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CARTILHA JURÍDICA PARA

MÉDICOS

Por Marcelo Pacheco de Brito Jr.,


Matheus de Oliveira Costa,
Valdir José de Medeiros Filho.

Instagram: @mpbritojr e @matheusmoac

É fato incontroverso que a COVID 19 (popularmente


dita Coronavírus) acarretou mudanças abruptas na
rotina de todos os brasileiros e, em principal, os
profissionais médicos, que são a ele suplicados para
atuarem na linha de frente deste combate.

Diante disso, com intuito de auxiliar nossos clientes e


a quem possa interessar, desenvolvemos este eBook
em que trará alguns aspectos da realidade do
profissional da área de saúde:
1. Tenho um consultório médico, sou obrigado a
encerrar minhas atividades?
A Lei Federal de nº 13.979/20 estabelece uma série de
obrigações e deveres para enfrentamento da Pandemia, as
quais se encontram as definições e extensões para o
isolamento, a quarentena e outros atos de caráter
compulsório.

No que atine ao profissional da saúde, o Decreto Federal nº


10.282, que regulamenta o que seja atividade essencial,
estabelece que o serviço médico e hospitalar, seja de
natureza publica ou privada, deverão continuar em pleno
funcionamento e exercício haja vista seu caráter de
imediatidade, não importando se é caso de emergência ou
urgência.

2. No meu Estado, a Secretária da Saúde Estadual e o


respectivo Município editaram normas que
suspendem as consultas. O que fazer?
Deve-se analisar, caso a caso, todavia, há um fator em
comum com todos os decretos, sejam estaduais ou
municipais, qual seja, a regulamentação frente a Lei Federal
nº 13.979/20.

Pela referida Lei, isolamentos e quarentenas, bem como


seus efeitos de restrição de atividade (seja ela qual for), só
pode ser aplicada desde que autorizadas pelo Ministério da
Saúde, o que até então, não foi feito.

Ademais, é indiscutível uma vez se tratar da necessidade de


atendimento em razão do risco e manutenção da vida, seja
para atenuar um sintoma ou situação clínica, ao profissional
médico é resguardado o direito do livre exercício
profissional e a ele é vedado a omissão ao socorro, sob
pena de responsabilização criminal.
A título de exemplo, a Secretaria de Saúde do Estado de
Goiás resolveu, por meio Portaria 511/2020, suspender as
consultas e procedimentos eletivo, com exceção de
algumas. Todavia, não houve qualquer menção e/ou
proibição quanto a abertura e funcionamento de clínica,
bem como de demais estabelecimentos congêneres,
permitindo, assim, seu funcionamento

Por fim, como forma de se resguardar, é necessário que


haja um documento feito por um profissional habilitado
para que o paciente (ou seu representante legal) ateste
eventual solicitude de atendimento emergencial.

3. Os funcionários da Clínica ou do estabelecimento


de saúde congêneres deverão trabalhar
normalmente? Quais recomendações?

Estamos vivendo uma situação ímpar e sem qualquer


precedente, assim recomenda-se que durante esse período
de enfrentamento do vírus, empregador e empregado,
prezando pelo bom senso e pela boa-fé que rege os
contratos de trabalho, celebrem acordos individuais para
negociarem jornada, intervalos, eventuais licenças e
possibilidade de teletrabalho.

Vale ressaltar que referida negociação individual tem


caráter excepcional, justamente pelo momento de
pandemia que vivemos e que medidas como implantação
de teletrabalho para determinadas funções, revezamento
e/ou redução de jornada são eficazes e atendem às
determinações das autoridades de saúde pública.
4. Sou médico na rede pública (ou empregado na
rede privada) e não há Equipamento de Proteção
Individual (EPI) adequado. Posso negar atendimento?
O que fazer?

Evidentemente, ao se tratar de um ambiente hospitalar


onde que está assegurando a manutenção da vida e até
mesmo o seu risco, a recusa ao atendimento não se
apresenta como a melhor forma a se proceder, muito
embora entidades de classe a nível regional tenham
pareceres nesse sentido. Todavia, recomenda, comunicar
ao superior hierárquico direito por escrito para que as
medidas sejam sanadas e até para servir de prova em
resguardar eventual indenização caso ocorra um acidente
de trabalho ou até mesmo ressarcimento na ordem moral.

5. Sou profissional médico do grupo de risco, sou


obrigado a trabalhar?

A segurança no ambiente laboral é considerada um direito


fundamental indissociável ao trabalhador, quer dizer, todas
medidas devem ser feitas para atenuar qualquer situação
que coloque em risco sua integridade.

Acontecendo tal circunstância, aconselha notificar


imediatamente o superior hierárquico daquela unidade
para que providências sejam tomadas, a nível
administrativo e quiçá, senão resolver, por ordem judicial.
6. Sou profissional da área da saúde e estou no grupo
de risco da Pandemia do COVID-19, posso recusar
atendimento do paciente?

Uma resposta negativa ou positiva não resolveria a questão,


pois são valores humanos (manutenção da vida) em jogo,
então, o que se recomenda, é a boa prática de costume é
indicar a outro profissional da unidade para que realize
aquele atendimento. Caso não exista essa possibilidade,
encaminhar a outra unidade de saúde, sempre
considerando a particularidade do caso e da urgência
clínica, sob pena de responsabilização criminal por ato de
omissão.

7. Sou profissional médico com especialidade diversa


a de ambulatorial, emergencial ou intervencionista,
posso ser requisitado?

Sim. Na forma da Lei Federal 13.979/20 bem como a


Constituição Federal, outorgar a União o poder em
requisitar a prestação de determinado serviço para em
caso de perigo público iminente, como no caso da
pandemia, desde que haja a devida indenização justa na
forma proporcional a prestação ofertada.

8. Posso fazer atendimento online?

No momento, sim. A Portaria 467, editada dia 20.3.2020,


pelo Ministério da Saúde autorizou, em caráter excepcional
e temporário em razão da pandemia, a realização da
telemedicina, contemplando atendimento pré-clínico, de
suporte assistencial, de consulta, monitoramento e até
diagnóstico.
Sugerimos que seja, inclusive, realizado um documento
jurídico em que o paciente declare ciência do atendimento
virtual e todas suas especificidades. Afinal, em alguns casos
não será possível o completo atendimento virtual, sendo
necessária sua presença física.

Registramos, inclusive, em caso de dúvidas do profissional, o


paciente em teleatendimento deve ser orientado a buscar
consulta presencial para avaliação de sinais e sintomas e
adoção de medidas terapêuticas necessárias.

Por fim, válido pontuar que a telemedicina já era regulada


pelo CFM desde 2002 (Resolução 1643/2002), porém previa
apenas a sua utilização para assistência, educação e
pesquisa. Ou seja, não previa a efetiva consulta entre o
médico e paciente (teleconsulta).

9. Como devo proceder o atendimento online?

A Portaria editada pelo Ministério da Saúde é bem


específica quanto as regras a serem seguidas pelos
médicos. Veja abaixo:

(i) Tecnologia de informação que garanta a integridade,


segurança e sigilo das informações;
(ii) Observar as normas e orientações do Ministério da
Saúde sobre notificação compulsória, em especial
atenção ao COVID-19;
(iii) Atendimento diretamente entre médico e paciente;
(iv) A comunicação deverá ser registrada em prontuário
clínico;
10. O que deve constar no prontuário?

(i) Dados Clínicos necessários para a boa condução do


caso;
(ii) Data, hora e tecnologia da informação utilizada para o
atendimento;
(iii) Número do CRM e sua unidade de federação;

Sugerimos, além de tais dados exigidos pela portaria,


conste, caso tenha, a especialidade do médico com o
número do seu RQE (Registro de Qualificação de
Especialista).

11. Os médicos poderão emitir receitas e atestados


médicos?
Sim! De forma eletrônica através de certificados e chaves
emitidos pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira
(ICP-Brasil) e, mais, deverá consta na receita e atestado:

(i) Identificação do médico – nome, CRM e RQE caso


anuncie sua especialidade;
(ii) Associação ou anexo de dados em formato eletrônico
pelo médico; e
(iii) Ser admitida pelas partes como válida ou aceita pela
pessoa a quem for oposto o documento.
(iv) Identificação e dados do paciente;
(v) Registro de data e hora; e
(vi) Duração do atestado.

Registramos que não há nenhum impedimento caso o


médico e/ou paciente prefira que a receita e o atestado
médico sejam entregues na forma física, mesmo com o
atendimento virtual.
12. Posso cobrar pela teleconsulta?

Sim, para isso sugere-se:

(i) Respeitar os preceitos éticos da Medicina e ao Código


de Defesa do Consumidor.
(ii) Informar o valor da consulta antes de seu início.
(iii) Não atender sem autorização do convênio do
paciente, salvo o paciente consentir em realizar a
consulta como particular.

Repisa-se a necessidade de um documento formal


(elaborado por advogado) para que o paciente declare
ciência de todas as informações do atendimento, como:
valor, forma de pagamento, modalidade da consulta,
enfim, todas suas especificidades.

13. Como proteger os dados dos pacientes?

Se tudo correr como planejado, no segundo semestre do


corrente ano, entrará em vigência a Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais (LGPD) – Lei nº 13.931/2018, impactando
todos os seguimentos em que há o armazenamento de
dados, não excetuando ninguém, principalmente aqueles
da área da saúde como médicos, consultórios, clínicas,
hospitais e demais instituições de saúde.

Evidentemente que, ainda que em menor escala, a


proteção de dados de pacientes é regulamentada pelo
Código de Ética Médica (CEM) em que consta como dever
de guardar sigilo a respeito das informações de que
detenha conhecimento no desempenho de suas funções.
Alguns exemplos são:

(i) Dados de pacientes só poderão ser coletados e


armazenados em sistemas com a autorização deles
(consentimento do titular dos dados);
(ii) Empresas terão de nomear um responsável para
proteção dos dados ou terceirizar a gestão;
(iii) Os pacientes terão o direito de saber quais dados deles
constam no sistema e para que finalidade essas
informações serão utilizadas;
(iv) Os dados pessoais dos pacientes, assim como todas as
transmissões de informações no sistema, deverão ser
criptografados e, depois de cumprirem o objetivo;
devem ser apagados;

Logo, é indispensável que os gestores, médicos bem como


profissionais da saúde em geral prevejam e investiguem se
os seus bancos de dados estão adequados às regras de
controle, gerenciamento e privacidade dos dados, sempre
com ajuda de profissional da área jurídica e tecnológica da
segurança da informação e serviços que atendam às
exigências da LGPD.

12. Posso fazer propaganda que faço consulta virtual?


Posso publicar no meu site e nas minhas redes sociais?

Sim. Desde que seja feito de forma sóbria, sem qualquer


conteúdo de forma sensacionalista, promocional ou de
conteúdo inverídico. Registramos que a propaganda do
médico deverá conter:

(i) Nome completo;


(ii) Registro junto ao Conselho Regional de Medicina
(CRM), contemplando a numeração e o estado
relativo;
(i) Nome da(s) especialidade(s) para a(s) qual(is) o médico se
encontra formalmente habilitado (no máximo duas), se
considerado pertinente; e
(ii) Número de registro de qualificação de especialista (RQE),
se o for.

Para o caso de propaganda de clínica deverá conter:

(i) nome completo do médico no cargo de diretor técnico


médico;
(ii) registro do profissional junto ao Conselho Regional de
Medicina (CRM), contemplando a numeração e o estado
relativo;
(iii) nome do cargo para o qual o médico está oficialmente
investido;
(iv) o número de registro de qualificação de especialista (RQE),
se o for.

As Resoluções 1.974/2011 e 2.126/15, ambas do CFM, e o


Código de Ética Médica (artigos 111 a 118) estabelecem os
critérios norteadores da propaganda em Medicina.

Esperamos que este eBook seja útil para o exercício de


sua profissão e compreensão!

Qualquer dúvida, sugestão, crítica ou feedback que


tiver, por favor, envie em nosso e-mail:
contato@vjmc.net
Ou entre em contato nos telefones:
📞(62) 3091-2049
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