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SONIA MARIA GUEDES GONDIM ILKA DIAS BICHARA Organizadoras A Psicologia e os desafios do mundo contempordneo livro de conferéncias CONPSI 2015 Salvador UFBA 2015 MOBILIDADES E INTERCULTURALIDADES NA CONTEMPORANEIDADE: DESAFIOS PARA A PSICOLOGIA E A INSERGAO SOCIAL! Natalia Ramos Inrropugio A mobilidade é considerada simbolo da contemporaneidade e da modernidade, bem como um fator essencial do desenvolvimento hu. mano. (PNUD, 2004) A globalizagao, a urbanizagao e a mobilidade ‘as populades aumentaram as deslocagées e as mudancas espaciais ‘erritoriais ¢ identitérias e os contactos interculturais, contribuindo Para a multiculturalidade ¢ transnacionalidade das sociedades, para esbater as fronteiras e para a diversidade e heterogencidade cultural e ‘dentitaria, Nas iitimas décadas do século XX, e inicio do século XXI, as questdes da mobilidade, da gestio da diversidade cultural e da co. municaeao e relacdes interculturais vém ganhando relevo nos varios setores da sociedade e em diferentes dominios cie ‘08, nomeada- mente da Psicologia, onde constituem um dos campos mais impor- antes em varias areas psicolégicas. I © oportunidades tanto aos migrantes, is minorias étnico-culturais e & Sociedade em geral, como as politicas puiblicas e aos profissionais que trabalham nos diferentes setores de atividade, nomeadamente aos psi- célogos, constituindo preocupacao de muitos Estados e organismos, {sis como: a Organizagéo das Nag6es Unidas (ONU, 2006); a Org nizacio das Nagdes Unidas para a Educagio, a Ciéncia e a Cultura (UNESCO, 2001, 2005, 2007); a Organizagao paraa Jooperagao e De- ‘conémico (OCDE, 2012); 0 Conselho da Europa (CE, 2001); 0 Alto Comissariado P; senvolvimento a Imigragao e Didlogo Intercultural 267 268 DONTEMPORANEIDADE SE ISTERCULT (ACIDI, 2010); a Organizagio Mundial de Saiide, 1983); a Associagio Americana de Psicologia (APA, 2003). A multiculturalidade, no sentido da coexisténcia numa mesma sociedade de varias culturas e etnias distintas, e o contacto intercultu- ral, ou seja, 0 encontro de pessoas e de grupos diferentes do ponto de vista cultural, étnico ou linguistico, so elementos que vém caracteri- zando cada vez mais 0 tecido educacional, social ¢ profissional atual, A diversidade cultural integra, cada vez, mais, todos os dominios da esfera publica, e esta diversidade deverd ser considerada, como des- taca a UNESCO (2001) na Declaragito Universal sobre a Diversidade Cultural, artigo 3, “uma das fontes de desenvolvimento, entendido nao s6 como crescimento econémico, mas, também, como meio de acesso a uma existéncia intelectual, afetiva, moral e espiritual satisfatéria’, A valorizacao das trocas culturais e comerciais, as redes trans nacionais, as novas formas de mobilidade e as novas configuragdes migratérias tém contribuido para o aumento da multi/intercultura- lidade, dos contactos interculturais e da complexidade da sociedade contemporanea e das relagées interpessoais ¢ intergrupai No que diz respeito 4 migragdo, o desfasamento crescente entre niveis de'desen- volvimento e entre estruturas demogréficas de paises ricos e pobres, as catdstrofes ambientais, os conflitos étnic s, religiosos, politicos e armados, a globalizacao, a pobreza, o desejo de concretizar sonhos, de alcancar autonomia e independéncia financeira ¢ o desenvolvimento de redes baseadas nos contatos histéricos, familiares e culturais, tam gerado um numero cada vez maior de individuos e grupos em mobili- dade, de migrantes ¢ refugiados, Estes fluxos migratérios e intercultu- rais impregnam a vida quotidiana e as relagées entre 0s individuos, os grupos, 0s Estados e as culturas, ¢ originam modificagdes nos paises de partida, e de chegada, constituindo também uma realidade cultu- ral, psicossocial, educacional, laboral, sanitaria, politica e juridica no contexto mundial e europeu. As problematicas do dominio intercultural implicam aprender a viver, a comunicar ea trabalhar com o Outro, exigem competéncias de cariz psicolégico, social, cultural, pedagégico ¢ comunicacional, baseadas na experiéncia da alteridade e da diversidade e no equilibrio entre 0 universal e 0 singular. © encontro intercultural constréi-se a partir das relagdes subjetivas que cada um desenvolve com a(s) sua(s) cultura(s), mas também a partir das interagdes entre os individuos e os grupos. Como destacam ‘Touraine (1997) e Wiewiorka (1997) a cultu- ra est no centro do que une e divide as sociedades contemporaneas, podendo estar na origem de diversos tipos de conflitos. Nesse sentido, o Conselho da Europa (2001) acentua a necessida- de de evitar os perigos e conflitos que podem resultar da marginaliza- ¢4o daqueles que nao possuem competéncias para viverem e comuni- carem num mundo pluricultural, interativo e global. Torna-se neces- sario aprender a viver juntos, iguais e diferentes, conciliando a unidade ea diversidade dos individuos e das culturas, reconhecendo ao mesmo tempo, o pluralismo, o particularismo e o universalismo com a defe- sa de valores e direitos humanos universais. (Touraine, 1997; Unesco, 2005, 2007) Do mesmo modo, a Associagiio Americana de Psicologia salienta a importancia de integrar as questées da multi/intercultura- lidade e da diversidade na educagio, formagio, investigagao, pritica profissional e mudanga organizacional, assim como a necessidade de produzir bases teéric: -conceptuais ¢ investigagao empirica relevante neste dominio, tanto em Psicologia como em disciplinas relacionadas, que justifiquem e fornecam suporte as orientagdes ¢ intervengdes no Ambito da interculturalidade. (APA, 2003) Contudo, nao é s6 importante desenvolver competéncias que permitem aos individuos de ultrapassar as culdades de interagir e comunicar em contexto intercultural, mas, sobretudo, é necessario compreender os processos ¢ refletir nas competéncias ¢ atitudes que dade cultural e das suas contradigdes, complexidades e conflitualidades. permitem uma melhor vivéncia e gestdo da experiéncia da diver 269 Iremos debrucar-nos sobre algumas destas questaes que se colo- cam na contemporaneidade, analisando igualmente processos, compe- téncias, estratégias e politicas que nao s6 ajudem os profissionais, prin- cipalmente psicdlogos que trabalham com migrantes e minorias étnico- culturais, a melhor intervirem neste dominio, como também promo- vam a coabitacao ea comunicagao em contexto de diversidade cultural e favorecam o acolhimento, desenvolvimento, bem-estar e insergao social de todos, qualquer que seja a sua origem e identidade cultural. PARADIGMA INTERCUL E DINAMICAS 'S, PROCESSOS A gestao da mobilidade e da multi interculturalidade implicam novo paradigma e reposicionamento metodolégico, epistemoldgico € ético (Ramos, 2010, 2011, 2012) ao nivel da intervengao, pesquisa formagio, assente em trés vertentes estruturantes: EMPORANEIDADE so definidas, nao como lementos objectivos com caricterestético, mas como, entidades, Conceptual ~ As diferengas culturai dinamicas, subjetivas e interacti A abordage sara diversidade cultural, ndo a partir das culturas consideradas 5 que se dio sentido miituo. n intercultural constitui uma outra forma de anali- como entidades independentes homogéneas, mas a partir de processos e de interacgdes, ‘Metodolégica ~ A abordagem intercultural define-se como glo- bal, plural, multidimensional e interdisciplinar, de modo a dar conta das dinamicas e da complexidade dos fendmenos soci | e | de modo a evitar os processos de categorizacio, Trata-se para o investigador/interveniente de adquirir familiaridade com o uni: verso social sobre o qual trabatha, de compreender as represen- tagdes que o animam e de se interrogar de forma reflexiva, no | sobre a sua prépria cultura, Buica ~ A perspectiva intercultural tem como objectivo o conhe cimento das culturas, mas sobretudo, a relagio entre elas e a0 Outro, implicando uma atitude de descentragio (Piaget, 1970). Envolve uma reflexdo sobre a forma de respeitar a diversidade individual, social e cultural, de conciliar 0 universal e o parti cular, o global ¢ 6 local, de adaptagio & complexidade estrutural uma sociedade e & sua conflitualidade, Qualquer que seja o dominio de intervencao, os profissionais, em particular os psicélogos, sao confrontados cada vez mais na sua pré- tica com pessoas que nascem e crescem entre culturas diferentes, que vivem em contextos de mobilidade e interculturalidade. Esta situagao interpela os psicdlogos a interrogarem-se sobre: influéncia da dimen- sio cultural no individuo; a unidade e diversidade do ser humano ea importancia da universalidade e/ou da relatividade na estruturacao psiquica; a relagio com a alteridade; a complexidade dos processos de aculturagao psicolégica resultantes do encontro intercultural; e a identificagao dos mecanismos psicolégicos mobilizados pelos indi- viduos para gerir a ansiedade e estresse originados pela mudanga e adaptacao cultural Alguns especialistas e organismos nacionais e internacionais tém vindo a acentuar igualmente a necessidade de os profissionais dos di- ferentes dominios estarem atentos ao impacto dos seus esteredtipos, preconceitos ¢ comportamentos discriminatérios na comunicagao e na intervengio, assim como a de terem em conta a diversidade indivi- dual, social ¢ cultural dos seus utentes nas suas praticas profissionais e de adquirirem formagao adequada no ambito intercultural. (APA, 2003; CE, 2001; Paillard, 2011; Ramos, 2004, 2007a, 2008a, 2011; Stuart, 2004; Wade, 2005) Com efeito, existe atualmente uma crescente preocupagio com 0 facto de os ervigos e profissionais que acolhem e prestam cuidados a in- dividuos ¢ grupos culturalmente diferentes encontrarem cada ver mais dificuldades face & diversidade cultural e nao possuirem competéncias 2 hreRCULTURAUOADES Para responder is necessidades especificas destes. Neste sentido, acen- tua-se a necessidade de a formagao dos profissionais, nomeadamente Psic6logos, se preocupar em preparar estes para gerirem as problemati- cas interculturais, ter em conta a relac3o entre cultura e psiquismo, as- sim como a importancia da cultura e das mudangas culturais na com. Preensio do funcionamento do individuo e nas suas reorganizagoes Psiquicas, identitarias e sociais. Esta formacao deverd proporcionar um nivel de anilise e de intervencao que tenha em conta a singularidade do individuo, mas inserido num ou mais contextos culturais, os quais reen m para questdes dle pertenga e identidade plurais e complexas Alguns autores reconhecem a neces idade da implementacao de pro- gramas de formagio que incluam contetidos culturais e desenvolvam competéncias interculturais. (Paillard, 201 1; Ramos, 2001, 2004, 2008a, 2008b, 2011, 2012a, 201 2b; Ridley, & Kleiner, 200: tuart, 2004; Sue et al, 1992; Sue, 2001; Tomlinson- larke, 2000) A presenga nos diferentes servicos educativos, sociais e de sade de um numero crescente de individuos oriundos de diversos univer- 0s culturais origina, nas i stitui¢des, nos profissionais e nessa popu- acao multicultural, uma variedade de problemas, tensdes e conflitos, que podem expressar-se através de dificuldades de comunicacao e compreensao, nomeadamente linguisticas, diferencas de valores, com- Portamentos e habitos e problemas relacionais e interculturais, Esta situagao: (i) exige sensibilidade e empatia para acolher e compreender as diferengas, sejam elas culturais, sociais, geracionais, sexua is, reli- siosas ou outras; (ii) implica desenvolver intervengdes, integrando e valorizando os contextos sociais e ecolégico-culturais dos individuos, assim como as culturas de origem; (iii) supée dar-hes oportunida. des de contacto com a cultura de origem, lingua, religito e histéria, no sentido da preservagao e do desenvolvimento da sua identidade étnico-cultural; (iv) nec sita incentivar o conhecimento e a valoriza- Ao das diferentes culturas, evitando esterestipos, preconceitos, atitu- des etnocéntricas, discriminaté: € racistas; (v) exige criar relacde: ee baseadas na empatia, respeito, confianga, dislogo, responsabilidade ¢ disponibilidade; (vi) implica incrementar uma formacio sélida dos Profissionais, tanto da rea da psicologia, como do dominio social, educacional, juridico e da satide, na temética das questées culturais, da educagao, comunicagao e psicologia interculturais. (Berry, Poortin. 88, Segall, & Dasen, 1992; Clanet, 1990; Ladmiral, & Lipiansky, 1992; Ouellet, 1991; Samovar, & Porter, 1988) Uma formagio dos profissionais que inclua conhecimentos cult- ra se desenvolvimento de competéncias interculturais poder ajudan igualmente, a reduzir as barreiras comunicacionais, sociais ¢ culturais €m contextos migratérios ¢ interculturais, im como, a tomar em conta nao somente as referencias culturais, que podem ser plurais e a partir das quais 0s individuos se estruturam, como também os proces- S08 psicolégicos e interculturais que elas desencadeiam para gerir as situagdes de aculturagao psicolégica, ou seja, os processos, estratégias © mudangas psicolégicas que o individuo enfrenta no encontro entre duas ou mais culturas, a sua cultura de origem e a de acolhimento (Berry, 1997; Ramos, 2001, 2004, 2008a, 2008b, 2010, 2012b, 2012c); uma formacio que favoreca a compreensao e gestao dos processos de interculluragdo, ou seja, o conjunto de processos psiquicos, relacionais, srupais ¢ institucionais originados pelas interaccées de grupos cultu- rais diferentes ou reivindicando uma pertenga a comunidades cultu- rais diferentes, numa relagio de trocas reciprocas e numa perspectiva de salvaguarda de uma relativa identidade cultural dos parceiros em relagdo, reenviando & integragao psiquica de uma pluralidade de re- feréncias culturais que se vio combinar e interagir umas com as ott- tras e de relagses terciarias e que nao podem ser reduzidas a nenhum dos pelos culturais em presenga (Dasen, 1990), que podem ser dolo- rosas. Com efeito, em situagées de mobilidade e mudanga cultural, 0s individuos estio submetidos a imposigdes culturais que poderto ser contraditérias e incompreensiveis e sio obrigados a fazer esco- thas que podem ser fonte de dhividlas, tenses e conflitos interpessoais, 273 intrafamiliares, intrapsiquicos e interculturais, geradores de sentic mentos de inseguranga, de culpabilidade, de angistia e de ansiedade, acentuados pelo medo de nao reconhecimento, de discriminacao ¢ de exclusio. ConTextos pa Muuti/INTERCULTURALIDADE & FIGURAS Do OUTRO E DA ALTERIDADE Tem- versidade cultural ¢ dos contactos e vindo a assistir no mundo a uma intens ficagao da di- terculturais, & diversificagio da obilidade e das categorias e sistemas migratérios e a uma afirmagdo wt de direitos e diferencas. No mundo aberto © plural contemporadneo, coma globalizacao, o turismo internacional, o surgimento de politicas £ _ migratérias em paises que nao Possufam as mesmas, o direito a mobi- 2 lidade, gerido por uma governacio mundial das migragoes, as novas = formas de mobilidade qualificada, os novos meios de comunicacao © (como os media, a internet), as facilidades de deslocacao e os meios 3 de transporte rapidos, 0 migrante, a diversidade cultural ¢ 0 Outro tém hoje um outro estatuto e imagem. O Outro nao esta longinquo € distante, mas est mais proximo e presente no quotidiano e, ainda que nem sempre aceite ¢ compreendido, coabita conosco e reclama respeito e direitos. Temos uma diversidade cultural multifacetada que encontramos no seio dos Estados, das cidades, no dia a dia, relacio- nada com a abertura ao mundo, a globalizagao, as transicdes demo- graficas, o envelhecimento populacional nos paises desenvolvidos, a afirmagao de direitos ¢ a cidadania. 1 ‘emos 0 estatuto do Outro no quadro das migragées, da globalizacao e da Convengao da Unesco (2001, 2005, 2007), reconhecendo a igualdade das culturas e consti- tuindo uma revolugio democratica no plano internacional. A primeira figura do Outro e da diversidade cultural é o Migran- te, 0s individuos continuando a migrar, dentro ou para fora dos seus territérios, por motivos econémicos, sociodemogrificos, politicos, | 7 mama tee aarrramraaareees i: laborais, familiares, académicos e cientificos, de cooperagéo trans- nacional, de guerras ¢ conflitos étnicos e religiosos, de desastres e ca- tastrofes ambientais, ainda que sendo, muitas vezes, objeto de medos, preconceitos, discriminagio, violéncia e exclusio. Frequentemente, para diminuir 0 medo do Outro, por exemplo do migante, evoca-se a necessidade de reforcar a vigikincia das fronteiras, ou mesmo de as fechar, de estabelecer fronteiras, separando os cidadaos dos invasores, dos estranhos, os nacionais dos migrantes. Muitas histérias de migra- Gio so marcadas pela exclusio ou pela assimilagao, representando uma violéncia estrutural e estruturante. sta violencia faz-se acom- panhar de dispositivos simbdlicos que criam linhas de demarcacao entre bons e maus, entre nds e 0s outros, e desenvolvem mecanismos de ocultagao da violéncia e de inversio da causalidade, deslocando a culpa para as vitimas. (Bochner, 1982; Camilleri, 1990; Farmer, 2003; Grant, 1992; Ramos, 2001, 2004, 2008a, 2010; Santos, 2006) As socie- dades ao definirem as suas “fronteiras” provocam os eus “estranhos’, 08 conflitos, a exclusao e a marginalizacao, (Bauman, 1995, 2005) A mobilidade populacional constitui um fenémeno importante no mundo, sobretudo na Europa, na Asia e na América do Norte, re- gistando-se perto de mil milhdes de pessoas em situacao de mobilida- de no mundo. (OCDE, 2012) Com efeito, as migragdes tém vindo a au- ‘mentar; sejam as migragdes permanentes (individuos que se instalam definitivamente num outro pais ou regido), as migragdes temporarias (mudanga de pais por uma curta duracao, por exemplo, funcionarios ¢ estudantes internacionais) ou inda as migragées involuntarias (re- fugiados ou solicitadores de asilo). As migracdes ocorrem sobretudo no interior dos paises, estiman- do-se que haja apr imadamente, segundo a Organizagio das Na _ Unidas (ONU), 740 milhdes de migrantes internos; 240 milhdes “migrantes internacionais, dos quais cerca de metade sio mulheres | (6 na Europa as mulheres representam 53% dos migrantes); 14 mi- “Ihges de migrantes devido a inseguranga, a catistrofes ou a guerras; 275 } | i 276 [EMPORANEIOADE "ULTURALIDADES NAC ERG 3 33 milhées so criangas e jovens menores de 20 anos de idade, que migraram com as suas familias ou sozinhos (por exemplo, em Afri- ca, os migrantes com menos de 20 anos constituem o maior grupo da populacao total de migrantes (28%), na Asia e na Oceania 20%, € nos continentes americano e europeu 11%). (OCDE, 2012; Unicef, 2011, 2012) Para além das criangas e jovens que migram, muitos ou- tros sao direta ou indiretamente afetados pela migracao, inclusive as criangas e jovens que sao deixados na regido ou pais de origem aos cuidados de parentes, vizinhos ou amas, quando um ou os dois pais emigram, sobretudo 2 s mies. Esta situagao implica novas configura- goes familiares, tem implicacGes psicolégicas ¢ sociais importantes, com impactos ao nivel do desenvolvimento e da saitde das criangas e adultos, em particular das mes que partem e das criangas que ficam, os “orfaos” das migragées. s imigrantes irregulares fogem meros conhecidos assinalam 30,8 milhdes na Unido Europeia, 30,9 mi- \s estatisticas oficiais, mas os ni- Ihdes nos EUA e 25,3 milhées na Asia. Quanto as migragdes forcadas de pessoas, geralmente trafico de mulheres e criangas por redes inter- nacionais ligadas ao crime, estas representam atualmente 12 miilhoes de pessoas. (Eurostat & USCB, 2008) O numero de migrantes internacionais triplicou em 40 anos, re- gistando-se na década de 70 apenas 75 milhées. $6 na Unido Europeia (UE), 0 niimero de migrantes provenientes de paises extraeuropeus aumentou 75% desde 1980, sendo a Europa o continente que aco- Ihe 0 maior ntimero de migrantes no mundo, De 1990 a 2000 as mi- graces internacionais representaram nos paises desenvolvidos 56% do aumento populacional e nos paises em desenvolvimento 3%. Na Europa, neste periodo as migracdes representaram 89% do crescimen- to da populacio. Dos 28 paises da Unido Europeia, a Alemanha que acolhe o maior nimero de cidadaos estrangeiros, num total de 7,2 mi- Ihdes, seguida da Espanha, com 5,6 milhdes, e do Reino Unido, com mais de quatro milhdes. Em 2010, a China foi o principal pais de ori- gem dos migrantes que se deslocaram para os paises da Organizagio para a Cooperagao e 0 Desenvolvimento Econémico. (OCDE, 2012) Em Portugal, segundo os Censos de 2011, residiam em Portugal 394.496 individuos de origem estrangeira, representando 3,7% do to- tal de residentes do pais. Mais de metade desta populagao estrangeira 6 constituida maioritariamente por mulheres (206.410), sendo os ho- mens 188.086 e 51,6% reside na regiao de Li de estrangeira é. brasileira (28%), seguindo-se a cabo-verdiana (10%), boa. A maior comunida- a ucraniana (9%), a angolana (6,8%), a romena (6,2%) e 0s originarios da Guiné-Bissau (4,1%) (INE, 2012). Ja o Brasil, abriga 286.468 imi- grantes internacionais, tendo o niimero de imigrantes a viver no Brasil aumentado 86,7% em dez anos. Do total de imigrantes internacionais, 174.597 nasceram no Brasil, significando que 65,1% destes so os cha- mados imigrantes de retorno. (IBGE, 2012) Outra figura da mobilidade e do Outro em aumento crescente 60 turista internacional, significando um habitante em sete no pla- neta, tendo-se registado no mundo, em 2012, cerca de mil milhées de turistas. A diversidade cultural esta igualmente representada nos mais de 3 milhoes de estudantes do ensino superior que se encontram fora dos seus paises e que estdo em aumento crescente, assim como os fluxos de trabalhadores qualificados. Em 2000, 11% dos enfermeiros e 18% dos médicos que trabalhavam nos paises da OCDE eram de origem es- trangeira, Com efeito, ao nivel mundial tem aumentado a mobilidade qualificada e estudantil, tendo o niimero de estudantes internacionais, duplicado no seio dos paises da OCDE, situando-se o aumento deste grupo em 41%, sé entre 1999 ¢ 2004. Na Unido Europeia, a mobilidade para fins educativos e de aprendizagem é um dos objetivos principais da Estratégia 2020 para o crescimento e o emprego, situando-se na base da iniciativa Juventude em Movimento, da Comissao Europeia. Na UE, o programa de mobilidade Erasmus ja deu oportunidades a cerca de trés milhoes de estudantes universitérios de frequentarem 2 IRANEIDADE DES NACH g g sone ESE INTE instituigdes de ensino superior de trinta e trés paises europeus, onde se inclui Portugal, e, no quadro do Erasmus Mundus, mais de 1 300 alunos de fora da Europa vieram estudar ao abrigo deste programa, Este aumento da mobilidade internacional estudantil reforga a criacdo de um espaco europeu e mundial de ensino superior e faz parte da estratégia da Comissio Europeia de proporcionar aos estudantes mais oportunidades para adquirirem competéncias através do estudo e da formagao no estrangeiro, promovendo as competéncias interculturais, 0 desenvolvimento pessoal e a empregabilidade ao nivel estudantil Outra figura do Outro e da alteridade esta associada 4 cidade, a urbanizagao. Mais de metade da populagiio mundial (65%), oriunda de diversos universos culturais e sociais, habita hoje em zonas urbanas € suburbanas, prevendo-se que, em 2030, as cidades do mundo em desenvolvimento acolham 80% do total da populacao, contribuindo as migragées para este aumento populacional. Corn efeito, mais de 50% dos migrantes e refugiados em todo o mundo vivem em dreas urba- nas, contribuindo para a diversidade cultural associada a urbanizacao. (ACNUPR, 20092, 2009) Em Portugal, a area metropolitana de Lis boa concentra mais de 50% da populagao imigrante. Neste stntido, © Conselho da Europa e a Comissao Europeia, insistem em que é ne- cessirio a gestao e organizagao intercultural dos espagos nas cidades multiculturais, promover a “Cidade Aberta e Intercultural” e acolher a diversidade cultural e as comunidades migrantes nas cidades ditas “globais” (Sassen, 2001), de modo a responder as carateristicas e ne- cessidades das populagées ¢ sociedades atuais, O acolhimento dos mi- grantes e a gestio da diversidade cultural nas zonas urbanas constitui uma das grandes preocupagées atuais, tendo.o Conselho da Europa € a Comissio Europeia langado em 2008 - Ano Europeu do Didlogo Intercultural ~ 0 projeto “Cidades Interculturais”, tendo como objeti- vo: combater os preconceitos, a discriminacao e promover a igualdade de oportunidades, adaptando as estruturas de gestdo, as instituicdes € servigos -”" desenvolver em cooperacao com as empresas, a sociedade civil ¢ os diferentes agentes publicos, um conjunto de politicas e atividades de modo a promover 0s contactos entre os diferentes grupos culturai diminuir os conflitos e a violéncia e consolidar politicas publicas que tornem a cidade mais sustentavel, atrativa, acolhedora e solidaria para todos. Outra figura do Outro e da diversidade cultural so os cerca de 300 milhdes de pessoas, distribuidas por mais de 70 paises, que per- tencem a grupos indigenas, representando cerca de 4 000 linguas Na América Latina, por exemplo, tuem 11% da populagio da regido. (PNUD, 2004) $6 no Brasil, vivem 896.900 indios (0,47% da populagao brasileira), divididos por 305 et- nias ¢ falantes de 274 linguas diferentes, segundo dados do Censo de 2010. (IBGE, 2012) Para a multiculturalidade da sociedade contribui também o gran- 10 milhdes de indigenas consti- de niimero de ciganos, minoria étnica espalhada por diferentes pai- ses do mundo, nomeadamente pela Europa, onde constituem a maior minoria étnica neste continente (cerca de 11 milhées), com habitos culturais préprios e enfrentando, em geral, condigées sociais dificeis, maior mortalidade infantil e esperanga de vida inferior ao resto da populacao, $6 em Portugal estima-se que vivam entre 40 000 a 70 000 ciganos. No Brasil, os dados do Censo de 2010 apontam para a exis- (IBGE, 2012) ‘Também a Unio Europeia, projeto politico que envolve 28 paises tencia de cerca de 800 000 ciganos neste pai emai de 500 milhées de habitantes com histéria e lingua diferentes e com identidades sociais e culturais fortes, constitui um grande des fio politico, cultural, educacional, comunicacional e, em particular, um desafio ao didlogo e gestao intercultural e a coabitacdo cultural e so ALIDADES

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