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http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1274
Resumo
Nesse trabalho aponto rotas para a investigação da arte transformista brasileira. Conectan-
do-me ao campo epistemológico do Construcionismo Social, defendo que a construção da
identidade sexuais e de gênero não pode ser isolada das trajetórias sociais pessoais – inclu-
indo suas redes de sociabilidade, sua inserção em comunidades culturais e sua trajetória de
carreira –, questiono o uso de categorias como “travesti”, “transexual”, “homossexual” e
“transformista” como definidoras de identidades evidentes isoladamente. Proponho a inves-
tigação do transformismo, como forma de lançar um outro olhar para as vivências subjeti-
vas, uma vez que amplia os significados sexuais e de gênero compartilhados intersubjetiva-
mente em cenários localizados, bem como compreende esses contextos como espaços de
criação de novos significados sociais. Para esse escopo, traço rotas epistêmicas de compre-
ensão do transformismo dentro de uma etnogênese da comunidade LGBT brasileira, enten-
dendo-a como uma pesquisa genealógica decolonial e tomando o conceito de “entre-lugar”
como operador de leitura.
Palavras-chave: Transformismo; Identidade; Comunidade LGBT Brasileira; Etnogênese
Abstract
In this study, my aim is to portray routes to an investigation of the Brazilian art of trans-
vestism. In approaching to the epistemological field of social constructionism, I argue that
the construction of sexual and gender identity cannot be isolated from personal social tra-
jectory - including their social networks, their integration in cultural communities and
their own course of career - I question the use of categories like "transvestite", "transsexu-
al", "homosexual" and "transformista" as they define evident isolated identities. I propose
the investigation of the Brazilian art of transvestism as a way to look, from a different
point of view, at the subjective experiences as it extends the sexual and gender meanings
shared intersubjectively in localized scenarios and understand these contexts as spaces for
creating new social meanings. Therefore, I introduce epistemic routes to comprehending
the art of transvestism within an ethnogenesis of the Brazilian LGBT community, under-
standing it as a decolonial genealogy research and taking the concept of "the space in-
between" as reading operator.
Keywords: Identity; Brazilian LGBT Community; Ethnogenesis
124 Bortolozzi, Remom Matheus
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formista Laura de Vision. Ela utilizava uma às vezes, por ser travesti” (Cavalcanti, 2009,
identidade masculina durante o dia, traba- p. 58).
lhando como professor de história, e durante
O Miss Gay Brasil, o mais importante concurso
a noite atuava como ousada performer com
de transformismo brasileiro, é um exemplo
uso de uma identidade feminina. Contudo, a
notório da dificuldade de construir uma con-
artista não possuía somente intervenções le-
ceptualização rígida da categoria transformis-
ves, mas realizou uma intervenção cirúrgica
ta. O Miss Gay, que acontece na cidade de Ju-
“irreversível” colocando silicone em seus
iz de Fora desde 1976, possui regras rígidas
seios. Aliás, enquadrando as performances
que impedem entre as suas concorrentes pes-
que fazia como arte transformista, Laura de
soas com transformações corporais permanen-
Vison já antecipava há pelo menos duas déca-
tes. Por outro lado, contraditoriamente, se
das os tipos de performances surreais que se-
mapearmos as artistas transformistas mais re-
riam definidas com drag queen, quando esse
conhecidas no Brasil – Rogéria, Divina Valéria,
conceito foi importado dos Estados Unidos da
Jane di Castro, Cláudia Celeste, Divina Aloma
América para o Brasil na década de 90. A dis-
– veremos que todas possuem transformações
tinção que costuma ser apresentada entre
corporais com uso de silicone e/ou hormô-
“transformistas” e drag queens se realiza em
nios.
torno das diferenças das linguagens artísticas.
Embora ambas as práticas busquem construir Rogéria, a transformista mais famosa do Brasil
cenicamente personas femininas, costuma-se (que não somente é um ícone da comunidade
afirmar que as drag queens o fazem de forma LGBT, mas passou a ter grande inserção na
caricata e exagerada, usando signos que re- mídia de massa ao ser reconhecida como uma
metem a características surreais. Conforme grande atriz brasileira) tem possivelmente
afirma José Juliano Barbosa Gadelha, “o cor- uma das trajetórias identitárias mais comple-
po montado de uma drag pode ter asas como xas. Rogéria, em suas falas públicas, se iden-
as de um dragão; possuir seios; ter chifres; tifica simultaneamente como gay – “Você vê
seus olhos podem ser marrons, vermelhos, vi- que nós, gays, não temos ídolos homens. Não
oletas ou de qualquer outra cor” (Gadelha, nos interessa.” – (Sérgio, 1979, p. 32); como
2007, p. 10). Contudo, ao observar o trabalho homem viril – “Ser gay não anula o fato de eu
de artistas transformistas como a Laura de Vi- ser homem. Meto a porrada mesmo! Com es-
sion, essa distinção também perde o sentido, sas unhas, então, você imagina...” (Andrade,
haja vista que o deslocamento de signos de 2013); como mulher – “Daqui para frente só
gênero a partir de elementos de humor, sur- tem Rogéria, a mulher.” – (Kalil, 1973, p. 74);
realidade, absurdo ou fantasia já compunham como artista transformista – “Na [minha] lápi-
a arte transformista brasileira há décadas. de, estaria escrito: Aqui jaz a maior estrela
do transformismo nacional’” (Andrade, 2013)
Também é importante salientar que a autoi-
– e como travesti – “Porque eu tenho horror
dentificação como transformista (ou drag
que as pessoas pensem que meu sucesso é
queen) pode conviver com a autoidentificação
porque eu sou travesti” (Rogéria Super Star:
como travesti ou transexual. Em uma série de
Confissões íntimas da camisa 10 das travestis,
entrevistas realizadas por Gabriel Cavalcanti
1981, p. 9). Rogéria iniciou um processo de
com artistas transformistas da cidade de São
hormonização passando a aparecer socialmen-
Paulo, vemos que muitas delas também se
te como mulher cotidianamente – “comecei a
identificam como transexual ou como traves-
realmente me vestir de mulher e agir como
ti. Gretta Star, por exemplo, uma conhecida
uma mulher dia e noite, com hormônios femi-
drag queen da cidade, afirma-se como tran-
ninos” (Rogéria, 1973, p. 7), ao mesmo tempo
sexual, conforme podemos ver em sua respos-
em que em quase todas suas entrevistas afir-
ta ao ser perguntada sobre como tinha “des-
ma seu nome masculino de registro civil como
coberto” a sua identidade: “Não houve des-
parte de sua identidade: Astolfo Barroso Pin-
coberta, foi natural. A única sensação dife-
to. Porém, é revelador que, diante das oposi-
rente era de ser assexuada [...] Quando veio a
ções entre homem e mulher, viril e gay, tra-
certeza, a transexualidade já estava instaura-
vesti e transexual, Rogéria escolha como sua
da” (Cavalcanti, 2009, p. 51). Por sua vez,
maior definição “artista”. Como afirma Rogé-
Michelly Summers, também conhecida drag
ria: “Não importa, não tenho esse tipo de
queen da noite paulistana, aponta em entre-
problema [preferir ser chamada de travesti ou
vista sua identificação como travesti: “Sofro
transformista]. Gosto quando me chamam de Quando investigadas por essa ótica, as distin-
artista.” (Andrade, 2013); ções entre uma transformista e uma travesti
nem sempre são nítidas. Inclusive, no Brasil,
A trajetória de Rogéria demonstra a comple-
apresentações de arte transformista eram
xidade do transformismo e de sua relação
também chamadas de “show de travestis”.
com a produção de identidades. O transfor-
Nas últimas décadas, o termo travesti passou
mismo se engendra nos entremeios das iden-
a se restringir a uma identidade social inde-
tidades travesti, transexual, homossexual e
pendente de trajetórias profissionais, locali-
artista, produzindo uma intersecção complexa
zando sujeitos políticos com demandas sociais
entre a vivência da sexualidade, das práticas
identificáveis a partir da vivência de uma
sociais, dos desejos, da construção da identi-
identidade de gênero específica. Nesse movi-
dade de gênero e de outras identidades soci-
mento, o debate da travestilidade (usada pa-
ais. Para a compreensão do fazer artístico
ra se referir a uma construção de uma identi-
transformista e de sua repercussão nas iden-
dade) passa a negar o debate do travestismo
tidades sociais – bem como, inversamente, da
(com o sufixo ismo significando, nesse contex-
repercussão da construção identitária no fa-
to, uma prática social). A arte transformista
zer artístico – é fundamental não considerar o
no Brasil inclui as práticas do travestismo ar-
processo de construção identitária no âmbito
tístico, dos “shows de travestis”, englobando
da sexualidade e do gênero de forma isolada
nessas atividades pessoas que se identificam e
das trajetórias sociais. Dessa forma, conecto-
identificam seu fazer de variadas formas: ator
me as premissas de autores e autoras do cam-
transformista, atriz transformista, travesti,
po epistemológico do Construcionismo Social,
drag queen etc. É a partir da investigação de
compreendendo que nada na construção da
como na vida dessas pessoas se relacionam a
subjetividade pode ser lido como intrinseca-
construção da trajetória de carreira e a cons-
mente sexual (e sexuado) e alheio das demais
trução de trajetórias de gênero e sexualida-
atividades sociais. (Costa, 1995; Paiva, 2008;
de, que esses termos ganham sentido – nunca
Parker, 2002; Weeks, 1996/2013).
isoladamente.
Um exemplo de como identidades sexuais e
As críticas à Sarita realizadas na matéria pu-
de gênero são impactadas por trajetórias pro-
blicada na Folha de São Paulo assumem outra
fissionais está no relato do ator Silvério Perei-
compreensão das identidades, nessa há a ex-
ra (2013), no início de seu monólogo BR
pectativa de encontrar na personagem a re-
Trans. Silvério Pereira, criador do Coletivo Ar-
presentação de um sujeito que seja verdadei-
tístico “As Travestidas” dedicado à investiga-
ramente-transexual, verdadeiramente-
ção da arte transformista, inicia sua peça com
travesti, verdadeiramente-gay, verdadeira-
um relato autobiográfico sobre como se deu a
mente-transformista ou verdadeiramente-
criação de sua personagem Gisele Almodovar,
drag-queen. O que se coloca como plano de
após passar a conviver com travestis e trans-
fundo é uma concepção das identidades sexu-
formistas: “Gisele nasce como uma persona-
ais e de gênero como verdade de um sujeito e
gem, mas com o passar do tempo ela ganha
a sua afirmação em comunidade como revela-
uma proporção na minha vida que hoje eu não
ção de uma descoberta: eu não me torno,
sei dizer exatamente onde começa o Silvério
mas me descubro. Em oposição a essa pers-
e onde termina a Gisele.” (Pereira, 2013) Cita
pectiva, considero elucidativa a metáfora
situações cotidianas em que a dupla identida-
agenciada por Jurandir Freire Costa para ex-
de se turva e a construção de Gisele se imis-
por a construção de um sujeito como um pro-
cui no cotidiano de Silvério, como quando es-
cesso permanente de subjetivação. Segundo
quece de tirar o esmalte das unhas depois de
Costa (1995), não há nos sujeitos um núcleo
uma noite de personificação de Gisele e en-
de sua verdade sexual à espera de uma reve-
frenta os olhares estranhos no dia seguinte
lação – expectativa que existiria na psicanáli-
quando as unhas femininas destoam de seu
se – ou de identificação – expectativa que
corpo “vestido de Silvério”. Como continua
existiria na sexologia; o sujeito seria mais
Silvério-Gisele, “nem eu mesmo sei naquele
como uma cebola, cujas camadas não levam a
momento que parte do corpo é o Silvério, que
um núcleo mais profundo, mas somente a ou-
parte do corpo é a Gisele.” (Pereira, 2013)
tras camadas. O que é mais superficial ou
Enfim, Gisele-Silvério poderia ser Sarita Vitti
mais profundo inclusive se altera ao longo de
fazendo compras em uma mercearia.
uma trajetória individual, num processo de
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A Arte Transformista Brasileira: Rotas para uma genealogia decolonial 129
43) chamou de “sistemas de dispersão”, afas- companhias teatrais raramente contavam com
tando-se de “cadeias de inferência” (que cos- atrizes e, entre seus atores, sua grande maio-
tuma, segundo, Foucault ser a prática da filo- ria eram negros. Em 1780, um decreto chegou
sofia, mas acrescentaria também a psicanáli- a proibir judicialmente a presença de mulhe-
se em sua investigação da sexualidade e do res no palco. Outro espaço importantíssimo
gênero) e “quadros de diferenças” (que Fou- para o travestismo cênico brasileiro são os
cault associa a prática dos linguistas, mas que bailes de carnaval. Há registros de bailes tra-
também associaria a prática da sexologia). vestidos que datam 1884 (Trevisan,
1986/2000).
No caso da arte transformista brasileira, em-
bora o travestismo cênico existisse há séculos Trevisan (1986/2000) aponta que os espaços
no teatro e o transformismo desde o início do teatrais, sendo ambientes exclusivamente
século XX (Trastoy & Perla Zayas de Lima, masculinos e lascivos, comumente eram asso-
2006), as condições de sua emergência como ciados a práticas pederastas. Essa vinculação
espaço significativo para a cultura LGBT se entre teatro e práticas homossexuais, con-
engendram principalmente no período entre forme o autor, tornaria as entradas e os po-
1945 a 1969 (Parker, 2002; James Green, rões dos teatros em rotas do cenário homos-
1999). Inicialmente, dentro do teatro, trans- sexual. Contudo, o travestismo e o transfor-
formismo e travestismo se referiam a recursos mismo, enquanto gêneros ou recursos tea-
e técnicas teatrais bastante diferentes. O trais, não tinham uma necessária relação com
transformismo no teatro consistia na exibição uma homocultura ou com uma cultura trans-
de um ou uma comediante que interpretava gênera. Só encontramos no Brasil uma subcul-
inúmeros personagens diferentes numa mes- tura sexual organizada em torno de desejos e
ma peça. Trata-se de gênero de atuação no práticas sexuais com pessoas do mesmo sexo
qual é destacada a habilidade mimética e a no final do século XIX (Green, 2000) ou início
capacidade de mudança rápida dos trajes e do século XX (Parker, 2002) que coincidem
adereços em espetáculos que contam geral- com o início do período da República no Bra-
mente com a presença apenas do ator ou da sil. Tanto Richard Parker (2002) como James
atriz transformista (Trastoy & Zayas de Lima, Green (2000) defendem que essa subcultura
2006). O transformismo moderno data no co- sexual só se tornou mais variada e complexa a
meço do século XX com destaque para Leo- partir da década de 1940, não estando somen-
poldo Frégoli (1867-1936) e Fátima Miris te centrada em cenários sexuais escondidos e
(1882-1954). Ambos artistas se apresentaram adquirindo visibilidade e multidimensionali-
no Brasil em 1925 (Fátima Miris, 1925; No pal- dade, criando um mundo social que se de-
co as 20,45 estreia Fregoli, 1925). A vinda do compunha em várias subculturas. É esse o pe-
pai e da mãe do transformismo para o Brasil ríodo de maior industrialização brasileira que
contribuiu com a difusão desse termo no país. culmina na migração de massas e desenvolvi-
mento dos grandes centros urbanos nacionais.
O travestismo cênico, contudo, é anterior ao
Os complexos sistemas urbanos onde passam a
transformismo. A presença de atores de iden-
coabitar e se misturar uma diversidade de
tidade social cotidiana masculina interpre-
tradições sexuais, em conjunto ao anonimato
tando personagens femininas por meio de
da vida urbana e ao distanciamento familiar,
mudanças corporais, vestuário, maquiagem,
formando assim uma geografia sexual com-
gestos minunciosamente ensaiados e altera-
plexa que transformava o que antes eram so-
ção da voz é um recurso cênico utilizado no
mente encontros sexuais ocultos em um novo
teatro desde tempos da Grécia antiga
mundo social.
(Hirschfeld, 1910/1991), passando pelo teatro
japones Kabuki desde 1629 (Trastoy & Zayas Esses mundos sociais múltiplos, ou seja, essas
de Lima, 2006) e pertence a inúmeras monta- diversas subculturas eróticas, ganham novos
gens teatrais. No Brasil, desde os autos cate- contornos que não gravitam apenas entorno
quético dos jesuítas, havia homens interpre- dos desejos e práticas homoeróticas e de ex-
tando papéis femininos. Como aponta João periências de travestismos, mas também tor-
Silvério Trevisan (1986/2000), o teatro no nam-se culturas de resistência contra a vio-
Brasil Colônia era concebido como um espaço lência, estigma e opressão (Parker, 2002). Es-
imoral e de lascividade, sendo um local alta- sa cultura de resistência ocorria por meio de
mente desaconselhável para mulheres. As redes sociais de amigos que ofereciam apoio e
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uma esfera profissional: os concursos de fan- de época (Rodrigues, 2014). É importante sa-
tasias. Tanto Trevisan (1986/2000), como lientar que, nesse contexto, o termo gay ain-
Green (2000) nos apresentam o empenho de da estava em disputa no Brasil e significava
homossexuais com seus trajes femininos no uma comunidade mais ampla do que a identi-
carnaval desde a virada do século XX. Na dé- dade homossexual masculina. Se de um lado a
cada de 1940, os bailes de travestis começam noção de transformismo no Miss Gay excluía
a aparecer, porém é ao longo da década de performances de mulheres transexuais e tra-
1950 que esses bailes ganham projeção nacio- vestis, no final dos anos 70 e o início dos anos
nal e passam progressivamente a serem orga- 80, os espetáculos com as principais artistas
nizados por pessoas inseridas na comunidade transformistas do Brasil – todas com transfor-
LGBT. A adesão as festividades do carnaval mações corporais – usavam o adjetivo “gay”
carioca foi tão grande que, em 1970, os bailes como enfático marcador dessa arte e perfor-
de travestis passaram a fazer parte da pro- mance, tais como os famosos espetáculos Gay
gramação oficial (Green, 2000). Show, Gays Gilrs, Gay Fantasy, Hollywood
Gay, Video Gay e Rio Gay.
Os concursos de fantasias dos bailes de carna-
val era um espaço central onde a comunidade Esses são apenas alguns elementos que preci-
LGBT se fazia conhecer. Um exemplo foi João sam ser considerados para a construção de
Francisco dos Santos, ícone da marginalidade uma investigação genealógica decolonial da
carioca, que, em 1938, vence o concurso com emergência da arte transformista no Brasil.
sua fantasia de morcego com lantejoulas e Trata-se de uma história que ainda precisa ser
passa a ser conhecida como Madame Satã. Pa- construída. Para nortear as rotas dessa inves-
ra se ter ideia da importância desses desfiles tigação é fundamental compreender que a
para a prática de um transformismo profissio- transformismo não se configura como uma
nalizado, Green (2000) relata que no concurso identidade fixa, mas como um entre-lugar on-
de fantasias no baile do Teatro João Caetano de para as identidades se constroem em meio
de 1953, o segundo lugar foi para um rapaz do a estratégias de resistência cultural e políti-
Rio Grande no Norte que havia gastado 70 mil ca, onde se esperam a identidade e o idênti-
cruzeiros para confeccionar sua fantasia, uma co, vemos a arte e as artistas.
fortuna para época. Anos após, as fantasias se
tornavam tão sofisticadas, que um candidato Referências
por vezes precisava de três a quatro auxilia- Andrade, Naiara (2013, 19 de maio de 2013). 'Ser
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DIRECCIÓN DE CONTACTO
remombortolozzi@gmail.com
FORMATO DE CITACIÓN
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HISTORIA EDITORIAL
Recibido: 30/04/2015
1º Revisión: 12/10/2015
Aceptado: 19/11/2015
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