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AULA 7
CONTINUAÇÃO – QUESTIONAMENTO ELABORATIVO

QUESTIONAMENTO ELABORATIVO

1. Sempre que houver utilização de veneno como meio para a prática do homicídio pode-se afir-
mar que haverá homicídio qualificado pelo emprego de veneno?
Não, pois o emprego de veneno só qualifica o homicídio se ele não for do conhecimento da vítima,
precisa ser um meio insidioso. Caso o contrário, o veneno poderá qualificar o homicídio como meio cruel.
2. É cabível perdão judicial em crime de homicídio doloso?
Não. O perdão judicial é cabível somente em crime homicídio culposo, conforme dispõe o art. 121, §5º,
do CP. Lembrando que perdão judicial é quando o juiz deixa de aplicar a pena. No caso do homicídio, é quando a
morte da vítima (consequência do crime) tenha atingido o agente de forma tão grave, que o juiz não vê como ne-
cessária a aplicação de uma sanção penal, em razão deste sofrimento do agente. Lembrando que o perdão judicial
também é cabível para caso de homicídio culposo previsto no CTB.

3. É possível que o pai de uma criança recém-nascida responda por crime de infanticídio?
Somente se houver concurso de pessoas, ou seja, quando o crime e infanticídio ocorrer na forma do art.
30 do CP. O terceiro que auxilia a mãe que está influenciada pelo estado puerperal, durante o parto ou logo após,
a matar o próprio filho responde pelo crime de infanticídio (art. 123 do CP). Desta forma, é possível que o pai de
uma criança recém-nascida responda por crime de infanticídio, desde que nestas circunstâncias.

4. O crime de auxílio ao suicídio admite tentativa?


Não. O crime de auxílio ao suicídio só ocorrerá de duas maneiras: ou se houver sua consumação do
suicídio, ou em caso de tentativa de suicídio que resulte lesão corporal de natureza grave.

5. É possível concurso de pessoas no crime de auto aborto?


Somente a participação, pois se a outra pessoa que está envolvida no resultado aborto for responsável
por provocá-lo, haverá uma quebra da teoria monista. Assim, a gestante que consentiu o aborto, responde sozinha
pelo art. 124 do CP; enquanto o terceiro que o provocou, pelo crime do art. 126 do CP. Lembrando que no crime de
aborto previsto no art. 124 só haverá participação no caso do terceiro que auxiliou no aborto de alguma forma, sem
que sua conduta provoque o aborto diretamente. Por exemplo, a pessoa que compra um remédio para sua amiga
que está gestante e entrega o remédio sem ministrá-lo.

ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS

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Na aula 7, serão estudadas duas alterações legislativas muito importantes para o Direito Penal. Uma
delas foi a Lei 13.546/17 que alterou o Código de Trânsito Brasileiro e que teve um período de vacatio legis de 120
dias, entrando em vigor em abril de 2018. E a Lei 13.654/18 que alterou os crimes patrimoniais, os crimes de furto
(art. 155 do CP) e o crime de roubo (art. 157 do CP).

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO (LEI 9.503/97)

Apesar do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) ser bem extenso, é fundamental que seja estudado, pelo
menos, a parte que traz como disposição sobre o Código Penal, regras, portanto, a partir do art. 291 do CTB, bem
como dar uma atenção aos artigos a partir do 302 do CTB, os quais dispõem sobre crimes em espécie.
É um exemplo de crime em espécie no CTB o crime de homicídio culposo na direção de veículo auto-
motor. O que significa dizer que havendo um homicídio culposo nessas condições, não será aplicado o crime pre-
visto no art. 121 do CP, mas sim o previsto no Código de Trânsito, em razão do princípio da especialidade. Outro
exemplo de crime de trânsito é o de lesão corporal culposa, dentre outros crimes os quais serão estudados ao longo
desta aula.
Objetivando um estudo direcionando, deve-se dar atenção aos crimes de trânsito que sofreram altera-
ções legislativas. Desta maneira, veja sobre o que dispõe o art. 302 do CTB:
Art. 302, CTB: Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se


obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

§ 1º - No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é


aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;


II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
vítima do acidente;
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de
transporte de passageiros.

§ 3º - Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qual-


quer outra substância psicoativa que determine dependência: (Incluído pela Lei
nº 13.546, de 2017)

Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito


de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (In-
cluído pela Lei nº 13.546, de 2017)

A partir do art. 302 do CTB, verifica-se que o §3º foi incluído pela Lei 13.546 de 2017, trazendo, inclusive,
uma leitura diferente, pois dispõe sobre homicídio culposo qualificado, haja vista que, no CP, costuma-se falar
em homicídio doloso qualificado, e não culposo.

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ATENÇÃO: É importante ter em mente que a aplicação do art. 302 do CTB em detrimento ao CP se dá
frente ao princípio da especialidade.

Desta forma, imagine que uma pessoa esteja dirigindo um veículo automotor quando de repente se dis-
trai, por ter atendido o celular, e acaba atropelando um pedestre, vindo este a óbito. Perceba que a pessoa que
estava dirigindo agiu com imprudência, uma vez que fez alguma coisa que não deveria ter feito, ou seja, não deveria
ter atendido o celular enquanto dirigia. É claro que, por ter provocado a morte desta pessoa por imprudência, o
crime se trata de homicídio culposo. Assim sendo, o agente incorre no art. 302 do CTB, que prevê, a princípio no
§1º, algumas causas de aumento de pena.
É uma das causas de aumento de pena previsto no §1º, por exemplo, quando uma pessoa, por não ter
visto o sinal fechar, atropela alguém em cima da faixa de pedestre. Outro exemplo, é quando o agente, por ter
atropelado a vítima, não presta socorro, achando que a pessoa atropelada irá morrer. Salienta-se que este último
exemplo é mais gravoso, pois além de incorrer no crime de trânsito com incidência de causa de aumento de
pena (art. 302, §1º, do CTB), o agente poderá ser preso em flagrante.
Atente-se que o art. 301 do CTB estabelece quando o condutor do veículo não será preso em flagrante,
em caso de acidentes de trânsito. Veja:

Art. 301, CTB: Ao condutor de veículo, nos casos de aci-


dentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a
prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar
pronto e integral socorro àquela.

O §1º do art. 302 do CTB dispõe sobre situações que serão consideradas na 3º fase da dosimetria da
pena.

ATENÇÃO: Se no caso concreto existir uma situação de dolo, seja ele eventual ou direto, deverá ser
aplicado o art. 121 do CP ao invés do art. 302 do CTB. Para tanto, estas informações deverão constar na questão
da prova.

De acordo com a alteração legislativa, o §3º do art. 302 do CTB estabelece, portanto, o crime de homi-
cídio culposo com uma nova escala penal, não devendo ser considerada na 3ª fase da dosimetria da pena, pois a
pena do crime já é a que está prevista neste dispositivo legal. Veja:

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Art. 302, CTB:

§ 3º - Se o agente conduz veículo automotor sob a in-


fluência de álcool ou de qualquer outra substância psico-
ativa que determine dependência: (Incluído pela Lei
nº 13.546, de 2017)

Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão


ou proibição do direito de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor. (Incluído
pela Lei nº 13.546, de 2017)

Outro ponto a ser considerado é que o art. 302 do CTB, ao dispor como crime de trânsito o agente que
“praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor”, não menciona que a condução do veículo precisa
ser em via pública. O que significa dizer que o agente pode incorrer no crime de trânsito nos moldes do art. 302 se
atropelar e ocasionar a morte de alguém até mesmo dentro do estacionamento de um shopping.

Lei 13.546/17 (alteração legislativa)


Conforme já foi mencionado, o CTB sofreu algumas alterações legislativas e isso se deu pela Lei
13.546/17. Esta Lei foi publicada no dia 20/12/2017 e teve o período de vacatio legis de 120 dias, tendo entrado
em vigor no dia 19/04/2018. E, com o parágrafo 3º, a lei criou a figura do homicídio culposo no trânsito qualifi-
cado pela embriaguez ao volante.
As disposições acrescidas pelo parágrafo 3º ao art. 302 do CTB não punem o simples fato de o indi-
víduo dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine depen-
dência, mas sim o fato de praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor e sob o efeito de uma dessas
referidas substâncias.
No caso de o agente estar embriagado e ser parado em uma blitz, sem ter ocasionado a morte de al-
guém, ele não responde pelo crime previsto do art. 302 do CTB, mas sim pelo art. 306, crime de embriaguez, o
qual permanece inalterado. Veja:

Art. 306, CTB: Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada
em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibi-


ção de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

§ 1º - As condutas previstas no caput serão constatadas por:

I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue


ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da ca-
pacidade psicomotora.

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§ 2º - A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de
alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou ou-
tros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.

§ 3º - O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia


ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.
Perceba que o §2º do art. 306 do CTB dispõe sobre os meios de prova que são admitidos atualmente,
além do bafômetro.
A Lei 13.546/17 também trouxe outras importantes alterações, as quais foram feitas nas redações dos
art. 291, 303 e 308 do CTB.
A partir das alterações legislativas, o art. 291 passou a vigorar acrescido do parágrafo 4º. Veja:

Art. 291, CTB: Aos crimes cometidos na direção de veí-


culos automotores, previstos neste Código, aplicam-se
as normas gerais do Código Penal e do Código de Pro-
cesso Penal, se este Capítulo não dispuser de modo di-
verso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de
1995, no que couber.

§ 4º - O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes


previstas no art. 59 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), dando especial
atenção à culpabilidade do agente e às circunstân-
cias e consequências do crime. (Incluído pela Lei
nº 13.546, de 2017)

O art. 291 do CTB estabelece a possibilidade de ser aplicado disposições do Código Penal e da Lei
9.099/95, no que couber, para os crimes previstos no Código de Trânsito Brasileiro. No entanto, este mesmo artigo
dispõe sobre o crime de lesão corporal, estabelecendo que em algumas situações de lesão corporal culposa na
condução de veículo automotor não poderão ser aplicados alguns benefícios da Lei 9.099/95, como é o caso da
composição civil, da transação penal e da previsão de exigência de representação da ação penal.

ATENÇÃO: A ação penal pública condicionada à representação é quando cabe à vítima a decisão de
exercer seu direito de representação, cabe a ela decidir se o agente merece ser sofrer uma ação penal pública,
podendo ser condenado ou não em juízo. Um exemplo de crime que cabe a ação penal pública condicionada à
representação é o previsto no art. 303 do CTB, que dispõe sobre o crime de lesão corporal na direção de veículo
automotor.

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Art. 303, CTB: Praticar lesão corporal culposa na direção
de veículo automotor:

Penas - detenção, de seis meses a dois anos e sus-


pensão ou proibição de se obter a permissão ou a ha-
bilitação para dirigir veículo automotor.

Assim sendo, neste caso, o Ministério público só poderá oferecer a denúncia se a vítima, efetivamente,
realizar a representação.
Ocorre que, para algumas situações, o art. 291 do CTB excepcionou essa regra. Para algumas situações,
dentre esses benefícios que o art. 291 proibiu, ele proibiu também a exigência de representação.
Assim, se uma pessoa, que lesiona a outra, está em velocidade excessiva, acima do 50 km/h do limite
de velocidade, por exemplo, não serão aplicados os benefícios da Lei 9.099/95. Dentre eles, a exigência de repre-
sentação.
Em síntese, a lesão corporal culposa, prevista no CTB, pode ser de ação penal pública incondicionada,
apesar de esta não ser a regra. Por consequência, o Ministério Público poderá oferecer a denúncia independente-
mente de qualquer manifestação de vontade da vítima.
Retornando ao §4º do art. 291 do CTB, verifica-se que não foi criada uma regra diferenciada. Quando o
juiz realizar a dosimetria da pena na 1ª fase, ele continuará se pautando pelo art. 59 do CP, dando mais importância,
dentre as circunstâncias do art. 59 do CP, essas que o §4º do art. 291 do CTB dispõe.
Veja a disposição do art. 291 do CTB:
Art. 291, CTB: Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos
neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Pro-
cesso Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº
9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.

§ 1º - Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos


arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente
estiver:

I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que de-


termine dependência;
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobi-
lística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor,
não autorizada pela autoridade competente;
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50
km/h (cinquenta quilômetros por hora).

§ 2º - Nas hipóteses previstas no § 1º deste artigo, deverá ser instaurado inquérito


policial para a investigação da infração penal.

§ 3º - (VETADO).

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§ 4º - O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes previstas no art. 59 do De-
creto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), dando especial aten-
ção à culpabilidade do agente e às circunstâncias e consequências do crime. (In-
cluído pela Lei nº 13.546, de 2017)

Adiante, houve alteração também no art. 303 do CTB, o qual passou a vigorar acrescido do parágrafo
2º, numerando-se o atual parágrafo único como parágrafo 1º:

Art. 303, CTB: Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de


se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

§ 1º - Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das


hipóteses do § 1o do art. 302. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº
13.546, de 2017)

§ 2º - A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem pre-


juízo das outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com
capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra
substância psicoativa que determine dependência, e se do crime resultar lesão cor-
poral de natureza grave ou gravíssima. (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017)

A partir da leitura do §2º deste dispositivo, verifica-se que se está diante de uma nova escala penal,
sendo assim um crime qualificado. Um crime culposo com uma pena maior, devido à forma qualificada.
Logo, se o agente que está dirigindo sob a influência de álcool atropela alguém e a lesiona, ele respon-
derá pelo crime de lesão corporal culposa qualificada do CTB. Neste exemplo, a ação penal pública passa a ser
incondicionada, conforme o art. 291 do CTB.
Já o art. 308 do CTB passou a vigorar com alteração em seu caput. Veja:

Art. 308, CTB: Participar, na direção de veículo automo-


tor, em via pública, de corrida, disputa ou competição au-
tomobilística ou ainda de exibição ou demonstração de
perícia em manobra de veículo automotor, não autori-
zada pela autoridade competente, gerando situação de
risco à incolumidade pública ou privada: (Redação
dada pela Lei nº 13.546, de 2017) (Vigência)

Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos,


multa e suspensão ou proibição de se obter a permis-
são ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

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No art. 308, tem-se o crime que era chamado de racha. Este artigo passa a dispor sobre uma nova
conduta, pois o agente pode não estar participando de corrida, disputa ou competição automobilística, mas pode
estar praticando manobras perigosas, gerando, então, situação de risco à incolumidade pública ou privada.
ATENÇÃO: Nem sempre dirigir sem ser habilitado será considerado crime, pois para que assim seja tem
que ser gerado perigo de dano. Neste caso, trata-se de crime de perigo concreto.

Atente-se que a Lei 13.546/17 entrou em vigor no dia 19/04/2018 e que, por se tratar de lei maléfica,
não poderá retroagir. Por isso é muito importante lembrar da data de sua vigência, pois esta lei não poderá ser
aplicada para condutas que tenham sido praticadas anteriormente a este dia.

LESÃO CORPORAL

Retomando os estudos acerca dos crimes previstos no Código Penal, recorda-se que já foram estudados
alguns crimes contra pessoa (Título I, Parte Especial), como por exemplo, o crime de homicídio, o crime de aborto,
entre outros. Todos eles são espécies de crimes contra vida (Capítulo I, do Título I, da Parte Especial).
Ao dispor sobre os crimes contra pessoa, o Código Penal estabelece também os crimes das lesões
corporais (Capítulo II, do Título I, da Parte Especial).
As hipóteses de lesão corporal estão dispostas no art. 129 do CP da seguinte maneira:

Leve Caput e §9º

Grave §1º
DOLOSA
LESÃO
Gravíssima §2º
CORPORAL
CULPOSA
Seguida de
§3º
morte

Perceba que a lesão corporal culposa não irá se subdividir, pois não importa a magnitude do resultado
(essa regra vale também para a lesão corporal prevista no CTB). No Código Penal, a lesão corporal está prevista
no §6º do art. 129.
No entanto, a lesão corporal dolosa se divide em: lesão corporal leve, grave e gravíssima, além de lesão
corporal seguida de morte.

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No caso de lesão corporal leve (art. 129 caput e §9º do CP), a partir do caso concreto a ser analisado,
chega-se nela por exclusão. Ou seja, não sendo possível encaixar a lesão corporal dolosa nas hipóteses grave,
gravíssima ou seguida de morte, tem-se a chamada lesão corporal leve, consequentemente.

Lesão corporal

Art. 129, CP: Ofender a integridade corporal ou a saúde


de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

§ 9º - Se a lesão for praticada contra ascendente, des-


cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se
o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

ATENÇÃO: A lesão corporal pode ocorrer por dolo — ou seja, na intenção de lesionar — ou em virtude
da desistência voluntária ou do arrependimento eficaz. Por exemplo, imagine que o agente queira matar alguém,
porém, após dar as 4 primeiras facadas, ele desiste voluntariamente de prosseguir a execução com as facadas.
Logo, em virtude da desistência voluntária, o agente responderá pelo resultado provocado, o de lesão corporal.
O §1º do art. 129 do CP dispõe acerca da lesão corporal de natureza grave.

Art. 129, CP:

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais


de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou fun-
ção;
IV - aceleração de parto:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

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Já o §2º deste dispositivo prevê uma pena maior, o que passou a ser chamado pela doutrina e jurispru-
dência de lesão corporal gravíssima. Veja:

Art. 129, CP:

§ 2° Se resulta:

I - Incapacidade permanente para o trabalho;


II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Como o Código Penal estabelece uma escala penal diferenciada entre os §§1º e 2º, estes possuem
naturezas diferentes, ainda que a nomenclatura dada no §2º tenha se dado por entendimento doutrinário e jurispru-
dencial.
No que tange aos incisos do parágrafo 1º e 2º, devem ser consideradas algumas informações importan-
tes. Veja:

Dentro do §1º, tem-se como hipótese de lesão corporal grave a incapacidade para a ocupação das
atividades habituais por mais de 30 dias. Entende-se por ocupação habitual tudo o que a pessoa faz em seu dia
a dia, exceto atividade ilícita. As atividades tidas como imorais também são válidas; exemplo: a mulher que exerce
como ocupação habitual a prostituição. Para que seja demonstrado efetivamente esta incapacidade para as ocupa-
ções de atividades habituais por mais de 30 dias, deve-se haver um laudo complementar.
O perigo de vida não pode ser pressuposto, ou seja, precisa ser atestado por perícia.
Atente-se que, tanto no §1º quanto no §2º do art. 129 do CP, tem-se no inciso III a menção de membro,
sentido ou função. A diferença é que no §1º a pessoa fica com uma debilidade permanente do membro, sentido

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ou função. Já no caso de lesão corporal gravíssima, a pessoa perde ou sofre inutilização do membro, sentido ou
função.
Entende-se por função: função respiratória, função cardíaca, função reprodutora, etc. Entende-se por
sentido: visão, audição, paladar, olfato e tato. Já os membros são: mãos, braços, antebraços, pés, pernas e coxas.
Se a vítima perde a mão, por exemplo, a lesão corporal é de natureza gravíssima (§2º do art. 129 do
CP). Se ela não conseguir utilizar a mão como antes, significa dizer que houve uma debilidade permanente (§1º do
art. 129 do CP).
Atente-se que na debilidade permanente a vítima não perdeu o membro, mas sim houve a inutilização
do membro. A pessoa não consegue mais utilizá-lo como antes da lesão.

ATENÇÃO A ESTE EXEMPLO: Em virtude da lesão corporal sofrida, a vítima perdeu um pulmão.
Pergunta-se: Pulmão é um membro? Não. São membros somente mãos, braços, antebraços, pés, pernas e coxas.
Pulmão está ligado a uma função: função respiratória. Essa função foi perdida ou inutilizada ou a vítima ficou
com uma debilidade permanente? Se a pessoa ainda respira, significa que ela ficou com uma debilidade perma-
nente.
OUTRO EXEMPLO: Em virtude da lesão corporal sofrida, a vítima perdeu um olho. Pergunta-se: Olho
é um membro? Não. São membros somente mãos, braços, antebraços, pés, pernas e coxas. Olho está ligado a
um sentido: visão. A visão foi perdida ou inutilizada ou a vítima ficou conseguia ainda enxergar? Se a pessoa
ainda enxerga, mesmo que somente por um olho, significa que ela ficou com uma debilidade permanente do sentido
visão. No entanto, neste exemplo, houve também uma deformidade permanente, aquela que é esteticamente
visível. Assim, preponderará o §2º do art. 129 do CP, lesão corporal gravíssima, ainda que tenha ocorrido ade-
quação nos §1º e §2º do referido artigo.
Desta maneira:

Há ainda a lesão corporal seguida de aborto, que está prevista no art. 129, §2º, inciso V, do CP.
Atente-se que para que este crime seja imputado, o agente que lesiona a gestante tem que ter conhecimento

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da gravidez. A lesão corporal seguida de aborto é um crime preterdoloso, ou seja, neste caso, tem-se dolo na lesão
corporal e culpa no aborto. Caso o contrário será somente crime de lesão corporal.
Se o agente tiver dolo na lesão e dolo no aborto (ainda que eventual) haverá concursos de crimes, haja
vista que são dois crimes. Portanto:

O §9º do art. 129 tipifica a lesão corporal com violência doméstica. Esta lesão tem natureza leve, mas
como tem uma escala penal diferenciada, chama-se de lesão corporal leve qualificada. Veja:

Art. 129, CP:

Violência Doméstica

§ 9º - Se a lesão for praticada contra ascendente, des-


cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se
o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

Por este dispositivo, verifica-se que a violência doméstica ocorre independentemente da orientação se-
xual. No entanto, se esta lesão por violência doméstica for contra mulher deverá ser aplicada a Lei Maria da Penha.

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ATENÇÃO: Caso a lesão praticada no âmbito da violência doméstica seja grave, gravíssima ou se-
guida de morte, incidirá normalmente o § 1º ou § 2º do art. 129. No entanto, será aplicada a causa de aumento
de pena do § 10.

Art. 129, CP:

§ 10 - Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se


as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo,
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).

Ou seja, a lesão será qualificada, por um desses artigos do CP, e majorada, pela violência doméstica.
Desta maneira, só será aplicado o §9º em caso de lesão corporal de natureza leve.
Caso a violência doméstica seja praticada contra pessoa com deficiência, incidirá o aumento de
pena do §º 11.

Art. 129, CP:

§ 11 - Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será au-


mentada de um terço se o crime for cometido contra pes-
soa portadora de deficiência.

Já o § 12 prevê nova causa de aumento incluída pela Lei 13.142/15, a qual entrou em vigor no dia
07/07/15.

Art. 129, CP:

§ 12 - Se a lesão for praticada contra autoridade ou


agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Fe-
deral, integrantes do sistema prisional e da Força Nacio-
nal de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (In-
cluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

Lesão corporal com violência doméstica


É necessário explorar mais alguns pontos importantes acerca da lesão corporal com violência doméstica.
Primeiramente, cabe salientar que lesão corporal com violência doméstica não significa aplicação
da Lei Maria da Penha. É preciso verificar se a violência doméstica foi praticada contra a mulher, pois se assim for,
incidirá a Lei Maria da Penha.

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Outro ponto muito importante é saber que a lesão corporal leve é de ação penal pública condicionada
à representação, assim como a lesão corporal culposa, conforme o art. 88 da Lei 9.099/95.

ATENÇÃO: Mas no caso de violência doméstica também funciona dessa forma? Se violência do-
méstica que constitui uma lesão leve for praticada contra a mulher, deverá ser aplicada a Lei Maria da Penha. Fato
é que o artigo 41 da Lei Maria da Penha veda a aplicação da Lei 9099/95. E a necessidade de representação para
os crimes de lesão leve e culposa se encontram no art. 88 desta lei.

Art. 41, Lei Maria da Penha: Aos crimes praticados com


violência doméstica e familiar contra a mulher, indepen-
dentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no
9.099, de 26 de setembro de 1995.

Desta maneira, conclui-se que qualquer que seja a lesão corporal por violência doméstica contra mulher,
seja ela leve, grave, gravíssima ou seguida de morte, será hipótese de ação penal pública incondicionada.

ATENÇÃO: O STF já analisou o art. 41 por meio da ADC 19 e da ADI 4424 e considerou a constitucio-
nalidade dele. Sendo assim, qualquer modalidade de lesão corporal contra a mulher vítima de violência do-
méstica é de ação penal pública incondicionada.

Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha)


Alguns pontos sobre a Lei Maria da Penha merecem destaque, são eles o art. 2º e art. 5º. Veja:

Art. 2º, Lei Maria da Penha: Toda mulher, independentemente de


classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional,
idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa hu-
mana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para vi-
ver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiço-
amento moral, intelectual e social.

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Art. 5º, Lei Maria da Penha: Para os efeitos desta Lei, configura violên-
cia doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, se-
xual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complemen-
tar nº 150, de 2015)

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço


de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, in-
clusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada
por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por la-
ços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva
ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabita-
ção.

Parágrafo único - As relações pessoais enunciadas neste artigo in-


dependem de orientação sexual.

São formas de violência doméstica e familiar contra mulher: a violência física, a psicológica, a
sexual, a patrimonial e a moral.
Veja também alguns artigos e enunciados importantes para o estudo deste tema:

Art. 16, Lei Maria da Penha: Nas ações penais públicas


condicionadas à representação da ofendida de que trata
esta Lei, só será admitida a renúncia à representação pe-
rante o juiz, em audiência especialmente designada com
tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido
o Ministério Público.

Art. 17, Lei Maria da Penha: É vedada a aplicação, nos


casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
de penas de cesta básica ou outras de prestação pecu-
niária, bem como a substituição de pena que implique o
pagamento isolado de multa.

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Súmula 536, STJ

A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao
rito.

Súmula 542, STJ

A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada.

Súmula 588, STJ

A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente do-
méstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

Súmula 589, STJ

É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no
âmbito das relações domésticas.

Súmula 600, STJ

Para configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da lei 11.340/2006, Lei Maria da
Penha, não se exige a coabitação entre autor e vítima.

CRIMES CONTRA A HONRA

Ainda sobre crimes contra pessoas, o Código Penal estabelece outra espécie de crimes, os chamados
crimes contra honra.
São crimes contra honra: a calúnia, prevista no art. 138 do CP; a difamação, prevista no art. 139 do CP;
e a injúria, prevista no art. 140 do CP. É muito comum a confusão entre estes três institutos. E, para que isto não
ocorra, veja no que eles se diferenciam:

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A partir da leitura do art. 138 do CP, verifica-se que o dispositivo menciona a palavra fato, quando se
refere à imputação de fato definido como crime. Pergunta-se: O que é fato? Fato é acontecimento. Um exemplo
de fato é: Maicon matou Fabiano. Diferente de quando se diz: Maicon é um assassino. Isso é uma atribuição de
adjetivação de qualidade negativa.
O art. 139 do CP dispõe novamente em texto legal a palavra fato, quando se refere à imputação de
fato ofensivo à reputação.
Já o art. 140 do CP estabelece a ofensa à dignidade ou decoro. Veja que aqui o legislador não utilizou
a palavra fato para criar o tipo penal.
Exemplo: Em uma reunião de condomínio com 90 pessoas, um dos condôminos levanta e afirma que o
síndico está se apropriando de dinheiro do condomínio. Perceba que foi atribuído um fato a este síndico, ou seja, o
condômino afirmou que ele fez algo, que ele praticou algum crime. Mas como saber se esta situação se trata de
crime de calúnia ou crime de difamação, já que em ambas as hipóteses o legislador se utiliza da palavra
fato? Como neste exemplo houve uma atribuição a um fato definido como crime — veja: apropriação de dinheiro
do condomínio é crime previsto no art. 168 do CP (apropriação indébita) — houve o crime de calúnia por parte do
condômino.
E qual é a diferença da atribuição dos fatos entre calúnia e difamação? Diferentemente da calúnia,
na difamação, há uma atribuição de fato que não seja definido como crime, mas que tenha a capacidade de
ofender a reputação da vítima. Um exemplo disso é se esse outro morador desse condomínio dissesse que uma
moradora está todo dia se prostituindo em uma boate até 1h da manhã. CUIDADO: Prostituir-se não é crime, logo,
esse fato atribuído a esta moradora somente ofende a sua reputação. Desta maneira, há um crime de difamação
por parte deste morador.
E a injúria?
A injúria é um crime subsidiário, pois, ao analisar o caso concreto, este crime será encontrado subsidia-
riamente, ou seja, por exclusão. Em outras palavras, deve-se tentar enxergar se houve algum fato atribuído no caso
concreto — havendo fato deve-se verificar que: se ele for crime, tem-se a calúnia, se não for crime, tem-se a difa-
mação —, caso não haja atribuição de fato, mas sim um mero xingamento, será encontrado o crime de injúria.
Este xingamento, inclusive, pode ocorrer tanto diretamente à vítima, quanto na frente de terceiro, no intuito de ofen-
der dignidade ou decoro dela. Exemplo: Ana ao xingar Ronaldo, chama-o de estelionatário.

ATENÇÃO: Por entendimento doutrinário, para que ocorra a ofensa à honra objetiva, a ofensa tem que
chegar ao conhecimento de terceiro. Salienta-se que nos casos de calúnia e de difamação o fato tem que ser impu-
tado na presença de terceiro, não bastando a imputação somente diante do ofendido. Sendo possível, inclusive,
que este não esteja presente no momento da calúnia ou da difamação. Através da ofensa à honra objetiva, o agente
tem a possibilidade, ainda que remota, de mudar o juízo que alguém faça da vítima.

Exemplo: Imagine que, ao invés de estar na reunião do condomínio, um dos moradores, no elevador,
fale para o outro que o síndico está se apropriando do dinheiro dos condôminos indevidamente. Será uma hipótese

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de calúnia, mesmo que o síndico não esteja presente, pois a atribuição de fato criminoso chegou ao conhecimento
de terceiro. Houve, portanto, ofensa à honra objetiva.

Já na injúria, basta que a ofensa à honra seja subjetiva, o que significa dizer que a ofensa pode ser
praticada na presença da vítima somente. É o caso do morador que ao entrar no elevador se depara com o síndico
sozinho e se aproveita da situação para chamá-lo de estelionatário.
Desta maneira:
Fato é acontecimento. Logo, para haver calúnia e difamação, é essencial que o agente impute um
acontecimento ao ofendido. Ou seja, diga que ele fez algo. Lembrando ainda que esse acontecimento precisa ser
algo determinado, não abrangendo fatos genéricos. Exemplo: Caio diz que Tício subtraiu o carro de Mévio, sabendo
que isso não é verdade. Neste caso, há calúnia, pois imputa-se um fato determinado. Se Caio dissesse que Tadeu
é um ladrão, um furtador? Neste caso, haveria injúria, pois, a atribuição de qualidades negativas e xingamento
jamais se caracteriza como imputação de fato.
Veja a disposição legal sobre estes crimes:

Calúnia

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como


crime:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala


ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Exceção da verdade

§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:


I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofen-
dido não foi condenado por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do
art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi ab-
solvido por sentença irrecorrível.

Difamação

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido
é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

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Injúria

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:


I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a in-
júria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natu-


reza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena


correspondente à violência.

§ 3º -Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor,


etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de de-
ficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Atente-se que o §1º do art. 140 prevê hipótese de perdão judicial, sendo, portanto, causa extintiva de
punibilidade no crime de injúria.
Para identificar se o artigo prevê perdão judicial, basta estar escrito no dispositivo que “o juiz pode deixar
de aplicar a pena”. Ou seja, no caso do §1º do art. 140, crime existe, mas há uma causa de extinção de punibilidade.

Injúria

Art. 140, CP:


§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou di-
retamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra
injúria.

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato,


que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se con-
siderem aviltantes:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,


além da pena correspondente à violência.

Desta maneira, são hipóteses em que o juiz poderá deixar de aplicar a pena se houver provocação
diretamente a injúria por parte do ofendido ou em caso de retorsão imediata, em que consista outra injúria.

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Já o §2º prevê a injúria real, hipótese qualificada do crime de injúria, pois estabelece uma nova escala
penal. Exemplo: Um casal de namorados que, na frente de amigos, inicia uma discussão. Posteriormente, a isto a
namorada resolve dar uma bofetada em seu namorado no intuito de deixá-lo envergonhado. Neste exemplo,
além da injúria, a namorada poderá responder pela lesão ocasionada.
O § 3º prevê a injúria preconceituosa ou discriminatória, que se caracteriza como forma qualificada do
crime de injúria.

Injúria

Art. 140, CP:

§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos re-


ferentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Se, no momento de xingar alguém, o agente utilizar algum elemento relacionado à raça, cor, etnia, reli-
gião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, a pena ser imputada a ele será maior. Nesta
hipótese, o crime é qualificado, pois o §3º estabelece uma nova escala penal.

ATENÇÃO: Não pode haver confusão do crime de injúria preconceituosa com o crime de preconceito.
O crime de preconceito é previsto na lei 7.716/89 e tipifica preconceito de: procedência nacional, cor, raça, etnia
e religião. Lembrando que, no Direito Penal, não é cabível a analogia in malam partem, e por isso não é possível
se utilizar desse dispositivo para incriminar condutas de preconceito quanto à orientação sexual. Esta lei
não prevê crimes de preconceito quanto à orientação sexual. Veja:

Art. 1º, Lei 7.716/89: Serão punidos, na forma desta Lei,


os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Esta lei tem como base legal o art. 5º, inciso XLII, do CF/88, que dispõe que:

Art. 5º, CF/88:

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e


imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei.

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É muito comum também a confusão em relação ao art. 20 desta lei, que estabelece que:
Art. 20, Lei 7.716/89: Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Pena: reclusão de um a três anos e multa

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos,


distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de
divulgação do nazismo.

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos


meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza:

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério


Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobedi-
ência:
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material
respectivo;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrôni-
cas ou da publicação por qualquer meio;
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede
mundial de computadores.

§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado


da decisão, a destruição do material apreendido.

Entenda que, no crime quanto à honra, o agente deseja ofender a honra de alguém, o que até pode ser
feito em público, desde que a pessoa tome conhecimento. No entanto, se o agente tem algum preconceito quanto
à um grupo religioso ou grupo ético, por exemplo, sendo este preconceito que ele deseja publicizar, o crime não
será o de injúria preconceituosa, mas sim crime de preconceito.

ATENÇÃO: Os crimes contra honra estão dispostos no Código Penal dentro do Título Crimes contra a
pessoa, que significa dizer que o agente tem dolo de atingir uma pessoa em específico, caso o contrário não será
um crime contra à honra. Quando o agente, ao publicar uma postagem preconceituosa na rede social, não tem o
intuito de ofender uma pessoa em específico, não será crime contra pessoa, não será um crime contra honra, mas
sim o crime de preconceito.
A Lei 7.716/89 prevê também outros crimes de preconceito. Os demais crimes dispõem acerca do im-
pedimento de acesso a direito, por exemplo: impedir uma pessoa de ter acesso a um determinado estabeleci-
mento em virtude de sua religião, etnia, etc. Veja:

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Art. 3º, Lei 7.716/89: Impedir ou obstar o acesso de al-
guém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Ad-
ministração Direta ou Indireta, bem como das concessio-
nárias de serviços públicos.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por mo-


tivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou pro-
cedência nacional, obstar a promoção funcional.

Art. 4º, Lei 7.716/89: Negar ou obstar emprego em em-


presa privada.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Outros exemplos:
a) Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial;
b) Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou
privado;
c) Impedir o acesso ou recusar hospedagem;
d) Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes
abertos ao público;
e) Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou
clubes sociais abertos ao público;
f) Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de
massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades;
g) Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de
acesso aos mesmos;
h) Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens,
metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido;
i) Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas;
j) Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social.

Voltando aos crimes contra a honra, o crime de calúnia não pode ser confundido com o crime contra
a Administração da Justiça, de denunciação caluniosa, previsto no art. 339 do CP.

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Denunciação caluniosa

Art. 339, CP: Dar causa à instauração de investigação


policial, de processo judicial, instauração de investigação
administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade ad-
ministrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que
o sabe inocente:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente


se serve de anonimato ou de nome suposto.

§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é


de prática de contravenção.

A denunciação caluniosa é uma calúnia, ou seja, ocorre quando é imputado um fato a alguém que seja
capaz de “dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação admi-
nistrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe
inocente”.

Exemplo: No intuito de prejudicar seu vizinho Pedro, Mário vai até a delegacia e afirma que Pedro
matou sua esposa Ana a facadas, colocou o corpo em uma mala e saiu de casa. Mário sabia que tudo isto era
mentira, mas ainda assim narrou esses fatos em sede policial. Perceba que, neste exemplo, houve uma calúnia,
porém, esta calúnia deu causa a uma investigação policial. Desta forma, pelo princípio da consunção, Mário, ao
invés de responder pelo crime de calúnia, responderá pela denunciação caluniosa.
ATENÇÃO: Pelo princípio da consunção, o crime fim absorve o crime meio para que seja praticado.
Assim, no exemplo anterior, o Mário não teria como ter praticado o crime de denunciação caluniosa (crime fim) sem
praticar o crime de calúnia (crime meio). Salienta-se que a denunciação caluniosa é mais gravosa que o crime
de calúnia, pois põem em risco a liberdade da vítima.

O art. 143 do CP dispõe sobre a retratação, se referindo somente à calúnia e à difamação. Nestas hipó-
teses, há a isenção de pena. Ou seja, é uma causa de extinção da punibilidade (art. 107 do CP). Contudo, a retra-
tação não é cabível no crime de injúria, por ausência de previsão legal. Veja o dispositivo:

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Retratação

Art. 143 , CP: O querelado que, antes da sentença, se


retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica
isento de pena.

Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha


praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de
meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim
desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se pra-
ticou a ofensa.

Para os crimes contra honra, a ação penal será privada, via de regra; o que significa dizer que a vítima
precisa contratar um advogado para que este ofereça a queixa em juízo. No entanto, art. 145 do CP prevê algumas
exceções. Veja:

Art. 145, CP: Nos crimes previstos neste Capítulo so-


mente se procede mediante queixa, salvo quando, no
caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.

Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Mi-


nistro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141
deste Código, e mediante representação do ofendido, no
caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do
§ 3o do art. 140 deste Código.

É importante também a leitura dos seguintes artigos:

Art. 141, CP: As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se


qualquer dos crimes é cometido:

I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;


II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da
calúnia, da difamação ou da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência,
exceto no caso de injúria. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)

Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de re-


compensa, aplica-se a pena em dobro.

Exclusão do crime

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Art. 142, CP: Não constituem injúria ou difamação punível:

I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu


procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo
quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou
informação que preste no cumprimento de dever do ofício.

Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difa-
mação quem lhe dá publicidade.

Art. 144, CP: Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou
injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se
recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.

CRIMES PATRIMONIAIS

Dando continuidade ao estudo da Parte Especial do Código Penal, será estudada uma nova espécie de
crimes: os crimes patrimoniais. Veja, inicialmente, o crime de furto, que está previsto no art. 155 do CP, e o crime
de roubo, previsto no art. 157 do CP.

1. A DIFERENÇA ENTRE OS CRIMES DE FURTO E ROUBO

Para a análise destes crimes, segue um exemplo: Duas mulheres vão à casa de um homem, a convite
deste. Chegando lá, o homem vai até o banheiro e, ao fechar a porta, as duas mulheres conseguem trancá-lo. Feito
isso, elas subtraem vários pertences do homem que estão dentro da casa e vão embora. Perceba que este exemplo

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se trata de hipótese de roubo e não de furto, como muitos poderiam pensar. Veja sobre o que dispõe o art. 157 do
CP:

Roubo

Art. 157, CP - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para


outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa,
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à im-
possibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Perceba também que este artigo não dispõe somente sobre subtração de coisa alheia móvel, para si ou
para outrem, mediante grave ameaça ou a violência a pessoa. O art. 157 do CP dispõe também a seguinte parte
“ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”. Desta maneira, esta é a ter-
ceira forma de haver o roubo, que é o que ocorreu no exemplo anterior, quando foi dito que a duas mulheres tran-
caram o homem dentro do banheiro para fazer a subtração dos pertences. Havendo, portanto, a impossibilidade de
resistência ao roubo.
Desta maneira, a melhor maneira para encontrar o crime praticado no caso concreto, é avaliando o meio
empregado, pois se o agente, para subtrair a coisa alheia móvel, agiu mediante violência ou grave ameaça, ou até
mesmo impossibilitou a vítima de resistir, será um caso de crime de roubo. Não sendo esses meios empregados,
será crime de furto.
Veja sobre o que dispõe o art. 155 do CP:

Furto

Art. 155, CP - Subtrair, para si ou para outrem, coisa


alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Ao falar sobre o crime de furto, deve-se atentar que ele pode ser simples, privilegiado e qualificado.
Veja:

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Simples Caput

Privilegiado Parágrafo 2º
FURTO
Parágrafo 4º e
4o A

Qualificado Parágrafo 5º

Parágrafo 6º E
7o.

Conforme se observa no esquema anterior, o §2º do art. 155 do CP prevê o furto privilegiado, que
dispõe que:
Furto

Art. 155, CP:

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa fur-


tada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção,
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

O §2º exige como requisitos a primariedade do criminoso e o pequeno valor da coisa furtada, cu-
mulativamente. Sem eles, não poderá ser configurado o crime de furto privilegiado.
Já o §4º dispõe acerca das qualificadoras no furto. Veja:

Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa,


se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à sub-


tração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, esca-
lada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

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Recentemente, foi incluído no art. 155 do CP a nova forma qualificadora, a qual está disposta no §4-A.
Esta inclusão se deu pela Lei 13.654, que entrou em vigor no dia 24/04/2018. Veja:

Art. 155, CP:

§ 4º-A . A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)


anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de ar-
tefato análogo que cause perigo comum. (In-
cluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

ATENÇÃO: A lei 13.654/18 se trata de uma novatio legis in pejus, ou seja, nova lei maléfica. Desta
maneira, como lei maléfica não retroage, esta lei só será aplicada para os crimes praticados a partir do dia
24/04/2018.
Também foi incluído por esta mesma lei o §7º. Veja:

Art. 155, CP:

§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos


e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibili-
tem sua fabricação, montagem ou emprego. (In-
cluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

Assim, atualmente, o art. 155 do CP tem também como qualificadoras o §4º-A e o §7º, haja vista a
alteração legislativa feita pela LEI 13.654/18.

Furto privilegiado
Conforme abordado na aula 7, o crime de furto é dividido nas modalidades furto simples, furto privile-
giado e furto qualificado.
O furto privilegiado está disposto no §2º do art. 155 do CP. Veja:

Art. 155, CP:

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a


coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou apli-
car somente a pena de multa.

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Perceba que o §2º do art. 155 do CP exige dois requisitos para que seja configurado o crime de furto
privilegiado, quais sejam, a primariedade do criminoso e o pequeno valor da coisa furtada. Em relação a pri-
mariedade, significa que o criminoso não pode ter reincidência, porém não há problema ter maus antecedentes.
Cabe salientar que furto privilegiado (§2º do art. 155 do CP) não se confunde com a aplicação do
princípio da insignificância. O princípio da insignificância faz com que o crime desapareça do caso concreto, pois
o fato passa a ser materialmente atípico. Atenta-se que, diferentemente do fato atípico, furto privilegiado é crime,
porém com uma pena mais branda.
O que seria o pequeno valor do furto privilegiado?
Veja o entendimento do STJ sobre esta questão:

STJ – HC 401574
Na aplicação do furto privilegiado (art. 155, § 2º, do Código Penal), o salário mínimo
vigente à época dos fatos vem sendo utilizado como parâmetro para se atribuir à
coisa furtada a qualidade de "pequeno valor". Porém, não se trata de um critério
absoluto.
Deve ser considerado juntamente com as demais circunstâncias do delito. In casu,
o valor furtado, equivalente a um salário mínimo vigente à época dos fatos, era
proveniente da aposentadoria da vítima e ainda representada toda a quantia exis-
tente na conta bancária, o que demonstra elevada reprovabilidade da conduta e,
em consequência, a impossibilidade de reconhecimento do furto privilegiado.

O salário mínimo pode até ser utilizado como parâmetro para a configuração do furto privilegiado. No
entanto, a jurisprudência atual não vê isso como suficiente, pois se a situação demonstrar uma alta reprovabilidade,
deverá ser afastada a hipótese de furto privilegiado.
Um exemplo de aplicação do princípio da insignificância é quando o agente subtrai 10 reais da carteira
da vítima, a qual continha o montante de R$ 1.010,00. Desta maneira, pelo princípio da insignificância, esse caso
seria uma hipótese de fato atípico.

ATENÇÃO: Desta forma, a primeira verificação é pelo cabimento do princípio da insignificância, com
alegação de seus requisitos:
a) Conduta minimamente ofensiva;
b) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
c) Ausência de risco social;
d) Lesão inexpressiva para a vítima.

Atente-se que para que haja crime de furto, é fundamental a existência do animus rem sibi habendi, o
que significa dizer que o age quer agir como se dono da coisa fosse. Desta maneira, o chamado furto de uso é
também um fato atípico. É o caso do agente subtrai a coisa alheia somente com o intuito de utilizá-la e depois
devolver ao dono da coisa, ou seja, sem ter a intenção de tomar a coisa pra si. No entanto, se o agente tem a
intenção de se tornar dono da coisa (animus rem sibi habendi) e só depois, por uma ressaca moral, decide

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devolver o pertence à vítima, haverá crime e será aplicado o art. 16 do CP (arrependimento posterior). Lem-
brando que arrependimento posterior é causa de diminuição de pena, a qual é considerada na 3º fase da dosimetria
da pena.

Em relação ao furto qualificado, veja como está disposto o §4º do CP:

Art. 155, CP:

Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa,


se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtra-


ção da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, esca-
lada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

Após a leitura deste dispositivo, é importante atentar-se para alguns pontos de destaque. Veja:

a) Abuso de confiança requer relação de confiança entre sujeito ativo e passivo e não deve ser algo
presumido. Sendo assim, a questão precisa dizer expressamente que a vítima depositava confiança no autor do
crime. Isso precisa estar claro na questão. Caso não esteja, não incide a qualificadora.
b) Quanto à fraude, esta é empregada para que o agente consiga distrair a vítima e subtrair a coisa.
Caso a fraude seja utilizada para que a vítima entregue a coisa, via de regra o crime será de estelionato (art. 171
do CP).

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c) Escalada é qualquer meio de ingresso anormal, que exija um esforço fora do comum do agente. Logo,
cavar um túnel pode ser escalada.
e) Chave falsa é qualquer coisa utilizada para abrir, tenha ou não formato de chave. A cópia de chave
verdadeira não configura a qualificadora de emprego de chave falsa, mas pode caracterizar, a depender dos
dados da questão, abuso de confiança.

2. A DIFERENÇA ENTRE FURTO E OUTROS CRIMES

Compreendida a diferença entre furto e roubo, é fundamental estabelecer a diferença do crime de furto
com outros crimes.
Primeiramente, deve-se ter em mente que subtrair não se confunde com deixar de devolver coisa de
quem tem posse. Exemplo: Júlio decide visitar seu amigo Carlos. Chegando lá, Júlio se depara com uma coleção
de um livro raro, pelo qual é apaixonado. Júlio pede emprestado a Carlos um desses volumes, prometendo, inclu-
sive, entregá-lo na semana seguinte. Depois de emprestado, Júlio resolve não mais devolver o livro. Uma semana
depois, Carlos pede a devolução do seu livro a Júlio, e este afirma que não irá mais devolvê-lo. Perceba que, neste
exemplo, Júlio agiu de boa-fé quando pediu aquele volume emprestado, sendo assim uma posse lícita que acabou
se convertendo em posse ilícita, quando Júlio, de má-fé, resolveu não mais entregar a Carlos. Este exemplo trata-
se de apropriação indébita, crime este previsto no art. 168 do CP. Veja:

Apropriação indébita

Art. 168, CP: Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse
ou a detenção:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Aumento de pena

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu


a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventari-
ante, testamenteiro ou depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

ATENÇÃO: Na apropriação indébita, a posse anterior é lícita, de boa-fé, porém a consumação do crime
se dá com a inversão para posso ilícita (má-fé). Se a posse anterior é de má fé, o crime praticado será de estelionato
(art. 171 do CP), em que há o inadimplemento preconcebido. Por exemplo, quando Júlio pede emprestado o
livro a Carlos já com a intenção de não devolvê-lo.

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Veja como o crime de estelionato está previsto no art. 171 do CP:

Estelionato

Art. 171, CP: Obter, para si ou para outrem, vantagem


ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de qui-


nhentos mil réis a dez contos de réis.

A partir deste dispositivo, verifica-se que o crime de estelionato prevê dois resultados, a obtenção de
vantagem ilícita e o prejuízo alheio. Dentre os meios em que será praticado o estelionato, tem-se o meio fraudu-
lento, a atual doutrina considera como meio fraudulento o silêncio.
O §1º do art. 171 tem uma disposição bem próxima da disposição do crime de furto privilegiado (§2º do
art. 155 do CP), pois menciona a primariedade do criminoso e o pequeno valor do prejuízo causado à vítima. E art.
171 no §2º estabelece aquilo que a doutrina chama de estelionato especial, dentre outras disposições. Veja:

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar


a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:

Disposição de coisa alheia como própria


I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia
como própria;

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria


II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável,
gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante
pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;

Defraudação de penhor

III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;

Fraude na entrega de coisa


IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar
a alguém;

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro


V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo
ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de
haver indenização ou valor de seguro;

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Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou
lhe frustra o pagamento.

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de


entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social
ou beneficência.

Estelionato contra idoso

§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. (Incluído


pela Lei nº 13.228, de 2015)

Perceba que a Lei 13.228/15, a qual entrou em vigor no dia 29/12/2015, incluiu o §4º no art. 171 do CP,
trazendo a disposição sobre o estelionato contra idoso. Em se tratando de aplicação de pena em dobro, verifica-
se que é uma causa de aumento de pena. Atente-se que o conceito de idoso está estabelecido na lei 10.741/03
(Estatuto do Idoso), devendo a pessoa ser maior de 60 anos de idade.

QUESTIONAMENTO ELABORATIVO

1. Em caso de lesão corporal culposa, praticada na direção de veículo automotor, qual será a modalidade
de ação penal?
2. É possível o concurso de crimes entre homicídio (art. 302 do CTB) e o crime de embriaguez ao volante
(art. 306 do CTB)?
3. Qual é a modalidade de ação penal em caso de lesão corporal leve com violência doméstica?
4. Chamar alguém de ladrão é crime de calúnia?
5. Qual é a diferença entre furto e roubo?

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