Capítulo Um
ele, era dificíl ficar naquela enorme mansão,
Meados de 1935. O século vinte chegara, com suas
máquinas e sua fumaça. A Primeira Guerra acabara de
terminar, e o medo de uma nova guerra havia se
incutido nos corações dos ingleses, à medida que o
Fünher Adolf Hitler ascendia, junto com seu império
nazista. Todos esperavam que a falsa paz, ao menos
durasse até os jogos olímpicos de Berlim, que poderia
ser o último momento de paz entre as nações.
Um cientista e ateu renomado, James Oakwood
havia sofrido os horrores da Primeira Guerra,
acontecimento que mudou sua vida, fazendo-o ser mais
bondoso, porém mais excluso da sociedade. Após ver
seu melhor amigo morrer pelas mãos de um holandês
desertor, aprendeu a não confiar em ninguém, o
fazendo-o diminuir suas relações sociais e parar de
manter contato com amigos distantes.
O único com quem realmente falava, era Willian
Oakwood, seu sobrinho. Um boxeador de lutas ilegais,
mantidas em becos sem saídas e lugares duvidosos. Era
exatamente o contrário de seu tio. Extremamente
católico, alto, bonito, com olhos azuis e muito
musculoso, o moreno era sonho de todas garotas com
quem saía. Já seu tio, como antes mencionado, era
ateu. James tinha os cabelos loiros já esbranquiçados,
com uma enorme barba e ostentava um imenso bigode.
Era tão antissocial quanto seu sobrinho era popular.
Os dois viviam na enorme mansão de Oakwood.
Willian havia se mudado para lá quando seu dois pais
morreram na guerra. Um como tenente e a outra como
enfermeira. Os dois estavam sobre o mesmo teto,
quando a bomba explodiu. Seu tio não hesitou em
adotar o jovem desamparado e colocá-lo para herdar
todos os seus bens.
Willian amava seu tio desde pequeno, porém, para
compartilhando da solidão do velho. Era raro as noites
que chegava para o jantar, fazendo com que a
governanta desistisse de colocar seu prato na enorme
mesa de doze lugares. James, apesar de sentir a
ausência do sobrinho, preferia não tê-lo por perto
quando fazia suas longas e demoradas pesquisas na
grande biblioteca de dois andares de sua mansão.
Era mais uma das longas noites em que James
passara em sua biblioteca, e Willian passava na enorme
Catedral de Westminter. Uma catedral perto da mansão,
na parte sul da cidade, lugar onde os ricos se
acumulavam. Claramente, o jovem havia se atrasado no
portal da igreja, tentando conquistar alguma rica e
solteira filha de um cavalheiro qualquer.
Naquele dia, o culto fora extremamente bizarro para
Willian. O padre contou aos poucos membros da igreja a
famosa história do filho endiabrado de um cidadão
qualquer. Jesus Cristo mandou os demônios saírem do
corpo, e os espíritos saíram, se alojando nos corpos de
porcos. Estes correram em direção à algum rio, e se
afogaram.
Por alguma razão, o sotaque alemão na voz do padre
ficou presa em seus ouvidos, e os detalhes bem
contados da história começou a criar raízes em sua
imaginação, fazendo-o não prestar atenção em mais
nada, nem mesmo Emma, garota que cortejara durante
todo o culto.
Após sair da catedral, pensou seriamente em ir à
algum bordel, como era de costume. Chegou até mesmo
a dar alguns passos na direção desejada. Mas após ver a
escuridão, desistiu.
Não era de seu feitio, mas pediu à um garoto de rua
buscar algum cocheiro livre que pudesse o levar para a
enorme mansão Oakwood. Algo incutira nele medo.
Talvez, o boxeador nunca cogitara a possibilidade de
existirem demônios, ou talvez, algo o assustara
profundamente, enquanto o alemão fazia sua reza.
Todos esses pensamentos enevoavam sua cabeça,
quando viu ao longe, uma carruagem puxada por dois
enormes cavalos malhados, e um cocheiro
aparentemente bêbado gritou pela rua, procurando o
jovem que o havia chamado. Willian ergueu a mão,
entrou na carruagem e lhe deu o endereço.
No caminho para casa, encolheu-se entre suas
vestes, e olhou a pesada neve que começava a preencher
todos os cantos de Londres. Encostado no banco
acolchoado, e sentiu uma estranha alegria pela presença
no cocheiro alegre, que cantava alguma canção de bar.
Enquanto isso, na mansão Oakwood, James tinha a
segurança de um velho ateu. Para qualquer um, a
enorme e escura mansão seria assustadora, ainda masis
quando se estava sozinho naquela gigantesca casa