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20/08/2019 Como age o extremismo de direita no Brasil, segundo esta pesquisadora - Nexo Jornal

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Como age o extremismo de direita no Brasil,
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segundo esta pesquisadora
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Géssica Brandino 18 Ago 2019 (atualizado 19/Ago 14h44) (/assine/?
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A antropóloga Isabela Kalil estuda como se comportam os apoiadores mais radicais do
presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista ao ‘Nexo’, ela fala sobre a influência desse 
grupo no debate político

FOTO: UESLEI MARCELINO/REUTERS - 28.05.2018

 PESSOAS PARTICIPAM DE PROTESTO EM APOIO À GREVE DOS CAMINHONEIROS, PEDINDO POR INTERVENÇÃO MILITAR NO
BRASIL

Após as manifestações que ficaram conhecidas como Jornadas de Junho de 2013


(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/06/17/O-que-foram-afinal-as-Jornadas-de-Junho-de-2013.-E-no-
que-elas-deram), a antropóloga Isabela Oliveira Kalil passou a observar um grupo minoritário de pessoas que pedia a
volta da ditadura militar no Brasil. Os protestos começaram contra o aumento das tarifas no transporte público e, em
poucos dias, extrapolaram o tema e levaram milhares de pessoas às ruas, com diferentes perfis ideológicos e com pautas
diversas, entre elas uma insatisfação geral com a política no Brasil. Três anos depois, nos movimentos pelo
impeachment (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/08/01/Protestos-contra-e-a-favor-do-impeachment-a-
ades%C3%A3o-de-manifestantes-na-reta-final) da presidente Dilma Rousseff, Kalil viu esse grupo de extrema direita
crescer e suas pautas começarem a ganhar contorno.

https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2019/08/18/Como-age-o-extremismo-de-direita-no-Brasil-segundo-esta-pesquisadora?utm_campaign=… 1/4
Pautas antidemocráticas são uma Como
20/08/2019 característica de grupos
age o extremismo extremistas,
de direita tantoesta
no Brasil, segundo à direita quanto
pesquisadora à esquerda.
- Nexo Jornal Além do
clamor pelo retorno de um regime ditatorial, Kalil identificou como marcas desse grupo radical à extrema direita uma
retórica que viola os direitos humanos de minorias e de opositores políticos, com o planejamento da morte de
adversários e diferentes formas de ameaças.
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A partir o 2016,
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a pesquisadora passou do Nexo. um estudo do Núcleo de Etnografia Urbana da Fundação Escola de
a coordenar
Sociologia
Você aindae Política de São3 Paulo
tem mais sobre as
conteúdos manifestações
livres este mês.nas ruas e em redes sociais de grupos conservadores. Foram
realizadas mais de 1.000 entrevistas até o primeiro turno das eleições presidenciais em 2018, que permitiram elencar 16
perfis distintos (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/10/26/Um-estudo-sobre-o-apoio-a-Bolsonaro-em-
SAIBA MAIS ASSINE O NEXO
protestos-de-rua) que apoiaram a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência.
(https://www.nexojornal.com.br/about/Sobre-o-Nexo) (/assine/?

A antropóloga ressalta que o perfil extremista


flow=subscription_softmodal) corresponde
LOGIN à minoria dos eleitores bolsonaristas. O relatório preliminar
(/conta/login)
(https://www.fespsp.org.br/store/file_source/FESPSP/Documentos/Relat%C3%B3rio%20para%20Site%20FESPSP.pdf)
do estudo mostra que esse grupo passou a utilizar as manifestações como uma espécie de “laboratório de 
experimentação”, testando uma nova forma de comunicação e de fazer política, com articulação entre as ruas e as redes
sociais. Ela explica que no estudo o extremismo não é usado como conceito, uma vez que isso pressupõe que há uma
divisão entre pessoas moderadas e outras extremistas.

A discussão sobre extremismo feita pela pesquisadora no estudo tem como base os autores Loic Wacquant, Franz
Fanon, Hannah Arendt e Veena Das. Kalil explica que a bibliografia mostra como pessoas comuns, em um contexto
marcado pela violência, também estão aptas a reproduzi-la, independentemente do perfil de comportamento. “Quando
a violência é performada, existe um efeito de contaminação que vai se alargando e aquilo que era considerado
inaceitável, aos poucos, vai se tornando aceitável e se banaliza”, disse ao Nexo.

Esses grupos são categorizados da seguinte forma:

violência explícita que incite a morte de adversários políticos

apologia à tortura

discursos racistas, homofóbicos ou misóginos

uso de imagens que fazem referências à mutilação ou agressão de corpos humanos

desprezo pelas instituições democráticas

apelo para um estado policial

ameaças de uso da força para atingir finalidades políticas

Na pesquisa, o perfil de apoiadores mais radicais de Bolsonaro aparece predominantemente entre jovens do sexo
masculino com menos de 20 anos, que integram os chans, fóruns anônimos usados para disseminar discurso de ódio, e
também entre homens com idade entre 40 e 60 anos. Ambos têm em comum o que Kalil define como “masculinidade
perdida”, que é a perda de um lugar social.

Esses grupos cobram do presidente uma postura mais autoritária e um aceno maior ao radicalismo. Desde a campanha,
a pesquisa mostra que a comunicação de Bolsonaro foi marcada pela segmentação de informações, estratégia utilizada
para atingir diferentes perfis do eleitorado. Como presidente, ao retomar a retórica autoritária com falas em defesa da
ditadura militar (https://www.nexojornal.com.br/podcast/2019/07/29/Os-ataques-de-Bolsonaro-de-jornalistas-ao-
presidente-da-OAB), ele volta a acenar para essa parcela do eleitorado
(https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/08/trump-e-bolsonaro-investem-em-falas-ofensivas-para-manter-
bases-de-apoio.shtml) e a delimitar o apoio de adversários políticos.

Um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que pessoas e instituições que foram atacadas
publicamente pelo presidente se tornaram alvo de boatos de grande circulação na internet
(https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/apos-ataques-de-bolsonaro-boatos-contra-alvos-do-
presidente-ganham-impulso-nas-redes/). O padrão foi identificado, por exemplo, após frases de Bolsonaro contra o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/03/22/A-escalada-
da-tens%C3%A3o-entre-Bolsonaro-e-o-presidente-da-C%C3%A2mara), em março de 2019, e contra a jornalista
Miriam Leitão (https://www.nexojornal.com.br/podcast/2019/07/17/Quando-a-intoler%C3%A2ncia-barra-a-livre-
https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2019/08/18/Como-age-o-extremismo-de-direita-no-Brasil-segundo-esta-pesquisadora?utm_campaign=… 2/4
circula%C3%A7%C3%A3o-de-ideias)
20/08/2019 e age
Como o editor e cofundador
o extremismo doBrasil,
de direita no site The Intercept
segundo Brasil, Glenn
esta pesquisadora - Nexo Greenwald
Jornal
(https://www.nexojornal.com.br/podcast/2019/07/29/Os-ataques-de-Bolsonaro-de-jornalistas-ao-presidente-da-
OAB), em julho.

Informação
A pesquisa comcontinua
de Kalil clareza,acompanhando
equilíbrio e qualidade.
os grupos de discussão e as atividades desses movimentos após as eleições.
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Em entrevista ao Nexo, a antropóloga explica as características que marcam esse segmento.
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Há pressão
SAIBA MAISentre os eleitores mais extremos de Jair Bolsonaro por mais radicalização?
(https://www.nexojornal.com.br/about/Sobre-o-Nexo) ASSINE O NEXO (/assine/?
Que efeito isso pode ter a médio e longo prazo?
LOGIN
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ISABELA OLIVEIRA KALIL Há pressão, (/conta/login)
mas não somente de uma forma explícita. Isso está presente quando eleitores
mais engajados começam a se desinteressar pela figura do presidente e passam a elogiar ou dar mais atenção ao 
ministro Sergio Moro, por exemplo. Não me parece aleatório que recentemente Bolsonaro tenha exposto Moro a
situações embaraçosas. Para lembrar as principais, em uma ele faz uma brincadeira insinuando em suas palavras um
"troca-troca", jogando com uma possível relação íntima entre Moro e outro ministro. Em outra, insinua que Moro teria
escrito "Lula livre" em uma camiseta. As duas situações ajudam a repor a centralidade de Bolsonaro no próprio campo
da direita. A primeira tem como alvo a masculinidade de Moro e a segunda sua fidelidade política e partidária.

De certa forma, ao apelar para a radicalidade do tempo da campanha, Bolsonaro delimita a margem de crescimento do
apoio a outras potenciais figuras do seu espectro político, aliados e ex-aliados. Ele domina a cena política como o
homem mais forte (e a questão da masculinidade é central), mesmo quando esta força se mostra desmedida ou
inadequada.

Com a noção que a gente tem trabalhado de violência, o mais grave é banalizar performances e discursos que não
poderiam ser banalizados. Existem coisas que vão acontecendo que seriam inaceitáveis há um tempo. Quando mais
pessoas começam a performar isso de forma recorrente, o nosso limiar de violência e o que a gente considera
socialmente aceitável se alteram. Isso é o mais grave.

Como segmentos mais radicais se diferenciam de demais eleitores que podem estar
insatisfeitos?
ISABELA OLIVEIRA KALIL Essa questão é muito relevante porque essa base mais radical se diferencia muito dos demais
eleitores. O que está em jogo ao agradar sua base mais radical vai para muito além do voto ou a aprovação do
eleitorado. Sua base mais radical literalmente trabalha para Bolsonaro, cria conteúdo, vídeos, memes, fake news,
propagam os conteúdos, moderam fóruns, organizam eventos, administram grupos de zap, programam bots, ameaçam
os opositores indicados pelo Bolsonaro, atacam publicamente alvos como ex-aliados. A questão não é necessariamente
a quantidade desses eleitores, mas sua relevância nestas disputas. Sem esses eleitores, Bolsonaro não teria construído
as bases da sua campanha. Ele precisa desse segmento para continuar no poder e mirar o futuro.

Como é a visão desses segmentos mais radicais sobre as instituições?


ISABELA OLIVEIRA KALIL As visões são variadas, mas eu resumiria em uma máxima "menos partidos, mais Brasil". Ou
ainda na expressão "Meu Partido sou eu", em substituição ao "Meu Partido é o Brasil". Se a hipermasculinidade é um
elemento importante mobilizado por Bolsonaro, o hiperindividualismo está muito presente nos seus apoiadores. Mas,
apesar de variadas, é preocupante o movimento recente que pede a destituição de todos os ministros do Supremo
Tribunal Federal, ou mesmo o fim da Suprema Corte e ataques individualizados que insinuam a violência contra eles.

De que forma esses grupos lidam com correntes de pensamento opostas?


ISABELA OLIVEIRA KALIL Os grupos mais radicais operam uma verdadeira máquina de propaganda e intimidação a
favor de Bolsonaro. Esses grupos não representam uma violência de Estado exatamente como já tivemos
historicamente, são pessoas da sociedade civil ameaçando pessoas e instituições. Com isso, não é preciso que se tenha
uma lei específica com sanções para opiniões contrárias. Basta ver o número crescente de ataques e agressões contra
jornalistas e figuras públicas que está formado o terreno fértil para um tipo de censura informal, que em parte é e não é
do governo.

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Até que ponto esses segmentos
20/08/2019 Como age são atores
o extremismo relevantes
de direita no cenário
no Brasil, segundo político?
esta pesquisadora Qual o limite
- Nexo Jornal

na sua atuação?
ISABELA OLIVEIRA KALIL São importantes não apenas pelo número, mas pela forma de atuação. O que temos estudado
Informação
mais comé clareza,
recentemente como temequilíbrio
se dado a e qualidade.
interação do que chamamos na antropologia de humanos e não humanos. Ou
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seja, temos olhado para a interação entre pessoas e bots [perfis automatizados que tentam influenciar o debate em
redes
Você sociais],
ainda por
temexemplo. Este é um terreno
mais 3 conteúdos livres que
esteainda
mês.teremos que investigar mais para compreender os limites
destas interações e os riscos disso para a democracia.

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(https://www.nexojornal.com.br/about/Sobre-o-Nexo) (/assine/?
Como as falas de autoridades podem influenciar reações do público?
LOGIN
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ISABELA OLIVEIRA KALIL Há um efeito importante na(/conta/login)
performance de Bolsonaro que oferece uma espécie de licença
para que a violência se banalize e se reproduza. Se ele que é o chefe de Estado e uma liderança pode se permitir certas

coisas, o cidadão comum também pode. E esse efeito tende a se perpetuar em cadeia, como uma espécie de eco que
ressoa na sociedade, por mais absurdo ou ensurdecedor que sejam esses sons.

VEJA TAMBÉM

PODCAST (HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/PODCAST/)

Os ataques de Bolsonaro: de jornalistas ao


presidente da OAB
(https://www.nexojornal.com.br/podcast/2019/07/29/Os-
ataques-de-Bolsonaro-de-jornalistas-ao-
presidente-da-OAB)

TODOS OS CONTEÚDOS PUBLICADOS NO NEXO TÊM ASSINATURA DE SEUS AUTORES. PARA SABER MAIS SOBRE ELES E O
PROCESSO DE EDIÇÃO DOS CONTEÚDOS DO JORNAL, CONSULTE AS PÁGINAS NOSSA EQUIPE
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MAIS (HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/ENTREVISTA/2019/05/10/COMO-JORNAIS-PODEM-RECUPERAR-A-CREDIBILIDADE-
SEGUNDO-ESTA-PESQUISADORA).

(https://thetrustproject.org/)

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