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SUBSÍDIO

CONTEMPLAÇÃO INACIANA
“... Como se eu estivesse presente, com todo o acatamento e reverência possível”
(EE.114)

A contemplação nos EE é uma forma de oração através da qual deixamos que o


mistério da Vida de Cristo nos penetre e nos vá permeando como por osmose (por
conaturalidade afetiva) e ao mesmo tempo vamos “conhecendo intimamente” esse
mistério insondável da pessoa de Jesus.

“Contemplar” não é especular sobre um texto evangélico, nem tirar conclusões, nem
sequer examinar minha vida a partir da atuação de Jesus. Trata-se de fazer-me
presente à cena evangélica, esquecer-me de mim mesmo e estabelecer uma
relação de presença, de intimidade... que faça possível que a Pessoa de Jesus vá
se adentrando em mim.

Na contemplação o ponto de partida não é uma recordação, senão a tomada de


consciência de meu estar presente diante de “Alguém”. Estabelece-se uma relação
interpessoal que suscita a atração, a sedução...

A contemplação é uma ajuda concreta para centrar o afeto e liberar o desejo numa
só direção. É um apoio para que a pessoa “inteira” se deixe “afectar” pela cena e
permita que Deus lhe interpele desde o “acontecimento salvífico”. Estão Deus tem a
iniciativa e a pessoa cala.

Contemplam-se os “mistérios de Cristo” e isso contagia e configura interiormente a


pessoa, que logo atuará a partir desse mistério de Amor.

A Revelação são fatos e ditos: é necessário olhar e observar as pessoa da cena.

Não se trata de algo estático, mas em movimento, dramático, presente...

Não se trata de reproduzir arqueologicamente uma cena; é necessário carregá-la de


sentido: é encontro com Alguém...

Aquele que contempla também não é uma pessoa abstrata. Sou EU, carregado com
minha vida, minha história, meu temperamento, meus sonhos, minhas
capacidades... A contemplação põe juntas a pessoa (e sua história) e o mistério,
para que haja interação e assimilação. Lentamente vai transformando a pessoa sem
que ela perceba. “Nós nos tornamos aquilo que contemplamos”:

• A contemplação não deve ser forçada, mas “deixar-se levar”, interpelar...

• A contemplação ajuda evangelizar os nossos sentidos, reações, sentimentos.


Trata-se de cristificar o nosso olhar, escutar, falar, agir...

• A contemplação abre-nos o caminho para penetrarmos profundamente na vida,


obra, missão, opção de Cristo.

• A contemplação de Cristo não é uma simples “maneira de orar”, significa


consentir ser introduzido no “mistério” que é Jesus Cristo; significa deixar-se
impregnar pelo modo de ser de Cristo: suas palavras, gestos, atitudes... é
confrontar-se com Alguém que interpela, chama.

Para “conformar-se”. à imagem do Filho é necessário que se “entre na


contemplação não como turista, mas como amante. Não com o coração dividido,
mas como pessoa que fez uma escolha de vida pelo Senhor.

Em si mesma a contemplação é viva, criadora e dinâmica. Continuamente renova


nossas opções e atitudes profundas. Não se trata de uma atividade nossa sobre a
cena, mas da atividade da cena sobre nós. Ela vai nos modelando. Através da cena
contemplada o Pai nos conforma ao Filho, esculpe em nós com o dedo do Espírito
Santo aquela imagem única de filhos no Filho que somos chamados a ser.

Progressivamente, a contemplação vai criando um sexto sentido: o sensus Christi,


ou seja, a assimilação progressiva do modo de ser de Cristo. A “contemplação
inaciana” termina na união com Deus na ação. Contempla-se um Cristo dinâmico,
que realiza o Projeto do Pai e nos convida a trabalhar com Ele. A “contemplação
inaciana” desemboca na prática; ela não é neutra, mas compromete.

Como o verdadeiro contemplativo deve “participar da cena evangélica” assim


também aquele que participa da realidade e nela se encontra inserido deve
experimentar um verdadeiro encontro com Deus.

Quem faz a experiência da contemplação na oração, deverá ser também um


contemplativo na ação, isto é, no engajamento e no serviço. Tal como fazemos na
oração, devemos fazer na ação: dar os passos próprios de toda a contemplação,
isto é:

- “olhar as pessoas...” e nelas descobrir a pessoa do Senhor;

- “escutar o que dizem...” entre todas as vozes que escutamos, perceber e


discernir qual é a do Senhor e o que Ele tem a me dizer hoje.

- “observar o que fazem...”: participar, fazer-me presente... optando, colaborando de


modo evangélico numa tarefa... querendo construir a história dos homens com os
valores do Evangelho.

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