Você está na página 1de 44

TEORIAS DA HISTÓRIA

Prof. Me. Giselle Rodrigues


gisellepalacio@yahoo.com.br 1
UNIDADE III

AS ESCOLAS HISTÓRICAS: O
POSITIVISMO
Objetivos de Aprendizagem
Discutir o desenvolvimento do paradigma
historiográfico do positivismo, destacando sua
origem e características gerais.

Discutir as regras metodológicas elaboradas


pelos positivistas para fazer da História uma
ciência.

Debater o modo como se processa o


conhecimento histórico, segundo os
positivistas.
Plano de Estudo

Nesta unidade você estudará os tópicos seguintes:

O surgimento da Escola Positivista.

As características gerais da Escola Positivista.

Langlois e Seignobos e o método de pesquisa em História.

A crítica dos documentos e o rigor metodológico.

O modo como se processa o conhecimento histórico: as


operações sintéticas.
Introdução

• A Escola Positivista, também chamada de Metódica, surgiu


na segunda metade do século XIX e foi a primeira corrente
historiográfica a elaborar um método de investigação em
História.

• Nesta unidade, discutiremos o desenvolvimento do


paradigma historiográfico do positivismo, destacando sua
origem e características gerais.

• Discutiremos, também, o esforço dos positivistas, e seus


métodos de análise, para fazerem da História uma ciência no
século XIX.
5
O SURGIMENTO DA ESCOLA
POSITIVISTA

6
• A origem da Escola Positivista remonta as proposições
científicas elaboradas pelos intelectuais iluministas no século
XVIII.

• Essas proposições estabeleciam “leis gerais”, “padrões” ou


“regras” ao entendimento das sociedades humanas.

• Em um momento em que a História assumia a clara intenção de


tornar-se científica, tal como outras disciplinas universitárias
(BARROS, 2011, p.2) essas preposições foram bastante
importantes, já que até o início do século XIX, a História era
compreendida como uma área do conhecimento fundamentada
nas concepções metafísicas e especulativas, impostas pela
Filosofia, as quais legaram a ela um caráter não científico.
7
• Nesse sentido, a incorporação de alguns dos princípios do
iluminismo, como regras e leis, foram fundamentais à elaboração
de uma metodologia própria na produção histórica.

• Em face destas proposições, surgiu, portanto, uma História


científica, a qual observava, relacionava e comprovava a
veracidade dos fatos, tal qual as ciências exatas e em oposição a
Filosofia e Metafísica.

• Contudo, embora demonstrasse um desejo profundo em se


separar da Filosofia, essa nova História não conseguiu
desprender-se dela totalmente, pois os historiadores científicos
acabavam repetindo muitos de seus pressupostos (REIS, 2006,
p.38). 8
Leopold Von Ranke (1795-1886)
• Foi um dos grandes representantes dessa
nova tendência de historiadores-cientistas.

• Segundo Schaff (1983), Ranke foi uma


personalidade radical dentro da Escola
Positivista nas primeiras décadas do século
XIX, pois sua tese representou um divisor de
águas na produção histórica, em relação às
técnicas de investigação, coleta e utilização
das fontes.
9
Fonte: <http://sv.wikipedia.org/wiki/Leopold_von_Ranke>.
10
A tese de Ranke se revelava da seguinte forma:

• Não há nenhuma interdependência entre o historiador e seus


objetos de estudo.

• O historiador estuda os acontecimentos de maneira


mecanicista, segundo uma interpretação passiva e
contemplativa.

• Desse modo, ao apresentar os acontecimentos, ele deve fugir


das emoções, fobias e predileções, enfim de todo tipo de
condicionamento (SCHAFF,1983, p.102).
11
• A tese desse historiador alemão serviu de
base para que outros autores contemporâneos
ao século XIX pensassem a escrita da História.

• Entre eles, destacar-se-iam Langlois e


Seignobos, autores que trataremos mais
adiante.

12
AS CARACTERÍSTICAS GERAIS DA
ESCOLA POSITIVISTA

13
• Vimos que ao longo do século XIX, os trabalhos históricos
buscaram se desvencilhar das concepções filosóficas, tendo
em vista que a História ansiava por ser uma ciência empírica,
amparada na observação e experimentação, tais quais as
ciências exatas.
• Por esse viés, a produção histórica não deveria interpretar e
analisar os fatos (que expressam os atos dos homens, os
costumes gerais de um povo, a história dos países, etc.), mas
somente observá-los e narrá-los, uma vez que ao interpretar o
acontecimento, o historiador poderia mudar o verdadeiro curso
do passado, retomando a perspectiva da Filosofia.
• Esse era um risco que os positivistas não queriam correr.

14
• Desse modo,

• “O Positivismo pregava a cientifização do


pensamento e do estudo humano, visando a obtenção
de resultados claros, objetivos e completamente
corretos. Os seguidores desse movimento
acreditavam num ideal de neutralidade, isto é, na
separação entre o pesquisador/autor e sua obra: esta,
em vez de mostrar as opiniões e julgamentos de seu
criador, retrataria de forma neutra e clara uma dada
realidade a partir de seus fatos, mas sem os analisar”
(BIRARDI et all, s/d, p.2).
15
• Conforme citação, notar-se-á que uma das principais
características da História Positivista era a objetividade no
estudo dos fatos.

• Essa objetividade diminuía o papel do historiador. Essa era


outra característica marcante na Escola Positivista.

• A interpretação proferida por esse profissional poderia mudar


o sentido do passado, pois era subjetiva.

• Logo, para os positivistas, o papel do historiador se limitava


ao levantamento de documentos que pudessem comprovar os
fatos, bem como à organização cronológica desses fatos que
expressavam características tão diversas. 16
• A busca incessante por documentos foi outra
característica da História positivista, pois a construção
histórica era feita a partir dos fatos históricos
organizados.

• Mas, como apresentavam uma natureza bastante


díspar e muitos demonstravam ser pouco prováveis e
até suspeitos, para empregá-los à produção histórica
era necessário verificar como apareciam em diversos
documentos, já que “a história não passa da
aplicação de documentos” (LANGLOIS; SEIGNOBOS
apud BOURDÉ; MARTIN, 2003, p.102).
17
• Outra característica da História Metódica, segundo o
historiador analista Marc Bloch (2001), era o costume de
trabalhar com o tempo cristalizado, ou seja, depois de o fato
histórico ter completado vários anos.

• Para os positivistas, esse método diminuía a margem de erro,


já que o historiador, distante temporalmente do fato, estudaria
o passado por ele mesmo e não conforme as perturbações de
seu presente.

• Para Bloch (2001), no entanto, essa é uma ideia ilusória, pois


o pesquisador não consegue se despir de suas concepções de
vida ao analisar um fato.
18
• Mais uma característica da História Positivista
revelou-se nos objetos eleitos.

• Em suas pesquisas, os metódicos preferiam


temáticas ligadas ao Estado, como os feitos
dos reis ou dos monarcas.

• Em face disso, a História Positivista, além de


Metódica, também é conhecida como História
Política.
19
• Além das características destacadas – como
a objetividade, a busca por documentos, a
redução do papel do historiador, o tempo
cristalizado e ênfase em assuntos ligados ao
político – vários outros sintomas podem ser
diagnosticadas no interior da Escola Positivista
e em seus métodos de análise histórica.

20
LANGLOIS E SEIGNOBOS E O
MÉTODO DE PESQUISA EM HISTÓRIA

21
• Como vimos, a época em que os historiadores
positivistas desenvolveram suas ideias foi marcada pela
luta da História para se transformar em ciência.

• Segundo essa constante, a História precisava de


métodos científicos, os quais pudessem ser verificados e
comprovados.

• Esse era o único caminho para se distanciar das


concepções metafísicas e filosóficas, que deram a ela o
estigma de construção literária.
22
• Segundo esta constante, foi elaborada no final do século XIX
a obra Introdução aos Estudos Históricos, na qual Langlois e
Seignobos definiram as regras metodológicas do trabalho do
historiador.

• A obra em questão é considerada um dos primeiros manuais


a descrever o modo como se deve processar a pesquisa e
produção em História.

• No momento em que Langlois e Seignobos produzem


Introdução aos Estudos Históricos era extremamente
necessário refletir sobre os métodos da construção histórica,
dada a necessidade de demonstrar o caráter científico e
moderno da História. 23
• Para isso, a História precisava substituir o status de disciplina
literária e metafísica pelo de ciência empírica.

• Nesse sentido, as questões pensadas por Langlois e


Seignobos tiveram como proposta mostrar ao público
interessado, principalmente acadêmico, o modo como se
produzia o conhecimento histórico científico.

• Nesse sentido, Introdução aos Estudos Históricos começou e


a ser redigida entre 1896 e 1897 e partiu de uma necessidade
acadêmica: “informar os novos estudantes da Sorbonne do que
são e do que devem ser os estudos históricos” (LANGLOIS;
SEIGNOBOS, 1946, p.12).
24
• O grande legado dos positivistas para as gerações de
historiadores posteriores foi o apontamento de que a falta
de documentos impede a produção histórica.

• Como vimos na primeira unidade, os documentos


válidos para a História Positivista eram apenas os escritos
e, preferencialmente, oficiais.

• Consequentemente, a explicação que surgia da análise


desses documentos era política, pois provinha de fontes
oficiais, as quais tratavam dos eventos ligados ao Estado.

25
• “A história, tal como é entendida no século XIX – a história
organizada no quadro dos Estados, como a quer Ranke – é,
antes de tudo, uma história política: a dos reinados, guerras,
negociações diplomáticas, das perturbações causadas pelas
revoluções na ordem dos governos” (GLÉNISSON 1977, p.22).

• Mas, o estudo desses documentos ligados ao político não


deveria envolver a interpretação, pois, ao contrário, os eventos
– relatados nos documentos – poderiam ser deturpados.

• Dessa maneira, o historiador devia manter neutralidade em


relação às fontes, bem como realizar uma crítica rígida a elas,
mediante a incorporação de métodos rigorosos na pesquisa
histórica. 26
A CRÍTICA DOS DOCUMENTOS E O
RIGOR METODOLÓGICO

27
• Como o conhecimento histórico é um conhecimento
indireto e não observável, segundo os positivistas, é
fundamental o historiador saber estudar os vestígios
dos homens do passado contidos nos documentos.

• Esse estudo a que Langlois e Seignobos se referiam


dizia respeito à crítica externa aos documentos, a
qual consistia nos trabalhos preliminares que o
historiador estabelecia, após ter selecionado os
vestígios do passado a que pretendia estudar.

28
• Tais trabalhos se referiam ao estudo “da
escrita, da língua, das formas das fontes, etc”,
bem como na análise de procedência para
verificar o local de origem dos documentos, seu
autor, sua data de produção, enfim seu valor
(LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946, p.46).

• Em síntese, a crítica externa consistia no


levantamento das características físicas do
documento.
29
• Selecionados os documentos, feita a crítica externa acerca
deles e, também, a análise de procedência, o terceiro passo da
construção do conhecimento histórico, segundo os
historiadores positivistas, era a crítica interna dos
documentos, a qual tinha “por objeto discernir nos
documentos o que pode ser aceito como verdadeiro”
(LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946, p.100).

• Em síntese, a crítica interna consistia na análise do conteúdo


do documento para determinar o pensamento real do autor,
assim como na análise das condições em que o documento
tinha sido produzido para saber se a informação contida nele
era verdadeira (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946).
30
• Outra questão crucial à interpretação do documento
referia-se ao contexto.
• Para os metódicos, as palavras e frases não
deveriam ser analisadas isoladamente, mas de
acordo com o período em que haviam sido
produzidas.
• Esse pressuposto, levantado por Langlois e
Seignobos (1946), continua sendo importantíssimo na
produção histórica, já que uma palavra interpretada
fora de seu contexto poderá conduzir o historiador ao
erro.
31
• Em suma, como o historiador – em
comparação com outros profissionais, como o
químico – não tem, segundo os metódicos, a
oportunidade de observar diretamente os fatos,
precisa saber estudar os documentos que
expressam sinais sobre esses fatos.

• Para isso, a crítica em relação aos


documentos torna-se fundamental.
32
O MODO COMO SE PROCESSA O
CONHECIMENTO HISTÓRICO: AS
OPERAÇÕES SINTÉTICAS

33
• A crítica aos documentos, segundo Langlois e
Seignobos (1946), fornecia apenas dados isolados.

• Para completá-los, era preciso submetê-los as


chamadas operações sintéticas.

• A partir da crítica dos documentos, bem como das


operações sintéticas a eles voltada, seria possível
proceder à construção do conhecimento histórico.

34
• Em síntese, as operações sintéticas dirigiam-se aos
fatos históricos e revelavam-se nas seguintes
observações:

• 1ª) Imaginar os fatos contidos nos documentos


selecionados, conforme os fatos atuais que julgavam
análogos.

• O objetivo era “obter a imagem mais próxima da que


teria sido gerada na observação direta do fato
passado” (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946, p.159).
35
• 2ª) Na sequência, era necessário agrupar os fatos
imaginados em quadros de modo a classificá-los em sessões,
segundo a natureza das suas condições, tais como:

a) Costumes Materiais: abarcavam a vida material e a vida privada.


b) Hábitos Intelectuais: contemplavam a língua falada, as artes plásticas e
de expressão, as ciências, a Filosofia e as crenças religiosas.
c) Costumes econômicos: tratavam da produção (como cultivo do solo e
criação de animais), da transformação, dos transportes, da indústria e do
comércio.
d) Instituições Sociais: abordavam a família, a educação e as classes
sociais.
e) Instituições públicas: contemplavam as instituições políticas, as
instituições eclesiásticas e as instituições internacionais.
36
• 3ª) Após ter agrupado os fatos em quadros e classificado-os
em sessões, era preciso preencher algumas lacunas que
ficavam entre os fatos por meio de raciocínio construtivo, o
qual deveria envolver certas precauções, tais como:

a) Entendimento de que a análise de documento e o raciocínio construtivo


eram coisas diferentes.

b) Os fatos extraídos do exame dos documentos não eram iguais aos


resultados de um raciocínio.

c) O raciocínio não devia ser inconsciente.

d) O raciocínio não devia deixar qualquer sombra de dúvida.


37
4ª) A partir das operações citadas –
imaginação, classificação e formação de um
raciocínio acerca dos fatos – sobressaia a
quarta e última operação, que buscava
aglutinar todo o trabalho anteriormente
executado e chegar a um conhecimento
histórico científico.

38
CONSIDERAÇÕES FINAIS

39
• Nesta terceira unidade, discutimos o contexto em que surgiu
a escola historiográfica positivista, dando ênfase a seus
princípios e características gerais.
• Apresentamos, também, as regras metodológicas elaboradas
pelos positivistas.
• Vimos que a História Positivista se despontou na passagem
do século XVIII e XIX, período marcado por uma série de
transformações econômicas, sociais e científicas, as quais
modificaram diversos campos do conhecimento.
• A História não ficou de fora dessa conjuntura e, para isso, foi
buscar inspiração nas ideias desenvolvidas pelos iluministas
no decorrer do século XVIII.
40
• Essa inspiração motivou historiadores do século XIX
a elaborarem modos diferenciados para pesquisa
histórica, amparados não mais no entendimento
filosófico e metafísico, mas na observação e na
comprovação dos fatos observados.

• A maior satisfação da História, nesse momento, era


tornar-se científica.

• Nas duas próximas unidades continuaremos nossa


abordagem sobre as teorias da História.
41
Referências

• BARROS, José D’Assunção. Considerações sobre o


paradigma positivista em história. Revista Historiar -
Universidade Estadual Vale do Acaraú – v.4. n. 4, p.1-20,
jan./jun. 2011.
• BIRARDI, Angela; CASTELANI, Gláucia Rodrigues;
BELATTO Luiz Fernando O Positivismo, Os Annales e a Nova
História. 2008. Disponível em:
<http://www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html>. Acesso
em: 13 mar. 2014.
• BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do
historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

42
• BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. As escolas
históricas. 2 ed. Lisboa: Publicações Europa-
América, 2003.
• LANGLOIS, Ch. V.; SEIGNOBOS, Ch. Introdução
aos estudos históricos. São Paulo: Renascença,
1946.
• REIS, José Carlos. História e teoria: historicismo,
modernidade, temporalidade e verdade. 3 ed. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2006.

43
TEORIAS DA HISTÓRIA

Prof. Me. Giselle Rodrigues


gisellepalacio@yahoo.com.br 44

Você também pode gostar