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EDUCACAO meee Historia da PEDAGOGIA" A importancia da cultura e da linguagem na constituicao do psiquismo PN ol-tey ela) vigotskiana e seus desdobramentos para o campo educacional ACONSTRUCAO CULTURAL D IMAGINAGAO FORZILMADEMORAESRAMOSDEOLIVEIRA A importancia das relagdes sociais na formacao da consciéncia e do sentido de si pelo sujeito reside em serem elas a matriz de introducao do recém- nascido no conjunto de signos presente na cultura vida de Vigotski, segundo Alex Kozulin, apresenta uma notavel fe sugestiva qualidade literdria, ‘que repousa sobre uma tenséo criativa entre um pensador € a nova sociedade que se delineava em seu tempo. Desafiado a refazer as bases da psicologia que ‘entio se conhecia no Ocidente, ele partiu de um aprofundado estudo critico que fer 2 varias reas do conhecimento ¢ elaborou um rico pensamento sobre as bases hist6ricas e culturais da formacdo do Homem. Vigotski buscou identificar os aspectos ea racteristicos da conduta e do conhecimento hu- visténta on prance, manos, Para ele, todas as fungies psicolégicas superiores ~ 0 modo de memorizar, de resolver problemas, de localizar-se espacialmente, de ela- borar coneeitos, de sensibilizar-se por algo ou por alguém — originam-se da internalizagio de relagies sociais envolvendo o sujeito e seus par- ceiros em tima cultura, tema que comecou a ser debatido no final do século XIX e inicio do XX por autores como James Baldwin e Pierre Janet, e que ele reformulow a partir de Marx. ‘A importincia das relagées sociais na forma- «20 da consciéncia e do sentido de si pelo sujeito reside em serem elas a matriz de introducio do recém-nascido no conjunto de signos presente nacultura, Estes nio sto criados ou descobertos pela crianga, mas so por ela apropriados desde o nasci mento na sua relagio com parce ros mais experientes, os quais at buem determinadas significagé« 2 suas agées em situagses em qi estio presentes determinadas for- ede uso de ignos na execucao de tarefas (ou eja, formas de desempenho de pa- determinados: de pai, de juiz, € também de perguntador, apoiador, opositor e outros) A apropriagio desses si © uso deles pela crianca como ré ‘cursos de ua atividade psicolégica reestruturam esta atividade, inten- icando e ampliando suas possibi- lidades, assim como o empr ferramentas como a pé, 0 martelo forma a atividade natural dos érgios dos sentidos e dos ér- gos motores. Conforme a crianga passa a utilizar signos socialmente nstruidos e ap periéncia anterior para orientar seu comportamento, ela reage 3 jr en eer ot Seance enter comunicacionsl, val regular & atividade em geval da erianga ses cotidianas utilizando formas d mais compl das. Esse olhar privilegiado para as interagbes sociais leva Vigotski a investigar a ligacio entre cognicao fe emogio, e a nos convidar a apre- lender as ago dos motivos, necessidadt nas experiéncias didrias dos indi- viduos. Segundo ele, os fenémenos ‘emocionais podem ser considerados como a resposta do sujeito diante de uma situagao existente ou possivel, que favorece ou no uma atividade vital @ corresponde, ou ndo, a certas ormas e orientagdes de valor. Em cada ideia, continua ele, esté contida, sob uma forma elaborada, a relagio afetiva do homem com’a realidade ‘ela representada, 0 foco nas interagoes com ou- tros individuos levou Vigotski a reconhecer que a apropriacéo da linguagem de seu grupo social em ‘decorréncia destas interagdes cons- titui o proceso mais importante no desenvolvimento humano. A emer- ‘géncia da Tinguagem verbal, de wm agir comunicacionat, vai regular a atividade em geral da crianga, pelo ‘estabelecimento de um acordo sobre os objetivos eas formas de agio mais ‘complexas, que podem ser entao pla~ nejadas, avaliadas, Os adultos interagem com as criangas estimulando-as a incorpo- ‘que 05 parceiros, particularmente 2 crianga pequena, tém dificuldade de perceber sua acio separada da do parceiro, Com a experiéncia, ha pro- gressiva individuasao a medida que 0s parceiros apreendem a totalidade da situagto, diferenciando seus pa- péis conforme imitam o outro ou 0 confrontam, apropriando-se do polo que the faltava na tarefa, ou seja, das instrugdes, questionamentos ¢ apon- tamentos que o parceiro the ofere- ia, podendo assim fazer indicagdes asi mesmo. ‘Uma fala egocéntrica, ou para si mesmo, marcaria oestigio de transi- tros sujeitos para uma fals interna, dirigida a si mesmo: de mediadora do comportamento social dos par- ceiros para mediadora do comporta- ‘mento individual de cada um deles. O desenvolvimento humano 6, nessa conceptao, uma tarefa con- junta e reciproca. Tentativas do bebé de realizar um movimento de agarrar um objeto sto interpretadas por um membro adulto.de seu en- Os adultos interayem com as criancas estimutando-as a incorporar, desde 0 hascimento, os significatios e conhecimentos construffes historicamente em uma cultura rar, desde o nascimento, os significa- dosemodos de operar comainforma- 40 que foram sendo historicamente ‘construidos em uma determinada cultura: Isso se da por meio de ges- tos indicativos e de questdes estru- turadoras trocadas pelos parceiros em tarefas conjuntas (brincar, deco rar nomes, prestar ateng30 a sons, entender uma piada, descrever uma gravura etc) Nessas situagdes,aati- vidade interpessoal € to integrada HEE uzroaun 04 eoacocin torno social como um gesto de indi- cago do objeto, sendo provavel que © adulto tome o objeto e o entregue ‘a0 bebe. Considerado um signo pelo parceiro, o movimento do bebé gr dativamente se aperfeigoa ese torna ‘um signo para a propria crianga, que passa a fazer gesto de indicar uma ago ao parceiro esperando receber 0 objeto como resposta e, depois, ‘a indicar a si mesmo a forma de executar a acto esperada, Pode-se ‘com isso compreender a ideia vi- gotskiana de que “atos interindivi dusis criados na situagdo cognosci- tiva-convertem-se assim em agées intraindividuais da crianga”. De in’cio gesto e palavra expres- ‘sam uma relago com um objeto ou uma situagao, nexo esse construfdo pela adulto no processo de comuni- cagio coma crianga, queusaapalavra para agir sobre ela. Depois processos verbais adquiridos e dominados pela crianga de inicio como atos sociais, tendentes, a satisfagao de determi nadas necessidades transformam-se em instrumientos do pensamento € de toda a regulacio do seu compor- tamento. A fala comeca a preceder © comportamento, indicando sua fungao planejadora: a crianga passa aempregé-la para fazer indicagdes a simesma. Mais tarde a fale Ginterio- rizada fundindo-se a0 pensamento, tornando-se vefculo de autodirecio- namento , assumindo um cardter de diélogo interno por meio do qual 0 sujeito “fala com seus botdes”. ‘A Tinguagem permite que o mnundo seja refratado na conscién- cia através dos significados culturais, selecionados pelos sujeitos e por eles apropriados com um sentido pré- prio embora impregnado de valores € motivos socioculturais e guiado igualmente por elementos afetivos. No sistema funcional de participa- ‘40 com parceiros mais experientes, acrianga pode analisar a experinci conjunta, diferenciar os papéis en= volvidos na solugao da tarefa e in- dicar formas de agir para si prépria. Esta participagio com parceiros em. tarefas culturalmente estruturadas com seus complexos significados ria uma “zona de desenvolvimento proximal", ou seja, um proceso intersubjetive em que se formam “sistemas partilhados de conscién- ia” culturalmente elaborados e em | i I i continua transformagio. Em tais si- tuagies, 05 modos do adulto de agir ¢ lidar com o conhecimento e de cenvolver a erianga por meio de ins- trugies, apontamentos erepresenta- 6es interagem com a gestualidade, a emosao eo raciocinio das eriangas, ‘que promove seu desenvolvimento. Para explicar isso Vigotski retomaa questo da imitagio. Acultura criaa brincadeira ‘tue cria cultura Preocupado em estudar o:psi- quismo nao como um dado primor- dialmente orginico, mas como uma constrigao cultural, investigando como representagbes coletivas ‘modos de significar omundo ¢ a si mesmo séo apropriados pelas crian- ‘as por meio de diferentes priticas sociais, Vigotski langou-se a discutir a brincadeira infantil, em especial 0 far-de-conta, ou “jogos de papéis". Para ele, abrincadeira infantil cons- tituia principal atividade promotora do desenvolvimento da erianga no perfodo pré-escolar. Pelascaracteris- ticas de sua realizagto, ela promove uma série de aprendizagens e revolu- ciona 0 desenvolvimento da erianga em pontos fundamentais. Ela seria ‘uma oportunidade para recriagio da cultura erm um contexto interacio- nal cheio de confltos, de posigoes diversas ¢ de inerentes negociagoes. Brincar dé a erianga oportunidade para refletir sobre as regras sociais, ‘ereconhecer néo apenas o seu papet, ‘como também 0 de seus parceiros, & medida que os observa durante a agdo e assume 0 papel do parceiro (em geral individuos mais experien- es) € atribui a outro seu proprio papel, a uma boneca por exemplo. ‘Com isso, a crianga vai além de seu comportamento diério, experimen- tando um dado model, inicialmente diferente de si, mas que é parte de eo Reyrodeto sua rede de experiéncias socizis, e transformando-o em um mediador interno para novas agées. Brincar possibilita & crianga su- perar importantes restrigdes em suas possibilidades de agi. Na brin- cadeira, 03 objetos perdem sua forca determinadora sobre 0 comporta- mento da crianga, que comesa a po- der agir independentemente daquilo que ela percebe. Embora na vida real a agio domine 0 significado, cadeira € o significado que domina a acio. Com isso, a crianga pequena, que esta limitada em suas agbes pela restrigao situacional pro- vocada pelo forte imbricamento dos aspectos motivacionais e motores de sua atividade, pode ser mediada por imagens por ela elaboradas a partir de suas experiéncias anteriores em ‘uma cultura conereta e pode transi- tar pela fantasia culturalmente im- pregnada. Com isso a a¢io mediada por regras apropriadas pela crianca tsv6nin on reoAo00i8 KEL no cotidiano comeca a ser determi- nada por ideias, embora ainda com suporte de objetos, indumentérias, ou outros mediadores externos. essa forma, a brincadeira atua como um mediador na formagio da representagio, desde que seu funcio- namento possibilite a disting8o en- tre um significado e um objeto real, A medida que os gestos da crianca Ihe atribuam a fingio de substituto adequado ¢ criem uma definigao funcional de conceitos e de objetos, utilizando alguns objetos como brin- impulsos imediatos ¢ a se controlar pelo bem da brincadeira, criando wm desejo de segunda ordem, um afeto que incorpora outro afeto. Assim, as ctiancas criam necessidades e dese- jos relacionando-os a um “En” fict ‘ioe se apropriam de normas sociais. Isso possibilita a criagio de uma situagdo imagindria que tem de se articular com as limitagées coloca- das sobre as possiveis agBes que sto trazidas a brincadeira pelas crian- a8. Dessa maneira a brincadeira simultanearnente mais real e menos Vigotski defende que brincar, mesmo que sozinho, constitui uma “zona de desenvolvimento proximal’ para a crianca, um espace de relagées interpesseais quedos e executando com eles um gesto representativo. Ao participar na criagao de uma situagio de faz- de-conta na qual ela encena situagbes ‘extrafdas da realidade utilizando re- {gras de comportamento socialmente ‘constituidas transmitida, a crianca envolve-se em um mundo ilusério ¢ imaginério onde desejos nfo rea lizSveis podem ser realizados, onde popéis de diferentes dramas podem ser desempenhados pela crianga em confronto com os papéis que as ages de seus parceiros apresentam na si- tuagdo concreta. A brincadeira, dessa maneira, permite que a crianga de- senvolva as motivagoes de segunda ‘ordem necessérias tanto para aescola quanto para o trabalho, Ao brincar a crianga desenvolve formas de motivagéo propriamente humanas. Como toda brincadeira é governada por regras (as da ima- ginacio), brincar constrange as criangas a0 mesino tempo em que as libera, ou seja, as ajuda 2 dominar IIB erro on eancocia parecida com a vida real. Ela pro- ‘move tia “iluséria liberdade” Vigotski defende que brincar, mesmo que sozinho, constitui uma “zona de desenvolvimento proxi- mal” para a crianga, um espago de relagies interpessoais no qual um parceiro mais experiente, ou seja, aquele que tem.seu comportamento ‘ais mediado pelo conjunto de sig- nos presente em uma cultura, nfo precisa estar, coneretamente pre- sente, mas pede ser trazido a situa- ao pelas agves das criangas ¢, gr dativamente, pelas representagées dele que elas comegam a construir. Fazerigual e fazer diferente: ‘ocaminhe daimaginagao ‘Um outro aspecto que a obra de Vigotski traz para a discussio diz respeito & interagZo € 20 desenvol- vimento da imaginagao durante a brincadeira. Assim como ressalta- “Fam Mead ¢ Wallon, para Vigotski os gestos também sao recortes de situagdes interativas e vefculos de significagdes, portanto, de comuni- cago. Nesse sentido tém um valor funcionalmente privilegiedo para evocar urna a¢zo, contribuindo para a construgio de imagens mentais. A imitagao do gesto do outro possibi- lita a reprodugao de atos alheios ¢ a identificagio pelo sujeito que imita das indicagdes neles contidas. Depois, gragas a um lento pro- cess0 de dissociagio, alteracao e as- sociagio de impresiées sensoriais, com gradativa infiltragéo de ele- mentos do pensamento conceitual, imagens perceptuais reelaboradas pela cognigio da crianga, e por ela afetivamente significadas, servem de suporte para a imaginagio. Por sua vvez, 0 maior dominio da fala amplia Oo ee teen nt © desenvolvimento da imaginagio da crianca e medeia a formagio de representagdes, o que Ihe possibilita representar objetos quecla nunca viu antes, ou dar um novo uso a um ob- {eto j conhecido, inserindo-oem um { ‘novo contexto eriado pela fantasia. esse processo a imitagio tem um valor fundamental. Entendida ‘em um amplo sentido, aimitagio re- presenta a principal forma pela qual corre a influéncia da aprendizager sobre 0 desenvolvimento. A apren- dizagem é possivel onde a imitagio também é possivel. O proceso de aprender se dé na medida em que capacidades ainda ndo amadureci- das da crianca recebem o impulso de agées de outros parceiros. Conforme a erianca imita a agao destes parcei- ros na realizacéo de uma atividade, la pode passar do que sabe fazer para aquilo que nao sabe. Para aprofundar estes pontos, apresentaremos uma breve anilise de episbdios de interacio baseada na observasiodo cotidiano de criangas de es anosem uina creche munici- pal de Sao Paulo para compreender © processo de formagio sécio-hist6- rica da mente humana, segundo a visto vigotskiana. Imitar, para criancas nessa faixa de dade, pode ser apenas a reprodu- io de um gesto e de um ritmo, ou pode incluir alternancia entre apre~ sentacao ¢ repetigao de um compor- tamento. No exemplo a seguir, isso fica bem nitido: "Na creche, quatro ceriancas de 2 anos, duas meninas e dois oes Seema eee corre eer leninos, examinam em separads caizas de madeira cheias de placas de diferentes tamankos, formas ¢espessuras. Uma das ‘meninas bate com uma placa de madeira nos vérios lados da caia qué éxamina. Alas segundos depois, um dos me- ninos comega a bater no fundo de sua caiza com uma placa e o fax por algum tempo, observado pelas demais criangas, (que larga os objetos que seguram e pe- ‘gam placas de madeira e balem com elas emma das caizas, 0 que cria um jogo de sons que muito as divertem”. Em outras situggées a imitagio imediata, apoiada na percepea0 dos parceiros, evolui de uma sincroni- zagio dos ritmos posturais e das verbalizagées dos parceiros até a criagfo de brincadeiras cooperativas mais elaboradas, com reprodugio dos aspectos bésicos dos compor- tamentos dos parceiros. Conforme reproduzem alguns gests basicos, expressbes faciais, posturas eorpo- rais e verbalizagées que sto encon- tradas em experiéncias cotidianas, com uso simbélico de alguns obje- tos, as criangas criam ese submetem a rede de significados circulando na situagio e expressos em palavras. Vejamos outro epis6dio: “Uma me- nina de 2 anos examina atenta urna colker na sala de sua turma na creche, olka para a pesquisadora que filma @ cena diz: "Tomé remedi!’ anda até ela e pergunta: Remtdio, tia?” indo depois brincar com outros objetos. Ure minuto depois, novamente segurando a colher, ‘menina aprorima-se de outra menina € Ihe diz: ‘Pega remédio!”. Depois ela se | sooo | = volta para a pesquisadora. ¢ pergunte ‘Rembdio, tia?” K reproduedo de situapées az.com ‘que acrianga cada vez maisdiferencie (0s elementos originais que sto trazi- dos para a situagdo presente. Poste- iormente, uma melhor definigSo de temas pode ser entio notada, ¢ 0 de- senvolvimento de novas habilidades ajuda as eriangas a tornat o enredo mais completo, com reproducio de mais aspectos dos papéis assumidos, HEEB tusvoun on eonooors em particular, peas educadoras da creche: “Uma menina, sentada no chto da sala da creche, bate rtmadamente uma colher dentro de um copo, como que batendo hte emp Ela ergue-seeestende 4 colher parava pesesadora , dizende ‘papa’, ta, papa!” Depois ela apraxima a colher de sua boca, finge comer algo ¢ exclama: ‘Bom!’ Olkando para a co- lier e coo, diz sorinds: "Pipa, tia Pipe! Qui? pipal Qué? Ela fe goto de mecer a coher no cope pea colier cm sa boca enonamene no cope Depot claclh para nm mcnive que brinca ase lado com um objeto de plastic, e the diz: “Pipa, ode. Vamos, papal”. ‘Ateavés do uso de win objeto co- ‘nhecido, no caso a colher, a rianga recupera uma situaedo ja vivenciada, ou seja, papéis anteriormente cons- trufdos, no caso, facetas do papel de adulto que cvida de eriangas (mae ‘ou educadora), papel esse que & as~ sumido por ela ao mesmo tempo em que, por sua aslo, atribui a ou- tracrianca, Aeducadora, 8 boneca, 0 papel complementar daquele que & Cuidado. Gradativamente, contudo, 2 crianga passa a usar os objetos de tum modo simbélico, mais mediado por imagens, como um substituto para outros objetos diferenciados de sua forma empirica Nesse processo a linguagem tor~ na-seum dos elementos reguladores fundamentais da interagao das crian- as na medida em que constitai substrate material necessério 3 re- presentagao ¢& troca de mensagens. ‘A entonacdo, © ritmo, 0 eonteddo Iinguistico configuram elementos cada vez mais basicns 20 desempe- rho de papéis. O dominio maior da fala leva as criangas a sugerirem ividades, conferirem uma hipStese sobre a brincadeira, orientarem a agio do outro: “é meu", “eu sou a mie, né?”. Assim, acrianga pode agir niio s6 como ator, mas também como diretor de cena e como audiéncia. ‘A medida que. linguagem verbal imais efetivamente faz a mediacio do processo de coordenasio de papéis, as criarigas mais velhas apresentam tum enredo mais bem planejado, no qual algumas representagdes estio sendo mais claramente negociadas: “Em outra turma da creche, um menino de 3 anos inge derramar 0 conteido de uma gorrafa plistica vazia sobre sua cabeca, dicendo a outro garoto de sua ‘dade: ‘Poe na cabega,assin!”™. Cada vez mais se observaacrianca ser capaz de evocar eventos. Bla néo faz isso em separado da 2530 de outra crianga, mas coordenando suas apbes a partir da atengao conjunta, da con- sideragio da parceira como um esti- rmulo privilegiado para agir. Outros processos de coordenagio de papéis vvao sendo observados, tis como 0 uso de novos elementos lingisticos - 08 condicionais eas justificativas-na interagdo com parceiros, come forma de submetélos a seu proprio enredo no faz-de-conta, o que aponta para a apropriagio pelas criangas de formas de exercer o poder sobre os outros. ‘Ao jogar com papéis na atmosfera de faz-de-conta criada na brincadeira simbélica e em outras situagbes, as criancas necessitam seguir, de uma maneira no necessariamente cons ciente, um modo de agir que requer complexas habilidades, lidando com posturas, gestos e representasdes cemergentes. Com isto, aspectos pes- soais—embora socialmente cunhados = sio elaborados pélo proceso dia- lético de imitagio/oposigo em con- textos cujas agdes sio carregadas de significados hist6ricos. Estes sio.cap- turados pelas criangas, & medida que claspraticamedominamnovas formas ‘complexas de a¢io—modos historica- mente construfdos de pensar, sentir, ‘memorizar, mover-se, gesticular etc, © exame das reflexes de Vi- gotski e de dados de pesquisa ilumi- nados por suas consideragées te6- ricas oferecem ‘novas perspectivas para o debate sempre presente entre professores e pais sobre o valor da brincadeira para a aprendizagem e 0 desenvolvimento da crianca. Seu va- lor como mediador da imaginagio, da fantasia e da construgo do sentido de si pela crianga colocam a brinca- detra infantil como excelente aliada dos professores no alcance das metas, educacionais que eles estabelecern. ‘ima de Morags Ramos de Oliveira ere. dacente ex Psicologia co Desenvolvimenta, professors aporentada da Faculdade de Filosofia, Ciéncas «Letras de Rbeirto Proto dda USP epsquidora do Cindedi (Centro 4s Invesigago sabre Desenvolvimento Humano ¢ Educagto Infantil). Publicouentre ‘outros tales, Edcac Infra Fundamenos {Mitodr (Cortex, 2002) « Bacar efantit ‘Mates Obares (Corte, 1909)

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