Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Automotive
E DITA DESTINO NO SETOR AUTOMOTIVO GANHAM MERCADO
AGOSTO DE 2018
ANO 10 • NÚMERO 52
O IMPACTO DA NOVA
POLÍTICA INDUSTRIAL
PROGRAMA PARA A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA, ROTA 2030 COMEÇA A TOMAR
FORMA APÓS MAIS DE UM ANO DE DISCUSSÕES E DESENTENDIMENTOS
www.automotivebusiness.com.br
Editor Responsável
O AVANÇO DO ROTA 2030
Paulo Ricardo Braga
(Jornalista, MTPS 8858)
Editora-Assistente
D epois de mais de um ano de negociações entre todos os interessados em
construir um programa de política industrial para o setor automotivo, foi
enfim assinada a Medida Provisória 843, que dá forma inicial ao Rota 2030.
Giovanna Riato
Houve dezenas e dezenas de reuniões em Brasília para se chegar a um acordo
Redação sobre os requisitos mínimos de eficiência energética dos veículos, definição do
Mário Curcio, Pedro Kutney e Sueli Reis
regime ex-tarifário para autopeças e das bases para criação de metas e incentivos
Colaborador desta edição à pesquisa e desenvolvimento para empresas do setor. No que diz respeito aos
Edileuza Soares, Sergio Quintanilha e Wilson incentivos, houve forte reação do Ministério da Fazenda e o governo deu menos
Toume
do que os fabricantes queriam. A MP 843, que deve ser seguida por um decreto
Editor de Notícias do Portal que a regulamente, precisa ser votada pelo Congresso Nacional até novembro
Pedro Kutney
para não perder a validade. A matéria de capa sobre o Rota 2030, assinada pelo
Design gráfico jornalista Pedro Kutney, esmiúça o que já se sabe do programa e traz a opinião
RS Oficina de Arte
Ricardo Alves de Souza de presidentes de entidades relacionadas ao setor automotivo e das chamadas
Josy Angélica marcas premium, que produzem baixos volumes de veículos.
Fotografia Esta edição reflete a comemoração de marcos importantes no setor de
Estúdio Luis Prado autopeças. A Schaeffler celebra seis décadas de atuação no Brasil, de olho na
Publicidade mobilidade do futuro. A Iochpe Maxion completa o centenário no País, com uma
Carina Costa, Greice Ribeiro, Monalisa Naves história rica em ousadia que levou a empresa a fabricar 60 milhões de rodas
Atendimento ao leitor por ano e estender sua atuação para diversos países. Para contar a história e
Patrícia Pedroso os planos da ZF, ao completar 60 anos de Brasil, Automotive Business foi a
WebTV Sorocaba (SP) entrevistar o CEO Wilson Bricio, que pretende ter aqui a melhor
Marcos Ambroselli operação da companhia no mundo.
Comunicação e eventos Entre as montadoras, destaque para a Toyota. A fábrica de Indaiatuba (SP) chega
Carolina Piovacari aos 20 anos no auge, operando acima da capacidade e se preparando para
Impressão produzir a nova geração do Corolla. Tomamos o pulso também dos segmentos de
Margraf caminhões, que voltam a subir a ladeira, e motocicletas, que ainda derrapam para
Distribuição crescer, com alto grau de ociosidade nas fábricas.
Correios Em colaboração especial para nossa revista, a jornalista Edileuza Soares,
especializada em tecnologia da informação, ouviu consultores e empresas
do setor para mostrar como a inteligência artificial tem avançado na
Administração, redação e publicidade
Av. Iraí, 393, conjs. 51 a 53, Moema, indústria brasileira, usando robôs inteligentes para automatizar processos e
04082-001, São Paulo, SP, se conectar com clientes.
tel. 11 5095-8888
redacao@automotivebusiness.com.br Completamos esta edição com a cobertura do Workshop Planejamento
Automotivo, que trouxe insights para os profissionais que preparam o budget
Filiada ao de 2019 e costuram o plano estratégico de suas companhias. O encontro
reuniu cinco centenas de participantes no Hotel Sheraton WTC, em São Paulo.
Boa leitura e até a próxima edição.
AutomotiveBUSINESS • 3
16 CAPA | LEGISLAÇÃO
ROTA 2030
COMEÇA A
TOMAR FORMA
APÓS MAIS DE UM ANO DE
DEBATES ENTRE GOVERNO E
REPRESENTANTES DA INDÚSTRIA
AUTOMOBILÍSTICA, O PROGRAMA
DE POLÍTICA INDUSTRIAL AVANÇA
LUIS PRADO
11 C
ARREIRA 14 N
EGÓCIOS
MULHERES SOBEM AO TOPO GKN PREMIA MELHORES FORNECEDORES
Executivas são destaque em comunicação Seis empresas foram reconhecidas
4 • AutomotiveBUSINESS
28 WORKSHOP 48 D
UAS RODAS
PLANEJAMENTO 2019 EM PAUTA MOTOCICLETAS VOLTAM A CRESCER
As dicas dos especialistas Capacidade ociosa ainda é grande
34 T ECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
INOVAÇÃO AVANÇA NA INDÚSTRIA
A hora da inteligência
38 S
ISTEMISTA
OS PLANOS DA ZF NO BRASIL
A tecnologia em primeiro plano
50 A
UTOPEÇAS
OS 60 ANOS DA SCHAEFFLER NO BRASIL
Portfólio reúne Ina, Fag e Luk
44 C
AMINHÕES
A RECUPERAÇÃO DA QUEDA
Alta no setor projetada em 30%
52 M
ONTADORA
TOYOTA INDAIATUBA NO AUGE
AOS 20 ANOS
Unidade prepara o novo Corolla
54 CENTENÁRIO
A OUSADIA DA IOCHPE-MAXION
Empresa dita o próprio destino
AutomotiveBUSINESS • 5
H
á um movimento global em agosto, feito pela entidade
intenso de aproximação que representa as fabricantes de
entre as gigantes autopeças. A iniciativa pretende
corporações automotivas e as acelerar a evolução da cadeia
startups. Exemplo disso é a automotiva. Para isso, vai atuar
Toyota, que recentemente comprou em diversas frentes, incluindo o
participação na Grab, empresa incentivo à inovação aberta, em
asiática de transporte individual, parceria com startups. “Queremos
PARCERIA ENTRE e agora acaba de anunciar aporte criar um ecossistema para a
de US$ 500 milhões na Uber. O indústria, apoiando empresas
GIGANTES DA objetivo das parcerias é testar tradicionais para que elas se
modelos de negócios de serviços aproximem das megatendências
INDÚSTRIA de mobilidade e desenvolver novas globais”, esclarece Dan Ioschpe,
tecnologias, como a condução presidente do Sindipeças.
E JOVENS autônoma, aproveitando a agilidade
NEGÓCIOS dos empreendimentos mais jovens, GANHAR VELOCIDADE
que nascem justamente focados COM NOVOS PARCEIROS
GANHA FORÇA em criar oportunidades diferentes Antonio Azevedo, CEO da LOGIGO
no mercado. Automotive, aponta que, para as
NO BRASIL Levantamento feito pela Revista montadoras, a maior vantagem
Forbes indica que 10 a 20 startups de trabalhar com startups é a
do setor automotivo surgem capacidade de executar projetos
semanalmente em algum lugar do mais rápido e com custo menor.
mundo com soluções de inteligência “Trabalhamos em colaboração
artificial, sensores, conectividade, direta com o cliente. Já chegamos
novos serviços de mobilidade, a validar os nossos produtos
direção autônoma, entre outros. com o fornecedor internacional
É um potencial e tanto de gerar de uma empresa para que eles
negócios com a indústria. O Brasil não precisassem fazer isso
faz parte deste panorama e a internamente de forma mais
indústria automotiva local começa a demorada”, conta. Fundada em
enxergar o valor deste movimento. 2009, a startup oferece recursos
Um indício disso é o lançamento de conectividade e de geração
do programa Inova Sindipeças, de receitas recorrentes para
6 • AutomotiveBUSINESS
Conteúdo apresentado
por LOGIGO Automotive e
produzido pelo
Media Lab Automotive Business
AutomotiveBUSINESS • 7
CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA
AUTOMOBILÍSTICA REVELA
OPORTUNIDADES FISCAIS E TRIBUTÁRIAS
D
e acordo com os dados mercado interno durante o ápice
divulgados pela Associação a crise econômica. Esse conjunto
Nacional dos Fabricantes de de acontecimentos sugere um
Veículos Automotores - ANFAVEA novo olhar para o formato tributário
- as perspectivas para o setor na matriz de compra e vendas
apontam um crescimento de 11,7% das empresas ligadas à indústria
nas vendas de auto veículos em automobilística.
relação ao ano passado, devendo Compra de peças, componentes,
chegar a 2,50 milhões de unidades tecnologias, serviços, exportações,
comercializadas até o final de 2018. importações, todo esse movimento
A produção deverá crescer requer uma estratégia para o melhor
Jersony Souza, 11,9%, no período, chegando a 3,02 aproveitamento dos benefícios fiscais.
vice-presidente milhões de unidades fabricadas. De Assim será possível reduzir a carga
da Becomex, janeiro a julho deste ano, a indústria tributária que recai sobre o setor
é o autor do texto automobilística já aumentou as e impacta diretamente nos custos e
vendas em 14,9% em relação ao na competitividade das empresas.
mesmo período do ano anterior. Mais importante que apenas
Esse setor que começa a buscar preços competitivos dos
apresentar reação pós-crise seus insumos, o desafio dessa
econômica, já anuncia também indústria está em encontrar o
investimentos que podem superar cenário mais favorável para as
os R$ 40 bilhões nos próximos comprar e vender seus produtos.
anos, em novos produtos e A palavra de ordem é otimizar
modernização de suas fábricas. a “origem de insumos”, ou seja,
Nesse cenário, os lançamentos usar de todos os mecanismos
já estão sendo desenvolvidos e tributários disponíveis para o setor,
alinhados com as novas exigências afim de comprar e vender peças,
do ROTA 2030 quanto a emissões, componentes e produto final com
seguranças e investimentos em o melhor custo, a menor tributação
P&D. A esse fato se atribui um e o consequente aumento de
aumento de demanda por novas competitividade.
tecnologias, peças, componentes Onde será melhor comprar
vindos dos mais variados mercados componentes? Importar da Ásia
para compor os carros feitos aqui. ou de países que mantém acordos
Toda essa demanda também automotivos com o Brasil (como
veio atender um crescimento das México, Mercosul), de onde é
exportações como alternativa possível a aquisição com menor
para compensar as perdas do custo de importação?
8 • AutomotiveBUSINESS
AutomotiveBUSINESS • 9
WEB TV youtube.com.br/automotivebusiness
ENTREVISTA EVENTO INOVAÇÃO
10 • AutomotiveBUSINESS
MULHERES SOBEM
FOTOS: DIVULGAÇÃO
AO TOPO NO SETOR
AUTOMOTIVO
TRÊS EXECUTIVAS PASSAM A OCUPAR CARGOS
DE DESTAQUE NA ÁREA DE COMUNICAÇÃO
EXECUTIVOS
GABRIELA STERENBERG (foto 1) é a nova gerente sênior de maketing da BMW Motorrad do Brasil. Ela está há oito anos na companhia.
CARLOS AYALA (foto 2) é o novo presidente da DAF no Brasil. Ele sucede a Michael Kuester, que ocupou a posição desde março de 2015 e
agora volta a Seattle, nos Estados Unidos, para compor o board da companhia.
ROBERTO CARVALHO (foto 3) é indicado pela BMW como seu novo diretor comercial no Brasil, cargo deixado em março deste ano por
Martin Fritsches, nomeado vice-presidente de vendas da Rolls-Royce para a região Américas.
JOHN SAHS (foto 4) passa a chefiar estúdio de design da Nissan no Brasil. Do estúdio brasileiro, inaugurado em 2014, o executivo conduzirá os
projetos para a região da América Latina.
RAFAEL BAGGIO (foto 5) assume como novo gerente responsável pelo mercado de reposição da Tenneco para a região Sudeste, respondendo
pelas marcas Monroe Amortecedores, Monroe Axios e Walker.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
AutomotiveBUSINESS • 11
12 • AutomotiveBUSINESS
LINHA DE FABRICAÇÃO de
tanques para o setor automotivo
AutomotiveBUSINESS • 13
RECONHECIMENTO
CADEIA PRODUTIVA
FORD ENTREGA PRÊMIO GKN DRIVELINE
AOS MELHORES PARCEIROS DESTACA
A Ford entregou o prêmio Top Supplier 2018 para
seus melhores fornecedores da América do Sul, cujo
FORNECEDORES
A
desempenho foi destaque na avaliação da fabricante, que GKN Driveline premiou seus melhores
reconhece as empresas em 14 categorias, incluindo uma fornecedores durante workshop em agosto na
inédita para a linha Troller a partir desta edição. Realizada cidade de Porto Alegre (RS) com profissionais da
anualmente, a premiação conta com ampla avaliação cadeia de suprimentos, qualidade e engenharia. De
com base em critérios como indicadores de qualidade, acordo com a empresa, os cinco melhores parceiros
entrega, custos competitivos, relacionamento comercial, foram reconhecidos por atingir metas e superar
condições de trabalho, desenvolvimento do produto, expectativas em relação a serviços prestados e
serviço ao cliente, logística e manufatura. produtos entregues em 2017.
Foram seis parceiros premiados: Bins Artefatos
de Borracha, Klueber Lubrificantes, Petronas
CONHEÇA OS VENCEDORES DA EDIÇÃO
Lubrificantes, ThyssenKrupp Campo Limpo e
2018 DO TOP SUPPLIER DA FORD: Vallourec Soluções Tubulares.
Carroceria e Exterior: ITW Delfast do Brasil
Carroceria e Interior: Magna do Brasil Produtos e
Serviços Automotivos
Chassis: Fric Rot Saic
Sistemas Elétricos e Eletrônicos: Yazak do Brasil
Componentes de Powertrain: Mahle
Instalações de Powertrain: Faurecia Emissions
Control Technologies do Brasil
Matéria-Prima Estampada: Usiminas - Usinas
Siderúrgicas de Minas Gerais
Materiais Industriais: Iturri Coimpar Indústria e
Comércio de EPIs
Serviços: Bradesco Saúde
Logística & Transporte: Rodoviário Líder
Máquinas e Equipamentos: Prodismo SLR
Peças e Acessórios: Cosan Lubrificantes e
Especialidades REINVENÇÃO
Caminhões: Denso do Brasil
Troller: Alpha Metalúrgica VW INVESTIRÁ US$ 4 BI
EM NEGÓCIOS DIGITAIS
A Volkswagen fará aporte de US$ 4 bilhões
até 2025 em novos negócios digitais, o que
inclui nova plataforma baseada na nuvem para
conectar veículos e clientes e pela qual também
oferecerá serviço de compartilhamento de carro,
chamado de We Share. Entre as novidades
da montadora também está um novo sistema
operacional denominado vw.OS, que será
introduzido nos carros elétricos da companhia a
partir de 2020.
14 • AutomotiveBUSINESS
LEGISLAÇÃO
CARROS ELETRIFICADOS PAGAM
30% EM IMPOSTOS NO BRASIL
O s veículos elétricos
e híbridos ainda
pagam impostos
elevados no Brasil.
Somadas as alíquotas de
ICMS e PIS/Cofins aos
tributos federais, que
já foram desonerados
pelo governo, o total
recolhido é de 30% do
valor de um modelo novas tecnologias de propulsão,
com a tecnologia, em média. é importante desenhar
A estimativa é de Ricardo as condições certas para
Bastos, diretor de relações impulsionar este movimento.
governamentais da Toyota para o “O que conquistamos até
Brasil. Segundo o executivo, se o aqui precisa ser mantido e
objetivo é estimular a adoção das ampliado”, defende.
EFICIÊNCIA
RENAULT KWID É O MAIS ECONÔMICO
ENTRE OS MAIS VENDIDOS
AutomotiveBUSINESS • 15
ROTA 2030:
GOVERNO DÁ MENOS QUE
FABRICANTES QUERIAM
PEDRO KUTNEY
PROGRAMA FOI
A
pós mais de um ano de discussões, negociações e desentendimentos,
o governo finalmente liberou a legislação básica que cria o Rota 2030,
programa de desenvolvimento da indústria automotiva nacional que
ATRASADO PELA substitui o Inovar-Auto, encerrado no fim de 2017. O novo conjunto de regras,
diretrizes, incentivos e metas para o setor valerá pelos próximos 15 anos, com
FAZENDA, QUE NÃO três ciclos e revisões a cada cinco anos. A Medida Provisória 843 que autoriza
o estabelecimento do programa foi assinada de forma açodada em 5 de julho,
PRETENDIA DAR pelo mandatário-tampão da República, Michel Temer.
O instrumento assinado no Palácio do Planalto contempla as linhas gerais
INCENTIVOS do programa com três medidas principais:
FOTOS: DIVULGAÇÃO
INSTRUMENTO assinado
pelo governo traz linhas
gerais do Rota 2030
16 • AutomotiveBUSINESS
2 – Criação de contribuição financeira equivalente a 2% do valor de peças hoje importadas em regime de ex-tarifá-
rio, que será destinada a fundos de desenvolvimento da cadeia de autopeças;
AutomotiveBUSINESS • 17
18 • AutomotiveBUSINESS
20 • AutomotiveBUSINESS
mações tecnológicas que afetam rica do Sul, afirma que o Rota 2030 “O Rota 2030 irá contribuir para
globalmente fabricantes de veículos tem potencial para tornar o País um que haja mais previsibilidade para
e componentes. Pablo Di Si, presi- exportador de novas tecnologias e a indústria automobilística, promo-
dente da Volkswagen Brasil e Amé- inovações. vendo investimentos em pesquisa e
desenvolvimento. Dessa forma, con-
seguiremos que a inteligência, o co-
nhecimento, continue aqui no País,
não só para atender às demandas
específicas dos consumidores lo-
cais, mas também para criar divisas
por meio das exportações dessas
inovações”, avalia Di Si.
Adicionalmente, como já tinha
prometido, o governo também as-
sinou decreto que reduz o IPI de
carros elétricos e híbridos, que
chegava a 25% e agora tem três
MERCEDES-BENZ, se alíquotas de 7%, 11% e 18%, apli-
instalou em Iracemápolis (SP)
cadas dependendo do peso e efi-
ciência energética de cada modelo.
22 • AutomotiveBUSINESS
24 • AutomotiveBUSINESS
AutomotiveBUSINESS • 25
AUDI DO BRASIL
ROBERTO BRAUN
Diretor de relações governamentais
“A Audi do Brasil recebeu o anúncio do Rota 2030 de forma positiva e entende que o
programa representa um avanço para o setor automotivo por conferir maior previsibilidade para futuros investimen-
tos. O grande desafio da nova política automotiva é a manutenção da produção de veículos premium no país, que
hoje apresentam resultado muito negativo por conta da produção em nível muito abaixo da capacidade produtiva
instalada. Neste sentido as empresas esperam que o programa traga um aumento da competitividade da produção
local por meio de um regime que possibilite a importação de peças não produzidas no País com redução do imposto
de importação. A Audi aguarda a regulamentação completa da política, incluindo decretos e portarias, para analisar a
viabilidade de novos investimentos no País.”
BMW DO BRASIL
HELDER BOAVIDA
Presidente e CEO
“O Rota 2030 evidentemente é uma importante conquista para que o rumo do setor
automotivo brasileiro possa ser escrito de forma mais clara e com previsibilidade para toda
a indústria. O novo programa deve ajudar na tomada por decisões por produção local de
novos modelos, mas veio tarde. Ainda teremos um 2018 e parte de 2019 difícil em virtude
da espera pelo programa, que deveria ter saído em janeiro. Investimentos foram atrasados, decisões ainda não foram
tomadas e dependemos dos detalhes para poder melhor entender. Os ganhos deste programa não serão imediatos,
mas virão, com certeza, de forma mais robusta e sustentável no médio e longo prazos. O programa traz maior previ-
sibilidade, com validade de 15 anos, em três ciclos de cinco anos, e atende nossos anseios para melhor programar
nossos investimentos e novas oportunidades. Fizemos investimentos de aproximadamente R$ 1 bilhão nos últimos
quatro anos, que só foram possíveis por existir a regulamentação anterior. Essa é a medida da importância para o
BMW Group Brasil de uma política clara para o setor.
De maneira geral, estamos ainda cautelosos e aguardando os detalhes definitivos da regulamentação do programa
que serão liberados por meio de decreto que segue a assinatura da Medida Provisória. Somente após essas definições
teremos condições de planejar e decidir sobre os trabalhos que farão parte do nosso novo ciclo de desenvolvimento
no País, buscando novos projetos e desenvolvimentos com a engenharia local.”
26 • AutomotiveBUSINESS
AutomotiveBUSINESS • 27
WORKSHOP Planejamento
Automotivo reuniu mais de
500 profissionais do setor
MONTADORAS
DIRETORES DE
COMPRAS JÁ COMPRARÃO
IDENTIFICAM
ALGUNS MAIS PEÇAS
EM 2019
GARGALOS
SERGIO QUINTANILHA
O
s diretores das montadoras Mercedes-Benz, CNH
Industrial e FCA Fiat Chrysler preveem aumentos
no volume de compras para 2019 e foram unâ-
nimes em apontar que a nacionalização das autopeças vai
aumentar com a implantação do programa Rota 2030. A
conclusão dos executivos surgiu durante o Workshop Plane-
jamento Automotivo 2019, realizado por Automotive Busi-
ness dia 27 de agosto, em São Paulo.
Reunidos em painel de debates, Erodes Berbetz (Merce-
des-Benz), Carlo Martorano (CNH Industrial) e Luís Santa-
maria (FCA) anunciaram aumento no ritmo de compras de
suas empresas.
Berbetz afirmou que o aumento de 25% nas compras
da Mercedes em 2018 foi igual ao do volume de produ-
FOTOS: LUIS PRADO
DIRETORES de compras
se preparam para ção e que esse ritmo vai continuar. Pela CNH Industrial,
aumento de produção
Martorano disse que o crescimento nas aquisições será
de 17% a 20%, sendo que a área de caminhões é que a
28 • AutomotiveBUSINESS
INFLUÊNCIA DO DÓLAR
Berbetz disse que na Mercedes-Benz o índice de localização
das peças é de 75%. “Vamos aumentando o uso de itens
locais à medida que os volumes justificam”, afirma, explican-
do que com o dólar cotado entre R$ 3,90 e R$ 4,00 a ten-
dência é que aumente o conteúdo local. Na CHN Industrial,
segundo Martorano, a média de utilização de componentes
importados está na casa dos 30%.
Já na FCA, a localização depende da fábrica. Em Be-
tim, o índice de nacionalização chega a 85%, segundo
Santamaria. Em Goiana já é de 52% e em Córdoba, de
50%. “Mas das importações feitas na Argentina, grande
parte é do Brasil”, recorda.
Os três diretores disseram que o Rota 2030 é fundamental
para o aumento das compras no Brasil. “Pela primeira vez
temos um norte de 10 a 15 anos”, diz Santamaria, da FCA.
AutomotiveBUSINESS
AutomotiveBUSINESS
• 29
• 29
30 • AutomotiveBUSINESS
32 • AutomotiveBUSINESS
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
APROXIMA MONTADORAS
DO CONSUMIDOR
INDÚSTRIAS BRASILEIRAS ESTÃO USANDO ROBÔS INTELIGENTES
PARA AUTOMATIZAR PROCESSOS E SE CONECTAR COM CLIENTES
EDILEUZA SOARES | FOTOS: DIVULGAÇÃO E SHUTTERSTOCK
É
impossível falar de carros autônomos sem mencionar nuvem, ferramentas para análise inteligente de dados, ma-
a inteligência artificial ou simplesmente AI (sigla do ter- chine learning (ML, aprendizado de máquina) e outras tecno-
mo em inglês Artificial Intelligence). Mas não é preciso logias, a AI é uma das principais tendências para a próxima
esperar a nova geração de veículos para ver os efeitos dessa década para alavancar negócios. As montadoras estão en-
tecnologia no dia a dia da indústria automotiva. A inovação tre os setores que mais apostam nessa solução, apontada
já está presente em diversas áreas de montadoras do Brasil, como um dos combustíveis para crescimento de receita.
aplicada para aprimorar processos produtivos, personalizar A AI é uma das tecnologias importantes para auxiliar
vendas e aproximar as marcas do cliente da era digital. as montadoras no atendimento de cinco grandes ten-
Combinada com internet das coisas (IoT), aplicações em dências mundiais: indústria 4.0, condução autônoma,
AutomotiveBUSINESS • 35
36 • AutomotiveBUSINESS
EM 1958 A ZF construiu
sua primeira fábrica fora
da Alemanha, em
São Caetano do Sul,
no ABC Paulista
AÇÃO
FOTOS: DIVULG
ÇA
AR LIDERAN
PARA FORM vo s te m po s,
para os no
atua
Universidade ZF nal
io
na área operac
e de gestão
EM TRANSFORMAÇÃO,
ZF BRASIL
COMPLETA 60 ANOS
GIOVANNA RIATO
38 • AutomotiveBUSINESS
LUIS PRADO
distante da fama de fornecedora de partes
mecânicas para entregar inteligência e eficiência
para a indústria e os consumidores.
No Brasil, quem lidera esse esforço é Wilson COISAS QUE PARECEM
Bricio, CEO da ZF para a região e também da
TRW, que foi comprada pelo grupo alemão DISTANTES DO BRASIL, COMO
em 2015. “Estamos adequando a organização
às necessidades e demandas do mercado OS CARROS ELÉTRICOS, VÃO
e isso acontece no Brasil também”, diz. Na
companhia desde 2001, ele chegou aos 60 COMEÇAR A ACONTECER
anos em 2018, justamente quando a operação
local da organização também completa seis MUITO RÁPIDO. SE FICARMOS
décadas de história. A ZF Brasil foi a primeira filial
internacional do grupo, com início da construção CÉTICOS, CORREMOS SÉRIO
da fábrica em 1958 para, no ano seguinte,
começar a produzir transmissões. RISCO DE FICAR PARA TRÁS.
Atuar localmente se tornou um teste
importante da vocação internacional da JÁ TEMOS PLANOS DE TRAZER
empresa. “Certamente, viver no ambiente volátil
do Brasil foi um grande ensinamento”, avalia POWERTRAIN ELÉTRICO
Bricio. O contexto instável talvez seja uma das
características que menos mudaram ao longo AUTOMOTIVE BUSINESS – Como foi o primeiro
dos últimos 60 anos. “Já chegamos a representar semestre para a ZF globalmente?
mais de 10% dos negócios mundiais da ZF. Hoje WILSON BRICIO – Em termos de performance o volume
esse porcentual caiu para em torno de 3%.” aumentou, porém precisamos investir no desenvolvimento
Entre as convicções de Bricio está a ideia de produtos. Também há um certo aperto em margens.
de que, ainda que não dê para fazer do Brasil Temos de competir de forma mais acirrada.
o maior mercado global da empresa – já
que Índia e China não deixam muito espaço AB – Como está hoje a participação do Brasil nesse
para concorrentes neste aspecto, a busca resultado?
é por tornar a subsidiária local a melhor da BRICIO – O Brasil já chegou a representar mais de 10%
companhia no mundo. Afinal, “ser o maior dos nossos negócios mundiais. Hoje esse porcentual caiu
não dá garantia de futuro”, diz o executivo. Na para em torno de 3%, com praticamente metade do volu-
entrevista a seguir ele faz o balanço dos 60 me que registramos no passado. A questão é que investi-
anos da companhia, analisa o Rota 2030, as mos para ter o dobro disso. Nos últimos anos compramos
tendências e tecnologias globais e, ainda, reflete a TRW, que era uma empresa do tamanho da ZF aqui no
sobre seu papel como líder em todo o processo. Brasil. Atualmente, as duas companhias juntas têm o fatu-
AutomotiveBUSINESS • 39
LUIS PRADO
criatividade para encontrar soluções.
Hoje, em todas as divisões da compa-
nhia, vemos pessoas que foram trei-
nadas ou tiveram uma vivência aqui e
ramento que a ZF registrava sozinha conquistaram posições globais.
em 2013. É uma redução importante
UMA DAS GRANDES
de mercado aliada ao grande cresci-
mento que vemos na China, à recu-
MUDANÇAS DOS AB – Que espaço vocês querem
ocupar neste momento de transfor-
peração dos Estados Unidos e à esta- ÚLTIMOS ANOS mação do setor automotivo?
bilidade do mercado europeu. BRICIO – Nosso esforço é para posi-
FOI COLOCAR O cionar a ZF de forma correta no novo
AB – Como a demanda está evo- mundo da mobilidade. Ainda esta-
luindo no Brasil? A recuperação se CLIENTE NA FRENTE mos tentando entender como será
traduz em volta dos volumes para o cenário, mas já temos algumas
a ZF? DA TECNOLOGIA. certezas: os veículos serão elétricos,
BRICIO – Houve melhora considerá- com muita tecnologia de condução
vel, não há dúvidas. Na área de veícu- AS SOLUÇÕES autônoma. Queremos ser líderes de
los de passeio há uma combinação de mercado neste novo contexto, com
melhoria dos volumes e aumento da ESTÃO AQUI PARA competitividade para oferecer so-
nossa participação em determinadas luções avançadas que estejam ao
linhas de produto. Lançamos a nossa SERVIR O CLIENTE, alcance do bolso do consumidor.
direção elétrica, a primeira do Brasil, Garantir segurança e reduzir as emis-
com ótimos resultados. Quando fala- NÃO O INVERSO sões são as maiores preocupações.
mos de veículos comerciais e da área
agrícola, a recuperação também está AB – O lucro e os investimentos
indo bem. O ano tem sido de melho- AB – Da sua experiência em 17 antes destinados à indústria auto-
ria, mas é uma melhoria relativa. anos na ZF, quais são as mudanças motiva estão mudando de mãos,
mais importantes que percebe na indo para empresas de tecnologia e
AB – E isso já reflete na produção? companhia? mobilidade. Qual é o plano da ZF
BRICIO – Ainda temos áreas em que BRICIO – A ZF sempre foi uma em- para se posicionar neste ambiente?
estamos com 50% de ociosidade, presa de muita tecnologia, voltada ao BRICIO – Criar valor e apostar em
enquanto outras têm 70% de ocu- desenvolvimento de produtos e solu- novas soluções tecnológicas e mo-
pação. Tem divisões em que traba- ções. Uma das grandes mudanças dos delos de negócio. A mobilidade deve
lhamos em três turnos, mas aqui em últimos anos foi colocar o cliente na se tornar uma questão mais pública,
Sorocaba a maioria está voltando a frente da tecnologia. As soluções estão com menos posse do carro e mais
operar em dois turnos. É uma evolu- aqui para servir o cliente, não o inver- uso compartilhado. A ZF criou uma
ção considerável. Na época da crise so. Trabalhamos também a liderança, divisão para tratar da eletrificação.
chegamos a ter apenas 0,8 turno. treinando justamente para essa volatili- Também fundamos uma empresa, a
40 • AutomotiveBUSINESS
Zukunft Ventures, que comprou parti- AB – Isso envolve também o Rota uma gama de eixos de alta perfor-
cipação em uma série de startups na 2030, novo conjunto de regras para mance para a área agrícola.
área de inteligência artificial, senso- o setor automotivo aprovado pelo
res, software. Temos parceria inclusi- governo? AB – Olhando para o futuro da
ve com outras grandes companhias, BRICIO – É indiscutível que pro- ZF, qual posição você espera que
como a chinesa Baidu. A ideia é tra- grama apresenta preocupação com a operação brasileira tenha para a
balhar de forma colaborativa. áreas importantes, como segurança companhia?
e eficiência energética. A questão é BRICIO – Com países como China
AB – Entre estas novas tecnolo- que passamos meses debatendo, e Índia os nossos volumes ficaram
gias para o setor automotivo, quais com uma série de recursos envolvi- pequenos. Por isso, nosso esforço é
têm potencial de chegar mais rápi- dos, para chegar a uma legislação por sermos rápidos, ágeis, por trazer
do ao Brasil? que, no melhor cenário, oferece des- soluções e buscar modelos de negó-
BRICIO – Coisas que parecem distan- conto de dois pontos porcentuais cio. Este é o legado que eu gostaria
tes, como os carros elétricos, vão co- de IPI para as montadoras (somente de deixar: essa garra por fazer me-
meçar a acontecer rápido. Se ficarmos para aquelas que superarem as me- lhor para, quem sabe, nos tornarmos
céticos, achando que não vai dar certo, tas de eficiência energética). É uma a maior operação da companhia um
corremos sério risco de ficar para trás. abordagem fora de contexto para dia. Porque ser apenar o maior mer-
Já temos planos de trazer powertrain uma economia global. A preocupa- cado não me dá garantia de futuro.
elétrico para o Brasil, mas estamos ção deveria ser inserir o Brasil em
buscando parcerias para isso. A eletri- cadeias produtivas mundiais, garan- AB – Em cenário de transformação
ficação deve acontecer logo, mas não tir insumos a preços competitivos, tão intensa, estar à frente de uma
para todos os segmentos. Tem mais desonerar a mão de obra, reduzir e empresa automotiva é um desafio
potencial em grandes cidades. Os sis- simplificar os tributos. Se tudo isso grande. Como é ser um líder nessa
temas de apoio à condução também fosse encarado de frente, não preci- indústria hoje?
vão avançar rápido. Já a condução to- saríamos de desconto no IPI. BRICIO – A liderança precisa ser hands
talmente autônoma vai demorar pouco on, participativa e próxima das pessoas.
mais por causa da infraestrutura. Ainda AB – Como estão os investimentos Liderar hoje é se adaptar às novas ne-
temos um dever de casa para fazer. da ZF? Há aportes em curso? cessidades, sentir o pulso, ouvir muito.
BRICIO – Diminuímos considera- É um trabalho complexo, em que você
AB – A decisão recente de reduzir o velmente nos últimos anos, mas investe muito sem ter a certeza do su-
IPI para carros elétricos e híbridos não paramos de investir. Estamos cesso, que só vem com o tempo. Aqui
é um estímulo efetivo? fazendo aportes na área de veículos na ZF temos há anos a preocupação e
BRICIO – Ainda estamos brigando de passeio, na produção de direções formar uma nova liderança. Contamos
muito por incentivos pontuais, algo elétricas, de produtos no segmento com duas academias internamente,
que se aplicava em uma economia de freios. Também temos um grande uma operacional e outra focada em
fechada. Globalmente não se justi- plano para trazer novas tecnologias gestão. Nessa fase de mudança tecno-
fica mais. O incentivo pontual tem de transmissões para veículos co- lógica e de pensamento é importante
efeito de curto prazo, não vai resolver merciais, com a localização da pro- ter uma mistura de gerações. Todas as
o problema no Brasil. dução da TraXon. Lançamos ainda idades têm contribuição a dar. n
42 • AutomotiveBUSINESS
SUA MAJESTADE,
O CAMINHÃO,
SE RECUPERA DA QUEDA
APÓS DOIS ANOS COM POUCO MAIS DE 50 MIL UNIDADES,
SEGMENTO PREVÊ ALTA PRÓXIMA A 30%
MÁRIO CURCIO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
E
le sempre teve forte presença tada pela crise política e econômica guidas até 2016, com apenas 50,6
em nossas vidas. Imagine en- dos anos recentes. mil caminhões. E 2017 não foi mui-
tão no setor automotivo. Ver- O crédito com juros camaradas to diferente, 51,9 mil unidades.
dadeiro rei da estrada, leva adiante e a economia favorável resulta- Agora em 2018 haverá uma re-
as enormes bobinas de aço, que dias ram no 2011 recorde, com 172,6 cuperação mais consistente para
depois voltam sobre as cegonhas, mil emplacamentos. Naquele ano, o setor, puxada pelo agronegócio e
agora na forma de carros novinhos muitos aproveitaram para renovar outros setores favorecidos pela me-
em folha: “Olha, pai, olha”, diz o a frota, já que no ano seguinte os lhora da economia. O acumulado de
menino com olhos brilhando. Pois caminhões ficariam mais caros janeiro a julho indicava crescimento
é, mas sua majestade, o caminhão, com a nova legislação de emissões de quase 50%. Para o fechamento
também foi muito maltra- (Proconve P7). Em 2012 as vendas do ano os fabricantes acreditam em
recuaram para 137,7 mil, alta de cerca de 30%, o que dará algo
mas veio um novo pico como 67,5 mil unidades licenciadas.
de quase 155 mil O crescimento mais acentuado em
caminhões 2018 ocorreu para os caminhões pe-
em 2013. De- sados, que até julho respondiam por
pois disso não 17,1 mil unidades e alta de 87,3%. Há
houve freio que casos com aumento acima de 200%:
impedisse “Nos primeiros sete meses de 2017
quedas se- tínhamos vendido 697 caminhões
Actros e no mesmo período de 2018
foram 2.158 unidades”, afirma o vice-
-presidente de vendas e marketing da
Mercedes-Benz, Roberto Leoncini.
A Volvo esperava desde o início do
ano uma alta superior a 30% para
2018 e teve sua expectativa reforça-
TRANSPORTE DE VEÍCULOS da durante o primeiro semestre:
favoreceu vendas da Mercedes “O ano de 2017 é uma base de
no 1o semestre
comparação baixa, mas mesmo
assim haverá um aumento expres-
44 • AutomotiveBUSINESS
AutomotiveBUSINESS • 45
DAF QUER MAIOR FATIA Ele assumiu o cargo de Michael diretor comercial para o México e
A fabricante DAF tem como uma Kuester, que retornou a Seatle, nos América Latina.
das principais metas o aumento de Estados Unidos, para compor o bo- “Meu tempo como vice-presidente
participação dos atuais 7,2% para ard da companhia. Ayala entrou na foi valioso para me aprofundar no
10% no mercado em que atua, dos empresa em 1985 e está no Brasil mercado e na cultura do transpor-
caminhões acima de 40 toneladas. desde janeiro deste ano como vice- tador brasileiro”, diz Ayala. Estamos
É o que diz Carlos Ayala, que desde -presidente de desenvolvimento de em um território extenso, com ope-
julho é o novo presidente da empre- negócios. Seu último cargo antes rações de todos os tipos e níveis de
sa instalada em Ponta Grossa (PR). de desembarcar por aqui foi o de severidade”, recorda.
A Scania também prevê bons resultados para este Em janeiro de 2019 a fábrica interrompe a produção e
ano com a produção de 27 mil caminhões e al- se prepara para os novos modelos, que entram em li-
ta próxima a 30% sobre 2017. A empresa trabalha em nha em fevereiro. A matriz sueca levou dez anos e in-
São Bernardo do Campo (SP) em dois turnos, produzin- vestiu T 2 bilhões na nova geração, com motores de 7
do 80 veículos por dia na soma de caminhões e ônibus, a 16 litros e 19 tipos de configuração de cinco cabines.
mais 36 unidades em forma de kits para exportação. A fábrica do ABC paulista vem sendo prepara-
Setenta por cento da produção brasileira é exportada. da desde 2016 para receber os novos modelos e mo-
A fabricante divulgou os números durante a apresen- tores, com investimento de R$ 2,6 bilhões até 2020:
tação de sua nova geração de caminhões, que come- “Está em curso o maior programa de investimento da
ça a ser fabricada em 2019. Ao contrário do que ocor- história da Scania no Brasil, que traz melhorias à fá-
reu na Europa, toda a gama será renovada e lançada de brica e uma nova gama de produtos”, afirma o presi-
uma só vez no Brasil. dente da Scania Latin America, Christopher Podgorski.
Os caminhões atuais serão montados até dezembro. (Pedro Kutney) n
46 • AutomotiveBUSINESS
INDÚSTRIA DE MOTOS
VOLTA A CRESCER APÓS
6 ANOS DE QUEDA
RASTRO DEIXADO PELA CRISE INCLUI GRANDE CAPACIDADE
OCIOSA, FECHAMENTO DE VAGAS E ENVELHECIMENTO DA FROTA
MÁRIO CURCIO
A
indústria de motos terá um pe- mil motos e as exportações ficaram ters, que aumentou sua capacidade
queno crescimento em 2018 abaixo de 82 mil unidades. de 1,5 milhão para 2 milhões de
após seis anos seguidos de A sequência de quedas começou unidades por ano. Em 2016 teve de
queda. Depois do recorde de 2011, em 2012 por causa da maior dificul- transferir a montagem desses veícu-
com 2,14 milhões de unidades, o se- dade para obter crédito. O problema los para a ala principal.
tor foi minguando até chegar a menos se agravou em 2013. A retração de A capacidade da brasileira Dafra
de 900 mil motocicletas montadas em mercado encolheu também a indús- recuou de 300 mil para 30 mil motos
2017. No acumulado até julho de 2018 tria, cuja capacidade instalada chegou por ano. Inaugurada em 2007 com um
a produção somava 591 mil motos e a 3,24 milhões de unidades em 2013 investimento de R$ 100 milhões (R$
a projeção das fabricantes é encerrar e caiu para os atuais 2,27 milhões de 178 milhões em valores atualizados),
o ano com 980 mil motos e pequena unidades com o fechamento de algu- a empresa teve seu melhor momento
alta de 11% sobre o ano anterior. mas fábricas em Manaus (como Ka- em 2008 com a produção de 119,4
O resultado de ano após ano de sinski, por exemplo) e encolhimento mil unidades. Em 2017 ficou em 3,7
retração foi uma capacidade ociosa de outras. mil motos na soma dos modelos Dafra
em Manaus acima dos 60% nos três Em 2010 a Honda havia investido e KTM, marca austríaca sobre a qual
últimos anos. Em 2017, o mercado R$ 90 milhões em um setor dedica- detém os direitos de produção e venda
interno absorveu pouco mais de 850 do à produção de motonetas e scoo- no Brasil. Perguntas como o tamanho
48 • AutomotiveBUSINESS
PERSPECTIVAS
É verdade que a recuperação nos
primeiros sete meses de 2018 foi
pequena, mas trouxe alguma tran-
quilidade aos fabricantes instalados
em Manaus: “Somos uma empresa
que pensa em longo prazo e temos
planos consistentes para o Brasil que
FLÁVIO VILLAÇA é o gerente seguem inalterados”, afirma o TER MAIS FORNECEDORES
de marketing da Harley-Davidson gerente de marketing da Harley- LOCAIS é parte da estratégia
para a América de Echeagaray, da BMW
-Davidson para a América, Flávio
Villaça. As vendas da empresa no
AutomotiveBUSINESS • 49
60
QUE VENHAM
OS PRÓXIMOS
ANOS
SUELI REIS
O
ano era 1958. No dia 29 de agosto foi registrada na Junta Comercial
SCHAEFFLER de São Paulo a empresa Rolamentos Schaeffler do Brasil. De lá para
cá, a história da companhia se confunde com a do setor automotivo
COMEMORA SUA brasileiro, que também dava os primeiros passos. Foi a pedido da Volkswagen,
que começava a produzir em sua fábrica de São Bernardo do Campo (SP),
HISTÓRIA NO que a empresa, também de origem alemã, decidiu fincar seus pés em solo
BRASIL COM FOCO brasileiro. Sua primeira atuação por aqui foi com a marca INA. Em 1960 foi a
vez da FAG ser incorporada à operação e, em 1972, a Luk chegou ao Brasil. A
NOS PRÓXIMOS consolidação das três marcas ocorreu em 2003.
Durante a década de 1970, a empresa experimentou um acelerado cresci-
PASSOS mento da indústria e desde então vem investindo em diversificação de portfólio,
que passou a atender o segmento de veículos pesados. Na década seguinte,
FOTOS: DIVULGAÇÃO
VISTA AÉREA do
complexo industrial
em Sorocaba (SP)
50 • AutomotiveBUSINESS
AutomotiveBUSINESS • 51
TOYOTA INDAIATUBA
CHEGA AOS 20 ANOS
NO AUGE
FÁBRICA OPERA ACIMA DA CAPACIDADE E SE
PREPARA PARA NOVA GERAÇÃO DO COROLLA
PEDRO KUTNEY
A
inauguração de sua segunda fábrica no Brasil, em dos anos 1990 a empresa acordou para aproveitar a onda
setembro de 1998, marcou sensível mudança de de crescimento do mercado brasileiro. Após comprar em
atitude da Toyota. Enquanto se tornava uma gigan- 1996 um terreno de 1,5 milhão de metros quadrados em
te no mundo, aqui a fabricante japonesa hibernava em Indaiatuba, SP, a Toyota investiu US$ 150 milhões para
São Bernardo do Campo (SP), onde abriu sua primeira produzir o sedã Corolla, o carro mais vendido do mundo
planta fora do Japão, mas em quatro décadas produziu e símbolo de sua expansão mundial, que repete por aqui
lá apenas um modelo, o utilitário Bandeirante. Só no fim e países vizinhos o sucesso global, fazendo a planta no
52 • AutomotiveBUSINESS
AutomotiveBUSINESS • 53
DIVULGAÇÃO / IOCHPE-MAXION
COMPLEXO INDUSTRIAL
em Limeira
IOCHPE-MAXION,
A DONA DO
PRÓPRIO TEMPO
AO COMPLETAR 100 ANOS, A EMPRESA QUE FABRICA 60 MILHÕES
DE RODAS POR ANO TEM UMA HISTÓRIA RICA EM OUSADIA E
CONSTRÓI SUA LINHA DO TEMPO DITANDO O PRÓPRIO DESTINO
SERGIO QUINTANILHA
A
linha do tempo de uma em- po Iochpe alterou a razão social da A Maxion não é tudo na Iochpe,
presa centenária como a Massey Perkins S/A para Maxion S/A mas é a sua marca mais importante e
Iochpe-Maxion é riquíssima e criou a marca Maxion, consolidan- responde por 82% do faturamento da
em acontecimentos. Mas três anos do seu perfil industrial. Nesse mesmo empresa. Atualmente, as rodas Ma-
foram especialmente marcantes na ano, a General Motors interrompeu xion equipam cerca de 12 milhões de
história da empresa, que está com- um jejum de cinco anos sem lança- carros a cada ano. A Iochpe-Maxion
pletando 100 anos. O primeiro foi mentos na indústria automobilística produz 60 milhões de rodas a cada
1938, ano em que cinco membros brasileira e iniciou a produção do volta que a Terra dá em torno do Sol.
da família Iochpe – Gregório, Miguel, Chevrolet Kadett. A companhia possui 31 fábricas em
Moysés, Salomão e Israel – criaram a O terceiro ano marcante foi 1994, 14 países e emprega cerca de 15 mil
Iochpe, Irmão & Filhos para comer- quando houve uma reestruturação e pessoas. É uma empresa brasileira
cializar madeira, vigas e toras de pi- unificação das operações da holding com atuação global e fez o caminho
nho. Foi o ano em que a Volkswagen Iochpe e o grupo passou a se cha- inverso da maioria das autopeças nos
iniciou na Alemanha a produção do mar Iochpe-Maxion. Foi nessa tem- últimos anos – em vez de ser engoli-
Fusca, que viria a ser um dos carros porada que o Brasil perdeu um de da por uma multinacional estrangeira,
mais importantes do século 20. seus maiores ídolos no esporte, com saiu pelo mundo adquirindo fábricas
O segundo foi 1989, quando o Gru- a morte de Ayrton Senna.. e conquistando novos mercados. Seu
54 • AutomotiveBUSINESS
DIVULGAÇÃO / IOCHPE-MAXION
próximo foco é o mercado automoti-
vo da Índia, onde pretende expandir
ainda mais suas operações.
A Iochpe-Maxion tem três gran- CENTRO DE EXCELÊNCIA
em Limeira
des chapéus em seus negócios: Ma-
xion Wheels (100% de participação
acionária), Maxion Structural Com-
ponents (também 100%) e Amste- nossos carros (porém com logotipos para seus clientes. “Quando um carro
dMaxion (joint-venture que atua no dos fabricantes). A Maxion Wheels é criado, a roda é o terceiro item a ser
desenvolvimento e fabricação de também faz parcerias que inovam projetado, pois ela tem a ver com o
vagões de carga e componentes os produtos e beneficiam os proprie- design lateral do veículo”, diz Marcos
ferroviários). Tudo começou quando tários de veículos. Recentemente, o Oliveira, que já foi presidente da Ford
Gregório Iochpe constituiu a serraria CEO da Iochpe-Maxion, Marcos Oli- Brasil e está na Iochpe-Maxion desde
Engenho d’Água no Rio Grande do veira, anunciou em São Paulo que a 2012. Ele diz que no passado as pró-
Sul, em 1918, e o mundo ainda so- Maxion desenvolveu com a Michelin prias montadoras produziam as rodas
fria os horrores da Primeira Guerra uma roda de liga leve flexível para de seus carros, mas que atualmente
Mundial. Um século e duas guerras equipar veículos do segmento pre- elas fornecem apenas o design.
mundiais depois, os maiores clien- mium. Em vez de quebrar ou trin- Atualmente, somente a fábrica da
tes das rodas Maxion são a Daimler car quando passa por um buraco Volkswagen em Wolfsburg ainda pro-
Mercedes, a Ford Motor Company, a na estrada, essa roda acompanha a duz rodas para alguns de seus mode-
Aliança Renault Nissan Mitsubishi e o deformação do pneu e depois volta los. O grande salto da empresa brasi-
Grupo Volkswagen. Só essas quatro à forma normal. Ela está em fase de leira aconteceu justamente em 2012,
empresas, de pontos tão diferentes testes com a Audi na Europa e com quando a Iochpe-Maxion adquiriu a
do planeta, mostram como a Maxion uma montadora da Ásia. Hayes Lemmers, tradicional fabrican-
conquistou o mundo sem precisar Segundo Oliveira, no fim de 2019 te alemão de rodas automotivas (de
declarar guerra a ninguém. uma nova roda será colocada no mer- liga leve para veículos leves e comer-
Mas a forte presença dessa em- cado. Ela utiliza a tecnologia MCPA ciais e de aço só para veículos leves).
presa brasileira não ocorre somente (aplicação multicolor) e permitirá que Essa aquisição deu a força final
com a fabricação das rodas auto- os fabricantes de automóveis ofere- para a Iochpe-Maxion ser o que ela
motivas que estão na maioria dos çam rodas com detalhes coloridos é hoje. Com 38,1% das receitas, a
56 • AutomotiveBUSINESS
DIVULGAÇÃO / IOCHPE-MAXION
panhia brasileira. Em seguida vêm a
América do Norte (28,1%), a Améri-
ca do Sul (24,1%) e a Ásia e demais
regiões (9,7%). Por causa disso, so-
mente no primeiro semestre deste
ano a Iochpe-Maxion investiu R$ 168
milhões na expansão da capacidade
de produzir com alumínio em suas
RODAS DE AÇO duas mais importantes regiões, na
na fábrica de Limeira
estamparia de veículos pesados
na região do Nafta e em uma nova
fábrica de rodas de liga leve na Ín-
dia, onde esse item vai crescer. Mun-
dialmente, o mercado de rodas de MARCOS OLIVEIRA, CEO
da Iochpe-Maxion
alumínio representa apenas 25%,
contra 75% das rodas de aço.
No Brasil, é diferente – pratica-
mente a metade para cada tipo de
roda, por causa da mudança no perfil são do primeiro semestre deste ano.
do consumidor de carros, cada vez Ao completar seu primeiro cen-
mais exigente, apesar de uma roda tenário, a Iochpe-Maxion inicia uma
RODAS DE ALUMÍNIO de alumínio custar quatro vezes o fase de maior visibilidade perante o
na planta de Limeira
valor de outra de aço. público consumidor, embora não te-
Mas as rodas de aço não pararam nha planos de entrar no mercado de
no tempo. A diferença de peso entre reposição. Sob o lema “100 anos em
uma roda de aço e uma de liga leve movimento”, a gigante que nasceu
já chegou a ser de 35%, mas hoje é de uma serraria gaúcha tem orgu-
de apenas 12%. Por causa disso, a lho de seu desenvolvimento e afirma
Maxion lançou recentemente uma sem modéstia: “A Maxion-Wheels
roda de aço que dispensa o uso de não inventou a roda... somente toda
calota e tem uma aparência muito inovação desde então”. Neste primei-
mais próxima à de uma roda de alu- ro ano de Rota 2030, quando o setor
mínio. A estreia desse produto acon- de autopeças finalmente passa a ter
RODA FLEXÍVEL em fase teceu em 2017, no Renault Kwid, maior atenção por parte do governo
de desenvolvimento
que teve como princípio reduzir ao brasileiro, a marca Maxion é uma re-
máximo o peso e o custo do carro. ferência para as empresas que forne-
Ela é de série na versão topo de linha. cem à indústria automobilística.
Pelo custo maior, as rodas de alu- Pela impetuosidade de escrever a
DIVULGAÇÃO / RENAULT
mínio têm a maior participação nas própria linha do tempo (não apenas
receitas da Iochpe-Maxion, com ficar à mercê dos acontecimentos) e
33,9%. As rodas de aço para veículos também pela robusta receita opera-
leves vêm em segundo lugar, com cional líquida que pode exibir, a Ma-
27,7%, e as rodas de aço para veí- xion é um exemplo. Foram R$ 7,5
culos comerciais aparecem em se- bilhões em 2017 e R$ 4,5 bilhões no
guida, com 20,2%. Os negócios da primeiro semestre deste ano, sendo
KWID INTENSE utiliza empresa são completados com os 25% obtidos no exterior e 75% no Bra-
as novas rodas de aço componentes estruturais, sendo sil. Tudo indica que em seu segundo
da Maxion Wheels
16,2% para veículos comerciais e centenário a Iochpe-Maxion continua-
2% para veículos leves. Os números rá ditando o próprio destino. n
58 • AutomotiveBUSINESS