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Guia de Acesso

ao Direito e à Justiça

EMPRESAS
versão portuguesa

novembro de 2019
Ficha Técnica
Título Guia de Acesso
ao Direito e à Justiça
Guia de Acesso ao Direito e à Justiça: Empresas

Editor
Direção-Geral da Política de Justiça
Av. D. João II, n.º 1.08.01 E, Torre H, Pisos 1 a 3
1990-097 Lisboa
dgpj.justica.gov.pt

Design e paginação
Centro de Informação e Comunicação (CIC)

ISBN
978-989-98079-3-8

Data EMPRESAS
Novembro de 2019 versão portuguesa

novembro de
2019
Guia de Acesso ao Direito e à Justiça: Empresas
INTRODUÇÃO
Introdução
1. Como constituir uma empresa em Portugal O presente guia pretende ser um auxiliar prático para as empresas e para
os empresários portugueses ou que se pretendam instalar no território
1.1. Tipos de sociedades comerciais português. Pretende-se, num único instrumento, fornecer informação
1.2. Constituição de sociedades online geral e relativamente simplificada sobre o acesso ao direito e à justiça,
1.3. Balcão “Company IN” para estrangeiros que queiram constituir empresa em Portugal bem como oferecer um conjunto de outras informações relevantes para
1.4. Balcão do Empreendedor
quem pretende constituir uma sociedade comercial e iniciar um negócio.
2. Registos – o que registar e como registar
Neste âmbito, para além de informação sobre o sistema de justiça e os
3. Propriedade intelectual meios de resolução de litígios, judiciais ou alternativos, agrega um con-
4. Celebração de contratos junto de outras informações orientadas para temáticas específicas, como
a constituição de sociedades comerciais e os modelos possíveis, registos
4.1. Princípios e forma
4.2. Incumprimento contratual necessários ou úteis, a celebração de contratos e o seu incumprimento ou
4.3. Insolvência e Processos Especiais para Acordo de Pagamento ou de Revitalização as especificidades do contrato e das regras laborais.

5. Contrato de trabalho e regras laborais Numa ótica de promoção dos princípios do Estado de direito democráti-
co e da transparência nas relações comerciais, o guia fornece infor-
5.1. Regras gerais
mações sumárias, mas especificas, sobre a proteção de dados pessoais e as
5.2. Modalidades de contrato de trabalho
5.3. Contrato de trabalho com regime especial: o contrato de trabalho
obrigações para com os consumidores.
de serviço doméstico Com este guia, a Direção-Geral da Política de Justiça (DGPJ) do Ministério
5.4. Especificidades da celebração do contrato de trabalho com trabalhador da Justiça, que detém atribuições também no domínio do fomento do
estrangeiro ou apátrida acesso ao direito e à justiça, procura oferecer um auxiliar conciso numa
6. Relações comerciais e compliance área estrutural para uma cidadania informada e responsável e para o bom
6.1. Proteção de dados pessoais funcionamento de uma economia amiga do investimento e do emprego.
6.2. Direiros dos consumidores Quaisquer sugestões que possam melhorar este trabalho serão natural-
6.3. Relação com entidades públicas e privadas - prevenção de riscos de corrupção mente muito bem-vindas.
7. Sistema de justiça português
7.1. Enquadramento
7.2. Meios de resolução de litígios
7.2.1. Tribunais estaduais
7.2.2. Meios alternativos de resolução de litígios
7.2.3. Tempos médios de resolução processual
7.2.4. Quanto custa recorrer ao sistema de justiça?
7.2.5. Quando é necessária representação por advogado
7.3. Apoio judiciário Miguel Romão

4 > 8. Panoramas de Justiça Cível e Penal Diretor-geral correio@dgpj.mj.pt < 5


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As informações e as referências legais constantes deste Guia foram compiladas procurando-se o má-
ximo de rigor e de atualização no momento da sua preparação. No entanto, não deve ser dispensada a
6 > consulta da legislação em vigor, que pode ser acedida através do Diário da República (https://dre.pt),
e não visam substituir a obtenção de aconselhamento jurídico prestado por advogado ou solicitador.
• Sociedade Unipessoal por Quotas
Nesta forma societária uma única pessoa, singular ou coletiva, detém a
totalidade do capital social, sendo que este tem um valor mínimo de 1 €.
A responsabilidade do empresário ou titular das quotas está limitada ao
valor do capital social;
1. COMO CONSTITUIR UMA EMPRESA EM PORTUGAL
• Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada (EIRL)
Forma societária em que o empresário afeta um determinado capital,
1.1. Tipos de sociedades comerciais autónomo do pessoal, ao estabelecimento a explorar. Tem um capi-
tal social mínimo de 5.000 € e pelas dívidas resultantes de atividades
Os negócios devem assumir uma forma jurídica prévia. A forma depen- compreendidas no objeto do EIRL respondem apenas os bens a ele
derá do número de sócios e do tipo de estrutura pretendida. afetados;
Vigora a regra do capital social livre com algumas exceções.
• Sociedade anónima com um único acionista
Em Portugal não há restrições à entrada de capital estrangeiro, não
existindo qualquer discriminação do investimento com base na naciona- Forma societária com um único acionista mas com a particularidade
lidade ou residência do investidor. Assim, não é obrigatório ter um sócio desse acionista ter necessariamente que ser uma pessoa coletiva. Tem
nacional ou residente nem existem limitações à distribuição de lucros ou um capital social mínimo de 50.000 €, responsabilidade limitada, ações
dividendos para o estrangeiro. No entanto, é necessário que os sócios ou nominativas e o seu regime está sujeito a particularidades específicas.
titulares de uma participação na empresa tenham um número de iden-
No caso de uma estrutura coletiva, com mais do que um interve- Formas societárias
tificação fiscal (NIF), atribuído pela Autoridade Tributária e Aduaneira, coletivas
niente, existe um conjunto de outras possibilidades:
organismo do Ministério das Finanças.
No caso dos cidadãos estrangeiros ou não residentes para efeitos fiscais, • Sociedade por Quotas
no momento do pedido de atribuição de um NIF são obrigados a de-
Forma jurídica que exige a existência de pelo menos dois sócios, sem
signar um representante fiscal, o substituto tributário, domiciliado em
que a nenhum seja permitido contribuição de indústria. Tem um ca-
Portugal, que pode ser uma pessoa singular ou coletiva. Apenas para
pital social mínimo de 2 € (cada quota deve ter um valor de pelo menos
os cidadãos nacionais residentes na União Europeia, na Islândia ou na
1 €) e a responsabilidade dos titulares das quotas está limitada ao capi-
Noruega, a designação de representante fiscal é meramente facultativa.
tal social;
Os cidadãos brasileiros também estão dispensados da designação de subs-
tituto tributário quando solicitem a obtenção do cartão de cidadão junto
• Sociedade Anónima
das autoridades nacionais competentes.
Esta forma societária exige um mínimo de cinco participantes e a res-
Existem as seguintes opções para a forma singular, ou seja, quando está
ponsabilidade de cada sócio é limitada ao valor das ações por si subs-
envolvida na estrutura societária apenas uma pessoa:
critas. Tem um capital social mínimo de 50.000 €;
• Empresário em Nome Individual
• Sociedade Anónima Europeia
Formas societárias Forma societária constituída por um único individuo, ou seja, por uma
singulares Esta forma societária constitui uma forma mais simples de gerir uma
pessoa singular, para a qual a lei não obriga a um capital social mí-
empresa que esteja presente em mais de um país da União Europeia,
nimo. O empresário em nome individual afeta os seus bens próprios à
uma vez que permite reorganizar as atividades sob uma única marca
exploração da sua atividade e responde ilimitadamente pelas dívidas
europeia e gerir a empresa sem ter de criar redes de filiais. Trata-se de
contraídas no exercício da sua atividade;
uma sociedade de responsabilidade limitada, cujo capital se encontra
dividido em ações. Cada acionista é responsável apenas até ao limite do
8 > < 9
capital subscrito. Tem um capital social mínimo de 120.000 €;
• Sociedade em Nome Coletivo 1.2. Constituição de sociedades num curto espaço de tempo
Esta forma societária exige pelo menos dois sócios, mas não exige ou online
capital mínimo. Os sócios respondem ilimitada e subsidiariamente em
relação à sociedade e solidariamente entre si, perante os credores; O procedimento “Empresa na Hora” permite a constituição de uma so-
Empresa na hora
ciedade comercial de forma mais célere, menos burocrática e igualmente
• Sociedade em Comandita eficaz.

Trata-se de sociedade de responsabilidade mista, pois reúne sócios com Através desta iniciativa é possível constituir sociedades unipessoais
responsabilidade limitada, que contribuem com o capital (os coman- por quotas, sociedades por quotas e sociedades anónimas (com ex-
ditários), e sócios de responsabilidade ilimitada e solidária entre si, ceção das sociedades anónimas europeias), em poucos passos, num mes-
que contribuem com bens ou serviços e assumem a gestão e a direção mo local e em menos de uma hora.
efetiva da sociedade (os comanditados). No caso das sociedades em co- Os sócios podem dirigir-se a qualquer balcão do serviço “Empresa na
mandita simples exige-se pelo menos dois sócios e nas sociedades em Hora”, independentemente da localização da sede da futura socie-
comandita por ações cinco sócios comanditários e um comanditado. dade. Uma lista dos balcões disponíveis pode ser consultada no site
O capital social mínimo é de 50.000 €; empresanahora.justica.gov.pt ou em justica.gov.pt.

• Cooperativa Apenas é necessário:


Trata-se de uma forma particular de sociedade, uma vez que as co-
operativas são pessoas coletivas autónomas, de livre constituição, de • escolher uma firma (nome) de uma lista pré-aprovada ou apre-
capital e composição variáveis, que, através da cooperação e entre- sentar um certificado de admissibilidade que já tenha sido aprovado
ajuda dos seus membros, com obediência aos princípios cooperativos, pelo Registo Nacional de Pessoas Coletivas;
visam, sem fins lucrativos, a satisfação das necessidades e aspirações
económicas, sociais ou culturais daqueles. • indicar um Técnico Oficial de Contas (TOC), da Bolsa de TOCs
disponibilizada ou entregar a declaração de início de atividade em
As sociedades anónimas e as sociedades por quotas podem, ainda, consti- qualquer serviço de Finanças (até 15 dias depois da criação da empresa);
tuir-se sob a forma sociedades gestoras de participações sociais que
obedecem às regras dos respetivos regimes. Trata-se de sociedades que • que os sócios da empresa tenham depositado o valor do capital so-
têm por único objeto contratual a gestão de participações sociais noutras cial da empresa ou declarem que o valor será depositado em dinheiro
sociedades, como forma indireta de exercício de atividades económicas. ou entregue nos cofres da sociedade; e,
Depois de estar decidida a forma jurídica, é necessário cumprir um con- • se os sócios forem pessoas singulares, devem apresentar um do-
junto de outros procedimentos, que, para maior facilidade, podem ser ini- cumento de identificação (Cartão de Cidadão, Bilhete de Identidade,
Centros ciados num Centro de Formalidades de Empresas (CFE). Os CFE são
de Formalidades Passaporte ou Autorização de Residência) e indicar os seus números
de Empresas serviços de atendimento e de prestação de informações aos cidadãos que de identificação fiscal (NIF);
têm por objetivo facilitar os processos de constituição, alteração ou extin-
ção de empresas. Agregam, num único local, delegações ou extensões dos • se os sócios forem pessoas coletivas, devem apresentar:
Serviços ou Organismos da Administração Pública que mais diretamente
intervêm nos processos referidos. • o Cartão de Identificação de Pessoa Coletiva ou o código de
acesso ao Cartão Eletrónico;

• a ata de deliberação da Assembleia-Geral atribuindo aos repre-


sentantes legais poder para criar a sociedade;

10 > • os documentos de identificação dos representantes legais da < 11


empresa a criar (Cartão de Cidadão, Bilhete de Identidade, Passapor- 1.3. Balcão “Company IN” para estrangeiros que queiram
te ou Autorização de Residência); a certidão da escritura ou o do- constituir empresa em Portugal
cumento de constituição ou pacto social atualizado das entidades
coletivas. Os investidores estrangeiros que desejem constituir uma empresa em
Portugal, em qualquer setor de atividade, podem agora fazê-lo mais facil-
Todos os sócios da empresa a criar têm de estar presentes na altura do mente no novo balcão único chamado “Company IN”.
pedido de criação da entidade.
Os estrangeiros que desejem constituir uma empresa em Portugal po-
O custo de criar uma Empresa na Hora varia em função dos elementos dem fazer uma marcação nos balcões únicos “Company IN”, em Lisboa
que decidir adicionar ao pedido de criação da entidade coletiva. No en- e no Porto, com um funcionário que fale inglês. Ser-lhes-á atribuído um
tanto, é possível criar uma “Empresa na Hora” a partir de 360 € (pedido Número de Identificação Fiscal (NIF), eliminando assim a necessidade de
standard). o solicitar previamente à Autoridade Tributária.
Da mesma forma que é possível a constituição de uma “Empresa na Além disso, as atas bilingues das procurações, memorandos e regras de
Hora”, também é possível adotar idêntico procedimento para as sucur- procedimento estão disponíveis online, no site da “Company IN”, onde se
sais, através do serviço “Sucursal na Hora”. podem encontrar todas as informações que ajudem no processo de cons-
Para evitar deslocações, também é possível criar uma “Empresa Online”, tituição de empresas.
Empresa Online
através de um processo extremamente agilizado. Nesta fase piloto, as marcações em inglês podem ser agendadas por email
Este procedimento permite criar sociedades por quotas, unipessoais (companyin@irn.mj.pt) ou através da “Empresa na Hora” sediada no Reg-
por quotas e anónimas. isto Nacional de Pessoas Coletivas (RNPC), pelo telefone fixo (+351 217
714 300).
Para usufruir desta ferramenta basta ser detentor de um Cartão de Ci-
dadão (ou Certificado Digital) e de um leitor de cartões ou de Chave Mó- Para mais informações consulte a secção da “Company IN” disponível
vel Digital. em empresanahora.justica.gov.pt.
Este serviço pode ser acedido no site: eportugal.gov.pt ou em justica.gov.
pt.
1.4. Balcão do Empreendedor
Apenas é necessário:
Está também disponível, para apoio à atividade empresarial, no site
• autenticação com o Cartão de Cidadão ou Chave Móvel Digital, se eportugal.gov.pt, o “Balcão do Empreendedor”. Este balcão virtual
for um cidadão; destina-se aos agentes económicos para consulta de informação e sub-
missão de pedidos eletrónicos. Permite num só site tratar de diversos as-
• autenticação com um Certificado Digital, se for advogado, solicitador suntos, tais como criar uma empresa, registar uma marca, obter certidões
ou notário. ou fazer o licenciamento de atividades.
Permite ainda a consulta e informação sobre as leis, regulamentos e forma-
O custo de criar uma “Empresa Online” varia em função dos elementos lidades aplicáveis à prestação de serviços, com disponibilização de for-
que decidir adicionar ao pedido de criação da entidade coletiva. No en- mulários e documentação desmaterializados e passíveis de envio por via
tanto, é possível criar uma “Empresa Online” a partir de 220 € (com um eletrónica.
modelo de pacto social pré-aprovado).
Saiba mais em eportugal.gov.pt.

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depósito não depende da validação por parte de um conservador ou
oficial de registo.

São registados por transcrição, designadamente:

• a constituição de sociedade;
2. REGISTOS – O QUE REGISTAR E COMO REGISTAR
• a designação e cessação de funções, dos órgãos de administração e
O registo é uma forma de dar publicidade a situações jurídicas. Exis- fiscalização das sociedades, bem como do secretário da sociedade;
Tipos de registo
tem diferentes tipos de registo consoante a situação jurídica em causa.
Existem os registos de natureza civil, como o registo de nascimento, o • a mudança de sede e a transferência de sede para o estrangeiro;
registo de casamento ou o registo de óbito e os registos com estes conexos
ou que os alteram, como o registo de perfilhação, de mudança de sexo ou • a prorrogação, fusão, cisão, transformação e dissolução das sociedades;
de herança; os registos de natureza patrimonial, como o registo predial e
o registo automóvel; e os registos de natureza comercial, como os registos • o aumento, redução ou reintegração do capital social;
relativos às pessoas coletivas. Existe ainda o registo criminal e o Registo
Central do Beneficiário Efetivo. • qualquer alteração ao contrato de sociedade;
A maioria destes registos encontra-se atualmente disponível de forma
simples, rápida e particularmente desburocratizada, na maioria dos casos • a designação e cessação de funções, anteriores ao encerramento
à distância de um clique. O Ministério da Justiça, através do Instituto da liquidação, dos liquidatários das sociedades, bem como os atos de
dos Registos e Notariado (IRN), da Direção-Geral da Administração da modificação dos poderes legais ou contratuais dos liquidatários;
Justiça (DGAJ) e do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI),
disponibiliza um conjunto de serviços presenciais e online que facilitam • o encerramento da liquidação ou o regresso à atividade das sociedades.
os procedimentos nesta matéria.
São registados por depósito, entre outros que a lei especificamente prevê:
As certidões relativas aos registos, ou seja os documentos que atestam
as situações registadas, podem ser pedidas e consultadas presencialmente • a deliberação da assembleia geral para aquisição de bens pela sociedade;
nos serviços respetivos, nos Espaços Registos ou nas Lojas do Cidadão ou
online através dos sites justica.gov.pt ou eportugal.gov.pt. • a unificação, divisão e transmissão de quotas;
No que se refere às empresas é particularmente relevante o registo comer-
cial que se destina a dar publicidade à situação jurídica dos comer- • a promessa de alienação ou de oneração de partes de capital ou de
ciantes individuais, das sociedades comerciais, das sociedades civis sob quotas, bem como os pactos de preferências, se tiver sido convencio-
Registo comercial
forma comercial e dos estabelecimentos individuais de responsabilidade nado atribuir-lhes eficácia real;
limitada, tendo em vista a segurança do comércio jurídico. Através do
registo comercial, podem ser registados vários acontecimentos, desde a • a constituição e a transmissão de usufruto, o penhor, arresto, arrola-
constituição de uma entidade até à sua extinção. mento e penhora de quotas;

Este registo pode ser feito de duas formas: • o projeto de constituição de uma sociedade anónima europeia por
meio de fusão, o projeto de constituição de uma sociedade anónima
• por transcrição, ou seja, os atos a registar são aprovados ou recusa- europeia por meio de transformação de sociedade anónima de direito
dos pelo conservador que os transcreve para os registos públicos; ou interno e o projeto de constituição de uma sociedade anónima euro-
peia gestora de participações sociais;
• por depósito, caso em que serve apenas para arquivar documentos
16 > sobre factos que estejam sujeitos a registo comercial. O registo por < 17
• a prestação de contas anuais e, se for caso disso, das contas conso- • o Registo Automóvel que tem por fim dar publicidade à situação
lidadas; jurídica dos veículos a motor e respetivos reboques, tendo em vista a
segurança do comércio jurídico. Para efeitos de registo, são considera- Registo Automóvel
• o projeto de transferência da sede para outro Estado membro da União dos veículos a motor e respetivos reboques que, nos termos do Código
Europeia; da Estrada, estejam sujeitos a matrícula.

• o projeto de transformação em sociedade anónima de direito interno; Através do serviço Automóvel Online é possível pedir pela Internet vá-
rios atos de registo sobre veículos e respetivos reboques e receber poste-
• o projeto de transferência de sede do agrupamento europeu de inte- riormente, sem deslocações, o Certificado de Matrícula/Documento Único
resse económico; Automóvel. Neste site é possível:

• a prestação de contas das sociedades com sede em Portugal ou no • apresentar o pedido online de registo da transferência de proprie-
estrangeiro e representação permanente em Portugal. dade de veículo automóvel (por exemplo, registar o novo proprietário
Pedir Certidão de um automóvel na sequência da compra de um veículo novo ou usa-
do Registo A Certidão do Registo Comercial pode ser pedida por: do) e outros atos de registo sobre veículos e respetivos reboques;
Comercial
• aqueles que tenham poderes de representação para intervir no respe- • consultar o estado do pedido depois de efetuado;
tivo título;
• apresentar o pedido da certidão permanente do registo automóvel;
• mandatário com procuração bastante;
• consultar a certidão permanente do registo automóvel.
• advogados, notários e solicitadores;
É possível aceder a este registo e realizar os atos relevantes em qualquer
• revisores e técnicos oficiais de contas, para o pedido de depósito dos Conservatória do Registo Automóvel, num Espaço Registos ou on-
documentos de prestação de contas. line em automovelonline.mj.pt ou em justica.gov.pt.

O registo comercial está disponível online em justica.gov.pt. Em al- • o Registo Criminal contém informação sobre condenações crimi-
ternativa, podem ser pedidos os atos de registo comercial presencial- nais de pessoas singulares e de pessoas coletivas e permite o conheci- Registo Criminal
mente, em qualquer Conservatória do Registo Comercial ou nos mento dos antecedentes criminais das pessoas condenadas.
Espaços Registos.
No certificado do registo criminal são apresentadas informações sobre:
Para a atividade de uma sociedade comercial podem ser também rele-
vantes outros registos, designadamente:
• condenações criminais proferidas por tribunais portugueses;
Registo Predial • o Registo Predial que se destina essencialmente a dar publicidade à
• decisões de tribunais portugueses que apliquem medidas de segu-
situação jurídica dos prédios, tendo em vista a segurança do comércio
rança;
jurídico imobiliário. São registadas a compra e venda de imóveis, bem
como outras constituições de direitos sobre imóveis.
• decisões criminais de tribunais estrangeiros, comunicadas a Portugal
ao abrigo de acordos internacionais, que digam respeito a portugueses
É possível aceder a este registo e realizar os atos relevantes em qualquer
ou estrangeiros residentes em Portugal e a pessoas coletivas que te-
Conservatória do Registo Predial, num Espaço Registos ou online
nham em Portugal a sua sede, administração efetiva ou representação
em predialonline.pt ou em justica.gov.pt.
permanente.

18 > < 19
Pode pedir o registo criminal qualquer pessoa com mais de 16 anos, • Cartório Notarial português;
Pedir o Registo se for o seu próprio registo criminal. Qualquer pessoa maior de 18 anos
Criminal
pode pedir o registo criminal de outra pessoa, desde que autorizada pela • Conservatória dos Registos Centrais;
mesma. O pedido, neste caso, tem de ser feito presencialmente e a auto-
rização tem de ser apresentada aos serviços. • Conservatória do Registo Civil;
O certificado do registo criminal de uma pessoa coletiva só pode ser
• Consulado português no país onde o documento foi emitido;
pedido por um representante legal dessa entidade.
Este certificado pode ser pedido e consultado online em registocri- • Consulado que represente em Portugal o país onde o documento foi
minal.justica.gov.pt, presencialmente ou, em caso de residente no es- emitido;
trangeiro, por correio ou email. Presencialmente pode ser pedido num
dos balcões dos Serviços de Identificação Criminal (disponíveis também • Câmaras de Comércio e Indústria, reconhecidas nos termos do De-
nas Lojas do Cidadão) ou nas Unidades Centrais ou Juízos de Proximidade creto-Lei n.º 244/92, de 29 de outubro;
de Secretarias de Tribunais de Comarca.
• Advogados e Solicitadores.
O certificado tem um custo de 5 € se for emitido em papel, mas a sua con-
sulta online é gratuita. Pode ainda ser feita por tradutor idóneo e certificada por qualquer um dos
A validade deste documento é de três meses. serviços ou entidades anteriormente referidas.

O registo criminal de uma sociedade comercial pode ser necessário para Não pode intervir como tradutor aquele a quem o documento tra-
diversos fins, por exemplo para celebração de contratos com o setor públi- duzido respeita, ou ao seu cônjuge, ou aos outros familiares referidos na
co, conforme resulta do Código dos Contratos Públicos. alínea e) do n.º 1 do art.º 68.º do Código do Notariado, por ser inábil.

Registo Central
• o Registo Central do Beneficiário Efetivo (RCBE) pretende
do Beneficiário identificar todas as pessoas que controlam uma empresa, fundo ou
Efetivo entidade jurídica de outra natureza. A declaração do RCBE deve ser
preenchida por todas as entidades constituídas em Portugal ou que
aqui pretendam fazer negócios.

O registo do beneficiário efetivo pode ser feito em rcbe.justica.gov.pt


ou nos locais a indicar na página do IRN, quando associado a um pedi-
do de registo comercial ou de inscrição no Ficheiro Central de Pessoas
Coletivas, apenas mediante agendamento, quando o mesmo for disponi-
bilizado.
As consultas ao registo podem também ser feitas online.
Mais informações disponíveis em rcbe.justica.gov.pt.
Sempre que for necessária tradução de documentos para instruir ou
basear atos de registo, esta pode ser feita pelos seguintes serviços ou en-
tidades:

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>>>
3 >>>
Além da marca, podem ser registados outros sinais do comércio: logóti-
pos, denominações de origem, indicações geográficas, marcas cole-
tivas, marcas de certificação ou de garantia e recompensas.

Logótipo é um sinal que identifica uma entidade comercial e que pode


ser utilizado em estabelecimentos, viaturas, publicidade, impressos ou
3. PROPRIEDADE INTELECTUAL
correspondência. Pode ser composto por palavras (incluindo nomes de
pessoas), desenhos, letras, números ou uma combinação dos elementos
A propriedade intelectual reveste-se, em sede de investimento, de parti-
anteriores.
cular importância, razão que justifica o seu tratamento autonomizado
face aos restantes registos. Em Portugal, só o Instituto Nacional da
Denominação de origem é a utilização do nome de uma região, de um
Propriedade Industrial (INPI) pode atribuir direitos de exclusividade
local ou de um país para designar ou identificar um produto que é origi-
sobre marcas, invenções e designs, nos termos do Código da Propriedade
nário dessa região, desse local ou desse país e cuja qualidade ou caracte-
Industrial (CPI). Esses direitos são atribuídos através do registo. O regis-
rísticas se devem, essencial ou exclusivamente, ao meio geográfico onde
to protege o titular da utilização e comercialização não autorizadas das
é produzido (incluindo os fatores naturais e humanos) e cuja produção,
suas marcas, patentes ou designs. O INPI tem como missão garantir a
transformação e elaboração acontecem nessa área geográfica. Para que
promoção e a proteção dos direitos de propriedade industrial, tanto em
um produto possa ser protegido como denominação de origem tem de
território nacional como à escala internacional.
haver uma ligação forte entre o produto e a região de origem. É, portanto,
nesse meio que deve ser produzido, transformado e elaborado.
O INPI tem competência para fazer os seguintes registos:
Indicação geográfica é a utilização do nome de uma região, de um local
Registo de marca ou de um país para designar ou identificar um produto que é originário
Registos dessa região, desse local ou desse país e cuja reputação, determinada quali-
da competência Uma marca é um sinal usado para distinguir produtos ou serviços de uma dade ou outra característica podem ser atribuídas a essa origem geográ-
do INPI empresa no meio comercial. A marca pode ser: fica e cuja produção, transformação ou elaboração acontece nessa área
geográfica. Nas indicações geográficas, a ligação entre o produto e o lo-
• nominativa: composta por palavras (incluindo nomes de pessoas, le-
cal de origem é mais fraca. Basta que a reputação ou outra característica
tras ou números); do produto possa ser atribuída a essa origem. E basta que uma das fases
da criação do produto (produção, transformação ou elaboração) aconteça
• figurativa: composta por desenhos, imagens ou figuras;
nesse lugar.
• mista: composta por palavras (incluindo nomes de pessoas, letras ou
Marca coletiva é uma marca que identifica os produtos ou serviços
números) e por desenhos, relacionados com a atividade de uma associação de pessoas singulares
imagens ou figuras; ou coletivas. É necessário que esteja designado nos estatutos ou regu-
lamentos internos quem pode usar a marca, as condições em que deve
• sonora: composta por sons, desde que graficamente representáveis;
ser usada e os direitos e obrigações dos utilizadores em caso de usurpa-
ção ou contrafação.
• tridimensional: composta pela forma do produto ou da sua emba-
lagem; Marca de certificação ou de garantia é uma marca coletiva que per-
tence a uma pessoa coletiva que controla os produtos ou estabelece nor-
• um slogan: composta por uma frase publicitária, mesmo que a frase
mas a que estes produtos ou serviços devem obedecer. Este sinal serve
já esteja protegida pelo direito de autor. para ser utilizado nos produtos ou serviços submetidos àquele controlo
ou para os quais as normas foram estabelecidas.
24 > < 25
Recompensa é um sinal composto por palavras, letras, números, dese- Podem obter-se patentes para invenções em todos os domínios da tecno-
nhos, imagens ou emblemas. É atribuído a industriais, comerciantes, logia. Em contrapartida, no caso dos modelos de utilidade, não é possível
agricultores ou empresários, como prémio, demonstração de louvor ou proteger invenções que incidam sobre matéria biológica ou sobre subs-
preferência pelos seus produtos. Consideram-se recompensas as conde- tâncias ou processos químicos ou farmacêuticos.
corações de mérito atribuídas pelo Estado português ou por outros Esta-
Se a patente ou o modelo de utilidade forem concedidos, passa o seu titu-
dos, as medalhas, diplomas e prémios em dinheiro ou de qualquer outra
lar a deter um exclusivo que lhe confere o direito de impedir que tercei-
natureza obtidos em exposições, feiras e concursos, oficiais ou oficial-
ros, sem o seu consentimento, fabriquem o objeto da patente, apliquem
mente reconhecidos, em Portugal ou no estrangeiro, os diplomas e atesta-
os meios ou processos protegidos, ou importem ou explorem os produtos
dos de análise ou louvor, passados por laboratórios ou serviços do Estado
ou processos protegidos sem a devida autorização.
ou de outros organismos qualificados, os títulos de fornecedor do Chefe
de Estado, Governo e outras entidades ou estabelecimentos oficiais, na- Antes de fazer um pedido, deve procurar saber se deve apresentar um
cionais ou estrangeiros e quaisquer outros prémios ou demonstrações de pedido de patente ou de modelo de utilidade. Certifique-se de que a sua
preferência de caráter oficial. As recompensas não podem ser aplicadas invenção se adequa ao tipo de pedido que quer fazer e de que essa inven-
a produtos ou serviços diferentes daqueles para os quais foram criadas. ção ainda não faz parte do estado da técnica.
De uma forma geral, não podem ser registados os sinais que já estejam Os direitos atribuídos pelo INPI só são válidos em território nacional. Por
registados, induzam o consumidor em erro, utilizem palavras que não po- isso, para proteger as suas invenções no estrangeiro, deve fazer um pedi-
dem ser de utilização exclusiva, utilizem expressões ou palavras contrá- do internacional ou um pedido europeu, ou ainda fazer pedidos direta-
rias à moral e aos bons costumes, violem direitos de terceiros ou favore- mente nos países onde quer proteger a sua invenção.
çam a concorrência desleal ou contenham símbolos de Estado, emblemas
de entidades públicas nacionais ou estrangeiras, brasões, nomes ou retra- Registo de design
tos de pessoas, sinais com elevado valor simbólico (por exemplo, símbolos
religiosos), sem autorização das pessoas ou entidades a quem pertencem Registar um design é a forma de proteger legalmente os seus desenhos
esses símbolos. ou modelos da utilização não autorizada. Podem ser registados como
designs todos os desenhos ou modelos que ainda não tenham sido regis-
Os direitos atribuídos pelo INPI só são válidos em território nacional.
tados, sejam novos, únicos e nunca tenham sido divulgados ao público.
Para proteger a sua marca ou outros sinais no estrangeiro, deve fazer um
pedido de registo de marca da União Europeia ou internacional. Se Um design é o conjunto de todas as características que definem a aparên-
preferir, pode fazer pedidos de registo diretamente em cada um dos países cia da totalidade ou de parte de um produto. Inclui linhas, contornos,
onde pretende registar a sua marca ou sinal. cores, formas, texturas e materiais ou outras particularidades do próprio
produto e da sua ornamentação. Em Portugal, o design de um produto
Registo de patente pode ser protegido através do registo de desenho ou modelo.
O registo de um design demora, no mínimo, três meses a ser garantido.
Pode fazer um pedido de patente para as invenções que ainda não sejam Depois de aprovado, o registo de design é válido por um período má-
do conhecimento público (pedidos provisórios de patente). Também pode ximo de 25 anos.
proteger invenções através de modelos de utilidade.
Os direitos atribuídos pelo INPI só são válidos em território nacional.
Uma patente é um direito exclusivo que se obtém sobre invenções. Para proteger os seus desenhos ou modelos no estrangeiro, deve fazer um
Neste contexto, importa explicar que uma invenção é uma solução técni- pedido de registo europeu (para proteger o design na União Europeia)
ca para resolver um problema técnico específico. A patente é um contrato ou internacional. Se preferir, pode fazer pedidos de registo de um design
entre o Estado e quem faz o pedido. Dá ao titular o direito exclusivo de diretamente em cada um dos países onde pretende registar a sua criação.
produzir e comercializar uma invenção, tendo como contrapartida a sua
divulgação pública.

26 > < 27
Agentes Oficiais da Propriedade Industrial e procuradores
autorizados

São Agentes Oficiais da Propriedade Industrial (AOPI), aqueles que


forem reconhecidos pelo INPI para junto deste exercerem atos de pro-
priedade industrial em nome e no interesse das partes que forem seus
clientes e constituintes, com dispensa da exibição de procuração. O exer-
cício da profissão de Agente Oficial da Propriedade Industrial e de
procuradores autorizados junto do INPI está regulado legalmente pelo
Decreto-Lei n.º 15/95, de 24 de janeiro. Existe uma lista de Agentes Ofi-
ciais da Propriedade Industrial e procuradores autorizados disponível em
inpi.justica.gov.pt.
O acesso à atividade de AOPI em Portugal faz-se junto do INPI através

4
de dois regimes distintos, consoante o interessado detenha já, ou não, a
qualidade de AOPI:

• o regime de aquisição da qualidade de AOPI (aplicável aos casos em


que o interessado deseja adquirir esta qualidade pela primeira vez);

• o regime de reconhecimento da qualidade de AOPI anteriormente

>>>
adquirida noutro Estado Membro (aplicável aos casos em que o interes-
sado é já AOPI noutro país).

28 >
Alguns contratos, como por exemplo a compra e venda de imóveis ou
de veículos motorizados, exigem o posterior registo da propriedade.
As transações mais simples e comuns na vida quotidiana, como a com-
pra e venda de grande parte dos bens móveis e dos bens para con-
sumo, são contratos que nada mais exigem do que o seu cumprimento
pelas partes sem outros requisitos legais adicionais.
4. CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS
4.2. Incumprimento contratual
4.1. Princípios e forma
O incumprimento contratual ocorre sempre que uma das partes não
Os contratos são a expressão de todos os negócios jurídicos e a principal realiza ou não realiza adequadamente a prestação a que está obrigada. O
fonte de obrigações. Podem assumir diversas formas, em alguns casos devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se
Definição responsável pelo prejuízo que causa ao credor.
de Contrato condicionantes da sua validade, e ter os mais variados objetos. São cele-
brados diariamente em todas as transações efetuadas, com maior ou
menor formalidade. O incumprimento pode ser:

A disciplina jurídica dos contratos, com exceção de alguns casos particu- • definitivo, quando é impossível cumprir ainda a obrigação;
lares, encontra-se prevista no Código Civil.
Vigora em Portugal o princípio da liberdade contratual, ou seja, den- • atrasado (mora), quando o cumprimento está em atraso, mas ainda
tro dos limites da lei, as partes podem fixar livremente o conteúdo dos é possível concretizá-lo;
contratos, celebrar contratos diferentes dos previstos no Código Civil ou
incluir nestes as cláusulas que entendam adequadas. Podem ainda reu- • defeituoso, quando não corresponde ao estipulado no contrato.
nir no mesmo contrato regras de dois ou mais negócios, total ou parcial- Reações ao
mente regulados na lei. Quando há incumprimento contratual, são possíveis diversas reações: incumprimento
contratual
Vigora também o princípio da boa fé, que implica que quem negoceia • resolução do contrato, com base no incumprimento de uma parte
com outrem para conclusão de um contrato deve proceder segundo as a outra parte pode resolver, ou seja, por fim ao contrato. Se já tiver
regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente cumprido a sua parte, pode exigir a restituição;
causar à outra parte.
São nulos os negócios jurídicos cujo objeto seja física ou legalmente • cobrança coerciva ou judicial, feita através de via contenciosa. Se
impossível, contrário à lei ou indeterminável. São também nulos os o credor já estiver na posse de um título executivo pode intentar desde
negócios jurídicos contrários à ordem pública ou ofensivos dos bons logo uma ação executiva. Este é o mecanismo processual adequado
costumes. São anuláveis os negócios jurídicos usurários, ou seja, quando para o credor requerer as providências visando a satisfação do seu
alguém, explorando a situação de necessidade, inexperiência, ligeireza, crédito. O credor pode solicitar o pagamento de quantia certa; a entre-
dependência, estado mental ou fraqueza de carácter de outrem, obtiver ga de coisa certa; ou uma prestação de facto (realização de uma ação
deste, para si ou para terceiro, a promessa ou a concessão de benefícios ou serviço concreto).
excessivos ou injustificados. Uma das providências mais usadas é a penhora, ou seja, a apreensão
Vigora também o princípio de que os contratos devem ser integral- dos bens e/ou dos rendimentos do executado para o pagamento aos
mente cumpridos, só podendo modificar-se o u extinguir-se mediante credores.
consentimento daqueles que os celebraram ou nos casos admitidos na lei. Na ação executiva destaca-se o papel dos Agentes de Execução,
Os contratos produzem efeito entre as partes e só produzem efeitos em profissionais responsáveis pelos atos práticos de cobrança e pagamen-
relação a terceiros nos casos e termos especialmente previstos na lei. to aos credores.
30 > < 31
No entanto, caso o credor não esteja ainda na posse de um título execu- 4.3. Insolvência e Processos Especiais para Acordo de Paga-
tivo, pode também recorrer aos tribunais para a sua obtenção. A ação mento ou de Revitalização
adequada neste caso é a ação declarativa, na qual o tribunal reconhece
o crédito. A sentença desta ação reveste a forma de título executivo. Diversas circunstâncias podem determinar a impossibilidade de paga-
É ainda possível obter um título executivo através do procedimento mento de todas as obrigações assumidas. Neste caso, é possível a insol-
de injunção, que permite a um credor de uma dívida obter um título vência, que pode ser pessoal ou das empresas.
executivo, de forma mais simples e célere, sem recurso a um tribunal. No entanto, sempre que uma pessoa singular ou coletiva sem fins lucra-
Procedimento Este procedimento apenas pode ser aplicado quando esteja em causa tivos se encontre em situação económica difícil e a insolvência seja me-
de Injunção uma dívida igual ou inferior a 15.000 € ou uma dívida que resulte de ramente iminente, ou seja quando a impossibilidade de pagamento não
uma transação comercial desde que não resulte de um contrato cele- é ainda absoluta, mas existem sérias dificuldades no cumprimento das
brado com consumidores. O procedimento de injunção é tramitado obrigações assumidas, é possível o recurso ao Processo Especial para
eletronicamente no Balcão Nacional de Injunções. No entanto, o re- Acordo de Pagamento (PEAP). No caso das pessoas coletivas, nas mes-
querimento de injunção pode ser apresentado em papel ou em fichei- mas circunstâncias, podem recorrer ao Processo Especial de Revita-
ro informático em qualquer ponto do país, nos tribunais competentes lização (PER).
em cada comarca para o receber. Nestes casos, são estes tribunais que Trata-se de processos judiciais que se iniciam com a apresentação de um
remetem o requerimento, por via eletrónica, ao Balcão Nacional de requerimento ao tribunal, assinado pelo devedor e por pelo menos um
Injunções. Após a apresentação do requerimento de injunção pelo dos seus credores, com vista à promoção da negociação com todos os cre-
credor, o eventual devedor é notificado desse requerimento e, se não dores e consequente aprovação de um acordo de pagamento.
se opuser ao mesmo, é emitido o referido título executivo. Caso se
oponha, o processo é remetido para um tribunal, para decisão judicial. No caso do PER, trata-se de um processo especial, criado no Código
da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE), que se destina a
• o recurso a meios de resolução alternativa de litígios, muitos permitir a qualquer devedor que, comprovadamente, se encontre em
contratos já preveem que a resolução dos conflitos deles resultantes situação económica difícil ou em situação de insolvência meramente
será operada por esta via. Não obstante, mesmo que não fique estipu- iminente, mas que ainda seja suscetível de recuperação, estabelecer ne-
lado no contrato, ou nos casos em que o contrato não assumiu forma gociações com os respetivos credores de modo a concluir com estes um
escrita, é também possível o recurso a estes meios. acordo conducente à sua revitalização económica, facultando-lhe a pos-
sibilidade de se manter ativo no giro comercial. Para este efeito, encon-
• indeminização por incumprimento, o credor tem, em regra, direi- tra-se em situação económica difícil o devedor que enfrentar dificuldade
to a ser indemnizado pelo incumprimento do devedor, mas para tal é séria para cumprir pontualmente as suas obrigações, designadamente por
necessário que do incumprimento resultem danos ou prejuízos para o ter falta de liquidez ou por não conseguir obter crédito, e encontra-se em
credor e este os possa demonstrar. situação de insolvência meramente iminente o devedor que anteveja
não poder continuar a cumprir pontualmente as suas obrigações.
Há, ainda, contratos que já contemplam uma cláusula penal, ou seja,
contratos nos quais já é determinado um regime especifico de res- No portal Citius é possível consultar gratuitamente informação sobre os
ponsabilidade pelo incumprimento, que pode contemplar uma indemni- processos especiais de revitalização, os processos especiais para acordo
zação específica. de pagamento e os processos de insolvência em citius.mj.pt.
Para acionar a indemnização deve ser contactado o devedor e, caso
não cheguem a acordo imediato, é possível o recurso aos tribunais
ou aos meios de resolução alternativa de litígios.

32 > < 33
>>>
5 >>>
Assim, cabe atentar nas seguintes modalidades:

a) o contrato de trabalho por tempo indeterminado é o negócio jurí-


dico, bilateral, pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante o pa-
gamento de uma retribuição, a prestar a sua atividade sob autoridade
e direção de outrem, normalmente no seio de uma organização produ-
5. CONTRATO DE TRABALHO E REGRAS LABORAIS
tiva, sem que seja estipulado qualquer limite ao tempo de duração do
respetivo vínculo (artigo 11.º do CT);
5.1. Regras gerais
b) diversamente, no contrato de trabalho a termo resolutivo há a fixa-
De acordo com o direito português, o contrato de trabalho é aquele pelo ção de um prazo de duração do contrato, obedecendo a celebração
Definição qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua
de Contrato de deste contrato a algumas regras especiais, de que se destacam as
Trabalho
atividade a outra ou a outras pessoas, no âmbito de organização e sob a seguintes:
autoridade destas – artigo 11.º do Código do Trabalho (CT).
O contrato de trabalho distingue-se de outros tipos contratuais, em par- i) a existência de um motivo justificativo, em particular, a satisfação
ticular do contrato de prestação de serviço, que é aquele em que uma das de necessidade temporária da empresa e pelo período estritamente
partes se obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho necessário à satisfação dessa necessidade (artigo 140.º do CT);
intelectual ou manual, com ou sem retribuição (artigo 1154.º do Código
Civil). Com efeito: ii) a sujeição à forma escrita (artigo 141.º do CT), assim se estabe-
lecendo uma exceção à regra geral de que o contrato de trabalho
a) por um lado, enquanto o contrato de trabalho se caracteriza pela não depende da observância de forma especial (artigo 110.º do CT),
prestação de uma atividade realizada de forma subordinada, no con- regra esta que se aplica ao contrato de trabalho por tempo indeter-
trato de prestação de serviço uma das partes obriga-se a proporcionar minado.
à outra certo resultado do seu trabalho;

b) por outro lado, enquanto o contrato de trabalho é um contrato em 5.3. Contrato de trabalho com regime especial: o contrato de
que existe sempre retribuição, no contrato de prestação de serviço serviço doméstico
pode haver ou não retribuição.
Para além desta classificação, caberá referir que o direito português prevê
alguns tipos de contrato de trabalho com regime especial, aos quais se
5.2. Modalidades de contrato de trabalho aplicam as regras gerais do Código do Trabalho que sejam compatíveis
com a sua especificidade (artigo 9.º do CT).
O direito português, a começar pela Constituição, consagra uma série
Neste contexto, destaca-se, pela sua relevância prática, o contrato de
de direitos da pessoa que trabalha, incluindo o princípio da segurança
serviço doméstico, regulado em particular no Decreto-Lei n.º 235/92, de
no emprego e da proibição de despedimentos sem justa causa ou por
24 de outubro, e que é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante
motivos políticos ou ideológicos (artigo 53.º da Constituição). Este
retribuição, a prestar a outrem, com carácter regular, sob a sua direção e
princípio abrange, nomeadamente, todas as situações que se traduzam
autoridade, atividades destinadas à satisfação das necessidades próprias
em precariedade da relação de trabalho, de modo que, à luz da ordem
ou específicas de um agregado familiar, ou equiparado, e dos respetivos
jurídica portuguesa, a relação de trabalho temporalmente indeter-
membros, nomeadamente (artigo 2.º):
minada é a regra e a contratação não permanente deve ser a exceção.

36 > < 37
a) a confeção de refeições; Nos restantes casos, o contrato de trabalho celebrado com trabalhador
estrangeiro ou apátrida (artigo 5.º do CT):
b) a lavagem e o tratamento de roupas;
a) está sujeito a forma escrita;
c) a limpeza e o arrumo de casa;
b) deve conter, sem prejuízo de outras exigências no caso de ser a
d) a vigilância e a assistência a crianças, pessoas idosas e doentes; termo, a identificação, as assinaturas e o domicílio ou a sede das
partes, a referência ao visto de trabalho ou ao título de autorização
e) o tratamento de animais domésticos; de residência ou permanência do trabalhador em território português,
a atividade do empregador, a atividade contratada e a retribuição do
f) a execução de serviços de jardinagem; trabalhador, o local e o período normal de trabalho, o valor, a perio-
dicidade e a forma de pagamento da retribuição, bem como as datas da
g) a execução de serviços de costura; celebração do contrato e do início da prestação de atividade;

h) a coordenação e supervisão de tarefas do tipo das mencionadas. c) deve ser elaborado em duplicado, entregando o empregador um exem-
plar ao trabalhador e devendo o exemplar do contrato que ficar com
O serviço doméstico só pode ser prestado por quem já tenha completado o empregador ter apensos os documentos comprovativos do cumpri-
16 anos de idade, devendo a admissão de pessoa menor de 18 anos de mento das obrigações legais relativas à entrada e à permanência ou
idade ser comunicada pela entidade empregadora, no prazo de 90 dias, à residência do cidadão estrangeiro ou apátrida em Portugal;
Autoridade para as Condições do Trabalho (artigo 4.º).
d) deve, antes do início da sua execução, ser comunicado à Autoridade
O contrato de serviço doméstico não está sujeito a forma especial, salvo
para as Condições de Trabalho, mediante formulário eletrónico, de-
se o mesmo for a termo (artigo 3.º), como sucede, por exemplo, quando se
vendo a respetiva cessação ser comunicada no prazo de 15 dias após
fixa um prazo de duração do contrato.
ter lugar.

5.4. Especificidades da celebração de contrato de trabalho


com trabalhador estrangeiro ou apátrida
Contrato de
trabalho com O direito português estabelece a regra de que o trabalhador estrangeiro
estrangeiro ou ou apátrida que esteja autorizado a exercer uma atividade profissional
apátrida
subordinada em território português goza dos mesmos direitos e está su-
jeito aos mesmos deveres do trabalhador com nacionalidade portuguesa
(artigo 4.º do CT).
A forma e o conteúdo do contrato de trabalho com trabalhador estrangei-
ro ou apátrida apresentam algumas especificidades. Estas não se aplicam,
todavia, aos contratos de trabalho celebrados com cidadãos nacionais de
qualquer Estado-Membro do Espaço Económico Europeu ou de outro Es-
tado que consagre a igualdade de tratamento com cidadão nacional em
matéria de livre exercício de atividade profissional (artigo 5.º do CT). As-
sim, nestes casos, o contrato de trabalho obedece às mesmas regras do
contrato de trabalho com trabalhador com nacionalidade portuguesa.

38 > < 39
>>>
6 >>>
Para as organizações, que podem ser responsáveis pelo tratamento ou sub-
contratados para o efeito, destacam-se as seguintes obrigações gerais:

• adoção de medidas técnicas e organizativas e de segurança adequa-


das (artigos 24.º e 32.º);
6. RELAÇÕES COMERCIAIS E COMPLIANCE • adoção de políticas de proteção desde a conceção e por defeito (artigo
25.º);
6.1. Proteção de dados pessoais • obrigação de demonstrar o cumprimento das obrigações (artigo 24.º),
em especial identificar a base legitimadora do tratamento (consenti-
A proteção de dados pessoais é um direito fundamental consagrado na mento, contrato ou negociações pré-contratuais, previsão legal, interes-
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (artigo 8.º) e na Cons- ses vitais, interesse público ou exercício de autoridade pública ou in-
tituição da República (artigo 35.º). Para tutelar esse direito fundamental teresses legítimos – cf. o artigo 6.º);
foi aprovado o Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 27 de abril de 2016, relativo à proteção das pessoas singu- • resposta aos pedidos dos titulares (artigo 12.º).
Enquadramento lares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circu-
legislativo lação desses dados e que revoga a Diretiva 95/46/CE - Regulamento Geral
comunitário Por seu turno, existem obrigações especiais, que abrangem apenas cer-
sobre a Proteção de Dados (RGPD), que é aplicável aos tratamentos de tas organizações ou que se aplicam apenas em certas situações:
dados pessoais por meios total ou parcialmente automatizados, bem como
ao tratamento por meios não automatizados de dados pessoais contidos • registo das atividades de tratamento (artigo 30.º);
em ficheiros ou a eles destinados (artigo 2.º).
O RGPD abrange tratamentos de dados pessoais efetuados por organi- • designação do encarregado da proteção de dados (artigo 37.º);
zações situadas no território da União Europeia, independentemente do
local do tratamento, assim como tratamentos de dados pessoais de pes- • avaliação prévia de impacto (artigo 35.º);
soas singulares que se encontrem no território da União efetuado por or-
ganizações não estabelecidas na União quando as atividades de tratamen- • notificação/comunicação das violações de dados (artigos 33.º e 34.º).
to estejam relacionadas com a oferta de bens ou serviços ou o controlo
comportamental (artigo 3.º). O RGPD, visando o controlo informacional de cada um de nós, elenca os
seguintes direitos gerais:
Por dado pessoal entende-se qualquer informação relativa a uma pessoa
singular identificada ou identificável, que é o titular dos dados, sendo • informação (artigos 13.º e 14.º);
considerada identificável uma pessoa que possa ser identificada, direta ou
indiretamente, por referência a um identificador, como o nome, número • acesso (artigo 15.º);
de identificação ou certas características particulares; por tratamento
entende-se qualquer operação ou conjunto de operações efetuadas sobre • retificação e completação (artigo 16.º);
dados pessoais, desde a recolha até ao apagamento, passando pela organi-
zação, consulta, utilização e interconexão (artigo 4.º). • reclamação a uma autoridade de controlo (artigo 77.º);
São vários os princípios que presidem ao RGPD: são eles a licitude
• ação judicial e pedido de indemnização (artigos 78.º, 79.º e 82.º);
Princípios e transparência, a limitação das finalidades, a minimização dos dados e
do RGPD exatidão, a limitação da conservação, a integridade e confidencialidade,
• representação por associação sem fins lucrativos (artigo 80.º).
assim como a responsabilidade (artigo 5.º). Os referidos princípios mate-
42 > rializam-se em obrigações para as organizações, por um lado, e, por outro, < 43
em direitos para os titulares dos dados.
Os direitos elencados são gerais porque aplicáveis a todos os indivíduos Direito à proteção da saúde e da segurança física - é proibido o forne-
e em todas as situações de tratamento. Deles se distinguem os direitos cimento de bens ou a prestação de serviços que, em condições de uso nor-
especiais, que podem conhecer exceções em certos tratamentos, e que mal, impliquem riscos incompatíveis com a sua utilização, não aceitáveis
são os seguintes: de acordo com um nível elevado de proteção da saúde e da segurança
física das pessoas.
• apagamento ou esquecimento (artigo 17.º);
Direito à informação - o fornecedor de bens ou prestador de serviços
• limitação do tratamento (artigo 18.º); deve, tanto na fase de negociações como na fase de celebração de um con-
trato, informar o consumidor de forma clara, objetiva e adequada, a não
• portabilidade (artigo 20.º); ser que essa informação resulte de forma clara e evidente do contexto, no-
meadamente sobre: (i) as características principais dos bens ou serviços;
• oposição (artigo 21.º); (ii) a identidade do fornecedor de bens ou prestador de serviços; (iii) o
preço total dos bens ou serviços; (iv) o período de vigência do contrato;
• não sujeição a decisões tomadas exclusivamente com base no trata- (v) a existência de garantia de conformidade dos bens, com a indicação do
mento automatizado que produzam efeitos na esfera jurídica, incluin- respetivo prazo, e, quando for o caso, a existência de serviços pós-venda e
do a definição de perfis (artigo 22.º). de garantias comerciais, com descrição das suas condições.
Estamos perante um contrato celebrado com recurso a Cláusulas Con-
Em Portugal, a autoridade de controlo é a Comissão Nacional de Pro- tratuais Gerais, quando uma das partes – seja ou não consumidor – cele- Cláusulas
teção de Dados (CNPD), a quem cabe fiscalizar a aplicação do RGPD. bra um contrato sem que possa discutir ou negociar alterações ao negócio contratuais gerais
apresentado pela contraparte, limita-se a aderir às cláusulas que ela uni-
lateralmente definiu. Nestes casos, a liberdade contratual está, na prática,
6.2. Direitos do consumidor confinada à aceitação ou rejeição do negócio. Para proteção do aderente a
lei impõe à empresa que propõe o contrato o dever de comunicar ao ader-
O direito do consumo abrange regras de diversos ramos do direito. Têm ente, de forma adequada e efetiva, as cláusulas constantes do modelo ne-
em comum o facto de visarem a proteção do consumidor, em virtude do gocial, exigindo-lhe que esclareça aquelas que possam não ser claras. Pela
desequilíbrio que se supõe existir quando contrata com um profissional. mesma razão, a lei proíbe, em todos os casos ou em função do negócio
Os princípios gerais do direito português do consumo encontram-se concretamente proposto, a inserção de certas cláusulas contratuais.
vertidos na Lei de Defesa do Consumidor (Lei n.º 24/96, de 31 de ju- A DGPJ mantém atualizado, online, o registo das cláusulas contratuais
lho), nos termos da qual consumidor é a pessoa a quem sejam forneci- declaradas nulas pelos tribunais em dgpj.justica.gov.pt.
dos bens, prestados serviços ou transmitidos direitos, destinados a uso
não profissional, por um profissional no âmbito da sua atividade comer- Estando em causa contratos de compra e venda de bens de consumo
cial (embora se deva ter presente que, no contexto de outros diplomas (ou outros contratos onerosos de transmissão de bens, como a troca), se
legais, o direito português reconhece outras definições de consumidor). o bem adquirido não for conforme com o contrato, o consumidor tem Venda de bens
São vários os direitos que a lei reconhece aos consumidores. Entre direito à reparação ou substituição gratuita do bem, à redução do preço de consumo
eles, destacam-se: ou à resolução do contrato. Paralelamente a estes direitos, o consumidor
pode exigir ao vendedor uma indemnização pelos prejuízos causados pela
Direito à qualidade dos bens e serviços - os bens e serviços destinados desconformidade do bem, nos termos gerais. O regime é aplicável a bens
ao consumo devem ser aptos a satisfazer os fins a que se destinam e a corpóreos, móveis e imóveis, incluindo os bens em segunda mão.
produzir os efeitos que se lhes atribuem, segundo as normas legalmente O consumidor pode optar livremente por qualquer um dos direitos que
estabelecidas, ou, na falta delas, de modo adequado às legítimas expecta- lhe são conferidos. Só assim não será quando seja impossível ao profis-
tivas do consumidor. sional cumprir uma das obrigações resultantes da opção escolhida (ima-
gine-se que o vendedor entrega ao consumidor, por lapso, um bem dife-
44 > rente daquele que ele adquiriu; neste caso a reparação é impossível), ou a < 45
escolha do consumidor constitua abuso de direito.
O vendedor é responsável pela falta de conformidade do bem que se Também com o intuito de proteger o utente, evitando que acumule dívi-
manifeste no prazo de dois ou de cinco anos a contar da data de entrega, das, o direito do prestador do serviço público essencial ao recebimento do
consoante se trate de bem móvel ou imóvel respetivamente. A lei presume preço prescreve no prazo de seis meses, contados da data da prestação.
que a falta de conformidade surgida dentro desse prazo já existia na data
da entrega. Logo, o consumidor não tem que demonstrar que o vício exis-
tia nesse momento, apenas que se manifestou dentro do prazo referido. 6.3. Relação com entidades públicas e privadas - Prevenção
Porém, para que possa exercer os direitos que a lei lhe atribui, o consumi- de riscos de corrupção
dor deve denunciar ao vendedor a falta de conformidade que detetou no
prazo de dois meses, no caso de bens móveis, ou de um ano, no caso de A corrupção é um sério obstáculo ao normal funcionamento das instituições.
bens imóveis. Uma vez denunciada a falta de conformidade, o consumi- O Código Penal português prevê o crime de corrupção no quadro do exer-
dor dispõe de um ano para exercer judicialmente os seus direitos, caso o cício de funções públicas. Estão também previstos, em legislação avulsa,
vendedor não os cumpra de forma voluntária. outros fenómenos de corrupção, como a corrupção no setor privado, a
Contratos No caso de contratos celebrados à distância (por exemplo, através da in- corrupção com prejuízo do comércio internacional, a corrupção de titu-
à distância ternet), e de contratos celebrados fora do estabelecimento (por exem- lares de cargos políticos, a corrupção de eleitor e a corrupção na atividade
plo, quando o profissional se desloca ao domicílio do devedor), situações desportiva.
em que se considera que o consumidor se encontra numa situação de par- O crime de corrupção implica a conjugação dos seguintes elementos:
ticular fragilidade, o profissional tem o dever de facultar ao consumidor
diversos elementos obrigatórios, relativos, por exemplo, à sua identidade, • uma ação ou omissão;
ao bem ou serviço a adquirir, às cláusulas do contrato ou às condições de
assistência pós-venda. • a prática de um ato lícito ou ilícito;
Quando seja celebrado um destes contratos, a lei reconhece ao consumi-
dor um direito ao arrependimento, atribuindo-lhe um direito de livre • a contrapartida de uma vantagem indevida;
resolução do contrato que pode exercer – através de qualquer declaração
inequívoca – nos 14 dias à entrega do bem ou à celebração do negócio, no • para o próprio ou para terceiro.
caso dos contratos de prestação de serviços (note-se que existem contra-
tos aos quais o direito ao arrependimento não é aplicável; a lista de ex- A corrupção pode ser ativa ou passiva dependendo se a ação ou omissão
ceções pode ser consultada no Decreto-Lei n.º 24/2014, de 14 de fevereiro). for praticada pela pessoa que corrompe ou pela pessoa que se deixa cor-
O profissional deve informar o consumidor sobre este direito antes da cele- romper. Por exemplo, quando alguém entrega dinheiro em troca de um
bração do contrato. Se não o fizer, o prazo de 14 dias subsequentes é elevado favor, pratica um crime de corrupção ativa. Quando alguém recebe di-
para doze meses e 14 dias. nheiro para cumprir ou omitir certos atos, pratica o crime de corrupção
passiva.
Serviços públicos Qualificam-se como serviços públicos essenciais, pelo interesse geral
essenciais que revestem, os seguintes serviços: o fornecimento de água, de energia Fala-se de corrupção pública ativa quando uma pessoa diretamente ou
elétrica, gás natural e gases de petróleo liquefeitos canalizados, o serviço através de outra pessoa, para si ou para outra pessoa, faz uma oferta,
de comunicações eletrónicas, os serviços postais, a recolha e tratamento promessa ou propõe um benefício de qualquer natureza, a um funcionário
de águas residuais, a gestão de resíduos sólidos urbanos. público para que este cumpra ou se abstenha de cumprir um determina-
do ato. Fala-se de corrupção pública passiva quando um funcionário
Considerando a sua essencialidade para o utente (o regime não abrange público pede, aceita ou recebe, diretamente ou através de outra pessoa,
apenas consumidores, no sentido da Lei de Defesa do Consumidor), a para si ou para outra pessoa, oferta, promessa ou benefício de qualquer
prestação destes serviços não pode ser suspensa sem pré-aviso adequado, natureza para cumprir ou se abster de cumprir um determinado ato.
salvo caso fortuito ou de força maior. Mesmo quando o utente não tenha
cumprido as prestações a que estava contratualmente vinculado, a sus- A corrupção será para ato lícito se o ato ou omissão não for contrário aos
pensão não pode ter lugar sem que este tenha sido advertido, por escrito, deveres de quem é corrompido; caso haja violação desses deveres, então
46 > da suspensão do serviço, com, pelo menos, 20 dias de antecedência. trata-se de corrupção para ato ilícito. < 47
O elemento determinante no crime de corrupção é o elo de ligação entre
aquilo que é prometido ou entregue e o objetivo que se pretende alcançar,
a saber a adoção de um determinado comportamento. Existe corrupção,
mesmo que o ato (ou a sua ausência), seja ou não legítimo no quadro
das funções desempenhadas pelo interessado, não se tenha realizado.
Da mesma forma existe corrupção qualquer que seja a natureza ou o va-
lor do benefício.
É também considerada como uma situação de corrupção quando os atos
descritos ocorrem com vista a obter ou conservar um negócio, um contra-
to ou outra vantagem indevida no comércio internacional. Neste caso,
o destinatário da oferta ou da promessa pode ser funcionário, nacional,
estrangeiro ou de organização internacional, ou o titular de cargo políti-
co, nacional ou estrangeiro, ou um terceiro com conhecimento daqueles.

7
A corrupção também constitui crime quando envolva um funcionário do
setor privado e pode, também neste caso, ser ativa ou passiva.
Os titulares de cargos políticos podem também ser responsabilizados por
este crime.
O ato unilateral de oferecer, dar, solicitar ou receber uma vantagem, é
suficiente para existir corrupção.
Por outro lado, o mero recebimento de uma vantagem indevida, ou seja,
uma vantagem que não decorre direta e legalmente do exercício do seu
cargo, por parte de um funcionário público pode dar origem a responsa-
bilidade criminal por recebimento indevido. Ficam ressalvados, neste
>>>
caso, as condutas socialmente adequadas e conformes aos usos e cos-
tumes.
A corrupção é punida no ordenamento jurídico português com pena de
prisão e pode ser cometida tanto por pessoas singulares como por pessoas
coletivas.
Existem em toda a Administração Pública, central e local, planos de pre-
venção da corrupção que visam assegurar uma gestão criteriosa do risco,
designadamente em sede de contratação pública.

48 >
salvo o dever de acatamento das decisões proferidas em via de recurso
por tribunais superiores. Não podem ser responsabilizados pelas suas de-
cisões, salvas as exceções consignadas na lei.

O Ministério Público – entidade que representa o Estado, defende os in-


teresses que a lei determinar, participa na execução da política criminal
7. SISTEMA DE JUSTIÇA PORTUGUÊS
definida pelos órgãos de soberania, exerce a ação penal orientada pelo
princípio da legalidade e defende a legalidade democrática, nos termos da
Constituição, do respetivo estatuto e da lei. Goza de estatuto próprio e de
7.1. Enquadramento autonomia em relação aos demais órgãos do poder central, regional e local,
nos termos da lei. A sua autonomia caracteriza-se pela sua vinculação a
O Estado português é um Estado de direito democrático. A todos é assegu- critérios de legalidade e objetividade e pela exclusiva sujeição dos magistra-
rado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e dos do Ministério Público às diretivas, ordens e instruções previstas na lei.
interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por
insuficiência de meios económicos. Os Advogados – profissionais liberais do foro aos quais incumbe a defesa
Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídi- de direitos, interesses ou garantias individuais que lhes sejam confiados, ca-
cas, ao patrocínio judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado bendo-lhes praticar os atos próprios previstos na lei, nomeadamente exer-
perante qualquer autoridade. cer o mandato forense e a consulta jurídica. No exercício da sua atividade,
devem agir com total independência e autonomia técnica e de forma isenta
Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objeto de
e responsável, encontrando-se apenas vinculados a critérios de legalidade
decisão em prazo razoável e mediante processo equitativo.
e às regras deontológicas próprias da profissão.
Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos
cidadãos procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e priori- Os Solicitadores – profissionais liberais que participam na administração
dade, de modo a obter tutela efetiva e em tempo útil contra ameaças ou da justiça, exercendo o mandato judicial nos casos e com as limitações
violações desses direitos. previstos na lei. No exercício da sua atividade, devem agir com total in-
dependência e autonomia técnica e de forma isenta e responsável, encon-
A Constituição da República Portuguesa define os princípios que cons-
trando-se apenas vinculados a critérios de legalidade e às regras deonto-
tituem a base da organização judiciária e funcionamento dos tribunais em
lógicas próprias da profissão.
Portugal.
Os tribunais
são orgãos
Os tribunais são os órgãos de soberania com competência para adminis- Os Agentes de Execução – profissionais liberais que asseguram todas as
de soberania trar a justiça em nome do povo. Incumbe aos tribunais assegurar a defesa diligências do processo de execução, efetuam citações e notificações avul-
dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a sas e promovem despejos. Para o efeito, podem averiguar a localização de
violação da legalidade democrática e dirimir os conflitos de interesses pú- pessoas e do património pertencente aos executados, apreender e penhorar
blicos e privados. No exercício das suas funções os tribunais têm direito à os seus bens e proceder à sua venda, entregando o respetivo produto aos
coadjuvação das outras autoridades. credores. Têm competência exclusiva para tramitar Procedimentos Extra-
A Constituição prevê também a possibilidade da existência de instrumen- judiciais Pré-Executivos, os (PEPEX), processo expedito apresentado pelos
tos e formas de composição não jurisdicional de conflitos. Estes materia- mandatários judiciais ou pelos credores e que visa averiguar a localização e
lizam-se nas formas de resolução alternativa de litígios ao dispor dos ci- o património dos devedores contra os quais exista um título executivo vá-
dadãos. lido para este procedimento, promovendo o ressarcimento destas dívidas.

São intervenientes estruturais do sistema de justiça português: Os Oficiais de Justiça – profissionais que asseguram, nas secretarias dos
tribunais e nas secretarias do Ministério Público, o expediente e a regular
Os Juízes – aplicadores da lei por natureza, julgam apenas segundo a tramitação dos processos, em conformidade com a lei e na dependência
50 > Constituição e a lei e não estão sujeitos a quaisquer ordens ou instruções, funcional dos respetivos magistrados. < 51
7.2 Meios de resolução de litígios Os Tribunais da Relação têm, em regra, competência na área das respeti-
vas circunscrições.
Por fim, os tribunais de comarca, que são, em regra, os tribunais de primei-
7.2.1. Tribunais estaduais ra instância. Os tribunais de comarca possuem, em regra, competência na
área das respetivas comarcas.
Em Portugal, existem várias ordens de tribunais.
Para esse efeito, o território português encontra-se dividido em 23 comarcas.
A Constituição Portuguesa prevê que, além do Tribunal Constitucio-
nal, que é o órgão superior da justiça constitucional, e do Tribunal de Os tribunais de comarca desdobram-se, por sua vez, em juízos que podem
Contas, que é o órgão supremo de fiscalização da legalidade das despesas ser de competência: genérica, especializada ou de proximidade.
públicas, a organização judiciária portuguesa integra a ordem dos Tribu- São juízos de competência especializada:
nais Judiciais e a ordem dos Tribunais Administrativos e Fiscais.
Além disso, a Constituição Portuguesa consagra também a possibilidade • Central cível;
de serem criados tribunais marítimos, tribunais arbitrais e julgados de paz.
Tribunais • Local cível;
Judiciais
Os tribunais judiciais são os tribunais comuns em matéria cível e crimi-
nal e exercem jurisdição em todas as áreas não atribuídas as outras ordens • Central criminal;
judiciais. Por serem os tribunais com competência para julgar a maior
parte dos litígios entre cidadãos e/ou empresas, são estes os tribunais com • Local criminal;
maior número de processos em Portugal.
A ordem dos tribunais judiciais obedece a uma hierarquia. Esta hierarquia • Local de pequena criminalidade;
significa que, em regra, das decisões dos tribunais de primeira instância
pode recorrer-se para os tribunais de segunda instância e destes para o • Instrução criminal;
órgão jurisdicional de cúpula.
• Família e menores;
No topo desta hierarquia encontra-se o Supremo Tribunal de Justiça,
que, por regra, conhece, em sede de recurso, das causas cujo valor exce- • Trabalho;
da a alçada dos Tribunais da Relação, atualmente ixada em 30.000 €. O
Supremo Tribunal de Justiça tem competência em todo o território. • Comércio;
A seguir, os Tribunais da Relação, que são, por regra, os tribunais de se-
gunda instância. Estes Tribunais conhecem das causas cujo valor exceda • Execução.
a alçada dos tribunais judiciais de primeira instância, atualmente 5.000 €.
Existem ainda tribunais de competência especializada e competência
Existem cinco Tribunais da Relação: territorial alargada:

• Tribunal da Relação de Lisboa; • O tribunal da propriedade intelectual;

• Tribunal da Relação do Porto; • O tribunal da concorrência, regulação e supervisão;

• Tribunal da Relação de Guimarães; • O tribunal marítimo;

• Tribunal da Relação de Coimbra; • O tribunal de execução de penas;

52 > • Tribunal da Relação de Évora. • O tribunal central de instrução criminal. < 53


Estes tribunais de competência especializada têm competência ter- Atualmente, existem dois Tribunais Centrais Administrativos: o Tribunal
ritorial alargada (jurisdição mais vasta que a comarca onde estão sedia- Central Administrativo Norte e Tribunal Central Administrativo Sul.
dos) e apenas julgam processos de determinadas matérias (independente-
O Tribunal Central Administrativo Sul, que tem a sua sede em Lisboa,
mente da forma de processo aplicável).
exerce a sua jurisdição sobre o conjunto das áreas de jurisdição atribuídas
Os tribunais administrativos e fiscais têm competência para resolver ao Tribunal Administrativo de Círculo e Tribunal Tributário de Lisboa e
conflitos emergentes de relações jurídicas de natureza administrativa e aos Tribunais Administrativos e Fiscais de Almada, Beja, Castelo Branco,
fiscal. Funchal, Leiria, Loulé, Ponta Delgada e Sintra.
Assim, na maior parte dos casos, são estes os tribunais competentes para Por sua vez, o Tribunal Central Administrativo Norte, que tem a sua sede
decidir os processos que opõem os cidadãos e as empresas ao Estado e a no Porto, exerce a sua jurisdição sobre o conjunto das áreas de jurisdição
outras entidades públicas, como as autarquias locais, os institutos públi- atribuídas aos Tribunais Administrativos e Fiscais de Aveiro, Braga, Coim-
cos e as ordens profissionais. bra, Mirandela, Penafiel, Porto e Viseu.
Tribunais No que toca aos tribunais administrativos, estes são competentes Por fim, os tribunais de primeira instância da jurisdição administrativa e
Administrativos para conhecer questões como: a anulação ou a declaração de nuli- fiscal são, em regra, os tribunais administrativos de círculo e os tribunais
e Fiscais
dade de atos administrativos; a condenação à prática de atos devidos; a tributários. Quando funcionem agregados, estes tribunais assumem a desi-
declaração de ilegalidade de normas emitidas ao abrigo de disposições gnação unitária de “tribunais administrativos e fiscais”.
de direito administrativo; a condenação à reparação de danos cau-
sados por pessoas coletivas e pelos titulares dos seus órgãos ou res-
petivos trabalhadores em funções públicas; a apreciação de questões rela- 7.2.2. Meios de resolução alternativa de litígios
tivas à interpretação, validade ou execução de contratos; e a intimação da
Administração a prestar informações, permitir a consulta de documentos Os meios de resolução alternativa de litígios são mecanismos extrajudi-
ou passar certidões. ciais de proximidade ao cidadão, através dos quais é possível a reso-
Por sua vez, aos tribunais tributários compete conhecer, por exem- lução de diferendos de forma célere e onde as partes são convidadas a
plo, das ações de impugnação dos atos de liquidação de receitas fis- encontrar uma solução para o problema que as opõe.
cais e dos atos praticados pela entidade competente nos processos O recurso a estes meios permite resolver conflitos à margem ou em
de execução fiscal; da impugnação de decisões de aplicação de coi- complementaridade com os tribunais judiciais, de forma menos buro-
mas e sanções acessórias em matéria fiscal; da declaração da ilega- cratizada, com ganhos de rapidez, eficácia e com custos reduzidos, sendo
lidade de normas administrativas de âmbito regional ou local, emitidas em que o envolvimento das partes favorece as condições para que estas man-
matéria fiscal; e das intimações de qualquer autoridade fiscal para facul- tenham o seu relacionamento após solução da desavença.
tar a consulta de documentos ou processos, passar certidões e prestar Incluem a arbitragem, os julgados de paz e a mediação.
informações.
À semelhança da ordem dos tribunais judiciais, a ordem dos tribunais admi- Arbitragem
nistrativos e fiscais também se encontra organizada hierarquicamente.
A arbitragem é uma forma de resolução alternativa de litígios em que
Assim, o órgão de cúpula desta jurisdição é o Supremo Tribunal Admi- Arbitragem
se submete, por acordo das partes ou por força da lei, consoante se trate
nistrativo, que tem sede em Lisboa e que dispõe de competência sobre de arbitragem voluntária ou necessária, a decisão sobre um determinado
todo o território português. A sua função principal é, essencialmente, conflito de natureza patrimonial, a árbitros que, embora sendo pessoas
apreciar os recursos dos acórdãos proferidos pelos Tribunais Centrais independentes, imparciais e especialmente qualificadas, não são magis-
Administrativos. trados.
Por sua vez, os tribunais de segunda instância na jurisdição administrati-
va e fiscal são, em regra, os Tribunais Centrais Administrativos, cuja
função principal é julgar os recursos das decisões dos tribunais adminis-
54 > trativos de círculo e dos tribunais tributários. < 55
É possível recorrer à arbitragem para: • Arbitragem de investimento – para resolver litígios emergentes
da interpretação e aplicação de contratos de investimento.
• resolver conflitos que já aconteceram (assinando um compromisso
arbitral); A arbitragem em matéria de litígios civis e comerciais tende a ser sigilosa.
• evitar conflitos que possam surgir no futuro (incluindo uma cláusula Quem recorre à arbitragem pode seguir uma de duas vias:
compromissória num contrato).
Podem as próprias partes, por sua iniciativa, escolher o(s) árbitro(s) que
A arbitragem pode ter lugar em áreas distintas como, por exemplo: decide(m) o litígio e impõe(m) uma decisão obrigatória ou, em alternati-
va, submeter a resolução do litígio a centros de arbitragem, que são en-
• Arbitragem de litígios civis e comerciais – para resolver litígios tidades criadas por lei ou autorizadas pelo Ministério da Justiça, compe-
respeitantes a interesses de natureza patrimonial e litígios que não tentes para resolver determinado tipo de litígios.
envolvam interesses de natureza patrimonial, desde que as partes pos- Consulte a lista dos centros de arbitragem autorizados pelo Ministério da
sam celebrar acordo sobre o direito em litígio; Justiça para administrar arbitragens em Portugal em dgpj.justica.gov.pt.
• Arbitragem de conflitos de consumo – para resolver litígios Para além de prestarem informações, os centros de arbitragem disponibi-
entre aqueles a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou lizam aos cidadãos e empresas a resolução de litígios por via da mediação,
transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por da conciliação e, caso as partes não cheguem a acordo por uma destas
pessoa que exerça com carácter profissional uma atividade económica vias, por via da arbitragem.
que vise a obtenção de benefício; Os centros de arbitragem podem ter competência genérica ou competên-
cia especializada em determinadas áreas e operam em função da sua com-
• Arbitragem no setor automóvel – para resolver litígios emergen- petência territorial (área geográfica), em função da matéria (tipo de lití-
tes de questões que envolvam automóveis – designadamente compra gios que podem resolver) e, em certos casos, em função do valor (limite
e venda de veículos e reparações; do valor dos litígios).

• Arbitragem no setor segurador – para resolver litígios relativos a O Ministério da Justiça apoia técnica e financeiramente, através da DGPJ,
contratos de seguro; determinados centros de arbitragem em áreas de sensível importância so-
cial, dado o interesse público prosseguido.
• Arbitragem para a propriedade industrial, nomes de domínio, Sublinham-se as seguintes vantagens no recurso a um centro de arbitra-
firmas e denominações – para resolver litígios no âmbito da pro- gem apoiado pelo Ministério da Justiça:
priedade industrial, nomes de domínio, firmas e denominações;
• facilidade, porque o processo é desburocratizado;
• Arbitragem de litígios administrativos – para resolver litígios
relativos a contratos administrativos, responsabilidade civil extracon- • rapidez, pois dada a simplicidade do procedimento, é possível a reso-
tratual administrativa, atos administrativos, emprego público (quando lução do litígio em tempo útil para a realização dos interesses das
não estejam em causa direitos indisponíveis e quando não resultem de partes;
acidente de trabalho ou de doença profissional) e contratação pública;
• segurança, na medida em que a decisão do tribunal arbitral tem força
• Arbitragem de litígios tributários – para resolver litígios rela- equivalente à de uma sentença judicial, podendo, em caso de incum-
tivos à declaração de ilegalidade de atos de liquidação de tributos, primento de uma das partes, a outra recorrer a um tribunal judicial de
de autoliquidação, de retenção na fonte e de pagamento por conta 1.ª instância para executar a sentença;
e declaração de ilegalidade de atos de fixação da matéria tributável
quando não dê origem à liquidação de qualquer tributo, de atos de • custo reduzido.
determinação da matéria coletável e de atos de fixação de valores pa-
56 > trimoniais). < 57
Conheça a localização dos centros de arbitragem apoiados pelo Ministério • em matéria de litígios civis e comerciais de carácter patrimo-
da Justiça em dgpj.justica.gov.pt. nial ou que possam ser objeto de transação, poderá recorrer aos
serviços públicos de mediação disponibilizados pelos Julgados de
Consulte informação adicional em dgpj.justica.gov.pt.
Paz. Procure um Julgado de Paz em dgpj.justica.gov.pt;
Embora a arbitragem seja particularmente relevante para os cidadãos e
empresas, existem, outros meios de resolução alternativa de litígios,
• em qualquer dos casos, também pode recorrer a qualquer mediador
nomeadamente:
que exerça a título privado. Consulte a lista de mediadores privados
organizada pelo Ministério da Justiça em dgpj.justica.gov.pt.
Mediação
O Ministério da Justiça, através da DGPJ, é responsável pela gestão
A mediação é um dos meios alternativos ou complementares à via judicial
Mediação dos sistemas públicos de mediação. Consulte informação adicional em
para resolução de litígios, sendo estes, em regra, resolvidos extrajudicial-
dgpj.justica.gov.pt.
mente.
A mediação assume um carácter informal, confidencial e voluntário, Julgados de Paz
caracterizando-se pelo facto de a responsabilidade pela obtenção das de-
cisões caber às próprias partes envolvidas. Os Julgados de Paz são tribunais dotados de características próprias
de organização e funcionamento e em cujos procedimentos se privi- Julgados de Paz
No seu âmbito, as partes em conflito, auxiliadas por um terceiro imparcial
e neutro (mediador), procuram chegar a um acordo que resolva o litígio legiam a simplicidade, a oralidade, a celeridade e a informalidade, bem
que as opõe. como a justa composição dos litígios por acordo entre as partes.

Ao contrário de um juiz ou de um árbitro, o mediador não decide sobre Os Julgados de Paz são competentes para resolver causas comuns de
o resultado do conflito, antes conduz as partes, estabelecendo a comu- natureza cível, cujo valor não exceda os 15.000 € (excluindo as que
nicação entre elas e viabilizando a troca de perspetivas por forma a que envolvam matérias de Direito da Família, Direito das Sucessões e Direito
estas encontrem, por si mesmas, a base do acordo que porá fim ao conflito do Trabalho).
que as opõe. As ações que podem ser resolvidas nos Julgados de Paz, nos termos do
A mediação, ao permitir a manutenção das relações entre os litigantes, disposto no artigo 9.º da Lei n.º 78/2001, de 13 de julho, com as alterações
mostra-se, por exemplo, particularmente adequada para a resolução de introduzidas pela Lei n.º 54/2013, de 31 de julho, são as seguintes:
conflitos familiares, laborais e de vizinhança.
• ações destinadas a efetivar o cumprimento de obrigações, com exce-
A Mediação poderá revelar-se especialmente útil do ponto de vista das ção das que tenham por objeto o cumprimento de obrigação pecuniária
empresas, designadamente: e digam respeito a contrato de adesão (exemplo: contratos, negócios
unilaterais, gestão de negócios, etc.);
• em matéria de litígios laborais, resultantes do contrato de tra-
balho, que não contendam com direitos indisponíveis nem acidentes • ações de entrega de coisas móveis (exemplo: ações para entrega de
de trabalho, concretamente, litígios relacionados com promoções, al- documentos);
teração do local de trabalho, alteração do horário de trabalho, mudança
de categoria profissional, marcação de férias, formação profissional, • ações resultantes de direitos e deveres dos condóminos, sempre que a
segurança, higiene e saúde no trabalho, estatuto do trabalhador-es- respetiva Assembleia não tenha deliberado sobre a obrigatoriedade de
tudante, etc, poderá recorrer ao Sistema público de Mediação La- compromisso arbitral para a resolução de litígios entre condóminos ou
boral (SML) em dgpj.justica.gov.pt; entre condóminos e o administrador (exemplo: pagamento das obras
dos telhados, instalações gerais de água, de elevadores);

58 > < 59
• ações de resolução de litígios entre proprietários de prédios relativos O processo nos Julgados de Paz inicia-se pela apresentação do requeri-
Processos nos
a passagem forçada momentânea, escoamento natural de águas, obras mento na secretaria do Julgado de Paz, verbalmente ou por escrito e pode Julgados de Paz
defensivas das águas, comunhão de valas, regueiras e valados, sebes ser apresentado pelo próprio demandante.
vivas; abertura de janelas, portas, varandas e obras semelhantes; estili-
Citado o demandado, é este convidado a resolver o litígio através da me-
cídio, plantação de árvores e arbustos, paredes e muros divisórios;
diação, a qual é precedida de uma sessão de pré-mediação, a ter sempre
lugar, desde que qualquer uma das partes não afaste esta possibilidade.
• ações de reivindicação, possessórias, usucapião e acessão e divisão
de coisa comum; Se o processo for resolvido através da mediação, termina com a homolo-
gação do acordo pelo Juiz de Paz, tendo o valor de uma sentença.
• ações que respeitem ao direito de uso e administração da compro- Se o processo não for resolvido através da mediação, o mesmo é concluí-
priedade, da superfície, do usufruto, de uso e habitação e ao direito do com a intervenção do juiz de paz através da conciliação, em momento
real de habitação periódica (exemplo: ação de divisão de coisa comum); prévio ao julgamento, ou da sentença, em sede de audiência de julgamento.
• ações que digam respeito ao arrendamento urbano, exceto as ações
de despejo (exemplo: ação de condenação para pagamento das rendas); As decisões proferidas pelos Julgados de Paz têm o mesmo va-
lor das decisões proferidas pelo tribunal de 1.ª instância, podendo
• ações que respeitem à responsabilidade civil contratual e extracon- recorrer-se destas nos processos cujo valor exceda metade do valor da
tratual (exemplo: ações decorrentes de acidentes de viação, ações alçada do tribunal de 1.ª instância (isto é, a partir de 2.500 €).
decorrentes de danos causados por coisas, animais ou atividades); Em termos de custos para as partes, a utilização dos Julgados de Paz está
sujeita a uma taxa no valor de 70 €, a cargo da parte vencida, sendo que
• ações que respeitem ao incumprimento civil contratual, exceto con- o juiz de paz, em função da decisão, também pode decidir repartir esse
trato de trabalho e arrendamento rural; valor entre o demandante e o demandado.

• Ações que respeitem à garantia geral das obrigações (exemplo: ação Caso haja acordo durante a mediação, o valor a pagar é de 50 €,
de declaração de nulidade, ação de impugnação pauliana, etc.); dividido por ambas as partes.
Em suma, o recurso aos Julgados de Paz oferece às partes as seguin-
• ações relativas a pedidos de indemnização cível, quando não tenha tes vantagens:
sido apresentada participação criminal ou após desistência da mesma,
emergente dos seguintes crimes: ofensas corporais simples, ofensa à • privilegia-se a informalidade e a simplicidade de procedimentos;
integridade física por negligência; difamação; injúrias; furto simples;
dano simples; alteração de marcos; burla para obtenção de alimentos, • favorece-se a resolução dos conflitos por acordo entre as partes,
bebidas ou serviços. através da mediação e da conciliação;

Embora não seja obrigatória a representação por advogado nos • resolvem-se os conflitos de forma mais próxima do cidadão
processos que correm termos nos julgados de paz, as partes poderão, se e das empresas, pois as partes participam ativamente no processo,
assim pretenderem, fazer-se acompanhar por advogado, advogado contribuindo assim para a resolução do seu problema;
estagiário ou solicitador. Todavia, a constituição de advogado é sempre
obrigatória nos casos especialmente previstos na lei (ex: uma das partes é • o processo é rápido (tem uma duração média de 3 meses) e tem um
analfabeta ou desconhecedora da língua portuguesa) e quando seja inter- custo reduzido.
posto recurso da sentença.
Consulte informação adicional em dgpj.justica.gov.pt.

60 > < 61
7.2.3. Tempos médios de resolução processual Embora a constituição de mandatário seja sempre permitida, a lei exige,
em diversas ocasiões, que quem seja parte numa ação se faça assistir por
Os tempos médios de resolução dos processos nos tribunais judiciais de advogado. Esta exigência preserva a boa administração da justiça e pro-
1.ª instância podem ser percecionados, por área processual, através do teger os próprios interesses das partes, garantindo que recebem aconse-
seguinte gráfico: lhamento por um profissional e que não sofrem prejuízo por não conhe-
cer as formalidades processuais. Estes casos variam consoante a natureza
do processo. Assim:

a) em processo civil, as exigências variam entre o processo decla-


rativo e o processo executivo. Nas ações declarativas, o patrocínio ju-
diciário é obrigatório:

(i) nas causas com valor superior a 5.000 €;

(ii) nas causas em que seja sempre admissível recurso ordinário;

(iii) nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores.

Nas ações executivas, o patrocínio é exigido para execuções superio-


res 30.000 € ou superiores a 5.000 €, se os procedimentos da execução
seguirem os termos do processo declarativo. Estas regras são igual-
mente aplicáveis ao processo administrativo;

7.2.4. Quanto custa recorrer ao sistema de justiça? b) nos julgados de paz, o patrocínio é obrigatório quando a parte seja
cega, surda, muda, analfabeta, desconhecedora da língua portuguesa
Simulador Os processos judiciais têm um custo. As custas processuais constituem o ou, se por qualquer outro motivo, se encontrar numa posição de mani-
de taxas de justiça valor pago pelo serviço de justiça que os tribunais desempenham. Todos festa inferioridade e ainda na fase de recurso;
os cidadãos podem recorrer à justiça, mas tal implica o pagamento de um
conjunto de taxas – a taxa de justiça (valor a pagar pelo impulso proces- c) Em processo penal, o arguido deve ser assistido por defensor:
sual), os encargos (despesas) e as custas de parte (gastos ao longo do pro-
cesso). Estes valores devem ser pagos sempre que o cidadão ou empresa (i) nos interrogatórios de arguido detido ou preso;
não beneficie de apoio judiciário.
(ii) nos interrogatórios feitos por autoridade judiciária;
Estes valores podem ser calculados, por tipo processual, em justica.gov.pt
no simulador de taxas de justiça. (iii) no debate instrutório e na audiência;

(iv) em qualquer ato processual, à exceção da constituição de argui-


7.2.5. Quando é necessária representação por advogado? do, sempre que o arguido for cego, surdo, mudo, analfabeto, des-
conhecedor da língua portuguesa, menor de 21 anos, ou se for sus-
Quem pode Qualquer pessoa tem direito a fazer-se acompanhar por advogado pe- citada a questão da sua inimputabilidade ou da sua imputabilidade
representar rante qualquer autoridade. O patrocínio judiciário corresponde ao exer- diminuída;
cício de poderes de representação por profissionais do foro (advogados,
advogados estagiários ou solicitadores) na condução técnica do processo, (v) nos recursos ordinários ou extraordinários;
62 > atribuídos por meio de mandato judicial. < 63
(vi) quando sejam prestadas declarações para memória futura; O atual regime jurídico de acesso ao direito – que se destina a assegurar
que ninguém é privado, em razão da sua condição social ou cultural, ou
(vii) na audiência de julgamento realizada na ausência do arguido; por insuficiência de meios económicos, de conhecer, exercer ou defender
dos seus direitos – compreende, duas modalidades:
(viii) nos restantes casos que a lei determinar.
• informação jurídica, através de ações destinadas a tornar conheci-
Na maioria dos casos, a escolha do mandatário é realizada de forma do o direito e o ordenamento legal;
pessoal e livre pelo representado, mas há exceções. Assim, por exemplo,
quando o representado beneficie de apoio judiciário na modalidade de no- • proteção jurídica, concedida para questões ou causas judiciais con-
meação de patrono, o mandatário é nomeado pela Ordem dos Advogados, cretas ou suscetíveis de concretização em que o utente tenha um in-
designadamente após requerimento do representado. teresse próprio e que versem sobre direitos diretamente lesados ou
ameaçados de lesão.
Quer o patrocínio seja voluntário, quer seja obrigatório, apenas os licen-
ciados em Direito com inscrição em vigor na Ordem dos Advogados e
A proteção jurídica, a que têm direito pessoas singulares e coletivas,
os solicitadores inscritos na Ordem dos Solicitadores e Agentes de Exe-
abrange duas figuras distintas, a consulta jurídica e o apoio judiciário
cução podem exercer o mandato judicial, embora estes últimos só o pos-
e pode ser concedida aos cidadãos nacionais e da União Europeia e aos
sam fazer perante tribunais de 1.ª instância em causas em que não seja
estrangeiros e apátridas residentes num Estado-membro da União Euro-
obrigatória a constituição de advogado.
peia que demonstrem estar em situação de insuficiência económica. No
O mandato judicial pode ser atribuído por instrumento público avulso, caso de estrangeiros sem título de residência válido num Estado-membro
documento particular ou por declaração verbal no auto de qualquer dili- da União Europeia, o direito à proteção jurídica apenas é reconhecido na
gência que se pratique no processo. medida em que ele seja atribuído aos portugueses pelas leis dos respetivos
Nos dois primeiros casos, o mandato judicial é atribuído através de um Estados.
documento designado por procuração forense, que é um ato unilateral, O regime assenta numa relação triangular em que a decisão de atribuição
pelo qual o mandante confere ao mandatário poderes de representação, de proteção jurídica compete ao Instituto da Segurança Social, que
ditos poderes forenses. avalia as condições económicas das quais depende a sua atribuição aos
O mandato judicial atribui ao mandatário poderes de representação em cidadãos, à Ordem dos Advogados que procede à nomeação dos Advoga-
todos os atos processuais, mesmo perante os tribunais superiores, à exce- dos e ao Estado, a quem compete o financiamento do sistema através do
ção daqueles que, tratando-se fundamentalmente de atos pessoais, extin- orçamento gerido pelo Ministério da Justiça.
guem, total ou parcialmente, a instância (como a confissão e a desistência A apreciação da insuficiência económica das pessoas singulares é efetua-
do pedido, a desistência da instância e a transação). Estes últimos apenas da considerando o rendimento médio mensal do agregado familiar, calcu- Cálculo
da insuficiência
poderão ser praticados pelo mandatário quando lhe tiverem sido atribuí- lado de acordo com as fórmulas aritméticas constantes do Anexo à Lei económica
dos poderes especiais. do Acesso ao Direito e aos Tribunais. Para esta avaliação são tidos em
conta todos os rendimentos do agregado familiar, incluindo pensões e
apoios na área da habitação. Atendendo à complexidade destas operações
7.3. Apoio judiciário matemáticas, a Segurança Social disponibiliza em linha, sem que o utiliza-
dor tenha que se identificar, um simulador que permite apurar se o reque-
A Justiça não pode ser denegada por falta de meios económicos: todos rente tem ou não direito a proteção jurídica em seg-social.pt.
Apoio Judiciário
devem ter acesso aos tribunais para a defesa dos seus direitos. Trata-se de
Se a situação económica do beneficiário ou do seu agregado familiar se
um direito previsto na Convenção Europeia dos Direitos do Homem, na
alterar de forma a poder dispensar o apoio, a proteção jurídica é retirada.
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia e também na Cons-
tituição da República Portuguesa. Ainda que a Lei do Acesso ao Direito e aos Tribunais recuse a proteção ju-
rídica a pessoas coletivas com fins lucrativos, o Acórdão do Tribunal Cons-
64 > titucional n.º 242/2018, de 7 de junho, declarou a inconstitucionalidade, < 65
com força obrigatória geral, dessa norma, pelo que as pessoas cole-
tivas com fins lucrativos podem ter direito a proteção jurídica, na
modalidade de apoio judiciário, se se verificar que se encontram em
situação de insuficiência económica.
A consulta jurídica consiste no esclarecimento técnico sobre o direito
Consulta Jurídica
aplicável a questões ou casos concretos, podendo ser prestada em gabi-
netes de consulta jurídica ou nos escritórios dos advogados que adiram
ao sistema de acesso ao direito. Deve recair sobre interesses ou direitos de
quem a solicita, quer esses interesses ou direitos tenham sido lesados ou
se encontrem ameaçados de lesão.
A consulta jurídica compreende também a realização de diligências extra-
judiciais que decorram diretamente do conselho jurídico prestado e que
se mostre essencial para o esclarecimento da questão colocada.

8
O apoio judiciário, que tem como função garantir proteção de quem não
disponha de recursos económicos suficientes para suportar os encargos
de um processo, compreende as seguintes modalidades:

• dispensa de taxa de justiça e demais encargos com o processo;

>>>
• nomeação e pagamento da compensação de patrono;

• pagamento da compensação de defensor oficioso;

• pagamento faseado da taxa de justiça e demais encargos com o processo;

• nomeação e pagamento faseado da compensação de patrono;

• pagamento faseado da compensação de defensor oficioso;

• atribuição de agente de execução.

O apoio judiciário pode ser solicitado para processos que corram perante
qualquer tribunal (independentemente da forma do processo), julgado de
paz ou estrutura de resolução alternativa de litígios, para processos contra-
ordenacionais, e ainda para diversos procedimentos que corram termos
nas Conservatórias do Registo Civil.
O apoio judiciário pode ser pedido, sem custos, em qualquer serviço de
atendimento ao público da Segurança Social, por correio eletrónico, por
telefax, pessoalmente ou por correio, devendo ser acompanhado dos docu-
mentos que comprovam a situação económica do requerente.

66 >
8. PANORAMAS DE JUSTIÇA CÍVEL E PENAL

8. 1. Panorama Justiça Cível (1.ª instância) - 2018

68 > < 69
8. 2. Panorama Justiça Penal (1.ª instância) - 2018

70 > < 71
LINKS ÚTEIS
> Comissão Nacional de Proteção de Dados > Direção-Geral do Consumidor
cnpd.pt consumidor.gov.pt
> Conselho de Prevenção da Corrupção > Centro Europeu dos Consumidores
cpc.tcontas.pt
cec.consumidor.pt
> Conservatória dos Registos Centrais
irn.mj.pt > Portal Europeu da Justiça
e-justice.europa.eu
> Instituto Nacional da Propriedade Industrial
inpi.justica.gov.pt > Lista de centros de arbitragem
> Ordem dos Advogados autorizados pelo Ministério da Justiça
portal.oa.pt dgpj.justica.gov.pt
> Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução > Lista de centros de arbitragem de conflitos de consumo
osae.pt consumidor.gov.pt
> Registo Nacional de Pessoas Coletivas
irn.mj.pt > Sistema público de Mediação Laboral
dgpj.justica.gov.pt
> Portal da Justiça
justica.gov.pt > Registo das cláusulas contratuais gerais abusivas
julgadas pelos tribunais portugueses
> Direção-Geral da Política de Justiça
dgpj.justica.gov.pt
dgpj.justica.gov.pt
> Direção-Geral da Administração da Justiça > Segurança Social
dgaj.justica.gov.pt (simulador do valor de rendimentos para efeitos de proteção
jurídica)
> Instituto dos Registos e do Notariado seg-social.pt
irn.justica.gov.pt

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