Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Roberto Campos possuía uma visão diferente de Celso Furtado no que diz
respeito ao quadro deflagrador da crise brasileira dos anos 1960. Para Celso furtado a
crise na economia brasileira dos anos 1960 derivava basicamente de três problemas, o
primeiro tem causa externo, na balança de pagamentos, e os outros dois seriam de causa
interna, ou seja, os desajustes entre oferta e demanda e a concentração de renda. Esta
última se dava tanto entre regiões do país como em faixas de consumo da sociedade.
Nisso o autor conclui que os obstáculos ao crescimento e o motivo da crise
interna na década de 1960 se deu graças as estruturas brasileiras que precisavam de
reformas, senda a principal delas a reforma política, que tinha como objetivo trazer
novos agente sociais para as discussões políticas.
Enquanto Furtado enxerga os golpes de estado como retrocessos na vida política
e social, Campos via o golpe como retomada da normalidade que o país precisava para
dar continuidade em seu desenvolvimento econômico. Se pro Furtado as forças armadas
eram usadas pelas elites em pânico com o crescente movimento organizado da classe
trabalhadora que apenas queria participar dos processo políticos, Campos analisa o
começo da década de 1960 como o momento em que o pais mais se aproxima de um
período de reformas que poderiam finalmente colocar o brasil no caminho do verdadeiro
crescimento econômico. Campos observa que o governo Goulart como o auge da
irresponsabilidade política e econômica dos governos populistas, processo iniciado por
Vargas.
Furtado e Campos concordavam em apenas um ponto, por assim dizer, a crítica
feita aos governos populistas. Furtado analisa esse fenômeno como linguagem comum à
do socialismo utópico do século XIX, onde realmente havia distribuição de renda,
porém não se mexia n organização da produção. Campos, afirmaria que no Brasil esse
fenômeno tem origem em Vargas, através do que ele chamaria de interrupção ditatorial
do processo político brasileiro. A partir daí, a crítica se concentra em afirmar que esses
governos fazem uso indevido das políticas econômicas, ou mesmo do dinheiro público.
O esgotamento do populismo se deu no governo Kubitschek onde o
“desenvolvimento nacionalista alcançou um período de euforia, mas também criou uma
safra de impasses: aceleração inflacionária, insolvência cambial, nacionalismo
temperamental, quebra da disciplina sindical, estudantil e militar, e imobilismo
legislativo.”. para Campos o populismo que havia se iniciado com Vargas através do
que ele chamou interrupção ditatorial, atinge seu auge com o governo Kubitschek,
porém, seu sucessor herdaria os problemas listados acima. Jânio Quadro, além de não
resolver os problemas econômicos, ainda acrescentaria mais um de ordem política ao
renúncias. Goulart então seria o encarregado de sanear a política e a economia, mas não
o faz e aprofunda a crise econômica.
A revolução de 1964, assim chamada por Campos, foi um movimento no sentido
de restaurar a normalidade do sistema. A explicação é complexa e tem atores internos e
externos. O movimento de 64, para ele, acontece no sentido de impedir a expansão das
ideias comunistas e populistas pelas quais Goulart era acusado. Campos nos coloca que,
se durante a década de 1960, a URSS parecia em expansão, isso não a impediria de
exercer sua influência política e ideológica no Brasil através da implantação de uma
república socialista sindicalista. É nesse contexto que, segundo o autor, devemos
enxergar o movimento de 64 de forma defensiva. Bem diferente da visão de Furtado,
segundo a qual os golpes de estado nos países subdesenvolvidos tendem a ser
retrocessos políticos que em nada contribuem para o desenvolvimento econômico. Pelo
contrário, concentram renda e impedem a maior participação popular na política, um
dos pressupostos do verdadeiro desenvolvimento econômico.
Um dos atores externos, assim definido por Campos para o movimento no
sentindo da revolução de 64, foi o cenário da guerra fria e no âmbito interno temos os
problemas do governo Goulart como um dos detonadores da crise. Campo afirmava
que:
O Governo Goulart já nascera de uma dessas inconsequências
políticas em que o Brasil é pródigo: o presidente eleito por um partido, o
vice-presidente por outro. Goulart, eleito por uma fração minoritária do
eleitorado, e com o apoio suspeito das lideranças sindicais “peleguistas”,
evidentemente não tinha mandato legítimo para promover mudanças radicais
no país. Mas era isso que se anunciava na campanha pelas “reformas de base”
e nas aparentes tentativas de promover a indisciplina nas Forças Armadas e
de assustar a “burguesia” com ameaças tais como o “grupo dos onze”. A
infiltração das esquerdas era visível, e as classes médias sentiam medo, como
não é difícil compreender. Para os que acreditam na inocência idílica das
esquerdas desse tempo, é bom lembrar que importantes frações delas pouco
depois optariam pela luta armada no Brasil (e na América Latina em geral),
entrando pela década de 70 adentro. (CAMPOS, 1994, p. 568)
Campos argumento contra Goulart o fato de que ele tinha pouco apoio e apelo
popular. A tentativa de fazer as reformas fracassa por não ter o endosso dos partidos e
de poucos movimentos sociais de expressão. Outra grande fator, assim apontado por ele,
para a queda de Goulart foi seu suporte indiscriminado a parte mais baixa da hierarquia
militar que lutava por melhores condições de trabalho e de salário, o que foi visto por
Campos (e pelos militares da época) como quebra da disciplina militar, algo que ele não
poderiam admitir. O autor enxergava a existência de uma infiltração da esquerda em
diferentes ambientes pelo país, desde as forças armadas ate os movimentos sociais. E
mostra, principalmente, como culpa da esquerda a escalada de violência e a opção pela
luta armada destas, e não culpa o fechamento dos canais democráticos de diálogo
existentes na América latina, onde essa esquerda poderia, ainda que timidamente se
mobilizar e se expressar.
Furtado enxergava como entrave ao desenvolvimento econômico questões como
a concentração de renda, estruturas arcaicas, dualidade das estruturas arcaicas,
dualidade político-social e a falta de mobilidade política das classes mais baixas,
Campos analisaria os entraves ao desenvolvimento econômico como a ausência de
mecanismo que pudessem deslanchar a empresa e o empreendimento capitalista no
Brasil. A engessada legislação trabalhista no Brasil e a herança paternal por parte do
governo populista aos sindicatos deixaram um legado de vícios políticos e econômicos
que impediam o desenvolvimento econômico. Seria necessário reformas que
modificassem esse cenário brasileiro. Essas reformas resultariam mais arde no PAEG.
Como ministro do planejamento, Campos afirmaria que “o papel do
planejamento estatal não era asfixiar a iniciativa privada e sim, ao contrário, disciplinar
os investimentos públicos e racionalizar a ação do governo, construindo assim uma
moldura dentro da qual a iniciativa privada poderia operar com segurança”. A princípio
nada do discurso de Campos se diferencia do que Furtado escrevia ou dizia, as
diferenças começariam a aparecer somente quando Campos iniciou os trabalhos do
PAEG.
Campos se preocupava com o desenvolvimento, mas com posições teóricas
próximas dos monetaristas, ele tinha preocupações com o cambio e a inflação. A criação
de um plano de desenvolvimento seria anulada se a inflação permanecesse
descontrolada. É nesse momento que surge o PAEG, um programa de controle
inflacionário que permitisse posteriormente altas taxas de crescimento econômico.
Em seu diagnostico dos problemas econômicos, Campos iniciava seus trabalhos
buscando a origem do processo inflacionário. “quanto as raízes do processo
inflacionário, eu arguia que elas tinham variado no curso do tempo, mas ultimamente a
responsabilidade primordial cabia aos déficits governamentais e a continua pressão
salarial. Aqueles geravam inflação de procura, e esta, inflação de custos”. Enquanto
Furtado usa questões históricas e problemas nas estruturas para explicar as raízes da
inflação, Campos, mostrando suas características monetaristas, afirmaria que os déficits
governamentais e o aumento salarial pressionariam as contas do governo, criando uma
inflação de procura.
Mais complexas eram as raízes da crise de estagnação, cabendo aí salientar
dois grupos de fatores: os político-institucionais e os resultantes de erros ou
indeterminações da política econômica. Alinhei entre os fatores político
institucionais: a) a constante tensão política criada pela desarmonia entre o
Executivo federal, de um lado, e o Congresso Nacional e os governos
estaduais, de outro; b) a propensão estatizante, criando contínuo desestímulo
e ameaças aos investidores privados; c) as paralisações sucessivas de
produção pelos comandos de greve, frequentemente com objetivos
claramente políticos; d) a incerteza criada nos meios agrícolas pela ameaça
de aplicação de uma indefinida reforma agrária, baseada principalmente em
desapropriações, sem critérios objetivamente conhecidos. (CAMPOS, 1994,
p. 576)