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“Bryan, o que está acontecendo comigo?” – perguntou a única garota que havia em meio a um
grupo de três rapazes, com o rosto marejado de lágrimas “Sinto muita dor. Por favor, faça isso
parar!”
“Precisamos ir atrás da garota! Não podemos ficar plantados aqui perdendo nosso tempo com
novatas como ela senão...” – interveio o outro rapaz, logo sendo alarmado por sua visão
aguçada assim que avistou o castanho profundo do olhar desesperado de uma garotinha que
se escondia atrás de um caixote velho de frutas que havia ao seu lado. Ele foi sorrateiramente
até ela, que tentou desvencilhar-se de suas mãos fortes assim que ele a segurou pelo braço,
impedindo-a de fugir.
Sem dizer nenhuma palavra, o rapaz analisou friamente seus olhos amendoados e, sem ceder
suas súplicas, introduziu ligeiramente seus caninos afiados em seu pescoço, fazendo o doce
sangue da mesma defluir por toda sua pele branca e suave. Por fim, deixou-a jogada ali, em
meio à estrada soturna como mais um corpo qualquer.
“Antes de perguntarem o porquê de eu ter feito isso, apenas saibam que eu implantei algumas
regras a serem seguidas na memória nela. Tenho certeza de que daqui pra frente, quando ela
acordar, fará um bom serviço para nos ajudarmos a encontra-la” – ele declarou
“Que seja. Vamos. Temos muito a fazer. O rastro da garota ainda está muito longe da nossa
realidade” – disse o último deles, desaparecendo misteriosamente em meio às sombras. Os
outros, sem pensarem duas vezes, logo fizeram o mesmo, como se a massa da escuridão
tivesse tomado conta de seus corpos.
RÚSSIA, 1997
A forte neve que tomava conta de toda a rua de Yershovo obrigava as poucas pessoas
que circulavam por ali a se protegerem, de alguma forma, daquele frio alarmante: uns
vestiam suas ushankas, outros agasalhavam-se com mais e mais blusas, enquanto
Heather era a única dali que teve de sofrer as consequências daquele clima intenso,
pois não vestia nada mais além de um cachecol e uma blusa fina de manga comprida.
Então ela apenas ficou sentada ali, como era seu costume após sair do trabalho, no
banco esperando que passasse algum ônibus em frente ao ponto de espera. Seus
dentes batiam em sinal de frio extremo.
“Talvez se eu ouvir umas músicas eu possa esquecer que estou prestes a morrer de
hipotermia”. E assim ela o fez. Tirou seu iPod de dentro da mochila, plugou seu fone de
ouvido e deixou suas músicas tocarem de forma aleatória enquanto pensava no
quanto apenas queria estar em casa. Naqueles horários era difícil passar algum tipo de
transporte público que pudesse leva-la pra casa, mas isso também não era algo de se
espantar já que ela morava na parte mais simples e afastada da cidade.