-se o termo Condimento para reunir


os 'vinagres', podendo figurar assim, na parte alfabética do
tesauro:
Termo x Descritor

Metáfora
Condimento
      TE Vinagre de arroz
      TE Vinagre de maçã
      TE Vinagre de vinho
Vinagre de arroz
      TG Condimento
Vinagre de maçã
      TG Condimento
Termo x Descritor

Metáfora
Vinagre de vinho
      TG Condimento
      TE Vinagre de vinho branco
      TE Vinagre de vinho tinto
Vinagre de vinho branco
      TG Vinagre de vinho
Vinagre de vinho tinto
      TG Vinagre de vinho
Termo x Descritor

Termos sincategoremáticos
Ocorre quando o adjetivo - melhor dizendo, o determinante -
é que indica a classe a que o conceito pertence, e não o
substantivo - ou determinado.

Exemplo 1: Couro sintético - não é Couro; é um produto


sintético que pode ser usado como substituto do couro (que,
por definição, é de origem animal).

Assim, é falsa a cadeia:

Couro
      TE Couro sintético
Termo x Descritor

Termos sincategoremáticos
Nestes casos, estabelece-se entre os termos uma relação
associativa para mantê-los próximos à vista, ficando, no
entanto, cada termo em sua respectiva classe.

O correto, então, seria:

Couro
      TA Couro sintético
Termo x Descritor

Os termos devem ser monossêmicos, unívocos, ou seja, a


cada termo equivale apenas um significado.
 
Para isso, são usadas redes relacionais e alguns métodos
que neutralizam fatores como a polissemia, homonímia e
ambiguidade.
 
Cintra et al. (2002)
Termo x Descritor

Cintra et al. (2002) distinguem:


a) a polissemia ocorre quando uma mesma palavra possui
vários significados;
b) a homonímia ocorre quando uma mesma unidade
significante remete a duas realidades vocabulares distintas,
essa unidade pode ser fônica (homofonia) ou gráfica
(homografia);
c) a ambiguidade ocorre quando uma comunicação é
interpretada de diversas maneiras e isso ocorre em função
da polissemia, da homonímia e “de deficiências na utilização
de padrões sintático-semânticos” (CINTRA et al., 2002, p.
70).
Termo x Descritor

Recurso de qualificadores usados entre parênteses para


controlar palavras com muitos significados.
A palavra “Peru” é dada como exemplo do controle de
homógrafos através de qualificadores - Peru (país) é
diferente de Peru (ave).
 
Outros recursos são utilizados para neutralizar a polissemia:
- a criação de redes relacionais;
- as notas de escopo, também chamadas de notas
explicativas;
- a sinonímia.
DIRETRIZES BÁSICAS QUE A ANSI/NISO Z39.19 – 2005 E AITCHISON
e GILCHRIST (1979) CONSIDERAM IMPORTANTES PARA SE OBTER
UMA LINGUAGEM CONSISTENTE:

a) os verbos devem ser evitados; um tesauro é


majoritariamente composto por termos substantivados;
recomenda-se que as preposições das frases substantivadas
sejam excluídas, exceto nos casos em que a forma que
utiliza conectivo seja mais familiar;

b) a inclusão de um número limitado de adjetivos comuns é


útil, pois estes podem ser utilizados na coordenação com
outros termos, como uma alternativa à criação de termos
compostos múltiplos. Os adjetivos podem aparecer como
termos pré-coordenados na indexação ou pós-coordenados
na busca. Eles geralmente não devem ser atribuídos
como termos descritores;
DIRETRIZES BÁSICAS QUE A ANSI/NISO Z39.19 – 2005 E AITCHISON
e GILCHRIST (1979) CONSIDERAM IMPORTANTES PARA SE OBTER
UMA LINGUAGEM CONSISTENTE:

c) devem ser estabelecidas as regras para o uso de formas


singular ou plural, a fim de permitir a precisão do significado
do termo;

d) a grafia correta de um termo deve ser sempre consultada


em dicionários e enciclopédias; remissivas são utilizadas nas
formas não adotadas;

e) a utilização de iniciais maiúsculas e minúsculas também


devem ser padronizadas, exceto para aquelas palavras que
exigem inicial maiúscula, por exemplo, os nomes próprios;
DIRETRIZES BÁSICAS QUE A ANSI/NISO Z39.19 – 2005 E AITCHISON
e GILCHRIST (1979) CONSIDERAM IMPORTANTES PARA SE OBTER
UMA LINGUAGEM CONSISTENTE:

f) abreviaturas devem ser evitadas pois podem tornar-se


ambíguas se estiverem fora de um contexto, além de
poderem oferecer obstáculos para os sistemas
computadorizados no reconhecimento das maiúsculas e
minúsculas. Porém, se forem de uso geral, poderão ser
utilizadas. A remissiva de termos abreviados e termos por
extenso sempre deve existir;

g) sinais de pontuação deverão ser usados o mínimo


possível; os parênteses deverão ser usados nas expressões
com qualificadores e o hífen só deve ser usado quando sua
omissão ocasionar alteração no significado do termo;
DIRETRIZES BÁSICAS QUE A ANSI/NISO Z39.19 – 2005 E AITCHISON
e GILCHRIST (1979) CONSIDERAM IMPORTANTES PARA SE OBTER
UMA LINGUAGEM CONSISTENTE:

h) a existência de palavras com a mesma grafia, mas com


significados diferentes, também chamados de homógrafos,
sugere o uso de qualificadores entre parênteses. Porém, é
preferível usar um termo composto no lugar de uma palavra
única acompanhada de seu qualificador, desde que este
termo seja frequente na linguagem natural.
Termo x Descritor

Quando o significado de um termo é confuso pode ser


utilizada uma nota explicativa (NE) com a definição de um
dicionário. A NE pode ser utilizada também para explicar
como o termo deve ser utilizado e mostrar qual é o seu
contexto (LANCASTER, 1987).

Ao contrário de um qualificador entre parênteses, uma nota


explicativa, também chamada de nota de escopo, não faz
parte de um termo. Enquanto os qualificadores são
geralmente adicionados apenas aos homógrafos, uma nota
de escopo pode ser fornecida a qualquer momento
(ANSI/NISO Z39.19 – 2005).
Terminografia

Terminografia = terminologia aplicada

O papel da terminologia aplicada é organizar e divulgar os


termos técnico-científicos como forma de favorecer a
comunicação especializada, por meio de produtos e
instrumentos terminológicos.

A sua principal característica é ser normalizadora buscando


estabelecer a padronização terminológica e analisando o
funcionamento dos termos com vistas a seu registro em
instrumentos de referência especializada (KRIEGER; FINATTO,
2004).
Terminografia

Terminografia = terminologia aplicada

Terminografia, já conta com a criação de instrumentos de


referência terminológica com orientação mais flexível:
glossários,
dicionários técnico-científicos
bancos de dados terminológicos
sistemas de reconhecimento automático de terminologias.
Referências

AITCHISON, Jean; GILCHRIST, Alan. Manual para construção de tesauros.


Rio de Janeiro: BNG/Brasilart, 1979. 142 p.
 
ANSI. ANSI/NISO Z 39.19: 2005: guidelines for the construction, format, and
management of monolingual controlled vocabularies. Bethesda: NISO Press,
2005. 176p.
 
CABRÉ, Maria Teresa. La Terminologia hoy: concepciones, tendências y
aplicaciones. Ciência da Informação, v.24, n.3, 1995.

CINTRA, A.M.M. et al. Para entender as linguagens documentárias. 2. ed. São


Paulo: Polis, 2002.

CURRÁS, Emilia. Tesauros: linguagens terminológicas. Brasília: IBICT, 1995.

DODEBEI, Vera Lucia Doyle. Tesauro: linguagem de representação da memória


documentária. Niterói: Intertexto; Rio de Janeiro: Interciência, 2014.

IBICT. 1984.
Referências

KRIEGER, Maria da Graça; FINATTO, Maria José Bocorny. Introdução à


terminologia: teoria & prática. São Paulo: Contexto, 2004.

LANCASTER, F. W. Construção e uso de tesauros: curso condensado.


Brasília, IBICT, 1987.

LARA, Marilda Lopes Ginez de. Linguagem documentária e terminologia.


Transinformação, Campinas, v. 16, n. 3, p. 231-240, set./dez. 2004.

PAVEL et al. (2008).


 
ROBREDO, Jaime. Documentação de hoje e de amanhã. 4. ed. rev. e ampl.
Brasília: Edição de autor, 2005.

VARGAS, Dóris Fraga; VAN DER LAN, Regina Helena. A contribuição da


terminologia na construção das linguagens documentárias como os tesauros.
Biblos: Revista do Instituto de Ciências Humanas e da Informação, v.25, n.1,
p.21-34, jan./jun., 2011.

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