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Geração de 1870

 A geração de 1870 surgiu no momento em que a lenta desagregação dos pilares da


monarquia passaram a ser tema de debate público. A experiência dos progressistas no
Parlamento (1862-1868) trouxe uma série de questionamentos à estrutura política,
econômica e social do Império, que se radicalizara ainda mais a partir de 1868, com a queda
do gabinete Zacarias de Góis.
 Descontentes sempre existem, mas nem sempre há meios de vocalizar insatisfações. As
modernizações do gabinete Rio Branco (telégrafos e ferrovias que barateavam o custo de
jornais e ampliavam o acesso aos canais públicos existentes e criaram novos). Essa expansão
das comunicações propiciou um espaço paralelo à vida parlamentar, onde
descontentamentos de longa data podiam-se expressar. Os espaços foram adensados pela
reforma do ensino superior (aumento no número de vagas).
 A combinação entre crise política e modernização econômica criou um ambiente favorável à
expressão de grupos marginalizados pelas instituições políticas (liberais no decênio
conservador). Vários desses marginalizados escreveram jornais e panfletos, fizeram
comícios e manifestações a partir de fins dos anos 1870.
 Altamente heterogêneos, os membros da geração de 1870 se distribuem em círculos
concêntricos em função do distanciamento da Coroa e da política

Coroa > Novos liberais (Joaquim Nabuco, André Rebouças) > Liberais republicanos > Quintino
Bocaiuva, Salvador de Mendonça > Positivistas abolicionistas (Silva Jardim) > Federalistas
positivistas do RS (Júlio de Castilhos, Assis Brasil) > Federalismo científico (Campos Sales)

 A insatisfação, contudo, não virou contestação automaticamente. Para isso, era preciso mais
do que crise política e modernização econômica. Os descontentes tinham de mostrar formas
de expressão que em si mesmas evidenciassem seu dissenso com o sistema de dominação do
Segundo Reinado. Foi em busca delas que vasculharam o repertório europeu e a própria
tradição imperial (revisitaram, por exemplo, Tiradentes e as regências)
 A construção de uma tradição nacional no Segundo Reinado bebeu de duas fontes: o
repertório europeu e a experiência brasileira. A elite brasileira escolheu elementos que
ajudassem a blindar a monarquia da entropia regencial. Consubstanciou-se, assim, um tripé
formado por:
◦ liberalismo estamental: cidadãos plenos eram os proprietários, e o núcleo mínimo era a
família. Mulheres, crianças e escravos não estavam representados no modelo
◦ catolicismo hierárquico: incorporam aqueles excluídos pelo liberalismo. Espécie de
controle social
◦ romantismo indigenista: reinvenção da população autóctone (IHGB). Deu às culturas
indígenas desaparecidas estatuto de passado histórico.
 Os pilares da tradição nacional estavam a serviço da conservação da ordem imperial. De
jeito nenhum andavam ao sabor de modas europeias. Ao final da década de 1860, os radicais
se opuseram a isso.
 A estrutura de oportunidades políticas dos anos 1870 deu as condições para que
marginalizados expressassem suas críticas e insatisfações. Faltava, contudo, uma forma de
expressão para o dissenso. Dificilmente seria forte uma crítica composta nos termos da
própria tradição: isso o PL já fazia.
 Para transitar do estado de marginalização para a ação de contestação ao estado das coisas
que os marginalizavam, os grupos da geração de 1870 precisavam de novos recursos
intelectuais. Foram encontrá-los no repertório europeu, onde havia doutrinas para todos os
gostos. Dessa variedade, os grupos contestadores pinçaram seletivamente conceitos e
argumentos para forjar uma crítica à tradição europeia. Foram, pois, às teorias estrangeiras
orientados por um interesse prático e bem definido.
 Os liberais republicanos fazem críticas ao sistema político imperial. Para eles, a opção
monárquica é tida como extensão do “despotismo colonial” imposto à nação. Desse regime
imposto emanariam as disfunções do regime, as fraudes eleitorais e o sobrepeso do Poder
Moderador. A solução: a república federal, uma opção americanista.

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