Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Estação
Radiotelegráfica
FORTALEZA DE SANTA CRUZ DE ANHATOMIRIM
Projeto de Restauração
POUSADA DE ANHATOMIRIM
CADERNO I
MEMORIAL DESCRITIVO
E DE ESPECIFICAÇÕES
Autor do Projeto: Arquiteto Roberto Tonera
Participação: Acadêmica Flávia F. Feitosa
Projeto Fortalezas Multimídia
Dezembro de 1999
Introdução
INTRODUÇÃO...............................................................................................................................................2
CADERNO I
3. Quantitativos .................................................................................................................................... 31
CADERNO II
1. Relação de Pranchas................................................................................................................................. 39
2. Projetos de Levantamento................................................................................................................ L1 - L7
3. Projetos de Restauração e Revitalização ...................................................................................... A1 - A10
Na radiotelegrafia, ou telégrafo sem fio, os mesmos sinais telegráficos convencionais, não são mais
transmitidos através de fios, mas sim, por ondas de rádio. O aparelho de transmissão ficava instalado no interior
da estação e os sinais eram enviados através de uma antena localizada no exterior daquele edifício. Os cabos da
antena ficavam estendidos entre dois mastros, geralmente de madeira, e que podiam atingir até 50 metros de
altura. O equipamento de transmissão era alimentado de energia elétrica, produzida em uma central de força
externa à estação. Na fachada leste da Estação Radiotelegráfica de Anhatomirim, ainda podem ser vistas duas
castanhas de porcelana, utilizadas para o isolamento da saída dos cabos da antena de radiotransmissão, localizada
provavelmente naquelas imediações.
Na primeira metade do século, enquanto a ilha esteve ocupada pela Marinha, esta edificação abrigou
também uma marcenaria.
No início da década de 1970, a Estação Radiotelegráfica quase foi demolida por ter sido
equivocadamente considerada uma edificação conflitante e sem importância no contexto histórico da Fortaleza
de Anhatomirim, em função de sua origem mais recente. No entanto, construções como a Estação são o retrato de
sua época. Entre outros aspectos, este edifício expressa as transformações estilísticas e construtivas pela qual
passou a arquitetura brasileira e catarinense no início do século XX, bem como as inovações tecnológicas nas
áreas de comunicação e energia surgidas neste período, representando, portanto, a adaptação desta unidade
militar aos tempos modernos.
Na Estação Radiotelegráfica da Lagoa da Conceição, contemporânea da Estação de Anhatomirim, e
citada por BOITEUX (1916), os equipamentos de acionamento dos aparelhos de radiotelegrafia eram
alimentados de energia elétrica, produzida por uma usina de força construída próxima ao prédio da estação. Em
Anhatomirim, no entanto, a Usina de Eletricidade, necessária ao funcionamento da Estação, foi construída
apenas em 1917, segundo a própria inscrição constante em sua fachada, o que leva a suposição de ter a Estação
Radiotelegráfica entrado em operação somente a partir desta data, embora sua construção tenha sido iniciada em
1914, coincidindo com a entrada do Brasil na 1a Grande Guerra,.
Sustada a demolição, a Estação foi reformada em 1981 para servir de moradia do funcionário da UFSC
que seria responsável pela zeladoria da Ilha, uso que nunca veio a se concretizar. Posteriormente, abrigou o
primeiro restaurante de Anhatomirim, quando da abertura da Ilha à visitação pública em 1984. Nos últimos anos
tem servido também como alojamento eventual para visitantes e guias da Fortaleza.
Calçada
Gateira
SALA 1
ALPENDRE 1 ALPENDRE 2
Piso Piso
SALA 2
CIRCULAÇÃO
Cobertura
SALA 4 SALA 6
SALA 3
SALA 5 BWC 1
BWC 2
Janela
Legenda:
Alterações sobre o projeto original
Locais prospectados em outubro de 1999.
Figura 7 - Entrada Lateral da Edificação - Alpendre 2, Figura 8 - Detalhes da outra entrada lateral - Alpendre 1,
1999. 1999.
Foto : Ademilde S. Sartori - PFM Foto: Alberto Barckert - PFM
As trincas ainda visíveis ao longo destas colunas, principalmente na situada junto a entrada do alpendre 2,
não são resultados de danos estruturais, mas sim de uma tentativa sustada de demolição das mesmas, durante a
reforma de 1981. Os balaustres torneados destes alpendres também foram refeitos e possuem diferenças em
relação aos originais, que apresentavam desenhos em relevo.
Na reforma de 1981, não existiam mais as coberturas dos alpendres. A solução adotada na ocasião e que
permanece até hoje é bastante simplificada, não condizendo com o nível de acabamento mais apurado da
construção original. Desconhece-se a solução original desta cobertura. Sabe-se que o escoamento da calha do
rincão era realizado por uma descida pluvial localizada no interior da coluna do alpendre.
Esta preocupação em não jogar as águas do telhado livremente sobre o passeio, indica a provável
existência de uma calha ao longo do beiral. Os alpendres que existiam na Nova Casa do Comandante,
contemporânea da Estação, possuíam não só calha nos beirais, como também um acabamento com lambrequins.
Talvez uma solução semelhante possa ter existido também no edifício da |Estação.
Na fachada principal, na parte superior da platibanda original, demolida da década de 80, lia-se a data de
construção da Estação, 1914. Esta data localizava-se sobre outra inscrição em alto relevo, identificando a função
original do edifício e escrita ainda na grafia antiga - "Estação Radiotelegraphica" -, a qual permanece visível até
hoje.Algumas das letras que faltavam nesta inscrição foram refeitas em 1981 sobre as marcas ainda existentes.
O piso do edifício era constituído de ladrilhos hidráulicos tanto externa quanto internamente. No início
do século, os ladrilhos eram feitos de cimento comprimido, quase sempre decorados; geralmente revestiam o
piso de banheiros, cozinhas e ambientes de trabalho, quando a implantação de redes de água e esgoto nas
cidades incorporou estes novos ambientes ao interior das residências. Os ladrilhos também foram utilizados
como pisos exteriores de varandas, calçadas e pátios. Sua execução era possível, nos pavimentos elevados,
correndo vigas de ferro em duplo "T" em um sentido da peça e formando-se abóbadas de tijolos entre essas
vigas. Por cima desta laje, era nivelado o contrapiso, com os ladrilhos colocados como revestimento do piso do
pavimento superior. Por baixo, no andar inferior, apareciam abobadilhas, formadas pelos tijolos colocados
entre as vigas.
Pela abertura da gateira prospectada, foi possível visualizar a estrutura de sustentação do piso do
alpendre 2. Este piso é sustentado por vigas de perfil duplo T com altura de 20 cm e barras chatas abauloadas na
parte superior que as atravessam perpendicularmente e sobre as quais foram dispostos tijolos de perfil
(5cmx26cm) acompanhando a forma das barras abauloadas e formando um suave arco de tijolos
argamassados. Estas vigas de ferro encontram-se atualmente bastante oxidadas, com escamações em forma de
placas.
Quando das obras de 1981, uma parte interna do piso interno original cedeu com o posicionamento de
um armário, provavelmente pela ruptura de uma das barras de ferro de sustentação. Então, o piso foi demolido ,
exceto o dos alpendres, e serviu de entulho para o aterramento da casa, juntamente com resto de demolição da
Estação, bem como restos de demolição de outros prédios na ilha, como a Casa do Faroleiro. Desta forma, o piso
de ladrilho hidráulico foi substituído por tijolos de baixa qualidade que, atualmente, encontram-se
escorregadios em determinados locais graças ao limo existente, oferecendo riscos de acidentes aos usuários.
Este piso não é argamassado, estando simplesmente assentado sobre uma camada de areia. Isto permitiu a
conservação, praticamente intacta, dos ladrilhos no piso dos alpendres que permaneceram por baixo do piso de
tijolos . Existia ainda ladrilho hidráulico revestindo as paredes da casa até uma altura de 1,25, cuja marca ainda é
possível observar no reboco. Este revestimento possui uma faixa de ladrilhos diferenciados, fazendo um
acabamento de borda superior.
A prospecção do piso dos passeios indicou que antes da aplicação do revestimento com tijolos em 1981,
as calçadas eram de cimento desempenado.
No lugar da platibanda demolida, foi construída uma platibanda lisa que desconsiderou seus detalhes
originais e recortes que acompanhavam o posicionamento das esquadrias na fachada .
As esquadrias refeitas na reforma de 1981 também não correspondem ao modelo original. As janelas que
existem atualmente são do tipo guilhotina e as originais eram de abrir, em duas folhas, com bandeiras fixas de
vidro e provavelmente com postigos internos de madeira.
O forro original tipo saia e camisa foi substituído por tipo macho e fêmea, conhecido como forro paulista.
O nível do forro original pode ser ainda identificado pelas marcas deixadas no acabamento do reboco das
paredes - visível acima do forro atual - encimado por uma faixa de pintura decorativa que servia de acabamento
do rodateto constituído por uma tábua larga.
A pintura atual da estação, não está adequada ao estilo da construção. Os prédios públicos no começo do
século, eram quase todos pintados de ocre, sendo esta uma cor praticamente oficial . Este é o caso da Alfândega e
Mercado Público, no Centro de Florianópolis, e também a cor que a Marinha adotou para os edifícios de
Anhatomirim, ainda visível nos vestígios de pintura do Quartel da Tropa. Portanto, a pintura da estação deveria
ser ocre, com os elementos em relevo pintados de branco.
Quanto ao sistema de águas pluviais da cobertura principal, as calhas e tubulações embutidas que eram
de cobre foram substituídas por calhas de aço galvanizado projetadas livremente sobre o passeio e sobre a
cobertura dos alpendres. Curiosamente, na fachada leste, aparecem marcas de uma antiga descida pluvial
correndo externamente e no sentido diagonal.
Na base do piso de ladrilhos do alpendre 2 existe ainda uma saída de tubulação de cobre para o
escoamento das águas do piso.
Além das modificações ocorridas em toda a estação (piso, forro, platibanda, entre outras..) foram feitas
algumas alterações pontuais envolvendo a abertura ou fechamento de vãos e construção de paredes com
conseqüente alteração na divisão interna da edificação.
Na sala 1, indicada na figura 6, uma das portas da planta original foi fechada, restando apenas a
indicação de sua existência através da saliência na alvenaria. Na sala 2 foi emparedada uma porta que a
interligava ao alpendre 1 e aberto um vão de ligação para a sala 3. Na sala 3, foi executado o fechamento de uma
porta, cuja bandeira ainda está aparente.
Na sala 4, existe sob o piso uma base de concreto de suporte para pesados equipamentos e, ao fundo,
localiza-se uma porta de grande dimensão, que liga a sala ao exterior. Provavelmente estas alterações
foramfeitas no período em que a estação funcionava como uma marcenaria. Sobre esta porta dos fundos, foi
executada ainda uma cobertura durante a reforma de 1981.
Na sala 5 foram demolidas duas paredes de estuque e construída uma parede de alvenaria. Foi
efetuado ainda o estreitamento da porta entre a circulação e a sala 6.
Na sala 6, uma porta foi transformada em janela. A comunicação desta porta com o exterior através do
alpendre 2, aliado ao fato da entrada dos cabos da antena do telégrafo ocorrer nesta sala, leva a supor que neste
ambiente localizava-se a parte administrativa e operacional da Estação, funcionando de forma independente
dos demais cômodos da edificação, utilizados como residência do telegrafista. Mesmo relevando o
estreitamento da porta entre a circulação e a sala 6, nota-se um desalinhamento desta em relação à porta
oposta, que faz a ligação com a sala 4. Isto, aliado ao possível fato da sala 6 ter abrigado o escritório e
máquinas do serviço de telegrafia, podem indicar que esta abertura não existia originalmente, sendo a
comunicação com o restante da casa efetuada pelo alpendre 2 e sala 1.
Na sala 6, foi construído ainda um banheiro que, mais recentemente, foi subdividido em dois
sanitários menores, para que um deles pudesse também atender ao alojamento feminino dos guias da fortaleza
que funciona na sala 5.
O antigo banheiro situava-se externamente, sendo adaptado posteriormente para atender à função de
churrasqueira, onde era possível ver as marcas do fechamento de sua porta. A churrasqueira foi demolida no
final do ano de 1999.