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Como a mídia pode entender melhor o fenômeno da notícia falsa

Por James Breiner | 04/12/16

Organizações de notícias tradicionais fizeram um acordo com o diabo quando se


voltaram para a mídia social e a otimização de mecanismos de busca para conseguir
audiência e receita digital.
Eles recrutaram "gerentes de comunidade" para popularizarem seu perfis no
Facebook, Twitter, Instagram e similares. Aprenderam a marcar seus artigos para
aumentá-los nos resultados da pesquisa.
O lado diabólico do acordo foi que presumivelmente os meios de comunicação
éticos estavam tentando vender credibilidade e informações verificadas -- fatos -- dentro
de um oceano turbulento de emoção. Nas mídias sociais, os sentimentos são mais
importantes do que os fatos. As pessoas querem declarar quem são e o que acreditam.
Assim, "gostam" e compartilham coisas que reforçam sua visão de quem são e o que
concordam. As emoções predominam sobre os fatos.
Os artigos que são populares, compartilhados e com links subirão ao topo dos
resultados de pesquisa no Google e em outros mecanismos de pesquisa. É fácil
compartilhar ou gostar de algo que reforce sua visão de quem você é.

Interpretando mal os dados


A ideia pós-eleições americanas, agora sendo defendida por muitos jornalistas, que
o Facebook e outras mídias sociais devem ser verificados e que as notícias falsas podem
ser eliminadas das redes sociais mostra que eles não entendem a nova dinâmica da
mídia.
Craig Silverman, um jornalista investigativo especializado em como verificar
informações na internet, escreveu como as notícias falsas superaram as notícias reais no
Facebook durante os últimos três meses da campanha eleitoral.
Muitos colegas de mídia têm argumentado que as notícias falsas ajudaram Trump
a vencer a eleição. Mas eles estão confundindo o sintoma com a doença.
O surgimento de notícias falsas tem mais a ver com a relevância dos meios de
comunicação tradicionais, como empresas (Google e Facebook pegaram todas as suas
receitas publicitárias) e como fontes credíveis de informação.
Aficcionados por mídia como eu (minhas assinaturas pagas são New York Times,
Wall Street Journal, New Yorker, Economist) veem nossas opiniões refletidas nessas
publicações. O que ignoramos é que esses tipos de mídia impressa não são mais
confiáveis para o público em geral. As pessoas não se importam com o que o New York
Times diz.
Em uma pesquisa do Instituto Reuters, pessoas em 26 países foram convidadas a
responder à afirmação de que "você pode confiar na maioria das notícias a maior parte do
tempo". A porcentagem mais alta que concordou foi na Finlândia, com 65 por cento, e a
Grécia, a mais baixa, com 20 por cento. Entre os dois estão a Alemanha, 52 por cento,
Reino Unido, 50 por cento, Espanha, 47 por cento, Japão, 43 por cento e Estados
Unidos, 33 por cento.
Dado esse nível de desconfiança, devemos questionar a ideia apresentada por
jornalistas no Reino Unido e EUA de que uma tempestade de fatos "certificados" de
organizações de notícias tradicionais sobre Brexit ou Hillary ou Donald teria mudado a
mente de alguém na cabine de votação. Além do mais, identificar a verdade é complicado,
como John Naughton do Guardian declarou.
A mídia das pessoas
Impérios de mídia foram construídos sobre a noção de que as pessoas querem se
emocionar, entreter e se sentir bem sobre si mesmos em vez de serem educadas.
Em agosto, John Herrman do New York Times publicou um artigo que demonstrava
a irrelevância das mídias tradicionais e seu foco em questões e fatos. Herrman mostrou
como a mídia que existe apenas no Facebook tem influenciado o discurso sobre a
campanha política, com advocacia da esquerda e da direita.
"Essas são fontes de notícias que essencialmente não existem fora do Facebook e
que você provavelmente nunca ouviu falar", escreveu ele. "Eles têm nomes [nos EUA]
como Occupy Democrats; The Angry Patriot; US Chronicle; Addicting Info; RightAlerts;
Being Liberal; Opposing Views; Fed-Up Americans; American News; e centenas mais."
Foi nesse espaço que as pessoas estavam conversando com seus amigos e
decidindo em quem votar. Pesquisas e mídia tradicional perderam essa conversa ou
subestimaram sua importância.

A resposta do jornalismo
O professor de jornalismo Jeff Jarvis e John Borthwick propuseram
algumas sugestões sobre como o Facebook e outras plataformas sociais devem lidar com
notícias falsas. Entre elas está cortar a receita de publicidade para sites obviamente
falsos. Margaret Sullivan do Washington Post exorta o Facebook a contratar um editor
executivo para policiar o tráfego. Jim Rutenberg, colunista da mídia do New York
Times, argumentou que se não houver um esforço agressivo para contrariar notícias
falsas, elas vão afogar os fatos.

Evidência de otimismo: A mídia tradicional ainda importa


O estudo do Reuters Institute mencionado acima, que foi concluído antes do voto
Brexit e da eleição presidencial dos EUA, ofereceu uma visão mais otimista da
credibilidade dos meios de comunicação tradicionais. "Nossa pesquisa sugere que
mesmo na era das mídias sociais e da mídia atomizada, as organizações jornalísticas e
as marcas de notícias tradicionais ainda importam enormemente."
E continuou: "Embora os agregadores e as mídias sociais sejam importantes portas
de entrada para as notícias, a maioria do conteúdo consumido ainda vem de grupos de
jornais, mídia eletrônica ou marcas digitais que investiram em conteúdo original". Em
todos os nossos 26 países, mais de dois terços de nossa amostra (69 por cento) acessa
uma marca de jornal online por semana, com quase o mesmo número (62 por cento)
acessando o serviço online de uma emissora."

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