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ARQUEOLOGIA, patriménio material e legislacdo _ Apresentacao ‘A arqueologia — ciéncia que estuda o passado humano por meio da cultura material produzida pelos diversos grupos humanos em dife- entes periodos de tempo € localizagdes no globo ~ consiste em um conjunto te6rico, metodolégico ¢ legal que nos permite entender e debater nosso passado, para que incongruéncias nas narrativas his- tOricas sejam corrigidas. Permite ainda que processos de exclusaio de determinados grupos ou géneros sejam revistos e devidamente eluct- ‘dados, a fim de que possamos compreender esses fendmenos sociais. Entender como a arqueologia se formou como ciéncia, como ela atua e quais so as legislagdes brasileiras que tratam dessa area é 0 foco deste livro. Esses pontos sio centrais para a compreens’o no apenas de como se organiza essa ciéncia do pasado, mas para se ‘entender também que se trata de uma ciéncia multidisciplinar, ali- cergada na atuagao de uma gama enorme de outros pesquisadores que trabalham com 0 arqueélogo. £ importante frisarmos que a arqueologia, assim como as demais ciéncias sociais e humanas (como a antropologia, a geografia, a his- ‘t6ria, a ciéncia politica ¢ a sociologia, entre outras), tem capacidade reflexiva sobre pontos de nossa historia ¢ de nossa cultura, O estudo da materialidade humana é um grande ferramental analitico em uma rea em que textos escritos ou outras fontes tendem a ser omissos ‘ou tendenciosos. Assim, a ciéncia do passado pode contribuir, junto 4s demais ciéncias, para a reelaboracao de fatos histdricos e cultu- rais que, em alguns casos, foram omitidos ou trabalhados de forma inadequada. Encontramos um bom exemplo dessa discusso na obra do arque6logo Lufs Cléudio Symanski, que tem defendido a visibilidade da cultura afro-brasileira na arqueologia como forma de restituigo da meméria desse grupo escravizado até o século XIX, bem como a premente necessidade de estudo de uma cultura rica em significa- dos e que nao se perdeu com o processo de trabalho forcado a que ‘© grupo foi submetido. Objetivamos, com esta obra, apresentar ao leitor o campo da arqueologia, de forma que nfo apenas compreenda como ela surgiu ‘© como se organiza, mas, sobretudo, reconhega o potencial que tem ‘para uma critica do nosso passado e de como as narrativas sobre ele foram, em muitos casos, construfdas de forma preconceituosa ou sob © ponto de vista de grupos dominantes. Esperamos ainda demonstrar ‘que essa ciéncia nao coincide com as imagens produzidas pelo cinema, ‘em que 0 arquedlogo é um aventureiro viajante em busca de riquezas Ao nos debrucarmos sobre a cultura material pelo viés arqueo- légico, conseguimos observar ¢ analisar a interlocugéo entre o que pensado, o que € realizado no plano material e 0 que é expresso em documentos, em entrevistas e em imagens sobre © local estu- dado. Isso permite ainda a andilise de significados construidos pelos ‘grupos ao longo dos processos de manutencio de suas vidas, de sua ‘organizagao espacial € mitico-religiosa ¢, sobretudo, de como esse CONCEITOS, APLICACOES F PERSPECTIVAS ‘espago € negociado entre os membros desses grupos pretéritos, a fim de expressarem no s6 uma ideia geral ou modelo de etnia, grupo ‘ou “civilizago”, mas também uma apropria¢do e uma intencionali- dade nao previstas em modelos ideais pelos que ali transitam como constituintes desses agrupamentos, Assim, a arqueologia permite ‘entender os mecanismos de agéncia, bem como as expresses de sensorialidade na construgao da paisagem fisica e cultural humana, seja h4 100 anos, seja h4 10 ou 20 anos antes de nés. Para tanto, no Capitulo 1, entramos em contato com os princi- pais conceitos de arqueologia, as origens destes em contextos como ‘0s Estados Unidos da América e a Europa e as principais vertentes arqueolégicas; ou seja, vamos analisar como o pensamento nessa cigncia se organiza em um conjunto de paradigmas e postulados bem diferencidveis entre si, Por fim, demonstramos como a arqueclogia se divide em duas grandes reas, que denominamos histérica (quando hé documnentagao ou fontes que permitem um acesso a dados para a pesquisa) e pré-histérica (quando hi auséncia dessas fontes ¢ apenas ‘temos 0 contexto da escavacdo como dado). No Capitulo 2, analisamos como a cultura material, base do ‘estudo arqueologico, € conceituada ao longo do desenvolvimento dessa ciéncia, Destacamos as trés principais vertentes que se ligam as correntes epistemol6gicas mais notdveis da ciéncia do pasado. ‘Nesse capitulo, vocé poder acompanhar como a materialidade da cultura tendeu a modificar-se a0 mesmo tempo em que novas visdes ‘sobre.a arqueologia se desenvolviam. Em especial, destacamos como a capacidade de mudanga da tealidade ou a capacidade humana em alteré-la (0 que podemos entender como capacidade agencial) so de Rodrigo Pereira ‘extrema importancia para a compreensao das relagdes sociais esta- belecidas com base na cultura material. No Capitulo 3, analisamos as denominadas escolas ou vertentes do pensamento arqueolégico, destacando as trés grandes possibilidades de construgtio do conhecimento arqueol6gico: 0 histérico-cultu- yalismo, 0 processualismo e o pés-processualismo. Nesse capitulo, ‘procuramos demonstrar como a arqueologia, assim como as demais ciéncias sociais, esteve atrelada a influéncia positivista e como esse postulado foi revisto ao longo da formagao dessa ciéncia, dando lugar a formas de compreensio dos comportamentos passados da ‘hhumanidade com base em outras vertentes do pensamento social — ‘em especial quando a arqueologia se voltou para a teoria marxista ‘ou para o estruturalismo francés, No Capitulo 4, enfocamos as legislagées brasileiras que concei- tuam e protegem o patriménio arqueolégico e, em especial, as for- mas de se pesquisar esse bem nacional, o que s6 é permitido com ‘uma autorizagio do érgao superior do patriménio, @ Instituto do Patriménio Hist6rico e Artistico Nacional (Iphan). Nesse capitulo, ‘esclarecemas como deve ser elaborada a solicitagao dessa autorizagao, que, assim como a execugio, cabe apenas ao arquedlogo, juntamente ‘com uma equipe multidisciplinar. Observamos ainda como 0 Brasil ‘tem traduzido orientagdes internacionais sobre a protecao ao patri- miénio arqueolégico em forma de leis nacionais que inserem esas ‘orientagdes no conjunto do léxico nacional, ndo apenas colocando 0 Brasil como signatario de recomendagdes da Organizasao das Nayoes ‘Unidas para a Educacdo, a Ciéneia e a Cultura (Unesco), mas propi- ciando também uma efetivagdo dos acordos internacionais de que ARQUEOLOGIA, PATRIMONIO MATERIAL E LEGISLAGAO; CONCEITOS, APLICACOES B PERSPECTIVAS (20) somos signatarios. Ao final do capitulo, procuramos esclarecer como se configuram os crimes contra a arqueologia e suas penalidades. No Capitulo 5, descrevemos como trabalham o arquedlogo e sua ‘equipe nas trés fases em que comumente dividimos a pesquisa nessa ‘rea: a de campo, a de laboratério e a de gabinete. E possivel, ainda, -compreender as principais metodologias de cada fase, com énfasenas ‘técnicas de escavacao, mas também a conceito e a aplicagao do que a legislagdo brasileira denomina educagdo patrimonial, aquele momento ‘em que a pesquisa retorna a populagao todo o conhecimento gerado com 0s projetos em arqueologia e, a0 mesmo tempo, visa subsidiar meios para que o passado, a meméria e a cultura sejam apropriados por quem é de direito. No Capitulo 6, fazemos um percurso de explanagao a respeito do desenvolvimento do homem como espécie que evolui no pla- neta Terra h4 aproximadamente 180 a 190 mil anos. Analisamos o mecanismo de evolucio das espécies tendo 0 Homo sapiens sapiens ‘como foco ¢ observamos como o desenvolvimento da cultura foi © fator decisivo para 0 sucesso do homem na conquista de todos ‘9s continentes da Terra e como ele tende a modificar o meio fisico ‘¢ ambiental em seu beneficio, tendo sempre em consideragao que ‘essas alteragGes sao culturalmente definidas pelos grupos humanos a0 longo do tempo-espago de sua existéncia. No fim da obra, as “Consideragées finais” sio uma reflexdo nao apenas sobre o que é a arqueologia, mas, especialmente sobre a capa- cidade que essa ciéncia tem de promover uma forma de nos apro- priarmos, na atualidade, da meméria e do passado—ndio de maneira ‘excludente em relagdo a determinados grupos ou considerando haver apenas uma historia oficial. A arqueologia nos traz a possibilidade de Rodrigo Pereira Ca) ‘entender o passado ¢ de reescrevé-lo sob as necessidades de igualdade, de respeito a diversidade e as concepgdes multiculturais, temas hoje tao caros 4 nossa sociedade. Enfim, a arqueologia nos traz um meio de refletir e construir saberes nfio apenas sobre 0 que fomos no passado, mas também sobre o que desejamos ser no presente e 0 que devemos repassar as geragdes futuras. ARQUEOLOGIA, PATRIMONIO MATERIAL E LEGISLAGKO! CONCEITOS, APLICACOES F PERSPECTIVAS Introdu¢ao Para muitos de nés, a arqueologia é representada por um viajante e ‘pesquisador que perpassa varios continentes em busca de riquezas ‘¢ fama. O arquelogo tem sido representado nos cinemas como um aventureiro. Contud, sera essa uma representacao verdadeira do que € ser um arquedlogo e do que faz a arqueologia? Longe dessa imagem deturpada, a ciéncia do passado (archeo, do grego, antigo, ¢ logia, da mesma lingua, conhecimento) constitui, desde o século XIX, um ramo das ciéncias sociais preocupado em compreender como eram os comportamentos humanos no passado e de que forma nés, como espécie, nos desenvolvemos sobre a Terra. Desde seus primérdios, a arqueologia preocupa-se em entender como ‘08 grupos humanos, em muitos casos ja extintos, viveram e deram significado as suas vidas - elaborando complexos religiosos, edifica- ‘Ges civis e rituais, cultivando géneros alimenticios e conceituando a divisdo de géneros. Assim, a ciéncia do pasado, hoje um ramo de pesquisa maduro e ciente de suas criticas ¢ limitag6es, permite-nos a compreensio da ‘humanidade em sua diversidade de culturas e de formas de signi- ficar a vida. Esse entendimento, via de regra, tende a dar-se pela compreensio da cultura material, ou seja, de tudo aquilo que foi cons- ‘truido ou alterado pelo homem. Destacamos este segundo ponto, pois ‘ele é de extrema valia para esta finalidade da arqueologia: ohomem altera o meio a sua volta e este tende a se tornar cultura material. Para além de cerimicas, tecidos, elementos ligados a mumificagdes ‘ea outros elementos materials, a materialidade da cultura também se expressa nas formas como os grupos humanos intervieram na selecdo de espécies vegetais que foram domesticadas, animais que passaram pelo mesmo processo, e como, em outros casos, florestas, jazidas de minérios, acidentes geograficos, lagos e mares foram signi- ficados culturalmente. Assim, mesmo mantendo-se onde estilo, sio considerados cultura material pela intervencao do homem. ‘Tencionamos, nesta obra, apresentar como é criado o campo da arqueologia e como 0s elementos inerentes a ela podem ser estuda- dos, Para tanto, devemos compreender que, como qualquer ciéncia, a arqueologia se divide em escolas ou vertentes de pensamento, e cada uma delas tem reflexo direto na forma de compreender a mate- rialidade, ao mesmo tempo em que coloca o arque6logo nao apenas como um pesquisador do passado humano, mas também como um agente que pode transformar o presente e ampliar a reflexdo para a construcdo dos saberes das geragdes futuras, Necessitamos, assim, para além de conceituagdes e definigoes, compreender como 0 trabalho do arquedlogo se dé de forma con- junta a outros profissionais ~ fator que sempre deu a arqueologia um tom interdisciplinar, Assim, precisamos ter em mente a fungao social dessa area do conhecimento: trazer a baila as discuss6es ¢ a possi lidade de refletir sobre 0 passado e o que foi feito nele. Ao abordar ‘temas que foram, infelizmente, muitas vezes trabalhados de forma preconceituosa ou monofocal, com leituras multiculturais - que se CONCEITOS, APLICACOES F PERSPECTIVAS constituem das varias vozes do passado -, caladas por preconceitos ‘ou perseguipdes, a arqueclogia permite tanto uma desconstrugio do passado quanto sua reconstrugao de forma que a variedade dos grupos, dos géneros, das idades e dos individuos se expressem pelos ‘estudos arqueolégicos. Essa tarefa nem sempre é facil ¢ deve ser realizada com todo o instrumental disponivel. Porém, nao podemos nos esquecer da his- téria, da pedagogia, da geografia, do direito e de tantas outras areas que compGem o campo das ciéncias e que tém contribufdo para que a arqueologia desvele esse passado de forma clara e permita, em muitos casos, elucidar conflitos e repensar fatos ou pessoas como eventos ‘histéricos socialmente constituidos com determinada finalidade. ‘Nesse sentido, Lima (2011, p. 21) nos alerta: Accultura material ¢ produzida para desempenhar um papel ativo, éusada tanto para afirmar identidades quanto para dissiomulé-las, para promover mudanga social, marcar diferencas sociats, reforgar a dominagii e reafir- ‘mar resistencias, negociar pasigbes, demarcar fronteiras sociais e assim por dante, Assim, cabe a nés, que transitamos pela arqueologia, permitir que ‘essas vozes do passado sejam compreendidas nao apenas no pretérito. ‘em que foram elaboradas, mas em consonancia com 6 momento da atualidade em que sio interpretadas. A ciéncia do passado, portanto, ndo constréi saberes sobre os comportamentos pretéritos, mas os reconstréi com base no presente, permitindo o entendimento do que ‘ocorteu e do que ficou marcado no registro arqueolégico. ‘A arqueologia nao é formada por aventureiros em busca de tesou- +408, muito menos pela escavagdo de dinossauros (como muitos acre- ditam); ela € uma ciéncia que nos permite o acesso, a reflexio ¢ 0 Rodrigo Pereira (23 conhecimento sobre o passado, mas pautada no presente levando ‘em conta temas tanto politicos quanto sociais na elaboracao dese saber, ARQUEOLOGIA, PATRIMONIO MATERIAL # LEGISLAGKO: ‘CONCEITOS, APLICACOES F PERSPECTIVAS. (28) ‘Neste capitulo, abordaremos a formacao da arqueologia como ciéncia autdnoma, com métodos € pressupostos tedricos, e seus principais autores. Observaremos come ela passou de mero colecionismo da cultura humana para uma ciéncia que reflete as tenses humanas pretéritas em relagio construcio de seu passado por meio da ané- lise da cultura material. Ao tratar das principais vertentes ou escolas arqueoldgicas, obje- tivamos proporcionar uma leitura do desenvolvimento dessa ciéncia no que tange as formas de percep¢ao des comportamentos humanos pretéritos e de como isso levou a uma constante inquietagio de seus teéricos para o aprimoramento do corpo conceitual dessa ci¢ncia. Adotaremos, para essa finalidade, o desenvolvimento temporal da disciplina, uma das formas mais didaticas de sua compreensao, Por meio da linha do tempo que tragamos, observaremos como. a ciéncia do passado lidou com criticas e refutagGes em seu corpo conceitual, aprimorando-se para dar conta, sobretudo, do individuo nas pesquisas. Existem outras formas de explanar os desdobramentos da arqueo- Jogia, como o desenvolvimento do conceito de cultura material, mas ‘este é inserido de forma acesséria e complementar em capitulos subse- quentes (em especial no Capitulo 2), o que nao gera prejuizo algum A percepgao da emergéncia da arqueologia no contexto das ciéncias ‘humanas na Europa e nos Estados Unidos. (1D CONCEITO DE ARQUEOLOGIA A arqueologia 6, muitas vezes, representada pela figura de um aventu- reiro em busca de riquezas de civilizagtes extintas em locais distantes Rodrigo Pereira ( 31) das cidades da Buropa ou dos Estados Unidos. Porém, longe de repre- sentar esse modelo, a arqueologia consiste na ciéncia que estuda 0 antigo ~ archeo, do grego, “antigo”, e logia, da mesma lingua, “conhe- cimento” -, em especial as atividades ou comportamentos humanos pretéritos que podem ser estudados por meio da cultura material, Em outras palavras, a arqueologia ¢ a ciéncia que estuda o homem no tempo e espago pretéritos por meio de elementos remanescentes da cultura material ~ vasos ceramicos, pontas de flechas, restos de fogueiras, edificagSes, enterramentos humanos, entre outros. Esses ‘elementos permitem inferéncias sobre como determinados grupos humanos se organizavam e concebiam sua vida em sociedade. Podemos nos perguntar: Que passado é esse? f aquele de 2,3 mil anos antes de Cristo, quando os egipcios construiram as primeiras piramides em forma de degraus (E1-Nadoury, 2010) ou aquele da con- vengio do ano zero que se refere ao nascimento de Cristo? Ou, ento, € aquele deixado por nossos avés ha 50 ou 60 anos? O arquedlogo ‘¢ professor Pedro Paulo Funari (2003), sobre essa questo do tempo, firma que a arqueologia ¢ uma ciéncia que se debruga sobre o estudo da materialidade elaborada pelas sociedades humanas como um dos aspectos de sua cultura, sem limitar-se ao caréter cronol6gico'. Assim, desde que os objetos que estamos estudando tenham sido utilizados por um grupo em qualquer tempo anterior ao nosso € permitam inferir dados sobre comportamento, géneto, politica e 1 Sobre esse debate, é interessante observar 0 que o anqueélogo norte.americano Michael Schiffer (1972) nos indica: desde que algumm materiat hurnano tenia saido de uso da sociedade (0 que ete define coma contexto sistémico} € tena sido descartado de sua titicagao (o que afirma ser o contexto arqueolGgico), toda a cultura material é, em si, ‘material arqucoldsic desde que passe por essa transformagao, Nas palavnas do proprio pesquisador: Yo padro espacial dos vestigios arqueolégicos reflete o pad espacial das atividades passadas” (Schiffer, 1972, p. 186, traducio nossa). ARQUEOLOGIA, PATRIMONIO MATERIAL E LEGISLAGKO! ‘CONCEITOS, APLICAGOES F PERSPECTIVAS, (32) estratificago social, todo esse conjunto material sera considerado arqueol6gico. Assim, a arqueologia pode e deve se debrugar sobre ‘estudos.a respeito de populagdes pré-histricas (tema que abordamos mais adiante neste livro) ou mesmo sobre as populagSes que forma- ram nossa cidade ou bairro hé $0 ou 100 anos. Para a arqueologia, interessa observar como a cultura material humana foi utilizada e como representa as formas de pensar, de agit e de conceber 0 mundo. Mas o que € cultura material? O pes- quisador James Deetz (1977) indica que esse termo corresponde a qualquer segmento do meio fisico modificado por comportamentos culturalmente determinados. Assim, nfo apenas os objetos produ- zidos por um grupo sao cultura material, mas até mesmo as plantas cultivadas por um grupo na Pré-Histéria ou os animais domesticados pelos homens ao longo da trajet6ria humana séo expresses dessa materialidade. Resumidamente, podemos entender que tudo 0 que o homem toca e tudo aquilo em que interfere torna-se cultura material, (1.2) ORIGENS DA ARQUEOLOGIA: po sécuLo XIX ao XX1 A arqueologia é uma ciéncia relativamente recente. Apesar de o ‘homem sempre ter tido 0 habito de colecionar objetos do passado como uma forma de rememorar € conhecer quem veio antes de si, 0 estudo sistematico desse passado por meio de métodos e técnicas de compreensdo da cultura material € algo que remonta ao século XVII, no contexto do que.a histéria chama de Perfodo das Revolugbes. Rodrigo Pereira (3) Essa fase historica caracteriza-se na Europa e na América do Norte por processos de quebra da estrutura politica e social vigente?, Para o arque6logo canadense Bruce Graham Trigger, em sua clas- sica obra Histéria do pensamento arqueoldgico (2004), hé uma relagtio entre a emergéncia da arqueologia e a burguesia. Como esta, em meio as revolugdes que assolavam a Europa, nao tinha signos de legitimidade - como brasdes, escudos ou titulos de nobreza -, mui- ‘tos homens ricos decidiram se legitimar pelos simbolos que existiam antes da formacao da nobreza europeia. Assim, 0 perfodo hist6rico ‘greco-romano foi considerado ideal para a busca por esses elementos, Acestética, as artes, os padres ¢ as formas desse amplo e impreciso periodo hist6rico fizeram com que muitos estudos fossem empreendi- dos no intuito nao apenas de legitimar a presenca da burguesia, mas também de oferecer elementos imagéticos para a construgio de suas identidades. Contudo, como veremos a seguir, a arqueologia demora- ria mais cem anos para efetivar-se como ciéncia, ou seja, com objeto ‘¢ métodos proprios, distanciando-se da historia ou da antropologia ‘¢ definindo-se como campo auténomo do conhecimento. Essa definigao de arqueoiogia deu-se, conforme o arquedlogo portugués Nuno Ferreira Bicho (2012), pela definigio do homem 2 Sobre esse period, ¢ interessante observar como 0 historiador Eric Hobsbawm o define em sua obra A era das RevolugBes ~ 1789-1848: como o perfodo em que a Revolugdo Francesa ¢ a Reveludo Industrial transformaram 0 cenério mural ao quebrarrn as ‘estruturas poitcas ¢econémicas vigentes até entdo. ARQUEOLOGIA, PATRIMONIO MATERIAL E LEGISLAGAO: CONCEITOS, APLICACOES F PERSPECTIVAS. (34) W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * no tempo: a constatacio: da existéncia da Pré-Histéria humana (aquela sem escrita e ligada aos primérdios dos grupos humanos, ‘como cacadores-coletores-pescadores) e 0 surgimento da escrita, da agricultura eda sedentarizagao, do perioddo histérico do Homo sapiens ‘Aa mesmo tempo, aelaboracao de técnicas de estudo arqueoligico ~ ‘como as seriaches temporals ¢ de materiais, as tipologias de pecas ¢ a construgdo de padres de cultura, por exemplo— deu o tom cien- tifico & arqueologia (1.3) PRINCIPAIS ESCOLAS ARQUEOLOGICAS: COLECIONISMO, HISTORICO-CULTURALISMO, PROCESSUALISMO E. POS-PROCESSUALISMO Aarqueologia, come outras citncias socials, pode ser compreendida [por meio de escolas, ou seja, por um conjunto de postulados cienti- ficos ¢ metodalégicos que vigararam em determinado periodo. Esse agrupamento nao: apenas facilita 0 entendimento da evolugso da disciplina da ciéncia, mas também permite-nos observar como a lencia do-antigo fol, ¢ ainda é, influenciada pela sociedade ¢ pelos sdebatese fatos que nela ocorrem. Assim, é interessante observarmos a Aivisdo proposta por arquedlogos como Trigger (2004) ¢ Bicho (2012). AA Figura 1.1 apresenta as principais divisoes da arqueologia, tendo ‘como mattiz de compreensie sua temporalidade, W Perlodo Arcaion > ¥ (J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Fgura 1.1 ~ Principals excolas ou vertentes arqueoldgicas 1980 até a mualldade Processualisma Fim do séenio Xike 1960488 4 Inicio do atualldade século XX Do Renascimen. to até a Revolu- so Francesa ‘Colecionismo Gabinetes de ‘curiosidades Mistériea-culeu- Poe Processus salismo ‘ism. ‘Quando classificamos, estamos operando uma repartigao em “um conjunto de objetos (quaisquer que sejam) em classes coordenadas ‘ou subordinadas, utilizando critérios oportunamente escolhidos” (Abbagnano, 2003, p. 147) — ou seja, tornamos légico um conjunto de saberes para seu estudo. Essas classificagfies nes permite gerar ‘sonhecimentos teéricos ¢ préticos (metodologias) para a instrumen- talizacio em determinada drea (em nosso caso, a arqueologia). Tal conhecimento consiste em uma “técnica de verlficagao [em que] sdeve-se entender qualquer procedimento que possibilite a descri 80, 0 célculo ou a previsto controlivel de um objeto” (Abbagnano, 2003, p. 174), Para o fildsofo Karl R. Popper (1902-1994), em sua obra A Kieica da pesquisa clentifica, o objetivo da ciénela — ¢, por consequéncia, do conhecimento e de sua organizacio — "é alcangar teorias sem- pre mais verossimeis, sempre mais proximas da verdade” (Popper, citado por Reale; Antiseri, 1991, p, 1027). Para o filésofo, a verdade ‘€ um ideal regulador em que os erros passados sao substituidos por novos postulados, mais adequados aos fatos estudados. Aqui niio ha ‘um ideal de progresso linear do saber, pols Popper acreditava que a cigncia poderia estagnar-se ou mesmo cair em erro. Assim, conhecer as vertentes arqueolégicas é, sobretudo, conhecer esse movimento intrinseco ao saber humano (Reale; Antiseri, 1991) J4 para Thomas S. Kuhn (1922-1996), em sua obra A estrutura das revolugbes cientificas (1962), a ciéncia se organiza em paradigmas que ‘operam em determinado perfodo de tempo com a fungao de expli- car a realidade por meio de modelos de problemas e solugdes aceita- veis pela academia. Caso esse paradigma encontre algum problema, haveré uma “revolugio" no interior do campo académico que o levara a ser refutado ou adequado a nova realidade, em que € chamado a responder sobre como conhecer a realidade (Reale; Antiseri, 1991). Para nosso conhecimento em arqueologia, € interessante entender- mos que, em certos casos, houve revolugdes cientificas que levaram determinados paradigmas a serem contestados, deixados de lado ou mesmo adaptados as novas perspectivas de pesquisa da ciéncia do pasado. Como veremos no Capitulo 3, essas escolas ou vertentes s80 as responsiveis pelas diversas leituras do material arqueolégico na atua- lidade. Mas, afinal, por que agrupé-las em perspectivas te6ricas e ‘temporais? A organizagao nao apenas torna mais facil a compreenstio da evolugio de conceitos e do surgimento de autores, mas também ‘€ essencial para a compreensao da forma como a arqueologia, como ciéncia social, é influenciada pela sociedade em sua constituigao. Rodrigo Pereira ( 37 ) ‘Conforme defende o professor e arquedlogo Pedro Paulo Funari (2011, p-84): “a arqueologia [surgiu] como uma maneira de se disponibilizar as fontes escritas sobre o pasado e de complementar as informagdes -existentes com evidéncias materiais sem escrita”, Portanto, conhecer as vertentes arqueolégicas em suas diferentes formas 6 compreender ‘como essa disponibilizagao tem se organizado ao longo do desenvol- ‘viento da ciéncia do passado. Assim, enquanto o histérico-culturalismo utilizava-se do que ‘Trigger (2004) denominava efeito Pompeia ~ quando se acreditava que o simples limpar da pega informaria todo o significado dela na sociedade em que foi produzida -, 0 processualismo tentou criar Jeis gerais em que essa mesma cultura material fosse uma resposta adaptativa do grupo ao meio. Por fim, a escola pés-processualista indicou que esse mesmo objeto era, na verdade, um texto a ser lide em uma relacdo dialética entre o constituido e 0 constituinte do ‘objeto. Assim, por exemplo, quando a arqueologia se debruga sobre ‘0 legado material da escravidao, faz isso nao apenas pelo interesse no conhecimente dos africanos ¢ seus descendentes come escravos no Brasil, mas também respondendo a uma demanda da sociedade por empoderamento e legitimago das politicas culturais e sociais de um grupo diante de processos de intolerdincia ou racismo. Entender as escolas em suas diferentes expressdes ¢ compreen- der a propria dinamica da relacao entre a academia e a sociedade e © modo como uma pode influenciar a outra. Da mesma forma, nos situa nos postulados que veremos no Capitulo 3, em especial porque alguns foram fortemente utilizados para a legitimagio da ciéncia do passado, enquanto outros, em diferentes contextos socials e tempo- rais do século XX, foram deixados de lado devido a novos anseios da academia e da propria sociedade. ARQUEOLOGIA, FATRIMONIO MATERIAL E LEGISLAGHO: CONCEITOS, APLICACOES F PERSPECTIVAS (38) (1.4) ARQUEOLOGIA PRE-HISTORICA E HISTORICA Se toda reminiscéncia material humana € arqueolégica, por que costumamos dividir a arqueologia em pré-histérica ¢ hist6rica? Indubitavelmente, a questao cronol6gica € 0 grande marco divisor dos dois campos desse saber: o primeizo refere-se a um perfodo sem ‘escrita, em que © proprio contexto arqueologico é a fonte de dados para a pesquisa; ¢ 0 segundo, jé contando com fontes escritas ¢ ima- -géticas (mapas, fotos e outros), utiliza tais acervos para auxiliar na construcdo do conhecimento acerca do passado. Contudo, ¢ vital aprofundarmos esse debate, j4 que ciéncias como a histéria, a antropologia, a sociologia e a geografia utilizam-se des- ses termos. Quais so 0s limites por que os utilizamos? Debatemos ‘esses pontos nesta seco. A arqueologia pré-hist6rica caracteriza-se, basicamente, pelo estudo de Muitas formas culturais [desaparecidas} completamente, mas as cultwras por eles criadas ainda podlens ser reconstituidas pelos estudas cientificas conduzidos dos elementos remanescentes — construgbes, equipamentos variados, utensflios, armas, diferentes modaltdades de expressao artfstica, adornos, priticas funerdrias — preservados no terreno em quase todas as partes do mundo, (Faria, 2000, p. 196) © antropélogo Castro Faria da A Pré-Histéria o tom de “desa- Pparecimento”; assim, a arqueologia pré-historica seria 0 campo de ‘estudo do pasado de grupos que nao mais existem no planeta, mas deixaram sua presenga registrada por sua cultura material. Se tomar- mos como exemplo as populagdes sambaquieitas que habitaram a Rodrigo Pereira ( 39) costa brasileira entre 8 mil e 2 mil anos antes do presente (Souza; Lima; Silva, 2011), 0 termo arqueologia pré-histérica esté corretamente aplicado. Para as dataces realizadas por meio da anilise do C14, sabemos que o “presente” se refere a década de 1950, periodo em que a técnica conseguiu criar parametros confidveis para a contabilizacao desse is6- ‘topo de carbono em materiais que o continham. Assim, a expresso antes do presente (AP) no se refere aos termos antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (4.C.). De forma semelhante, 0 arquedlogo Lewis Binford (1983a, p. 20, ‘traclugdo nossa) nos apresenta o seguinte quadro interpretativo sobre a arqueologia pré-histdrica: O desafio que a arqueotogia oferece, entito, é tornar observacbes.contem- pordneas de objetos materials estéticos «, literalmente, traduzi-los em afirmacées sobre a dindmica das formas de vida anteriores e sobre as condigbes nas quals as coisas que sobreviveram do passado sobreviveram ‘para serem vistas por n6s [..]. Assim, podemos entender que a arquealogia pré-historica se ocupa da anilise e da descrigo das aces e dos comportamentos humanos ‘conhecidos por meios no escritos, ou seja, em contextos deposicio- nais de material arqueolégico sem registros escritos, como crdnicas, ‘poemas, bibliogzafias ou artigos cientificos, £ importante salientar que o modelo e as teorias sobre a Pré-Histéria desenvolvidos na Europa nao consideravam grupos fora do contexto do povoamento do continente europeu (como a Asia, a Africa e as Américas). Dessa forma, se tentarmos aplicar os ‘conceitos a realidade brasileira, por exemplo, o que consideraremos ‘como pré-histérico? Apenas o que veio antes do elemento colonizador ARQUEOLOGIA, PATRIMONIO MATERIAL E LEGISLAGAO; CONCEITOS, APLICACOES B PERSPECTIVAS (40) W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘europeu? Para 0 caso de nosso pais, é importante ressaltar que esses modelos sofreram adaptag0es, pois sua utillzagio literal nao com- preendia a dinimica da ocupagio do territdrio. Assim, a Pré-HistGria brasileira inicia-se coma ocupagaio de te: t6rio por meio de migragbes de populagdes advindas da transposica0 do Estreito de Bering, em torno de 10-mil anos AP (Funarl; Noell, 2012). 0 paleoindio brasileiro ocupou.os territérios da América do Sul de uma forma muito répida no sentido norte-sul do continente ‘e em todo seu litoral. Como testemunho dessa ocupagao, temos um ‘ctinlo descoberto no municipio de Lagoa Santa (MG), denominado Luzia (por se tratar de uma mulher) ¢ que tem a datagiode, aproxi- madamente, 11.680 anos AP (Funari; Noelli, 2012). As pinturas rupestres ds Serra da Capivara ¢ 05 monticulos de ‘conchas utilizados como forma de demarcagSo de espago e local de sepultamento, que denominamos sambaguls, so exemplos dessas populagdes pré-histéricas no Brasil} A vertente da arqueologia hist6rica, quanto a adogio da que ela ‘caracteriza como materiais, analisa “os dominios nos quais 0 regis- tro documental ¢ falho ou extremamente tendencioso” (Gheno; Machado, 2013, p. 166). Essa fol parcialmente a posiglo que 4 Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) expressou em duas minu- tas entre as décadas de 1990 2000, Contudo, no houve publicagao ‘nem mesmo uma unanimidade quanto ao que era a arqueologia histérica ¢ o material arqueoldgico desse cunho. Para wma ecura mais aprofndadia sobre o tna, idicaracs a obra de Pore Paulo Punarie Francisco Siva Noel, Pré-Mst6rla do Mra, publicada em 2012 consid tuo eat de refertmcla para ests Irate tema a Pa. W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Se adotarmos duas perspectivasteéricas de forma conjunta, pode- vemos ter uma caracterizagao para o que seja a cultura material em contextos de arqueologia histérica: Ema relagdo as fetes tizatas na Argueclogia Histérica, Orser fr. (1992) problematiza-as com maior énfase © em maior mimero. Segundo este anqueslogo, na Arqueologla Histérlea& comm o estado de artfitos, estrus tures, documentos escrites, mapas, péntaras,desenhos, fos, histéria € testemaenbes ons, alien das transformnayics ra isageen decorventes dias ‘aces dos grupos fuumanas. (Geno; Machado, 2013, p. 166) A cultara material ¢ prodsida para desempenas wm papel ative, &usada tanto pana afiraridentidades quanto para dissimuld-las, para promover ‘mudanca social, marcas diferengas socials, reforcar a slominacioe reat ‘mar resistencias, negociar posicdes, emarcar fronteiras soclas ¢ axsime pordiante, (Lima, 2011, p. Se, portanto, adotarmos que a arqueclogia historica caracteriza-se [pelo registro da materiatidade que os grupos deixaram associados a fontes escritas ¢ arais, ao mesmo tempo em que esse registra tende a ser lide ma pauta politica em que a arqueologia esté Inserida, chega- mos conclusdo, conforme Funari (2003), de que esta se caracteriza ‘como uma citncia que se debruga sobre o estudo da materlalidade slaborada pelas sociedades humanas como um dos aspectos de sua ‘cultura ~ seja ela material, seja imaterial -, sem limitarse ao caréter cronologico. Assim, pouco importa se os materiais analisados sfo recentes (com pouco mais de $0 anos) ou mats antigos (com mais de cem anos). © material deve sair do contexto sisttmico para. contexto arqueol6gico, ou seja, sair do seio da sociedade ¢ transformar-se em W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * resquicio arquealigica; dessa forma, todo ¢ qualquer objeto que [poss promover Inferéncia sobre comportamentos pretézitos pode ser considerado material anqueol6gico (Schiffer, 1972). Sintese Ap6s aleitura deste capitulo, o.que pademos concluit? Inicialmente devemos fixar que, como qualquer ciéncia social e humana, aarqueo- logia desenvolveu-se sempre atrelada sos grandes debates sobre o hhomem como objeto clentifico e, sobretudo, ds maneiras de ver seu ppassado ¢ de compreendé-lo independentemente de postulados reli sglosos = esta ciéncia jamais ultrapassou os limites éticos de respeito, Conforme observamos, fol necessérla a elaboragdo de conceltos ‘como 0 da arqueologia historica e pré-historica para que se pudesse pensar 0 pasado humano como mais alargado do que aquele que se tinha como base nos séculos XVIIL-e XIX. Esse fato € 0 principal onto aser destacado: a arqueologia precisou ser pensada como uma clencla que constantemente refletia sobre o passado humano esobre as maneiras de analisé+lo, As “revolugées" pelas quals 0 concelto de arqueologla passou, ‘como vimos ao observar Popper e Kulin, nos dao a ideia de que era ing a0s primeiros cientistas que se debrugaram sobre © pas- sado humano descobrir as formas de acessi-lo ¢ reconstitul-lo a luz dda cléncia de sua época. Assim, a arqueologia earacteriza.se, na atualidade e em sua matu- ridade cientifica, comoa ciéncia que estuda o passado humano tendo ‘como eixos os conceitos de tempo € espayo, entendendo que ess tempo pode ser muito recuado quanto se referir ao dia de ontem. Uma cigncia que se define como responsivel pelo passade material Eee eee € G@ © uninter.bv3.digitalpages.com.br. wv Se Cultura material: a base de trabalho do arquedlogo W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * impossivel, na arqueologia, no trabalharmos com a materialidade da cultura, Esse ponto, alls, € 0 que a diferencia de outras clén- clas ~ come a antropologia, que tende a observar a cultura pelos seus aspectos simbélicos, A materialidade pretérita dos grupos humanos, sem a qual nao é possivel pensar em uma pesquisa arqueolégica’, é ‘objeto central da ciéncia do passado, Antes de entendermos 0 con- cceito de cultura material, ¢ valido fazer uma reflexio introdutdria: Iboa parte dos aspects socials — se no todos eles - estd representada ‘ou materiatizada em objetos ou na arquitetura. O campo ideacional ‘encontra neles uma forma de a sociedade exprimir-se permitir que .geragdes futuras tenham acesso.s formas de pensamento de grupos anteriores a nds. Um bom exemplo que podemos dar sio os cemitérios. Até meados. do século XIX, as pessoas eram enterradas dentro das igrejas = nos altares, nas laterals ou mesmo alocando as ossadas em nichos nas paredes. Com as leis sanitaristas do século XIX, aideia de doenga ¢ ‘contaminagdo levou a formagdo de cennitérios para receberem esses ‘corpos mortos, pois eles poderiam expor a populagto a doengas Segundo autores como Tania Andrade Lima (1994) ¢ Antonio Matta (2009), as diferenciagbes soctais dos vivos eram replicadas no mundo dos mortos. Fanemat urn resale nete pono pars Mfrenctar a arqucograia da anqusslogla A prea #maera desig fo material anqurogica, em acrid de cmbecimentos mals aprofundadss sabre o passed, A arqueclora, por va vez, cunsists no apenas tna descrip, mas ma anise e na ria de hips salve a cult vmaterkal pret ite os grupos que a offlsaraum, Exist ala “psrwdoextnkis” unpuroléicos que, sescrevendo as paras, moo faze de forma satisatia on por metos gue cheque & uma desrigo que camemple os comportamentorpassadas dos grupos, Alertames aot reesaadliremtarto¢ a culado gue se deve tet ao realizar ure pegs W Periodo Arceica YG uninterbvdigi: x "EP AVAUNIVIRTUS € CG © uninterbv3.digitalpages.com.br/ sip te Outro exemplo que podemos dar é a ideia de que, para os mor- tos, @ tempo fol encerrado ou ocorreu a finitude do tempo da vida, Esses simbolos sio-visivels, por exemplo, em ampulhetas aladas que representam essa ideia, A Figura 2.1 apresenta uma dessas ampulhe- tas presente no Cemitério Sao Joao Batista, no bairro. de Botafogo, mo Rio de Jancira, Figura 2.1 ~ Amputheta em lipide no Cemitério S60 Jodo Batista Pela aniilise da materialidade que o proprio entalhe apresenta, percebemos como a ideia de finitude era um tema que preocupava a sociedade carloca oltacentista, © estudo desse “medo”, como |é afirmou Jean Delumeau em sua obra Histéria clo: medo no Ocidente 1300-1800: uma cidaute sitiada (2009), permite-nos realizar boas int réncias sobre aspectos ideacionats do medo e, de forma muito espe- cffica interessante, do medo da morte. Contud, a cultura material, ‘como a lépide ma Figuea 2.1, comprova fisicamente sua expresso ou representacio pela sociedade. AMIEOLOGIA, PATRIMOMIO MATERIAL B LEUESLACAO: « 30) le W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Podemos pereeber, pela Figura 2.1, uma situacéo que deve ser ‘lara 4 nossa mente: nao é apenas a arqueologla que realiza estudos sde cultura material (Milles, 1987). A antropologia, a histéria e mesmo ‘outras eifneias socials e humanas tém na materialidade uma fonte de objetos de estudo, como a obra de Bill Bryson, Em casa: uma breve ‘historia da vida doméstica (2011), em que o autor aborda a casa como ‘cultura material e realiza um estuclo dos cOmodos e de seus objetos 40 longo da histéria da Europa € da América do Norte. Contudo, conforme ja discutimos, ¢ na arqueologia que ela ganha centralidade, devido & propria formagto da ciéncia do passado. Mas como definir 0 que é cultura material? Para Meneses (1983, p. 112), um dos autores cléssicos do tema no Brasil: Por euttura material poderiamas entender aquelesegrnento do meio isco que ¢soctalmente apropeiade pete horsem. Por apropriagao saci comm pressupor que o home intervém, made, dé forma a elementos do meio Fsico, segundo propésitos e normas culturais. Essa aco, portant, no 4 aleatéria, casual, Individual, mas se allnha conforme padres, entre (0 quats se incluem os objetivos e projetos. Assim, o concelto pode tito ranger arteptes,estratinas, modificaoes da peisagem, come coikas anima (um sebe, um animal dornéstico), e, tamibém, 0 priprio corp, ‘ra maida em que ele passivel desse tipo de manipulucde (deformasées, metitagbes, salutes) ou, ainda, a seus arranjosespactats (um desfile ‘illita, uma cerimdnia ltigica) Essa aproprlagao que o homem faz do melo é um conceito recor: rente, pois esta presente também em Deets. (1977), que atribui esse tom ao seu concelto de cultura material. Segundo esce autor, longe de ser um conjunto de objetos sem relacto com a humanidade, a cultura material guarda em si a eapacidade de “biografrar” a vida W Perlodo Arcaion > ¥ (J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * de determinado objeto, permitindo assim seu estudo pela ciéncia Essa perspectiva, por exemplo, advém dos estudos antropologicas de Arjun Appadurai (2008) e demonstra o que acabamos de afirmar. Nesse sentido, qual ¢ a relagio entre a arqueologia © 0 estudo da cultura material? A anise [Ja cultura matertal pelo vide anquealigleo[..] permite urna Ieitwra da tnterlocucaa entre o que é pensade, 0 que é realizado no plano material €0 que € expresso em documentos, entrevistas ¢ imagens sobre aquete local fou sociedad ou conjunto material). Permite ainda @ anise de significados destes lugares |_.J construidos pelas grupos ao lego das processas de manutenso [Je sobretude, de como esta matertalidade megociada entre os membros [u[, no intito de que expressem mais ia geal ow modetoj..], mas tamisém uma apropriagao e Jntenconalidade nao prevsta em models ideals peles que a transtaam enguanta memoros. Permite entender as mecanismos de agencia, bem camo as expresses de sensorial dade na constraao cla paisageme fica e ‘udeural, (Peretea, 2015b, p31) Agora passamos as segties em que vamos analisar como a cultura material pode ser estudada e entendida sob diferentes leituras dentro das vertentes arqueolégicas que jé observamos no Capitulo 1 ¢ nas ‘quais nos aprofundaremos no Capttulo 3. W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * py CULTURA MATERIAL COMO REFLEXO (HISTORICO-CULTURALISMO) Muito influenciada pela tencéncia histérico-culturalista, essa ver tente de leitura tem como pressuposto a cultura material como reflexo passive da sociedade ou do grupo estudado, Entender uma pega [por meio de um conjunto de outras da mesma espécie (conceito de serlacao de tipologia, come veremos no Capitulo 3), & entender a cultura como um todo. Assim, se a cultura material sofre wariagoes, ‘estas indicam que hd a presenca de diferentes culturas, Nessa leitura, ‘0 migracionismo ¢ o difusionismo associados as anilises permite ‘compreender as diferentes formas como as sociedades elaboram sua ‘cultura material. © primeiro terme refere-se ao movimento de powos sobre a terra ¢, com isso, ao trdnsito de cultura material nfo apenas do ‘grupo, mas entre grupos — ou sefa, um grupo poderia aprender com ‘outroa elaborar ou utilizar um aspectoda cultura material. Quando lusamos este segundo ponto, referimo-nos ao que seja @ difusionismne. Para 0 arqueélogo inglés Gordon Childe (1962), era possivel determinar uma ordenago A cultura material dentro das socieda- des passadas, o que permitia a determinagao.do que ele denominou culturas anqueolégicas. Cada wma delas apresentava tragos definidores caracteristicas que as diferenclavam entre si. € desse modelo que ‘conhecemos, por exemplo, a definigde hoje muito criticada de uma ‘altura tup-guaron, na qual se insere toda uma varledade de povos pré-colombianos ¢ jf em contato com europeus quanto determina- sdos padides de sepultamento (em uenas, por exemplo). Essa defini- ‘slo estabelecia a nao existéncia de diferencas entre as varias etnias Ibrasileiras quanto ao trate-e & elaboracdo da cultura material, W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Se os artefatos so mero refiexo da cultura, basta limpé-los ¢, reti- rando “a poeira do tempo" (Lima, 2011, p. 13), realizar a interpretag30 da cultura material. No campo arquealégico, costuma-sedenominar fesse processo de eftito Pompeia, numa referencia as escavagbes feitas ‘durante 0 século XIX, na cidade romana destruida pelo Vestivio (em 79 A.C), Nesse viés, havia maior interesse pelas pecas do que pelo ‘conhecimento acerca do grupo que all? residia. Conitudo, essa forma de interpretacio do material arqueolégicn tormou-se a base para 0 trabalho que todo pesquisacior da drea re liza até hole de tal forma que suas rotinas estabelecias enn laboratér acabarum por constitur o micico da pritica arqueolérica: desde a identificarto da ‘matéria-prima, sua origem ¢ propriedades: do mado coma so prouries cs artefares; da ua frngdes¢ dos usas a que eles forum submetidos, dand- lise des seus atibutos Fisica, design ¢ estilo, sua ondenaio em tiplegias, datacoes ¢, evertuatmente, dependend das motivarbex ¢ inctinagbex do pesqulsador,seriagdes. Os resultados desses procedimentos téenicos ¢ ‘meteioigicos so, em seat, direcionadox pasa a constoucio de categorias espae-temporals, conmofases «tii, € para & tribute dos bchas 4 grupos especificos. Em alguns casos, so inseridos em argumentos ¢ problemas mals amplos,visande alimmentay, com os novos stadus obtides, «a “ecomstrugies” do passada. (Lima, 2011, p. 14) Sobwe ese interesse a reset do pasado sem grandes desfobamentos interpretatios ( hnteressante obscrvar camo essa podticaera reazad, por exemple por Dom Pedra I sua eposa, a Tpersrie Teresa Cristina, Ela ture camsigo coms te pana seu case ‘mero ue série de pes reo-romanass que carapdernhojeo aerve do Museu Nacional da Cinta da Boa Vista ro Riad Jeeio. A obva da enrol ¢historiadore Lie W Schwarce, As barbas do Imperador: D, Pedro Ml, tim monares nos teSipios (1999), ‘mar wma cela ands vobne ese ft hist. W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Isso nos revela que, apesar de ultrapassada do ponto de vista tedrico, a visdo-da cultura material como um reflexo da sociedade pretérita associada ao histérico-culturalismo permitiu a elaboracio de metodologias de compreensio do material arqueoligico quanto forma, A fungio e aos tipos, o que até hoje ¢ essencial para os estu- das arqueolégicos, (2.2) CULTURA MATERIAL COMO RESPOSTA ADAPTATIVA (PROCESSUALISMQ) ‘Observar a cultura material com base em uma visio neoevolucionista, ‘em. que aquela ¢ vista como um meio de tornar os grupos humanos mais aptos 4 sobrevivéncla a0 meio, fol a contribuso do processua~ lismo aos estudos arqueolégicos da materialidade, Como veremos no préximo capitulo, essa matriz arquealégica norte-americana objeti- ‘vou atribuir maior clentificismno a arqueologia e, com ele, obviamente, ‘uma nova visto sobre a cultura material Sendo uma resposta ao meio, a cultura material expressa uma das formas de adaptagdo e de evolugo dos grupos humanos sobre 4 Terra. Nessa letura, ela € extrassomitica aos individuos, ou sefa, €um Indicio da adaptagso-da espécte humana as condigdes ambientais em que est inserida, Essa cultura encontra-se “fora” do individuo ¢ ¢ percebida na sociedade como ente superior as pessoas, Obviamente, sob essa perspectiva, os sujeitos “saem” da leitura, pois © que importa ¢ mais © grupo do que quem o forma. Assim, ¢ necessirio conhecer 0s elementos que compdema sistemstica social, pois qualquer alteracdo em um aspecto desta (seja aeconomia, seja a politica, por exemplo) vai se refletirem mucianga na cultura material W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Como resposta adaptativa, a cultura material concentra-se na anilise dos aspectos tecnologicos e econdmicos e descarta a poss lidade da leitura de fragdes do campo kdeacianal da peca. Poderiamos ‘entender que so os aspectos teenolégicos que fazem a cultura mate- tial modificarse e ter usos sociais. Assim, poderfamos fazer uma analogia para a compreensio: se tivermos um computador em for- mato de notebook com uma meméria de $0 MB € um computador de mesa com meméria de SOD TB que oeupe boa parte de seu eseri- que € mais interessante: © design do notebook ow o enorme PC? Pela leltura processual, 0s aspectos da “beleza", por exemplo, seriam desconsiderados, pois sio ideacionais em demasiado para a ‘compreensilo. Contudo, o aspecto tecnoligico do PC de mesa seria ‘sconsiderado evolutivamente mals apto-as nossas necessidades como pesquisadores. Assim, fica claro que, no processualismo aplicado & ‘cultura material, o que a faz evoluir€ ser utilizada pelos grupos nao a beleza, mas a funcionalibilidade da pega. Por essa leltura, no cabem mais ao migracionismo ¢ ao difu- sionismo os vetotes de mudanga nos padres da cultura material, mas sim ao meio ambiente ¢ & sua influéneia sobre o grupo. Se a cultura muda, Isso ¢ resultado de uma adaptago ou de uma evolu. ‘sfo do grupo em relagio ao ecossistema. Por esse motivo é que seus aspectos ideacionais foram deixados de lado, pols seria imposs(vel pprecisar como o meio teria influenciado as formas de pensar os obje- tos, cabendo apenas entendé-los (sem analisé-los) nesse contextode imter-relagso, Assim, € sua fungo € a perpetuacio de sua utilidade que fazem ‘com que determinado elemento da cultura material eja reproduzido e tena uma longa existéncia temporal dentro do grupo. Essa existén- la nos leva a conseguir estabelecer “padroes de cultura’, conforme W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * pastula Binford (1983a). Posto dessa maneica, o registro arquelégico seria, entao, as padronizagbes da cultura por sua funcionalidade Para Lima (2011, p. 15-16): [No 86 a decisdo de fgnorar aspactos Hdeacionals e simbéices maitilos a cultura, esithacada em subsistema, com ¢foco ma econcmia,subsistincia etecnolegha obscurecendlo 0s demas, como a tentatlva de explanar a comm plexidade do comportamento kuamano por racio de modelos matematices no foram suficientemente convincentes* autora chama a atencio para a visio estdtica que cultura mate. tal teve nessa perspectiva e para o fato de que “essa perspectiva reduziuo individuo a um autémato, controlado pelo sistema” (Lima, 2011, p. 16), Surgla, dessa forma, a necessidade de se reinserir 0 individuo ¢ suas ages nos estudos da cultura material. Tornava-se premente trazer a agéncia humana para a relago com a materialidade e, obvia- mente, adequar @ foce analitico, deslocando-o da sociedade para os sujettos. Ao mesmo tempo, era necessirio trazer de volta o campo ideacional, jf que este exprime no apenas a forma coma pensavam ‘0s grupos pretéritos, mas também a maneira como suas ideias e seus simbolismos eram representados por sua cultura (2.3) CULTURA MATERIAL COMO TEXTO (POS-PROCESSUALISMO) ‘Com 0 abjetivo de nae negar a fungio adaptativa da cultura material .¢ suas relacdes com os sistemas sociais, os denominados pés-proces- sualistas, na década de 1980, deram uma guinada nos estudos acerca W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘da materialidade. Conforme informa o arquedlogo Christopher Tilley (2008), a introduse dos pressupostos marxistas, da semiGtica e do estruturalismo de Claude Lévi-Strauss (mesmo este {4 estando deta: saclo em rela¢ioao panorama cientifico das ciéncias sociais) permitin a essa escola arqueolégica alterar a compreensio da materialidade humana passada. Esse navo aporte possibilitou & arqueologia obser- var os individuos como agentes € constatar que, se estes atuam na Sociedade, obviamente a cultura material legitima posicbes sociais, reforga conceitos de género e explicita situagOes politieas. Um bom exemplo para analisarmas esses postulados pode ser encontrado: no estucla dos arquedlagos brasileiros Luis Carlos Pereira Symanski e Marcos André Torres de Souza (2007): ao veri. ficarem © registro arqueolégico de escravos na regiso-da Chapada dos Gulmardes (MT), os pesquisadores observaram como esse grupo elaborava ages refletidas na cultura material que perpetuavam no apenas suas crengas, mas também a necessidade de conhecer e dar visibilidade & cultura material escrava. Nas palavras dos autores, ‘a questo da visibilidade dos grupos escravos no registro anquealé- gico vincula-se, {undamentalmente, & nossa habilidade em diagnos- ticar as evidenelas a eles ligados” (Symanski; Souza, 2007, p. 215) No exemplo, podemos observar outro postulado dessa visio da ‘cultura material: ela nio tem significado inerente, mas sim na inter pretacio ¢ na elaboracio da pesquisa do arquediogo, tendo em vista a agenda politica ¢ social da atualidade, Assim, a “visibilidade do registro arqueolOgico negro” (Symanskt; Souza, 2007) ecoa ndo como um estudo descontextualizado da situagio brasileira, mas inscre-se nna valorizagdo da cultura e religi3o afro-brasileira apregoada pela Lei, 10.639, de 9 de janeiro de 2003 (Brasil, 2003). W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * A cultura material passa a ser interpretada como um texto a ser ldo no presente e pelo presente, Ela tem valor e mem@riadeempode- ramento ¢ de debate de politicas culturais na relagio que o patrim- niio arqueol6gico estabelece com os grupos atuals, senda ndo.apenas seu passado e identidade, mas também uma das formas de exercer a cidadania de determinade grupo”, ‘Se a materialidade ¢ um texto, obviamente haverd diversas inter. Dpretagses, o que abre o campo arqucol6gico para uma diversidade de pesquisas e estudos sobre um mesmo tema, mas com leituras ¢ vertentes interpretativas diferentes. Assim, como defende o filé- sofo Pepper (2001), a ciéneia do passado comega a desdlobrar-se ¢ reavaliar-se constantemente quanto a essa fungo social adquirida. Para Lima (2011, p. 19), estabelece-se uma relagto entre “objeto sujelto, constituido e constituinte [em que estes] esto associados indelevelmente em uma relagio dialética, sto parte um do outro, ‘do a mesma coisa, embora diferentes”. © que temos com essa rela- ‘slo € a constatagdo de que a cultura material nfo tem sentido por si ‘mesma (como defendia 0 hist6rico-culturalismo), mas encontra sua “ancia de interpretacio na relago que o arquedlago estabelece ‘com 0 passado que ¢ interpretado conforme as pautas politicas da atualidade. Assim, nfio existe uma “reconstrugio” do passado (como ‘quem o traz de volta), mas.a interpretago ¢ a elaboragio de uma lel- tura deste. Assim, o pasado é lido e interpretado, e nao reconstruido. Essa acdo basela-se na pauta politica da atualidade, que influencia © pesquisador a debrugar-se sobre determinado tema, Dessa forma, a materialidade analisada pela ciéncia do passado passa. ter significado ‘Un exemplo dessa acto afirmative da cultura material pad ser encontrado me artis "A privatizazao So patrbminie: on Siversosinerssessobve wom sia arguesligco em iterVRY* (Peri, 2018). W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * interpretativo, porque teve determinado use pretézito, mas sua rele- vancla reside na constatagio de que ela ¢ importante vetor de iden- tidade ou mesmo de visibilidade de determinados grupos socials. Um exemplo ¢ capaz de ilustrar essa ica: por mul- tos anos aftrmou-se a invisibilidade do registro arqueolégico negro (Symanski; Souza, 2007) e que este, por nia estar presente nas escava- ‘goes, nao era passivel de estudo. Contudo, no momento em que, por exemplo, o movimento negro de busca par direitos ganhou forga, as anque6logos foram compelidosa analisar essa auséncia negra. Assim, pesquisas como as reallzadas na regio portuéria do Rio de Janeiro (Lima, 2013; Lima; Souza; Sene, 2014), no cais do Valongo, ou em Salvador, em um terreizo de candomblé do século XIN (Gordenstein, 2015), demonstram que o registro arqueokigice dessa populacdo esti presente ¢ pode ser utilizado como meio de defesa da importincla Ihistérica e cultural dos affo-brasileiros para a cultura multissignis- cativa nacional. Quando esse grupo se apropria dos resultados das escavagbes, 0 sentimento de pertencimento a esse passado ¢ desenvolvido, incen- tivando a busca por efetivos meios de preservagio de sua meméria , 40 mesmo tempo, de reflexdo sobre a constituigdo de suas identi ddades. Os objetos escavados passam a relacionar-se dialeticamente com determinado grupo, mas também 4 in luenciar © arquedlogo, via pauta politica, a aprofundar-se em suas pesquisas para que essa visibilidade seja acrescida, Para 0 arquedlogo lan Hodder (1995), uma vez considerada essa relagio dialética, forma-se uma rede de assaciacBes. contrastes entre ‘© arquediogo e a materialidade pretérita, o que o levaa refletir sobre ‘como, por que € em que sentidos aqueles individuos utilizaram a ‘cultura material para expressar suas formas de pensar, suas idelas ¢ W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig GAVAUNIVIRTUS x Ls G@ © uninter.bv3.digitalpages.com.br. bg ie seus conceitos sobre o mundo e, sobretudo, coma isso pode ser lide 1na atualidade pelos viéses politico e social em que muitas pesquisas esto inseridas. Por fim, ¢ interessante observarmos o que Lima (2011, p.20) de: taca como produgio e percepgio da materialidade, que se d4 pelos sentidas e pelo corpo que a utiliza: {0} wniverso material [..] tornanse uma experiéncia da consciéncta, ercepytes © sensases configuram 0 modo como as pessoas sentem @ ‘rmundo, por meio da vivéncia pritica, cotidiana, individual. £ por meio do corpo ~ lugar da experiéncia ~ e das suas percepebes sensovials que vemos ¢ esfumos no mundo, Nossa selagdo com a materialidade passa, inecessariamente, por essas percepcaes ¢ scnsacics, de tal meade que nile ‘apenas a forma to valartanda peta anguenlogia mas também outros atributos senseriais = como car, textura, sorn, gusto, cheiro = precisam ser exarminaades, sempre que as citcunsticias permite. [Na perspectiva da sensortalidade ¢ da presenga do corpo humane ‘como cultura material, um exemplo nos esclarece esse ponto: pense que vor? estéiem uma sala ¢, de repente, entra no recinto um casal de indigenas nus. Como podemos verificar que hé cultura material neesse casal? Lembremos que eles esto sem roupa alguma e sem pin: turas no corpo, Num primeiro momento, pode-se pensar que “nao hhé:nada de cultura material neles®, mas, se observarmos seus cabelos, que sido cortados conforme 03 costumes da tribo de que eles fazem parte, veremos um exemplo de cultura material. Os cortes de cabelo, as pinturas, as formas com que determinadas partes de corpo so utilizadas 30 exemplificagdes da materialidade da cultura, no seu plano ideacional, expressas de forma concreta no ser humano. W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Sintese Pelo exposto até aqui, podemes perceber como a cultura material presenta uma miriade de formas de compreensio: desde um ponto de vista em que o objeto poderia falar sobre si e sobre a cultura ide que faz parte (como postularam os hist6rico-culturalistas) até a constatacdo de que © material arqueolégico € um texto a ser lido ¢, ‘como tal, € interpretado por seu autor (no caso, 0 arquedlogo) no ‘contexto em qué est Inserido, ou seja, a realidade atual da qual © pesquisador faz parte. Devemos coneluir que, apesar de alguns postulados jé terem sido superados endo serem mais utilizados, 0 corpo tedrico da cultura ‘material é como uma calxa de ferramentas: para cada ago que dese- jamos realizar, abrimos nossa caixa ¢ procuramos uma chave de fenda ‘que nos seja mais dtil:no momento de trabalharmos com uma cadeira, [por exemplo; e mesmo que nao utllizemos todas as ferramentas da caixa, elas permanecem li a nossa disposiglo, Assim também acor tece com 0 corpo teérico da cultura material: se entendemos que 4 cadeira corresponde as nossas pesquisas, a chave de fenda equivale 0 referenclal te6rico sobre os resquicios arqueologicos ¢ a calxa de ferramentas, & todo o referencial teérico. Ao contrério de ser wm problema para a arqueologia, essa posigao nos permite trabalhar na adequaca0 de nossa realidade de estuclo a0 ‘campo teérico da citncia do passado, Assim, em algum momento, mesmo que nao utilizemos um pequens pino de nossa calxa (enter ido como um referencia teérico ultrapassado ou muito criticado),e ‘estard A nossa disposislo © poderemos avallar se, naquele caso, ele & W Perioda Arcaicn ¥ J uninterbv3.digit) x" AVAUNIVIRTUS € CG © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘ou ndo necessério. Destacamos, assim, que ¢ imprescindivel a quem trabalha com a arqueologia conhecer todo o ferramental teérico sobre a cultura material. Para fixar melhor as idelas aqui expostas, observe 0 Quadro 2.1, ‘no qual as principais ideias deste capitulo estao agrupadas de forma sintética, ‘Quadro 2.1 - Quadro sintético das principaisleituras da cultura material por melo de suas verlentes * Heito Pompeia; © ordenagio da cultura material por tipos: séries« tipologias © ipologisd levam s cronclogias; conceit de culturas arqueolégicas; ‘varlagbes de culturas arqueoldgicas eam ao entencdimento de ‘ierenclagao entre 3s culkuras; ‘mucanga: resultado do difuston smae do migrsciontemo; ‘cultura material: reflexo passive da cultura estudeda, ‘Cultura material: resposia adaptativa do grupo ao meto (bases ino evoluciontsmo biel gico e social) oco em aspectos econdmicos, de subsisténcta e tecnolighos; conjunto interdependente em interagdo: hé uma visto sistemica dda sociedacie (se muda um ¢lemento, mudam todos) ddesearte do difusiontsme do migractonism foco nos aspectos teenolligicas € ceondbmicos edescarte da visto sobre elementos ideacionals da cultura material 8 variabilidade de artefatos € devida a diferentes funcdes dos stjetons observam se “padroes a" na cultura materta W Perioda Arcaicn ¥ J uninterbv3.digit) x" AVAUNIVIRTUS € c © uninter.bv3.digitalpages.com.br. ndivsduos como sujettos ativos na cultura e na concepgao da ‘cultura material pela teoria da agtncia; ‘varlabilidade da cultura materlal: mecanismos estruturadoves dda saciedace que opera no nivel cogaitivo ¢ ideacional a ‘materialidade pode variar dentro de umn mesmo grupo quanto ‘20s seus significados; objeto e sujeltos esto assoclados: relay dialétiea (constituido e constituimte); 2 cultura material no tem significado inerente, mas Interpretado e elaborado pelo arquedlogo, conforme a agenda pplftca ¢ cuitural do momento: 2 cultura material no & produaida por wm sistema, mas [por individiuos, o que legitima posighes sociais, de género ¢ situacdes potitieas um texte Ager ids eInterpretado: no presente « pelo. presente; © a producto. pereeps8o da cultura material ve dé pelos ventios pelo corpo que a utiliza. Atividades de autoavaliacgao re Além da arqueologia, qual das ciéncias descritas a seguir também busea estudar aspectos da cultura material? b) ad Fisica. Quimica Histérla, Astrologia Qual dos itens a seguir apresenta elementos que podem ser considerados parte da cultura material? b) ° a Animais em uma selva distante, Peixes nos oceanos profundos Prédios « edificagdes. Asteroides e con € @ © uninter.bv3.digitalpages.com.br. vy oF O desenvolvimento da arqueologia em escolas de pensamento W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * E muitocomum, nas ciénciasem geral, a organizagio do pensamento ‘em escolas ou vertentes, Essa divisto ndo ocomre apenas como meio diditico de compreenstio, mas mostra como as reflexdes sobre um ‘campo cientifico se desenvotveram ao longo do tempo, inserindo conceitos ow excluindo pastulados. Na arqueologia ndo ¢ diferente; organizamos © pensamento arqueologico, como defende Trigger (2004), em escotas ou vertentes que se debrucaram sobre a eiéncia do pasado, elaborando meios.de se pensar em como realizar as pesquisas ¢ que corpo teérico-meto- dolégico adotar. Veremos, a seguir, como as trés prineipais eseolas da arqueologia se desenvolveram para a formaglo ¢ a consolidagtio dessa ciéncia, tendo como ago central 4 refutacao ou.8 concordincia com pontos que foram trabalhados por escolas que as antecederam na reflexio sobre come pensar 0 comportamento pretérito humano, E importante ressaltar, de antemio, que, até a atualidade, todas as vertenites que vainos export ainda sto utilizadas devem ser consi- deradas segundo o exemplo da catxa de ferramentas que {4 eitamos: para cada caso de estudo, uma ou mais vertentes podem ser utiliza das na andlise do passado humano. Da mesma forma, importante nilo desenvolvermos a ideia de que determinadas escolas so mats ‘ou menos clentificas ou evoluidas em relaglo As outras, pols todas apresentam métodos e postulados utilizados até hoje na arqueologia {este ponto serd bem esclarecido no Capitulo 5, em que veremas um restudo de caso). W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * BD COLECIONISMO (GABINETES DE CURIOSIDADES) E HISTORICO-CULTURALISMO Em seus primordios, a arqueologia podia ser identificada em habi- tos de colecionismo, muito comuns entre reis ¢ pesquisadores euro: peus, Os denominados gabinetes de curiosidades eram grandes salBes onde se guardavam e colecionavam pegas, animats empalhados, rochas, instrumentos de grupos humanos considerados.exéticos ¢ ‘outros elementos. Contudo, nao havia um estudo ¢ uma sistemati- zagio do passado ou do conhecimento que ele paderia proporcionat. ‘Colecionava-se por gosto, nao pelo desejo de conhecimento. As cléncias humanas e naturals, em fins do século XVIII, come- ‘gavam a se separar dos dogmas religiosos. Assim, pressupostos como ‘odo Arcebispo James Ussher (1581-1656), que defendia que a criag0 do mundo teria se dado no dia 23 de outubro do ano 4004 antes de (Cristo (a.C.), comegaram a ser fortemente criticados, pois os achados arqueol6gicos dos primelros neandertals a habitar a Europa no Vale de Dussel, em 1857, ¢ a formacio da geologia como ciéncia contes tavam a data to recente da presen¢a humana e mesmo da formagao geologica do mundo. O colecionismo—que jd havia dado seus primeiros pasos na dade Média, por meio das observagbes de fssels em formagbes rachosas da Itilia realizadas por artistas do Renascimento ~ ganhava forca no Intuito de permitls expandir nis apenas a nogia do tempo do homem 1na Terra, mas também dos estigios evolutivos da humanidade’. Obras Sobwe a debete acerca da vishiidedse do entendimenta dos fses antes depois ds rlagia, comsule «obra de Duo Ressi Os sinals dos tempos: histria da Terma € 1s de Hooke a Vico (1992), W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘como a do naturalista inglés Charles Darwin (1809-1882) —A origem das espécies, de 1859 ~ embasavam as clénclas na crenga da antigul- dade humana por meio da evolucde do género Home por milénios. ‘Outras pesquisas, come a le Jean Louis Agassiz (1807-1873) - Etudes sur les Glaciers, de 1840 -, que defendia a existéncia de periodos gla- lais antes da atualidade na Europa, na Asia ena América do Norte, também foram de extrema valia para a percepgio de que o homem seria mais vetho do que a tradigéo religiosa defendia. Poucoa pouco, mesmo com métodos escassos ¢ sem um corpo te6- rico conciso, a arqueologla comecava a desenvolver-se como campo do conhecimento do passado humano, ineluindoas até mesmo a sua Pré-Histéria, em que, no havendo documentos ou fontes de dados, a répria cultura material era considerada meio de estudo desse tempo. Esse colectonismo dewse de duas manelras: pela formagio de ‘colegdes que originaram os museus de histéria natural e pela cons tuigio de associagées cientificas para oestudo desse passado, Se nos mmuseus, como até hoje, via-se o exética ou o extraondindrio ligados A memoria, as associagdes forneciam justificativas, estudos, materials datas sobre o passado humano, Nesse contexte de formaglo de locals de estudo © pesquisa ¢ ‘que a arqueologia teve seu primeiro grande embate: como entender ‘@ homem do. pasado em relagio aos animals extintos ¢ ds vegeta- ‘ges no mais existentes, mas visiveis nos registros arqueoldgicos? Se Darvin enunciow a antiguidade da evolusda do homem a partir ‘de uma espécie em comum com os macacos, como entender quando ‘© homem se tornara homem? A saida encontrada fol oentendimento n3o apenas da geologia ¢ da paleontologia da Terra, mas também a consideragdo dos utensilios produzidos pelos grupos como forma de datagao de sua presenga pelo W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * mundo. £-vélido ressaltar que, desde o século XIY, com as pesquisas de Georgius Agricota (1494-1555), ja haviaa constatagao da presenga de utensilios tallhados pelo homem; porém, apenas no século XVI, ‘com as pesquisas de Jahn Frere (1740-1807) em 1797 pela Society of Antiquaries of London, ¢ que a associa¢o entre o material litica (pro- duzido a partir de rochas) ca presenga humana fol aceita, Entendlia-se, assim, haver uma primeira forma de datar © homem na Terra: antes de Cristo (a.C.) € depois de Crista (4G), Como afirma Nuno Ferreira Bicho (2012, p. 34): A primeiea metade de século XIX parece refletc deinitinamente a iaver: io das perspectivus clentificas sobve @ autenticidade dos wtensitios em pera lascada. Talvez porque foi nesse period que se comepam a fazer as rimeiras escavactes em grutas paleoiticas e, por conseguint, é tambe ‘esta altura gue os primeiros flssels humans comegaram a ser encontras dos. Contude, até meados do séealo XIX continuou aexistr ainda grande resisténcta, mesmo pesante prowas empiricus claras, da associagdo entre utemsitos em padra lascada, féssele humarios ¢founa de animals extntos Com essas descobertas, abria-se a passibilidade da forme ‘um sistema de dataco da presen¢a humana na Terra por meio de seus utensilios. Varios pesquisadores adotaram a terminologla Pré-Histéria Para designar esse tempo, que irla muito além do que se conhecla até 08 egipcios, gregos ou assirios. Além de concebé-lo tio recuado, ppesquisadores da (poca optaram por sistematizé-1o-em periods, con- forme a tecnologia empregada na elaboracio dos objetos. £ 0 caso da classifieagde proposta pelo dinamarqués Christian J. Thomsen W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * (1788-1865), estudioso de mocdas antigas (numismética) que elabo- rou o Sistema das Trés Idades: a Idade da Pedra, a Idade do Bronze ¢ a Idade do Ferro. Sua classificacio baseava-se na constatagio de que o homem teria iniciado-a tecnologia de wtensilio com pedras (primeiro lascadas e depois potidas) e passoua utilizar-se dos metais e suastligas (como o bronze) & medida que estes foram sendo conhecidos pelos ‘grupos humanos. Em 1840, 0 também dinamarqués Jens Jacob Worsaae (1821-1885) sucessor das pesquisas de Thomsen, agrupou as Ictades do Bronze ¢ do Ferro-.em uma nova classificacto, que denominou Idade dos Metats, nna qual também consta a dade do Cobre; além disso, subdividiu a dade da Pedra em duas fases, como podemos observar no Quadro 3.1. Estabelecia-se, assim, uma das primeiras formas de datacto da cultura material humana para a arqueologia e para a histéria, ‘Quadto 3.1 - Divisio dos periados de acordo com Worsaie dade da | rateolitico (paira antiga) | 2,8 mithOes de anos. a.Ca 10000 ac Pedra | Neolitico (pair nova) | 10000a.C.~ 2000 a.C Wade | Kade do Cabre | 2000 3.6. 1700a.¢. oe Kade do | Bronze | 17002.C. ~ 13004. Metals | Bronze | Antigo | Bronze | 13008.C. - 7004. Kade do Ferra. 7 a.C, ~ 1200.6. ‘Se pensarmos de forma a estabelecer uma linha sobre essa perio. izagdo, teremos o esquema expresso na Figura 3.1 W Perlodo Arcaion > ¥ (J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Figura 3.1 Linha de periodtacion 2.5 milhex de anos Pulsotitico 10.600 a.c, Neolitico 2.000 a€. 170036, Bronze antigo 1.300 a. Bronze final 706 ai dade do-Ferv0 120 ac. De posse diesse quadro cronolégico, os estudiosos iniciaram um trabalho de seriacdo nas pecas que encontravam: criava-se uma série ‘ou uma linha evolutiva dentro da cultura material, Inserindo-a nas {fases estabelecidas por Thomsen e Worsaze, que enquadravam os gru- [Pos nos estagios propastas pelos autores, © tom dessas classificagbes ‘era de cunho evolucionista, muito inftuenciado tanto pelos estudos de Darwin quanto pelo proprio: evolucionismo social, Temos, ent8o, a primeira ferramenta arqueoldgica: o estabelecimento de datagoes ‘élativas (ndo precisas) para o periodo pré-histérieo, Destacamos, porém, que, apesar da extrema contribui¢ao dessa forma de datacao, la encontra-se em desuso na atualidade, pals os principios estabele ‘cidas levavam em conta apenas os grupos eurasiéticos, além de um forte apego as premissas do evolucionismo cultural W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec CG © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Apesar do grande avanco que a arqueologia teve com a estabele- cimento de cronologlas relativas, as escavapoes ea compreensio do material arqueolégico desse periodo foram secundarizadas. Quando se escavava em contextos pré-hist6ricos, pouco ou nada era impor tante além da cultura material que pudesse ser diagndstico para a datacdo relativa, Assim, muitos contextos rituals ou funerérios, por ‘exemplo, foram descartados em favor da recuperagio apenas de a Ibutos que permitissem a datagéo. No inicio do século XX, a arqueologia, j@ consolidaca como um sestudo da Pré-Hist6rla do homem, deu uma guinada em diregdo a ‘uma ciéncia com maior metodologia ¢ aprofundamento interpreta tivo. Existem trés fatores a serem.considerados nessa alteracio que ‘originou a escola histérico-culturalista: 0 aprofundamento da per ceppio da diferenciagio entre grupos humanos (refutando, em parte, ‘evolucionismo), o desenvolvimento de métodos de escavaco mals profissionaise a introdugao da disciplina nas universidaces (em espe- ial, nas europeias ¢ norte-americanas), Sobre este Gltimo ponto, é interessante destacarmos a seguinte situago: na Europa, as cadeiras de arqueologia passaram a situar-se ‘em cursos como HistGrla, Artes Literatura, fi que a passado europeu cestava ligado aos grupos pré-romanos, greco-romanos e pré-histéri- ‘90s, O aporte nessas reas ligava-se, sobretudo, as fontes escritas que permitiam os estudos associando escavagies aos dados bibliogrifi- +205 disponiveis, Ja na América do Norte, Franz Boas (1858-1942), 0 fundador da antropologia nos Estados Unidos, alocou a arqueologia mo que ele mesmo denominou na antropotogia de Four Field (quatro campos): antropologia cultural, bloantropologta (ou sntropologia bie. {6gica), Yinguistica e anqueologia. A escotha de Boas dew se, principal- mente, pela constatayzo de que 0 passado norte-americano se ligava W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec CG © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘205 grupos ainda vivos no continente, que inseriu a arqueologia junto a antropologia, quase como ciéncias irmas. Quanto a0 refutamento do evoluctonismo, que se mostrava ainda parcialmente presente no hist6rico-culturalismo — quando este apre- goava que a cultura era um fator homogeneizante da sociedade -, foram utilizados dois conceites para explicar a variabilidade cultural ‘em contraposiggo a uma ideia de escala evolutiva entre os grupos Ihumanos: os conceitos de migraciio © de difusdo (termos que ver mos na sequéncia). © primeiro indicava a ocorréncia de processos de migragio dos grupos humanos, a0 mesmo tempo em que estes hhabitavam as regives do-globo. O segundo refere-se ao pressupasto de ‘que esses mesmos grupos, em contato, durante as migragbes, podiam trocar tecnologias ou ensiné-las a outros individuos. Para Funari (2005), essas postulages indicam, ao contririo, certa ligagio com ‘05 pressupostos do evolucionismo -, 0 que seria mais acertado para rossas teflexdes sobre essa vertente arqueolégica. © ponte central do hist6rico-culturalismo era a definigao de padres de cultura em regides geograficamente determinadas, levando-se em consideragio que processos de migragio de difusio da tecnologia teriam contribuido pars o desenvolvimento dos povos Assim, reforgava-se na arqueologia.a dela de era necessiria aos estu- dos a formacdo de séries arqueolégicas de cultura material, as quals podem ser entendidas, como afirmava o professor Alfredo Mendonga de Souza (1997, p. 116), como “ampla unidade de classificago que ‘compreende certo niimero de culturas inter-relacionadas ou de esti- los cerimicos, Uma série tem uma duracio no tempo, quando uma cultura ou estilo dio origem a outro, e no espago”. Concebiam-se, assim, os pilares dessa nova vertente arqueolégica, que se dedlicava ao estudo dos grupos humanos, centrando-se em seus W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * tipos culturais desenvolvidos: formas cerdmicas, tipos de pontas de flechas ou, ainda, padrOes de pintura rupestres. Toda série arqueold- ica era precedida pela constatactio de uma tradi¢to, ou seja, de um ‘conjunte de caracteres que indicava um padrao cultural no tempo ¢ ‘mo espaco ~via de regra, esse padrao estava associado a determinada direa cultural e poderia dar origem a fases, ou seja, a variagbes dessa tradigao que podiam ser sequencladas devide & percepgao de dife- retcas internas, mas que a ligavam a wma tradi¢éo maior. Dessa maneira, os tipos culturais eram entendietos como uma configuracto cultural distinta da anterior ou que se desmembravaem movas fases da mesma cultura, No Brasil, porexemplo, desenvolvew-se a tradigo neobrasileira, elaborada pelo arquedlogo Ondemar Dias Janitor, do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), Dias Jarnjor (1988), partindo de prermissas culturalistas ligadas & visio da integragto de africanos, indigenas e europeus na formaga0 dacaréter nacional (postulado na década de 1930 por Gilberto Freyre) indicava que a cerdimica deveria ser denominada neobrasileira por se tratar de uma producto material que une técnicas e formas dos trés grandes grupos étnicos que compuseram a formagSo do caréter nacio- nal, conforme Freyre (2003) havia defendido em décadas anteriores. Para o professor Alfredo Mendonca de Souza, em seu Dicionério de Arqueologia (1997, p35), essa cerdmica pode ser entendida como: ‘cerkimica arqueolégica, confeccionada por grupos familiares, neo- Ibrasileiros ou caboclos, para uso doméstico com técnicas indigenas, podendo apresentar ou nao elementos de outras procedéncias”. Essa produgio doméstica {4 havia sido destacada por Dias Jinior (1988) e consiste, para © autor, em uma das grandes diferengas em rela- ‘so 4 cerdmica colonial, que seria produzida em tornos e de forma comercial, no famillar. W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Desta forma, esse produto ceriimico estaria associado a espagas ‘domésticos de populagdes mals empobrecidas do Brasil, a facilidade de producto e reposicio, com uma decoragio mais simples e, nor malmente, associada a outros materials histGricos no registro arqueo- Idgico (como outros tipos ceramicos, vidros e metais, entre outros) ‘Como exemplo Hlustrativo, as fases identificadas para a cerdmica neobrasileira s4o as seguintes: Cangucu, Bojuru, Faxinal, Monjolo, Rio Pardo € Redugdes* Em relag0 a0 hist6rico-culturalismo, ¢ importante destacar dois grandes autores de origem inglesa: Gordon Childe (1892-1957) ¢ ‘Grahame Clark (1907-1995). Ao primetro, conforme # arqueologia linglesa (Renfrew; Bahn, 2007), deve-se nilo apenas a sistematizaclo da arqueologia como ciéncia, mas também o alargamento das técni. ‘cas de escavagio eda compreensio-do registro arqueoligico®. Childe indicava que os significados dos objetos escavados eram inerentes 8 cultura que os produziu, on seja, apenas 0 contexta em que eles foram encontrados ¢ que permitiria inferir dados sobre aquele grupo. Parao autor, deveriam ser eleneadas, na pesquisa arqueologica, deter minadas pegas diagndsticas da cultura estudada e, por meio destas, realizar a Inferéncia dos dados sobre © grupo preterit Ao mesmo tempo, essas mesmas pecas diagndsticas serviriam para & comparag%o com outras culturas ou outros grupos para a 2 Ressalamas, como verenso a seguir, que exes forma de concer 6 persariento argucs- Agee enconta-s em escrenca mest em ces na atid. Contd, temper ‘ie iil epi emai ewig i oon ‘mente utizadas #30 rele crticas sob esas partulatr teria, nteraemes por reystro arqueokiwico toda a cleus materi! ra yu, em algure onion de sua estat, fd descertada on depos deforma ritual wu ncenada em slo ow subvols, Besa apie isere mo soto elementas humans pasts de amalie W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘comprovagio ou refutagio de contates culturais ou de migracéo ‘entre os povos. Além de aporte para movimentos de contato, as peas sdiagnésticas permitiriam a construgia de sequénclas culturais (como ‘vimos anteriormente) para a elaboragao de um amplo levantamento ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * matéria-prima: a oferta ou. falta desta poderiam indicar elementos da economia, da sociedad e da simbologla do grupo, por exemplo, (3.2) PROCESSUALISMO NORTE-AMERICANO POs-SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ‘Com o fim da Segunda Guerra Mundial, 08 Estados Unides sairam do ‘embate ndo apenas como uma das nagGes wencedoras, mas também ‘como a mais rica. No contexte de pungéncia econdmica, aspectos sociais ¢ politicos passaram a ser definidos pela nagio norte-amer cana. Fol nesse fnterim que a arqueologia do pafs deu um salto no tocante a suas teorias ¢ 4 seus métodos, Para 03 arqueélogos Colin. Renfrew e Paul Balnn (2007), 0 modelo histérico-culturalista terla che- sgado a seu Iimite para os arquedlogos que trabalhavam no contexto das Américas, em especial pela presenga de muitos grupos que eram, ¥ J uninterby3.digi) x "C) AVAUNIVIRTUS € CG © uninterbv3.digitalpages.com.br/ use * varlabilidade cultural Perspectiva posit vista na construgao da saber: use de ractocinia dedutivo Por meio de hipdte- ses ¢ testes sobre o objeto estudads ‘Ampltacio da metodologia anquealog ‘especial a estatistica [Retirada da anlise de elementos idea lonais dos estudos arqueolégices (par ‘exemplo: pinturas rrupestees ou artes) \* Descrédito nas premisas de que a migracao.e ‘o-contate entre grupos geram a diferenciagic ‘cultural As socedatles humanas sio diferentes centre st por natureza, como defenide Boas (2004) | em seu conceito de alteridade | Rechaga a base indutiva do histérico-culturaliumo | fem que o-arqueslogo “entendia” a pega estudada por ela mesma, sem se questionar ¢ nem se atentar que o grupo poderia ter outro uso para ela que nto kntuide por ele na andlise. Permitiria 20 arquedtogo em campo pesquisar alguns setores do sito, entendendo-o como representative para o total da Srea, Assim, « ‘escavacdo, que era vista como necessariamen ampla¢ totalizadora da frea pesquisada, pode se restingir a stores extatsticamente representatives | para o estudo. | Eimpossivel chegar & mentalidade dos grupos Impossbilidade de entender ox mottvos reais que levaram 0s grupos a pintas, por exemplo, Caverna da Lascaux na Fangs. Fonte: Bicho (2012, p. 137}, Binford ¢ processualismo buscaram leis gerais para acompreen- ‘slo das sociedades pretéritas, no intuito de testar hipsteses sobre © que cles definiram como 0 comportamento cultural (Binford, 1962). Investigar o passado 6, sobretudo, entender os processos culturais ‘que moldaram determinadas culturas. © tom aqui ¢ claramente de 2 W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * percepsdo da sociedade como um ente homogéneo ¢ regide porins- ‘tanclas supra-humanas, mas que podem ser definidas pelo estudo arqueolégico. Outro expoente do processualismo foi um dos alunos do prd- prio Binford, Michael Schiffer (1947-), nesponsdvel pela elaboracao do corpo teérico da etnoarqueologia. Nessa perspectiva, indubita- velmente relacionada a presenga de grupos atuals que descendiam de antepassados presentes no registro arquealégico, realiza-se uma analogia etnogrdtica, Essa analogia refere-se 4 formulagao de hip6- teses arqueoldgicas por melo da verificacto do comportamento atual do grupo Apés a elaborago de hipdteses sobre © comportamento passado Pormeio de observasdes do grupo no presente, o arquedlogo recorre agestudo da cultura material e do registro arqueol6gico para a verifi- ‘cago positiva ou negativa desta possivel continuidade, Ao confron- tar os dados arqueolégicos com as etnograficas, os primeiras tém proeminéncia na explicasdo, jé que grupos humanos podem alterar sua cultura, Contudo, as analogias sto eficazes na elucidage, por exemplo, de formas cerémicas visiveis na atualidade ¢ no registro arqueologico ou dos motivos pelos quais algumas dessas formas ten. sderam a desaparecer em detrimento do surgimento de outras. S80 Ibons exemplos desses estudos cerlmicos as obras de Betty J. Meggers «Clifford Evans (1970), Anna Osler Shepard (1985), Prudence M. Rice (1987) e James M. Skibo (1992). Assim, podemos entender a etnoarqueologia da seguinte forma (© estado da vd em sociedad modo ordenado ajuda compreendero pasado com sana énfaseespecifica no uso ¢ no significada dos artefatos, W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * conmsteugies cextrutunts econo exes materials posers fiat registrados 1 resist arqueodégico, (Renfrew; Bahn, 2007, p. 137, tradugo nossa) Arquedloses nas iltimas décadtas tém desenvolvida a etnoarqucclesia, mn gus, como etndgrafes, vivem com as comunidades contemporines ‘mas cam 0 propésito especifco de comprecrder conse aquetas saciedades ‘usar a ctlture matettal ~ como eles fazer as suas ferramentas ¢ armas, por que eles constroem seus assentamentos onde eles fazem,¢ assim por diante. (Renfrew; Babin, 2007, p. 11, tradugdo nossa) Como colocado pelos autores, essa vertente permite a arqueologla voltar-se niio apenas.a grupos mais recentes no tempo-espago, mas, sobretudo, & meméria eas vivéncias que estes tiveram em relago.a0 seu passado © a0-que constitui sua identidade ¢ seu comportamento. Assim, a etnoarqueologia atrela-se as agdes de definicao de compor- tamentos passados registrados pela arqueologia, mas leva em conta «que estes podem passar (e em muitos casos passaram) por desenvol- vimentos ou alteragbes, gerando, portanto, padres de interpretagao «da continuidade ou descontinuidade da cultura material Como forma de dar maior cientificidade ao processualismo, Binford ¢ Schiffer desenvolveram 0 que ficou denominado Teoria de Médio Alcance, que cansiste em produzir um aporte teérico que per mita ao material arqueolégico ser ligado tanto ao seu passado (em. ‘uma perspectiva dindmica) quanto ao seu presente (visto sob uma forma dindmica no registro arqueolégico). A jé comentada etnoar- queologia € uma metodologla diretamente advinda dessa elabora- ‘slo te6rico-metodolégica. Para Schiffer (1972), por exemplo, era de ‘extrema importancia conhecer os contextos sistérnico-e arqueoligico. © contexto sistémico é a prépria cultura em funcionamento, é quando a pega esti em uso; quando ela é deseartada (por quebra, aa W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * desuso ou outros fatores), entra em cena o contexto anqueoligico, que reconhece, quando-e em que condigoes essa cultura material fol transferida para esse contexto que hoje denominamos arqueoligico Conforme Schiffer (1995), essas regularidades devem ser pre- cedidas pela elaboracao dos Transformadores Culturais (C) e dos ‘Transformadores Naturais (N), em que os Transformadores C 330 caractetizados por “leis que relacionam varlveis de um sistema cul tural em existéncia a varidveis que descrevem a deposigao ow no sdeposigo cultural de seus elementos” (Schiffer, 1995, p. 14-16, tradk ‘sfo nossa), ¢ 05 Transformadores N sto os processos naturals, como a erosio, a chuva ¢ o intemperismo, que transformam ou alteram 4 forma da cultura material de manefra natural, de acordo com leis relacionadas a processos nio culturais de modificayao ¢ deterioracao. Assim, Schiffer (1972) apresenta um modelo de citculag#o no qual a historia de vida ow os processos sistémicos correlatos a um objeto podem ser percebidas, Tal modelo explica a formagao do registro arqueokégico ¢ se divide em cinco processos: aquisiglo do mate- ‘ial; manufotura; uso; manutengio e descarte. Nesse sentido, toda a vida de um objeto material € abarcada, desde sua concep¢o ou ccrlagao, passando pelos seus usos culturais, até desembocar no des ‘carte, quando esté inapto participacio na cultura quebrae envio a uma zona de Lixo, por exemplo - ou mesmo quando & descartado deforma intencional em algum ritual dentro da dindmica cultural. Todos 0 objetos da cultura material passariam por esse modelo \de circulacdo, mesmo que em diferentes ou ausentes processos consti tutintes. Esse modelo, contudo, permite observar ndo apenas histéria de vida dos objetos, mas também suas Implicagbes para as relagbes ‘comportamentais, incluindo as de uso, pelas quais o objeto passa W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * A.esses usas ¢ processes, Schiffer (1972) denomina contexta sis ‘ico do uso do objeto dentro da cultura, que rotula a condicao de ‘um elemento a participante de um sistema comportamental, sendo a hhist6ria de vida e ociclo de vida do objeto observiveis nesse contexto. Por refigo, Schiffer (1972) compreende o estado de um elemento no cantexto arqueolégica, ou seja, quando sai do contexte sistémico de uso no grupo & passa a ter um local especifico, um significado intrinseco- uim contexto de descarte e, por isso, tem alto valor de estudo para a arqueologia. A observancia dessa passagem do contexto slstmico ao arqueolégico, para Schiffer (1972), pode levar 8 aceitagio de que 0 padrio espacial do registro arqueolégico reflita @ padre de atividades passadas ~ argumento que recebe grandes criticas, pois nao considera que os objetos podem, por exemplo, ser transports. dos entre o fim de seu uso €0 local de descarte. Baseado nisso, seria [possivel, conforme Schiffer (1972), entender os processos de vida ou sistémicos das elementos duraveis, que consistem também na aqui- sigo, manufatura, uso, manutengdee descarte da cultura material, Schiffer (1972) destaca ainda a presenga do armazenamento ¢ do transporte come processos associados & vida dos elementos duraveis, [Nos dois casos, eles fornecem o deslocamento temporal ou espacial ‘ou os dois ~ para um elemento da cultura material, Assim, tanto a agio natural do meio — via chuva, cachoeira, vegetagdo ¢ animals — pode causar o transpozte quanto a propria acao humana de retirada do material ou de reutilizaso para ritos contribu para que tal prt ‘cesso ocorra. © armazenamento parece ocorrer apenas quando os elementos da cultura material so retiradas das locals de rito.e guardados para revenda posterior, o que caracteriza esse proceso muito mais como ‘uma ciclagem lateral (Schiffer, 1972) do que como um sistema de a W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * reciclagem, © que a pesquisa consegue evidenciaré esse processode término da utilizagao de um elemento (vida de uso) em um conjunte: de atividades ea sua retomada em outro, frequentemente com a inter venitncia apenas da manuten¢o, doarmazenamento ¢ de transporte © resultado do descarte ritual observado é o que Schiffer (1972) denomina refuge, ow seja, a condicao pés-descarte de um elemento que nao participa mals de um sistema comportamental’, Aqui s¢ colocam duas situagdes: a primeira refere-se ao fato de que, s¢ 0 local indo fosse mais utilizada e fosse fechado repentinamente, todas os materials ritualisticos descartados tenderiam a nfo participar mais do sistema comportamental que ali funeionava, Contudo, estandoo lugar em funcionamento e constantemente sofrendo ages de manu- tengo destes objetos, que retornam as casas ou a0 local, esse refugo, mesmo nao sendo mais utilizado, ainda mantém forte ligagao com os ‘outros processos ¢ até com a significago do ritual, que é 0 descarte ¢ 0 desusa daqueles objetos. Assim, o que se percebe é que, mesmo ‘© refugo, tido come n¥fo participante do sistema comportamental, no caso analisado, tende a participar desse sistema’ Um exemplo de estudo que aplicou as premissas processualis- tas encontra-se na pesquisa da arquedloga Tania Andrade Lima (1991) que, no inicio da década de 1990, desenvolveu, em seu dou torado, um trabalho detalhado sobre a arqueofauna dos sambaquis de Algodio, Baia da Ribeira ¢ Ilha de Santana, objetivando consta- tar una mudanga ne padréo de subsisténcia nesses sitios pelo vies 4 Sohifer (1972) destaca « postiidade de que exe ref ago Sela dewmninade rego de ato, cu sea, a.cdtuea mater que ¢depostada em sede Sem ter passa por process se descarte ‘Umar outra ont de compres deve prespeat terce metedelsic de Shite pase sda em sua cdma Formation Processes of Archaeological Records (1987) W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * sisttmico da new archaeology. Lima (1991) defende que, apesar de a base alimentar desses sambaquieiros ser os peixes elasmobranquios, ‘0s motuscos teriam grande impertincia na subsisténcia desses grupos, ‘ea sua diminuigdo gradativa, atribufda a superexploragio, teria alte rado sobremaneira o modo de vida desses grupos. A autora procurou também estabelecer, utilizando-se da fauna, elementos para elucidar a relagdes entre os sambaquieitos ¢ a paisagem. Assim, em seu estudo, percebemos como a visio sistémica da Sociedade ¢ a mudanga do registro arqjueolégico quando um dos sis- temas socials sealtera pravém do processualismo norte-americano ¢ de uma visio da cultura material como fenémeno adaptativo. (3.3) POS-PROCESSUALISMO No inicio da década de 1980, arquedlogos ingleses apresentavam ‘um descontentamento com 0 processualismo, Come Trigger (2004) informa, esse descontentamento niio estava relacionade ac campo metodolégico proposto pela new archaeology, que enriqueceraa forma de fazer antropologia, mas sim com o descompasto que a escola norte-americana tinha em relago as tearias socials em curso. Pesavam, de forma decisiva, uma eritica ao funcionalismo pro- posto por autores como Binford e a necessidade de reinserir dois pontos na andlise arqueclégica: os individuos como agentes trans- formadores da sociedade € os estudos de aspectos ideacionais (como as pinturas rupestres, 0s sistemas religiosos ¢ outros). W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Tan Hodder (1948+), arquedlogo inglés, no final da década de 1970¢ Inicio da seguinte, Jangou um conjunto de obras* que funda- mentaram essa critica, levando a arqueologia, em especial a euro- [peia, a contrapor o processualismo e a fundar o que denominaram péis-processualismo, que, como 0 préprio nome indica, no refutou Por completo a new archaeology, mas se propés a adequé-la as novas, inecessidades de pesquisa. Se os processualistas haviam rompido dras- ticamentte com o hist6rieo-culturalismo, a ponte de se denominarem ‘uma nova arqueotagia, os pOs-processualistas entenderam que eram necessirios apenas determinados acertos na teorla, por sso mantl veram seu nome com uma pequena modifieacio. ‘Mesmo que tardiamente, o p6s-processualismo inseriu o funda- mental te6rico do estruturalismo de Claude Lévi-Strauss, o pés-estru. turalismo de Pierre Bourdieu (1930-2002) e Michel Foucault (1926- 1984) e a teorta da agéncla de Anthony Giddens no campo referenctal deestudo da arqueologia. Assim, nio apenas os sujeitos passaram a ser foco do estudo, deixando de lado leituras mals macrossocials, mas também se reinseriu 0 campo de estudo das mentalidades ¢ ideias por meio do registro anqueol6gico. Conforme defendem William. H. Walker ¢ Lisa J, Lucero (2000), para o desenvolvimento de inferéncias comportamentais mais com: plexas, que levem em conta a manipulagio de objetos pelos aget tes durante 0s rituais de dedicacio, de abandono de rescisio ou de vveneragfo ancestral, € necessario 0 uso de modelos que levem em 1 Archeology: a Reactionary Whew (1982b), Symbols in ‘Archaeology (1985) W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘consideracio pistas contextuais encantradas em sequéncias de depd- sitos arqueologicos. © processamento da arquitetura durante os episédios de remo- delagdo, construgdo ou abandono muitas vezes deixa vestigios de ‘caminhos rituais que podem ser inferidos com base na histéria depo- sicional desses edificios, Embora os estudos de agéncia tipicamente desencorajem métodos gerais, uma abordagem da histria depos! ional ¢ flexivel o suficiente para destacar a variabilidade comporta- mental no interior de e entre culturas tdo diversas na Pré-HistOria-e mesmo na arqueologia histérica Para os anquedlogos Michael Shanks ¢ lan Hodder (1998), @ mate- rial arqueoldgico deveria no apenas ser considerado e interpretado ‘como aspecto do comportamento pretérito, mas também ser inserido. ‘em uma pauta politica e social em que passaria a ter uma fung3o legitimadora ou de empoderamento de determinados grupos exclul- dos do registro arqueolégico. Isso significa que se deveria olhar para © registro arqueolégico também come uma expresso passada de dominagio de determinados grupos socials sobre outros e que os estudos arqucolégicos, além de demonstrar isso, poderiam promover ‘um debate acerca dessa problemstica. Para esses autores, firmava-se, assim, uma arqueologia contextual que eve examinar tndos ox aspectosintermos passives le wma cultura ang: Asica para que se pasa combcero significado de cada um des clementos cou partes. £ uma perspectivaestenclalmente diferente do paradigm proces sual na medida crm que neste tino para se respomdes ave determinado problema basta estudar apenas um determinadoconjunto de waridvels do sitio arqucoldgic. (Bicho, 2012, p. 78) W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Na perspectiva pés-processual, 03 individuos so percebidos como sujeitos ativos na sociedade, o que gera diferentes aspectos da cultura material, conforme o grupo social. Leva-se aqui em consideragio.a teoria da agéncia’, ou seja, em muitos casos, a varlabilidade do regis- tro arqueolégico € resultado direto das agoes dos individuos que a ‘operam, tendo em vista conceitos ou idelas advindas de seu campo de agio ou mesmo da idela que fazem sobre a cultura material. Isso ‘nos permite dizer que um mesmoobjeto pode ¢ terd diferentes val res para grupos sociais distintos em uma mesma sociedade. Assim, ‘© objeto e 05 suleltes esto assoclados em uma relaclo diaktica de econstituido ¢ constituintes, camo defende Lima (2011), Hodder (2000), 20 explicar a aplicaglo da teoria da agéncia na arqueologis, fornece uma bos reflexio sobre o tema: © autor tem sustentado que a descoberta do Homem de Gelo~o cadaver preser vado de um homem, encontrado nos Alpes Austriacos junto a uma razodvel variedade de instrumentos e suas roupas, datado de 3.300 a 3.200 AP - abre uma enorme janela para a discussio sobre a vida Individual ¢ pode contradizer muitas das conclusdes advindas das pperspectivas de larga escala. Assim, estudar mudlancas econémicas, socials e politicas ¢ limitado, Contudo, 0 individuo guarda, em si, contradicBes da sociedade: seu género, 03 objetos relacionados a seu ‘corpo, a fungdo exercida em vida expressa pela cultura material ¢ mesmo a forma da morte, todos esses aspectos informam como os individuos agiam para além do que a saciedade poderia esperar deles, de tora a agincla ¢ Lf por Glide (2003, p. 10-11) como aqua (pur “aoe refore0stter es que as pessaas 1820 fier as cols, mes Mcupacldade elas para reatcar esas coisas em primero liar.) dt espa] a eventos das qua um individu & perpetrade, no tent qu oe peieia, em guage fase de wma data nequtncla deconduta, fer ata de made frente” W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. Sobre aspectos ideacionais, em especial o religioso, Renfrew (1985) defende a existéncia e a compreensdo segura na identificagao de um contexto religioso para a arqueologia, a fim de [fazer declaraydes gavantidas sobre 0 pastuclo, neste caso, sobre a pratica de culto ¢ crenca relistosa, com base em evidéncias anquenlégicas [..] 0 anqueblogo, € lmportante lembray, nao pasde observar crengas: x6 pale trabalhar com restos de material, as consequéncias das agdes. Ems casos [evoniveis, esses rests so os resultados das aes que podemos interpre tr plaushelmente como decorrentes de cena religiosa. (Renfrew, 1985, 11-12, tradusio nossa Com o pés-processualismo, mesmo-a nogo da temporalidade do trabalho do arquedlogo € revista: entende-s¢ haver uma “arqueologis. ddo tempo presente” (Olivier, 2008, tradugo nossa). Nessa perspectiva a citncia do passado ¢ chamada a compor pesquisas em periods mats ‘contempordineos¢ em artefatos mais recentes. Assim, “a Arquealogia do presente adquire sentido, a partir da simples abservagtio-das coisas 30 nosso redor” (Funatt, 2010, p. 176), ou seja: Se ricombecermos que a Angueologia mio ten umn tempo nnlinear e sequen: cial do historiismo, entlo 0 tempo anyueoligico aparece intero no presente Getatzel).A Anguewlegta nao se interessapelus eventos de pasado, mas & ‘mesmérla queso comstrdt mo temnpo pola repetio e pela reavaliagdo. Neste sentido, adisciplina arqucoligica passul uma vocagio fundamental para se defintr coma-uma Arqueolagia do presente. (Puma, 2010, p. 176) Assim, a arqueologia ¢ mais uma ferramenta no envolvimento e na sensibilizagao da populagdo acerca de desafios e compromis- 305 politicos com a preservagio da meméria e da pluralidade cultu- ral em nossa sociedacle multicultural. Por outro lado, essa wertente W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * anqucoldgica permite dialogar com outras areas do conhecimento (historia ¢ antropologia, por exemplo), possibilitande construgbes tedricas e priticas a respeito dos problemas ¢ das questdes que vive- mos no presente, bem como a proposigio de um retorno reflexive para alguns problemas correlatas aos campos da identidade nacional da alteridade e da tolerancia religiosa’, Ao mesino tempo, temas como sensoriaiidade ¢ género passaram encontrar espago nos estudos arqueolégicos. A “arqueologia dos como defendida na obra de Fredrik Fahlander e Anna Kjellstrém (2010), propbe-se a expandir os horizontes da arqueologia discutindo e avaliando como um espectro mais amplo de experién- clas sensoriais humanas (visio, audigSo, olfato, paladar e tato) pode ser compreendide por melo das materialidades do passado, Como defence Trigger (1998, p. 23, tradugo nossa), hi uma relagia “entre ‘© mundo extemo real eo mundo interior da mente ¢ a capacidade de observagies sensoriais para alterar concepg0es relacionadas a0 mundo real’ Como exemplo da arqueologia do genero, destacamos 0 estudo de Hays-Gilpin (2006) entre as familias Pueblas da parte ocidental do Novo México, Conforme a autora, ¢ interessante notar como, nessa cultura, os espacos tendem a ser ocupados de forma inversa 4 mossa: o-espago pablice ¢ feminine e o espago privado-€ masculino, Assim, a autora caracteriza seu estudo de género sob dois aspectos: 0 fato de que géneto-ndaé algoiinerente apenas aos corpos humanos ¢ as oferendas finebres, Embora os esqueletos sejam sexuados, seus in trumentos desempen ham paptis importantes de acompanhamento, Sobwe esse pont, «artigo dencrninads “Como a antvopolora, aarpucoleria ea hiss [adem contribuir pans ot estudos das adios aft-vasleias” (Pers, 20150) tee wma ‘oa reflee sobre interes tee antropokah histra ¢anuecogie. W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘como adornos ¢ outros itens pessoais; arquitetura, ferramentas ¢ até mesmo restos da fauna e da flora podem ter sido manipulados ‘como marcadores de género, resultando em padrdes que podemos reconhecer hoje’, Outra leitura interessante que exemplifica como o pés-processua~ smo contributu de forma decisiva para uma nova compreensso da arqueologta esta no trabalho de Tabuti, Dhillion e Lye (2003), que apresentam como havia uma escolha intencional no uso de dete minadas plantas para a produgao de fogo em certas regides da Africa, contestando a premissa processualista de que os grupos tenderlam aproveitar a vegetacio préxima as habitagdes, de forma a minimizar seus esforgos de coleta", No Brasil, o estudo realizado por Paulo Eduardo Zanettini (2005) ¢ um bom exemplo de apticago das premissas pés-processualistas ‘autor se propds a analisar dois aspectos do espago doméstico de Si0 Paulo: 0 primeiro relaciona-se as din4micas econémicas no Planalto Paulista do Periodo Colonial, destacando a produglo de cerimica na ‘confluéncia de técnicas indigenas, europelas e mamelucas; o segundo panto, esteem profunda relagiio.com a vertente em questio, explicita ‘como as camadas socials se aproprlavam da elaboracdo de abjetos de barro para a demarcaco de fronteiras culturals e étnicas. Nas pala- vias do proprio pesquisador: ‘Une boom exempla de extuda sobre Idade, gone, status social @vellgiao pelo vies pueckigice pés-processuasa pode ser obtifo ra vba The Archawohogy of Identity (Diaz-Andivu tal, 2003), Sobve esse campo de extudat, # inteestante abservar as amélises desemvalvidas pets Laburtive de AntracoloplaePalcambente so use Nactonal da Quinta da ow Vista (UPR), sab coondenaeto da pofessar Rta Schecl-Yoet, em artigos coms “Proposta amertragem parontzads para macrovetgis bioarweoeglas:anacagi, argues botdinica, woarquecieghe (Schee-Yer tal, 2006). 04 W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig GAVAUNIVIRTUS x Ls G@ © uninter.bv3.digitalpages.com.br. bg ie ‘Meu foco de intezesse em retago ds casas também jd mo €0 mesmo, pois desloge paulatinamente meu othar do inevior das edifcagbes # questBes arguitetonicas em diregao aos seus quintais c suas adjactncias. Do sestio alana ¢ de outros serttes, trouxe outras preocupartes que se rfletem diretamente na mina forma de pensar e agir no campo da Arqucologia. ‘So outros os questionamentes, movo-me agors ruin a espaces ditos ‘marginals e a0 encontro de personagens, por assim dizer, imisiveis, que viviarn a arbita des casartes. Deixo paulatinarente pana tris meus est dos acerca da idrara europea an ta, as anya usitumase porcelanas cdo Oriente para aprofundar meu conhecimento a respeito da louca de barr produrida pela “gente poulista[..) Fardclamente, procure, medida do posse, deh por vezes deforma antropofigics, a Wieratura arqueolégica, que serenava ee multpic cxponenciaimente mundo afra. De louge, acompaniho es debates nos quis a Arquecogia ¢ submetida « grandes questionamentos do ponto de vista epistemoligico, Vejo-a revtgoracta, supenando limites que the 27am impostes, a fo de congulstar sua mersclds paso no pantedo das Humanidades, Pode-se dizer que a csciptina conhece uma verka- deiva revolute, torvndo-se casa vez mals rice, plc, multfacetada € amadurecida sob a égide da Pés-Modernidale Zanettini, 2008, p. 8) A narrativa em primeira pessoa do arquedlogo nos apresenta a virada epistemolégica que o pés-processualismo trouxe para aarqueo- logia: © deslocamento da visio sistémica da sociedade ¢ das classifi- cagbes tipologicas sempre necessrias a qualquer estudo, mas que, s¢ no relacionadas aos individuos que a manusearam, perdem o pot clal explanatorio sobre 0 passado descas pestoas ¢ de suas relagbes sociais e culturais estabelecidas por mcio-do uso dessa materialidade. W Periods Arcaicn > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Sintese Ap6s esse apanhado tedrico-metodologico sobre as vertentes da anqucologia, precisamos nos perguntar: Existe alguma escola que seja melhor que @ outra? Devemos utilizar apenas uma delas, em detrimento das outras? Precisamas terem mente a seguinte questo: a cineia como uma caixa de ferramentas ¢, como tal, existem ins- trumentos de maior ou menor tamanho ou para uma ou outra acao. ‘© fato de no utllizarmos uma chave de fenda para fixar um prego mio nos leva a jogé-la fora. Esta deve sera nossa percepede acerca das escolas arqueolégicas: cada. uma tem uma fungio ¢ uma utilidade especifica. Por mais que alguns postulados tenham sido criticados ou inutilizadas. parcial mente por outros, devernos sempre conhecé-los para utilizapi0 ou critica em nossos trabathos de pesquisa, aulas e escavacbes. Assim deve ser nossa caixa de ferramentas te6ricas: temos de conhecer todas as teorias para saber discernir quando € como aplicd-las em nosso cotidiano. Na arqueologia, em especifico, utiliza mos ferramentas que foram elaboradas desde seus primérdios, como a serlagao de pecas, mas sabemos que essas mesmas pegas devem ser ‘compreendidas no em fungio de uma leitura que considere a soci dade como um ente homogénco, mas sim composta de individuos que as utilizaram de forma diferente. Como vimos no Capitulo 2 ha uma variedade de formas de conceber a cultura material e, par isso, obviamente, devemos entender e utilizar as diversas premissas ‘episternoldgicas possiveis para sua interpretaglo, fato que s6 ocorreré se tivermos em mente a diversidade de paradigmat arqueol6gicos, ‘como acabamos de ler € @ © uninter.bv3.digitalpages.com.br. vy oF Patriménio arqueolégico: legislacdo brasileira W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Um conjunto.de bens que possui relevéincia, tanto em sua expresso material quanto imaterial, constitui um patrimdnio, Neste capitulo, ‘voot entenderd come foi concebido, protegide e trabathado o patri ménio arqucolégico. No Brasil eem boa parte do mundo, divide-se [patrimOnio em material ~ quando se telaciona a préios, manumentos ‘ou arte ~ ¢ imaterial — relacionado aos saberes, as crencas, as dancas (€ todas as expresses que so mantidas pela memoria © pela orall- dade". Como defende o antropélogo José Reginaldo Santos Goncalves (2005), o patrimOnio deve ter uma ligagdo com a populagao de tal forma que ultrapasse a sua visitago ou vistbilidade. Nas palavras do [pesquisador, ele deve apresentar tnés referenciais para a sua ampla Ligagtio com os grupos que se relacionam a ¢le:a ressoniincia, a mate- rialidade e a subjetividade. Para Gongalves (2005), a ressondncia é um melo de dilogo ou interlocugdo entre os produtores do saber e as instdncias que 0s pro- tegem (Estado, Iphan e museus, por exemplo). Em relagio mate- tialidade, seu valor encontra-se em transformar o referido bem na mogio antropologica da cultura, a saber “em favor de nogbes mais abstratas, tais como estrutura, estrutura social, sistema simbélico ete." (Gongalves, 2008, p. 21), Ja subjetividade é entendida como 4 relac8o entre o patriménio¢ a autoconsciéncia individual e coletiva, ‘ou seja, “pressupde sempre alguma forma especitfica de continuldade centre pasado, presente ¢ futuro” (Gongalves, 2005, p. 31). Assim, tenderd a ser compreendida “como parte ¢ extensio da experiéncia «, portanto, do corpo” (Gongalves, 2005, p. 32), dat a dela de que nio éalgo-estético ou imutivel, tal como o corpo humano, W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘Como defende Josep Ballart (1997), 0 patriménio histérico (eaqui ncluiremos o arqueol6gico) constitui-se por uma materialidade ¢, por isso, 86 pode ser apreendido em seus significados pelos sentidas hhumanos ~ daf a necessidade de protegdo, A legisla¢io que define ‘esse amparo é 0 que estudaremos neste capitulo. Alertamos para a necessidade de se observar que, para 0 caso Dbrasiletro, as lels de proteco 20 patriménio arqueol6gico estao int- mamente ligadas a processos histéricos ¢ aos governantes que pro- mulgaram tais legislagdes, 0 que as insere em um debate maisamplo que se relaciona, sobretudo, a defesa dos bens naclonais e do nacio- nalismo brasileiro? Como tratamos de legislag3o que, em sua maioria, vigora no Ambito do Instituto do Patriménio Hist6rico ¢ Artistico: Nacional. (iphan), é interessante contextualizarmos esse drgio € seu funcio- amento, tendo-em vista ser ele o brago do governo federal para a protegao de todo o patriménio brasileiro. Conformeo Decreto n. 24.735, de 14 de julhode 1934 (Brasil, 1934), a origens do iphan, ¢ consequentemente da protegio da meméria ¢ do patriménio nacional, remetem & Inspetoria de Monumentos Nacional (IMN), crlada durante 0 Governo Provisério de Getalio ‘Vargas (1930-1934). A referida inspetorla seria subalterna ao Museu Histérico Nacional ¢ terla como principais atribuigses a protegso ¢ a manutengio do patriménio histético nacional. Tal medida veio em resposta, por um lado, ao crescimento urbano 'e a5 ameagas que isso significava aos monumentos hist6ricos e, por Sobveo tema nacional brasileiro, em especial defend na Sra Vargas, Itees- sane observer as obras de Benedict Anderson, Nacio ¢ consciéncia nacional (1989) [Netw Jahar Garcia, Estado Novo: Wdeologi «propaganda palitis (2005); (ppt otnetta, A questao nactonal na Primera Repabica (199), W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * ‘outro, aos esforcos de politicos ¢ intelectuais como Mario de Andrade .¢ Rodrigo Melo Franco no sentido de buscar valorizar os elementos da cultura material que contribuiam para a formagio da cultura nacional. Poucos dias antes de Vargas estabelecer 0 Estado Novo, ocorreu a extingdo da Inspetoria por meio da Lei n. 378, de 13 de janeiro de 1937 (Brasil, 1937b), quando fol criado o Servigo do PatrimOnio Histérico ¢ Artistico Nacional (SPHAN), que deixava de ser vinculado ‘a0 Museu Hist6rico Nacional e passava para o Ministério da Educasio Sade Paiblica, criado por Vargas ainda em 1930. A regulamentacio. das atividades do SPHAN se deu pelo Decreto-Lei n_ 25, de 30 de novembro de 1937 (Brasil, 19373), jd na Ditadura do Estado Novo (1937-1945), que definiu o que viria a ser patriménto histérico eartistico e estabeleceu as linhas gerais acerca do tombamento, Nese periodo, foram tombadas diversas obras de arte e construgées religiosas barracas, especialmente em Minas Gerais Em 1946, jé durante o Governo Dutra (1946-1951), 0 SPHAN passou a se chamar Departamento do Patriménio Historieo e Artistico Nacional (DPHAN), por meio do Decreto-Lei n. 8.534, de 2 de janeiro ‘de 1946 (Brasil, 1946), Durante a Ditadura Militar, no Gaverno Médici (1969-1974), recebcu o nome de Instituto do Patriméinio Histérico ¢ Antistico Nacional (Iphan), de acordo com o Decreto-n, 66.967, de 27 de julho de 1970 (Brasil, 1970) Ainda durante © petiodo ditatorial (Gaverno Figueiredo, 1979- 1985) o Instituto se tornou Secretaria, por melo da Lei n. 6.757, de 17 de dezembro de 1979 (Brasil, 1979), eadotou omome de Secretaria ‘do Patriméinio Histérico e Artistico Nacional (SPHAN). Nesse mesmo ‘contexto, a secretaria € convertida em um érgo normativo e tem suas fungdes executivas desempenhadas pela Fundagio Nacional W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Pré-Meméria, Muitas vezes, a instituigio utilizava a sigla SPHAN/ Pré-Memeéria No periodo pés-Ditadura, a SPHAN e a Fundagio Nacional Pré-Meméria fizeram partedo Programa Nacional le Desburocratizagao ‘empreendido:no Governo de Fernando Collor (1990-1992). Ambos ‘0s Srgtios foram extintos por meio da Lei n. 8.029, de 12 de abril {de 1990 (Brasil, 1990), e tiveram suas atribuigoes incorporadas pelo Instituto Brasileiro do Patriménio Cultural (BPC). © governo que sucedeu o de Fernando Collor transformou, por melo da Medida Provisérla n. 752, de 6 de dezembro de 1994 (Bras 1994), © IBPC em Instituto do Patriménio Histérico © Artistico Nacional (Iphan), 6rgo vinculado ao Ministério da Cultura e que tinha atuacdo normativa ¢ executiva, Desde essa data, o Orgio segue existinds. A seguir, analisaremos, de forma pormenorizada, cada uma das legislagdes que tratam de bens arqueolégicos ou, como-define nosso conjunte de leis, do- patriménio arqueclégico, A adogo do desen- volvimento da explanago pelo vies cronologico demonstsa como © Brasil tem se desenvolvido quanto. protegio a esses bens. Nao existe ‘outra forma de compreender essa defesa que ndo passe pela cronolo- gia das medidas tomadas para esse fir. 4.1) Decreto-Lei n. 25/1937 ‘Conforme jf destacamos em outro momento, ao nos referirmos ao ‘campo da legisiag3o brasileira (Pereira, 201Sa), a primetra lel que trata do tema patriménio cultural é 0 Decreto-Lei n. 25/1937, que institui W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. ‘© Instrumento de Tombamento ¢ conceitua o que ¢ patti AOrico e artistic nacional. Em seus artigos, lemos: Art, 1° Constitud o patrinsénio histirico ¢ urtistico nacional o coniunta dos bens rnSveis @iméveis existentes mo pals # euja conservayo seja de esse piblice, qucr por sua vinculago a fatas memondvels dia hist do Brasil, quer por sew excepclonal valor anguzokighso ow emagndfico, bibliogrisico ou artstico, Li Art 4°0 Servigo de Putriminta Histirlca ¢ Artistico Nacional possuink (quatro Livros sto Toonbo, nos quats sento inscritas us obras que se refere art, I* desta Ie, a saber: 1) no Livro do Tomibo Arqueolégicn, Eenogrifico « Puisagtsticn, as coisas pertencentes as categorias de arte arqucokigica, etnognifica, anerindia ¢ popular, « bem assim as mencionadas no § 2* do citado art. 1 (Beas, 19378) © referido decreto apresenta para © patriménia 0 conceito de excepclonalidade na preservagso da memérla nacional ¢ spregoa que ‘bens com essa caracteristica devem ser alvo de protecao federal, pois constituem-se meio de acesse a histéria ¢ cultura nacional, o que ‘9s toma bens de Interesse pablico. Institufa-se assim uma das pri meiras legislagtes modernas acerca da proteso do patriménio (no apenas © arqueologice), claramente Infuenciada pelas discussbes ‘ocorridas durante a Semana de Arte Moderna de 1922, em So Paulo (Fausto, 2012). Apesar de ser uma das primeiras legislagbes de protectio a0 patriménio ainda em vigor na atualidade, o referido decreto n W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * denomina o que seja o patriménio anqueoldgico nem os materiais que ‘©.compoem. Contudo, no contexto getulista do populisma, a defesa do patriménio arqueoligico esti ligada, obviamente, 4 fundagio de ‘um nacionalismo e uma ideia de ide nacional, integrativade todas as regioes do pais (Garcia, 2008) (4.2) Let N, 3.924/1961 £ Resotucors Nn. 001/1986 EN. 237/1997 Na década de 1960, 0 populismo e onacionalismo de Jinio Quadros levaram 0 governoa criar uma lei espectifica para a protec3o dos bens arqueolégicos. Jé tendo Brasilia como capital do pais, foi promulgada a Lein, 3.924, de 26 de julho de 1961 (Brasil, 1961). A ideia do gaverno eta, obviamente, a protegdo das bens de cunho arqueolégico, mas repetia-se.o tom de nacionalismo-e de criagao de uma cultura brasi- leira para a defesa dos interesses do povo (Garcla, 2005). Observando a Lei n. 3.924/1961, percebemos que se refere apenas aos bens de origem pré-histérica, p Epora os estudas sobre a arqueologia histérica no Brasil alnda estavam se Iniclando: Para Rosana Nailer ¢ Marla Cristina Coe Dusrte (2002, 8): Brwll,aargeee- Inghahstbrica we extabelece na Adena ce 1960, quand fram realizado os pelos tudes sstemithcos de as do cle XVF de ada expanholare misses jsuticas. A partir desse memento, stios histérces de maturcaas diversas fovam desportando a tenga dss pegulsadores artes que, ns emtanty, velaram suas prescupae pars pects, na maleri,Lgades 05 comtatosntrttnkos¢ aos monuments eifcade, © (qu resulou em Efese excessive dchamnada arquecloia de estawnego” Indicamos a elt das abas dos arguetioges Andrade Linea (1993) ¢ Funarl e Chevitarese (2013) sabre 0 desenvavimento desse camp no Baal ew estado ata W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. Art. 1* Os momumentos aryueokisics ou pré-histricas de qualquer mat re2a existentes no terrtirio nacional e todos os elementos que neles se encontrar ficam sob a garda c proteqo do Poder Piblico, de acordo com 0 que estabelece o art, 175 da Constituigto Federal Parigrafa iinico, A propriedade da superficie, resida pelo direito conwar, ‘do inclu a das faridas anqucolégicas ou pré-istiricas, nem a dos objet nel incorporados na forma do art, 152 da mestaa Consttuicao. Art 2* Consideram-se montumentos arqucodgcos ou pri-histirices: a. as jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidede, que repre- enter testemunas sa cultura dos paleoamerindios do Bras tix ‘como sambaguls, montes artificiais ou esos, pocos sepulcras, jazigos, aternados, etearias e qusisquer ouleas nde especificadas agi, nine de significado icéntico a jutso da autonitaste competente; 05 sities mos quals se encontsar vestigies positives de ecupagdo pelos paleoameriudias, tais camo grutas,lapase abrigos sb acho; 5 sitios identificados como cemitérios, seputturas ow locuis de pouso protongado ou se aldeamenta ‘estarBes* e ‘cerimios", nos qual se encontram vestighas haurancs de Interesse arqueniigico ou paleoetngndpico; «as inscrigdes rupestes ou locais como sulcos de polimentos de uten= silos ¢ outros vestigios de atividade de paleoamerindios. Art, 3° io profbides em todo 0 territéria nacional o aproveitamento econdenica, a destrulgao oi mutlagao, para qualquer fim, das jazidas argucoldgicas ou pré-historicas conhecites come sambaguis, cascuciees, comchcinas, btbisuenes on serrsambis, ¢ bem assinn des sitios, inser Bex € objetos cnumenades nas aténeas b, ce d do artigo anterior, antes de W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * serem devidamente pesquilsados, respeitadas as concessdes anteriores ‘nao cautucas, Art # Toda peso, natural ou juriica, que, na dutu da publicesito desta Ici, 14 estiver procedendo, para fins econdmicas ou outros, a exploraca0 de jacidas arqucldgicas ou pré-hstiricas deveré comunicar i Diretoria do Petrino Hstérico Nacional, dentro de sessenta (60) lla, 0b pen de malta de Cr8 10:000,00 a Cr8 50.000,00 (dee rail a cinguenta rail crucires), 0 exerccko dessa avid pa efeito de exarme, regstre, fis calizarao ¢ savoguarda do interesse di ciémcia. (Brasil, 1961) Se, porventura, considerarmos 0 trecho “ja2igos, aterrados, estea- ras e quaisquer outras no especificadas aqui, mas de significado idéntico a juizo da autoridade competente’, podemos entender que se trata de bens arqueokigicos de origem histérica = "como aqueles tens fabricados ¢/ou modificados pela ago humana, incluindo lou ‘sas, garrafas e frascos de vidro, metais e assim por diante” (Gheno; Machado, 2013, p. 166). A Resolugio n. O01, de 23 de janeiro de 1986 (Brasil, 1986), do ‘Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), ligado 20 Ministério do Melo Ambiente, normatizou as etapas ¢ os procedimentos em ‘obras que eram enquadradas no licenclamento ambiental, que pode ser entendido como: procedimento aimintstrativo waltzade peo drgo ambicntal competente, que pade ser faderal, estan! ou municipal, pana icenciar a tnstalac2o, ampliag, modificarioe operucio de atividades ¢ empreendimentos que uilizam recursos raburais, ou qie seiam potencialmente poluldores ow (que possam causar degradago ambientat. W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig GAVAUNIVIRTUS x ec @ © unimer.bv3.digitalpages.com.br. vy + (0 licenciamento & uma dos instrumentas de sestdo ambiental estabelecide pla Jel Pedenal n° 6938, cle 31/08/81, tambérn conheckta como Let ds Politica Nacional do Meio Ambiente. (Eepam, 2017) © Licenclamento ambiental visa minimizar danas a0 melo ambiente e prever agbes em caso de desastres relacionados 4 implan- tagdo de determinadas atividades, como minerago ¢ construgo de ferrovias e estradas. Tanto que, para isso, a Resolugio do Conama define: Art. 1° Pant efito desta Resolutio, considerase impacto arnbienta qual quer aiteragdo das propriedades fiieas, quimicas « biolégicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de snatéria ow energia resultante das atividades Weave aoe, dicta ou tndinetamente, afta: 1 a saride, a seguranca.¢ 0 bem-estar da populace; I~ as atividades sociais¢ ecomdemtcas; = a it 1v- as condigdes eskiticas esanitirias do mcio ambiente; ‘v~ qualidade dos recursos ambientais. (Brasil, 1986) Para que essa protecio se efetive, estabeleceu-se que, nos licencia mentos ambientais, seria produzida uma série de estudos (faunistico, bbotiinico, geolégico, arqueologico e socioeconémico). Os estuddos 580 enviados aos Grgios envolvidos no licenciamentoambiental -Iphan, Serviga Geolbgico do Brasil(€:PRM),¢ Fundagio Palmares, por exem- plo--, que emitem licengas para a instalagio da obra. Implantam.se, assim, estudos como 0 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) € © Relatério de Impacto Ambiental (Rima) ou Relat6rlo Ambiental ‘Simplificado (RAS)* 4 Poke ipa Ri cgi coir nar pri a ia (puetatam do patria aque. W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. Na Resolugdo Conama n. 237, de 19 de dezembro de 1997 do ‘Conama (Brasil, 1997), o Ministério do Melo Ambiente descreve as tapas do licenclamento ambiental mediante as autorizagdes obtidas ‘em estudas como o EIA-Rima: © CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso das atribuigBes ¢ comipetenclas que The sto conferidas pela Lel n° 6,938, de 31 de agosto de 1981, rerulamentadas pelo Decreten* 99.274, de 06 de jilio dle 1990, ¢ teralo em vista 0 disposto em seu Resimento interno, ¢ (Considerando a necessidade de reviso dos procedimentos e crittios wt. Tizados no licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utitizagdo do sistema de licenclamento como instrumento de gestdo ambiental, insti- ‘wide pela Politica Nacional do Meio Ambiente f.] Art, 1° Para efito desta Resolugdo so adotadas as sesuintes definiies: | Licenctamento Ambiental: procedimento admvimistrativo pelo quail (0 ego ambiencat competent licencia a localtzacaa, instalacao, ampllagdo # a openagdo de empreendimentos ¢ atividaces utilized rus de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potenciakmente poluidoras ow dasuclas que, seb qualquer Forma, possam cause degra dogo ambiental, considerano as dsposigdes las eregulamentares as normas tenicas aplicdvets wo caso, Licenga Ambiental: ao administrativo pela qual o Sega ambiental competente, estabelece as condighes,restrictex.e medidas de controle amblental que deverda wer obedecléas pelo empreendeder, pessoa fics oe juridica, para locabizar,instalar, amptiar ¢ operar empreenstirnens tos ow atividades utilizadoas dos recursos ambientas consideradas «fetiva ow potenciatmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forina, pessam causar degradacto amblental. W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. i- Estudas Ambientais: sto todos ¢ quaisquer estudos relatives aos ‘aspectos ambiental reaciomades a locallaasao, tstaagao, opera (4o camptiacao de ume atividade ou empreendimento, apesentado comma substi pana a anise da cena requerida, tas como: relat ambiental, plana e projto de controle ambiental, rlatérioamblental ‘pretiminar, diagraistice ambiental, plano de mare, phana de recupe- ago de crea degrada e anise pretiminar de risco. feud Art. 8° 0 Poder Piblice, no exerccio de sua competéncia de controle, expes ind as seguintes licemgas 1 Licenga Prévia (LP) = concedida na fase pretiminar do planefamento doempreendimento ou atiridade aprovando sua localizario e concep (fo, atestando-a viabilidade ambiental ¢ estabelecendo as requisites bndsicas © condicionanites a serene aterdides mas préximeas fases de sua implementacao; Licenga de Instalacio (L1) ~ autoriza a instalacio do empreendi mento ou atividade de aconto com as especificasbes canstantes do pplanos, programas e projetos aprovades, Incluindo as meddas de controle ambiental ¢ demals condiclonantes, da qual constltuesn motivo determinant; Licenga de Operagie (LO) - eutoriza a operagie da atividade ou ‘empreendinsenta, apés a verifica;ao do eftivo cumprimenta do que costa das licengas anterioves, com as medidas de controle ambiental ‘¢ condicionantes determainaidos para a operagdo irkgrafe nice. As Kcengas ambient podeto ser expedidas ticloda (ou sucessivamente, de acordo com a naturcza, caracteristicns ¢ fase do emprecndlmento ou ativtdade, (Brasil, 1997) W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Com as resolugies do Conama, os programas de licenciamento ambiental passaram, ento, a contar com estudos arqueoligicos que visavam ndo apenas a0 levantamento do potencial arqueoligico da rea do empreendimento, mas sobretudo a protecao deste em con- formidade com a Let n. 3:924/1961. (4.3) ‘Constirui¢Ao FEDERAL DE 1988 No contexto da redemocratizacio do pafs, a Carta Magna promul- gada em 1988 (Brasil, 1988) assegura uma maior protecio aos bens arqueol6gicos, incluindo-os como pertencentes 4 nacSo. Ou seja, todo patriménto brasileiro deve ser acessado ¢ seu usufruto pela popula: ‘$40 do pais deve ser permitido, sem restrigées ou cerceamento de seu acesso (Peretra, 20153), Conforme jé analisamos em outro momento, A Comstituigo de 1988, por sua vez, relativizou a nogao de “except. ‘alidade* dos bens tombadlos, substituindo-a em parte pelo comceto de “representatividnde” € rconbecew @ dimensao imaterial do puitrimario, A demominacio Patrimnio Historica e Artistico é substituida petotermo Patrimalnio Culfural, © conceit € assie ampllaado de maretta a inctulr a comtribuigbes dos iferemtes grupos formadores da socteatebrasieira Essa mudanga incorpora oconccito de referéncta cultural ¢ significa wa ampliacao importante dos bens passives de recomhecimenta. (Petetea, 2015a, p. 170) Somente a promulgagso da Carta Magna de 1988 defintu em seus arts. $° € 216 o que passaria a ser patrimdnia cultural W Perlodo Arcaion > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. Art, §* Todos sto iguais perante a lel, sem distingie de qualquer matw re2a,sanantindo-se aos beailetros ¢ as estrangetos residentes no Pats inviolabilidade do dircito vida, i ibendade, a igualdade, a sepuranca A propriedaae, nos termas seguintes bad XXII. qualquer eldadao € parte Fegitloa para propor ao popu lar que vise @ anular ato lesive ao patrimdnio pulblico ou de enti dade de que 0 Estado partici, & moralidade administrativa, ac ‘meio ambiente ¢ ao patrimanio histéricoe cultural, ficando 0 autor, salva comprovada méfé, tendo de custas judiclals ¢ do Orus da sacuambencta bed Art, 216, Constiquere patrimdnto cultural brasiteira 0s bens de matureza ‘materiale imaterial, tomadas individuaimnente ou em canjunto, porta: ores dereferémciaa identidade, ago, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasitera, nos quats se incluem: 1s formas de expresso, 11-68 movlos de cri, fazer eviver I-25 criagées ciemtficas, artisticase tecnokigicas: 1s obs, obfetos, documents, elficages«demals espages destinaces (bs manifestagbes artistco- cultural; « conjuntos urbanos sitios de valor histico, paisasistico, artistco, arqueeligico, pateontoigico, acoligico e clentfico. 4 1°O poder pitblice, com a colaboracio da comuridade, promoverd protegend 0 patsiménio cultural brastletm, por melo ce Imventaries, regi. tros, visiléncia, tombamento ¢ desapropriagao, ¢ de outras formas de ‘acautelarento ¢ preservasio W Perlodo Arcaion > ¥ J uninter.bv3.dig GAVAUNIVIRTUS x Ls G@ © uninter.bv3.digitalpages.com.br. bg ie #2" Cabern a adiinistracte piblica, ra forma da lel, a sestito da documentasao govermamental ¢ as providencias para franguear sua con. sulta a quantos dela necessitem. §.3°A led estabelecers incentives para a produgdo & » conhecimento de ‘bens ¢ valores cultura {84° Os danos ¢ ames ao patrimdnio cultural ero puniaos, ma fornaa da le. 5" Flcarn tornbados todos os documentos os sitios detentores de reml- niseéncias histéricas dos antises quilombes. 6° facultado aos Estados ¢ ao Distrito Federal vincular a fimdo-estadua! te Fever acuta até cco demos por certo de sa rece tibutis guida, para o financtamento de programas. e projets cultura, vedada a aplicapto desses recursos i pagumente de: 1 despesas com pessoal ¢encargs socials 1 servige da divi; I qualquer outradespesa corrente no vincwlada divetamente aos inves timentes ou ages apotades. (Brasil, 1988a) (44) PortariAs N. 07/1988 E N. 230/2002 No mesmo ano da aprovagae da Carta Magna brasileira, o entdo SPHAN promulgou a sua Portaria n. 07, de 1” de dezembro de 1988 (Brasil, 1988b), em vigor atta atualidade. Seu intuito, tendoem vista ‘© aumento do niimero de estudos arquealégicas fora do: Ambito da academia, era normatizar as formas de submisséo de projeto para a autorizacdo da emissio de Portaria de Permissto de Pesquisa W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Arqueoligica (o que veremos em detalhes no Capitulo 5). A referida legislago considerava também o aumento dos estudos arqueol6- gicos devido as obras que se avultavam pelo territério nacional ¢ indo estavarn ligadas aos arquedlogas que eram também acaclémicos. Assim, fazia-se cumprir a obrigatoriedade da protegao ao patriménio anqueolégico em conformidade & Lei 3,924/1961. (Considerando a necessidade de regulamentar os pedides de permissao ¢ utorieasito ec conmicacio previa quand do desenvolvimento de Pesan sas de campo ¢ escavayOes angucoligicas no Pats a flm de que se resgucr dent os objetos de valor clentifico ¢ cultural localizudes nessas pesqulsas Ld Art. 1° Estabelecer ox procedimentas necessirias i comunicagio prévia, ds permissoes es autorizasdes para pesquisa eescavartes arqueokigicas em sitios angueoligicos e pri-histricos prevstas na Lei n. 3924, de 26 de jut ce 1961. (Brasil, 19880) Os processos estabelecidos pela Portaria wersam nto apenas sobre as formas de s0 », mas revelam a necessidade de indicagio de Instituigdes de Guarda do Material Arqueologico que, |f nesse perfodo, iniciaram um lento aumento por meio de instituigdes particulares (para além das académicas que [i existiam ¢ exerciam as pesquisas arqueol6gicas): Art. S*Ox pedldos de permistas e autorizarito, assim coma acomumicarae prévia, devem ser dirigidos ao Secretdirio da SPHAN acompunhados das sesuintes " W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * 1+ inudicapto do nome, endereca, nacionufalade curricula come céipia das Publicagses clentificas que comprove a lomeldacte tdentco. ¥ J uninter.bv3.dig Ls G@ © uninter.bv3.digitalpages.com.br. Fgura 4.1 ~ Processo de obtenco de Portaria de Autarleagso para Escavago Arqucolgica re) Let n. 3924/1961 = Portarian. 07/1983 ~ Portarla n, 20/2002 (revogada pela IN 1, 001/2015) - Portaria Interministeriat 1, 60/2015 = Instruggo Normativa 1, OO1/201S (phan) 4 Anitise = Setoe de Arqucotogia 4 Necesita de complementaytes Aprovad + Cren/Depacar Ian (hes) t + ' Einbode eetara de Fermin © astoriacdo publica 0 DOU W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * © arquedlogo submete o projeto arqueolégico, em conform dade a Portaria n. 07/1988 para obter o licenciamento ambiental © projeto deve ser protocolado no estado em que ocorrerd a obra’ Em cidades como Rio de Janeiro ¢ Sao Paulo, hé a obrigatoriedacle de estudos arqueolégicos em casos de obras que interfiram no subsolo da urbe - respectivamente, Decreto n, 22.872, de 7 de maio de 2003 (Rio de Janeiro, 2003), © a Lei Organica do Estado de Sdo Paulo, art. 197 (Séo Paulo, 201: © Iphan analisa o projeto e, em caso de necessidade de comple- mentagia de dados ou elucidaco de ponto, hé o envio de uma missiva ao arquedlogo para que ele as provietencie. Estando o projeto em conformidade com a legislacio, o Iphan remete © projeto- analisado ao Centro Nacional de Arqueologia (CNA), que, a0 verifici-lo, emite a Portaria de Autorizacso de Pesquisa, publicando-a no Didrlo Oficial da Uniao, © Iphan, que recebeu o projeto, remete cépia da portaria a0 arquedilogo. © arquediogo implanta © projeto. Ao término, produz um rela- trio final, que € enviado ao Iphan para aprovaco (trataremos deste ponte mals claramente no Capitulo 5), . Caso seja necessirio, o Iphan pode solicitar complementagdes ou esclarecimentos acerca do relatorio final. Aprovado o relatério, 0 Iphan emite a licenca necessdria ao: ‘empreendedor, conforme a natureza da obra. Em caso de obwas que ocereacn em mats de um est, pct ceve ser sabato a Contre Nacional de Argueolagia (CNA (OCNA lacie, mo agama do ipa, beta 20 Departament do Patrons Material (DEAPNO, com sede er Brstta (DF), W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * 4.6) PoRTARIA INTERMINISTERIAL N. 060/2015 E InstrucAo Normativa n. 001/2015 No ano de 2015, duas novas legislagdes alteraram as formas de ‘obtengio de Portaria de Autorizagio de Pesquisa Arqueokigica. & de extrema importincla destacar que, apesar da austneia Inicial de bibliografias sobre essastleis, hd umn consenso na Sociedade Brasileira de Arqueologta (SAB)* - organizago que aglutina os arquesiogos acerca de pesquisa, publicagao, legislagao-e reconhecimento da pro- ssi no pais— de que essas novas diretrizes tenderam tanto a preju dicar a pesquisa arqueolégica quanto a colocar em tisco 0 patrim6nio anqueolégico nacional. Falamos da Portaria Interministerial n. 60, de 24 de marco de 2015 (Brasil, 2015b), eda Instruco Normativa n, O01, de 25 de margo de 2015 (Brasil, 20150). A primetra, congregando varios ministérios \¢ 6rgios que se relacionam ao licenclamento ambiental soba cunha do Ministério do Meio Ambiente, estabelece as novas diretrizes de formulagao da autorizagio desse tipo de licenga, o que atualiza ¢ renova as resolug6es do Conama {é estudadas, Nela lé-se que cabe A arqueologia: Estudos sobre 0 Pitrimlrdo Mistrico¢ Artistice Nactonal: Sob a respon sabildade do LPHAN, os estudes devem localiza, mapear e caracteriza 4s dreas de valor histirco, arqucobighce, cultural ¢ puisaystica ma drew de influéncia diveta da atividace ou do emnprecndtimento, come apresen topo de propostus de rexpate, quancto for o-caso, coma base ras ciretriees (0 acess & pega de AB dis peo link: chaqp/fw: saben. b> W Perlodo Arcaion > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. definkdas pelo Instituto, Moda she TR cont o contesidy rniime se tis estudos consttuem 0 Anexo UD desta Portaria [..). Avaifarinterfertncias da atividade ou empreencimento mo interim. bio comunitario entre grupos que habitam terns descontinuas & no acesco a lugares vepresentativas (do ponto de vista arqueotogico, cos smoldgic, rita etc) Avalfarimpactas da atfvidade ow empreeniimento ma preserva de patrimanio ctno-bistirico ¢ argueoligico indigena: L adicagia, cate Maj, don sti angucchileon site content semi cbncias hstoricas dos antigos guilambos, assim como de outros sitios derades relevantes pelo grep: bod I~ Para avallacie le impact aos Bens anqucoliglas, confirrne classi smpreendimento estabelecida pelo IPHAN, a saber: a. Relatério de Acompanizamento Arqucolésico, ou bb. Relativio de Avallacto de impacto no Patvimanio Anueotgica; ow « Relatério de Avaliag de Potencial de Impacto ao Patriménio Arqucokigica, la Relatério de Avaliagao de Impacto aos Bens Culturais Tombados, Valorados Registrades, 0 relat deverd conte: L_localizaytio ¢ delimitarte georreerenciada dos bens cultunais materia |e avallagde da siuagto do patria rmatertal existent: 1 Jocalizagao georrferenciada dos bens cuitwrais imateriais aca telados ¢ cormuniidades a eles assaciadas: W Perlodo Arcaion > ¥ J uninter.bv3.dig ec c @ AVAUNIVIRTUS © uninter.bv3.digitalpages.com.br. 1v, caracterizagdo, contextualizagda ¢ avaliagdoddasitwacto do patr- ‘mania imateral acautetact, assim come das bens cuituras ele sassociados \. avullapdo das ameoga ou impactas sabe o patrimdnlo material «¢ tmateria!aeautelado; ‘VL proposva de melas para a preservosdoe satiagucnda do patr- ‘ménio materiale material acuutetado; “Vit proposigo de medidas para controlar e mitigar os impacts pro vacados pelo empreendiimenta; ‘vat proposicdo de Profeto Internado de Eaucario Patrinorial 0 Relat6ria de Acompanhamento Arqueoiégice devers, necessaria mente, ser precedido peta execucao do Acompanharmento Anqueolégico «te pana ser aprowado plo IPHAN, deve ser precede pela subs so dos seguintes documento. Terme de Compromisse de Empreendeder-TCE, conforme modela do IPHAN: Terme de Gompromisse do Anguetloso Coordenador-TCA, com {forme modelo do PHA ‘curricula do Arquedloge Coondenader, de Anguettogo Coondenader de Campo, 3 hourver, ¢ da equlpe teenlcamente habititada, a ser ‘evalinda confarme ato especifico do 1PHTAN cronograma detalhado de execute de obras gue impliquern em revolvimento de soo, imetodolegte para vealizagdo de Acompanhamente Arqueoligico ‘compativel com 0 incito 1V; ¢ ‘cromagrama de apresentagio de Relatérios Parcials ¢ Final do Acompanhamenta Arqueokigica, No caso de aprovagao, 0 PHAN publicard Portaria no Didrio Oficial da Unido eutorizando 0 W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Anguettogo Courdenadora cxccutar om campo, a Acorpuniamend Arquooiigleo, (Brasil, 2015b) A portaria estabelece « Termo de Compramisso do Empreendedar (TCE), um compromisso assinado entre o Iphan.e oempreendedor da ‘obra paraa realizagio da pesquisa arqueoligica. Esse TCE foi explici tado ma Instrugo Normativa n, 01/2015 do Iphan, publicada logo ‘em seguida a Portaria Interministerial Conforme nova normativa, ¢ governo elegeu uma série de tipos ou classificagdes de empreendimentos ligados ao licenctamento ambiental ¢ fundamentow que o empreendedor deve realizar untia consulta prévia ao Iphan para que este Informe a necessidade ou no de projeto arquealigico, Caso seja necessirlo, o Grgio emite 0 TEC para que este submeta projeto de pesquisa anqueotogico, defi- nido pelo Iphan também em tipo pela normativa, para a emissio de permissao de pesquisa. Na Figura 4.2, podemos ver esse fluxo de forma clara ¢ didatica. Tanto.a SAB quanto muitos arquedlogos tem criticado essa nova forma de obtengao de portaria de pesquisa, pois, em primeira lugar, retira iniclalmente © arqueélogo do contato com o Iphan (que se ‘di apenas ap6s a assinatura do TCE). Secundariamente, mas nao menos importante, ao revogar a Portaria n. 230/202, eré-se que © patrimonio arqueologico esteja ameagado de destruiga0 por mas condutas das empreendedores na elaboragéo da consulta ao Iphan para a definigao da necessidade de estudos arqueologicos. A quem '¢ interessar indicamos acessar a normativa ¢ é-la em sua integra no site do proprio Iphan ou mesmo da SAB, pols a avallag¥o desta pelos anquedlogos est constantemente sendo atualizada W Perlodo Arcaion > ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Figura 4.2 - Fluxograma do funcionamento da Instrucso Normativa 1n, 001/201 do Iphan para os trabalhos arqueclogicos Projeto de arqucologia (enquadrando Empreendimento proposte ccatas pnts eae 7 — | pe niome Emissio do TCE e TCAG (Termo de eto ao Ipnan para emiseto. Compromisse da Empreendedot ‘de Portaria € Termo de Compromisso to Arquesiogo Coordenodor) Anéilise de { ‘como ocorrla ‘Chapala Iphan anteriormente | Figura 4.1) Art. 9° Instado pelo Gngéo- ambiental com- Implementagao do projeto ‘petenite a se manifestar, o [PHAN, pot de arqueclogia ‘melo das Superintendéncias Estas ou 4 Sede Nacional, determinard a abertura { 4 procesto administrativojoeaszo em que sero sdotadat 38 seguintes prowidincat: Acompanbamento da obra 5 daliicen thse cade egpenaeeal ok Educagio Fatrimontal anillge da FCA ou dovemeniocquivalerne, _S30¥2guarda ou Retsio de 1 deinigao do enguadramsento do Sitio Arqueotpios (ator em quanto ao componente eee arqueokigicn, | conforme prevstos no art. 11; IML priorizagao da irea do empreendi- Envio do eater final mento para o Empreendedor, quando ‘para o Iphan (aval lagéo) outer; © | 1 =detinigto do Termo de Referéncia [Especiico ~TRE aplicdvel ao Andlise no tpban emprocndimentn, Trio de dacumento liberando a obra quanto a arq W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * (4.7) ‘CONTEXTO DA ARQUEOLOGIA PELAS CARTAS PATRIMONIAIS DA UNESCO: A protesio, o estudo ea preservagao do pateiménio cultural também ‘ocorre em nivel mundial, por meio do que conhecemos como cartas patrimoniais. Elas S30 especialmente elaboradas pela Organizagao das NagOes Unidas para a Educaco,a Cigncia ea Cultura (Unesco) ¢ por ‘outros érgios destinados & protege da cultura em eventos ¢ tornam ‘05 paises que participam de sua aprovagdo signatirios de determina- das posigdes quanto.ao tema patriménio, Aqui destacaremos as cartas referentes ao patrimdnio arqueolbgico E valido destacar que, para 0 direito internacional, essas-cartas [passam a ter valor apenas quando validadas ou absorvidas por leis nacionais (Rezek, 2011), No Quadro 4.1, apresentamos as que se referem aos bens arqueologicos e a relagio de validagao nacional’. ‘Conforme observamos a seguir, ao crurar as datas dos eventos € a legislagSo equivalente, o Brasil tem se destacado na antecipag3o ou no pareamento das diretrizes internacionais em suas leis de prote3o a0 patriménio, 9 Pars oacess a todas as cartas patromomias de que 0 Brasil signatia ndicames 9 cess. a ste do pha: ¥ J uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * académicos, em artigos cientificos ¢ na veiculagdo, por parte da midia, ‘das pesquisas e dos arquedlogos envolvidos", que t@m nesta um canal de acesso direto entre sua pesquisa e a populagio. © conhecimento a aplicabilidade desse conjunto de leis tam- bém sio importantes na medida em que profissionais de diversas areas compdem uma equine arqueologica ¢ devem estar atentes a0 que € felto antes da etapa de escavagio, em campo eapés 0 término das intervenes em solo, compreendendo, assim, quea arqueologia envolve muito mais que o mero fato de escavar e recolher objetos, ‘uma vez que € uma forma de valorizacdo do patriménio nacional ‘um direito de todos os cidadios brasileiro. Atividades de autoavaliagio 1. Qual das sentengas a seguir exprime melhor a ideia de patrimonio? a) Conjunto de bens de valor apenas econdmico, b) Conjunto de bens que tém relevancia material ¢ imaterial para determinado grupo. 6} Conjunto de obras de arte. @) Conjunto de bens de valor apenas imaterial. (© primeiro 6rgio crlado pelo governo para proteco da meméria e do patriménio nacional foi a) O Iphan, b) 0 Sphan. ©) OIMN. d) O Inepac 10 Uw bor exemplo do gu fatemos pode ser encwatrads em Villa (2014) OF © comm 23:38 € G@ © uninter.bv3.digitalpages.com.br. wv Se O trabalho do arquedlogo em campo, no laboratério e no gabinete W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * Neste capitulo, analisaremos como o arquedlogo realiza seu trabe- Iho de pesquisa e interpretagao do passado ¢ de sua cultura material, mostrando que a equipe que o auxilia € formada por pesquisadores de diversas dreas. Como j4 verificamos nos capitulos anteriores, a arqueologia ¢ Interdisciplinar, 0 que faz com que a pesquisa tenha o mesma tom duciéncia. Assim, 4reas como hist6ria, biologia, quimica, fisica, bota- nica € palinologia, entre outras, compéem o escopo de um projeto de pesquisa -seja ele acaciémico, seja de arqueologia preventiva em ‘obra (aquela lmplantada em empreendimentos urbanos de edifica ‘ges oem licenciamentos ambientais) 6.1) ELai BORACAO DE PROJETOS ARQUEOLOGICOS ‘Como jf vimos no Capitulo 4, todo projeto em arqueologia deve ser autorizado pelo governo brasileiro, por se tratar de um bem sob protegtio da Unido. A Portaria m. 07, de 1° de dezembro de 1988 (Brasil, 19886), ea Portaria Interministerial n. 0001, de 25 de margo de 2015 (Brasil, 2015a), nos indicam 0 pontos para essa ago. No ‘Quadro 5.1, observamos os itens que devem compor a solicitagdo © 0 que cada um deve contemplar tendo como base o$ pontos em ‘comum entre as duas legislag6es E interessante dividirmos didatica e metodologicamente a elabo- rago do projeto em trés fases: 1°, Elaboragio, submissio e aprovagso do projeto, 2°, Atividades de campo - prospecgdes e escavagbes de sitios arqueoligicos. W Periodo Arcaicn = * J uninterbw3.digt) X "Gj AVAUNIVIRTUS € CG © uninterbv3.digitalpages.com.br/use ve \* 3%, Atividades pés-campo ou de laboratério - envolvem a curado- Fla do material obtido com o projeto (higienizagao, catalogaa0, numeracdo ¢ interpretagio arqueoligica dos achados). E bom frisar que esses pontos sie avaliados pelo Instituto do Patriménio Histérico ¢ Artistico Nacional(Iphan) para a emissio da Permissao-e, quando necessirio, complementagGes so solicitadas 20 arquediogo coordenadar do projeto. A normatizago dos projetos, visa, sobretudo, & maior rapidez na andlise ¢ publicagto da Portaria pelo Centro Nacional de Arqueologia (CNA). ‘Quadeo 5.1 — lens 4 setem contemplados em um projeto de arqueologla ‘obtengao de Portaria de Autocizacdo pelo Iphan com base na legislacdo vigente Corts oo Levantamento ‘Visa nto apenas contextualizara | Cabe 40 historla etno-histéricoe do. | presenga-de sitios arqueoldgicosna | dor ou a0 arqued- patriménioima- | irea a ser impectada pela obra, mas | logo.a producto terial da local de | também elaborar um histérico que | deste ponta, empreendimento | indique as formas.e grupas que rea- lizaram a ocupagio daqueles espacos 20 longo de sua extsténcta, Destaca ainda bens tombados ¢ locais de | referincia cultural que podem | ser ndicativos para a presenga ou auusncia de bers arqueotgicos. Georreferen: ‘Tem por finalidade informar iio | Realizade par clamemo de local | sperus sdetimmato da diende | geégratos ou esquisaem forms de mapascom | geoprocessado- | escalas e legendas, mas indicar tie | res com a utiliza: vidades como prowpecgiot, er | glade progiamas denciaga0* ou resgate de sitios especificos ou Ins: pecetio* ou da loca- | arqueolégicos* na dren pesquisada. | trumentos como Haugio de sition | oreodalita owa arqueologicos estagao total (aaz > W Perioda Arcaicn ¥ (J uninterbv3.digit) x "C) AVAUNIVIRTUS € CG © uninterbv3.digitalpages.com.br/use vy + ey [coe Descriggo da meto- | Apresenta ao Iphan quais sa0.08 | Arquedtogo. ddologia adotada em. | aspectos metodoldgicos arqueo- campo ogicose histOrieos adotados pela pesquisa, LListagem dos objeti- | Elemca quais sho 0s objetivos aserem | Arquedlogo. vos da pesquisa | Implantsdos.e sleangados pela pesquisa | Cromograma das | Informa e periodoe as atividades | Arquodlogoe atividades 2 serem | que serto realizadas'na pesquisa, | membros da desenvolvidas bem como a previsio deelaboraga0. | equipe. esubmisso de relatrios parcals ow finals do projetot Informacio acer- | indica a0 Iphan comoo materiat | Arquedlogoe ‘ea do uso futuro do | arqueokigico recuperado seréutilica- | membros da material arqueolG- | do naelaboraga0 de artigos ow livros | equipe. pico para a divulga- | que disponibilizem os coahectmen: ‘sho clentifica | tos cbtides com a pesquisa Indieagao da Informa 30 Iphan qual sera ains- | Arquadogo Instituigio de tituigdo que seré.a fel depositéria | membros da da do Material | do material arqueclégico para asua | equips Arqueolégico’ protey, por se tratar de bem da Uniao, Informa ao Iplan quem so 0s mem- | Arquedtogo € que compoe a pes. | bros que realizardo apesquiss, em | membros da quisa, em especial o | especial, quais anqueslogos coonde- | equipe arqueélogo coorde- | nardo a pesquisa, erm conformid nador do projeta e 0 | de logisiaeio vigente, que exige anquedlogo de cam | esse proftesional na coordenscio das pa, alm dos demas | atividades. envalvicios A listagem deve ser segutda de curr- culo de toda aequipe ede copia de documentos comprobatSros de titu- os acaé mica, W Perioda Arcaicn ¥ J uninterby3.digit) x" AVAUNIVIRTUS € CG © uninterbv3.digitalpages.com.br/ use * Projeto de educaggo | Entendida camo uma median que | Arquediogoe patrimonia! visa.ao acesso aos resultados da pes- | pedagogo, que qquisa, a educagio patrimonial tem a | poderé atuar na fungao de sensibilizar « populagao | claboracao das doentornoda pesquisa eos mem- | metodologias de | bros da empresa que realizns cbre | educaro-e divul- | sobre a importancia da preserracao. | gacto.dos saberes do patrimOnio arqueokigico. para as popula ‘bes do entorno 2 obra ou mes mo do rmunici- pioem que esta se instala * Veremos estes pontos a0 longo dette capitulo. Como acabamos de ver no Quadro 5.1, o projeta que origina a Portaria de Autorizacio de Pesquisa Arqueolégica segue uma se- squéncia de informagtes que subsidiam o Iphan na avaliago do pro- eto ~suas viabilidades, corregdes ou adequagbes a serem contempla- das no projeto - ¢ tamhém o normatizam, de forma que, em todo © Brasil, o pedido seja realizado de forma unificada’. Apésa publicagio da Portarla de Autorizagto, o arquedlogo e sua ‘equipe podem iniciar suas atividades em campo. Salfenta-se que essa ‘equipe é proibida pela legislacao brasileira de comegar suas atividades antes da emissio da portaria, pois esta € um ato permissionério do governo quanto ao patrimOnio arqueol6gico sob a tutela da Unido. tueressantesallentar que em saperintenéncas do phon, come ase Mins Gea ‘hd ama normative itcona que clenca ao anquccoge © que desemvoiver em cada pot, 2 que dlminal a necensidade de carreples/complementssBese, ax mesmo ten, nor matoa 0s pedis arpa mete. W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * PPara.casos em que as atividades principiem antes da portaria, existem [penalidades a0 arquedlogo ea sua equipe, especialmente se houver dano a0 patriminio arqueolégico. A seguit veremasas principals atividades realizadas em campo ¢ que sto liberadas com aaprovacio do projeto. £ bom frisar que cada projeto tem sua especificidade e que, por isso, nem tados os pontos listados so utilizados em uma pesquisa. Contudo, é de extrema vvalia que conhecamos essas metodologias de estudo arqueal6gico ‘em campo ¢ no laboratério. (5.2) PROSPECCAO E QUADRICULAMENTO DA AREA? CONCEITOS E METODOLOGIAS A prospec consiste, comforme Pogolari (2009 p. 130), na Intervene de pequen porte no exist angueclixico [que] abrangecoletas cantroladas, retificagao de barrancos e ravinamentos, diversas tlpos de sondagens nos reystros argueokéicos e decapagem de superfcies restritas A prospec proporctona & detallarnenito atnbienital da mitre ack Sica ecoletas amostraissistemticas, permitindo a avaliagio da extensdo dos estes argues erm subsuprfite, A prospeccio, também denominada sondagem ou poco teste (Souza, 1997), consiste na aplicasdo de uma matha arqueokigica ‘que contemple toda a rea da pesquisa. Essa malha, que varia de acardo com a natureza do projeto, ¢ aplicada tornando a érea uma ‘série de quadrantes com uma distincia m{nima entre sl. A finalldade € facilitar 0 trabalho do arqueélogo na identificacto de materiais ¢, 0 mesmo tempo, concentrat 0s trabalhos naqueles que apresentam W Perioda Arcaicn ¥ J uninterby3.digit) x" AVAUNIVIRTUS € CG © uninterbv3.digitalpages.com.br. * maior quantidade de material arqueolgico. Aplica-se, assim, oque a ‘escola processualista denomina modelo estatistic, Ao se ctlarem, por exemplo, 25 prospecgbes ¢, destas, 18 ou 20 apresentarem material -ol6gico, tem-se a certeza de que toda a drea fol contemplaca .e que estatisticamente trabalha-se nos setores onde hé mais mate- nial arqueoldgico, A Figura S.1 apresenta um exemplo de malha de prospecgao. [Figura 5.1 - Exemplo de mala de prospeegho aplieada 8 um projeto 4 comum na arqueotogia brastietra que as prospeoydes sejam realizadas com trado: manual (denominado tamtyém de boca de labo), tendo como profundidade alcangavel a medida de 1 m até 1,50 m {dependendo-do cabo que o trado teniha). Apés as ;prospecedes rea- Iizadas, quando se tem a certeza dos pontos em que ha material arqueolbgico, implantam-se as quadras de escavagio. Estas, al como W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS ec G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * 1s prospecrées, so uma organizagio espacial que setoriza o sitioem ‘quadriculas a serem trabalhadas, Suas medidas sao varlaveis, sendo ‘comum que se adote o esquema de 1m x 1m ou 2 m>x 2m. Como 4 afirmamos, Isso depende do campo ¢ da especificidade da pes- \quisa. Outro ponto de destaque para essa metodologia ¢ a utilizacao de programas de geoprocessamento para a demarcagao-dos pontos serem prospectados, 0 que leva a necessidade de conhecimentos ou da presenca de um geoprocessador na equipe de pesquisa Destacamos que 0 quadriculamento nao consiste em etapa ape- nas posterior a prospeceo, mas pode ser implantada sem ela ouem eonjunto com ela. O que define sua aplicabiliade € a intengio da pesquisa. Contudo, o método de quadriculamento.ou de grids (termo ‘em inglés que define a metodologia organizando as quadriculas de forma alfanumérica) é um meio de trabalho que restringe grandes dreas a espagos minimos de escavagaio que tm representatividade no todo da dea em questo. (© quadriculamento permite um trabatho mais acurado na érea ‘em questio e deve ser associado.a uma ficha de campo que permita a dos dados dos loct estuslados. Essa ficha de campo, a base para a composigo do relatdrlo de campo, em que constam todas as informages nfo apenas da escavacio, mas também dos materials recuperados e suas relagées. A Figura 5.2 apresenta um exemplo de squadriculamento de uma drea para pesquisa arqueoldgica. ‘Em arquecogie, eixarios 0 UTM.- Univers Transverse de Mercator, sstera de coordomadas por satis madiantc aparelhos de GPS bascade nn plano cartesiano(eize 1,7) # we sao metro (rm) smo rei de demarcar espa do i, em comma para Inca « pig le estrtunas ow de materats ary W Periodo Arcaica YG uninterbv3digi x TE} AVAUNIVIRTUS € CG © uninterbv3.digitalpages.com.br/users/p yy le gum 5.2 ~ Exemplo de grid alfarumérico em uma escevacso anqueol6gica ‘Ap6s as prospeccbes, ¢ possivel verificar a presenga de um sitio arqueoldgico = “local onde se encontram restos de cultura passada” (Souza, 1997, p. 117) e iniclam-se os estudos para a compreensio dos ‘comportamentos pretéritos ali presentes. Na Figura 5.3, vemos um ‘exemplo de prospecgio com utllizagao do trado. (148 ) W Periodo Arcaicn = * J uninterbw3.digt) X "Gj AVAUNIVIRTUS € CG © uninterbv3.digitalpages.com.br/use ve \* Figura 5.3 ~ Exemplo de prospeceto com trado manual (5.3) DELIMITACAO DE S{TIOS ARQUEOLOGICOS E SUA ESCAVACAO Para uma escavago de sitlo, devemos levar em consideragio uma série de ages que visem nao somente & compreensio da potenciali- dade de pesquisa arqueoldgica, mas de como escavar esses materiais Nesse process, devemos considerar uma excavagio-total do sitio, © que definimes, em outro momento, como operarea, que ¢ um: modelo de escaraje [..] baseado na suposieie da escaarto de amplas superficies de terreno, Esta metodologia de esc vaso considera que “toda ‘a escavaplo devia aspiear d conde de escavagio total” (BARKER, 1982, (68), tendo esta ideia dois significadas complementares:primeiro, que toda W Perioda Arcaicn % ¥ @ uninter.bv3.dig @ AVAUNIVIRTUS G@ © uninterbv3.digitalpages.com.br. * a estar argucoligica ever ser escavada, nto recorrendo a secyes ou trinchelnas de ammosteagem (BARKER, 1982); segundo, que tod « crea dda estacao deveria ser escrmaa, ou sca, que nto deveriam ser deixadas Interrupts flsicas ro Interior da drew escavada, pols rea geral, “um sitio-arqucokogico ¢ provaveimnentetrés vezes mais commplexo em plano do que parece Se em sexi” (LLORET, 1997:154),(Petcita, 2015b, p, 29) ‘Ao mesmo tempo, para fins de estuclos futuros por outros pesqui- sadores, é interessante que sefa selecionada uma das dreas do sitio que deve ser deixada como bloco testemunho, nao sendo escavada pelo projeto naquele momento’. Ao expor urna metodologia modelo para campo, as Hicies estratignificas [as camadas deposicionais em ue se pode obser ar nto apenas as fases de ocupagto, mas suas formas} deinen des clernentos inctuides no interior dia drea escarada, passando a estatigra ser representada cummulatioamente, através da represemtagio gn das interfaces dos diferentes estratos {LLORET, 1997; 156). Ou seja, se observarrnos uum perfil estratignifico obteremos uma interpreta des periods de ocupagdo, bem como das pubticas socals gue eles poder registrar de forma ciemulaciva ov sommacéka no tempo-exparo- em que & Toca for ccupado. (Pereira, 2015b, p.29) A Figura A, dispontvel na segao“Anexos", apresenta um exemplo de estratigrafia e sua interpretago, seguida da Figura $4, que apre- senta um croqui - desenho do perfil estratigrdfico multo utilizade estacamas qu exists eutnas formas de ecavasio, mas adetamos para cba «mais recorvente na argucolagia. Pans a compreensde de autres ténicas, a obra Manual de aarqueologla pré-istlea 2012), de Naw Ferra Bich, «um bor exemple

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