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1934 3413 1 PB PDF
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Historiografia Brasileira
Francisco Iglésias
A história diplomática foi uma de que pelo período colonial. Foi pro
suas preocupações mais constantes, o fessor na Faculdade de Ciências Eco
que o levou a dedicar mais de um nômicas do Estado da Guanabara, na
livro às relações exteriores. Universidade Federal Fluminense, em
Ao longo desse período, desenvol Niterói, na Universidade Federal do
veu outras atividades. E m 1950 obteve Rio de Janeiro, mas sem continuida
bolsa do Conselbo Britânico, realizan de ou por períodos longos. Deu aulas
do proveitosa viagem à Inglaterra, on regulares por certo tempo na Univer
de conheceu pessoalmente Arnold sidade de Brasília, mesmo permane
Toynbee. A cooperação do Instituto cendo no Rio de Janeiro. Foi ainda
do Açúcar e do Alcool - no qual já professor-visitante na Universidade do
trabalbara - e do Instituto ruo Bran Texas, em Austin, em 1963, 1964 e
co - no qual era responsável por 1966, bem como na de Colúmbia, em
um curso de história - permitiu a Nova York, em 1970. Recebeu ofertas
visita a outros centros, como Portu para permanecer nos Estados Unidos
gal, Espanha, França, Itália e Países na década de sessenta, mas recusou-as.
Baixos. Teve oportunidade, então, de Na verdade, não se sentia bem fora
conhecer arquivos e mais instituições do país, e supunha, com razão, estar
interessadas em história, como se vê aqui, junto de seu povo. o seu cam
pela importante "Exposição" que fez po, a sua tarefa.
sobre a viagem de 25 de fevereiro a O cargo mais importante que
23 de maio às entidades patrocinado ocupou na administração pública foi
ras - Ministério da Educação, Ins o de diretor do Arquivo Nacional, de
tituto do Açúcar e do Alcool e Ins 1958 a 1964. Ao longo de período
tituto ruo Branco. Sua " Exposição" pouco dilatado, realizou reforma
é peça notável, reveladora de lucidez substancial na velha casa criada em
e operosidade; em três meses, uma 1838, tendo sido o diretor mais di
visita rendera conhecimento de arqui nâmico de toda a trajetória da insti
vos e instituições de história de di tuição: nem antes nem depois. nin
versOs países, contatos com autorida guém fez tanto por ela. Com o co
des, troca de experiências e at� COn nhecimento de arquivos europeus e
vênios de muita repercussão para o americanos - conhecimento como
autor, que viveu instante fundamental pesquisador e visitante a inspecionar
para seus conhecimentos de teoria, organização e formas de trabalho -,
Das visitas e conversas em institutos com energia e alto sentido público,
de estudos, ou de organização de ar dinamizou o órgão, então em fase
quivos e trato de documentos, como apagada, desa�sistido de recursos e
se lê pelo folbeto publicado no mes técrucos. Soube sensibilizar o então
mo ano As fontes da história do ministro da Justiça - pasta à qual
Brasil l1a Europa, em substanciosas 42 o Arquivo é subordinado - e deu
páginas. Poucas vezes uma viagem andamento a obras fundamentais atra
terá sido mais lucrativa. vês de convênios com embaixadas, no
Em 1955 fez o curso na Escola tadamente a dos Estados Unidos.
Superior de Guerra - para ele muito Através desse expediente, consegviu
importante - onde pronunciou confe trazer ao Brasil especialistas de pri
rências, algumas a origem de Aspira meira grandeza, corno Theodore R.
ções nacionais. Nessa época passou a Schellenberg, o maior mestre norte-
ler mais interesse pelo presente do amerIcano em arqUlvJshca. e outros.
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JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES E A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA 59
vro constitui outro lance pioneiro, pois Grande. Este seria retomado no peque
não se encontra nada equivalente. no volume O continente do Rio Gran·
Volume alentado, faz valioso levan de, de 1954, que, em linhas gerais, é
tamento, informa, classifica, critica. o escrito para a obra anterior, com
Deveria ter prosseguimento com ou poucos acréscimos. Vale como roteiro
tros volumes, quatro ou cinco, e, con para a área, de tantas peculiaridades
forme consta, o segundo terá edição no panorama geral do país. Os dois
em breve. Se o autor o deu como con títulos são interessantes e sugestivos,
cluído, não se sabe. Sabe-se que im mas demasiado esquemáticos. No Mé
primiu dimensões excessivas a certos x.ico também apareceriam, em espa
autores, de modo a desequilibrar o nhol, em 1957, Historiografia deI
Brasil, siglo XVI, e, em 1963, Siglo
conjunto. � pena ficasse incompleto,
XVlI. Não foram publicados aqui,
pois seria obra importante, pela qua
mas estão incorporados, revistos, na
lificação específica do autor. No Bra
Hist6ria da hist6ria do Brasil, histo
sil tem-se escrito com certa constân
riografia colonial.
cia sobre historiografia, mas nem sem
pre com o preparo requerido. Alguns Se este item rala em historiografia,
volumes sobre o assunto pecam por como se vê pelo título, seria o caso
graves insuficiências, deixando o lei de arrolar alguns volumes classifica
tor de mediana exigência em dúvida dos no terceiro grupo - Ensaios his
toriográficos. Se se destacaram do
sobre os conhecimentos de quem es
item anterior foi por serem constituí
creve, diante do número de equívocos.
dos de reunião de artigos, ensaios,
distorções e mesmo indício de que au
conferências. Falta·lhes unidade, como
tores e obras criticados não foram li
é típico do gênero ensaio: caso de
dos, ou O foram com in desculpável
Hist6ria e historiadores do Brasil, de
ligeireza para quem se propõe a abor
1965; Hist6ria e historiografia, de
dagem. Falta a muitos desses títulos
1970; Hist6ria, corpo do tempo, de
a simples leitura, situando a inicia
1 976; Hist6ria combatente, de 1 983;
tiva no domínio da temeridade.
Hist6ria viva, de 1985; Tempo e so
No item precedente - classifica ciedade, de 1 986. Alguns desses en
ção da bibliografia -, citam-se nesse saios sobre autores ou textos consti
primeiro grupo outros textos: Brasil, tuem peças excelentes de crítica: tal
período colonial, editado em 1953 é por exemplo, o caso de "Capistrano
como elemento para o Programa de de Abreu e a historiografia brasileira"
história da América, no México. Em (de Hist6ria e historiadores do Bra
1 4 capÍlulos breves, apresenta a linha sil), "Varnhagen, mestre da história
de desenvolvimento de trezentos anos. geral do Brasil" (de Hist6ria e his
Nos capítulos há o roteiro a ser se· toriografia) e "Varnhagen: o primeiro
guido: assuntos de realce, evidencian mestre da historiografia brasileira"
do como foram considerados até ago (de Hist6ria combatente): os dois tex
ra e quais os aspectos à espera de tos são praticamente o mesmo, e cons
completo esclarecimento. Análise, en tituem, talvez, o ponto mais alto da
fim, do já feito e do que há para ser crítica do autor. Na verdade, muito
Ceito. Como notas originais, lembrem· do que escreveu sobre a historiogra
se os capítulos sobre o estado do Ma· fia patrícia é matéria a figurar entre
ranhão e sobre o continente do Rio suas melhores páginas.
JOSÉ HON6RlO RODRIGUES E A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA 65
Com este volume, tem-se melhor co A fase, pois, é notável, e seu retra
nhecimento de nossa gente, com boa to está na oratória do Parlamento. Os
explicação para a miscigenação, vista seis volumes de textos são precedidos
como processo natural, devida, nos as por um de abertura, bem construído
pectos mais positivos, antes ao brasi e comprovador da solidez de visão de
leiro que ao português, ao contrário José Honório: em alguns capítulos há
do proclamado em exames demasiado o exame do pensamento político, do
lusófilos do chamado "mundo que o vocabulário, da periodização, do tra
português criou". balbo das quatro primeiras legislatu
Outro título é O Parlamento e a ras, da maioridade, concluindo, com a
evolução nacional, de 1 972. Seu méri boa técnica, com o apêndice sobre
to é tratar da história parlamentar, tão historiografia e bibliografia parlamen
cultivada em países como a Grã-Bre tares. � peça importante em tal biblio
tanha e os Estados Unidos, e de mí gt afia, da qual é um dos marcos ou
nimo cul tivo en tre nós, como o é expoentes. O autor sempre teve em
também a história do Judiciário. Nos alta conta a história parlamentar,
sa histo�iografia política é, eminente como se vê já na Teoria. A obra deve
mente, 8 do Poder Executivo, em visão ria ter continuidade, mas era ampla
acanhada do real processo político. demais e não foi possível realizá-la. O
José Honório fez estudo exaustivo do período de 1871 a 1 889 foi objeto
período de 1826 a 1 840, preparando também de seis volumes de discursos,
edição em seis volumes de textos da por Fábio Vieira Bruno, mas sem as
oratória parlamentar, pela qualidade introduções ind ispensáveis, que tanto
dos discursos ou pela importância da qualificam os editados por José Ho
temática. Depois da experiência frus nório.
trada da Constituinte de 1823, dissol O autor voltaria ao tema no livro
vida pelo arbítrio imperial, o Legisla O Parlamento e a consolidação do Im
tivo se instala em 1826. O período de pério, 1840-1861, editado em 1982,
1826 a 1840 é obviamente básico, pois com o qual ganhou o prêmio do COn
aí se eduica a nação, alravés das leis, curso nacional de monograíias em
como o Código Criminal, o do Proces 1 98 1 , instituído dez anos antes pela
so, o Ato Adicional. O vivo debate Câmara dos Deputados e concedido
68 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1988/1
pela terceira vez. Trabalho de ampla de objetivos mais amplos. Entre estes,
pesquisa nas fontes originais, eviden destaque-se Tobias Monteiro, em His
cia a contribuição do Congresso na !ória do Império, publicado em 1927.
Monarquia. José Honório não p.ubli A bibliografia muito lucraria se obras
cou a coletânea referente ao período, equivalentes já tivessem surgido so
que desejava ampliar até 1 87 1 , mas bre as constituintes de 1 89 1 , 1 934 e
não O conseguiu por falta de tempo 1 946.
e amparo de um grupo de auxiliares O escrito mais pretensioso e bem
na tarefa : o texto foi escrito com vis realizado na categoria ora em exame
tas ao concurso, e o prazo era curto é Independência: revolução e contra
demais. Tem-se nele boa visão da fase, revolução. Editado em 1976 em cinco.
notadamente do ângulo do Legislativo, volumes, perfazendo 1 .464 páginas, o
mas a exposição não é a ideal: res livro foi feito para comemorar os 1 50
sente-se da pressa com que foi .escrito, anos da independência, em 1972, data
. .
com mUltas cltaçoes e sem mUlta ana-
- .
na espanhola, com suas batalhas sem tiva. E a nação continua sem uma sin
conta, demoradas e com número ex tese moderna, presa ainda aos padrões
cessivo de mortos - em análise que fixados por Varnhagen em 1 854-1 857.
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