Você está na página 1de 69

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Engenharia de São Carlos

Utilização do método dos elementos finitos aliado à técnica de


homogeneização periódica para a obtenção de propriedades equivalentes para
o piezocompósito MFC d31.

Artur Valadares de Freitas Santos

São Carlos – SP

2012
Artur Valadares de Freitas Santos

Utilização do método dos elementos finitos aliado à técnica de


homogeneização periódica para a obtenção de propriedades equivalentes para
o piezocompósito MFC d31.

Trabalho de Conclusão de Curso em


Engenharia Mecânica da Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade
de São Paulo.

Orientador: Marcelo Areias Trindade

São Carlos – SP

2012
RESUMO

Neste trabalho, foi utilizada uma metodologia numérica computacional para a


obtenção de propriedades homogêneas equivalentes para um Macro Fiber
Composite atuando no modo transversal d31, através da determinação de seus
coeficientes mecânicos, piezelétricos e dielétricos efetivos. Para tal, foi utilizado o
Método dos Elementos Finitos aliado à técnica de Homogeneização Periódica, que
se baseia na definição de uma unidade básica de repetição para a estrutura do
material, denominada Volume Elementar Representativo. Os resultados obtidos pelo
método numérico foram então comparados com resultados presentes na literatura,
obtidas de maneira analítica, e também com os dados fornecidos pela Smart
Material Corporation, fabricante do transdutor piezocompósito.

Palavras-chave: Macro Fiber Composite (MFC), Modo Transversal d31,


Transdutor Piezocompósito, Coeficientes Efetivos, Propriedades Equivalentes,
Volume Elementar Representativo (VER), Método dos Elementos Finitos (MEF),
Homogeneização Periódica.
ABSTRACT

In this work, a numerical computational methodology was used to obtain


homogeneous equivalent properties for a Macro Fiber Composite actuating in the
transversal d31 mode, by determining its mechanical, piezoelectric and dielectric
effective coefficients. For this purpose, the Finite Elements Method was used
combined with the Periodic Homogenization technique, which relies on the definition
of a basic unit of repetition for the material structure, called Representative Volume
Element. The results obtained by the numerical method were then compared with
results from the literature, obtained from analytical methods, and also with the data
provided by Smart Material Corporation, the manufacturer of the piezocomposite
transducer.

Keywords: Macro Fiber Composite (MFC), Transversal Mode d31,


Piezocomposite Transducer, Effective Coefficients, Equivalent Properties,
Representative Volume Element (RVE), Finite Elements Method (FEM), Periodic
Homogenization.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 9

1.1. Introdução ......................................................................................... 9

1.2. Objetivos ......................................................................................... 17

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................. 18

2.1. Efeito Piezelétrico ........................................................................... 18

2.2. Equações Constitutivas ................................................................... 19

2.3. Volume Elementar Representativo .................................................. 23

2.4. Homogeneização Periódica ............................................................ 25

2.5. Regras de Mistura ........................................................................... 26

3. METODOLOGIA UTILIZADA ................................................................. 30

3.1. Definição do Volume Elementar Representativo ............................. 31

3.2. Propriedades dos Materiais............................................................. 36

3.3. Método dos Elementos Finitos – Problemas Locais........................ 37

3.3.1. Problema 1 ................................................................................... 38

3.3.2. Problema 2 ................................................................................... 40

3.3.3. Problema 3 ................................................................................... 41

3.3.4. Problema 4 ................................................................................... 42

3.3.5. Problema 5 ................................................................................... 43

3.3.6. Problema 6 ................................................................................... 44

3.3.7. Problema 7 ................................................................................... 45

3.3.8. Tabela Resumo ............................................................................ 47

3.4. Propriedades Equivalentes ............................................................. 48

4. RESULTADOS ...................................................................................... 50

4.1. Análise Paramétrica ........................................................................ 50

4.2. Método dos Elementos Finitos ........................................................ 57


5. CONCLUSÃO ........................................................................................ 65

5.1. Conclusões ..................................................................................... 65

5.2. Trabalhos futuros ............................................................................ 66

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 67


9

1. INTRODUÇÃO

1.1. Introdução

Apesar de existirem materiais com as mais diversas propriedades e


características, nem sempre a utilização de apenas um material é suficiente para
atender às necessidades de uma determinada aplicação. Ao se procurar uma
maneira de contornar este problema, os pesquisadores acabaram por descobrir que
a mistura de dois ou materiais pode proporcionar uma combinação mais adequada
de propriedades para uma aplicação específica. Dessa maneira, tornou-se muito
importante o desenvolvimento de uma metodologia eficaz para predizer o
comportamento mecânico destas misturas que receberam o nome de materiais
compósitos.

Segundo Medeiros (2012), o cenário tecnológico atual é caracterizado por


uma busca incessante pela redução de componentes nos sistemas e a consequente
redução de peso e espaço, especialmente em sistemas miniaturizados ou em
sistemas embarcados, onde o fator peso é crítico. Dessa maneira, tem-se buscado o
desenvolvimento dos chamados dispositivos inteligentes que são capazes de
realizar mais de uma função ao mesmo tempo como, por exemplo, aqueles que são
capazes de converter uma dada forma de energia em outra.

Assim, é cada vez maior a importância de estudos envolvendo os chamados


materiais inteligentes capazes de realizarem tarefas múltiplas, como as ligas com
memória de forma, os polímeros eletroativos e os materiais piezelétricos. Estes
materiais são caracterizados pela propriedade de converter um tipo de campo de
entrada em outro tipo de campo de saída. Por exemplo, uma liga de memória produz
um campo de deslocamento quando submetida a um campo térmico; um polímero
eletroativo produz um campo de deslocamento quando submetido a um campo
elétrico. Existem ainda materiais onde o campo de entrada é permutável com o
campo de saída, isto é, a relação entre entrada e saída é reversível, como no caso
dos materiais piezelétricos, onde uma entrada elétrica produz uma saída mecânica e
vice-versa.

Dentre as vantagens da inserção destes materiais no projeto de


equipamentos pode-se citar a capacidade de desenvolvimento de dispositivos mais
10

compactos, eficientes e até mesmo mais silenciosos, com a possibilidade de se ter o


controle integrado ao sistema, dispensando assim o uso de controladores externos.
Desse modo, a utilização de materiais piezelétricos tem crescido de maneira
considerável nos últimos anos, principalmente nas indústrias aeronáutica,
aeroespacial, automobilística e naval, especialmente em aplicações que utilizem
sistemas embarcados. Na aeronáutica, materiais inteligentes têm sido utilizados no
controle de vibrações e em sistemas de posicionamento e sensoriamento. Em
satélites, por exemplo, onde o fator peso é crítico, motores e atuadores piezelétricos
têm sido utilizados para substituir os servomotores na manipulação de pequenos
mecanismos presentes em sistemas precisos de posicionamento.

Com o crescente emprego dos materiais inteligentes no projeto de


equipamentos, cresceu também o interesse dos pesquisadores pelo estudo das
propriedades e características destes materiais e, consequentemente, o número de
pesquisas envolvendo este tema vem aumentando significativamente. O principal
objetivo destas pesquisas é caracterizar o comportamento desses materiais da
maneira mais próxima da realidade possível, sob as mais diversas condições de
aplicação como, por exemplo, na forma de filtros, sensores, atuadores, motores,
entre outros.

Atuadores e sensores piezelétricos são utilizados nas mais diversas


aplicações como no controle de vibrações ou no monitoramento de integridade
estrutural. Nestas aplicações, as cerâmicas PZT são normalmente utilizadas devido
ao seu custo relativamente baixo, à sua grande faixa de aplicabilidade e à sua boa
capacidade de atuação. Entretanto, as cerâmicas apresentam uma flexibilidade
muito baixa, além de serem materiais muito frágeis, o que impede a sua utilização
em determinadas aplicações. Com o objetivo de se contornar estes problemas,
foram desenvolvidos os chamados transdutores piezocompósitos, em que fibras de
material piezelétrico são inseridas em uma matriz polimérica. Na Figura 1 é possível
ver um exemplo da aplicação destes transdutores.
11

Figura 1 – Aplicação de transdutores piezocompósitos durante um ensaio em túnel de vento.


Wilkie et al. (2000).

De acordo com Deraemaeker e Nasser (2010), transdutores piezocompósitos


são fabricados tipicamente a partir da colocação de uma camada ativa de material
piezelétrico, embebido ou não em uma matriz polimérica, entre duas ou mais
camadas finas de encapsulamento. Este encapsulamento tem como objetivos: (i)
aplicar uma pretensão na camada ativa, de modo a evitar fissuras; (ii) produzir um
campo elétrico na camada ativa através da utilização de um eletrodo na superfície

Existem basicamente dois tipos principais de eletrodos utilizados nos


transdutores piezocompósitos: os interdigitais e os contínuos. No caso dos eletrodos
interdigitais, verifica-se a ocorrência de um campo elétrico curvo, preferencialmente
na direção longitudinal das fibras ativas. Já no caso dos eletrodos contínuos, onde
uma diferença de tensão é aplicada entre os eletrodos da base e do topo, o campo
elétrico é perpendicular ao plano do transdutor. Ambas as configurações podem ser
vistas na Figura 2.

Figura 2 – Configurações de eletrodos utilizadas nos piezocompósitos. Adaptado de


Deraemaeker et al. (2009).

Além da disposição dos eletrodos, os transdutores piezocompósitos diferem


também com relação à configuração de sua camada ativa, que pode ser
12

basicamente de quatro tipos: (i) uma pastilha de material cerâmico; (ii) fibras de
seção circular, também chamado de AFC (Active Fiber Composite); fibras de seção
quadrada, também chamado de MFC (Macro Fiber Composite); (iv) ou ainda fibras
circulares bem finas, também chamado de PFC (Piezo Fiber Composite). A Figura 3
apresenta cada uma destas configurações.

Figura 3 – Diferentes configurações da camada ativa de transdutores piezocompósitos.


Adaptado de Deraemaeker e Nasser (2010).

O primeiro piezocompósito, do tipo AFC, foi desenvolvido pelo MIT


(Massachusetts Institute of Technology) no início da década de 90 e consistia de
uma camada ativa feita de fibras circulares de PZT envolvidas por uma matriz de
epóxi, atuando no modo d31, isto é, um campo elétrico perpendicular ao plano do
transdutor (direção 3) provoca uma deformação na direção longitudinal das fibras
piezelétricas (direção 1). Entretanto, a utilização de fibras circulares não se mostrou
muito efetiva devido à grande diferença entre as permissividades dielétricas das
fibras e da matriz, o que implicava na necessidade da colocação dos eletrodos em
contato direto com as fibras ativas. No mesmo período, Hagood et al. (1993, apud
Deraemaeker et al., 2009) introduziram o conceito de eletrodos interdigitais (IDE),
com o objetivo de que os transdutores atuassem no modo d 33, ou seja, com um
campo elétrico perpendicular ao plano do transdutor (direção 3) e uma deformação
na mesma direção, provocando uma melhora no desempenho do transdutor.

Por volta do ano 2000, a NASA desenvolveu os compósitos do tipo MFC.


Como visto anteriormente, a grande diferença entre este tipo de compósito e o
anterior reside no fato de que no último as fibras são retangulares (Figura 4),
enquanto no primeiro as fibras são circulares (Figura 5). O processo de fabricação é
relativamente barato e com boa repetitividade. Além disso, o formato das fibras
juntamente com o processo de fabricação possibilitou que as fibras fossem
13

colocadas em contato direto com os eletrodos, resolvendo assim o problema da


incompatibilidade da permissividade dielétrica entre fibra e matriz. Na Figura 6 é
possível visualizar um esquema do processo de fabricação das fibras retangulares,
enquanto a Figura 7 apresenta um esquema do processo de fabricação do
transdutor MFC.

Figura 4 – Fibras piezelétricas retangulares. Williams et al. (2002).

Figura 5 – Fibras piezelétricas circulares. Williams et al. (2002).

Figura 6 - Processo de fabricação das fibras piezocerâmicas retangulares. Adaptado de


Wilkie et al. (2000).
14

Figura 7 – Processo de fabricação do transdutor MFC. Adaptado de Wilkie et al. (2000).

Como é possível visualizar na Figura 8, o conceito inicial de MFC


desenvolvido pela NASA utilizava eletrodos interdigitais (IDE) de modo a induzir uma
deformação longitudinal (modo 33) nas fibras ativas. Atualmente, já é possível
encontrar MFCs que operam com deformações transversais (modo 31), onde os
eletrodos são contínuos e geram um campo elétrico perpendicular ao plano do
transdutor. Mais recentemente, tem sido proposta uma nova configuração onde as
fibras são orientadas perpendicularmente à direção do movimento da estrutura, de
tal maneira que são induzidas tensões de cisalhamento (modo 15 ou 35) nas fibras,
como pode ser visto em Trindade e Benjeddou (2011). Este último modo pode ser
obtido pela aplicação de um campo elétrico perpendicular à direção de polarização
das fibras.

O principal problema dos transdutores que atuam no modo longitudinal é que


as tensões exigidas para seu funcionamento são muito maiores (acima de 1200 V)
que aquelas utilizadas no modo transversal. Por outro lado, os transdutores que
atuam no modo transversal, apesar de necessitarem de tensões menores,
apresentam a constante de acoplamento piezelétrico d 31 bem menor que d33,
reduzindo a faixa de deformações alcançadas. Tanto os transdutores que atuam no
modo d31 (Figura 9) como os que atuam no modo d33 (Figura 10) são atualmente
15

fabricados e comercializados pela Smart Material Corporation localizada em


Dresden, Alemanha.

Figura 8 – Conceito de MFC desenvolvido pela NASA. Adaptado de Wilkie et al. (2000).

Figura 9 – Piezocompósito MFC d31. Adaptado de Smart Material Macro Fiber Composite
(MFC) Brochure (2011).

Figura 10 – Piezocompósito MFC d33. Adaptado de Smart Material Macro Fiber Composite
(MFC) Brochure (2011).
16

Na Figura 11 é apresentado o modelo de transdutor MFC desenvolvido pela


NASA, enquanto na Figura 12 é possível visualizar um transdutor piezocompósito do
tipo MFC comercializado pela Smart Material.

Figura 11 – Transdutor do tipo MFC com eletrodos interdigitais (IDE) desenvolvido pela
NASA. Wilkie et al. (2000).

Figura 12 – Transdutor piezocompósito do tipo MFC fabricado pela Smart Material


Corporation. Smart Material Macro Fiber Composite (MFC) Brochure (2011).

A utilização dos chamados MFCs tem sido cada vez maior, uma vez que eles
combinam a conformabilidade da matriz de epóxi com as propriedades de
acoplamento eletromecânico das fibras de material piezocerâmico. Por este motivo,
é cada vez mais importante se ter um conhecimento detalhado das propriedades
destes materiais, para que possam ser desenvolvidos modelos numéricos precisos
das estruturas e componentes onde eles são utilizados.

Os dados fornecidos pelos fabricantes, como informações gerais sobre os


transdutores ou sobre suas dimensões, muitas vezes não são suficientes para atingir
17

tal objetivo. Dessa forma, a busca pelo desenvolvimento de métodos numéricos ou


analíticos para se avaliar as propriedades destes transdutores de forma precisa e
confiável vem se tornando cada vez mais necessária, sendo também o objetivo
principal deste trabalho.

1.2. Objetivos

O objetivo principal deste trabalho consiste na utilização de uma metodologia


numérica computacional para a determinação das propriedades equivalentes do
transdutor do tipo MFC (Macro Fiber Composite) atuando no modo d31 (transversal),
a partir da obtenção de seus coeficientes efetivos. Para tal, será utilizado o Método
dos Elementos Finitos (MEF) aliado à técnica de Homogeneização Periódica.
Também será feita uma análise paramétrica dessas propriedades equivalentes em
função da fração volumétrica de fibra ( ). Os resultados obtidos serão
posteriormente comparados com resultados analíticos presentes na literatura e com
os dados fornecidos pela fabricante Smart Material Corporation.
18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo serão apresentados conceitos e fundamentos essenciais para


o entendimento sobre o efeito piezelétrico e sobre a metodologia utilizada neste
trabalho para a obtenção das propriedades equivalentes para o piezocompósito
MFC d31.

2.1. Efeito Piezelétrico

O efeito piezelétrico foi descoberto em 1880 por Pierre e Jacques Curie, que
notaram que uma carga de superfície pode ser medida quando uma força mecânica
é aplicada a certos cristais. No entanto, os irmãos Curie não conseguiram prever o
efeito inverso, isto é, obter uma saída mecânica a partir de uma forma elétrica como
entrada. Entretanto, em 1881, Gabriel Lippmann provou matematicamente a
existência do efeito inverso, o que levou os irmãos Curie a realizarem experimentos
que provaram fisicamente a existência do efeito inverso.

Muitos materiais apresentam propriedades piezelétricas, como a turmalina, o


quartzo, o topázio e inclusive a cana de açúcar. A primeira aplicação prática deste
efeito foi feita por Paul Langevin, que o utilizou no desenvolvimento de sonares
durante a Primeira Guerra Mundial. Para isto, foram utilizados cristais de quartzo
acoplados a massas metálicas de modo a gerar ondas de ultrassom quando
excitados por geradores de alta tensão.

Nas décadas de 40 e 50, foram descobertas e desenvolvidas as cerâmicas


piezelétricas de Titanato de Bário e as de Titanato de Zirconato de Chumbo (PZT).
Além de apresentarem melhores propriedades piezelétricas que os cristais, estas
cerâmicas apresentavam grandes vantagens em relação aos cristais quando se
tratava de sua geometria e de suas dimensões, já que eram fabricadas por meio da
sinterização de pós-cerâmicos previamente extrudados ou prensados.

Como é possível visualizar na Figura 13, o efeito piezelétrico pode ser


classificado em direto e inverso. Dessa maneira, existe um acoplamento entre as
respostas mecânicas e dielétricas em materiais com propriedades piezelétricas e,
consequentemente, as variáveis mecânicas de tensão e deformação estão
relacionadas entre si, assim como as variáveis elétricas de campo elétrico e
19

deslocamento elétrico. Este acoplamento é descrito por coeficientes que serão mais
bem detalhados na Seção 2.2.

Figura 13 – Efeito piezelétrico direto e inverso. Medeiros (2012).

2.2. Equações Constitutivas

As equações constitutivas para materiais PZT podem ser obtidas através das
relações mecânicas e dielétricas, em conjunto com os termos referentes ao
acoplamento piezelétrico. Quando um material ativo é submetido a uma tensão
mecânica ( ⁄ ), o mesmo produz um deslocamento elétrico ( ⁄ ). A
relação entre tensão mecânica e deslocamento elétrico pode ser descrita pela
relação , onde ( ⁄ ) é o coeficiente de acoplamento piezelétrico direto.

Analogamente, quando é aplicado um campo elétrico ( ⁄ ) através dos


eletrodos de um material PZT, o mesmo produz uma deformação , de modo que a
relação entre o campo elétrico e a deformação é dada por . Além disso, um
material elástico apresenta uma relação entre tensão e deformação da forma ,
onde ( ⁄ ) é chamada de rigidez mecânica do material. Um material dielétrico
apresenta uma relação da forma entre deslocamento elétrico e campo
elétrico, onde ( ⁄ ) é a permissividade dielétrica do material.

O IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers) estabeleceu, em


1987, um conjunto de equações padronizadas para a piezeletricidade linear, de
forma que as equações constitutivas para um material piezelétrico ortotrópico, com a
direção 3 alinhada à direção de polarização, são dadas por:
20

(1)

{ } [ ] { }

As equações constitutivas também podem ser escritas na seguinte forma:

(2)

{ } [ ] { }

Em ambos os casos os sobrescritos , e indicam, respectivamente,


campo elétrico constante, tensão constante e deformação constante; e são as
componentes do vetor campo elétrico e do vetor deslocamento elétrico; e e são
as componentes dos vetores de tensão e deformação, definidas da seguinte
maneira:

(3)

{ } { }

(4)

{ } { }
21

A Equação (1) é conhecida como forma-e (e-form) das equações


constitutivas, enquanto a Equação (2) é conhecida como forma-d (d-form). É
importante destacar, nas Equações (1) e (2), as seguintes matrizes:

 Matriz de rigidez do material, medida com campo elétrico constante:

(5)

[ ]

 Matriz de elasticidade do material, medida com campo elétrico constante:

(6)

[ ]

 Matriz de acoplamento piezelétrico inverso do material, medida com deformação


constante:

[ ] (7)

 Matriz de acoplamento piezelétrico direto do material, medida com tensão constante:

[ ] (8)

 Matriz de permissividade dielétrica do material, medida com deformação constante:

[ ] (9)
22

 Matriz de permissividade dielétrica do material, medida com tensão constante:

[ ] (10)

Após a definição das matrizes acima, é possível reescrever as equações


constitutivas (1) e (2) da seguinte maneira:

{ } { }
{ } [ ] { } (11)
{ } { }

{ } { }
{ } [ ] { } (12)
{ } { }

onde a Equação (11) representa as equações constitutivas na forma-e e a Equação


(12) representa as mesmas equações na forma-d.

Para o piezocompósito MFC d31 em estudo neste trabalho, a direção de


polarização (convencionalmente a direção 3) é normal ao plano do transdutor,
enquanto a direção 1 corresponde à direção das fibras de PZT, ou seja, é a direção
longitudinal do transdutor. Por conseguinte, a direção 2 corresponde à direção
transversal do transdutor. Assume-se que o campo elétrico está alinhado com o
vetor de polarização, de modo que . Portanto, as equações constitutivas
para o MFC d31 se resumem a:

(13)

{ } [ ] { }

ou também:
23

(14)

{ } [ ] { }

Com estas equações constitutivas e com a aplicação do Método dos


Elementos Finitos aliado aos conceitos de Homogeneização Periódica e Volume
Elementar Representativo (VER) que serão explicados posteriormente, será possível
obter os coeficientes efetivos do piezocompósito MFC d31 e, a partir destes, suas
propriedades equivalentes.

Outra definição importante para o estudo de materiais piezelétricos é a do


chamado coeficiente de acoplamento eletromecânico ( ), que é um indicativo da
eficiência na qual o material piezelétrico converte energia elétrica em mecânica e
vice-versa. O primeiro subscrito deste coeficiente refere-se à direção de aplicação
da energia elétrica, neste caso a direção de polarização das fibras, enquanto o
segundo subscrito refere-se à direção de aplicação da energia mecânica. Desta
forma, o coeficiente é o que apresenta maior relevância neste trabalho, podendo
ser calculado da seguinte maneira:

(15)

2.3. Volume Elementar Representativo

Como se sabe, todos os materiais podem ser considerados heterogêneos em


uma escala suficientemente pequena. Nesta escala, a obtenção de propriedades e
características de determinado material é algo praticamente inviável. Na busca de
uma solução para este problema que possibilite o desenvolvimento de teorias
consistentes relacionadas aos materiais de engenharia, é adotada a hipótese de
meio contínuo e, além disso, são associados certos valores às propriedades que
regem a deformação deste meio.

Entretanto, essas propriedades médias são muito difíceis de serem obtidas


quando se considera uma escala atômica ou molecular, de maneira que para vencer
24

essa dificuldade utiliza-se o conceito de homogeneidade do meio contínuo, em que


as propriedades que caracterizam um meio são iguais em todos os pontos deste
meio.

Ainda assim, podem existir condições de heterogeneidade em um meio que


provocam variações espaciais substanciais das propriedades deste meio como, por
exemplo, uma combinação de fases como a que existe nos materiais compósitos,
que são compostos por duas ou mais fases homogêneas.

Para contornar este problema, define-se uma dimensão característica que


pode ser associada à homogeneidade do meio, ou seja, adota-se a hipótese de que
os valores médios das propriedades para esta dimensão característica são uma
aproximação idealizada das propriedades do meio heterogêneo real. Dessa maneira,
a escala de comprimento a ser utilizada para o cálculo das propriedades de um
material heterogêneo deve ser maior que a dimensão característica de
homogeneidade, porém muito menor que a dimensão característica do meio em
análise como um todo.

O conceito de Volume Elementar Representativo, que pode ser visto na


Figura 14, se baseia nesta condição de homogeneidade efetiva ou equivalente, em
que as propriedades médias deste volume elementar que se repete periodicamente
na estrutura do material são consideradas como uma boa representação das
propriedades do meio contínuo como um todo. Este conceito é bastante utilizado no
estudo de materiais compósitos, já que seria muito difícil estudar separadamente
cada região heterogênea do material.

Figura 14 – Conceito de Volume Elementar Representativo (VER). Adaptado de


Deraemaeker e Nasser (2010).
25

Neste trabalho foram desenvolvidos modelos de VER em elementos finitos


para o piezocompósito MFC d31. Estes modelos foram submetidos a uma série de
carregamentos e condições de contorno com a utilização do software Ansys ®, que
juntamente com a aplicação da técnica conhecida como Homogeneização Periódica
possibilitou a obtenção das propriedades homogêneas equivalentes para o MFC d31.

2.4. Homogeneização Periódica

As técnicas de homogeneização são bastante utilizadas no estudo de


materiais compósitos. Elas são utilizadas para a obtenção de propriedades
homogêneas equivalentes de materiais heterogêneos como é o caso dos materiais
compósitos. Na homogeneização periódica o material apresenta algum tipo de
periodicidade em sua estrutura, de tal maneira que é possível definir uma unidade
de repetição, chamada Volume Elementar Representativo.

As propriedades equivalentes do material, presentes nas equações


constitutivas (1) e (2), isto é, deformação ( ), tensão ( ), campo elétrico ( ) e
deslocamento elétrico ( ), são obtidas então através dos valores médios de , ,
e no VER pelas seguintes equações:

∫ (16)

∫ (17)

∫ (18)

∫ (19)

Esses valores médios foram aproximados no Ansys® como uma soma dos
valores médios em cada elemento multiplicados pelo volume do respectivo elemento
dividido pelo volume total do VER, da seguinte maneira:

( ) ( )

(20)
∑ ( )
26

( ) ( )

(21)
∑ ( )

( ) ( )

(22)
∑ ( )

( ) ( )

(23)
∑ ( )

Com esses valores médios e com as Equações (13) e (14), foi possível
calcular os coeficientes efetivos para o piezocompósito MFC d 31 e, a partir destes,
suas propriedades homogêneas equivalentes.

2.5. Regras de Mistura

Deraemaeker et al. (2009) desenvolveram uma série de expressões para a


obtenção das propriedades homogêneas equivalentes para a camada ativa (PZT +
epóxi) do piezocompósito MFC d31 de forma analítica. É importante lembrar que,
para o MFC d31, a direção 3 (Z) corresponde à direção perpendicular ao plano do
transdutor, a direção 1 (X) corresponde à longitudinal e a direção 2 (Y) à transversal.
O procedimento utilizado para o desenvolvimento dessas expressões, bem como o
VER adotado para o MFC d31 (Figura 15) no trabalho previamente citado, serão
apresentados a seguir.

Figura 15 – Modelo de VER para o MFC d31 utilizado para a obtenção das Regras de
Mistura. Adaptado de Deraemaeker et al. (2009).

A partir da Equação (14) para o piezocompósito MFC d31 e acrescentando-se


a hipótese de estado plano de tensões, isto é, , chega-se à seguinte
equação:
27

(24)

{ } [ ]{ }

em que e são as componentes dos vetores campo elétrico e deslocamento


elétrico, respectivamente, e e são as componentes dos vetores de tensão e
deformação, definidas da seguinte maneira:

(25)

{ } { }

(26)

{ } { }

Considerando que todos os campos são uniformes em cada constituinte e


utilizando os mecanismos clássicos de deformação para placas, têm-se as seguintes
relações:

̅ (27)

̅ (28)

̅ (29)

̅ (30)

̅ (31)

em que o sobrescrito denota o material piezelétrico e a matriz. As relações para


as demais componentes são dadas por:
28

̅ ( ) (32)

̅ ( ) (33)

̅ ( ) (34)

̅ ( ) (35)

̅ ( ) (36)

onde é a fração volumétrica de fibra. Considerando que os eletrodos são contínuos


tanto no topo como na base do VER, é possível obter ainda as seguintes relações:

̅̅̅ (37)

̅̅̅ ( ) (38)

Após reorganizar as relações obtidas acima, chega-se à seguinte equação:

(39)

{ } { }

em que:

( )

(40)

[ ]

Das Equações (32) a (36) tem-se que:


29

̅
̅
̅
( ) (41)
̅
̅
{̅̅̅} { } { }

Utilizando as Equações (39) e (41), é possível chegar à seguinte equação:

̅
̅
̅
̅ ( ) (42)
̅
̅
{̅̅̅} { } { }

Além disso, através das Equações (27) a (31) e da Equação (37), tem-se que:

̅ ( ) (43)

Por fim, reescrevendo-se a Equação (43) em termos de constantes de


engenharia, obtém-se um conjunto de relações que possibilitam o cálculo das
propriedades homogêneas equivalentes para a camada ativa do piezocompósito
MFC d31, em função da fração volumétrica de fibra , das propriedades das fibras
PZT e das propriedades da matriz de epóxi. Essas relações são dadas por:

( ) (44)

(45)

( ) (46)

(47)

( ) (48)
30

(49)

(50)

( ) (51)

( ) (52)

em que é o módulo de Young na direção da fibra piezelétrica, é o módulo de


Young transversal, é o coeficiente de Poisson principal, é módulo de
cisalhamento no plano do transdutor e e são os módulos de cisalhamento
fora do plano do transdutor. Para a obtenção das propriedades piezelétricas e
dielétricas, foi considerado que a matriz não possui propriedades piezelétricas e que
para as fibras de PZT.

Cada uma dessas expressões foram plotados para variando entre 0 e 1 e


posteriormente foram comparadas com os resultados numéricos obtidos pela
aplicação do Método dos Elementos Finitos.

3. METODOLOGIA UTILIZADA

Neste capítulo será apresentada a metodologia numérica computacional


utilizada para a obtenção dos coeficientes efetivos para o piezocompósito MFC d31
e, posteriormente, de suas propriedades homogêneas equivalentes. Para tal, foi
utilizado o Método dos Elementos Finitos com o auxílio do software Ansys®, aliado à
técnica conhecida como Homogeneização Periódica apresentada na Seção 2.4.
31

3.1. Definição do Volume Elementar Representativo

Neste trabalho foram desenvolvidos três modelos diferentes de VER para o


piezocompósito MFC d31: o primeiro representa apenas a camada ativa, isto é, as
fibras de PZT e a matriz de epóxi; o segundo apresenta a camada ativa mais duas
camadas adicionais referentes aos eletrodos superior e inferior, constituídas de
cobre e epóxi, num total de três camadas; o terceiro modelo apresenta mais duas
camadas adicionais de Kapton, sendo uma inferior e outra superior, totalizando cinco
camadas. Em todos os casos, a espessura do VER corresponde à espessura real
encontrada no transdutor, isto é, a periodicidade ocorre apenas nas direções
longitudinal e transversal.

É importante ressaltar que alguns trabalhos consideram ainda uma camada


adicional de acrílico no VER para o MFC d31, como em Trindade e Benjeddou (2011)
(Figura 16) e Novakova e Mokry (2011) (Figura 17). Entretanto, neste trabalho foi
utilizado o modelo adotado por Deraemaeker et al. (2009), que pode ser visualizado
na Figura 18.

Figura 16 – Camadas do modelo de VER (com acrílico) para o MFC d31. Adaptado de
Trindade e Benjeddou (2011).
32

Figura 17 – Camadas superiores do modelo de VER (com acrílico) para o MFC d31.
Adaptado de Novakova e Mokry (2011).

Figura 18 – Camadas do modelo de VER (sem acrílico) para o MFC d31. Adaptado de
Deraemaeker et al. (2009).

Com relação às dimensões dos modelos, para as espessuras de cada


camada foram utilizados os valores adotados por Deraemaeker et al. (2009), que
correspondem à uma aproximação das informações fornecidas pelo fabricante Smart
Material. Os valores utilizados foram: para a camada ativa,
para as camadas dos eletrodos e para as camadas de
Kapton, como pode ser visto na Figura 18. Na Figura 19 é possível visualizar as
dimensões globais do VER.

Para a direção transversal utilizou-se o valor de , levando-se


em conta o fato de que o transdutor comercializado apresenta as fibras de PZT com
uma largura de aproximadamente , conforme Novakova e Mokry (2011), e
uma fração volumétrica de fibra em torno de , segundo Deraemaeker e Nasser
(2010). Em especial, para a camada ativa formada por PZT e epóxi, as dimensões
33

de cada fase eram uma função da fração volumétrica de fibra ( ) da seguinte


maneira: e ( ) , conforme a Figura 20.

Tendo como base o trabalho de Novakova e Mokry (2011), utilizou-se para a


direção longitudinal, em todos os modelos, o valor de , já que a
camada do eletrodo é formada por camadas de cobre de espaçadas por uma
camada de de epóxi. Devido à periodicidade do VER, considera-se “meia”
camada de cobre de ambos os lados, ou seja, . Dessa forma, utilizou-se
para o cobre e para o epóxi, como pode ser visto na
Figura 21.

Figura 19 – Dimensões gerais do VER de cinco camadas do MFC d31.

Figura 20 – Dimensões de cada fase para a camada ativa do MFC d31, constituída de PZT
(azul) e epóxi (roxo).
34

Figura 21 – Dimensões de cada fase para a camada do eletrodo do MFC d31, constituída de
cobre (vermelho) e epóxi (roxo).

Cada um destes três modelos foi submetido à metodologia utilizada neste


trabalho para a obtenção dos coeficientes efetivos, com um análise paramétrica em
relação à fração volumétrica de fibra ( ), que foi variada entre os valores 0 e 1, com
incrementos de 0,1. Em especial, foram obtidos os resultados para que,
segundo Deraemaeker e Nasser (2010), corresponde ao valor aproximado daquele
encontrado no transdutor MFC d31.

Para a criação da malha dos modelos no software Ansys ® foi utilizado o


elemento finito sólido 3D SOLID226 em todos os volumes. Este elemento possui 20
nós com campos acoplados e apresenta quatros graus de liberdade, sendo eles os
três deslocamentos nodais e o potencial elétrico nodal. Da Figura 22 à Figura 24 é
possível ver os diferentes modelos de VER no software Ansys®: o primeiro, aquele
que contém apenas a camada ativa; o segundo, o que apresenta três camadas; e o
terceiro, constituído de cinco camadas. Nos três casos, a fração volumétrica de fibra
é de 86%.

Para facilitar o trabalho de pré-processamento dos modelos e da obtenção


dos resultados, foram criadas macros distintas no Ansys® para cada um dos três
modelos, de modo que a variação da fração volumétrica ( ) pudesse ser feita de
maneira automática e os valores dos coeficientes efetivos para cada fração
volumétrica fossem condensados em único arquivo de saída. Este arquivo de saída
35

foi utilizado posteriormente para a obtenção das propriedades homogêneas


equivalentes de cada modelo, como será detalhado na Seção 3.4.

Figura 22 – Modelo no Ansys® do VER da camada ativa para o MFC d31, constituído de
epóxi (roxo) e PZT (azul).

Figura 23 – Modelo no Ansys® do VER de três camadas para o MFC d31, constituído de
epóxi (roxo), PZT (azul) e cobre (vermelho).
36

Figura 24 – Modelo no Ansys® do VER de cinco camadas para o MFC d31, constituído de
epóxi (roxo), PZT (azul), cobre (vermelho) e Kapton (verde).

3.2. Propriedades dos Materiais

Para as fibras a piezelétricas foram utilizadas as propriedades do material


piezocerâmico Sonox-P502, retiradas de Deraemaeker et al. (2009), que podem ser
vistas a seguir:

⁄ ⁄


37

As propriedades dos demais materiais foram retiradas de Trindade e


Benjeddou (2012). A matriz do compósito, constituída de epóxi, foi considerada
como isotrópica e suas propriedades são:

As propriedades utilizadas para o eletrodo de cobre são dadas por:

Para a camada de Kapton, as propriedades utilizadas foram:

Em todos os casos, ⁄ é o valor da permissividade


dielétrica do vácuo.

3.3. Método dos Elementos Finitos – Problemas Locais

A fim de se obter os coeficientes efetivos das Equações (13) e (14) e,


posteriormente, as propriedades mecânicas equivalentes do piezocompósito MFC
d31, uma série de sete diferentes condições de contorno e de carregamentos,
chamadas de problemas locais, foram aplicadas aos diferentes modelos de VER
para este material. A seguir, serão detalhados cada um destes problemas, bem
como quais são os coeficientes efetivos obtidos em cada situação.

Os três primeiros problemas locais (1 a 3) estão relacionados com tensões e


deformações normais e consistem na aplicação de deslocamentos normais relativos
entre as faces opostas do modelo, em cada uma das três direções separadamente e
com o bloqueio dos deslocamentos normais nas duas direções restantes. Em cada
um dos casos, os deslocamentos normais de cada par de nós localizados em faces
opostas que não se encontram na direção de aplicação dos deslocamentos são
38

definidos como iguais, isto é, os graus de liberdade de deslocamento destes nós são
acoplados de uma forma simétrica. Isto garante que as deformações sejam nulas
nas duas direções restantes.

Os próximos três problemas locais (4 a 6) estão relacionados com tensões e


deformações de cisalhamento e consistem na aplicação de deformações de
cisalhamento de maneira a simular um estado de cisalhamento puro no modelo. Em
cada um dos três casos, são aplicados deslocamentos relativos em quatro das seis
faces do modelo, enquanto os deslocamentos normais nas superfícies paralelas ao
plano de cisalhamento em questão, isto é, nas duas superfícies restantes, são
simetricamente acoplados para garantir deformações nulas perpendiculares ao
plano de cisalhamento.

Em todos os seis problemas locais citados acima, o potencial elétrico é fixado


como sendo nulo em todas as superfícies do modelo, de modo a garantir a condição
de contorno de curto-circuito. Além disso, os graus de liberdade de potencial elétrico
nas direções X e Y (1 e 2), são acoplados de maneira simétrica para os nós
localizados nas superfícies X-/X+ e Y-/Y+ do modelo.

O sétimo e último problema local consiste na simulação de uma condição de


tensão nula no modelo. Para isto, nenhuma restrição de deslocamentos é imposta
ao modelo, com exceção da origem, onde todos os deslocamentos são fixados como
nulos para impedir movimentos de corpo rígido. Os deslocamentos normais dos nós
localizados nas faces opostas X-/X+ e Y-/Y+ são acoplados de maneira simétrica.
Além disso, é aplicado um potencial elétrico de valor arbitrário na superfície Z+ do
modelo (eletrodo superior), enquanto o potencial elétrico na face oposta Z- (eletrodo
inferior) é definido como nulo. Dessa forma, é gerado um campo elétrico na direção
Z (3) do modelo.

A seguir, são apresentados de maneira mais detalhada cada um dos


problemas locais, bem como os coeficientes efetivos obtidos pela aplicação de cada
um deles.

3.3.1. Problema 1

O primeiro problema a ser aplicado ao modelo consiste na imposição de


deslocamentos normais iguais à zero nas superfícies Y-, Y+, Z- e Z+ e na imposição
de deslocamentos normais relativos na direção X. Os deslocamentos normais de
39

nós localizados nas faces opostas Y-/Y+ e Z-/Z+ são definidos como sendo iguais,
isto é, são acoplados de maneira simétrica. O potencial elétrico é fixado como sendo
zero em todas as superfícies do modelo e os graus de liberdade de potencial elétrico
dos nós presentes nas faces opostas X-/X+ e Y-/Y+ são acoplados de maneira
simétrica. Na Figura 25 é possível ver uma representação esquemática deste
problema local.

Figura 25 – Representação esquemática do Problema 1.

Como temos a condição de potencial elétrico nulo, ̅̅̅ = 0. Além disso, as


restrições de deslocamentos impostas asseguram que ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = 0.
Portanto, apenas ̅ é diferente de zero e, dessa maneira, a primeira, a segunda e a
terceira linha da Equação (13) são utilizadas para a obtenção de , e ,
respectivamente, como segue:

̅
(53)
̅

̅
(54)
̅

̅
(55)
̅
40

3.3.2. Problema 2

O primeiro problema a ser aplicado ao modelo consiste na imposição de


deslocamentos normais iguais à zero nas superfícies X-, X+, Z- e Z+ e na imposição
de deslocamentos normais relativos na direção Y. Os deslocamentos normais de
nós localizados nas faces opostas X-/X+ e Z-/Z+ são definidos como sendo iguais,
isto é, são acoplados de maneira simétrica. O potencial elétrico é fixado como sendo
zero em todas as superfícies do modelo e os graus de liberdade de potencial elétrico
dos nós presentes nas faces opostas X-/X+ e Y-/Y+ são acoplados de maneira
simétrica. Na Figura 26 é possível ver uma representação esquemática deste
problema local.

Figura 26 – Representação esquemática do Problema 2.

Como temos a condição de potencial elétrico nulo, ̅̅̅ = 0. Além disso, as


restrições de deslocamentos impostas asseguram que ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = 0.
Portanto, apenas ̅ é diferente de zero e, dessa maneira, a primeira e a segunda
linha da Equação (13) são utilizadas para a obtenção de e , respectivamente,
como segue:

̅
(56)
̅
41

̅
(57)
̅

3.3.3. Problema 3

O primeiro problema a ser aplicado ao modelo consiste na imposição de


deslocamentos normais iguais à zero nas superfícies X-, X+, Y- e Y+ e na imposição
de deslocamentos normais relativos na direção Z. Os deslocamentos normais de nós
localizados nas faces opostas X-/X+ e Y-/Y+ são definidos como sendo iguais, isto é,
são acoplados de maneira simétrica. O potencial elétrico é fixado como sendo zero
em todas as superfícies do modelo e os graus de liberdade de potencial elétrico dos
nós presentes nas faces opostas X-/X+ e Y-/Y+ são acoplados de maneira simétrica.
Na Figura 27 é possível ver uma representação esquemática deste problema local.

Figura 27 – Representação esquemática do Problema 3.

Como temos a condição de potencial elétrico nulo, ̅̅̅ = 0. Além disso, as


restrições de deslocamentos impostas asseguram que ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = 0.
Portanto, apenas ̅ é diferente de zero e, dessa maneira, a terceira linha da
Equação (13) é utilizada para a obtenção de , como segue:

̅
(58)
̅
42

3.3.4. Problema 4

O quarto problema a ser aplicado ao modelo consiste na imposição de um


estado de cisalhamento puro YZ. Para isto, são impostos na superfície Y-
deslocamentos positivos na direção de Z, enquanto que na superfície Y+ são
impostos deslocamentos negativos na direção de Z. Analogamente, na superfície Z-
são impostos deslocamentos negativos na direção de Y, enquanto que na superfície
Z+ são impostos deslocamentos positivos na direção de Y.

Os deslocamentos normais dos nós localizados nas faces opostas X-/X+ são
acoplados de maneira simétrica. O potencial elétrico é fixado como sendo zero em
todas as superfícies do modelo e os graus de liberdade de potencial elétrico dos nós
presentes nas faces opostas X-/X+ e Y-/Y+ são acoplados de maneira simétrica. Na
Figura 28 é possível ver uma representação esquemática deste problema local.

Figura 28 – Representação esquemática do Problema 4.

Como temos a condição de potencial elétrico nulo, ̅̅̅ = 0. Além disso, as


restrições de deslocamentos impostas asseguram que ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = 0.
Portanto, apenas ̅ é diferente de zero e, dessa maneira, a quarta linha da Equação
(13) é utilizada para a obtenção de , como segue:

̅
(59)
̅
43

3.3.5. Problema 5

O quinto problema a ser aplicado ao modelo consiste na imposição de um


estado de cisalhamento puro XZ. Para isto, são impostos na superfície X-
deslocamentos positivos na direção de Z, enquanto que na superfície X+ são
impostos deslocamentos negativos na direção de Z. Analogamente, na superfície Z-
são impostos deslocamentos negativos na direção de X, enquanto que na superfície
Z+ são impostos deslocamentos positivos na direção de X.

Os deslocamentos normais dos nós localizados nas faces opostas Y-/Y+ são
acoplados de maneira simétrica. O potencial elétrico é fixado como sendo zero em
todas as superfícies do modelo e os graus de liberdade de potencial elétrico dos nós
presentes nas faces opostas X-/X+ e Y-/Y+ são acoplados de maneira simétrica. Na
Figura 29 é possível ver uma representação esquemática deste problema local.

Figura 29 – Representação esquemática do Problema 5.

Como temos a condição de potencial elétrico nulo, ̅̅̅ = 0. Além disso, as


restrições de deslocamentos impostas asseguram que ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = 0.
Portanto, apenas ̅ é diferente de zero e, dessa maneira, a quinta linha da Equação
(13) é utilizada para a obtenção de , como segue:

̅
(60)
̅
44

3.3.6. Problema 6

O sexto problema a ser aplicado ao modelo consiste na imposição de um


estado de cisalhamento puro XY. Para isto, são impostos na superfície Y-
deslocamentos positivos na direção de X, enquanto que na superfície Y+ são
impostos deslocamentos negativos na direção de X. Analogamente, na superfície X-
são impostos deslocamentos negativos na direção de Y, enquanto que na superfície
X+ são impostos deslocamentos positivos na direção de Y.

Os deslocamentos normais dos nós localizados nas faces opostas Z-/Z+ são
acoplados de maneira simétrica. O potencial elétrico é fixado como sendo zero em
todas as superfícies do modelo e os graus de liberdade de potencial elétrico dos nós
presentes nas faces opostas X-/X+ e Y-/Y+ são acoplados de maneira simétrica. Na
Figura 30 é possível ver uma representação esquemática deste problema local.

Figura 30 – Representação esquemática do Problema 6.

Como temos a condição de potencial elétrico nulo, ̅̅̅ = 0. Além disso, as


restrições de deslocamentos impostas asseguram que ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = 0.
Portanto, apenas ̅ é diferente de zero e, dessa maneira, a penúltima linha da
Equação (13) é utilizada para a obtenção de , como segue:

̅
(61)
̅
45

3.3.7. Problema 7

O sétimo e último problema a ser aplicado ao modelo consiste na aplicação


de um potencial elétrico arbitrário não nulo na superfície Z+ (eletrodo superior),
enquanto é fixado como sendo zero na superfície Z- (eletrodo inferior). Nenhuma
restrição de deslocamentos é imposta ao modelo, com exceção da origem, onde
todos os deslocamentos são definidos como nulos para evitar um movimento de
corpo rígido. Os deslocamentos normais dos nós localizados nas faces opostas X-
/X+ e Y-/Y+ são acoplados de maneira simétrica. Na Figura 31 é possível ver uma
representação esquemática deste problema local.

Figura 31 – Representação esquemática do Problema 7.

A ausência de restrições de deslocamentos simula um estado de tensões


nulas, em que ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = ̅ = 0. Além disso, a aplicação de diferença de
potencial nas superfícies Z- e Z+ provoca um campo elétrico apenas na direção Z
(3). Assim, a primeira, a segunda e a última linha da Equação (14) são utilizadas
para a obtenção de , e , respectivamente, como segue:

̅
(62)
̅̅̅

̅
(63)
̅̅̅
46

̅̅̅
(64)
̅̅̅

Na Tabela 1 é possível visualizar um resumo das condições de contorno e de


carregamento de cada problema local, bem como os coeficientes efetivos calculados
em cada caso.
47

3.3.8. Tabela Resumo

Tabela 1 – Tabela resumo dos problemas locais.

Problema Direção 1 (X-/X+) Direção 2 (Y-/Y+) Direção 3 (Z-/Z+) Relação

̅
1
̅

̅
2
̅

̅
3
̅

̅
4
̅

̅
5
̅

̅
6
̅

̅
̅̅̅

- - - ̅
7
̅̅̅

̅̅̅
̅̅̅

onde representa um deslocamento mecânico; representa um potencial elétrico;


e representam o i-ésimo nó em faces opostas; é um valor arbitrário não-
nulo e .
48

É importante destacar que neste trabalho, apesar de existir uma camada


física representando o eletrodo nos modelos de VER, o seu funcionamento é
modelado com a aplicação de um potencial elétrico nos nós pertencentes às
superfícies adjacentes a esta camada, isto é, o funcionamento do eletrodo inferior é
simulado através da aplicação de um potencial elétrico em todos os nós da
superfície imediatamente superior a este eletrodo e, da mesma maneira, para o
eletrodo superior aplica-se um potencial elétrico em todos os nós da superfície
imediatamente inferior a este eletrodo.

A partir do que foi supracitado, é possível observar que neste trabalho os


eletrodos foram modelados como contínuos. Apesar do fato de que no MFC d31 os
eletrodos não são efetivamente contínuos, sendo formados por cobre e epóxi, como
pode ser verificado na Figura 9 e na Figura 17, este tipo de modelagem pode ser
considerada uma boa aproximação, sendo inclusive adotada por Deraemaeker e
Nasser (2010), devido ao fato de a fibra PZT apresentar uma camada metálica
extremamente fina sobre sua superfície, que não é considerada de maneira física
nos modelos de VER, mas cujos efeitos elétricos foram levados em consideração.

Dessa maneira, nas superfícies consideradas como o eletrodo inferior e


superior, apenas as regiões em contato com o epóxi da camada ativa não são boas
condutoras de carga, porém essas regiões representam uma área relativamente
pequena em relação à área total das superfícies e a consideração de eletrodos
contínuos mostrou-se válida.

3.4. Propriedades Equivalentes

Com os coeficientes efetivos obtidos com a aplicação dos problemas locais


aos modelos, é possível montar a matriz de rigidez equivalente do material, ,
como foi definida na Seção 2.2. Ao se inverter esta matriz, obtém-se a matriz de
elasticidade equivalente do material :

(65)

em que o subscrito indica que as matrizes são formadas pelos coeficientes


efetivos obtidos pelo MEF. A matriz de elasticidade para um material ortotrópico
49

também pode ser escrita, em função das constantes de engenharia, da seguinte


maneira:

(66)

[ ]

Ao se igualar a matriz de elasticidade obtida através da Equação (65) com a


definida na Equação (66), torna-se possível a obtenção das propriedades
homogêneas equivalentes para o MFC d31:

(67)

Assim, os valores obtidos a partir da Equação (67) são: ( ) é o módulo de


Young na direção longitudinal do transdutor, ( ) é o módulo de Young
transversal, ( ) é o coeficiente de Poisson principal, ( ) é módulo de
cisalhamento no plano do transdutor e ( ) e ( ) são os módulos de
cisalhamento fora do plano do transdutor. As variáveis entre parênteses
representam as propriedades correspondentes obtidas pelas Regras de Mistura da
Seção 2.5.
50

4. RESULTADOS

Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos após a aplicação do


Método dos Elementos Finitos aos diferentes modelos de VER para o
piezocompósito MFC d31. As propriedades homogêneas equivalentes do material
foram plotadas da Figura 32 à Figura 41, em função da fração volumétrica de fibra
( ) para cada um dos três modelos de Volume Elementar Representativo. Além
disso, para efeito de comparação, também foram plotadas as funções de cada uma
das propriedades, obtidas através das Regras de Mistura apresentadas na Seção
2.5.

4.1. Análise Paramétrica

Nesta seção, foram plotados os resultados obtidos após a realização da


análise paramétrica em função da fração volumétrica de fibra para cada propriedade
equivalente presente nas Regras de Mistura e para o coeficiente de acoplamento
eletromecânico k31.

Figura 32 - Resultados obtidos para o módulo de elasticidade na direção longitudinal.


51

Figura 33 - Resultados obtidos para o módulo de elasticidade na direção transversal.

Figura 34 - Resultados obtidos para o módulo de elasticidade transversal no plano LT (plano


do transdutor).
52

Figura 35 - Resultados obtidos para o módulo de elasticidade transversal no plano Lz.

Figura 36 - Resultados obtidos para o módulo de elasticidade transversal no plano Tz.


53

Figura 37 - Resultados obtidos para o coeficiente de Poisson no plano LT.

Figura 38 - Resultados obtidos para o coeficiente piezelétrico d31.


54

Figura 39 - Resultados obtidos para o coeficiente piezelétrico d32.

Figura 40 - Resultados obtidos para a permissividade dielétrica .


55

Figura 41 - Resultados obtidos para o coeficiente de acoplamento eletromecânico k31.

Como é possível visualizar pelas figuras, as propriedades obtidas de forma


analítica pelas Regras de Mistura foram muito próximas àquelas obtidas
numericamente para o modelo de VER que contém apenas a camada ativa (PZT +
epóxi). À medida que foram adicionadas as demais camadas, os resultados
passaram a apresentar uma maior discrepância, especialmente para as
propriedades mecânicas, que foram influenciadas de maneira mais acentuada pelas
camadas adicionais.

É importante ressaltar também que as diferenças entre os resultados


analíticos e os numéricos também foram influenciadas pela não uniformidade,
presente no MEF, dos diversos tipos de campos em cada constituinte do modelo e
pela consideração de estado plano de tensões no VER adotada para a obtenção das
expressões analíticas das Regras de Mistura, conforme pode ser visto em
Deraemaeker e Nasser (2010).

Na Tabela 2, é possível ver uma comparação entre os resultados obtidos pelo


MEF no Ansys® para a fração volumétrica de fibra , que representa o valor
aproximado encontrado nos transdutores comercializados pela Smart Material, com
os valores fornecidos por este fabricante. Para efeito de avaliação, também foram
apresentados os resultados obtidos para a camada ativa (PZT + epóxi) pelas Regras
de Mistura, de maneira que é possível se ter uma noção do quanto estas
56

propriedades foram influenciadas pelo acréscimo das camadas adicionais (eletrodos


e Kapton).

Tabela 2 – Propriedades equivalentes para o MFC d31 ( ).

Regras de Ansys® Ansys® Ansys® Smart


Unidade
Mistura MEF* MEF** MEF*** Material

GPa 46,889 46,901 40,464 30,281 30,336

GPa 15,133 18,633 20,522 15,736 15,857

- 0,395 0,387 0,356 0,352 0,310

GPa 5,867 5,867 6,311 5,051 5,515

GPa 16,909 16,910 7,135 2,414 -

GPa 5,894 6,065 5,100 2,192 -

pC/N -183,398 -181,174 -213,311 -267,461 -210,000

pC/N -151,962 -165,454 -181,110 -199,176 -

- 1591,595 1585,003 1572,417 1565,439 1558,617

% 33,453 33,120 36,365 39,532 31,135

(*) Modelo apenas da camada ativa.


(**) Modelo de três camadas.
(***) Modelo de cinco camadas

Como é possível visualizar na Tabela 2, as propriedades obtidas de forma


analítica pelas Regras de Mistura foram muito próximas àquelas obtidas
numericamente pelo MEF para o modelo de VER da camada ativa. Conforme
esperado, à medida que são adicionadas as demais camadas ao modelo, as
propriedades obtidas numericamente se afastam daquelas obtidas de forma
analítica, já que as expressões analíticas foram desenvolvidas para calcular as
57

propriedades da camada ativa do MFC d31 e consideram um estado plano de


tensões no VER, o que é uma aproximação do que ocorre de fato no transdutor.

As propriedades mecânicas do modelo de cinco camadas, considerado a


melhor aproximação do transdutor piezocompósito real, foram muito próximas às
propriedades fornecidas pelo fabricante. Já as demais propriedades apresentaram
diferenças um pouco mais significativas, sendo que as maiores discrepâncias
ocorreram para o coeficiente de acoplamento piezelétrico (d 31) e para o coeficiente
de acoplamento eletromecânico (k31), com cerca de 27% em ambos os casos.
Entretanto, tendo em vista as aproximações adotadas no modelo, os resultados
obtidos podem ser considerados bastante satisfatórios.

4.2. Método dos Elementos Finitos

Da Figura 42 à Figura 58 foram plotados os resultados obtidos no software


Ansys® após a aplicação dos sete problemas locais ao modelo (VER) que representa
apenas a camada ativa e ao modelo de cinco camadas, considerado o modelo de
melhor correspondência em relação ao transdutor piezocompósito MFC d31 real. Em
ambos os casos, a fração volumétrica de fibra é de 86%.

Dentre esses resultados podem ser vistas as distribuições de tensões,


deformações, campo elétrico, deslocamento elétrico e potencial elétrico nos modelos
após as aplicações das condições de contorno e de carregamentos de um
determinado problema local, conforme pode ser visto na Tabela 1 da Seção 3.3.8.

(a) (b)

Figura 42 – Distribuição de tensões na direção 1 (X) após aplicação do Problema 1 para o


modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).
58

(a) (b)

Figura 43 – Distribuição de deformações na direção 1 (X) após aplicação do Problema 1


para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 44 – Distribuição de tensões na direção 2 (Y) após aplicação do Problema 2 para o


modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 45 – Distribuição de deformações na direção 2 (Y) após aplicação do Problema 2


para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).
59

(a) (b)

Figura 46 – Distribuição de tensões na direção 3 (Z) após aplicação do Problema 3 para o


modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 47 – Distribuição de deformações na direção 3 (Z) após aplicação do Problema 3


para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 48 – Distribuição de tensões de cisalhamento 23 (YZ) após aplicação do Problema 4


para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).
60

(a) (b)

Figura 49 – Distribuição de deformações de cisalhamento 23 (YZ) após aplicação do


Problema 4 para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 50 – Distribuição de tensões de cisalhamento 13 (XZ) após aplicação do Problema 5


para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 51 – Distribuição de deformações de cisalhamento 13 (XZ) após aplicação do


Problema 5 para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).
61

(a) (b)

Figura 52 – Distribuição de tensões de cisalhamento 12 (XY) após aplicação do Problema 6


para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 53 – Distribuição de deformações de cisalhamento 12 (XY) após aplicação do


Problema 6 para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 54 – Distribuição de deformações na direção 1 (X) após aplicação do Problema 7


para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).
62

(a) (b)

Figura 55 – Distribuição de deformações na direção 2 (Y) após aplicação do Problema 7


para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 56 – Distribuição do deslocamento elétrico na direção 3 (Z) após aplicação do


Problema 7 para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

(a) (b)

Figura 57 – Distribuição do campo elétrico na direção 3 (Z) após aplicação do Problema 7


para o modelo da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).
63

(a) (b)

Figura 58 – Distribuição do potencial elétrico após a aplicação do Problema 7 para o modelo


da camada ativa (a) e para o modelo de cinco camadas (b).

Com base nas figuras anteriores, é possível fazer algumas observações


importantes:

 No primeiro problema local, representado pela Figura 42 e pela Figura 43, é


possível notar que no modelo de cinco camadas ocorre uma deformação de
certa forma homogênea na direção 1 (X), com exceção do cobre, que por ser
mais rígido apresenta menores deformações. Já as tensões neste modelo
concentram-se principalmente nos materiais mais rígidos, como o cobre e as
fibras PZT. No modelo da camada ativa, as deformações são iguais na matriz
e nas fibras, enquanto as tensões se concentram nas fibras de PZT.
 No segundo problema local, representado pela Figura 44 e pela Figura 45,
nota-se que no modelo de cinco camadas as tensões na direção 2 (Y)
concentram-se principalmente no cobre da camada do eletrodo, enquanto as
deformações concentram-se na matriz de epóxi, devido à sua menor rigidez.
No modelo da camada ativa, as tensões são iguais nas fibras e na matriz,
enquanto as deformações concentram-se na matriz de epóxi.
 No terceiro problema local, representado pela Figura 46 e pela Figura 47, é
possível notar que no modelo de cinco camadas as tensões na direção 3 (Z)
concentram-se na fibra de PZT e no cobre. Já as deformações estão
concentradas principalmente nas camadas menos rígidas de Kapton,
principalmente na proximidade do cobre, já que o último apresenta uma
rigidez bem maior quando comparado ao primeiro. No modelo que representa
64

a camada ativa, as deformações são iguais nas fibras e na matriz, enquanto


as fibras apresentam as maiores tensões.
 No quarto problema local, representado pela Figura 48e pela Figura 49, nota-
se que no modelo de cinco camadas as tensões de cisalhamento 23 (YZ)
concentram-se nas proximidades do cobre devido à sua alta rigidez, enquanto
as deformações ocorrem principalmente nos materiais mais flexíveis como
Kapton e epóxi. No modelo da camada ativa, é possível visualizar que as
tensões concentram-se principalmente nas interfaces entre fibra e matriz,
enquanto as deformações são maiores na matriz de epóxi.
 No quinto problema local, representado pela Figura 50 e pela Figura 51, é
possível observar que no modelo de cinco camadas as tensões de
cisalhamento 13 (XZ) concentram-se nos materiais mais rígidos como o cobre
e a fibra de PZT. Já as deformações ocorrem no epóxi e principalmente na
camada de Kapton, especialmente ao redor do cobre. No modelo da camada
ativa, as deformações são iguais na fibra e na matriz, enquanto as tensões se
concentram nas fibras de PZT.
 No sexto problema local, representado pela Figura 52 e pela Figura 53, é
possível notar que no modelo de cinco camadas as tensões de cisalhamento
12 (XY) ocorrem principalmente nas bordas do cobre, enquanto as
deformações concentram-se principalmente no material epóxi e, de maneira
menos acentuada, na camada de Kapton. Já no modelo da camada ativa,
nota-se que as tensões são iguais nas fibras e na matriz, enquanto as
deformações concentram-se principalmente na matriz de epóxi.
 No sétimo e último problema local, representado da Figura 54 à Figura 58,
nota-se em ambos os modelos um campo elétrico de certa forma uniforme na
camada ativa do modelo (PZT + epóxi), o que está relacionado à adoção do
modelo de eletrodo contínuo. Como esperado, o deslocamento elétrico
concentra-se no material PZT. Além disso, observa-se que nos dois modelos
as deformações livres se concentram na matriz de epóxi, sendo que modelo
de cinco camadas as deformações também são significativas nas camadas de
Kapton, principalmente nas regiões próximas ao cobre devido à alta rigidez do
mesmo.
65

5. CONCLUSÃO

5.1. Conclusões

Neste trabalho, foi utilizado o Método dos Elementos Finitos aliado à técnica
de Homogeneização Periódica para um compósito do tipo MFC (Macro Fiber
Composite) atuando no modo transversal (d31), com o intuito de se obter as
propriedades homogêneas equivalentes para este material. A fim de analisar a
dependência destas propriedades com a fração volumétrica de fibra ( ) da camada
ativa (epóxi + PZT), foi feita uma análise paramétrica variando-se o valor de entre
0 e 1, com um incremento de 0,1. Em especial, foi feita também uma análise para
, pois de acordo com Deraemaeker e Nasser (2010) este valor corresponde
aproximadamente à fração volumétrica encontrada nos transdutores MFC d31
comercializados pela Smart Material.

A metodologia foi aplicada a três diferentes modelos de Volume Elementar


Representativo do material: um primeiro modelo que continha apenas a camada
ativa do MFC, isto é, epóxi e fibra PZT; um segundo modelo onde foram adicionadas
duas camadas adicionais correspondentes aos eletrodos superior e inferior,
constituídos de epóxi e cobre; e por fim um terceiro modelo, onde foram adicionadas
duas camadas adicionais de Kapton, totalizando cinco camadas.

Os resultados obtidos para cada um destes modelos foram comparadas com


resultados obtidos através de expressões analíticas propostas por Deraemaeker et
al. (2009), denominadas Regras de Mistura, em que as propriedades equivalentes
da camada ativa do MFC d31 podem ser obtidas em função das propriedades da
matriz, das fibras piezocerâmicas e da fração volumétrica de fibra.

Ao fazer uma análise dos resultados obtidos, notou-se que a adição de


camadas menos rígidas como os eletrodos e as camadas de Kapton teve uma
influência mais direta nas propriedades mecânicas, já que provocou, de uma
maneira geral, uma redução das mesmas. Em especial, ocorreram reduções
significativas no módulo de elasticidade longitudinal e nos módulos de elasticidade
transversal fora do plano do transdutor. Já as propriedades piezelétricas e dielétricas
não sofreram uma influência tão acentuada decorrente da adição das camadas
66

menos rígidas, o que pode ser um indicativo de uma melhor aplicabilidade deste tipo
de transdutor como sensor em detrimento da aplicação como atuador.

Além disso, a não uniformidade dos campos em cada um dos constituintes


dos modelos no MEF e a consideração de um estado plano de tensões no VER,
adotada para obtenção das expressões analíticas das Regras de Mistura, tiveram
uma influência significativa nas diferenças entre os resultados, especialmente para
os módulos de elasticidade transversal fora do plano do transdutor ( e ) e para
os coeficientes de acoplamento piezelétrico ( e ).

De uma maneira geral, houve uma boa correspondência entre os resultados


obtidos pela análise numérica (MEF) e os resultados analíticos. Como esperado, os
resultados para o primeiro modelo de VER, isto é, apenas da camada ativa, foram os
que mais se aproximaram daqueles obtidos pelas Regras de Mistura. À medida que
foram adicionadas mais camadas ao modelo, os resultados se distanciaram das
Regras de Mistura, entretanto se aproximaram das propriedades do transdutor
piezocompósito real, de modo que as propriedades do modelo de cinco camadas se
mostraram bem próximas àquelas fornecidas pelo fabricante do MFC d31.

5.2. Trabalhos futuros

Como sugestões para trabalhos futuros seguem:

 Utilização de modelos de Volume Elementar Representativo diferentes dos


utilizados no presente trabalho, em busca do modelo que proporcione a
melhor correspondência;
 Adoção de novas configurações para a camada dos eletrodos, à procura da
configuração ideal para o MFC d31;
 Análise paramétrica envolvendo novos parâmetros como, por exemplo,
propriedades mecânicas, piezelétricas ou dielétricas dos materiais
constituintes.
67

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGER, H.; KARI, S.; GABBERT, U.; RODRIGUEZ-RAMOS, R.;


GUINOVART, R.; OTERO, J.; BRAVO-CASTIRELLO, J. An analytical and
numerical approach for calculating effective material coefficients of
piezoelectric fiber composites. International Journal of Solids and Structures, v.
42, p. 5692-5714, 2005.

DERAEMAEKER, A.; NASSER, H.; BENJEDDOU, A.; PREUMONT, A. Mixing


rules for the piezoelectric properties of macro fiber composites. Journal of
Intelligent Material Systems and Structures, v. 20, n. 12, p. 1475-1482, 2009.

DERAEMAEKER, A.; NASSER, H. Numerical evaluation of the equivalent


properties of macro fiber composite (MFC) transducers using periodic
homogenization. International Journal of Solids and Structures, v. 47, n. 24, p.
3272-3285, 2010.

MEDEIROS, R. Desenvolvimento de uma metodologia computacional


para determinar coeficientes efetivos de compósitos inteligentes. Dissertação
(Mestrado) – Departamento de Engenharia Mecânica – Escola de Engenharia de
São Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, 2012.

MORENO, M. E.; TITA, V.; MARQUES, F. D. Finite elemento analysis


applied to evaluation of effective material coefficients for piezoelectric fiber
composites. Proceedings… Brazilian Symposium on Aerospace Eng. &
Applications, São José dos Campos, Brazil, 2009.

MORENO, M. E.; TITA, V.; MARQUES, F. D. Influence of boundary


conditions on the determination of effective material properties for active fiber
composites. Proceedings... Pan-American Congress of Applied Mechanics, Foz do
Iguaçu, Brazil, 2010.

NOVAKOVA, K.; MOKRY, P. Numerical simulation of mechanical behavior


of a Macro Fiber Composite piezoelectric actuator shunted by a negative
capacitor. Institute of Mechatronic and Technical Engineering, Technical University
of Liberec, Czech Republic, 2011.

SMART MATERIAL Macro Fiber Composite (MFC) Brochure, 2011.


Disponível em: <www.smart-material.com>. Acesso em: 05 outubro 2012.
68

TRINDADE, M. A.; BENJEDDOU, A. Finite element homogenization


technique for the characaterization of d15 shear piezoelectric macro-fiber
composites. Smart Materials and Structures, v. 20, n. 7, art. n. 075012, 2011.

TRINDADE, M. A.; BENJEDDOU, A. Parametric analysis of effective


material properties of thickness-shear piezoelectric macro-fibre composites.
Journal of the Brazilian Society of Mechanical Sciences and Engineering, 2012.

WILKIE, W. K.; BRYANT, G. R.; HIGH, J. W.; FOX, R. L.; HELLBAUM, R. F.;
JALINK, A.; LITTLE, B. D.; MIRICK, P. H. Low-cost piezocomposite actuator for
structural control applications. Proceedings… 7th Annual International Symposium
on Smart Structures Materials, Newport Beach, USA, 2000.

WILLIAMS, B. R.; PARK, G.; INMAN, D. J.; WILKIE, W. K. An overview of


composite actuators with piezoceramic fibers. Proceedings… 20th International
Modal Analysis Conference (IMAC), Los Angeles, USA, 2002.
São Carlos – SP, 2012

Artur Valadares de Freitas Santos

Você também pode gostar