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DIREITO

AMBIENTAL

INTRODUÇÃO sumo, e proteger os recursos naturais. físico), que consiste nos elementos
No plano interno, apenas em 1981 que existem mesmo sem influência
O estudo do meio ambiente sempre apareceu uma lei preocupada com a do homem. Ex.: solo, água, ar, fau-
foi chamado de “ecologia”, palavra proteção ambiental em geral, a Lei de na e flora. b) meio ambiente artifi-
criada a partir das expressões gre- Política Nacional do Meio Ambiente cial, que consiste no espaço cons-
gas oikos (casa) e logia (estudo), (Lei 6.938/81). De lá para cá, como se
resultando na idéia de “estudo da truído pelo homem, na interação
verá em capítulo próprio, diversas leis com a natureza. Ex.: edificações e
casa”. Essa palavra é utilizada des-
cuidaram do assunto. espaços públicos abertos. c) meio
de o século XIX, como ramo da Bio-
Não adotamos uma visão ecocêntrica, ambiente cultural, que consiste no
logia. Já o estudo do meio ambien-
ou seja, a de que todas as formas de espaço construído pelo homem, na
te, em termos legais, é bem recen-
te. Até pouco tempo atrás sequer vida devem ser preservadas. Adotamos interação com a natureza, mas que
havia lei que tratasse do Direito Am- uma visão antropocêntrica, ou seja, a detém um valor agregado especial,
biental. de que o homem é o centro da preo- por ser referência ligada à memória,
No plano mundial, o primeiro gran- cupação ambiental. Todavia, há hoje aos costumes ou aos marcos da
de marco dessa preocupação foi a uma evolução da visão adotada, com vida humana. Ex.: patrimônio histó-
Conferência de Estocolmo (1972), a idéia de antropocentrismo alargado rico, arqueológico, artístico, paisa-
na qual foi feita a “Declaração do ou holístico, para o fim de reconhecer gístico e cultural. d) meio ambiente
Meio Ambiente” e asseverou-se do trabalho, que consiste lugar
o valor intrínseco do meio ambiente, in-
a importância de compatibilizar o onde o ser humano exerce suas
dependente do valor que ele tem para
desenvolvimento com a proteção atividades laborais. Pode ser tanto
o ser humano. um lugar aberto, como um prédio. A
ambiental, dando início ao estudo
do princípio do desenvolvimento CONCEITOS BÁSICOS idéia, aqui, é preservar a saúde, a
sustentável e a disseminação de segurança e o bem-estar do traba-
1. Meio Ambiente. lhador no seu ambiente de trabalho.
leis ambientais nas legislações es-
trangeiras. 1.1. Conceito. 1.3. Natureza do bem ambiental:
Em 1992, o Brasil sediou a segunda O meio ambiente pode ser conceito Para fins processuais, o meio am-
grande conferência mundial sobre o como o conjunto de condições, leis, in- biente ecologicamente equilibrado é
meio ambiente (a Rio-92), conferên- fluências e interações de ordem física, um bem difuso.
cia que resultou na “Declaração do química e biológica que permite, abriga Já quanto à titularidade, pode ser
Rio”, que consagrou o princípio do e rege a vida em todas as suas formas bem público ou privado. Quando
desenvolvimento sustentável. Na . Este é o conceito trazido no art. 3o, I, a Constituição dispõe que o meio
ocasião ficou acordada a aprova- da Lei 6.938/81. Note que o conceito ambiente ecologicamente equilibra-
ção de um documento com compro- engloba tanto os elementos vivos ou do é bem de uso comum do povo,
missos para um futuro sustentável, não da natureza, como também aque- não está dizendo que é um bem
a Agenda 21. les que abrigam qualquer tipo de vida, público, mas que Estado e povo
Em 2002, a África do Sul sediou a o que inclui espaços artificiais, ou seja, têm direito de exigir sua proteção (e
terceira conferência mundial sobre espaços criados pelo homem. o dever de protegê-lo) e de usá-lo
o meio ambiente (a Rio+10). Dela 1.2. Espécies de bens ambientais. direta ou indiretamente, na medida
resultou uma declaração política, O meio ambiente não se limita aos re- em que dependemos dele para nos-
“O Compromisso de Joanesburgo cursos naturais. O meio ambiente en- sa sobrevivência.
sobre Desenvolvimento Sustentá- globa também todos aqueles elemen-
vel”, e um plano de implementação, tos que contribuem para o bem-estar 2. Poluição e degradação do meio
cujos objetivos maiores são erradi- e a felicidade humana Assim, os bens ambiente.
car a pobreza, mudar os padrões ambientais podem ser de três espé- Há dois conceitos que devem ser
insustentáveis de produção e con- cies: a) meio ambiente natural (ou diferenciados. São os de degra-
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dação da qualidade ambiental e patrimônios nacionais especialmente criações, além da proteção empre-
de poluição. Enquanto a primeira protegidos; repare que o Cerrado e a sarial, são patrimônio cultural brasi-
consiste na alteração adversa do Caatinga são ecossistemas que não leiro);
meio ambiente, a segunda significa foram considerados, pela Constitui- IV - as obras, objetos, documentos,
a mesma alteração, mas provocada ção, como patrimônio nacional; g) são edificações e demais espaços des-
por uma atividade, vale dizer, por indisponíveis as terras devolutas ou tinados às manifestações artístico-
uma conduta humana (art. 3º, II e arrecadas pelos Estados, por ações culturais;
III). discriminatórias, necessárias à prote- V - os conjuntos urbanos e sítios de
Já o poluidor, de acordo com a lei, ção dos ecossistemas naturais; h) as valor histórico, paisagístico, artís-
pode ser tanto uma pessoa física usinas que operem com reator nuclear tico, arqueológico, paleontológico,
como uma pessoa jurídica, pública deverão ter sua localização definida ecológico e científico.
ou privada, responsável, direta ou em lei federal, sem o que não poderão O legitimado para a promoção e a
indiretamente, por atividade causa- ser instaladas. proteção desse patrimônio é o Po-
dora de degradação ambiental (art. O tratamento constitucional do meio der Público, em colaboração com a
3º. IV). ambiente está nos seguintes pontos: comunidade (art. 216, § 1º, CF).
DIREITO AMBIENTAL NA a) na tutela geral do meio ambiente E os instrumentos para a promo-
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (art. 225); b) no princípio da função so- ção e a proteção desse patrimônio
cial da propriedade (arts. 5º, XXIII, 182 são os seguintes: registros (ex:
1. Proteção geral do meio am- e 186); de criações científicas), vigilância,
biente. c) na enumeração dos bens da União tombamento (ex: do Pelourinho) e
A CF/88 traz verdadeira regra ma- (art. 20, II); d) na divisão de compe- desapropriação, e outras formas de
triz da proteção ambiental. Confira tência entre os entes federativos (arts. acautelamento e preservação” (art.
as regras nela expressas: a) o meio 21, XIX, 23, III, VI e VII, e 24, VI, VII 216, § 1º, CF).
ambiente ecologicamente equili- e VIII); e) na possibilidade de instaurar LINK ACADÊMICO 1
brado é tanto um direito como um inquérito civil e ação civil pública para
COMPETÊNCIA EM
dever de todos, inclusive do Estado; a proteção do meio ambiente (art. 129, MATÉRIA AMBIENTAL
as futuras gerações também têm III); f) na regulamentação da ordem
esse direito; b) o poder público tem econômica (art. 170, VI); g) na atribui- A Constituição também traça a com-
deveres específicos de proteção, ção do sistema único de saúde de co- petência em matéria ambiental, que
como restaurar processos ecoló- laborar na proteção do meio ambiente, se divide em competência legislati-
gicos essenciais, prover o manejo nele compreendido o do trabalho (art. va e administrativa.
ecológico, preservar a integridade 200, VIII); h) na proteção do patrimônio Comecemos com a competência
do patrimônio genético, fiscalizar a cultural (art. 216); i) nas restrições às administrativa (que, por óbvio, de-
manipulação de material genético, propagandas (art. 220, § 3º, II); j) na pende da edição de leis para que
definir espaços de conservação es- definição das terras ocupadas pelos ín- seja exercida), em que se confere o
pecialmente protegidos, exigir estu- dios (231, § 1º). dever-poder de agir na matéria meio
dos prévios de impacto ambiental, ambiente a todos os entes da fede-
controlar determinadas atividades, 2. Proteção do patrimônio cultural. ração. Segundo o art. 23 da Cons-
promover a educação ambiental A Constituição tratou, de modo espe- tituição, é competência comum
etc. c) a responsabilidade civil é cial, da proteção do meio ambiente da União, dos Estados, do Distrito
objetiva; a reparação do dano deve cultural. Federal e dos Municípios proteger e
importar na recuperação do bem De acordo com o caput do dispositivo, preservar o meio ambiente.
violado, de acordo com a solução constituem patrimônio cultural brasi- Assim, em matéria de fiscalização,
técnica exigida pelo órgão público leiro os bens de natureza material ou por exemplo, são competentes para
competente, não sendo suficiente imaterial, tomados individualmente ou a imposição de sanções agentes
a mera conversão da obrigação em em conjunto, portadores de referência públicos de todos os entes federa-
perdas e danos; d) os causadores à identidade, à ação, à memória dos tivos. Pode um agente municipal,
de danos ambientais também pode- diferentes grupos formadores da socie- portanto, aplicar sanção prevista
rão responder na esfera penal; as dade brasileira, nos quais se incluem: em lei federal ambiental (por ex., na
pessoas jurídicas também poderão I - as formas de expressão (ex: música, Lei 9.605/98).
responder na esfera criminal; e) as teatro e literatura); Já quanto à competência legislati-
responsabilidades civil, administra- II - os modos de criar, fazer e viver (ex: va, temos, num primeiro momento,
tiva e criminal são independentes; f) costumes indígenas ou de uma comu- competência concorrente entre
a Floresta Amazônica, a Mata Atlân- nidade de pescadores); a União (que edita leis gerais) e os
tica, a Serra do Mar, o Pantanal Ma- III - as criações científicas, artísticas e Estados e o Distrito Federal (que
to-Grossense e a Zona Costeira são tecnológicas (obs: repare que essas suplementam a legislação federal).
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Na falta de norma geral da União, vistos em capítulo próprio. as medidas adequadas para que o
os Estados exercerão a competên- suposto dano de fato não ocorra. A
cia legislativa plena para atender 4. Princípio da participação coletiva idéia aqui é eliminar que o próprio
a suas peculiaridades. Porém, a ou da cooperação de todos: é aque- perigo possa se concretizar.
superveniência de lei federal sobre le que impõe à coletividade (além do
normas gerais suspende a eficácia Estado) o dever de garantir e participar 7. Princípio da educação ambien-
da lei estadual, no que contrariar. da proteção do meio ambiente. O prin- tal: é aquele que impõe ao poder
Por fim, ainda no plano legislati- cípio princípio cria deveres (preservar público o dever de promover a edu-
vo, vale lembrar que o Município o meio ambiente) e direitos (participar cação ambiental em todos os níveis
poderá legislar sobre matéria am- de órgãos colegiados e audiências pú- de ensino e a conscientização pú-
biental (a princípio, competência blicas, p. ex.). blica para a preservação do meio
da União, dos Estados e do Distrito ambiente. Perceba que a educação
Federal) em questões de interesse 5. Princípio da responsabilidade ambiental deve estar presente em
peculiar ao respectivo ente, vale di- objetiva e da reparação integral: é todos os níveis de educação (infan-
zer, em questões de interesse local, aquele que impõe o dever de qualquer til, fundamental e médio).
específico daquele Município, sem pessoa responder integralmente pelos
prejuízo da edição de leis que visem danos que causar ao meio ambiente, 8. Princípio do direito humano
suplementar a legislação federal e independentemente de prova de cul- fundamental: é aquele pelo qual
estadual, no que couber, ou seja, pa ou dolo. Perceba que a proteção é os seres humanos tem direito a
quanto a questões de interesse lo- dupla. Em primeiro lugar, fixa-se que uma vida saudável e produtiva, em
cal (art. 30, I e II, da CF). a responsabilidade é objetiva, o que harmonia com o meio ambiente. De
impede que o causador do dano deixe acordo com o princípio, as pessoas
PRINCÍPIOS DO DIREITO
AMBIENTAL de ter a obrigação de repará-lo sob o tem direito ao meio ambiente ecolo-
argumento de que não agiu com culpa gicamente equilibrado.
1. Princípio do desenvolvimento ou dolo. Em segundo lugar, a obriga-
sustentado: é aquele que determi- ção de reparar o dano não se limita a 9. Princípio da ubiqüidade: é
na a harmonização entre o desen- pagar uma indenização, mas impõe aquele pelo qual as questões am-
volvimento econômico e social e a que a reparação seja específica, isto bientais deve ser consideradas em
garantia da perenidade dos recur- é, deve-se buscar a restauração ou todas atividades humanas. Ubiqüi-
sos ambientais. Tem raízes na Car- recuperação do bem ambiental lesado, dade quer dizer existir concomitan-
ta de Estocolmo (1972) e foi consa- procurando, assim, retornar à situação temente em todos os lugares. De
grado na ECO-92. anterior. fato, o meio ambiente está em todos
os lugares, de modo que qualquer
2. Princípio do poluidor-pagador: 6. Princípio da prevenção: é aquele atividade deve ser feita com respei-
é aquele que impõe ao poluidor tan- que impõe à coletividade e ao poder to a sua proteção e promoção.
to o dever de prevenir a ocorrência público a tomada de medidas prévias
de danos ambientais, como o de para garantir o meio ambiente ecologi- 10. Princípio do usuário-pagador:
reparar integralmente eventuais da- camente equilibrado para as presentes é aquele pelo qual as pessoas que
nos que causar com sua conduta. e futuras gerações. A doutrina faz uma usam recursos naturais devem pa-
O princípio não permite a poluição, distinção entre este princípio e o prin- gar por tal utilização. Esse princípio
conduta absolutamente vedada e cípio da precaução. O primeiro incide difere do princípio do princípio do
passível de diversas e severas san- naquelas hipóteses em que se tem cer- poluidor-pagador, pois o segun-
ções. Ele apenas reafirma o dever teza de que dada conduta causará um do diz respeito a condutas ilícitas
de prevenção e de reparação inte- dano ambiental. O princípio da preven- ambientalmente, ao passo que
gral por parte de quem pratica ativi- ção atuará de forma a evitar que o dano o primeiro a condutas lícitas am-
dade que possa poluir. seja causado, impondo licenciamentos, bientalmente. Assim, aquele que
estudos de impacto ambiental, refor- polui (conduta ilícita), deve reparar
3. Princípio da obrigatoriedade mulações de projeto, sanções adminis- o dano, pelo princípio do poluidor-
da intervenção estatal: é aquele trativas etc. A idéia aqui é eliminar os pagador. Já aquele que usa água
que impõe ao Estado o dever de perigos já comprovados. Já o segundo (conduta lícita) deve pagar pelo
garantir o meio ambiente ecologica- incide naquelas hipóteses de incerteza seu uso, pelo princípio do usuário-
mente equilibrado para as presen- científica sobre se dada conduta pode pagador. A idéia é que o usuário
tes e futuras gerações. O princípio ou não causar um dano ao meio am- pague com o objetivo de incentivar
impõe ao poder público a utilização biente. O princípio da precaução atua- o uso racional dos recursos natu-
de diversos instrumentos para pro- rá no sentido de que, na dúvida, deve- rais, além de fazer justiça, pois há
teger o meio ambiente, que serão se ficar com o meio ambiente, tomando pessoas que usam mais e pessoas
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que usam menos dados recursos Ambiente (SISNAMA), que pode ser (trata-se quase de uma “legislação”
naturais. conceituado como o conjunto articu- sobre padrões ambientais a serem
lado de órgãos e entidades da União, seguidos em diversas atividades
11. Princípio da informação e da dos Estados, do Distrito Federal, dos que utilizam recursos ambientais),
transparência das informações e Territórios e dos Municípios, bem como de estabelecer normas para o licen-
atos: é aquele pelo qual as pesso- as fundações instituídas pelo Poder ciamento ambiental e o estudo de
as têm direito de receber todas as Público, responsáveis pela proteção e impacto ambiental, e de servir de
informações relativas à proteção, melhoria da qualidade ambiental (art. última instância administrativa nos
preventiva e repressiva, do meio 6º da Lei 6.938/81). recurso sobre penas impostas pelo
ambiente. Assim, pelo princípio, as A estrutura do SISNAMA é a seguinte: IBAMA. O CONAMA expede reso-
pessoas têm direito de consultar os a) Órgão Superior: é o Conselho de luções.
documentos de um licenciamento Governo - CG, que tem a função de as- Confira os instrumentos legais
ambiental, assim como têm direito sessorar o Presidente da República na colocados à disposição dos órgãos
de participar de consultas e de audi- formulação da política nacional e nas do SISNAMA: a) licenciamento e
ências públicas em matéria de meio diretrizes governamentais para o meio revisão de atividades efetiva ou
ambiente. ambiente e os recursos ambientais. b) potencialmente poluidoras; b)
Órgão Consultivo e Deliberativo: é o avaliação de impactos ambien-
12. Princípio da função sócio-am- Conselho Nacional do Meio Ambiente tais; c) criação de espaços terri-
biental da propriedade: é aquele toriais especialmente protegidos
– CONAMA, que tem a finalidade de
pelo qual a propriedade deve ser pelo poder público federal, esta-
assessorar, estudar e propor ao CG
utilizada de modo sustentável, com dual e municipal; d) zoneamento
diretrizes de políticas governamentais
vistas não só ao bem-estar do pro- ambiental; e) utilização de instru-
para o meio ambiente e os recursos
prietário, mas também da coletivi- mentos econômicos, como con-
naturais, e deliberar, no âmbito de sua
dade como um todo. cessão florestal, servidão am-
competência, sobre normas e padrões
13. Princípio da eqüidade geracio- biental, seguro ambiental e ou-
ambientais. c) Órgão Central: é o Mi-
nal: é aquele pelo qual as presentes tros; f) normatização de padrões
e futuras gerações tem os mesmos nistério do Meio Ambiente, que tem a fi-
de qualidade ambiental; g) tom-
direitos quanto ao meio ambiente nalidade de planejar, coordenar, super-
bamento; h) responsabilidade
ecologicamente equilibrado. Assim, visionar e controlar a política nacional ambiental de natureza civil, ad-
a utilização de recursos naturais e as diretrizes governamentais fixadas ministrativa e penal; i) incentivos
para a satisfação das necessidades para o meio ambiente. d) Órgão Exe- à produção e instalação de equipa-
atuais não deverá comprometer a cutor: é o Instituto Nacional do Meio mentos e à criação voltados para
possibilidade das gerações futuras Ambiente e dos Recursos Renováveis a melhoria ambiental; manutenção
satisfazerem suas necessidades. – IBAMA, autarquia federal que tem a de um sistema nacional de informa-
O princípio impõe, também, eqüi- finalidade de executar e fazer execu- ções sobre o meio ambiente; ma-
dade na distribuição de benefícios tar, como ente federal, a política e di- nutenção do Cadastro Técnico Fe-
e custos entre gerações, quanto à retrizes governamentais fixadas para deral de Atividades e Instrumentos
preservação ambiental. o meio ambiente. e) Órgãos Seccio- de Defesa Ambiental, bem como de
LINK ACADÊMICO 2 nais: são os órgãos ou entidades esta- Cadastro Técnico de atividades po-
duais responsáveis pela execução de tencialmente poluidoras; instituição
POLÍTICA NACIONAL DO
MEIO AMBIENTE (PNMA) programas, projetos e pelo controle e do Relatório de Qualidade Ambien-
fiscalização de atividades capazes de tal do Meio Ambiente, a ser divulga-
A Política Nacional do Meio Ambien- provocar a degradação ambiental. Ex.: do anualmente pelo IBAMA.
te (PNMS) pode ser conceituada Secretarias Estaduais do Meio Am- Os oito instrumentos grifados serão
como aquela que tem por objetivo biente, Conselhos Estaduais do Meio analisados um a um nos próximos
a preservação, melhoria e recupe- Ambiente, dentre outros. f) Órgãos capítulos.
ração da qualidade ambiental pro- locais: são os órgãos ou entidades LINK ACADÊMICO 3
pícia à vida, visando assegurar, no municipais, responsáveis pelo controle
LICENCIAMENTO
país, condições ao desenvolvimen- e fiscalização dessas atividades, nas AMBIENTAL
to sócio-econômico, aos interesses suas respectivas circunscrições. Ex.:
da segurança nacional e à proteção Secretaria Municipal do Meio Ambien- O licenciamento ambiental pode ser
da dignidade da vida humana (art. te. conceituado como o ato unilateral
2o da Lei 6.938/81). Tem papel de destaque no SISNAMA do Poder Público, que faculta pre-
Para que a PNMA fosse implemen- o CONAMA. Destacam-se na sua viamente ao interessado a constru-
tada, foi criado um sistema, denomi- competência as atribuições de expedir ção, instalação, ampliação e fun-
nado de Sistema Nacional do Meio normas acerca de padrões ambientais cionamento de estabelecimentos e
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atividades utilizadores de recursos Por exemplo, em se tratando do pro- Ambiental (AIA). Há, contudo, ativi-
ambientais, considerados capazes jeto de construir um empreendimento dades que, potencialmente, podem
de causar degradação ambiental imobiliário na beira de uma praia, esta causar danos significativos ao meio
(art. 10 da Lei 6.938/81). Assim, licença dirá se é possível o empreendi- ambiente, ocasião em que, além do
toda vez que uma determinada ati- mento no local e, em sendo, quais os licenciamento, deve-se proceder a
vidade puder causar degradação limites e quais as medidas que deve- uma AIA mais rigorosa e detalha-
ambiental, além das licenças admi- rão ser tomadas, como construção de da, denominada Estudo de Impacto
nistrativas pertinentes, o responsá- estradas, instalação de tratamento de Ambiental (EIA), que será consubs-
vel pela atividade deve buscar a ne- esgoto próprio etc. Essa licença tem tanciado no Relatório de Impacto
cessária licença ambiental também. validade de até 5 anos. b) Licença de Ambiental (RIMA).
A regulamentação do licenciamen- Instalação (LI): é o ato que autoriza a O EIA pode ser conceituado como
to ambiental compete ao CONA- implantação do empreendimento, de o estudo prévio das prováveis con-
MA, que expede normas e critérios acordo com o projeto executivo aprova- seqüências ambientais de obra ou
para o licenciamento. A Resolução do. Depende da demonstração de pos- atividade, que deve ser exigido pelo
nº 237 do órgão traz as normas sibilidade de efetivação do empreendi- Poder Público, quando estas forem
gerais de licenciamento ambiental. mento, analisando o projeto executivo potencialmente causadoras de sig-
Há também sobre o tema o Decreto e eventual estudo de impacto ambien- nificativa degradação do meio am-
99.274/90. tal. Essa licença autoriza as interven- biente (art. 225, § 1o, IV, CF).
Já a competência para executar ções no local. Permite que as obras se Destina-se a averiguar as altera-
o licenciamento ambiental é assim desenvolvam. Sua validade é de até 6 ções nas propriedades do local e
dividida: a) impacto nacional e anos. c) Licença de Operação (LO): de que forma tais alterações po-
regional: é do IBAMA, com a cola- é o ato que autoriza o início da ativi- dem afetar as pessoas e o meio
boração de Estados e Municípios. O dade e o funcionamento de seus equi- ambiente, o que permitirá ter uma
IBAMA poderá delegar sua compe- pamentos de controle de poluição, nos idéia acerca da viabilidade da obra
tência aos Estados, se o dano for de termos das licenças anteriores. Aqui, o ou atividade que se deseja realizar.
regional, por convênio ou lei. Assim, empreendimento já está pronto e pode O Decreto 99.274/90 conferiu ao
a competência para o licenciamento funcionar. A licença de operação só é CONAMA atribuição para traçar as
ambiental de uma obra do porte da concedida se for constado o respeito regras de tal estudo. A Resolução
transposição do Rio São Francisco às licenças anteriores, bem como se 1/86, desse órgão, traça tais dire-
é do IBAMA. não houver perigo de dano ambiental, trizes, estabelecendo, por exem-
b) impacto em dois ou mais muni- independentemente das licenças ante- plo, um rol exemplificativo de ativi-
cípios (impacto microrregional): riores. Sua validade é de 4 a 10 anos. dades que devem passar por um
é dos estados-membros. Por exem- É importante ressaltar que a licença EIA, apontando-se, dentre outras,
plo, uma estrada que liga 6 municí- ambiental, diferentemente da licença a implantação de estradas com
pios de um dado estado-membro.c) administrativa (por ex., licença para duas ou mais faixas de rolamento,
impacto local: é do Município. Por construir uma casa), apesar de nor- de ferrovias, de portos, de aterros
exemplo, o licenciamento para a malmente envolver competência vin- sanitários, de usina de geração de
construção de um parque temático. culada, tem prazo de validade definida eletricidade, de distritos industriais
A Resolução n. 237 permite que, e não gera direito adquirido para seu etc.
por convênio ou lei, os Municípios beneficiário. Assim, de tempos em O EIA trará conclusões quanto à fau-
recebam delegação dos estados tempos a licença ambiental deve ser na, à flora, às comunidades locais,
para determinados licenciamentos, renovada. Além disso, mesmo que o dentre outros aspectos, devendo
desde que tenha estrutura para tan- empreendedor tenha cumprido os re- ser realizado por equipe multidisci-
to. quisitos da licença, caso, ainda assim, plinar, que, ao final, deverá redigir
Há três espécies de licencia- tenha sido causado dano ao meio am- um relatório de impacto ambiental
mento ambiental (art. 19, Decreto biente, a existência de licença em seu (RIMA), o qual trará os levantamen-
99.274/90): a) Licença Prévia favor não o exime de reparar o dano e tos e conclusões feitos, devendo o
(LP): é o ato que aprova a locali- de tomar as medidas adequadas à re- órgão público licenciador receber o
zação, a concepção do empreen- cuperação do meio ambiente. relatório para análise das condições
dimento e estabelece os requisitos O licenciamento ambiental, como se do empreendimento.
básicos a serem atendidos nas viu, é obrigatório para todas as ativida- O empreendedor é quem escolhe os
próximas fases; trata-se de licença des que utilizam recursos ambientais, componentes da equipe e é quem
ligada à fase preliminar de planeja- em que há possibilidade de se causar arca com os custos respectivos. Os
mento da atividade, já que traça di- dano ao meio ambiente. Em processos profissionais que farão o trabalho
retrizes relacionadas à localização de licenciamento ambiental é comum terão todo interesse em agir com
e instalação do empreendimento. se proceder a Avaliações de Impacto correção, pois fazem seus relatórios
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sob as penas da lei. Como regra, o atributos, sem interferência humana jetivos: proteger os meios de vida e
estudo de impacto ambiental e seu direta ou modificações ambientais, sal- cultura do povo, bem como o uso
relatório são públicos, podendo o vo medidas de recuperação e manejo sustentável. Área de domínio pú-
interessado solicitar sigilo industrial, necessárias para preservar a área. a3) blico, com uso concedido às popu-
fundamentando o pedido. Parque Nacional: tem por objetivo a lações; ou, se particulares, devem
O EIA normalmente é exigido antes preservação de ecossistemas naturais ser desapropriadas. b5) Reserva
da licença prévia, mas é cabível sua de grande relevância ecológica e bele- de Fauna: área natural com popu-
exigência mesmo para empreendi- za cênica, possibilitando a realização lações animais de espécies nativas
mentos já licenciados. de pesquisas e atividades de educa- adequadas para pesquisas sobre
ção, recreação e turismo ecológico. seu manejo econômico. A área deve
UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO - UCs a4) Monumento Natural: tem por ob- ser desapropriada, se for privada.
jetivo a preservação dos sítios naturais b6) Reserva de Desenvolvimen-
Unidade de conservação é o es- raros, singulares ou de grande beleza to Sustentável: área natural que
paço territorial e seus recursos cênica. Se o proprietário da área não abriga populações tradicionais, cuja
ambientais, incluindo as águas concordar com as limitações propostas existência se dá pela exploração
jurisdicionais, com características pelo Poder Público, a área será desa- sustentável dos recursos naturais,
naturais relevantes, legalmente propriada. a5) Refúgio de Vida Silves- com conhecimentos que devem
instituído pelo Poder Público, com tre: tem por objetivo a proteção de am- ser valorizados e aperfeiçoados,
objetivo de conservação e limites bientes naturais com o fim de garantir sendo área de domínio público, ou
definidos, sob regime especial de existência e reprodução de espécies que pode ser desapropriada. Se for
administração, ao qual se aplicam da flora ou fauna. Se o proprietário da necessário, a área deve ser desa-
garantias adequadas de proteção área não concordar com as limitações propriada, caso seja privada. b7)
(art. 2º, I, Lei 9.985/00). propostas pelo Poder Público, a área Reserva Particular do Patrimônio
São órgãos gestores do SNUC: será desapropriada. b) Unidades de Natural: área privada, gravada com
a) Órgão Consultivo e Delibera- Uso Sustentável: são espaços que perpetuidade, com o objetivo de
tivo: CONAMA, que acompanha buscam a preservação da natureza, conservar a diversidade biológica.
a implementação do sistema. b) sendo admitido o uso direto da coisa, Faz-se termo de compromisso a ser
Órgão Central: Ministério do Meio mas com restrições que assegurem averbado no Cartório.
Ambiente, que coordena o sistema. a sustentabilidade do uso dos recur- As unidades são criadas por ato
c) Órgãos Executores: IBAMA, sos naturais. b1) Área de Proteção do Poder Público (decreto ou lei
órgãos estaduais e municipais, que Ambiental: área extensa, com certo específica), devendo – a criação -
implementam o sistema, subsidiam grau de ocupação humana, dotada ser precedida de estudos técnicos
as propostas de criação e adminis- de atributos naturais importantes, que e de consulta pública (esta, para
tram as unidades de conservação deve ser protegida, disciplinando-se permitir identificar a localização,
nas respectivas esferas de atuação. a ocupação e o uso sustentável. Pode a dimensão e os limites mais ade-
São categorias de unidades de ser constituída por terra particular. b2) quados para a unidade). A consul-
conservação: a) Unidades de Pro- Área de Relevante Interesse Eco- ta pública não é obrigatória para a
teção Integral: são os espaços que lógico: área em geral pequena, com criação de Estação Ecológica ou
buscam a preservação da natureza, pouca ou nenhuma ocupação humana, Reserva Biológica
sendo admitido apenas o uso indi- com características naturais extraordi- É possível transformar uma unida-
reto dos seus recursos naturais, nárias ou que abriga exemplares raros de de uso sustentável em unidade
salvo exceções legais. No caso de da biota regional, que tem como objeti- de proteção integral (majorar), ou
recaírem sobre bem particular, este vo manter o ecossistema local a partir ampliar os limites de unidade de
deve ser desapropriado, salvo se a da disciplina de seu uso admissível. conservação (sem mudança de ca-
unidade criada for monumento na- Pode ser constituída por terra particu- tegoria), por meio de ato do mesmo
tural ou refúgio de vida silvestre, lar. b3) Floresta Nacional: área com nível daquele que criou a unidade.
caso em que poderá ser mantida a cobertura florestal de espécies predo- É também necessário estudos téc-
propriedade particular. O grupo das minantemente nativas. A área deve ser nicos e consulta pública, sem ex-
Unidades de Proteção Integral é desapropriada, se for privada. Objeti- ceções.
composto das seguintes categorias vos: uso sustentável da floresta nativa Já a desafetação ou redução dos
de unidade de conservação: a1) e pesquisa. b4) Reserva Extrativista: limites de uma unidade só pode se
Estação Ecológica: tem por obje- área utilizada por populações extrati- dar mediante lei específica.
tivo a preservação e a realização de vistas tradicionais, cuja subsistência Por fim, é importante ler os concei-
pesquisas científicas. a2) Reserva baseia-se no extrativismo, e, de forma tos básicos que aparecem no art. 2º
Biológica: tem por objetivo a pre- complementar, na agricultura e na cria- da Lei 9.985/00, pois eles vêm apa-
servação integral da biota e demais ção de animais de pequeno porte. Ob- recendo nas provas.
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LINK ACADÊMICO 4 de preservar os recursos hídricos, a Código Florestal).
paisagem, a estabilidade geológica, a A Reserva Florestal Legal (RFL) é
OUTROS INSTRUMENTOS biodiversidade, o fluxo gênico de fauna definida pela lei como a área loca-
DE PROTEÇÃO DO MEIO e flora, proteger o solo e assegurar o
AMBIENTE lizada no interior de uma proprieda-
bem-estar das populações humanas de ou posse rural, excetuada a de
1. Espaços especialmente prote- (art. 1º, § 2º, II). preservação permanente, necessá-
gidos. O art. 2º do Código traz um rol de áre- ria ao uso sustentável dos recursos
Um dos instrumentos de proteção as consideradas de preservação per- naturais, à conservação e reabili-
ao meio ambiente é a criação de manente, pelo só efeito da lei, ou seja, tação dos processos ecológicos, à
espaços especialmente protegidos. independente de qualquer declaração conservação da biodiversidade e ao
Eles podem ser específicos (ex: do Poder Público. Por exemplo, são abrigo e proteção de fauna e flora
uma unidade de conservação) ou APPs as florestas e demais formas de nativas.
genéricos, ou seja, espaços prote- vegetação natural situadas nas faixas Perceba que há duas característi-
gidos em todas propriedades com ao longos dos rios e ao redor das lago- cas marcantes. A primeira é que a
dadas características (ex: áreas de as, lagos ou reservatórios d’agua, bem reserva legal está sempre em pro-
proteção especial, de preservação como as situadas nas nascentes, no priedade ou posse rural. A segunda
permanente e de reserva legal). topo de morros, montes, montanhas e é a reserva sempre existe nessas
Confira as quatro espécies de espa- serras, nas restingas (como fixadoras propriedades, independentemente
ços especialmente protegidos. de dunas ou estabilizadoras de man- das características do local, e con-
1.1. Unidades de Conservação gues), dentre outras. siste numa percentagem da área
(Lei 9.985/00 – Lei das UCs). Vis- Já o art. 3º do Código traz rol de áreas cujo corte raso está vedado.
tas no capítulo anterior. que podem ser declaradas pelo Poder O percentual de reserva legal na
1.2. Áreas de Proteção Especial Público como de preservação perma- propriedade segue as seguintes re-
(Lei 6.766/79 – Lei de Parcela- nente, tais como as florestas e demais gras: a) na Amazônia Legal: 80% da
mento do Solo Urbano). formas de vegetação natural destina- propriedade rural situada em área
De acordo com a Lei 6.766/79 (art. das a atenuar a erosão das terras, a de floresta e 35% da propriedade
13), são áreas de proteção espe- fixar as dunas, a formar faixas de pro- rural situada em área de cerrado; no
cial aquelas de interesse especial, teção ao longo de ferrovias e rodovias, último caso, pelo menos 20% deve
tais como as de proteção aos ma- e a asilar exemplares da fauna e da estar na propriedade e 15% pode
nanciais ou ao patrimônio cultural, flora ameaçados de extinção. estar na forma de compensação em
histórico, paisagístico e arqueoló- As áreas de preservação permanente, outra área, desde que localizada
gico, assim definidas por legisla- como o próprio nome diz, não podem na mesma microbacia; b) no Resto
ção estadual ou federal. O Estados ser suprimidas. Mas há exceções. do País: 20% da propriedade rural
definirão, por decreto, as áreas de Quanto às florestas, admite-se supres- situada em área de floresta, outras
proteção especial e as normas que são para atividades de utilidade pública formas de vegetação nativa e nos
elas deverão seguir quando for exe- ou interesse social, mediante autoriza- campos gerais.
cutado um projeto de loteamento ção de autoridade federal (ex: para a Uma vez definido o local da reserva
ou de desmembramento. Caberão passagem de uma rodovia). Quanto legal, a indicação da área deve ser
aos Estados o exame e a anuência às demais formas de vegetação natu- averbada à margem da inscrição
ral, admite-se supressão também em de matrícula do imóvel, no Registro
prévia para a aprovação, pelos Mu-
caso de utilidade pública ou interesse de Imóveis competente. Quando
nicípios, de loteamento e desmem-
social, mediante autorização de autori- se estiver diante de mera posse,
bramento localizados nessas áreas
dade estadual. Se a área for urbana e a reserva legal é assegurada por
de interesse especial.
Termo de Ajustamento de Conduta,
1.3. Áreas de Preservação Perma- o município possuir conselho do meio
firmado pelo possuidor com o órgão
nente - APP (Lei 4.771/65 – Códi- ambiente com caráter deliberativo e
ambiental estadual ou federal com-
go Florestal). plano diretor, a autoridade municipal
petente.
O Código Florestal trata da prote- competente dará a autorização, me-
1.5. Proteção Especial na Mata
ção das florestas (vegetação cerra- diante autorização prévia da autorida-
Atlântica (Lei 11.428/06).
da, constituída de árvores de gran- de estadual.
A Lei 11.428/06 estabelece regras
de porte, cobrindo grande extensão Por fim, vale lembrar que o Código Flo- adicionais ao Código Florestal (art.
de terras) e das demais formas de restal estabelece que qualquer árvore 1º da Lei). Seu objetivo é regula-
vegetação, reconhecidas de utilida- poderá ser declarada imune ao corte, mentar a conservação, a proteção,
de às terras que revestem. mediante ato do Poder Público, por a regeneração e a utilização do Bio-
A APP é definida pela lei como a motivo de sua localização, raridade, ma Mata Atlântica, que é patrimônio
área, coberta ou não por vegeta- beleza ou condição de porta-sementes. nacional, de acordo com a Consti-
ção nativa, com a função ambiental 1.4. Reserva Legal (Lei 4.771/65 –
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tuição. de um Estado ou de um Município; o destinadas ao uso familiar ou comu-
A lei estabelece que o corte, a su- Poder Público federal faz o ZEE na- nitário. A segunda, esgotada a op-
pressão e a exploração da vegeta- cional; o estadual, o ZEE estadual; e o ção anterior para uma determinada
ção do Bioma Mata Atlântica far-se- municipal, o Plano Diretor. região, consiste em realizar contra-
ão de maneira diferenciada, confor- Tema interessante em matéria de zo- tos de concessão florestal.
me se trate de vegetação primária neamento ambiental é a discussão so- A concessão florestal é conceitua-
ou secundária, nesta última levan- bre a possibilidade de alguém invocar a da pela lei como a delegação one-
do-se em conta o estágio de rege- “pré-ocupação” de um dado local, para rosa, feita pelo poder concedente,
neração. A exploração eventual, não ter que se submeter a um novo zo- do direito de praticar manejo flores-
sem propósito comercial direto ou neamento para o local. Como o licen- tal sustentável para exploração de
indireto, de espécies da flora nativa, ciamento ambiental é concedido por produtos e serviços numa unidade
para consumo nas propriedades ou prazo certo, essa alegação não pode de manejo, mediante licitação, à
posses das populações tradicionais prevalecer. Já na hipótese de a licença pessoa jurídica, em consórcio ou
ou de pequenos produtores rurais, ainda estiver em curso, pode o Poder não, que atenda às exigências do
independe de autorização dos ór- Público cancelá-la, desde que indenize respectivo edital de licitação e de-
gãos competentes, conforme regu- o licenciado pelos prejuízos que teria monstre capacidade para seu de-
lamento. Já as demais formas de até a data em que produziria efeitos a sempenho, por sua conta e risco e
exploração, quando cabíveis (há licença que detinha. por prazo determinado.
diversas vedações de cortes e su- O prazo dos contratos de conces-
pressões no art. 11 da Lei), depen- 3. Instrumentos econômicos: servi- são florestal será de, no máximo,
dem de autorização da autoridade dão ambiental e concessão florestal. 40 anos. O prazo dos contratos de
competente. 3.1. Servidão ambiental. concessão exclusivos para explo-
A lei também cria hipóteses de obri- Servidão ambiental consiste na renun- ração de serviços florestais será
gatoriedade de realização de EIA/ cia voluntária pelo proprietário rural, de, no mínimo, 5 e, no máximo, 20
RIMA, trata de incentivos econômi- em caráter permanente ou temporário, anos. Além da fiscalização ordiná-
cos para a proteção do Bioma, cria total ou parcialmente, do direito de uso, ria, as concessões serão subme-
o Fundo de Restauração do Bioma exploração ou supressão de recursos tidas a auditorias florestais, de ca-
Mata Atlântica e estabelece novas naturais existentes na sua proprieda- ráter independente, em prazos não
penalidades de natureza criminal e de. Trata-se de novidade trazida na Lei superiores a 3 anos.
administrativa. 11.284/06. A servidão ambiental deve
ser averbada no registro de imóveis 4. Padrões de qualidade ambien-
2. Zoneamento ambiental; competente. tal;
O zoneamento ambiental pode ser Por que um proprietário instituiria Nesse tema, destacam-se os pa-
definido como a delimitação geo- uma servidão ambiental? Porque teria drões de qualidade do ar, da água
gráfica de áreas territoriais com o vantagens econômicas. Por exem- e dos ruídos. Quanto à qualidade
objetivo de estabelecer regimes plo, aquele que institui uma servidão do ar, a Resolução CONAMA n.
especiais de uso, gozo e fruição ambiental do tipo servidão florestal 05/89 estabelece o Programa Na-
da propriedade. A idéia é organizar tem direito de emitir Cota de Reserva cional de Controle de Qualidade do
a utilização de espaços territoriais, Florestal – CRF, título representativo Ar – PRONAR, que trata do controle
para que não haja conflitos entre as da vegetação nativa sob regime de e do monitoramento da poluição do
zonas de conservação do meio am- servidão florestal (art. 44-B do Código ar, e estabelece os limites nacionais
biente, de produção industrial, de Florestal), títulos que, mediante regu- para as emissões. No plano interna-
habitação das pessoas, dentre ou- lamentação, poderão ser vendidos em cional, temos o Protocolo de Quioto
tras. São exemplos de zoneamento: bolsa. (de 1997), tratado internacional que
a) Zoneamento Urbano (na cidade; 3.2. Concessão Florestal. tem por objetivo estabilizar a emis-
previsto nas leis locais): por exem- A Lei 11.284/02, que trata da gestão são de gases de efeito estufa para a
plo, com divisão da cidade em zo- de florestas pertencentes ao Poder atmosfera, reduzindo o aquecimen-
nas residenciais, mistas, industriais Público, permite que essa gestão se to global e seus possíveis impactos.
etc; b) Zoneamento Costeiro (Lei dê diretamente pelo Poder Público, ou Os países industrializados devem
7.661/88); c) Zoneamento Agrícola por meio de concessão florestal para o buscar a diminuição das emissões
(Lei 4.504/64 – Estatuto da Terra); particular. de forma direta e utilizar, de manei-
d) Zoneamento Ecológico-Econô- A lei prevê opções de gestão para flo- ra acessória, outros mecanismos
mico - ZEE (Decreto 4.297/02): é o restas públicas. A primeira consiste em para tornar menos onerosa sua atu-
instrumento utilizado para organizar criar e manter unidades de conserva- ação. Nesse sentido, destaca-se a
o processo de ocupação sócio-eco- ção de uso sustentável ou em dar con- possibilidade de adquirir créditos de
nômico-ambiental de uma Região, cessões de uso para reforma agrária, carbono.
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coisa tombada, nem colocar anúncios, Quando o Poder Público não é o
5. Tombamento (Dec.-Lei 25/37). sem prévia autorização especial; d) responsável pelo empreendimento,
O tombamento pode ser conceitua- os entes políticos têm direito de pre- ou seja, não é o poluidor, sua res-
do como o ato do Poder Público que ferência na aquisição da coisa, caso o ponsabilidade é subjetiva, ou seja,
declara de valor histórico, artístico, proprietário queira aliená-la; e) o pro- depende de comprovação de culpa
paisagístico, turístico, cultural ou prietário do bem tombado tem direito ou dolo do serviço de fiscalização,
científico, bens ou locais, para fins de ser indenizado, caso sofra restrição para se configurar. Assim, o Poder
de preservação. especial que o prejudique economica- Público pode responder pelo dano
O tombamento pode alcançar imó- mente. ambiental por omissão no dever de
veis individualmente considerados A Constituição traz uma norma espe- fiscalizar. Nesse caso, haverá res-
(um prédio histórico), conjuntos cial sobre o tombamento do patrimônio ponsabilidade solidária do poluidor
arquitetônicos (o Pelourinho, em cultural, ao dispor que “ficam tombados e do Poder Público.
Salvador), um bairro (o Centro do todos os documentos e os sítios deten- Em se tratando de pessoa jurídica,
Rio de Janeiro), uma cidade (Ouro tores de reminiscências históricas dos a Lei 9.605/98 estabelece que esta
Preto) e até um sítio natural. Pode antigos quilombos” (art. 216, § 5º). será responsável nos casos em que
também alcançar móveis, como LINK ACADÊMICO 5 a infração for cometida por decisão
a mobília de Santos Dumont, por de seu representante legal ou con-
RESPONSABILIDADE CIVIL
exemplo. AMBIENTAL tratual, ou de seu órgão colegiado,
A instituição do tombamento pode no interesse ou benefício da sua
ser voluntária (por requerimento 1. Responsabilidade objetiva. entidade. Essa responsabilidade
do próprio dono da coisa) ou con- A responsabilidade objetiva pode ser da pessoa jurídica não exclui a das
tenciosa. A última impõe a notifica- conceituada como o dever de respon- pessoas físicas, autoras, co-autoras
ção do proprietário, para, no prazo der por danos ocasionados ao meio ou partícipes do mesmo fato.
de 15 dias, impugnar, se quiser, a ambiente, independentemente de cul- A Lei 9.605/98 também estabelece
intenção do Poder Público de tom- pa ou dolo do agente responsável pelo uma cláusula geral que permite a
bar a coisa. Uma vez concluído evento danoso. Essa responsabilidade desconsideração da personalida-
pelo tombamento, este será feito está prevista no § 3º do art. 225 da de jurídica da pessoa jurídica, em
mediante inscrição do ato num dos CF, bem como no § 1° do art. 14 da qualquer caso, desde que destina-
quatro Livros do Tombo (Paisagís- Lei 6.938/81 e ainda no art. 3º da Lei da ao ressarcimento dos prejuízos
tico, Histórico, Belas Artes e Artes 9.605/98. causados à qualidade do meio am-
Aplicadas). Em se tratando de imó- Quanto a seus requisitos, diferente- biente. Segundo o seu art. 4º, po-
vel, o ato também deve ser registra- mente do que ocorre com a responsa- derá ser desconsiderada a pessoa
do no Registro de Imóveis. bilidade objetiva no Direito Civil, onde jurídica sempre que sua personali-
É importante ressaltar que, com a são apontados três requisitos para dade for obstáculo ao ressarcimen-
notificação do proprietário, ocorre o a configuração da responsabilidade to dos prejuízos causados à quali-
tombamento provisório, que já limita (conduta, dano e nexo de causalida- dade do meio ambiente. Adotou-se,
o uso da coisa por seu dono. de), no Direito Ambiental são necessá- como isso, a chamada teoria menor
Além de poder ser instituído por ato rios apenas dois. da desconsideração, para a qual
administrativo, o tombamento tam- A doutrina aponta a necessidade de basta a insolvência da pessoa ju-
bém pode advir de lei ou de decisão existir um dano (evento danoso), mais rídica, para que se possa atingir o
judicial. No segundo caso, o juiz, o nexo de causalidade, que o liga ao patrimônio de seus membros. No
diante de uma ação coletiva (ex: poluidor. direito civil, ao contrário, adotou-se
ação popular ou ação civil pública), Aqui não se destaca muito a conduta a teoria maior da desconsideração,
determina a inscrição do tomba- como requisito para a responsabilida- teoria que exige maiores requisitos,
mento no Livro do Tombo. de ambiental, apesar de diversos au- no caso, a existência de um desvio
Quanto aos efeitos do tombamento, tores entenderem haver três requisitos de finalidade ou de uma confusão
temos os seguintes: a) o proprietá- para sua configuração (conduta, dano patrimonial para que haja desconsi-
rio deverá conservar a coisa (se não e nexo de causalidade). Isso porque é deração.
tiver recursos, deve levar ao conhe- comum o dano ambiental ocorrer sem
cimento do Poder Público, que fica que se consiga identificar uma conduta 2. Reparação integral dos danos.
autorizado legalmente a executar a específica e determinada causadora A obrigação de reparar o dano não
obra); b) o proprietário não pode do evento. se limita a pagar uma indenização;
reparar, pintar ou restaurar a coisa, Quanto ao sujeito responsável pela ela vai além: a reparação deve ser
sem prévia autorização especial reparação do dano, é o poluidor, que específica, isto é, ela deve buscar
do Poder Público; c) os vizinhos pode ser tanto pessoa física como jurí- a restauração ou recuperação do
não podem reduzir a visibilidade da dica, pública ou privada. bem ambiental lesado, ou seja, o
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seu retorno à situação anterior. As- indetermináveis e ligadas por circuns- pré-constituída, e ato de autoridade
sim, a responsabilidade pode envol- tâncias de fato (ocasião em que será ou de agente delegado de serviço
ver as seguintes obrigações: a) de difuso), grupos de pessoas ligadas por público; o mandado de injunção
reparação natural ou in specie: é relação jurídica base (ocasião em que (art. 5º, LXXI, da CF), quando a
a reconstituição ou recuperação do será coletivo), vítimas de dano oriundo falta de norma regulamentadora tor-
meio ambiente agredido, cessando de conduta comum (ocasião em que ne inviável o exercício dos direitos
a atividade lesiva e revertendo-se a será individual homogêneo) e vítima do e liberdades constitucionais e das
degradação ambiental. É a primei- dano (ocasião em que será individual prerrogativas inerentes à naciona-
ra providência que deve ser ten- puro). lidade, à soberania e à cidadania;
tada, ainda que mais onerosa que De acordo com o pedido formulado na as ações de inconstitucionalida-
outras formas de reparação; b) de ação reparatório é que se saberá que de (arts. 102 e 103 da CF e Leis
indenização em dinheiro: consiste tipo de interesse (difuso, coletivo, indi- 9.868/99 e 9.882/99); e a ação ci-
no ressarcimento pelos danos cau- vidual homogêneo ou individual) está vil de responsabilidade por ato
sados e não passíveis de retorno à sendo protegido naquela demanda. de improbidade administrativa
situação anterior. Essa solução só Quanto à extensão do dano ambiental, em matéria ambiental (art. 37, § 4º,
será adotada quando não for viável a doutrina reconhece que este pode ser da CF, Lei 8.429/92 e art. 52 da Lei
fática ou tecnicamente a reconsti- material (patrimonial) ou moral (extra- 10.257/01).
tuição. Trata-se de forma indireta patrimonial). Será da segunda ordem
RESPONSABILIDADE
de sanar a lesão. c) compensação quando afetar o bem-estar de pesso- ADMINISTRATIVA
ambiental: consiste em forma al- as, causando sofrimento e dor. Há de AMBIENTAL
ternativa à reparação específica do se considerar que há decisão do STJ
dano ambiental, e importa na ado- no sentido que não se pode falar em A responsabilidade administrativa
ção de uma medida de equivalente dano moral difuso, já que o dano deve ocorre quando alguém pratica uma
importância ecológica, mediante estar relacionado a pessoas vítimas de infração administrativa. A infração
a observância de critérios técnicos sofrimento, e não a uma coletividade administrativa é assim conceitua-
especificados por órgãos públicos e de pessoas. De acordo com essa deci- da pela lei (arts. 70 e seguintes da
aprovação prévia do órgão ambien- são pode haver dano moral ambiental Lei 9.605/98): considera-se infração
tal competente, admissível desde a pessoa determinada, mas não pode administrativa ambiental toda ação
que seja impossível a reparação haver dano moral ambiental a pessoas ou omissão que viole as regras jurí-
específica. indetermináveis. dicas de uso, gozo, promoção, pro-
teção e recuperação do meio am-
3. Dano ambiental. 4. A proteção do meio ambiente em biente. O Decreto 6.514/08 adensa
Não é qualquer alteração adversa juízo. o conceito acima, estabelecendo
no meio ambiente causada pelo A reparação do dano ambiental pode uma séria de tipos administrativos
homem que pode ser considerada ser buscada extrajudicialmente, quan- que ensejam a aplicação de san-
dano ambiental. Por exemplo, o do, por exemplo, é celebrado termo ções administrativas.
simples fato de alguém inspirar oxi- de compromisso de ajustamento de São autoridades competentes
gênio e expirar gás carbônico não conduta com o Ministério Público, ou para lavrar auto de infração ambien-
é dano ambiental. O art. 3º da Lei judicialmente, pela propositura da ação tal e instaurar processo administra-
6.938/81 nos ajuda a desvendar competente. tivo os funcionários de órgãos am-
quando se tem dano ambiental, ao Há duas ações vocacionadas à defesa bientais integrantes do SISNAMA,
dispor que a poluição é a degrada- do meio ambiente. São elas: a ação designados para as atividades de
ção ambiental resultante de ativida- civil pública (art. 129, III, da CF e Lei fiscalização, bem como os agentes
des que direta ou indiretamente: a) 7.347/85) e a ação popular (art. 5º, das Capitanias dos Portos.
prejudiquem a saúde, a segurança LXXIII, CF e Lei 4.717/65). A primeira O rito do processo administrativo
e o bem-estar da população; b) pode ser promovida pelo Ministério Pú- punitivo segue o seguinte trâmite:
criem condições adversas às ati- blico, por entes da Administração Públi- uma vez lavrado o auto de infração,
vidades sociais e econômicas; c) ca ou por associações constituídas há o infrator terá 20 dias para oferecer
afetem desfavoravelmente a biota; pelo menos um ano, que tenham por defesa ou impugnação, contados da
d) afetem as condições estéticas objetivo a defesa do meio ambiente. Já ciência da autuação; apresentada
ou sanitárias do meio ambiente; e) a segunda é promovida pelo cidadão. ou não a defesa ou a impugnação, a
lancem matérias ou energia em de- Também são cabíveis em matéria am- autoridade competente terá 30 dias
sacordo com os padrões ambientais biental o mandado de segurança (art. para julgar o autor da infração; se
estabelecidos. 5º, LXIX e LXX, da CF e Lei 1.533/51), o julgamento importar em decisão
Quanto aos atingidos pelo dano am- individual ou coletivo, preenchidos os condenatória, o infrator terá 20 dias
biental, este pode atingir pessoas requisitos para tanto, tais como prova para recorrer à instância superior do
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SISNAMA, ou à Diretoria de Portos obra: será aplicada quando a obra não ou reclusão): estas poderão ser
e Costas do Ministério da Marinha; obedecer às prescrições legais ou re- substituídas por penas restritivas
o pagamento da multa deverá ser gulamentares; i) Suspensão total ou de direito quando se tratar de crime
feito em 5 dias, contados da data do parcial de atividades: será aplicada culposo ou for aplicada pena priva-
recebimento da notificação. quando a atividade não obedecer às tiva de liberdade inferior a 4 anos,
As sanções serão aplicadas obser- prescrições legais ou regulamentares; desde que a substituição seja sufi-
vando: a) a gravidade do fato; b) j) Restritiva de direitos: são sanções ciente para efeitos de reprovação e
os antecedentes do infrator quanto desse tipo: suspensão ou cancelamen- prevenção do crime.
ao cumprimento da legislação am- to de registro, licença ou autorização, 1.2. Multa: será calculada segundo
biental; e c) a situação econômica perda ou restrição de incentivos ou be- os critérios do Código Penal; se se
do infrator, no caso de multa. nefícios legais, perda ou suspensão de revelar ineficaz, ainda que aplicada
Além disso, o aplicador deverá ob- linhas de financiamento oficiais, e proi- no valor máximo, poderá ser au-
servar as disposições do Decreto bição de contratar com o poder público mentada até três vezes, tendo em
6.514/08, que especifica as san- por até 3 anos. vista o valor da vantagem econômi-
ções cabíveis para cada tipo admi- O infrator pode se insurgir contra a apli- ca auferida.
nistrativo lá previsto, principalmente cação da sanção administrativa na via 1.3. Restritivas de direito: podem
quanto ao valor da multa cabível judicial. A defesa pode se dar por ação ser de: a) prestação de serviços à
para cada tipo. Se o infrator come- anulatória de débito fiscal (no caso comunidade; b) interdição temporá-
ter, simultaneamente, duas ou mais de aplicação de multa, em que ainda ria de direitos; c) suspensão parcial
infrações, ser-lhe-ão aplicadas, não houve oportunidade de oferecer ou total de atividades; d) prestação
cumulativamente, as sanções a elas embargos à execução fiscal), embar- pecuniária; e) recolhimento domici-
cominadas. A Lei 9.605/98 estabe- gos à execução fiscal (também no liar.
lece as seguintes sanções: a) Ad- caso de multa), mandado de seguran-
vertência: será aplicada pela ino- ça contra a sanção aplicada (a ação 2. Responsabilidade penal am-
bservância das disposições da le- pode ser promovida contra a aplicação biental das pessoas jurídicas.
gislação em vigor, sem prejuízo das de quaisquer das sanções administrati- As pessoas jurídicas serão respon-
demais sanções abaixo; b) Multa vas, mas reclama direito líquido e cer- sabilizadas nos casos em que a
simples: será aplicada sempre que to, ou seja, direito cujos fatos possam infração penal for cometida por de-
o agente, por negligência ou dolo: i) ser comprovados de plano, com prova cisão de seu representante legal ou
não sanar as irregularidades no pra- pré-constituída) ou outra ação de co- contratual, ou de seu órgão colegia-
zo estabelecido na advertência; ii) nhecimento, em que o autor poderá do, no interesse ou benefício da sua
opuser embaraço à fiscalização dos questionar qualquer sanção, inclusive entidade. Às pessoas jurídicas são
órgãos ambientais; c) Multa diária: com a possibilidade de fazer pedido aplicáveis isolada, cumulativa ou al-
será aplicada sempre que o cometi- cautelar ou de tutela antecipada, res- ternativamente as seguintes penas:
mento da infração se prolongar no peitados os requisitos dessas medidas 2.1. Multa: será calculada segundo
tempo. Obs: As multas variam de contra o Poder Público. o Código Penal; se se revelar ine-
R$ 50 a R$ 50 milhões; o pagamen- RESPONSABILIDADE ficaz, ainda que aplicada no valor
to de multa imposta pelos Estados PENAL AMBIENTAL máximo, poderá ser aumentada até
e Municípios, Distrito Federal ou três vezes, tendo em vista o valor
Territórios substitui a multa federal 1. Responsabilidade penal ambien- da vantagem econômica auferida.
na mesma hipótese de incidência; tal das pessoas físicas: 2.2. Restritivas de direito: que po-
d) Apreensão dos animais, pro- As pessoas físicas autoras, co-autoras derão ser de:
dutos e subprodutos da fauna e ou partícipes de um crime ambiental, a) suspensão parcial ou total da
flora, instrumentos, petrechos, ainda que ajam em nome de pessoas atividade, em caso de infração a
equipamentos ou veículos de jurídicas, serão responsabilizadas cri- leis ou a regulamentos ambientais;
qualquer natureza utilizados na minalmente. Além disso, respondem b) interdição temporária de esta-
infração; e) Destruição ou inuti- também criminalmente o diretor, o ad- belecimento, obra ou atividade,
lização do produto; f) Suspensão ministrador, o membro de conselho e em caso de funcionamento sem au-
de venda e fabricação do produ- de órgão técnico, o auditor, o gerente, torização ou em desacordo com a
to: será aplicada quando o produto o preposto ou mandatário de pessoa concedida ou a lei; c) proibição de
não obedecer às prescrições legais jurídica, que, sabendo da conduta cri- contratar com o Poder Público ou
ou regulamentares; g) Embargo minosa de outrem, deixa de impedir dele receber benefícios, que não
de obra ou atividade: será aplica- a sua prática, quando podia agir para poderá exceder o prazo de 10 anos.
do quando a obra ou atividade não evitá-la. Às pessoas físicas são aplicá- 2.3. Prestação de serviços à co-
obedecer às prescrições legais ou veis as seguintes penas: munidade: que poderão ser de: a)
regulamentares; h) Demolição de 1.1. Privação da liberdade (detenção custeio de programa e de projetos
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ambientais; b) execução de obras suspensão condicional do processo devem ser aproveitados para salvar
de recuperação de áreas degrada- (art. 28 da Lei 9.605/98 e art. 89 da Lei vidas e melhorar as condições de
das; c) manutenção de espaços pú- 9.099/95) e suspensão condicional vida de pessoas portadoras de cer-
blicos; d) contribuições a entidades da pena (art. 16 da Lei 9.605/98 e arts. tas doenças.
ambientais ou culturais públicas. 77 a 82 do Código Penal) O MPF ajuizou ação de inconstitu-
2.4. Liquidação forçada da pes- LINK ACADÊMICO 6 cionalidade do art. 5º e §§ da Lei de
soa jurídica: a pessoa jurídica Biossegurança. A ADI levou o nú-
LEI DE BIOSSEGURANÇA (LEI
constituída ou utilizada, preponde- 11.105/05) mero 3.510 no STF, que não julgou
rantemente, com o fim de permitir,
facilitar ou ocultar a prática de crime A chamada Lei de Biossegurança es- procedente a ação.
ambiental terá decretada sua liqui- tabelece normas de segurança e me- A Lei proíbe expressamente a clo-
dação forçada, seu patrimônio será canismos de fiscalização sobre os or- nagem humana. A Lei também esta-
considerado instrumento de crime e ganismos geneticamente modificados belece responsabilidades civil, ad-
perdido em favor do Fundo Peniten- (OGM) e seus derivados. ministrativa e penal pela prática de
ciário Nacional. A Lei criou dois órgãos de suma im- atos que violem seus dispositivos. A
portância, o Conselho Nacional de responsabilidade civil por danos da-
3. Crimes Ambientais. A Lei Biossegurança – CNBS e a Comissão nos ao meio ambiente e a terceiros
9.605/98 traz, nos arts. 25 ao 69-A, Técnica de Nacional de Biosseguran-
tem as seguintes características: a)
diversos tipos penais, que devem ça - CTNBio. O primeiro é órgão de
ser lidos. assessoramento superior do Presi- é objetiva; b) impõe reparação inte-
dente da República, e é composto de gral; c) e é solidária, entre todos os
4. Processo penal. Ministros de Estado. Já o segundo, responsáveis (art. 20).
A ação penal quanto aos crimes é instância colegiada multidisciplinar LINK ACADÊMICO 7
previstos na Lei 9.605/98 é pública de caráter consultivo e deliberativo. A
incondicionada. CTNBio estabelece normas técnicas
A composição do dano ambiental de segurança e dá pareceres técnicos
é: a) atenuante da pena; b) requi- para autorização de atividades que en-
sito para a transação penal; c) re- volvam pesquisa e comércio de OGM
quisito para a extinção do processo e derivados. A coleção Guia Acadêmico é o ponto de partida
dos estudos das disciplinas dos cursos de
na hipótese da suspensão do pro- A lei traz uma permissão bastante po- graduação, devendo ser complementada com
cesso de que trata o art. 89 da Lei lêmica, que é a possibilidade, para fins o material disponível nos Links e com a leitura
de livros didáticos.
9.099/95. de pesquisa e terapia, da utilização de
Direito Ambiental – 1ª edição - 2010
A perícia de constatação do dano células-tronco embrionárias obtidas
Autor:
penal será realizada para efeitos de de embriões humanos produzidos por Wander Garcia, Professor e Palestrante,
prestação de fiança, cálculo da mul- fertilização in vitro e não utilizados no Autor de mais de 10 obras na área jurídica,
Mestre e Doutorando em Direito pela PUC/
ta e fixação do valor mínimo para respectivo procedimento, atendidas as SP, Procurador do Município de São Paulo e
reparação dos danos causados pela seguintes condições: I – sejam embri- Advogado.
infração, podendo ser aproveitada a ões inviáveis; ou II – sejam embriões A coleção Guia Acadêmico é uma publicação
perícia produzida no inquérito civil congelados há 3 (três) anos ou mais, da Memes Tecnologia Educacional Ltda. São
Paulo-SP.
ou no juízo cível, instaurando-se na data da publicação da Lei, ou que,
o contraditório. Transitada em jul- já congelados na data da publicação Endereço eletrônico:
www.memesjuridico.com.br
gado a sentença condenatória, a da Lei, depois de completarem 3 (três)
execução poderá efetuar-se pelo anos, contados a partir da data de Todos os direitos reservados. É terminante-
mente proibida a reprodução total ou parcial
valor nela fixado, sem prejuízo da congelamento. Em qualquer caso, é desta publicação, por qualquer meio ou pro-
liquidação para apuração do dano necessário o consentimento dos geni- cesso, sem a expressa autorização do autor
e da editora. A violação dos direitos autorais
efetivamente sofrido. tores. caracteriza crime, sem prejuízo das sanções
A competência para julgar os cri- A questão da possibilidade de utili- civis cabíveis.
mes ambientais é da Justiça Es- zação desses embriões para fins de
tadual, ressalvado o interesse da pesquisa e terapia é polêmica. De um
União, suas autarquias ou empre- lado, há pessoas que defendem a in-
sas públicas, quando será da Jus- constitucionalidade da autorização, por
tiça Federal (art. 109, CF). considerarem que tais células estão
O rito a ser observado é o previs- protegidas pelo “direito à vida”. A tese
to no CPP, admitindo-se transa- contrária entende que não há vida nes-
ção penal (art. 27 da Lei 9.605/98 sa fase e que os embriões em ques-
e arts. 74 e 76 da Lei 9.099/95), tão, melhor do que serem descartados,
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