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“Lean Thinking: Conceitos e Aplicações”

Lean Institute Brasil – Maio/02

 A adoção de um modelo de negócios em busca de competitividade é um dos


maiores desafios para as empresas. Falamos da competitividade real causada
pela eficácia das operações empresariais e não de meras e artificiais flutuações
de taxas de câmbio ou ainda de vantagens passageiras.

Uma das filosofias de negócios mais poderosas é o enfoque do "Lean Thinking",


ou "Mentalidade Enxuta", baseada no Sistema Toyota de Produção que olha para
as atividades básicas envolvidas no negócio e identifica o que é o desperdício e o
que é o valor a partir da ótica dos clientes e usuários.

Os princípios envolvem a criação de fluxos contínuos e sistemas puxados


baseados na demanda real dos clientes, a análise e melhoria do fluxo de valor das
plantas e da cadeia completa, desde as matérias primas até os produtos
acabados, e o desenvolvimento de produtos que efetivamente sejam soluções do
ponto de vista do cliente.

Por mais simples que isso possa parecer, a adoção dessa filosofia tem trazido
resultados extraordinários para as empresas que a praticam.

Mas prepare-se para as dificuldades na implantação. Poucas empresas


conseguem replicar totalmente o sucesso da Toyota.

Originalmente concebida por Taiichi Ohno e colaboradores essencialmente como


práticas de manufatura, tem sido gradualmente disseminadas em todas as áreas
da empresa e também para empresas dos mais diferentes tipos e setores,
tornando-se efetivamente uma filosofia e uma cultura empresarial.

Os resultados obtidos geralmente implicam em um aumento da capacidade de


oferecer os produtos que os clientes querem, na hora que eles querem, nos
preços que eles estão dispostos a pagar, com custos menores, qualidade superior,
"lead times" curtos, garantindo assim maior rentabilidade ao negócio.

Os 5 princípios do Lean Thinking

Tendo como objetivo a eliminação do desperdício, a Mentalidade Enxuta é uma


forma de especificar valor, alinhar na melhor seqüência as ações que criam valor,
realizá-las sem interrupção sempre que solicitadas e de forma cada vez mais
eficaz. É Enxuto pois consiste em se fazer cada vez mais com cada vez menos
(tempo, espaço e recursos) e ao mesmo tempo aproximar-se daquilo que os
clientes desejam, do que seja valor para eles.
O ponto de partida para a Mentalidade Enxuta consiste em definir o que é Valor.
Diferente do que muitos pensam, não é a empresa e sim o cliente que define o
que é valor. Para ele, a necessidade gera o valor e cabe às empresas
determinarem qual é essa necessidade, procurar satisfazê-la e cobrar por isso um
preço específico para manter a empresa no negócio e aumentar o lucro via
melhoria contínua dos processos, reduzindo o custo e aumentando a qualidade.

O próximo passo consiste em identificar a Cadeia de Valor. Significa dissecar a


cadeia produtiva e separar os processos em três tipos: aqueles que efetivamente
geram valor, aqueles que não geram valor mas são importantes para a
manutenção da qualidade e, por fim, aqueles que não agregam valor devendo ser
evitados imediatamente. Apesar de continuamente olharem para sua cadeia
produtiva, as empresas continuam a ter a geração de custos não acompanhadas
pela geração de valor pois olham para si própria, ignorando os processos de
fornecedores e revendedores. As empresas devem olhar para todo o processo
desde a criação do produto até a venda final (e por vezes o pós venda).

A seguir, deve-se dar "fluidez" para os processos que restaram. Isso exige uma
mudança na mentalidade das pessoas. Elas têm de deixar de lado a idéia que têm
de produção por departamentos como a melhor alternativa. Constituir esse Fluxo
de Valor com as etapas restantes é uma etapa difícil do processo. É também a
mais estimulante.

O efeito da criação de um Fluxo de Valor pode ser sentido na redução dos tempos
de concepção de produtos, de processamento de pedidos e em estoques. Ter a
capacidade de desenvolver, produzir e distribuir rapidamente dá ao produto uma
"atualidade": a empresa pode atender a necessidade dos clientes quase que
instantaneamente. Isso permite inverter o fluxo produtivo: as empresas não mais
empurram os produtos para o consumidor (desovar estoques) através de
descontos, promoções e "leve dois pague um". O consumidor passa a "puxar" a
produção, eliminando estoques e dando valor ao produto; é a Produção Puxada.

Outra conseqüência do Fluxo de Valor, aliada à Produção Puxada, é redução de


custos, esforços, tempos e espaços.

A Perfeição, quinto e último passo da Mentalidade Enxuta, não parece mais um


sonho: ela é realidade. Não é difícil em um processo transparente, onde todos os
membros da cadeia (montadores, fabricantes de diversos níveis, distribuidores e
revendedores) tenham conhecimento do processo como um todo, podendo
dialogar e buscar continuamente melhores formas de criar Valor.
Por que Lean no Brasil?
 

Veja como o encadeamento de alguns fatores indica que o Lean Thinking pode ser
fundamental para a competitividade das empresas brasileiras em uma economia
globalizada:

• Economia aberta é fundamental para o processo de desenvolvimento econômico


por permitir a livre concorrência (forçando aumentos de produtividade);

• O processo de integração comercial entre os países deve ser enxergado como


importante fonte de oportunidades por parte das economias nacionais;

• Mesmo após a desvalorização do Real, o Brasil não conseguiu impulsionar suas


exportações de forma significativa. Superávits comerciais já são realidade, mas
ainda se mostram insuficientes para dar "fôlego" ao Balanço de Transações
Correntes. As importações ainda crescem vertiginosamente diante de espasmos
de crescimento, como verificado durante o ano de 2000;

• Produtos brasileiros, principalmente industrializados, ainda não são competitivos


globalmente;

• A maioria dos produtos exportados ainda são provenientes da agricultura ou do


extrativismo mineral, o minério de ferro e o alumínio;

• As indústrias aeronáutica e automobilística também exportam significativamente,


porém importam ainda grande parte dos componentes de que se utilizam; a
primeira ainda mais do que a segunda;

• Grande parte dessa falta de competitividade deve - se à baixa produtividade da


maioria das empresas brasileiras;

• É possível ser competitivo no Brasil, apesar de certas lacunas infra - estruturais;

• O primeiro passo para aumentar a produtividade é reconhecer a necessidade de


fazê-lo;

• A melhoria de produtividade em um setor ou empresa decorre de processos mais


eficientes e de inovações de produtos e serviços;

• Empresas mais produtivas podem reduzir custos e conseqüentemente preços;

• Preços mais baixos traduzem-se em maior consumo e geração de maior riqueza


para a sociedade;
• Aumentar a produtividade é um dos elementos mais importantes para a
eliminação da pobreza no país.

 4) Onde aplicar?


     

Desenvolvido originalmente no ambiente de produção da indústria de manufatura,


o lean thinking vem sendo aplicado, com grandes resultados em eliminação de
desperdícios, nos mais diferentes ambientes das organizações, dentro do conceito
de "Lean Enterprise" (administração, desenvolvimento de produto e produção),
bem como em empresas de diversos setores, tais como: automobilístico e seus
fornecedores, aeronáutico, eletrônico, serviços, construção, mineração, saúde,
produção sob encomenda, etc.

O três principais fluxos, presentes em praticamente todas as organizações, aos


quais os princípios Lean se aplicam, são:

• do pedido ao recebimento;

• da concepção ao lançamento do produto;

• da matéria prima ao consumidor.

Um dos objetivos do Lean Institute Brasil é o de apoiar empresas em implantações


piloto e promover a troca de experiências, particularmente em setores onde o
conceito de Lean Thinking e suas ferramentas encontram-se ainda em início de
disseminação.

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