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Statistical Approach for Evaluation of Current

Transformer Saturation
Eduardo Bortolin Argenton, Roberto Arnt Tarrago, Roberto Chouhy Leborgne
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, Brasil
eduardo.argenton@gmail.com, roberto.tarrago@yahoo.com.br, roberto.leborgne@ufrgs.br

Abstract — Historically, power system protection schemes os mesmos ainda com o dimensionamento incorreto. A
were performed by electromechanical relays and regime saturação destes TCs nos primeiros ciclos de uma falta
symmetrical component currents. Many modern digital relays assimétrica causa erros e atuações indevidas nos sistemas de
have been installed in the last years, replacing old proteção, causando desligamentos que comprometem a
electromechanical solutions, but not accompanied by the current robustez e desempenho do sistema elétrico, podendo causar
transformers (CT) substitution due to their long life span. também em diversos casos cortes de carga.
Recently, utilities face the challenge of having to replace obsolete
superseded CTs, that may cause undue trips due to saturation in Neste momento, é importante saber categorizar e ordenar
the first cycles of a fault. The aim of this work is to determine a quais os equipamentos mais críticos a serem substituídos por
methodology to best classify and prioritize the substitution of primeiro.
those CTs more prone to cause problems. The approach to the
problem is carried out by a combination of the statistical Engenheiros têm aplicado critérios de verificação de
probability of saturation occurrence with the impact of the undue saturação padrão, considerando o pior caso de níveis de curto-
trip caused by that saturation. A case study is carried out to circuito passante junto às barras das subestações onde estes
demonstrate the benefits of the methodology. The results show TCs estão instalados. O problema desta abordagem é não ter
that even counterintuitive situations can be found and resolved claro quais casos são mais críticos em relação aos demais, para
with the present approach. priorização, ainda mais considerando-se que pelo critério
simples de saturação, enquadram-se como saturados lotes
Keywords — current transformers, maintenance engineering, consideráveis de equipamentos, em que muitas vezes a
performance evaluation empresa proprietária não dispõe de recursos financeiros e
tampouco mão de obra suficientes para realizar tantas
I. INTRODUCÃO substituições simultaneamente. É necessário estabelecer um
ordenamento racional e inteligente destas substituições para
Até poucos anos atrás, engenheiros do sistema elétrico
minimizar exposição a riscos.
realizavam o dimensionamento de transformadores de corrente
(TCs) para o regime simétrico das faltas [1], em função de que O dimensionamento de TCs para o regime assimétrico de
historicamente, todo o cálculo de proteção se baseava na faltas encontra farta literatura e mesmo metodologias
decomposição em sequência das correntes já em regime, as completas, como em [2]. Contudo, a abordagem da
quais eram utilizadas pelos relés eletromecânicos para detecção problemática de categorização e ordenamento de equipamentos
de condição de faltas ou não. Tais relés atuavam em tempos da já instalados e superados por assimetria das correntes de falta,
ordem de 6 ciclos elétricos ou mais, condição na qual os TCs já levando-se em conta a estatística de distribuição das faltas e o
estavam também em regime. impacto destas, apresentado neste trabalho, é inédita, e foi
baseado em problemática real encontrada na CEEE-GT,
Na última década, entretanto, o dimensionamento levando
empresa transmissora atuante na região sul do Brasil.
em conta a assimetria inicial das correntes de curto-circuito
começou a ganhar maior destaque, em especial com a nova era O texto deste artigo está organizado conforme segue: a
de proteção digital, na qual se parametriza atuações desde os seção II explica teoricamente a razão pela qual assimetrias das
primeiros ciclos da falta, em especial em elementos correntes de falta levam a saturação dos TCs. Nas seções III a
diferenciais, necessitando para tanto, de uma informação VII, são abordados os conceitos base sobre os quais se apoia a
correta por parte dos TCs. metodologia proposta e explicada a sua relevância, sendo eles,
respectivamente, os ângulos típicos de incidência de faltas,
Em função da elevada vida útil dos transformadores de
impedâncias típicas de linhas de transmissão, estatísticas de
corrente, que chega a 30 anos, diversas empresas de energia
ocorrência de faltas em linhas, desempenho dos relés de
contam ainda hoje com milhares de transformadores de
proteção, e taxas de falhas admissíveis no setor elétrico. A
corrente antigos em operação, dimensionados e instalados
seção VIII apresenta a metodologia proposta, e a seção IX um
segundo o antigo dimensionamento para correntes simétricas.
estudo de caso, sendo dadas as conclusões na seção X.
Em muitos casos, o sistema de proteção dos módulos ou de
setores inteiros já passou por modernização, atualizado com
relés digitais, proteções diferenciais, e os TCs permaneceram
II. ASSIMETRIA DAS CORRENTES DE CURTO CIRCUITO E O SEU denominada de Eal, a qual é utilizada para comparar com a
IMPACTO NA SEÇÃO DE NÚCLEO DE TC’S tensão de saturação de joelho do TC para fins de determinar se
o TC irá saturar ou não no regime de falta assimétrico.
A assimetria das correntes primárias de curto-circuito, tem
um efeito muito impactante no dimensionamento do núcleo de
transformadores de corrente devido à componente exponencial III. ÂNGULOS TÍPICOS DE INCIDÊNCIA DE FALTAS
que caracteriza esta assimetria. É fato conhecido que os curtos-circuitos se estabelecem
A solução da equação diferencial que rege os casos de majoritariamente próximos aos instantes de máximos de
curto-circuito na rede primária, para o estabelecimento de tensão.
curto-circuito em t=0, e tensão senoidal, é dada por: Tal fato é benéfico para reduzir as assimetrias, e pode ser
visto na equação 1, sabendo-se que as faltas usualmente têm
i t = . sen ω. t + γ − φ ângulos fortemente indutivos, com φ próximo a ±90°. Quando
+ (1)
o ângulo da tensão for também de ±90° em oposição ao ângulo
− . sen γ − φ . da impedância, o argumento do seno ficará zerado e a
+
assimetria da corrente desaparece.
Menores assimetrias de corrente primária, resultam em
. (2)
= = ; = menores níveis de saturação dos TC’s.
A predominância de faltas nos máximos de tensão ocorre
devido a duas principais causas:
Nas equações, R1 e L1 são a resistência e indutância
equivalentes da rede primária, ω é a frequência angular e γ é o • Nos casos de curto-circuito devido a aproximações de
ângulo da tensão no momento do estabelecimento da falta. objetos (vegetação por exemplo) a maior rapidez da
Todos os parâmetros são considerando o equivalente conforme frequência elétrica, que oscila 60 vezes a cada segundo,
o tipo de falta e a conexão correspondente dos modelos de em relação à deslocamentos mecânicos, faz com que em
sequência positiva, negativa e zero [3]. instantes em que o objeto ainda se encontra com
distância dos pontos energizados, a onda de tensão
Na equação (1), percebe-se a presença de uma componente passa em um máximo, e então consegue romper o
exponencial, a qual será tão mais severa para saturação quanto dielétrico e estabelecer um arco.
maior for a constante de tempo T1, e quanto mais o argumento
do seno (γ-φ) for próximo de ±90°, o que depende do ângulo da • Nos casos de curto-circuito devido a rompimento de
tensão no instante de estabelecimento da falta. rigidez dielétrica de isolamentos (por exemplo, devido a
acumulo de sujeira em isoladores, falha materiais
Esta corrente de falta assimétrica, tenderá a saturar o isolantes como EPR, XLPE, resina epóxi, óleo, etc), é
transformador de corrente em função da integração do fluxo sabido que tais rompimentos devem-se a degradação
exponencial necessária para reproduzir esta componente no lenta e contínua de tais meios isolantes, e é razoável
secundário. Considerando os piores instantes de perceber que haverá um ponto em que a degradação seja
estabelecimento de falta, analiticamente é possível escrever e tal que não suporte mais as solicitações de campo
determinar o fator Ktd, que indica a razão pela qual um núcleo elétrico, e a falha ocorra em primeiro lugar nos
de TC deve ser sobredimensionado em área de seção, para os máximos de tensão.
casos de corrente primária assimétrica em relação às simétricas
no mesmo circuito. A expressão para um religamento é: Os casos de falhas com a onda de tensão em ponto
"
distinto do máximo são aqueles em que por exemplo, a
.
= . . − +1 incidência de uma descarga atmosférica rompe o dielétrico em
− um ponto aleatório da onda de tensão, e se estabelece o curto-
. " " (3)
+ .

. − circuito de potência.
+1 É conservador, portanto, admitir uma distribuição aleatória
equi-distribuída para todos os ângulos de tensão. Portanto, por
exemplo, a probabilidade de uma falta monofásica se
Na equação (3), T2 é a constante de tempo secundária do estabelecer em um ângulo de tensão no intervalo de 0 a 30
TC determinada pela resistência e indutância de magnetização, graus, é de 30 sobre 90 graus, portanto 1/3 de chance. Este
t”al são os tempos de atuação do relé, t’ é o tempo até o ângulo mais realista deve ser considerado no cálculo estatístico
disjuntor interromper a falta, e tfr é o tempo morto de da saturação dos transformadores de corrente.
religamento.
Considerando piores casos, facilmente, o fator Ktd pode IV. IMPEDÂNCIAS TÍPICAS DE LINHAS DE
chegar na ordem de 20 vezes de sobredimensionamento do TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO
núcleo em relação à condição de correntes simétricas, razão As linhas de transmissão são os grandes redutores das
pela qual é importante adotar com critério os parâmetros a correntes de curto-circuito encontradas nas barras das
utilizar. O fator Ktd multiplicado pela tensão de saturação para subestações. As correntes de faltas terminais junto às barras das
faltas simétricas no mesmo ponto, resulta na tensão equivalente subestações, utilizadas na avaliação tradicional de saturação,
resultam sempre em valores elevados de curto-circuito bem TABELA II : OCORRÊNCIA RELATIVA DOS TIPOS DE FALTAS
como de relações X/R, alimentadas por transformadores de Tipo de Curto-Circuito Ocorrência (%)
força que causam esta elevada relação. Contudo, a medida em
Monofásico 63
que se avança em uma linha, tanto o valor de curto-circuito
como o valor de X/R, decrescem rapidamente em relação aos Bifásico-Terra 16
valores na barra da subestação.
Bifásico 15
A grandeza da reatância indutiva, em geral maior que a
Trifásico 6
resistência dos cabos, é a grande limitadora, e a sequência
positiva situa-se na ordem de 0,4 Ω/km para alimentadores
tradicionais, 0,45 Ω/km para linhas de transmissão em 69 kV e Neste caso, há predominância absoluta de faltas
0,5 Ω/km para linhas de transmissão em 230 kV, compostas de monofásicas, que têm o dobro de impedância secundária nos
1 cabo por fase. As sequencias zero ficam em torno de 3 vezes transformadores de corrente, e no geral mais críticas quanto a
os valores anteriores de sequência positiva. este aspecto.
Percebe-se claramente que em função da característica
logarítmica do acoplamento magnético, o parâmetro pouco VI. DESEMPENHO DOS RELÉS DE PROTEÇÃO FRENTE À
muda, seja a linha um pequeno alimentador ou uma grande SATURAÇÃO
linha de transmissão em 230 kV.
De acordo com levantamento realizado por Coelho [6], a
A metodologia proposta neste artigo faz uso deste operação da proteção de sobrecorrente de relés numéricos
conhecimento para avaliar a rápida redução das correntes de ainda é pouco compreendida quando sujeitos às correntes sob
curto-circuito em função destas impedâncias. O ideal é a os efeitos da saturação do TC em sistemas elétricos [7][8].
utilização do valor correto de impedância por km para cada
linha em análise. Contudo, na ausência de dados mais precisos, Desta forma, salvo investigação exata sobre os requisitos e
conforme demostrado aqui, valores típicos conforme o nível de desempenho de um determinado relé frente à uma saturação
tensão podem ser utilizados. específica, deve-se admitir que apenas quando a saturação do
TC tiver desaparecido, o relé estará recebendo informação
correta da falta.
V. ESTATÍSTICAS DE FALTAS POR QUILÔMETRO DE
LINHA
VII. TAXAS DE FALHAS ADMISSÍVEIS
Para fins deste trabalho, serão adotados valores de
estatísticas de faltas por quilômetro de linha tais como citados Para fins de balizar comparativamente a importância de
por [4]. Em seu trabalho, são estabelecidos os seguintes índices uma saturação estatisticamente, é útil ter conhecimento sobre
de falhas: demais ocorrências toleradas na mesma área e seus tempos de
recorrência. Desta forma, se a saturação de um TC for tal que
ocorra estatisticamente em média a cada 150 anos, por
TABELA I : NÚMERO DE FALHAS POR 100 KM POR ANO CONFORME exemplo, se poderá saber que será um evento mais raro do que
NÍVEL DE TENSÃO DA LINHA um evento climático que venha a destruir estruturas civis da
230 kV 138 kV 69 kV 13,8 / 23 kV subestação, com consequências bem mais graves.
1,7 3,0 6,1 12,0 Neste trabalho apresentamos os seguintes índices:
• Tempo de recorrência de vento máximo para fins de
Cada uma destas falhas, significa um curto-circuito para o dimensionamento de estruturas civis: 150 anos para
qual os TC’s que se conectam nesta linha terão que entregar ao tensões nominais iguais ou inferiores à 230 kV,
relé de proteção uma informação confiável da corrente de falta. conforme nível 2 da IEC 60826.
Com o conhecimento destes dados, a extensão e impedância • Tempo de retorno de falha de blindagem contra
das linhas de transmissão, se pode calcular os tempos de descargas atmosféricas: Conforme Tabela 3 do
recorrência de faltas com saturação dos TCs. submódulo 2.4 dos Procedimentos de Rede do ONS [9],
Por uma questão de simetria, quando não se dispõe de para tensão de 230 kV, é admitido até 2 desligamentos
informação mais refinada sobre as ocorrências de faltas de uma por 100 km por ano.
certa linha, se pode considerar que tais faltas serão equi-
• Conforme Tabela 2 do submódulo 2.4 dos
distribuídas ao longo da extensão da linha. Contudo, sempre
Procedimentos de Rede do ONS [9], admite-se risco
que informação mais refinada do caso específico em questão
para manobras de energização e religamento, de falhas
puder ser agregada, esta deve preferencialmente ser utilizada.
fase-terra e fase-fase de até 10-2 e 10-3
Tal deve ser feito tanto para estatística de faltas média por km
respectivamente, para religamento, e para reenergização
como para eventuais existências de regiões da linha com
de 10-3 e 10-4, respectivamente.
índices diferenciados.
Quanto aos tipos de faltas, há predominância daquelas
monofásicas. A seguinte proporção geral é estabelecida [5]:
VIII. METODOLOGIA Enquadram-se nesta categoria os casos em que a saturação
Inicialmente, é importante estabelecer algumas premissas. do elemento cause atuação de diferencial de barras em alto
A metodologia aqui descrita parte do princípio de que soluções nível de tensão, com riscos de desarmes de grandes proporções.
triviais e mais simples para resolução de problemas de Estas verificações podem ser feitas facilmente em
saturação já foram esgotadas em cada caso, tais como aumentar programas de fluxo de potência por profissionais experientes
a relação de transformação do TC por religamento ou na operação do sistema.
derivação, se houver disponível, trocar cabos dos secundários
por outros de maior seção, se possível, refinamento dos Classe 2A: Eventual risco de indisponibilidades com corte
cálculos com o nível de curto-circuito real passante pelo TC, de carga. Enquadram-se nesta categoria atuações de elementos
melhora da modelagem dos elementos da rede em relação aos diferenciais de barra, elementos diferenciais de linhas de
valores resistivos de geradores, transformadores e linhas, transmissão aéreas ou em cabo, atuações de elementos
refinando o valor da relação X/R, alteração nos tempos de diferenciais de transformadores, eventuais atuações de
atuação dos relés (tal’, tal”), aumento de tempo morto (tfr ) retaguarda (em geral improváveis).
quando possível, ativação de eventuais funções especiais do Classe 2B: Eventual risco de indisponibilidades sem corte
relé de proteção quanto à detecção de saturação do TC, etc. de carga; Enquadram-se nesta categoria os mesmos casos da
Para aqueles casos em que nenhuma das alternativas classe 2A, contudo sem que haja corte de carga.
mencionadas resolva o problema de saturação, então será Classe 3: Eventual risco de erro na estimação de elemento
necessário indicá-los para substituição. Na prática, de distância.
seguidamente este será o caso, uma vez que quando aplicada
verificação de saturação por assimetria, dificilmente TCs Classe 4: Eventual atraso de proteção simplesmente.
dimensionados pelo regime simétrico conseguem atender aos
requisitos de fluxo para evitar a saturação, muitas vezes,
mesmo que curto-circuitados em seus próprios bornes (sem A metodologia é capaz de ordenar prioridades para TCs
qualquer carga secundária adicional). competindo dentro de uma mesma classe. Em geral, quanto
mais baixa a classe, mais prioritária e importante é a
A metodologia foi estabelecida com base na realidade do substituição do equipamento. Entretanto, sempre cabe o
sistema elétrico do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em julgamento personalizado em função do expertise para a
que a malha de transmissão em 230 kV existente é tal que no definição final da ordem de substituições, escolhendo
caso geral, exceto em casos muito pontuais, o desligamento eventualmente entre o compromisso entre a perda instantânea
intempestivo de uma linha de transmissão qualquer, ou de um de carga causada pela classe 2A, e a eventual fragilidade do
transformador qualquer, isoladamente, não ocasiona perda de sistema causada pela classe 2B.
carga, mas apenas redistribui o fluxo de carga nos demais
elementos. É um sistema baseado no critério “N-1”, onde a Dentro de uma mesma classe, é necessário então priorizar
ausência de um elemento não compromete o fornecimento. os casos e estabelecer uma ordem de substituição. Para tanto, a
sugestão feita por este trabalho é que esta escolha se dê em
A saturação dos TCs será mais grave sempre que houver função do produto entre a carga comprometida (MVcomp), em
elementos de proteção diferenciais (de linha, de transformador, MVA, no caso de atuações indevidas pelo fato da saturação,
de barra) com atuação instantânea, sendo os diferenciais de multiplicado pelo tempo de recorrência (Trec em ano -1) para
barra os casos mais graves pelo fato de o desligamento que ocorra atuação indevida por efeito de saturação.
indevido não se enquadrar no caso N-1.
Define-se desta forma o Produto de Indisponibilidade (PI)
Atrasos simples de proteção devido à saturação não tem do TC para fins de comparação de prioridade, devendo ser
maior impacto, e constituem os casos mais simples. Também substituído por primeiro, dentro de uma mesma classe, aquele
se considerará nula a chance de atuação de retaguarda devido a que obtiver maior valor de Produto de Indisponibilidade:
saturação de TCs, uma vez que a saturação não perdura tempo
suficiente para que seja necessária atuação de retaguarda. 1 (4)
= ×
Elementos cálculo de distância, também podem ser
prejudicados causando transtornos e maior tempo para
recomposição. Os valores de MVA comprometidos devem ser: no caso de
Em geral, os TCs tendem a saturar nos casos em que o carga real interrompida, os valores da carga, obtidos a partir de
sentidos de corrente passante é tal que vem da barra para fora um patamar de carga a escolha dos valores de fluxo de carga ;
desta, ou seja, com a maior contribuição de correntes. no caso de indisponibilização de função da transmissão, o valor
somado das capacidades de transmissão de energia dos
A metodologia se baseia inicialmente em separar os casos elementos no caso de linhas, ou das capacidades de
de saturação em classes de risco, conforme a possível transformação no caso de transformadores. Já os valores de
consequência da saturação dos TCs: tempo de recorrência devem ser calculados utilizando as bases
Classe 1: Eventual risco à estabilidade do sistema e teóricas elencadas nas seções anteriores deste artigo,
desarmes de grandes proporções: considerando a redução dos níveis de curto-circuito ao longo
da extensão de linhas em função da sua impedância, as taxas de
falhas por km, os tipos de faltas, e os ângulos aleatórios de da LT são semelhantes aos parâmetros típicos aqui discutidos.
incidência de faltas. A carga secundária resistiva deste TC é de 0,41 Ω para falta
trifásica.
Nos casos com religamento, normalmente haverá um trecho
de exposição em que haverá ocorrência de saturação ainda O terceiro TC, da mesma forma, módulo de linha de
próximo da barra da subestação onde o TC está instalado, e transmissão, classe de núcleo 10B400, relação 2000-5A, FS 20,
haverá um segundo trecho para os quais faltas ali incidentes já instalado em uma barra já mais forte, cujo nível de curto-
não saturam em primeira atuação, mas apenas na condição de circuito é de 31 kA com relação X/R de 19. Os parâmetros da
religamento, o que pode fazer dobrar o valor de Ktd. Nestes LT são semelhantes aos parâmetros típicos aqui discutidos. A
casos, os trechos de primeira atuação e de religamento devem carga secundária resistiva deste TC é de 0,58 Ω para falta
ser contabilizados e somados cada um com o seu tempo de trifásica.
recorrência.
A tabela III resume as condições gerais descritas.
A Figura 1 apresenta os conceitos anteriormente citados,
Todas as alternativas triviais de aumento da seção de cabos
apresentando a redução do nível de curto-circuito passante por
secundários, adotar maior relação de transformação se
um TC instalado junto à barra A, em relação a ocorrência de
disponível, entre outros anteriormente discutidos já foram
faltas entre as barras A e B.
esgotadas. O valor de Ktd fica em torno de 17 a 20 para todos
os 3 TCs, e as tensões Eal muito acima das tensões de saturação
em todos os 3 casos considerando a abordagem clássica de
análise na barra da subestação.
Apenas poucos quilômetros de linha são suficientes para
reduzir os níveis de curto-circuito e assimetria de faltas a níveis
tais que não ocorra mais saturação nos TC, especialmente em
barras de alto nível de curto-circuito. Os tempos de recorrência
de faltas são calculados utilizando as estatísticas padrão
sugeridas por classe de tensão neste artigo. As consequências
quanto a carga interrompida nos desarmes indevidos por
atuação do diferencial de barras nos 3 casos são avaliados e
estão indicados na tabela III.

TABELA III : TABELA RESUMO COMPARATIVA DO ESTUDO DE


Fig. 1: Linha entre barras A e B e trechos de saturação em primeira atuação ou CASO
em religamento de um TC instalado junto à barra A
Parâmetro TC 138 kV TC 69 kV (1) TC 69 kV (2)
Função LT LT LT

Classe do núcleo 10B200 10B200 10B400


IX. ESTUDO DE CASO Relação de
800-5A 600-5A 2000-5A
Neste artigo faremos o estudo para comparar três Transformação
transformadores de corrente quanto à sua prioridade de FS 20 20 20
substituição, baseado em casos reais. Será utilizado apenas o
Icc trifásico (kA) 15 7 31
curto trifásico por simplicidade. Todos os 3 TCs estão
enquadrados em classe 2A, com risco de atuação de diferencial Relação X/R trifásico 14 12 19
de elementos com interrupção de carga, e portanto, podem ser Burden Secundário (Ω) 0,37 0,41 0,58
comparados diretamente quanto ao seu produto de
indisponibilidade, PI. Ktd com religamento 18,2 17 20

O primeiro TC é de 138 kV, de módulo de linha de Eal na barra da SE (V) 662 708 934
transmissão, classe de núcleo 10B200, relação 800-5A, FS 20, Extensão de LT para não
12 11 1,4
instalado em uma barra cujo nível de curto-circuito é de 15 kA saturação. (km)
com relação X/R de 14. O TC integra um esquema diferencial Tempo de Recorrência
6 1,5 11
(anos)
de barras, e portanto a sua saturação faz atuar o esquema
ocasionando corte de 100 MVA de carga. A linha de Restrição de MVA 100 70 300
transmissão em 138 kV possui parâmetros típicos semelhantes Classe de risco 2A 2A 2A
aos aqui discutidos. A carga secundária resistiva deste TC é de
0,37 Ω para falta trifásica. PI (Relação MVA/ano) 16 46 27
Prioridade de
O segundo TC, de linha de transmissão 69 kV, também 3º 1º 2º
Substituição
integra barra com proteção diferencial, possui classe de núcleo
10B200, relação 600-5A, FS 20, sujeito a contribuição de
curto-circuito de 7 kA com relação X/R de 12. Os parâmetros
Observa-se, portanto, estabelecida na última linha da tabela, 3 vezes àquela nominal de fluxo do equipamento. A abordagem
a ordem de prioridade para substituição segundo a metodologia estatística permite perceber que este não é o caso, e que de fato
aqui preconizada. pode haver reduzida chance de problemas conforme o caso.
O esforço adicional para cálculo do índice PI em relação
X. CONCLUSÕES aos parâmetros já necessários para a obtenção à avaliação da
A informação usualmente utilizada para julgar o quão saturação junto às barras é pequeno, fazendo tornando esta
exposto à saturação está um TC é a comparação dos valores de metodologia ainda mais atrativa, podendo serem feitas
Eal encontrados com a tensão de saturação nominal do TC. implementações em excel, Matlab ou qualquer linguagem de
Contudo, este dado exclusivamente não permite nada inferir, programação a escolha.
justamente em função da ausência dos demais dados que
compõe o contexto completo nos quais os TCs estão inseridos. REFERÊNCIAS
No estudo de caso aqui visto, sem a aplicação da [1] J. R. E. Cosse, D. G. Dunn, and R. M. Spiewak, “CT saturation
metodologia, poderia ser tentador escolher como ordenamento calculations: Are they applicable in the modern world? - Part I: The question,”
IEEE Trans. Ind. Appl., vol. 43, no. 2, pp. 444–452, 2007.
para substituição, talvez primeiro aqueles TCs de tensão mais
[2] W. D. A. S. Wijayapala, J. Karunanayake, and R. R. T. W. M. R. A. I.
elevada em 138 kV, ou talvez aqueles que causassem a maior Madawala, “Current Transformer Performance during Transient Conditions
restrição de MVA. De acordo com a análise estatística, no and the Development of a Current Transformer Selection Criterion for
médio-longo prazo, nenhuma destas opções é a mais vantajosa. Protection Applications,” J. Inst. Eng., vol. XLIX, no. 3, 2016.
[3] C. L. Fortescue, “METHOD OF SYMMETRICAL CO-ORDINATES
A metodologia proposta neste artigo, em conjunto com APPLIED TO THE SOLUTION OF POLYPHASE NETWORKS,” Present.
informações de localização, logística, e fluxo financeiro, 34th Annu. Conv. Am. Inst. Electr. Eng. Atl. City, N. J., June 28, 1918., 1918.
permite otimizar a substituição dos equipamentos do ponto de [4] C. G. Larry Conrad, Kevin Little, “Predicting and Preventing Problems
vista de desempenho global da concessionária, minimizando Associated with Remote Fault-Clearing Voltage Dips,” IEEE Trans. Ind.
cortes de carga e penalidades indevidas. É sempre importante Appl. VOL. 27, NO. I , JANUARY / Febr. 1991, vol. 27, no. 1, 1991.
salientar que peculiaridades e particularidades de cada sistema [5] G. Kindermann, Curto-Circuito, 3a edição. LabPlan, 2003.
devem sempre ser levados em conta através da expertise da [6] . L. M. Coelho, “Análise da resposta transitória de transformadores de
engenharia de cada companhia. corrente de proteção e o impacto em relés de sobrecorrente numéricos,”
Universidade Federal de Itajubá, 2011.
Alternativamente ao uso do conceito de carga interrompida, [7] A. Nawikavatan, C. Thammart, T. Niyomsat, and M. Leelajindakrairerk,
em função da regulação do setor elétrico em que está imersa a “The current transformer model with ATP-EMTP for transient response
concessionária, pode-se utilizar uma variável de custo horário characteristic and its effect on differential relays performnce,” in 8th
International Conference on Advances in Power System Control, Operation
de penalização pela indisponibilização da função de and Management (APSCOM 2009), 2009, pp. 1–6.
transmissão.
[8] A. Khanna, “Application of ATP-EMTP in determination of optimal
Nos casos limites, a parte da metodologia que diz respeito settings for differential protection IEDs under CT saturation,” in 13th
International Conference on Development in Power System Protection 2016
ao cálculo do tempo de recorrência, permite mesmo avaliar que (DPSP), 2016, pp. 1–6.
um TC dito saturado, é saturado apenas em um cenário
[9] ONS, OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO,
específico tal que estatisticamente, não vale a pena a sua “Procedimentos de Rede - Submódulo 2.4 - Requisitos mínimos para linhas de
substituição em um determinado momento. transmissão aéreas,” 2017.
Antes do desenvolvimento desta metodologia, observar
uma tensão equivalente Eal de 600 V para um TC de classe 200
V, poderia dar a sensação ao engenheiro calculista de estar
diante de um equipamento altamente superado e em risco
iminente, visto que a tensão equivalente assimétrica é mais que

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