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Pibifsp2019 Faustohenriquenogueiragomes (Relatoriofinal1) PDF
Pibifsp2019 Faustohenriquenogueiragomes (Relatoriofinal1) PDF
SÃO PAULO
2019
Melissa Cristina de Carvalho Martins
LITERATURA NO IRÃ:
SÃO PAULO
2019
Dedico este trabalho a meu eterno amigo,
em memória de Filipe Varea Leme.
RESUMO
This research proposes itself to analyze the construction of the image of the
feminine in Iran from the literature of Persepolis (2000), by Marjane Satrapi, and
Reading Lolita in Tehran (2004), by Azar Nafisi, in the post-revolution of 1979 context,
and comprehend how the writers deal with the life in the Islamic regime, the
representation of the feminine Iranian society and the political and religious participation.
To understand how these two voices of Iranian women in the Western and represents or
not the women and its resistance in Islamic Republic of Iran, we utilize the orientalism
studies, social imagination and phenomenological interpretations in the geography.
1. INTRODUÇÃO
1.1 Contexto Histórico
1.2 Desdobramentos da Revolução de 1979 na sociedade iraniana
2. OBJETO DE ESTUDO
2.1 Azar Nafisi
2.1.1. Lendo Lolita em Teerã
2.2 Marjane Satrapi
2.2.1. Persépolis
3. METODOLOGIA
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5. DISCUSSÃO DAS FONTES
6. RESULTADOS
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. INTRODUÇÃO
1
A religião islâmica de ramificação xiita, que representa a segunda maior
ramificação do islã, entre 10 a 13% da população muçulmana no mundo, é majoritária
em alguns países como o Irã, Paquistão, Índia e Iraque1.
1
“Mapping the Global Muslim Population: A Report on the Size and Distribution of the World's
Muslim Population". Pew Research Center, 2009. Disponível em:
https://www.pewforum.org/2009/10/07/mapping-the-global-muslim-population/. Acesso em 19
abr. 2019.
2
Shah, ou xá: denominação atribuída a uma série de monarcas iranianos, cuja origem remonta à
dinastia Aquemênida.
3
GHANI, Cyrus. Iran and the Rise of the Reza Shah: From Qajar Collapse to Pahlavi Power.
Nova Iorque: I.B. Taurus, 2001, p. 99.
2
Em 1872 o shah Nasir-Al-Din, filho de Mohammad Shah concedia direito
exclusivo aos ingleses, mais especificamente ao Barão Julius Reuter de comandar as
indústrias do país, “irrigar as fazendas, explorar os recursos minerais, expandir as
estradas de ferro e linhas de bonde, criar seu banco nacional e emitir sua moeda”
(COGGIOLA, 2010, p. 26); nos anos seguintes, os ingleses receberam os direitos de
prospecção de minérios e abrir bancos, enquanto os russos garantiram exclusividade para
explorar caviar.
O shah Reza manteve-se no poder por vinte anos, cujo governo foi caracterizado
pela repressão a movimentos separatistas e sociais e viu a ascensão do nazi-fascismo, do
3
qual não escondia sua simpatia, e apesar dos temores dos Aliados o Irã declarou-se
neutro na Segunda Guerra Mundial.
Reza governou até 1941, quando abdicou do poder em favor de seu filho
Mohammed Reza Pahlevi, exilando-se nas ilhas Maurício. Nesse período, a Grã-
Bretanha havia invadido o Irã, temerosa de perder suas fontes principais de petróleo.
“Mohammed Reza Pahlevi, agora shah, fora educado em Londres e nem sequer falava
persa (farsi) ” (COGGIOLA, 2010, 35). A saída do shah Reza foi positiva para os
movimentos Feministas de Estado, denominados assim pela presença de mulheres,
mesmo que não-religiosas, no parlamento, que legislavam em favor dos direitos das
mulheres, enquanto possibilidade de viabilizar organizações independentes 4, que até
então eram fortemente reprimidas. Os objetivos destas organizações voltavam-se
essencialmente pela liberdade, educação, abolição da poligamia.
4
Reivindicações trabalhistas fizeram com que o governo, sob pressão, procurasse um
acordo com os britânicos para maior divisão dos lucros sobre os barris de petróleo, o que
foram desprezados pelos europeus. Neste contexto, o nacionalismo iraniano e suas
lideranças tomavam espaço e a figura de Mohammed Mossadegh ascendeu como
Primeiro Ministro indicado pelo shah, ele era líder do grupo parlamentar nacionalista e
próximo à hierarquia islâmica xiita.
5
revolução de 1979 traria definitivamente ao centro do palco da história.
(COGGIOLA, 2010, p. 41)
Para os ingleses, negociar com “nativos ignorantes” era um insulto: para eles a
Grã-Bretanha desempenhava uma missão civilizadora nos países onde eram dominantes,
pois “desumanizavam os colonizados e apenas conviviam com a elite local, submetida a
seus interesses, ignorando as péssimas condições de vida que era submetida a maior parte
da população” (COGGIOLA, 2010, p. 42).
O shah proibiu o uso do véu pelas mulheres, muitas delas religiosas que viviam
confinadas em suas casas; para o governo, o uso do véu era contrário aos interesses de
modernização do Irã, uma parte significativa da população urbana religiosa passou a
recusar-se em enviar as filhas à escola5. Enquanto isso, as terras de instituições religiosas
foram divididas, e sua renda reduzida; a concessão do direito ao voto às mulheres foi
visto como um plano do shah “para trazer as mulheres às ruas” (COGGIOLA, 2010,
p.64). Ele conferiu o direito à mulher de trabalhar em algumas profissões como a
magistratura ou no exército.
Durante este período, apesar de existir um relativo progresso nos direitos das
mulheres, estes direitos acabavam por favorecer as mulheres urbanas instruídas e sob o
controle do Estado.
5
Kian-Thiébaut, In: Rial, 2008, p. 147
6
crianças. Ainda assim, as mulheres obtiveram direitos, mas quem
os utilizou foram as do meio urbano, de classes superiores. A
maioria delas não os utilizou e nem sequer sabia que tinha esses
direitos (...) as identidades sociais femininas não existiam
realmente nessa época, mesmo entre as que se beneficiaram
dessas mudanças de lei. Não havia reivindicações específicas
para as mulheres, o que explica em parte por que elas aderiram
ao movimento islâmico no momento da Revolução de 1979.
(KIEN-THIÉBAUT apud RIAL, 2008, p. 149)
A invasão de uma escola religiosa pelas forças do shah, além das outras diversas
repressões a comunidade religiosa e a expansão secular dos direitos das mulheres
contribuíram para a imagem de inimigo do Islã.
No Irã, a crise do petróleo nos anos 1970 provocou terrível inflação, mas a restrita
classe dominante desfrutava de muito dinheiro na época, em especial a autocracia
governante. O choque entre a população jovem, em crescimento contínuo e um regime
que não oferecia “nem os avanços de um Estado moderno, nem estabilidade de uma
sociedade tradicional” (COGGIOLA, 2010, p. 65) criou as condições perfeitas para a
revolução. A população mais pobre do país tendia a ser o segmento mais religioso e o
menos ocidentalizado.
6
Mullah: derivado da palavra árabe mawla, significando, mestre, vigário e guardião, no islã xiita,
título dado às personalidades religiosas, especialmente aos doutores da lei corânica.
7
Pahlavi. Na década de 50, Khomeini tinha recebido o título de Aiatollah, o mais
importante cargo da hierarquia do clero xiita.
O primeiro discurso de Khomeini no Irã foi conduzido na praça dos mártires. Sua
chegada histórica foi televisionada e foi possível ver a multidão levando imagens de
Khomeini e gritando “Allah é grande” e “Khomeini é nosso líder”, em seguida a sua
chegada ouviu-se pela primeira vez o hino da república islâmica. Khomeini ameaçou a
primeiro ministro e exigiu sua renúncia, criticou a dinastia Pahlevi e os Estados Unidos.
8
shah dera aos chefes militares dias antes de abandonar o Irã,
gravada numa fita, posteriormente retirada do país, por um
general de exército dissidente. A fita fora entregue à CBS por um
representante da Frente Nacional de Oposição nos Estados
Unidos: suas reproduções eram vendidas a dois ou três dólares
nas ruas de Teerã.
7
Jihad, em árabe, de acordo com o Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa (2013):
esforço, combate para a defesa das fronteiras do Islã ou luta interior para o controle das paixões
da alma e aperfeiçoamento espiritual.
8
Entre elas estão a “National Union of Women”, “Committee for Solidarity of Women”,
“Organization of Iranian Women”, “Women’s Populace of Iran”, “Women’s Branch of National
Democratic Front”, “Association of Women Lawyers”, “Women’s Society of Islamic
Revolution”, e “Muslim Women’s Movement”. As duas últimas, associadas a outras pequenas
associações eram afiliadas com o “Islamic Republic Party”, representado as mulheres
muçulmanas que eram leais à Revolução Islâmica (OLIVEIRA CARVALHO apud Mahdi, 2004,
p. 434).
9
1.2. DESDOBRAMENTOS DA REVOLUÇÃO NA SOCIEDADE IRANIANA
Assim, após a revolução e a guerra no Iraque, que teve início depois da revolução
e durou oito anos, as mulheres perceberam que a situação da mulher se deteriorava cada
vez mais, novas reivindicações eram necessárias e assim começam a questionar,
10
gradualmente, a leitura masculina que há do Islã e como esta é aplicada nas suas vidas
(KIEN-THIÉBAUT, apud RIAL, 2008, p. 151).
11
2. OBJETO DE ESTUDO
12
O livro de caráter autobiográfico publicado nos Estados Unidos em 2003, por Azar
Nafisi, narra em primeira pessoa as experiências pessoais da professora universitária da
Universidade de Teerã, nos contextos contemporâneos ao desenvolvimento da Revolução
Iraniana de 1979 até 1997, na cidade de Teerã. Inicialmente tem a proposta de contar as
aventuras literárias de sete alunas da universidade, que reuniam-se durante dois anos,
todas as manhãs de quinta-feira, para ler e discutir obras proibidas da literatura ocidental
e acabavam abrindo-se e contando suas experiências individuais no Irã, mas ao
desenvolver-se apresenta pensamentos de outros atores da vida de Nafisi e suas próprias
experiências anteriores a formação do grupo de estudos, buscando mostrar as visões
pessoais do grupo das sete mulheres dentro da república islâmica.
13
Em 1983, os pais de Marjane, enviaram-na a Vienna, para seguir seus estudos no
Lycée Français de Vienne, na Áustria, discordantes com as mudanças regulamentadas no
regime islâmico. Marjane completou os estudos em Viena e após dificuldades pessoais,
retornou ao Irã, onde estudou comunicação visual e tornou-se mestra pela Universidade
Islâmica de Azad em Teerã. Casou-se com um veterano da Guerra Irã-Iraque aos 21 anos
e divorciou-se poucos anos depois, Marjane mudou-se para Strasbourg, na França,
atualmente vive em Paris como ilustradora.
9
Disponível em: <https://www.theguardian.com/film/2008/mar/29/biography>. Tradução nossa.
Acesso em 18 abr. 2019.
14
3. METODOLOGIA
10
A Revolução Iraniana, 2008, São Paulo: Editora UNESEP.
11
Tese de Mestrado: O cinema de mulheres no contexto do feminismo islâmico: o caso da
Samira Makhmalbaf. Braga: Universidade do Minho, 2016.
12
Imaginação social (1985).
13
Espaço e lugar: a perspectiva da experiência (1983) e Topofilia: um estudo da percepção,
atitudes e valores do meio ambiente (1980)
14
O homem e a terra: natureza da realidade geográfica (1952).
15
Tradução nossa.
15
Ghoreishi desconstrói a narrativa orientalista presente nas obras e analisa os
eventos expostos pelas das três artistas mencionadas a partir do recorte social individual
de cada uma delas, que diferem da maioria da população, alegando que, por habitarem
diferentes estratificações sociais, as perspectivas da experiência individual de cada uma
divergem e muito dos eventos experimentados pela população feminina iraniana de
estrato social pauperizado.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As análises realizadas por Bronislaw Baczko acerca dos imaginários sociais são
produto de experiências coletivas que comportam ações e sensibilidades de um dado
grupo social, e que articula determinados valores, normas e representações, portadores de
sentidos e identidades, no entanto, é importante pensar que as identidade e imaginários
compreendidos socialmente são, às vezes construções pautadas em concepções
orientalistas. “O Oriente ajudou a definir a Europa (ou o Ocidente), como sua imagem,
ideia, personalidade e experiência de contraste. Contudo, nada desse Oriente é
meramente imaginativo. O Oriente expressa e representa esse papel, cultural e até mesmo
ideologicamente como um modo de discurso” (SAID, 1990, p. 15). A partir da ideia
16
apresentada por Said entendemos que tanto Marjane Satrapi quanto Azar Nafisi
incorporam o discurso de moral civilizatória ocidental, corroborando com a hipótese de
Said.
17
A partir dos conceitos utilizados no campo das representações e dos imaginários
da literatura como fonte histórica, a metodologia da fenomenologia, nos auxiliou a
compreender os imaginários moldados nas representações construídas nas obras
Persépolis e Lendo Lolita em Teerã e também a construção destes lugares geográficos.
18
5. DISCUSSÃO DAS FONTES
Por que tais obras são tão importantes no Ocidente? Quais são os imaginários
construídos sobre eles? Quais são os pesos atribuídos a presença feminina no islã a partir
deste referencial, e quais são os outros referenciais?
19
6. RESULTADOS
Tanto nas obras de Nafisi quanto de Satrapi, verificamos críticas ao regime islâmico,
porém “no contexto de representações potencialmente redutivas de grupos sociais
diferentes, textos, imagens e ideias de representações particulares podem se tornar um
território contestado” (GHOREISHI, 2018, p. 3), pois, ambas ocupam um local muito
específico na sociedade iraniana: a elite urbana de Teerã. Algumas das críticas feitas
tanto no livro de memórias de Azar Nafisi quanto na novela gráfica de Marjane Satrapi
ao regime islâmico, poderiam ser contestadas por outras bases da sociedade, que
experimentaram melhorias.
“Em toda parte havia manifestações pró e contra o véu.” (SATRAPI, 2007, p. 3).
20
“A gente não gostava muito de usar o véu, principalmente porque não entendia o motivo”
(SATRAPI, 2007, p. 3).
“Enquanto as mulheres sem véu corriam o risco de ser presas, os homens estavam expressamente
proibidos de usar gravata (símbolo do ocidente) (...) Isso até que era justo” (SATRAPI, 2007, p.
14).
Azar Nafisi também aborda a questão do véu, com um pouco mais de ênfase e
contrária ao ‘roubo’ das cores dos indivíduos pelos véus negros.
21
consumindo cultura pop estrangeira no mercado ilegal, de preços elevados para a
população geral do país (GHOREISHI, 2018, p. 60).
“Essa categoria se juntou aos homens para prender as mulheres que não usavam direito o véu”
(SATRAPI, 2007, p. 14).
Talvez, tendo passado muito tempo de sua infância fora do Irã, Azar Nafisi sinta
genuinamente que não pertença ao Irã (BAHRAMITASH, p. 234). Um dos personagens
iranianos descritos por Azar diz que Nafisi é muito americana, o que ela reconhece sobre
si.
22
“Depois de 4 anos morando em Viena, estou de volta a Teerã” (SATRAPI, 2007, p. 124)
Em relação aos papéis de visitante e nativo, o nativo tem uma atitude complexa
derivada da sua totalidade de seu meio ambiente, enquanto portador do olhar geográfico,
é necessário tomar certos cuidados de observação em relação a cultura oriental e evitar ao
máximo o julgamento orientalista de questões culturais, ao mesmo tempo não se
esquecendo do ponto de partida do observador: o cientista não é isento de influenciar o
seu objeto e seu olhar (KUHN, 1998), e por este motivo, alguns questionamentos devem
ser feitos para a análise de ambas as obras selecionadas e a importância que ocupam no
ocidente e como podem legitimar discursos orientalistas.
23
“Cheguei a negar minha nacionalidade” (SATRAPI, 2007 p. 197)
24
mais militantes e marxistas acabaram por dominar o grupo, e
expulsaram ou isolaram aqueles de tendências mais moderadas e
nacionalistas (2007, p. 108)
Nafisi apresenta na sua obra estar consciente sobre os movimentos políticos do
shah e do domínio por parte dos Estados Unidos sobre o Irã, mas valorizava grandemente
os valores ocidentais, valores iluministas datados e territorializados. No caso de Marjane
existe uma continuidade crítica aos regimes adotados no Irã.
Nafisi vivia nos Estados Unidos e tentava buscar uma identidade iraniana no
Ocidente, que assimilava muito melhor que Satrapi. O saudosismo de Nafisi em relação
ao lugar do Irã assemelha-se muito mais a sentimentos nostálgicos de infância do que de
pertencimento:
25
“A festa também não era como eu pensava. Nas festas no Irã, todo mundo dançava e
comia. Em Viena as pessoas preferiam se deitar e fumar. E eu fiquei contrariada com todos
aqueles atos sexuais públicos. Vocês queriam o que? Venho de um país tradicionalista.”
(SATRAPI, 2007, p. 187)
“Quanto mais esforços de integração eu fazia, mais tinha a impressão de me distanciar da minha
cultura (...) de jogar um jogo que não era o meu” (SATRAPI, 2007 p. 190)
A identidade também não é encarada por Marjane Satrapi como por Azar Nafisi,
ambas são sim iranianas, não partilham de religião, têm origem abastada e consumem
muito da cultura ocidental, porém a vivência do lugar, em seu contexto geográfico muito
se difere, Azar Nafisi mesmo no Irã, não se sente em casa, pois o lugar que conhecia,
antes da Revolução, já não mais existe, e desta forma, no interior ou no exterior do país,
seus sentimentos não variam como o de Marji, que não distingue seu Lar de antes e
depois.
26
Minha ideia de pátria era paradoxal. Havia o Irã familiar pelo qual me
sentia nostálgica, o lugar dos parentes e dos amigos e das noites de
verão no mar Cáspio. E tão real quanto ele havia esse outro Irã,
reconstruído, sobre o qual falávamos. (NAFISI, 2007, p. 109)
Satrapi tentava se adaptar a nova cultura de seu país, seu lugar de origem. No
campo da fenomenologia Yi-Fu Tuan olha a perspectiva da experiência no lugar como
segurança, enquanto o espaço é liberdade. “Estamos ligados ao primeiro e desejamos o
outro” (TUAN, 1983, p. 3). A relação entre o indivíduo e o lugar tem possibilidades
dinâmicas, de maneira a mudar com o passar do tempo, principalmente em contextos
como os aqui apresentados, retornar ao lugar de origem e construir novas relações e
significados é um movimento comum de ressignificação do lugar.
“E quanto às minhas liberdades individuais e sociais, paciência... eu precisava muito voltar pra
casa” (SATRAPI, 2007, p. 247)
27
“Não era só com o véu que eu precisava me reacostumar” (SATRAPI, 2007, p. 252-253)
28
Durante esses anos, muitas mulheres iranianas voluntariamente optaram
por vestimentas modestas, especialmente o xador. Era somente comum
entre as classes altas ou médias escolherem roupas mais exuberantes e
exporem um pouco de seu cabelo. (2007, p. 39)
29
Para Buttimer16, a noção fenomenológica da intencionalidade sugere que cada
indivíduo é o foco de seu próprio mundo, ainda que possa esquecer-se de si próprio como
centro criativo daquele mundo.
16
BUTTIMER, Anne. Apreendendo o dinamismo do mundo vivido. In: CHRISTOFOLETTI,
Antonio (org.) Perspectiva da Geografia. São Paulo: DIFEL, 1985, p. 185 apud NOGUEIRA,
2005, p. 4.
30
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Azar Nafisi e Marjane Satrapi são artistas dignas de estudos não somente de
experiência fenomenológica na construção de um lugar que as formou como indivíduo,
mas também como exemplo de como discursos de experiências individuais foram e
continuam sendo usadas como justificativa, principalmente pelo Ocidente, para perpetuar
estereótipos de repressão para com mulheres em sociedades islâmicas e a necessidade de
o Ocidente ajudar tais sociedades a se libertar de padrões opressivos em detrimento de
outro modo de vida, “(…) isso assume uma posição binária entre o Ocidente e o Oriente:
o Ocidente é progresso e o melhor lugar para as mulheres, enquanto o oriente
muçulmano é retrógrado, não-civilizado e o pior lugar para mulheres”
(BAHRAMITASH, 2005, p. 222), enquanto idealmente todas as mulheres deveriam ser
suas próprias porta-vozes em sua sociedade, tendo a chance de contar suas percepções,
experiências e construção de lugares, bem como a idealização deles.
31
devem ser olhadas a partir dos diferentes recortes de classes sociais existentes na
sociedade iraniana.
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEVY, Janey. Iran and the Shia. New York: The Rosen Publishing Group, 2010.
MAHDI, Ali Akba. The Iranian Women’s Movement: A Century Long Struggle.
Delaware: Ohio Wesleyan University, 2004, p. 427-448. Disponível em:
<https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1478-1913.2004.00067.x>. Consulta
em 13.04.2019.
NAFISI, Azar. Lendo Lolita em Teerã: memórias de uma resistência literária. São
Paulo: BestBolso, 2009.
33
NOGUEIRA, Amélia Regina Batista. Uma interpretação fenomenológica da
geografia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005.
SATRAPI, Marjane. Persépolis: completo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.
34