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Embora a literatura de gestão de operações seja boa para fornecer grande quantidade de
métricas que podem ser usadas, não é tão boa para orientar como selecionar as adequadas. Em
relação a isso, uma consideração importante é de que as métricas adotadas para avaliar
desempenho de uma operação deveriam ser alinhadas com a estratégia dessa operação. Isso se
dá por meio da definição de métricas que sejam coerentes com as prioridades competitivas da
operação (veja o Capítulo 2 para uma discussão detalhada sobre as prioridades competitivas de
operações). Podem-se classificar as prioridades competitivas estratégicas de uma operação nos
seguintes grupos gerais:
A seguir, encontram-se listadas métricas mais específicas e detalhadas dentro de cada um dos
grupos acima, que podem, respeitadas as particularidades de cada operação, ser mais ou menos
relevantes em um sistema de avaliação.
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Cap 5 (parte) CORREA 2017
» custos de distribuição;
» custos com terceirização;
» custos administrativos.
» flexibilidade percebida;
» quanto a qualidade não é afetada por mudanças de mix/volume;
» quanto os custos não são afetados por mudanças de mix/volume;
» quanto o desempenho de entregas não é afetado por mudanças de mix/volume;
» tempo de desenvolvimento de novos produtos;
» tempo entre a ideia e o produto estar no mercado;
» flexibilidade percebida para customizar produtos;
» faixa (variedade) de produtos;
» percentual de produtos customizados vs. produtos padrão;
» número de novos produtos introduzidos por ano;
» velocidade da operação para responder a mudan- ças de mix;
» número de itens processados simultaneamente;
» frequência de entregas da operação;
» frequência de entregas do fornecedor;
» tempo médio de preparação de equipamento;
» quão rápido a operação se ajusta a mudanças de volume;
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Cap 5 (parte) CORREA 2017
» confiabilidade percebida;
» acurácia das previsões de demanda;
» percentual de entregas no prazo (pedidos);
» percentual de entregas no prazo (linhas de pedidos);
» percentual de entregas no prazo (unidades);
» percentual de entregas totais no prazo (On Time In Full – OTIF);
» percentual de datas renegociadas com clientes;
» aderência às datas prometidas;
» percentual de pedidos com quantidade incorreta;
» aderência aos planos de operação;
» atraso médio;
» aderência ao plano de distribuição;
» percentagem de redução de lead times por linha de produto;
» percentagem de melhoria na fração saída real/saída desejada;
» percentagem de redução dos lead times de compras.
É importante notar que as métricas utilizadas de forma adequada num contexto podem não ser
adequadas em outro. Em geral, critica-se com propriedade o uso, por exemplo, de métricas
relacionadas a “utilização de equipamento”, porque em muitas situações podem elevar
desnecessariamente o nível de estoques só para “manter as máquinas trabalhando”, ou, quando
usadas de forma míope, levar gestores a, como ocorreu com um grande fabricante de produtos
de higiene pessoal no Brasil, forçar a geração de defeitos para que os produtos necessitassem
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Cap 5 (parte) CORREA 2017
Para refletir
Como avaliar se uma medida de desempenho é de fato boa e adequada? Como ter certeza de
que ela é bem e robustamente definida e compreendida por todos?
A literatura nos ajuda nesta questão ao listar critérios pelos quais a medida de desempenho
deve passar para que seja considerada uma boa medida. As principais são listadas a seguir:
Com base nesses critérios, Neely et al. (1997) sugere um quadro de referência para que medidas
de desempenho sejam definidas. Trata-se de uma espécie de checklist para que o projetista da
medida de desempenho certifique-se tanto quanto possível de que essas condições listadas
sejam atendidas. A Figura 5.3 ilustra a ideia:
Detalhes
Medida (nome)
Propósito
Refere-se a
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Cap 5 (parte) CORREA 2017
Meta
Fórmula
Frequência
Quem mede?
Fontes de dados
Quem age nos dados?
Quais ações possíveis?
Notas e comentários
FIGURA 5.3 Quadro de referência para definição de medidas de desempenho, em Neely et al.
(1997).
» medida: o título da métrica deve ser claro e específico, tanto quanto possível autoexplicativo,
evitando jargões;
» propósito: se a medida não tem propósito bem definido, não deveria existir; este item deve
contemplar a razão que justifica a existência da medida. Por exemplo: “permitir controlar a taxa
de melhoramento de nossos esforços para redução de tempos de preparação de equipamento
e com isso nos tornar mais flexíveis para alterar os mix de produtos”;
» meta: o estabelecimento de metas deve ser precedido pela questão “com que padrões
comparamos o desempenho medido?”. Vários padrões podem ser usados:
1. padrões históricos: compara-se o desempenho atual com desempenhos passados para avaliar
tendências. Os padrões históricos e as comparações que eles permitem não dão indicações,
entretanto, se o desempenho é considerado competitivamente satisfatório. O estabelecimento
de meta para uma medida de desempenho com padrão histórico poderia ser, por exemplo,
“superar o desempenho do mesmo mês do ano anterior em pelo menos 10%”;
4. padrões absolutos: padrões absolutos são bastante utilizados e derivam das lógicas japonesas
de gestão, inspiradas fortemente pelo Just in Time (veja os Capítulos 6 e 20). Trata-se de
estabelecer metas absolutas (e, muitas vezes, até impossíveis de atingir), como “zero defeitos”
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Cap 5 (parte) CORREA 2017
ou “tamanho de lote unitário”. Permitem que a operação meça sua distância em relação ao ideal
teórico e que tenha sempre o que visar, evitando assim que se gere atitude complacente dos
colaboradores quanto ao desempenho já atingido;
» fórmula: este é um dos mais complexos aspectos da definição de uma medida de desempenho,
pois a fórmula – como a medida de desempenho é de fato quantificada – afeta como as pessoas
se comportam. Levando em conta que as pessoas comportam-se não de acordo com o “espera-
do”, mas de acordo com o que é “medido” (já que normalmente se amarram recompensas,
bônus e outros aspectos de remuneração nos resultados da fórmula), é importante que se gaste
tempo suficiente elaborando como definir a fórmula de cálculo, para que os envolvidos não
desenvolvam comportamentos que maximizem o resultado da fórmula em detrimento do
desempenho da operação. Tome por exemplo um funcionário, caixa de um supermercado, que
tenha seu desempenho medido por “itens checados por hora”. A fórmula parece fazer sentido,
pois está relacionada com os tempos médios de atendimento de clientes e, por conseguinte,
com a manutenção de filas menores nos caixas. Entretanto, esse funcionário percebeu que,
quando um cliente chega com um pacote de 12 latas de refrigerante, se ele registra um pacote,
sua métrica contará 1 item. Por outro lado, se registrar as 12 latas unitariamente, sua métrica
melhorará, pois serão 12 itens checados. Ou seja, o funcionário desfaz os pacotes de 12 para
registrar os itens individualmente, elevando assim o tempo de atendimento, que era o propósito
básico inicial da própria métrica! Entretanto, em vez de esse aspecto ser considerado problema
das medidas de desempenho, deve ser visto como oportunidade de, desenhando-se bem a
medida e a fórmula, induzir um comportamento adequado nos colaboradores;
» fontes de dados: a fonte de onde se tiram os dados deve aqui ser especificada. A importância
deste quesito é manter a consistência para permitir comparações longitudinais (temporais) dos
dados. Deve-se especificar o ponto exato onde se coletam os dados, por exemplo: “no cálculo
de atraso médio de entregas, a data prometida é a da primeira promessa ao cliente” – isso evita
que a data levada em conta no cálculo seja, por exemplo, uma data renegociada com o cliente,
quando a operação notou que não conseguiria honrar sua primeira promessa;
» quem age nos dados?: a responsabilidade por agir sobre os dados, no sentido de corrigir cursos
de ação, por exemplo, deve ser identificada;
» quais ações possíveis?: esta é uma importante informação do quadro de referência, porque é
a que tenta fazer com que o ciclo de controle se feche. Nem sempre é possível detalhar todas
as contingências sobre o que fazer quando a medida apresenta o comportamento x ou y;
entretanto, é em geral possível delinear o processo gerencial que deve seguir a análise da
medida de desempenho e sua comparação com os padrões especificados como metas.
Os sete erros listados a seguir são apontados por Corrêa e Caon (2002).
ERRO 1. Assimetria de escalas Likert – ferramenta projetada para “garantir” boa avaliação.
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Alguns questionários são elaborados de forma que induzem o cliente a determinada resposta,
por exemplo, politicamente correta. Uma pesquisa para avaliar a satisfação do cliente com uma
iniciativa de coleta seletiva de lixo num condomínio formulou uma das perguntas de um
questionário da seguinte forma:
Termos com entendimento semântico usual pelo cliente, que não tenham sido definidos ou não
tenham interpretação universalmente aceita, podem levar a erros em ferramentas de avaliação.
Termos como “flexibilidade do serviço” ou “qualidade do serviço” podem ter diferentes
entendimentos para diferentes pessoas, e devem, em questionários preenchidos pelo cliente
sem a presença do pesquisador, ser evitados. É importante tentar garantir que o conceito que
estava na cabeça do projetista do instrumento, na hora de traduzi-lo em palavras a serem usadas
no questionário, seja coerente com o conceito que se forma na cabeça do respondente ao ler o
questionário.
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há seis anos. São deixados nos quartos para serem respondidos por clientes que assim
desejarem. Mesmo com um percentual baixo de retornos, pelo grande volume de clientes que
passam pelo hospital anualmente, são milhares as respostas obtidas. Essa quantidade às vezes
induz o pesquisador a assumir que essas respostas retornadas são representativas do universo
de clientes. Não são. Pela simples razão de que algum motivo fez um grupo de clientes responder
e isso, naturalmente, os faz diferentes (e, portanto, não representativos) do grupo que não
respondeu. Isso não quer dizer que nos milhares de respostas não haja muita informação
valiosa. Provavelmente há, o erro é achar que as conclusões encontradas na amostra obtida são
extensíveis ao universo de clientes.
Numa ocasião, como membro de uma banca de mestrado, um dos autores avaliou o trabalho
de um candidato que pesquisou o serviço de concessionárias de veículos. O candidato, também
executivo de uma montadora, aplicou questionário de avaliação de desempenho com clientes
de concessionárias usando escalas Likert. Apresentava afirmativas como:
A escala Likert usada tinha os extremos “Discordo totalmente” e “Concordo totalmente” com
sete pontos intermediários de discriminação.
O zeloso mestrando, entretanto, resolveu ser mais preciso e definir os estágios intermediários
da seguinte forma:
Simétrica, sem dúvida, e aparentemente até mais precisa do que se os estágios intermediários
não tivessem sido definidos, mas observe: se alguém discorda em parte, não quer dizer que
concorda muito? Se concorda muito, isso também não significa que discorda em parte? Depois
de as respostas voltarem, como saber se o cliente de fato considerou diferente ou similarmente
esses pontos, aparentemente bem diferentes pelo posicionamento na escala? Claro que a
confiabilidade do instrumento fica prejudicada.
ERRO 7. Não perguntar ao final o que realmente importa: se o cliente tem intenção de voltar
ou de recomendar o serviço ou produto a outras pessoas.
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Conforme comentado no Capítulo 3, o início dos esforços mais intensos para equacionar melhor
a questão da gestão de redes de operações, mais do que operações isoladamente, data de
meados dos anos 80, ou seja, é muito recente. Mais recentes ainda são os esforços para se
desenvolverem medidas e sistemas de avaliação de desempenho que suportem
adequadamente a chamada “gestão de redes de operações”.
Uma das deficiências, inclusive mencionada por alguns autores da literatura, que dificultam o
melhor desenvolvimento da área é exatamente a falta de melhor compreensão de formas mais
adequadas de avaliar o desempenho de redes de suprimentos.
Essa deficiência sente-se principalmente porque, quando se buscam iniciativas para melhorar o
desempenho de redes de operações mais que de operações isoladamente, as métricas locais e
parciais tendem a levar a subotimizações, sendo necessárias, portanto, métricas globais que
avaliem não só o desempenho dos nós das redes de operações, mas também suas eventuais
sinergias, e também que ajudem a capturar suas possíveis ineficiências e ineficácias.