F5 Enfrentamento Da Violencia Contra Crianca Compressed

enfrentamento à
violência sexual contra

crianças e adolescentes
5
VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA CRIANÇAS
E ADOLESCENTES:
O que os
dados
revelam?
Raissa Veloso
NOSSA VOZ . NOSSA FORTA

FO RTA L E Z A.
A.
F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 65 18/11/2019 11:02:42

SUMÁRIO
1. A construção de dados no enfrentamento

à violência sexual contra crianças e adolescentes ........67
2. Políticas públicas acertadas começam
na elaboração debons dados .........................................68
3. O desafio da produção de estatísticas ....................................70
4. O que os dados revelam sobre o cenário da violência
sexual contra crianças e adolescentes no Brasil?..........74
5. A importância do Olhar Regional: O Cenário no Ceará ..........76
Referências .......................................................................................... 79
Perfis da autora e do ilustrador........................................................ 80

de expressão dessa violência têm caracte-
rísticas próprias em cada território e acaba
por ser resultado de uma soma de fatores
sociais e culturais.
A construção
A mesma revista elaborou o índice Out
of the Shadows (traduzido para o português
de dados no
como “Fora das Sombras”), que calcula a
eficiência da resposta dos governos para os
enfrentamento
casos de violência sexual contra crianças e
adolescentes. O Brasil está situado na 13ª
colocação de uma classificação compos-
À VIOLÊNCIA SEXUAL ta por 60 países. Apesar disso, a publicação
CONTRA CRIANÇAS chama atenção para dois quesitos que de-
monstraram falhas em relação ao restante do
E ADOLESCENTES mundo: aqui são deficientes o compromisso
dos governos em investimentos, equipamen-
Nos fascículos anteriores, você pôde enten- tos e capacitação para lidar com o tema e
der como o enfrentamento aos diferentes ainda é baixa a capacidade de coleta e di-
tipos de violência contra crianças e adoles- vulgação de dados relativos ao fenômeno.
centes está inserido na luta pela defesa dos Neste módulo, você compreenderá por
direitos humanos. Além disso, conheceu que a construção de bons dados é funda-
melhor sobre os direitos previstos e sobre mental para a definição e a organização
as violações mais comuns a esse público, das políticas públicas de enfrentamento
como a violência sexual, que é o tema à violência sexual infantojuvenil. A efetiva
deste curso. O fenômeno do abuso viabilidade do Sistema de Garantia dos Di-
e da exploração sexual de crianças e reitos da Criança e do Adolescente depende
jovens ocorre no mundo todo e, se- de investigações bem elaboradas sobre a
gundo alerta da revista britânica The realidade social, sistema este formado pela
Economist, é uma “ameaça universal” integração e articulação entre o Estado e a
que independe da condição econô- sociedade civil com o objetivo de afirmar e
mica do país. Mesmo assim, as formas operacionalizar os direitos desse público.
PUXANDO PROSA
O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente é
constituído por muitos agentes, entre eles conselheiros tutelares, educadores
sociais, profissionais que trabalham em entidades sociais e nos Centros
de Referência da Assistência Social (CRAS), promotores e juízes das Varas
da Infância e Juventude, defensores públicos, conselheiros de direitos da
criança e adolescente, policiais das delegacias especializadas, integrantes
de entidades de defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente,
além de outros. Daí decorre uma das principais dificuldades para sistematizar
todos os dados relativos à violência sexual contra crianças e adolescentes: a
falta de integração entre os registros de diferentes órgãos e agentes.
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 67

en

Políticas públicas vítimas são crianças e adolescentes? Estas
questões surgem porque não é possível de-
acertadas linear um fenômeno social de grande escala
sem que haja uma sistematização de dados.
COMEÇAM NA Segundo as informações organizadas
pelo Fórum Brasileiro de Segurança Públi-
ELABORAÇÃO DE ca e publicadas no Anuário Brasileiro de
Segurança Pública, 3 de cada 4 vítimas de
BONS DADOS estupro no Brasil em 2018 tinham menos
de 19 anos. Se fosse gestora ou gestor pú-
Ao ouvir a frase “O Brasil está vivendo um
blico, você conseguiria definir estratégias
aumento expressivo no número de casos
de enfrentamento a esse problema apenas
de estupro e a grande maioria das vítimas
com essa informação?A quem você dirigi-
é composta por crianças e adolescentes”,
ria as políticas de prevenção e acolhimen-
é possível compreender o que está acon-
to? Como incidiria para prevenir a violên-
tecendo no país. Mas também é pro-
cia sexual? Quem seria responsabilizado
vável que, a partir daí, você se
pelas agressões? Sem saber o perfil das
pergunte: ao que se deve esse
vítimas, o contexto de vida dos envolvidos
aumento? Quais períodos his-
e os ambientes em que acontecem as vio-
tóricos estão sendo consi-
lências, fica difícil saber por onde começar
derados? Como é possível
o desenvolvimento de um plano de ação.
saber que a maioria das
Responder a essas perguntas começa
com a produção de pesquisas. A definição
de estratégias e metas para qualquer campo
de atuação só é possível com conhecimento
sobre o cenário onde se vai atuar. Para a cria-
ção e execução de políticas públicas, não é
diferente. Apesar de a violência sexual ser
considerada um fenômeno mundial, para
traçar métodos de enfrentamento eficien-
tes é necessário quantificar e qualificar o
fenômeno à luz da realidade de cada país,
de cada estado e de cada município por
meio da produção de dadosdados.
68 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste

Segundo Ignácio (2010), as informa- nacional, com ênfase nas proporções esta-
ções estatísticas estão sendo cada vez belecidas a partir dos conceitos de direitos
mais necessárias para que os gestores pú- trazidos pelos documentos internacionais
blicos tomem decisões a partir de dados e na legislação nacional, bem como a capa-
científicos que tentam interpretar o cená- cidade de organizar sistemas articulados
rio econômico e social de um determina- de informações sobre a situação da vio-
do território: “Neste sentido, a estatística lência sexual e as possibilidades e cená-
fornece ferramentas importantes para que rios futuros” (CONANDA, 2013, p. 25).
os governos possam definir melhor suas
metas, avaliar sua performance, identifi-
car seus pontos fortes e fracos e atuar na
melhoria contínua das políticas públicas”
TÁ NA Lei
(IGNÁCIO, 2010, p. 189).
Ainda que não seja uma lei, o
Por isso mesmo, desde a aprovação
Plano Nacional dos Direitos
do primeiro Plano Nacional de Enfrenta-
Humanos de Crianças e de
mento da Violência Sexual contra Crianças
Adolescentes, conhecido como
e Adolescentes, em 2000, já era previsto
Plano Decenal é uma resolução
como eixo estratégico para formulação
aprovada pelo Conanda em 2001
da atuação do poder público a “análise de
que reúne orientações e prevê
situação”, etapa inicial de um processo de
metas e estratégias para a gestão
planejamento cujo objetivo é detalhar a
da política pública. A Diretriz
realidade por meio de diagnósticos, levan-
12 trata sobre a “Produção de
tamento de dados e pesquisas.
conhecimentos sobre a infância
Com o processo de revisão do Plano
e a adolescência, aplicada ao
Nacional em 2013 ficou constatado que
processo de formulação de
a falta de informações relevantes sobre o
políticas públicas” e estabelece
tema poderia gerar uma construção im-
como objetivo estratégico
precisa dos indicadores. Para suprir isso,
“Fomentar pesquisas no campo
o eixo “Estudos e pesquisas” foi inserido
da promoção, proteção e defesa
no texto tendo como referência a Diretriz
dos direitos humanos de crianças
12 do Plano Decenal. O novo eixo prevê a
e adolescentes, com a difusão
realização de “(...) estudos quantitativos e
pública de seus resultados”.
qualitativos da situação de violência sexual
contra crianças e adolescentes no território

quês Jens Qvortrup se deparava com difi-
culdades para obter dados. Ele narra no ar- O SILÊNCIO
tigo “Nove teses sobre a ‘infância como um
fenômeno social’’ as barreiras encontradas
das vítimas
O desafio durante realização do “Projeto Internacio-
nal Infância como Fenômeno Social – Im-
Segundo a mesma pesquisa, 53,4%
dos jovens abusados responderam
da produção plicações para Políticas Sociais Futuras
(Projeto Infância)”, entre 1987 e 1992:
não aceitar a situação e uma parcela
significativa (21,1%) afirmou não ter
DE ESTATÍSTICAS “Nada foi mais frustrante em nosso
projeto do que ter encontrado tão pou-
revelado para ninguém a violência
sofrida, mantendo o circuito de
O percurso para a produção de dados ca informação sobre as crianças onde
silenciamento. Quando decidem
sobre a violência sexual contra crianças procurávamos por ela. Procuramos – em
contar, a mãe aparece como a figura
e adolescentes é complexo e perpassa a vão – em estatísticas comuns, nas infor-
mais procurada pelos adolescentes
dificuldade em abordar um tema consi- mações governamentais, em documentos
(30,4%) e apenas em 9,3% dos casos
derado tabu social. Pesquisas produzidas de pesquisa, etc. por algum material que
a revelação é feita a um profissional.
no início dos anos 2000 no Ceará mos- trouxesse as crianças como unidade de ob-
Isso confirma a hipótese de que,
tram como o silêncio atravessa a vida servação ou que fizesse esforço para anali-
por ser uma violência que ocorre
de famílias marcadas pela violência sar a infância do ponto de vista das crian-
na maioria das vezes dentro dos
sexual. De acordo com relatório lançado ças. Por mais frustrante que tenha sido,
ambientes familiares, onde estão
em 2004 sobre a situação do abuso sexu- surgiram questões interessantes sobre as
estabelecidas relações de afeto,
al de crianças e adolescentes no estado, razões que determinavam essa situação.
referência, poder e dependência,
em 80% dos casos as vítimas sofrem a Duas respostas principais foram obtidas:
muitas vezes o abuso é ocultado.
agressão de pessoas do convívio próxi- uma, sob o título de ‘capitalização da in-
mo, como familiares, vizinhos e amigos. fância’, sugeria que o Estado demandava
Por isso mesmo é difícil que a violação somente dados que eram absolutamente
seja relatada por quem a sofreu. necessários para seu planejamento e es-
A ausência de dados sobre o tema forços de elaboração de políticas. Uma
não é um problema recente nem outra, que não contradizia a primeira, via
restrito à realidade brasileira, e envolve a invisibilidade como uma consequência
múltiplas razões. Estudiosos sobre a das definições arraigadas das crianças
Infância identificam que a falta de aten- como imaturas, não adultas ainda, que, de
ção específica voltada para crianças é qualquer modo, têm que confiar nos pais.
consequência do tardio reconhecimento Então, aparentemente, parece não existir
delas, enquanto sujeitos de direitos. Já necessidade de contar as crianças por elas
na década de 1980, o sociólogo dinamar- mesmas” (QVORTRUP, 2011, p. 208).

Além disso, por se tratar de um fenô-
meno social que resulta de múltiplas
causas e se apresenta por diferentes
faces, a produção de informações
acaba se dando em diferentes ní-
veis de governo e a partir de varia-
das instituições.. Como você pôde
ver anteriormente, o Sistema de Ga-
rantia dos Direitos da Criança e do
Adolescente inclui agentes públicos
e privados que atuam em áreas como
saúde, educação, assistência social, tra-
balho, segurança, planejamento, orça-
mento, relações exteriores, promoção de
igualdade e valorização da diversidade.
Para você ter uma ideia da diversidade
de mecanismos que constroem informa-
ções sobre violência sexual contra crianças
e adolescentes, é possível trabalhar com a
base de dados do Disque 100, canal de de-
núncias relacionadas a violações de direitos
humanos gerenciado pelo Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Huma-
nos (MDH), com os boletins de notificação
produzidos pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) e os relatórios elaborados no âmbi-
to do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), com os comunicados que partem
das escolas e dos educadores, com o ma-
peamento feito pela Polícia Rodoviária Fe-
deral (PRF) sobre os pontos vulneráveis à ex-
ploração sexual de crianças e adolescentes
nas rodovias federais brasileiras, com dados
do Sistema Nacional de Informações de Se-
gurança Pública, entre vários outros.

O problema neste caso não está na quase 400 páginas informações que já
diversidade de atores sociais envolvi- existiam e também dados novos que fo- LINHA DO Tempo
dos nas políticas voltadas para garantia, ram coletados e identificados. Ainda que
proteção, promoção ou reparação dos sejam levantamentos importantes para Investigações importantes foram
direitos das crianças e dos adolescentes. o estado, a falta de atualização dos nú- produzidas no Ceará nos últimos
Justamente pelo caráter multifacetado, meros é uma preocupação manifestada 30 anos sobre a violência sexual
o fenômeno da violência sexual contra o de forma pública pelas organizações da infantojuvenil.
público infantojuvenil exige a organiza- sociedade civil que atuam na área. Ou 1991- O primeiro documento que
ção de respostas multisetoriais voltadas seja, não basta que o conhecimento denunciou a existência de uma
para assegurar o desenvolvimento sexual produzido sobre o tema seja vasto, ele rede de exploração sexual contra
saudável e protegido de todas as formas deve ser atualizado. crianças e adolescentes no Ceará
de violência. Mas a falta de integração Além disso, quando se fala em produzir foi lançado em 1991:era o Relatório
entre esses sistemas e levantamentos investigações sobre um fenômeno social de Ação das Polícias Civil e Militar
produzidos no Brasil impede a avalia- tão complexo, é importante mencionar do Estado, realizado a pedido da
ção mais certeira do fenômeno. que há uma diversidade de questões me- antiga Fundação do Bem-Estar do
Outro problema se refere à falta de todológicas que se impõem durante o de- Menor do Ceará (Febem-CE).
atualização de importantes diagnósticos senvolvimento dessas pesquisas. Para se
1993 - Na sequência, em 1993, a
já realizados. No Ceará, por exemplo, as alcançar um quadro de compreensão mais
capital do estado deu importante
duas pesquisas mais completas sobre o aproximado da realidade social é necessá-
passo ao instaurar uma Comissão
cenário de abuso e exploração sexual de rio considerar uma pluralidade de procedi-
Parlamentar de Inquérito (CPI)
crianças e adolescentes estão prestes a mentos metodológicos. Afinal, o objetivo
sobre a “Prostituição Infantil” na
atingir a maioridade. Elas foram produ- é visibilizar situações que normalmente
Câmara Municipal de Fortaleza.
zidas por consequência da aprovação são “empurradas para debaixo do tape-
do Plano Estadual de Enfrentamento à te”, como afirmou Patrício Fuentes, então 2001 - A Câmara Municipal de
Violência Sexual contra Crianças e Ado- coordenador do Escritório do Unicef para Fortaleza abordou a temática da
lescentes em 2002, fazendo do Ceará o o Ceará e Rio Grande do Norte quando do violência sexual contra crianças e
primeiro estado brasileiro a adotar este lançamento da pesquisa sobre exploração adolescentes na CPI de 2001,que
instrumento. Lançadas em 2003 e 2004, sexual comercial de crianças e adolescen- investigou a “Prática de Turismo
as duas pesquisas sistematizaram em tes no estado do Ceará, em 2003. Sexual em Fortaleza”.
2002 - A PESTRAF - Pesquisa sobre
Tráfico de Mulheres, Crianças
e Adolescentes para fins de
Exploração Sexual Comercial, com a
coordenação nacional do Centro de
Referência, Estudos e Ações Sobre
Crianças e Adolescentes CECRIA
e ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL
GOVERNAMENTAL Ministério da
Justiça / Secretaria de Estado dos
Direitos Humanos / Departamento

BOAS Práticas
da Criança e do Adolescente A pesquisa sobre abuso sexual de • Análise de conteúdo e
COORDENAÇÕES REGIONAIS crianças e adolescentes lançada em definição das categorias
Nordeste: Fórum Estadual de 2004 utiliza diversos procedimentos dos depoimentos: procurou
Enfrentamento da Violência Sexual metodológicos para tentar traçar o apreender os sistemas de
contra Crianças e Adolescentes (CE). cenário de violência sexual no Ceará. sentidos interiorizados no
2005 - ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Segundo o estudo, a utilização de íntimo dos entrevistados,
DO CEARÁ- uma CPI foi criada em variados métodos de investigação preexistentes nos seus
2005 para se aprofundar sobre visa consolidar um quadro comportamentos e que
o mesmo fenômeno, a CPI da compreensivo sobre o fenômeno de neles operam, expressos
EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS forma criteriosa e cuidadosa. Entre nas entrevistas, de forma
E ADOLESCENTES os procedimentos utilizados estão: consciente ou não.
• Pesquisa documental: feita • Reunião com grupos
2007 - Outra importante pesquisa foi
a partir do conhecimento de focais: envolvendo
produzida em 2007 sobre a realidade
pesquisas e estudos realiza- Gestores e Especialistas
da exploração sexual de crianças
dos e cobertura jornalística, na área da Violência
e jovens na cidade de Fortaleza. A
utilizando fontes escritas e Sexual para contribuir na
partir do Programa Ações Integradas
indicadores quantitativos. definição de critérios de
e Referenciais de Enfrentamento
análise dos resultados
à Violência Sexual Infanto-Juvenil • Pesquisa direta: que se
preliminares encontrados
no Território Brasileiro (PAIR), a utilizou basicamente de
na pesquisa quantitativa
pesquisa foi realizada pela Fundação entrevista, associada à
e qualitativa realizada e
da Criança da Cidade e o Programa utilização de outras técnicas,
no desenvolvimento de
Nacional de Enfrentamento da tais como observação direta,
hipóteses para estudos
Violência Sexual contra Crianças grupos focais, técnica de
adicionais.
e Adolescentes da Presidência desenho e história de vida.
da República. Intitulada “Os sete
sentimentos capitais”, detalha
quantitativa e qualitativamente a
dinâmica espacial de cada ponto de
incidência da exploração sexual e
as peculiaridades dos atores sociais
que “vivem” e “trabalham” nesses
espaços em Fortaleza.
2012 - CPI de 2012 sobre a
exploração sexual contra crianças e
adolescentes, realizada na Câmara
Municipal de Fortaleza.

O que os
dados revelam
SOBRE O CENÁRIO
DA VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA CRIANÇAS
E ADOLESCENTES
NO BRASIL?
Agora que você já sabe o quanto é
importante a construção de informa-
ções para o enfrentamento da violên-
cia sexual contra crianças e adoles-
centes e as dificuldades envolvidas
no processo de produção, vai poder
conhecer o que as principais pesquisas
tem indicado sobre a realidade brasileira
e, em seguida, sobre o cenário cearense.
De acordo com o Balanço Geral do
Disque 100, entre 2011 e 2018 foram
191.679 mil queixas de violência sexual
contra crianças e adolescentes. O Disque
100 é um serviço telefônico de recebimen-
to, encaminhamento e monitoramento de
denúncias de violação de direitos huma-
nos que também atua em relação à violên-
cia sexual a crianças e adolescentes. Ape-
nas no ano de 2018, foram contabilizados
cerca de 17 mil registros deste tipo. Por es-
ses dados, as vítimas mais frequentes das

diferentes expressões de abuso e explo- Em 2018, 33% das vítimas de violência se-
ração sexual são jovens do sexo feminino xual atendidas em serviços de saúde eram
com idade entre 10 e 13 anos: em média meninas entre 12 a 17 anos, e 4 em cada 10
42 meninas foram vítimas de violência já tinham sofrido agressão deste tipo antes.
sexual por dia em 2018. Ao contrário de um imaginário coletivo
Se você acha que esse índice é alto, a or- que insiste na imagem de um desconheci-
ganização não governamental Childhood, do como o potencial agressor, os registros
que trabalha em defesa dos direitos de do Sinan mostram que na maior parte dos
crianças e adolescentes com foco na pre- casos de violência sexual contra crianças
venção e no enfrentamento da violência o responsável é um homem (81,6%) com
sexual, estima que as notificações oficiais vínculo familiar com a vítima (37%) e que
só correspondam a 10% dos casos ocorri- a agressão ocorreu em casa (69,2%). Em
dos. Ou seja, além de não contar com um relação à violência sexual contra adoles-
sistema integrado de informações que pos- centes os números são semelhantes: em
sa garantir o fluxo das denúncias, a não 92,4% das notificações o agressor era do
formalização da ocorrência (problema sexo masculino e em 38,4% tinham víncu-
chamado de subnotificação) dificulta a lo intrafamiliar (familiares e parceiros ínti-
análise do real cenário sobre a violência mos). A maior parte desses casos de vio-
sexual infanto-juvenil no Brasil. lência sexual estão relacionados às formas
O abuso e a exploração sexual de de estupro (62%) e assédio (24,9%)
crianças e adolescentes são considerados
também pela perspectiva da saúde e es-
tão na rota de atuação das políticas do
Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o
Perfil das vítimas de violência sexual
Boletim Epidemiológico da Secretaria de atendidas por serviços de saúde
Vigilância em Saúde, vinculada ao Minis- pública no Brasil entre 2011 e 2017
tério da Saúde, no período de 2011 a 2017
foram notificados 184.524 casos de violên- 74,2% era do sexo feminino;
cia sexual, sendo 58.037 (31,5%) contra 51,2% estavam entre 1 e 5 anos de idade;
crianças e 83.068 (45%) contra adolescen- 45,5% eram negras;
tes, o que representa 76,5% do total. 3,3% possuíam alguma deficiência ou transtorno.
As notificações do Sistema de Infor- (Fonte: Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde/MS – junho/2018)
mação de Agravos de Notificação (Sinan)
indicam que a violência sexual é a segun-
da agressão mais frequente ao público
infantojuvenil e corresponde a 20% do
total de atendimentos, com concentração
de vítimas na faixa de 5 a 14 anos de idade.

Pelo Mapear, o Ceará foi a unidade O relatório final da pesquisa publicada
da federação que mais cresceu em nú- em 2003, produzido a partir dos resultados
meros de pontos críticos de exploração de 18 municípios cearenses, revelou que a
sexual infantojuvenil entre 2013 e 2018. exploração sexual de crianças e adoles-
Se no levantamento anterior não consta- centes tem um recorte de desigualdade de
A importância va entre os 10 primeiros estados, no últi-

mo estudo referente aos anos de 2017 e
gênero, já que 90% das vítimas entrevis-
tadas eram meninas e 90% dos clientes
do Olhar 2018 o território cearense passou a figurar

como o primeiro do país em número ab-
eram homens. A partir da realização de
151 entrevistas foi possível delinear o per-
Regional: soluto de pontos vulneráveis, com mais de

80 identificados. De acordo com a Supe-
fil das vítimas de exploração sexual e per-
ceber que 61,6% das crianças e dos jovens
O CENÁRIO NO CEARÁ rintendência PRF no Ceará, entretanto, o
aumento se deu pelo maior engajamento
explorados sexualmente eram pardos e
78,5% tinham entre 15 e 18 anos. Isso não
O Balanço Geral do Disque 100 mostrou dos policiais no levantamento e não pelo significa que seja pequena a proporção de
que entre 2011 e 2018 foram registradas aumento da vulnerabilidade no estado. menores de 14 anos, mas sim que o dado
8.153 denúncias de violência sexual con- As informações mais aprofundadas so- esconde o problema de notificação da ex-
tra crianças e adolescentes no Ceará. Só bre o cenário cearense de violência sexu- ploração de crianças, que tem menor au-
em 2018 foram feitas 616 notificações, al infantojuvenil podem ser encontradas tonomia para falar diante do pesquisador.
o que colocou o estado na 8ª posição do nas duas pesquisas elaboradas a partir Além disso, foi possível comprovar que
ranking entre as unidades federativas do Plano Estadual de Enfrentamento à os jovens vítimas de exploração sexual es-
brasileiras e na 2ª do Nordeste, atrás Violência Sexual contra Crianças e Ado- tão inseridos em um contexto de vulnerabi-
apenas da Bahia. Ao relacionar os dados lescentes. A primeira delas foi lançada lidade social, já que 56,5%
de denúncias do Disque 100 com os resul- em 2003 e apresentou dados sobre a ex- afirmaram estar na-
tados do Mapeamento dos Pontos Vulne- ploração sexual comercial de crianças e
ráveis à Exploração Sexual de Crianças e adolescentes. A segunda, lançada no ano
Adolescentes nas Rodovias Federais Bra- seguinte, focou no cenário sobre abuso
sileiras (Projeto Mapear), produzido pela sexual contra o mesmo público. As duas
Polícia Rodoviária Federal, o Ceará é um análises foram elaboradas pelo Institu-
dos 9 estados com maiores índices em to de Estudos, Pesquisas e Projetos da
ambos os levantamentos. Universidade Estadual do Ceará (Iepro/
Uece), através do Laboratório de Direitos
Humanos, Cidadania e Ética (Labvida),
com apoio do Fundo das Nações Unidas
para a Infância (Unicef) e suporte técnico
da Pommar/Usaid – Partners.

quela condição de violência por necessida- o recorte de gênero nos resultados: entre
de ou pressão familiar, a maioria não tinha as crianças, 82,8% das vítimas eram mu-
renda própria (57,6%) e a renda familiar lheres e 100% dos abusadores eram do
era de até um salário mínimo (50,3%), bem sexo masculino, o que, de acordo com as
como a maioria havia tido acesso mas não organizadoras do estudo, demonstra que
permaneceu na escola (77,3% não haviam a violência sexual é fruto do machismo
concluído o Ensino Fundamental). Chama — traço cultural ainda predominante na
atenção, entretanto, o fato de que grande sociedade brasileira que coloca o homem
parte dos entrevistados não se sentia ex- em posição de poder diante da mulher.
plorada (68,8%) por compreender que essa A maioria das vítimas morava com os
situação já fazia parte da sua vida. pais (79,6%), inclusive em diferentes arran-
Já a pesquisa sobre abuso sexual reu- jos familiares, e 80% dos agressores eram
niu dados de 22 cidades do estado do Ce- pessoas próximas a elas, como familiares,
ará e realizou entrevista com 161 crianças vizinhos e amigos. Isso confirma a existên-
e adolescentes. Mais uma vez, destaca-se cia de expressiva violência intrafamiliar e
por consequência o pacto de silêncio em
relação aos abusos. O índice de identifica-
ção do agressor pode ter sido ainda maior
em relação às pessoas presentes no
convívio da criança, já que parte dos
entrevistados deve ter se negado a
admitir o autor do abuso e o apon-
tou como desconhecido (20,5%).

Em relação à educação, as vítimas
apresentaram em geral baixa escolaridade #FICAADICA Perfil dos
e 28% não estavam frequentando a esco-
la, o que é justificado por parte delas pela Cadê Paraná é uma plataforma
adolescentes
falta de interesse ou existência de filho ou virtual que permite visualizar, abusados:
gravidez. Nesse sentido, é importante que medir e analisar dados oficiais
o poder público fique atento à necessida- sobre crianças e adolescentes Entre os jovens abusados, 93,8%
de de incluir no âmbito das políticas de dos 399 municípios do estado. O pertencem ao sexo feminino, 52,8%
educação as crianças e os adolescentes portal foi desenvolvido pelo Centro tinham idades entre 12 e 14 anos e
que passaram por experiências traumáti- Marista de Defesa da Infância 46,6% estavam entre 15 a 18 anos
cas de abuso sexual. a partir do reconhecimento da durante a realização da pesquisa. Se
O cenário da violência sexual contra importância do uso de dados para você somar crianças e adolescentes
crianças e adolescentes não pode ser mapear os principais problemas que sofreram abuso com menos de 12
analisado a partir de conclusões sim- relacionados a esse público, bem anos, o resultado se mostra alarmante:
ples, e a cada novo dado acrescentado é como para avaliar a resposta dos 70% das vítimas tinham idade inferior
possível encontrar novas interpretações. governos e o engajamento da a 14 anos.. Assim como no restante
Por exemplo, de forma contraditória aos sociedade. É possível ter acesso a do país, a maioria dos abusos sexuais
resultados alcançados em relação às si- informações distribuídas em oito a adolescentes ocorreu no ambiente
tuações de violência intrafamiliar, 70,2% dimensões: cidadania, demografia, familiar (42,9%) ou de vizinhos (15%).
dos entrevistados afirmaram ter de boa a economia, educação, habitação,
excelente convivência com os familiares. justiça, legislação e saúde. Os
Já sobre maus-tratos vividos no universo indicadores relativos ao fenômeno
familiar, 52,2% dizem não sofrer. Dos 46%
que admitem, a maioria dos maus-tra-
da violência sexual contra
crianças e adolescentes podem
Perfil das crianças
tos é caracterizada como físicos (86,5%) ser encontrados na dimensão abusadas:
e apenas uma minoria explicitada como “justiça”, onde é possível conhecer
abuso sexual (2,7%). a realidade dos municípios O número de crianças menores de
Pelo volume de informações e pela paranaenses em relação aos casos 8 anos precocemente abusadas
complexidade do fenômeno, você pode notificados de violência sexual é expressivo: 32,3% do total
perceber que a produção de dados para através de categorias como cor, entrevistado está situado na
orientação das políticas públicas de en- raça, sexo e faixa etária das vítimas, faixa etária compreendida até
frentamento à violência sexual contra além da especificação do tipo de 12 anos.. Pela pesquisa é possível
crianças e adolescentes demanda inves- violência. notar que elas são marcadas pelo
timento e conhecimento. A construção silêncio (somente 4,4% se referem
de planos e políticas de enfrentamento ao explicitamente às situações sofridas),
abuso e à exploração sexual só é possível a pela melancolia (51,5% afirmam
partir da compreensão global sobre as ca- se sentir tristes, sozinhas ou ruins)
racterísticas que conformam a realidade e pelo constrangimento (15% têm
social em que estão inseridos as crianças e vergonha de ficar despidas e 2,7% se
os jovens vítimas de violência sexual. envergonham de partes do corpo).

Referências
Anuário Brasileiro de Segurança
Pública (2019).
Boletim Epidemiológico da Secretaria
de Vigilância em Saúde
/ Ministério da Saúde, jun. 2018.
IGNÁCIO, Sérgio Aparecido.
Importância da Estatística para
o processo de conhecimento
e tomada de decisão. Revista
Paranaense
Desenvolvimento 2010.
de Desenvolvimento.
Curitiba, n. 118, pp. 175-192.
Mapa da Violência (2012).
Pesquisa sobre abuso sexual
de crianças e adolescentes no
estado do Ceará (2004).
Pesquisa sobre exploração
sexual comercial de crianças
e adolescentes no estado do
Ceará (2003).
Plano Nacional de
Enfrentamento da Violência
Sexual contra Crianças e
Adolescentes (2013).
Mapeamento dos Pontos Vulneráveis à
Exploração Sexual de Crianças e Adoles-
centes nas Rodovias Federais Brasileiras –
Polícia Rodoviária Federal (2017/2018).
QVORTRUP, Jens. Nove teses sobre a
“infância como um fenômeno social”.
social”
Pro-Posições [online]. 2011,
vol.22, n.1, pp.199-211

Raíssa Benevides Veloso (autora)
Jornalista formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre em
Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Tem experiência com assessoria parlamentar na Câmara Municipal de Fortaleza e
na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e com produção de conteúdo sobre o
Sistema Único de Saúde para organizações como o Conselho Nacional das Secretarias
Municipais de Saúde (Conasems). Como assessora de comunicação, atua em projetos
relacionados às áreas de direitos humanos, cultura e meio ambiente.
RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador)

É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista.
Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia
do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e
em editoras paulistas.
Este fascículo é parte integrante do Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação
Demócrito Rocha e a Câmara Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2019.
Todos os direitos desta edição reservados à: EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo
Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Emanuela Fernandes e
Fundação Demócrito Rocha Aurelino Freitas Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Instrucional CURSO
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Valéria Xavier Concepção e
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 Coordenadora Geral Leila Paiva Coordenadora de Conteúdo Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto
fdr.org.br Gráfico Miqueias Mesquita Designer/Diagramador Rafael Limaverde Ilustrador Mayara Magalhães Revisora
fundacao@fdr.org.br ISBN: 978-85-7529-936-4 (Coleção)
ISBN: 978-85-7529-941-8 (Fascículo 5)
Apoio Realização
NOSSA VOZ . NOSSA FO RTA L E Z A.

F5 Enfrentamento Da Violencia Contra Crianca Compressed

Enviado por

Dados do documento

Título original

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

F5 Enfrentamento Da Violencia Contra Crianca Compressed

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

enfrentamento à

violência sexual contra

NOSSA VOZ . NOSSA FORTA

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 65 18/11/2019 11:02:42

1. A construção de dados no enfrentamento

Perﬁs da autora e do ilustrador........................................................ 80

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 66 18/11/2019 11:02:44

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 67

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 67 18/11/2019 11:02:46

68 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 68 18/11/2019 11:02:48

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 69

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 69 18/11/2019 11:02:48

70 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 70 18/11/2019 11:02:49

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 71

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 71 18/11/2019 11:02:50

72 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 72 18/11/2019 11:02:51

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 73

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 73 18/11/2019 11:02:52

74 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 74 18/11/2019 11:02:53

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 75

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 75 18/11/2019 11:02:53

A importância va entre os 10 primeiros estados, no últi-

do Olhar 2018 o território cearense passou a figurar

Regional: soluto de pontos vulneráveis, com mais de

76 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 76 18/11/2019 11:02:54

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 77

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 77 18/11/2019 11:02:56

78 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 78 18/11/2019 11:02:57

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 79

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 79 18/11/2019 11:02:58

RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador)

NOSSA VOZ . NOSSA FO RTA L E Z A.

F5-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca.indd 80 18/11/2019 11:03:03

Você também pode gostar