Você está na página 1de 1

Um dos meus amores.

Todos os dias, nos últimos anos, minhas manhãs são palco de um mesmo ritual
que por algum tempo eu encarei com certo constrangimento.
Depois do café da manhã, pego meu carro dirigindo ao trabalho, seguindo
sempre o mesmo trajeto da Marginal Tietê até quase o fim da Marginal
Pinheiros.
Protegendo-me dos motoboys, instintivamente procurei manter a pista da
esquerda que além de fluir melhor, passou a oferecer inesperado espetáculo.
Cansado de ver pontes e viadutos cinza e descuidados, apinhados de veículos
poluentes, percebi por acaso um novo cenário.
Margeando, a direita do rio, no canteiro antes das pistas da avenida expressa,
a poucos metros do trânsito lento e nervoso um espetáculo inesperado
acontece silenciosamente.
Emolduradas por postes fincados a espaços regulares, rodeando as torres de
alta-tensão plantadas assimetricamente, sempre a minha esquerda, meus
olhos são regados de uma beleza singular.
São plantas e flores de cores as mais apaixonantes, um colorido cheio de
novidade, pulsante, gritando encantamento contrapondo com o resto da
paisagem.
Profusão de cores onde amarelo e vermelho proliferam sem modéstia,
impondo-se mas compondo um quadro mais que agradável. Viajo nessas cores,
perco a noção de onde realmente estou.
São lírios brancos e amarelos, palmeiras, damas da noite com um resquício de
perfume, quaresmeiras, jasmineiros, mangueiras.
Plantas rasteiras, arbustos, árvores, trepadeiras com muitas flores e até com
frutos que enchem a boca de água.
Dá vontade de saltar do carro, pular a mureta, onde tantas vezes, pássaros
fazem algazara e refastelar com tanta generosidade de frutas, sentir nas mãos
o vigor de cada cor.
Essa cidade de tantas informações e acontecimentos oferece, cenas novas,
nesse oásis improvável, que nunca é o mesmo do dia anterior, sempre
surpreendendo mais.
Ladeando esse jardim que inspira e aguça a mente, sigo todo dia pelo asfalto,
entendendo melhor porque é impossível amar menos essa cidade que oferece
tantos motivos para ter novos olhares e visões.

Marcos A Pereira – 19.02.2008

Você também pode gostar