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A Educação

n’ Os Maias

ANEXO 9
Eça de Queirós, ao elaborar um retrato da
sociedade (“Episódios da vida romântica”) e,
dentro do espírito naturalista, procura encontrar
razões para a crise social, política e cultural a
partir da formação do indivíduo.
O tema da educação é frequentemente notado
por Eça de Queirós e surge n’ Os Maias como
um dos principais fatores comportamentais e da
mentalidade do Portugal romântico por oposição
ao Portugal novo, voltado para o futuro.

Deparamo-nos, assim, com dois sistemas


educativos opostos e é frequente ver opiniões
das personagens, ao longo da obra, sobre as
diferentes conceções da educação.
Pedro da Maia e Eusebiozinho protagonizaram
a educação tradicionalista e conservadora,
que se caracteriza pelo:
• Recurso à memorização;
• Ao primado da cartilha apenas com os valores
e os saberes aí insertos;
• À “moral do catecismo” e à devoção religiosa
com a conceção punitiva do pecado;
• Estudo do latim, língua morta;
• Fuga ao ar livre e ao contacto com a natureza.
Consequências

Imediata – incapacidade para enfrentar as


contrariedades.
Desvalorização da criatividade e do juízo
crítico; deformação da vontade própria, levando
os indivíduos para a decadência física e moral.
Por ex: em Pedro da Maia, leva-o a uma
devoção histérica pela mãe e torna-o incapaz
de encontrar uma solução para a sua vida
quando Maria Monforte o abandonou.
Em Euzebiozinho, torna-o o “molengão e
tristonho”, levando-o a uma vida de corrupção,
a um casamento infeliz e a uma debilidade
física.
Carlos recebe a educação inglesa, que se
carateriza pelo:
• Desenvolvimento da inteligência, graças ao
conhecimento experimental;
• Desprezo pela cartilha, embora com a defesa do
“amor da virtude” e “da honra” como convém a
“um cavalheiro” e a “um homem de bem”;
• Ginástica;
• Vida ao ar livre;
• Contato direto com a natureza e gosto das
línguas vivas (Inglês).
Consequências

Imediata - capacidade para se tornar


interveniente na sociedade.
Esta educação visa “criar a saúde, a força e os
seus hábitos” (ed. Inglesa), fortalecendo o corpo
e o espírito.
Por ex: Carlos adquiriu valores do trabalho
e do conhecimento experimental que o
levaram a tirar o curso de medicina e a
dedicar-se a projetos de investigação, de
empenho na vida literária, cultural e cívica.
Esta educação leva Carlos ao diletantismo (torna-
-se num ser superficial, faltando-lhe interesse pelo
que faz).
Carlos é diletante ideológico e Ega torna-se num
diletante nas emoções.

A vida de ociosidade de Carlos e o seu fracasso


(no que respeita a projetos) resultaram da
educação da sociedade em que se viu inserido,
que era bastante diferente da inglesa, pois não
possuía as motivações que este tinha.
Isto aliado ao estatuto económico que não lhe
exigia qualquer esforço e à paixão romântica
foram causas suficientes para, apesar de
culturalmente bem formado, desistir, sentir o
desencanto e afastar-se das atividades
produtivas.

Mas, ao contrário de Pedro da Maia (Ed.


Conservadora) que, perante o fracasso, se
suicidou, Carlos procura um novo rumo e uma
filosofia de vida a que chama “fatalismo
muçulmano”, isto é, aceitar tudo o que vier, de
“bom” ou de “mau”.
Afonso falha na educação do filho (Pedro) e do
neto (Carlos), apesar de diferentes. Carlos é o
mais falhado porque viola a lei moral (incesto
voluntário) e a sua experiência humana….

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