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Prefácio
Géneros e Formas Poéticas na Época Arcaica
— ∪∪ — ∪∪ — ∪∪ — ∪∪ — ∪∪ —— hexâmetro
— ∪∪ — ∪∪ — // — ∪∪ — ∪∪ — pentâmetro
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Carlos A. Martins de Jesus
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Duas regras marcam o pentâmetro: uma delas reside no facto de a diérese coin-
cidir sempre com o fim da palavra; a outra no facto de as breves da 2ª parte não poderem
ser substituídas.
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Tem-se tentado tirar do termo uma etimologia (que elegeion era “dizer ai”). Mas
note-se, contudo, que o verbo lego, de início, significava “colher”. Outra teoria — que se tem
proposto, mas não tem tido aceitação — deriva-a de forma elegen, uma palavra de origem ar-
ménia que significa “tubo” ou “cano”. Trata-se de uma etimologia tentadora, pois designaria
o instrumento musical que acompanharia a elegia. Em resumo: em matéria de etimologia de
elegia, estamos hoje na mesma posição em que se encontrava Horácio, no século I: «Grammatici
certant et adhunc sub iudice his est».
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No mesmo sentido vai uma referência de Diodoro (9. 20. 2) que, ao citar um dístico
de um poema mais longo de Sólon, refere-se a ele como «este elegeion», e que ao conjunto de seis
linhas do fragmento apelida elegeia.
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A flauta e a lira
...................occendent ostium,
impleantur elegeorum meae fores carbonibus.
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Carlos A. Martins de Jesus
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A flauta e a lira
Trímetro iâmbico: x — ∪ — x — ∪ — x — ∪ —
Tetrâmetro trocaico: — ∪ — x — ∪ — x — ∪ — x — ∪ — x
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Por exemplo, canções populares e vários passos dos Poemas Homéricos que fazem
referência a canto, quer a solo, quer em coro — formas preliterárias de poesia não épica: Ilíada
1. 472-474, os Aqueus entoam a Apolo péanes; Ilíada 9. 186, Aquiles canta os feitos gloriosos
acompanhados à lira; Ilíada 18. 493, refere epitalâmios; Ilíada 18. 569-572, são referidos dois tipos
de cantos (um jovem canta acompanhado da cítara e outros cantam e gritam enquanto pisam o
solo a compasso); Ilíada 23, entoa-se um treno em honra de Pátroclo; Ilíada 24, trenos em honra
de Heitor; Odisseia 5. 61-62; canto a acompanhar o trabalho — quando Calipso se encontrava
ao tear.
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Carlos A. Martins de Jesus
a Apolo, mas mais tarde pode ser entoado também a outros deuses; o
ditirambo que, já mencionado em Arquíloco (fr. 120 West), se entoava em
honra de Diónisos9; partenéion, um canto executado por um coro de don-
zelas (parthenos); prosódion, canto que acompanha uma procissão.
Ao lado dos poemas em honra dos deuses, havia as formas con-
sagradas aos homens que, segundo a tradição, teriam sido introduzi-
das por Simónides: o encómio (enkómion), elogio de um cidadão ilustre10;
o epinício que celebra uma vitória desportiva nos grandes Jogos; o treno,
um canto fúnebre; a “canção de mesa” ou skólion. De todas estas formas
líricas, só dos epinícios temos número significativo de composições
completas. Do resto apenas nos chegaram praticamente fragmentos,
mais ou menos extensos. Excepção para alguns escassos exemplares,
que podem ser considerados poemas completos11.
Embora seja característica conhecida, e já subjacente nas notas
anteriores, devemos chamar a atenção para a importância da música
na poesia grega arcaica, em especial na lírica. Todas as formas eram
acompanhadas por instrumentos musicais, como a lira e a flauta, e os
géneros distinguiam-se pelo ritmo. Um passo de Álcman, o fragmento
39 Page, garante que o acompanhamento era feito pelo próprio poeta
que também era músico, compositor e intérprete ao mesmo tempo12.
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Não é fácil seber o que é o ditirambo. Segundo Pickard-Cambridge, tem um
ritmo especial, acompanhamento à flauta e em modo frígio, um vocabulário rebuscado e
um conteúdo narrativo apreciável.
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Há quem sustente que todo o canto em honra dos homens se chama assim e que a
partir dele se desenvolvem os outros.
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É o caso, entre outros, do fr. 1 L-P de Safo, dos frs. 356a e b e 357 Campbell de
Anacreonte.
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Através dos fragmentos conservados sabemos que o péan, o ditirambo e o
partenéion eram acompanhados à flauta. A elegia e o iambo, que estão fora da lírica, eram
também acompanhados à flauta. Autores tardios dizem-nos que o hino era acompanhado
à cítara, o prosódion era acompanhado à flauta e o hiporquema à flauta e à cítara. Quanto
ao epinício era acompanhado quer por instrumentos de sopro quer de corda (lyra, kithara,
fórminx, bárbiton, kitharis). Vide Pfeiffer, History of Classical Scholariship (Oxford, 1968),
pp.282-283.
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